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    WEB AULA 1Unidade 1 tica, Poltica e Sociedade

    Um dilema tico

    Em outubro de 1972 um avio bimotor levava um grupo de jogadores de Rugby do

    Uruguai para o Chile sobrevoando a Cordilheira dos Andes. No avio iam 45 pessoas.

    Por conta das instabilidades polticas que o Chile passava na poca, o avio carregava

    bastante alimento. Contudo, por conta do mal tempo, os pilotos se mostravam

    relutantes em decolar. O que fazer? Partir em direo ao destino ou aguardar o

    tempo melhorar?

    Sobrevoando a cordilheira dos Andes, os passageiros receberam o aviso de atar os

    cintos. Poucos, no entanto, se importaram o suficiente com o que estava acontecendo

    do lado de fora da aeronave. A paz foi quebrada repentinamente por gritos de

    desespero na cabine do piloto: Mais potncia! Mais potncia!. Depois de uma queda

    brusca, o choque foi inevitvel o avio colidiu com uma montanha coberta de neve.

    Seguiu-se uma exploso. A neve passou a invadir o avio junto com o vento gelado.

    Haviam corpos e destroos por toda a parte, numa regio de difcil acesso, a 4 mil

    metros de altitude e uma temperatura de 15 graus negativos.

    O que se seguiu foi um drama que virou tema de filme e livros. Os passageiros, em

    nome da sobrevivncia, consomem todo o alimento e, por conta da demora no

    resgate, tomaram uma deciso dura: passaram a comer a carne dos colegas que

    morreram. O resgate apareceu depois de 72 dias de busca e encontrou 16

    sobreviventes do desastre areo.

    O drama areo que foi narrado nos deixa muitas perguntas para pensar: O que voc

    faria numa situao como esta? O que eles fizeram foi certo? At que ponto voc iria

    em nome da sobrevivncia? Estas questes nos mostram que as decises so

    dirigidas por algum tipo de parmetro, que serve como guia para nossas decises.

    Quais so estes parmetros?

    Concepo e distino de tica e moral

    Para respondermos esta pergunta precisamos entender o que tica e Moral. Vamos

    pensar no seguinte:

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    Quando um juiz de futebol apita um jogo e durante a partida beneficia um dosclubes participantes. Neste caso ele est cometendo uma falha porque no estsendo imparcial como deve ser a conduta e ao dos rbitros de futebol. Bem,mas eu pergunto: O juiz est faltando com a tica ou com a moral?

    Quando um poltico desvia verbas que deveriam ser empregadas em benefciospblicos, est sendo antitico? Imoral ou amoral? Ter ou no ter tica! Eis a

    questo! Ser ou no ser moral eis outra questo!

    Saiba Mais: MORAL UM CONJUNTO DE REGRAS ASSUMIDAS E ACEITAS, LIVRES E

    CONSCIENTEMENTE PELOS INDIVDUOS PARA ORGANIZAO DE UM GRUPO

    SOCIAL, SEGUNDO OS VALORES DO BEM E DO MAL.

    Voc j percebeu que existe um jeito certo de vestir-se, comer ou comportar-se? O

    que certo e errado, no entanto, varia de lugar para lugar e tem a ver com o quevamos chamar de moral. Observe estas fotos e isto far mais sentido!

    A moral responde pergunta: o que devo fazer? Portanto, um conjunto dos nossos

    deveres que j esto internalizados em nossa vida desde o nosso nascimento (pela

    famlia, pela escola, igreja, sociedade e grupo social ao qual pertencemos). Quando

    nascemos, este mundo j estava construdo e passamos grande parte da nossa vida

    aprendendo suas regras. Pare agora e observe um pouco as pessoas que esto ao seu

    redor. Repare no corte de cabelo, nas roupas... Perceba que no por acaso quehomens no usam saias e mulheres no costumam raspar a cabea. Mas, na verdade,

    o motivo pelo qual isso no acontece no tem a ver com meu gosto pessoal. Por mais

    incrvel que isso possa parecer, o motivo pelo qual os homens no esto de saia na

    rua e as mulheres fazendo filas para raspar a cabea est na moral aceita pela minha

    sociedade que entende que cabeas raspadas combinam mais com homens

    (especialmente do exrcito!) e as saias so mais apropriadas para mulheres (na

    Esccia isso poderia ser diferente).

    Precisamos aprender que a tica e a moral so construes sociais e histricas. Isto

    , elas vo mudando de tempos em tempos e mudam, tambm, quando h mudanas

    polticas, sociais e formas de conhecimentos que aqui iremos chamar de

    epistemologias. Isto quer dizer que, quando h mudanas na forma de conhecer, de

    compreender o mundo, as pessoas e todas as coisas os costumes tambm se

    alteram. Ou melhor: a tica e a moral so alteradas, modificadas de acordo com o

    tempo histrico e as relaes sociais.

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    Saiba mais.

    Mas o que tica?

    TICA OU FILOSOFIA MORAL A REFLEXO SOBRE NOES E PRINCPIOS QUE

    FUNDAMENTAM A VIDA MORAL. O CONJUNTO DE PRINCPIOS E VALORES QUE

    NORTEIAM AS ESCOLHAS, A AO MORAL. QUALQUER ESCOLHA QUE O SUJEITO

    FAA EST FUNDAMENTADA EM UM PRINCPIO TICO.

    Mas como isso acontece na prtica? Imagine que na escola tenha um aluno que

    vamos chamar de Joozinho. Ele tem trs amigos: Huguinho, Zzinho e Luizinho. Ao

    chegar na sala de aula, a professora pergunta para a classe se todos fizeram a tarefa

    de casa e que iria comear uma prova surpresa. Joozinho, na verdade foi o nicoque fez o exerccio, enquanto Huguinho, Zzinho e Luizinho ficaram brincando o dia

    inteiro. Joozinho est bem mais preparado e no teve dificuldades durante a prova.

    Huguinho, Zzinho e Luizinho, no entanto, comearam a pedir para Joozinho as

    respostas das questes. E ento? Passar as respostas ou no? Joozinho sabe que

    isso considerado errado (de acordo com a moral do seu grupo), mas o que ele deve

    fazer? O que vai guiar o comportamento de Joozinho nesta hora a tica.

    Resumindo, a moral um conjunto de regras aceitas por um grupo que definem

    nossas escolhas em trs dimenses: O que queremos fazer? O que podemos fazer? O

    que devemos fazer? Nem tudo que queremos fazer, podemos ou devemos. Em

    contrapartida, nem tudo que podemos e devemos queremos! Como fazemos para

    decidir? O que ir nortear nossas escolhas, nossas decises , finalmente, a TICA

    (pode ser a crist, no crist, profissional, etc.). Portanto, tica e moral no se

    separam.

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    Em nosso cotidiano, na linguagem corriqueira, do dia a dia, costuma-se utilizar os

    conceitos de tica e moral como se fossem sinnimos. Os pargrafos anteriores esto

    demonstrando essa diferena, mas vamos reforar, vendo o filme a seguir:

    https://www.youtube.com/watch?v=BrB-ZaRSLFs

    Voltemos ao caso do avio que caiu nos Andes. A maneira como os sobreviventes

    agiram foi orientado por sua tica, concordando com a moral contida nela. claro que

    podemos ir contra as regras morais admitidas e nossos princpios ticos. Podemos,

    em outras palavras, comer carne humana, ou, pelo menos, passar as respostas da

    prova para nossos colegas de turma. Ainda que discutir sobre juzes de futebol que

    roubam, pessoas que comem carne humana ou alunos que passam as respostas da

    prova paream questes muito atuais, os princpios ticos que usamos para julgar

    estas questes so muito antigos e remontam a Scrates. Para entendermos melhoresta questo precisamos analisar um pouco do que Scrates disse.

    Scrates e os Sofistas: Racionalismox relativismo

    Na dcada de 1980, aqueles que gostam de

    futebol vo lembrar-se de um movimento que ficou muito famoso e que aconteceu

    dentro do Corinthians. Voc sabe qual foi este movimento? Acertou quem respondeu

    Democracia Corinthiana. A democracia foi o maior movimento ideolgico do futebol

    brasileiro, onde as regras do que deveria acontecer eram decidas pelo voto entre os

    jogadores. Este movimento foi idealizado por um dos jogadores do clube e que se

    chamava, curiosamente, de Scrates.

    ( http://www.lancenet.com.br/corinthians/Socrates-comemoracao-Foto-Arquivo-

    LANCEPress_LANIMA20121203_0152_25.jpg )

    Guardadas as reas de atuao, houve um outro Scrates, mais no passado, que teve

    tambm embate de poder. O que estava em jogo neste caso no era o campeonato

    de futebol, mas o governo da cidade. O que ambos os Scrates tm em comum que

    https://www.youtube.com/watch?v=BrB-ZaRSLFshttps://www.youtube.com/watch?v=BrB-ZaRSLFshttps://www.youtube.com/watch?v=BrB-ZaRSLFs
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    ambos lidaram com a questo da liberdade. O Scrates que vamos estudar mais a

    fundo aqui viveu na Grcia antiga, em 469 a.C. e deu uma contribuio

    importantssima ao mundo que vivemos. Para entendermos esta contribuio

    precisamos falar sobre liberdadee o que isto tem a ver com tica.

    Voc gosta de mitologia grega? Sabe quem foi dipo?

    Segundo a lenda grega, Laio, o rei de Tebas havia sido alertado pelo Orculo de

    Delfos que uma maldio iria se concretizar: seu prprio filho o mataria e que este

    filho se casaria com a prpria me. Por tal motivo, ao nascer dipo, Laio abandonou-o

    no monte Citero, pregando um prego em cada p para tentar mat-lo. O menino foi

    recolhido mais tarde por um pastor e batizado como "Edipodos", o de "ps-furados",

    que foi adotado depois pelo rei de Corinto e voltou a Delfos.

    dipo consulta o Orculo que lhe d a mesma previso dada a Laio, que mataria seu

    pai e desposaria sua me. Achando se tratar de seus pais adotivos, foge de Corinto.

    No caminho, dipo encontrou um homem e, sem saber que era o seu pai, brigou com

    ele e o matou, pois Laio o mandou sair de sua frente.

    Aps derrotar a Esfinge que aterrorizava Tebas, que lanara um desafio ("Qual o

    animal que tem quatro patas de manh, duas ao meio-dia e trs noite?"), dipo

    conseguiu desvendar, dizendo que era o homem. "O amanhecer a criana

    engatinhando, entardecer a fase adulta, que usamos ambas as pernas, e o

    anoitecer a velhice quando se usa a bengala".

    Conseguindo derrotar o monstro, ele seguiu sua cidade natural e casou-se, "por

    acaso", (j que ele pensava que aqueles que o haviam criado eram seus pais

    biolgicos) com sua me, com quem teve quatro filhos. Quando da consulta do

    orculo, por ocasio de uma peste, Jocasta e dipo descobrem que so me e filho,

    ela comete suicdio e ele fura os prprios olhos por ter estado cego e no terreconhecido a prpria me. Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/dipo,

    acessado dia 23/06/2012. Colocar o linkem uma caixa para realce.

    Esta histria fala muito sobre liberdade. Em sua opinio, dipo era livre? Sim? No?

    At que ponto? dipo escolheufurar seus prprios olhos. Mas, por outro lado, quanto

    mais ele tentava fugir do seu destino, mais dipo contribua para que ele se

    cumprisse. Isso acontece porque, na concepo antiga, a pessoa no era totalmente

    livre, ou, em outras palavras, temos um destino a cumprir.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89dipohttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89dipohttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89dipo
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    Scrates de certa forma rompe com este pensamento.

    S podemos ser livres no mbito dapolis, no espao pblico, na companhia de outros

    homens, ou seja, na vida poltica. E de que maneira devemos governar nossas vidas e

    apolis? Pela razo. Esta uma resposta muito simples, mas muito poderosa.

    Pense bem, imagine um lutador de boxe aposentado que se chama Rock. Depois depassar muitos anos nos ringues, ele decide que quer uma vida mais tranquila na

    etapa final de sua existncia e decide montar um pequeno negcio um

    minimercado.

    Pgina

    Apesar de ser um negcio pequeno, Rock no tem dinheiro para desperdiar e decide

    evitar o mximo possvel os erros nos seu novo ramo. Mas tudo muito complicado.Tem o setor de frutas e verduras do mercado para administrar. Quais frutas comprar?

    Em que quantidade? Com que frequncia (para evitar desperdcio). E ainda nem

    comeamos a falar das verduras: quais os melhores fornecedores? Quais as

    preferncias locais? O que as pessoas esto dispostas a comprar? Estas mesmas

    perguntas servem para os artigos de higiene pessoal (sabonetes, desodorantes,

    etc...), carnes (frango, bovinos, sunos...), alimentos (arroz, feijo...), Laticnios

    (leite, iogurtes...). A lista to grande e a grande quantidade de coisas para pensar

    fazem Rock ficar louco: como evitar o desperdcio? Como no jogar o dinheiro daaposentadoria fora? Como saber se ele est perdendo dinheiro ou no?

    A resposta para Rock est num conceito de Scrates: a razo. racionalmente que

    Rock deve administrar o minimercado. Para isso ele deve pensar em cada detalhe,

    calcular, planejar. Ainda que o conceito de liberdade, na poca de Scrates, no era

    to amplo como hoje, podemos ver a semente do seu pensamento. Este um dos

    motivos porque voltamos a Scrates sempre que vamos estudar alguma coisa!

    A concepo de liberdade que temos hoje remonta Scrates, que imprime uma

    orientao racionalista tica. Isto significa que a Virtude como a justia, a prudncia

    ou a tolerncia dependem do conhecimento que delas temos. Apesar de sua enorme

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    contribuio, Scrates tambm tinha alguns inimigos, vamos dizer assim. Os mais

    importantes so os Sofistas. Enquanto Scrates buscava verdades universais, os

    sofistas relativizavam em seus discursos a verdade, vendendo seu conhecimento.

    Scrates influenciou muitos pensadores e suas ideias permanecem at hoje. Mas sua

    influncia direta pde ser mais sentida em um de seus discpulos: Plato. Mas, antes

    de falar de Plato, vamos resumir o que j vimos at aqui.

    Resumindo:

    A Moral distinta da tica: Moral o conjunto dos hbitos, costumes e regrassocialmente aceitas por um grupo. tica o conjunto de princpios e valoresque norteiam as escolhas dos indivduos.

    Scrates deu uma enorme contribuio discusso atribuindo uma orientaoracionalista tica. Esta orientao racionalista marcou a maneira como

    gerenciamos minimercados e praticamente todos os aspectos da nossa vida.

    Para refletir mais sobre o assunto, sugiro que voc...

    assista o filme citado a seguir, que certamente enriquecer sua formao.

    veja o vdeo a seguir e discuta no nosso frum qual sua opinio a respeito das

    diferenas entre brancos e negros que construmos ao longo do tempo?

    Filme: A Hora da Zona Morta (The Dead Zone) 1983, Direo de David

    Cronenberg.

    Pgina

    No filme, um professor de literatura sofre um acidente e fica 5 anos em coma.

    Quando volta conscincia percebe que tem a capacidade de ver o passado e o

    futuro das pessoas ao tocar suas mos. Em um encontro com um poltico candidato a

    presidente dos EUA, aperta sua mo e tem uma viso assustadora: o poltico

    (interpretado pelo ator Martin Sheen) se tornou o presidente e inicia uma guerra

    nuclear com a antiga Unio Sovitica.

    Posteriormente a essa viso, o professor encontra-se com um mdico de origem

    polonesa, que na infncia sobreviveu invaso da Polnia pelos alemes, mas que,

    porm, perdeu os pais e lhe pergunta se caso pudesse mudar o curso de um

    acontecimento histrico ele mudaria.

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    O mdico diz que sim. O professor ento traa um plano para matar o candidato

    presidente antes que ele seja eleito. O final surpreendente. O professor

    interpretado pelo ator Christopher Walken.

    Questo tica: correto que uma s pessoa, baseada em suas prprias convices,

    mude o destino de muitas outras sem que essas pessoas saibam, mesmo que seja

    por uma "boa causa"?

    Assim, devemos sempre nos perguntar: quais so os valores que esto norteando

    nossas decises e nossos julgamentos? Se estamos vivendo em sociedade podemos

    pensar de forma totalmente individualista? E afinal, quem outro? O outro sou eu...

    para o outro!

    Vdeo para reflexo: analise o vdeo a seguir e no deixe de participar de nossofrum.

    Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=XyilexcWbSE, acessado dia

    23/06/12.

    https://www.youtube.com/watch?v=XyilexcWbSE

    Acessado dia 23/06/12.

    Durante muitos anos sustentamos costumes que foram frutos de discriminao. Como

    podemos, baseados em nossas discusses sobre moral e tica, analisar a situao

    exposta no vdeo? Por que no colocar suas opinies em nosso frum para que outros

    possam interagir tambm?

    https://www.youtube.com/watch?v=XyilexcWbSEhttps://www.youtube.com/watch?v=XyilexcWbSEhttps://www.youtube.com/watch?v=XyilexcWbSEhttps://www.youtube.com/watch?v=XyilexcWbSEhttps://www.youtube.com/watch?v=XyilexcWbSEhttps://www.youtube.com/watch?v=XyilexcWbSE
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    WEB AULA 1Unidade 2 tica, Poltica e Sociedade

    Duas histrias em Plato

    Ser que daqui a 2000 anos as pessoas ainda vo falar de

    Michael Jackson? As pessoas sabero quem a banda que voc gosta de ouvir hoje?

    Quem vai ser lembrado daqui tanto tempo? J pensou se VOC dissesse algo bom

    que daqui a 2000 anos as pessoas ainda estivessem comentando? Realmente so

    poucas as pessoas que tm esta experincia. Uma delas Plato, discpulo de

    Scrates. Apesar do nome diferente, Plato acabou influenciando tanto o mundo que

    suas ideias permanecem at hoje. Vou comear com uma histria que Plato narrou eque tem tudo a ver com tica e Moral.

    O anel de Giges

    Existia um determinado anel que tinha o poder de dar invisibilidade a quem

    conseguisse vir-lo para dentro e o utilizasse. O proprietrio desse anel chama-seGiges. Assim, esse anel ficou conhecido como: o anel de Giges. Esse homem o

    conseguiu quando estava servio do rei da Ldia e, aps ter se salvado de uma

    catstrofe, retirou o anel de um cadver e, ao perceber que conseguiria ficar invisvel

    quando bem entendesse, entrou no castelo, seduziu a rainha, tramou com ela a

    morte do rei e obteve poder.

    Essa lenda, ou mito, nos estimula a pensar sobre as razes que provocam ou inibem

    uma ao. Em outras palavras: quais so as verdadeiras razes que nos levam afazer determinadas coisas e quais so as verdadeiras razes que nos desestimulam a

    fazer outras coisas. Se pudssemos ficar invisveis, o que faramos? Entraramos em

    um estabelecimento bancrio e nos apropriaramos de todo o dinheiro ali disponvel?

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    Entraramos nas lojas e, da mesma forma, roubaramos as roupas, calados e outros

    utenslios? dessa forma que muitas pessoas agem (quem sabe ns tambm agimos

    assim) como se dependssemos sempre da aprovao de outros.

    Muitas vezes at utilizamos desses argumentos para educar nossos filhos dizendo

    assim: o que diro os avs, os vizinhos, os amigos se os virem agindo assim ou de

    outra forma? Quantas vezes evitamos cometer infrao no trnsito se soubermos que

    h patrulhamento policial no trecho que estamos trafegando? Essas questes nos

    remetem a pensarmos em nossas aes pblicas e privadas. Mas existe uma segunda

    histria narrada por Plato e que voc j teve ter ouvido, chama-se a alegoria da

    caverna.

    Alegoria da caverna (ou mito da caverna)

    Imagine prisioneiros acorrentados voltados para a parede dentro de uma caverna.

    Imagine que eles nunca viram a luz do dia e que a claridade projetada dentro da

    caverna por uma fogueira acesa atrs deles. Imagine agora escravos indo e vindo

    neste lugar. Passando entre aqueles que estavam acorrentados e a fogueira. Se voc

    estivesse no lugar dos prisioneiros acorrentados e no pudesse nunca virar o seu

    rosto, tudo o que voc veria seriam as sombras projetadas na parede pela fogueira.

    Em outras palavras, se voc estive acorrentado e nunca pudesse olhar para a luz,

    como faria para saber se o que voc est vendo , de fato, a realidade? Voc noveria a realidade, mas sombras da realidade. Imagine que algum carregue a esttua

    de uma pessoa, como saber se de fato uma esttua ou um ser vivo? Observe a

    imagem a seguir que vai ajudar voc a se situar dentro do que est acontecendo

    dentro da caverna.

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    Fonte: Alegoria... (2012).

    Est conseguindo imaginar melhor agora a caverna? Ento vamos continuar: imagineagora que um destes prisioneiros consiga fugir e, pela primeira vez chegue

    superfcie. Como nunca olhou para a luz o que aconteceria com seus olhos? Com

    certeza ficaria ofuscado pelo sol... Mas mais do que isso, perceberia que nunca havia

    visto a realidade como ela realmente era, mas apenas sombras. Que estivera cego

    sua vida inteira ou que pensava que conhecia as coisas, mas agora v a realidade

    como de fato ! Seria um choque e tanto. Ainda meio atordoado decide voltar a

    libertar seus colegas. A recepo que recebe, no entanto, no das melhores, e

    acaba morto por seus colegas que no o entendem.

    Saiba mais: VEJA O VDEO A SEGUIR

    https://www.youtube.com/watch?v=Rft3s0bGi78&feature=related

    Apesar da histria narrada por Plato no ter necessariamente um final feliz, ela tem

    muito a dizer at hoje. A primeira que queremos destacar o que vamos chamar depassagem da Heteronomia para aAutonomiae tem a ver com a moral.

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    Heteronomia:(hetero= outro, diferente; nomos= lei). Ou seja, a pessoa agede acordo com as regras de outro que lhe so colocadas e ele obedece (parareceber recompensa) ou no obedece (e ser castigado). Por isso umcomportamento moral infantil, imaturo (mesmo que a pessoa seja um adulto).Esse comportamento regulado pelo meio social.

    Autonomia:Conforme o sujeito vai amadurecendo, vai adquirindo autonomia,

    se libertando da heteronomia. Para alcanar a autonomia, necessrio exerccioracional. Muitas pessoas envelhecem, mas no conseguem atingir essaautonomia em suas condutas. Para isso preciso formar o sujeito moralautnomo. No se trata, porm, de individualismo, mas de assumir umapostura crtica diante das regras impostas pelo meio social.

    A segunda coisa importante que podemos destacar de Alegoria da caverna de Plato

    o que vamos chamar de dualismo material x espiritual. Em outras palavras: a

    essncia das coisas no est necessariamente no que vemos (que podem ser apenas

    sombras da realidade). Seremos verdadeiramente livres quando conseguirmos veralm daquilo que pode ser captado pelos nossos sentidos (o que vemos, tocamos,

    ouvimos, etc.). Somente atingiremos o grau mximo das nossas vidas quando formos

    alm das concluses dadas pelos sentidos e usarmos o que temos de mais poderoso

    para entender a realidade: nossa capacidade racional! Podemos nos libertar da

    caverna onde reinam as trevas e rumar em direo luz do conhecimento. Existe em

    Plato, ento, uma relao entre o que vemos (a realidade material, palpvel) e o

    mundo do conhecimento (o mundo das ideias, do saber). Conheceremos de fato

    quando deixarmos o conhecimento nos guiar em meio s trevas at o mundo onde asideias reinam e resplandecem.

    Sei que tudo isso comea a parecer complicado de mais, mas deixe-me dar um

    exemplo. Imagine uma criana com 5 anos de idade que cresceu no interior em um

    pas chamado das maravilhas. Vamos chamar esta menininha de Alice. Imagine que

    um dia o pai de Alice entre em casa no final de dia e faa uma promessa: no final do

    ano vamos para a praia! Vai ser timo, precisamos descansar e vamos relaxar

    bastante. obvio que Alice nunca viu o mar (e obvio tambm que ela no tem

    internet, ipad, computador, nem TV, afinal de contas ela mora no pas das

    maravilhas!).

    Em suas conversas com os adultos, Alice tenta entender, com a imaginao de uma

    criana de 5 anos, o que seja o mar. Mas como no tem nada para comparar ela fica

    escrava das ideias que j possui (um rio enorme, um saleiro, bastante areia...). Mas

    nada disso no chega nem perto de descrever o que o mar... Alice como os

    prisioneiros acorrentados e voltados para a parede. O dia que ela puder correr na

    praia ela no apenas ser livre para brincar vontade no mar, mas tambm ser livre

    das falsas impresses.

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    Bem, mas voc pode estar agora se perguntando: ser que isso assim mesmo?

    Deixe-me responder a esta pergunta com outra pergunta: ser que podemos

    acreditar em tudo o que vemos ou ouvimos. Assista o vdeo a seguir, que vai dar uma

    boa ideia do que estou dizendo.

    Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=hibyAJOSW8U,

    Plato influenciou o mundo e se no podemos analisar todos os resultados do seu

    pensamento, podemos ver como eles atingiram seu discpulo mais ilustre: Aristteles

    Aristteles e o conceito de virtude

    Se voc est imaginando que Aristteles simplesmente seguiu as ideias de Plato, seumestre, voc se enganou completamente. Aristteles foi seguidor de Plato, mas isso

    no quer dizer que ele no tenha desenvolvido sua prpria maneira de pensar. Das

    muitas contribuies de Aristteles o que nos interessa agora sua ideia de virtude.

    Voc j pensou em ganhar um milho

    de reais, neste exato momento? Ento imagine que (apenas imagine!) que eu acabeide dar um milho de reais para voc. Exatamente: um milho de reais para cada

    pessoa que estiver lendo este texto. Imagine que o dinheiro est na sua conta

    bancria neste instante (se voc no tiver conta bancria, ento o dinheiro vai estar

    debaixo do seu colcho apesar de eu achar que neste caso vai dar uma dor nas

    costas terrvel caso voc ainda queira dormir l). O que voc faria com um milho de

    reais? Iria ao trabalho amanh cedo? O que voc faria de diferente do que tem feito

    hoje? Bem... daqui a pouco vou voltar a este um milho de reais.

    Quando Aristteles fala de virtude, chega concluso de que toda virtude boa

    quando controlada no seu excesso e na sua falta. Em outras palavras, seremos

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    realmente felizes quando exercemos aquilo que temos de mais humano: a

    inteligncia. E o que a falta de equilbrio? O vcio! a inteligncia que nos torna

    verdadeiramente felizes, pois ela que nos diferencia de todos os outros animais e

    nos livra dos vcios. O bem mais importante a ser adquirido, ento, no so as

    riquezas, a honra, a fama, as glrias, os prazeres... isso tudo no levar felicidade.

    Mas a vida humana no apenas intelecto, pois seremos corremos o risco de ir deum extremo ao outro. Temos que ter equilbrio! Procurando uma medida justa.

    Virtude querer o bem, buscando tudo com equilbrio. Vamos

    voltar agora ao milho de reais de dois pargrafos atrs. Algumas pessoas saem do

    seu equilbrio to rpido por causa deste valor que em poucos meses (ou semanas!)

    j esto de volta pobreza de onde partiram. Isto porque sua vida passa a ser

    governada no pela virtude, mas por vcios. A virtude consiste em dominar as paixes

    e permitir que a razo governe onde antes parecia haver um descontrole das paixes.

    A felicidade, na concepo de Aristteles passa por a!

    As ideias de Plato e Aristteles foram uma grande influncia no mundo todo. E

    serviram de base para grandes pensadores ao longo dos tempos. Voc duvida?

    Vamos a um exemplo, o Cristianismo.

    A influncia da moral crist

    Observe atentamente o texto a seguir. Para ajudar na sua leitura,

    vou colocar em negrito a palavra vcio que aparece no final do texto que, espero,

    vai lhe ajudar a lembrar de Aristteles.

    Saiba mais:

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    CONFISSES DE AGOSTINHO LIVRO II

    1. POR QUAL MOTIVO AGOSTINHO RELEMBRA SUAS CULPAS

    Quero recordar as minhas torpezas passadas, as corrupes de minha alma, no

    porque as ame, ao contrrio, para te amar, meu Deus. por amor do teu amor queretorno ao passado, percorrendo os antigos caminhos dos meus graves erros. A

    recordao amarga, mas espero sentir tua doura, doura que no engana, feliz e

    segura, e quero recompor minha unidade depois dos dilaceramentos interiores que

    sofri quando me perdi em tantas bagatelas, ao afastar-me de tua Unidade (1).

    Desde a adolescncia, ardi em desejos de me satisfazer em coisas baixas, ousando

    entregar-me como animal a vrios e tenebrosos amores! Desgastou-me a beleza da

    minha alma e apodreci aos teus olhos, enquanto eu agradava a mim mesmo eprocurava ser agradvel aos olhos dos homens.

    2. NECESSIDADE DE AMOR E DE SEUS ILUSRIOS SUCEDNEOS

    E o que que me encantava, seno amar e ser amado? (1) Mas, eu no ficava na

    medida justa das relaes de alma para alma, dentro dos limites luminosos da

    amizade. Do lado dos desejos carnais e da prpria natureza da puberdade emanavamvapores que me enevoavam e ofuscavam o corao, a ponto de no mais distinguir

    entre um amor sereno e as trevas de uma paixo. Um e outro ardiam confusamente

    em mim, arrastando a minha fraca juventude pelos despenhadeiros das paixes, e a

    submergiam num abismo de vcios.

    De onde vem este texto? Quem disse isso? Por que estava lutando contra seus vcios?

    Este um texto de Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho para os menos ntimos.

    Ele viveu entre 354 e 430 d.C., no norte da frica. Agostinho, depois de levar umavida de pecados, se converte ao cristianismo e passa a ser um importante telogo e

    escritor. Neste pequeno trecho possvel ver algumas influncias dos pensadores

    gregos que analisamos h pouco. Voc percebe como Agostinho menciona que no

    ficava na medidajusta das relaes e que sua vida era entregue aos vcios?

    Coincidncia com o pensamento de Aristteles?

    O pensamento de Agostinho se aproxima daqueles filsofos do passado. No s de

    Aristteles, mas, especialmente, de Plato. Isso mesmo! Mas como? Bem, paratratarmos disso precisamos falar um pouco sobre revelao.

    A importncia da revelao

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    Se eu pegasse um leno e debaixo dele colocasse uma moeda, qual seria a chance

    de, na primeira tentativa, voc acertar que moeda estou segurando? Por motivos

    bvios, o leno estaria atrapalhando voc de acertar, porque ele est cobrindo a

    moeda. Tudo ficaria mais fcil se eu retirasse o leno e voc pudesse ver claramente

    a moeda, certo? Digamos assim que, sem o leno, a sua chance de acertar seria

    muito, muito maior.

    Bem, exatamente este o sentido de revelao retirar o leno e ento ver

    claramente as coisas como elas so de fato (lembra um pouco Plato?). Assim como

    prisioneiros presos na caverna, vivemos presos aos nossos pecados dentro deste

    mundo. Aqueles que conseguem enxergar s o fazem porque o vu que encobria

    seus olhos foi retirado. A salvao individual, da o germe do individualismo que

    brotou no ocidente. Vamos ver um pouco sobre isto agora.

    A construo da individualidade, a ideia do dever e o valor da inteno

    Uma das grandes contribuies do cristianismo no foi apenas a religio, mas a noo

    de individualismo e subjetividade que vai sendo gestada com o passar do tempo

    associada ideia do dever. Voc j percebeu que hoje estamos procura da nossa

    felicidade? Interessante que no estamos atrs da procura da felicidade do Brasilou

    da humanidadecomo um todo, se assim podemos dizer. Sem querer fazer juzo de

    valores a respeito disso, podemos dizer que o individualismo no to bvio a ponto

    de ter aparecido em todas as civilizaes ao longo dos tempos e se manifesta em

    diferentes reas: na economia, na educao, na poltica, etc...

    Individualismo: toda doutrina moral ou poltica que reconhea ao individuo humano

    um preponderante valor de fim com relao comunidade da qual faz parte.

    ABBAGNANO, Nicola. p. 257 (em outras palavras: primeiro o individuo, depois ogrupo).

    Contudo, a revelao divina tambm carrega uma noo de dever. Assim como o

    prisioneiro acorrentado que se libertou e fugiu da caverna, temos tambm um senso

    de dever envolvendo o conhecimento revelado. Ainda que a discusso sobre

    individualismo e dever seja muito importante, voltaremos a ele mais adiante.

    Resumindo:

    Plato e o dualismo material x espiritual.Plato deu grandes contribuiespara o mundo que vivemos hoje. Algumas de suas ideias podem ser resumidas

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    na alegoria da caverna. A essncia das coisas no est necessariamente no quevemos (que podem ser apenas sombras da realidade).

    Heteronomia e Autonomia: a maturidade no est relacionada ao simplespassar do tempo, mas do desenvolvimento da autonomia, da maioridade moral.

    Aristteles:entre a virtude e o vcio. Virtude uma disposio de carter dequerer o bem. Seremos verdadeiramente felizes quando escolhermos asvirtudes em relao aos vcios.

    Agostinho e a revelao divina: a revelao divina quem d o sentido davida. H um alinhamento entre um tipo especfico de moral e tica que passama moldar o pensamento ocidental.

    Agora, que voc aprendeu sobre a diferena entre tica e moral, quero convid-los

    para uma participao no frum de discusso, sua opinio vai fazer muita diferena!

    Bibliografia

    PLATO,A repblica, AGOSTINHO, Confisses.

    ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de filosofia. So Paulo, Mestre Jou, 1982.

    ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando,

    introduo Filosofia. So Paulo, Moderna, 1993.

    ALEGORIA da caverna. Sociobox Wordpress, 25 jun. 2012. Disponvel em: . Acesso em:

    mar. 2013.