O Culto Rev. Onezio Figueiredo

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    O CULTO

    OPSCULO II

    APNDICE I - LOUVOR

    APNDICE II - ORAO

    Rev. Onezio Figueiredo

    Deus Esprito; e importa que os seus adoradores o adorem em esprito e em verdade ( Jo 4.24 ).

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    NDICE

    01 - Apresentao: Mary Cleme Silvrio Neves02 - Definio03 - Terminologia04 - Expresses clticas de Israel

    05 - Expresses clticas da Igreja06 - Igreja, um santurio07 - O Culto da Igreja08 - Conjunto litrgico09 - Conjunto diacnico10 - Artes litrgicas11 - Esttica dirigencial12 - Esttica templria13 - Liturgia crist, herana judaica14 - Liturgia sinagogal

    15 - Ordem do culto sinagogal16 - O que Deus que convoca17 - Culto, realizao do Esprito18 - Modelo litrgico19 - Fundamentos litrgicos da Didaqu20 - Liturgia segundo Justino Mrtir21 - Liturgia no fim do III sculo e incio do IV22 - Culto calvinista23 - Calvino e o Culto24 - Ordem do culto calvinista25 - Culto segundo as normas de Westminster

    26 - Liturgia segundo O livro de Orao Comum27 - Lies para a Igreja hoje28 - Ordem psicolgica do culto29 - Templo, trono de Deus30 - Liturgia da Orao Dominical31 - Importncia da ordem psicolgica do culto32 - Bibliografia33 - Apndices I - Lourvor34 - Apndice II - Orao

    01 - Apresentao

    A liturgia, por vezes, tem sido incompreendida, gerando estreis polmicas, que culminamem divises nas igrejas com algumas pessoas buscando novidades na forma de cultuar a Deus.

    Este trabalho do Rev. Onezio Figueiredo surge num momento oportuno historicamenteimportante. O frio formalismo presbiteriano bem como o barulhento pentecostalismo tm sidorechaados na busca do equilbrio.

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    Tenho oportunidade de vivenciar a proposta do autor, participando dos cultos dominicaisda Igreja Presbiteriana Ebenzer de So Paulo, pastoreada por ele. s diferentes faixas etrias, a partirdas crianas, oportunizado o servio da liturgia, entendida como funo de muitos e ao de todos.H msica vocal e instrumental de boa qualidade, oraes, leituras bblicas, proclamao da palavra, ea postura de que diante de Deus... submisso, respeito, consagrao e reverncia.

    um grande privilgio apresentar um trabalho terico do qual tenho vivenciado a prtica.

    O autor, Rev. Onezio Figueiredo, muito feliz em definir de forma objetiva, prtica e comprofundo conhecimento histrico e teolgico o culto a Deus, resgatando suas razes a partir das expres-ses clticas de Israel. Segundo o propsito do autor: A Igreja que no esquece o caminho por ondepassou, saber, com certeza, onde est e para onde vai.

    Este trabalho, mais completo que o primeiro opsculo, publicado em 19991, e j na tercei-ra edio, leitura tranqila e interessante para ser digerida em pouco tempo.

    No final, excelente apndice sobre outro tema atual, polmico e pouco compreendido:Louvor.

    A leitura uma forma indireta de conhecer o pensador, Rev. Onezio Figueiredo.Tenho a honra e o privilgio de conhec-lo pessoalmente, ser sua ovelha, conviver com sua

    famlia e desfrutar da experincia e conhecimento teolgico desse irmo, um pouco mais velho, mas

    inteiramente criana na dependncia do Soberano Senhor Jesus Cristo, a quem servimos.

    So Paulo, abril de l994

    Ass.: Mary C. S. Neves.

    Nota: Mary Assistente Social. Exerceu sua profisso na Prefeitura de So Paulo, capital,com extraordinria eficincia e elevada proficincia. Ocupou vrios postos de liderana e cargos deconfiana. musicista de grandes mritos, regente coral de primeira linha, tcnica em Organizao deEventos, e uma de nossas auxiliares no ministrio litrgico da Igreja. Casada com o Presbtero Adilson

    Neves, me de dois filhos e uma filha; todos na Igreja, e ativos.

    02 - Definio de Culto

    Culto: Servio prestado a Deus pelo salvo e pela comunidade em todas as atividades vitaise existenciais. Servir a condio essencial do servo. No primeiro caso, trata-se da atividade constantedo real servidor de Deus, que o serve de dia e de noite com sua vida, testemunho, profisso e adorao.

    No segundo, tem-se em vista a liturgia comunitria, a adorao dos irmos congregados, o ser e a vozda Igreja.

    03 - Terminologia

    Todas as palavras gregas para culto significam trabalho, servio prestado a um superior,

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    servio prestado a Deus. Culto, portanto, como ficou definido, um servio que se presta a Deus.Muitos, modernamente, entendem que culto invocao da divindade, para que o Deus invocado secoloque a servio dos invocadores. Outros pensam que culto uma festa espiritual com o objetivo dealegrar os fiis. Quanto mais festivo, mais espiritual o culto, pensam os ludinistas. Os idlatrasacham que culto venerao e adorao do divino consubstanciado ou materializado em cones, quelhes servem de smbolos e objetos de f. H os que revivem os cultos orgacos do paganismo greco-

    romano. Outros ressuscitam o dualismo persa da luta do deus do bem contra o deus do mal, do EspritoSanto contra o esprito satnico. A doutrina do satanismo versus divinismo substitui a pessoa do prega-dor pela do exorcista; e o culto se transforma numa batalha entre Deus e Sat. Alguns, no poucos,entendem que culto uma reunio de pedintes de bnos espirituais e materiais, mais estas que aque-las. Os que mais pedem so os que menos servem. Numerosos hoje, a maioria inconsccientemente,transformam o culto numa sesso ordenatria e de cobrana na qual o homem poderoso, supercrente,pela f positiva e pela palavra autoritativa, exige do Criador respostas unicamente positivas s suaspeties e lhe cobra os direitos que, na qualidade de filho, possui por criao e por natureza. osuserano comandando o Soberano. Crena absurda, mas popularssima entre os carismticosprosperistas.

    No espao sagrado, uma propriedade exclusiva de Deus, onde o culto se realizava em

    Israel, no havia lugar para manifestaes demonacas, pois a Deus se manifestava, e exclusiva-mente ele, no como escravo dos adoradores, mas como Senhor soberano e absoluto em santidade,sabedoria, grandeza, bondade, justia e poder.

    Os principais termos conotadores e denotadores do culto so:

    01 - Douleo:Servio escravo do doulos, sem qualquer direito pessoal, trabalhista, salarial; e mais,

    sem livre arbtrio. O escravo e sua produo pertenciam ao seu senhor. Tudo que um escravo faz parariqueza e glria de seu senhor. O crente doulos de Deus, um cultuador, portanto.02 - Therapeuo:

    Servio voluntrio, sem remunerao; geralmente exercido na rea carita-tiva ou no servi-o pblico, mas sempre de cunho social. O therapeuta era livre para doar o seu trabalho comoexpresso de amor fraternal e comunitrio.

    03 - Hypereteo:Servio de remador; remar como escravo sob comando imperativo do administrador da

    embarcao. Era um trabalho de ao sincronizada, conforme o grito de cadenciamento do dirigente.O hyperets era um dentre vrios, mas seu trabalho sincrnico compunha a fora conjunta de manei-ra indispensvel. O navegar do barco na velocidade ideal e na direo proposta dependia da unio e doesforo harmnico de todos.

    04 - Diaconeo:Servio fundamentado unicamente no amor, na consagrao, na abnegao. Dicono

    aquele que serve sem esperar qualquer tipo de retorno como recompensa, reconhecimento, gratido.Serve-se, movido pelo amor ao prximo, jamais por venalidade, publicidade ou ostentao.

    05 - Leitourgeo:Leitourgeo vem de laos, povo, e ergon, trabalho; o que se faz em benefcio da

    comunidade. Significa, portanto, prestao de servio pblico, nobre ou no, tanto no palcio real

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    como no templo. Leitourgos, no mbito religioso, era quem se dedicava exclusivamente ao serviodo templo quer na ordem cerimonial e ritual quer na manuteno e administrao do imvel, dosmveis e dos objetos consagrados a Deus e destinados ao culto.

    06 - Latreuo - Latreia:Servio sacerdotal, o que oferece sacrifcio a Deus, o que promove intermediao religio-

    sa, o que se oferta em adorao. Latreia sofreu conotaes diferentes em decorrncia do uso que delafaz o romanismo. O culto romano divide-se em trs modos de adorao: Hiperdulia, o culto que sepresta a Deus e ao Santssimo Sacramento, especialmente hstia que, pela transubstanciao diviniza-se e se vitaliza, igualando-se a Deus, merecendo a mesma honra. A hstia deificada tambm chamadade Corpus Christi, corpo de Cristo. Dulia ( de doulos ) o culto prestado Virgem Maria. Por estaordem se v que a Virgem ocupa o segundo lugar na hierarquia divina, uma semideusa. Latria, cultoque se presta aos santos. A palavra latria vem de latron, salrio. Era, portanto, originalmente,trabalho assalariado, no escravo.

    Todo trabalho do cristo, no templo ou fora dele, realizado com dedicao, eficincia econsagrao, culto ao Criador e Salvador. A adorao filha da mordomia.

    04 - Expresses Clticas de Israel

    01 - Clericalismo e laicismo:Sendo uma nao santa, um povo teocrtico, todas as festas de Israel tinham sentido duplo

    integrado: Civil e religioso. A liturgia, pois, se realizava clericalmente no templo, especialmente noSanto dos Santos, e laicamente, embora sob orientao sacerdotal, no exterior do recinto sagrado. Oculto do altar, clerical por excelncia, tinha formas rgidas em seu ritual ordenado e organizado por

    Deus. O culto laico, exercido nas festas sagradas, efetivava-se com mais liberdade de ao e expresso,onde a religiosidade confundia-se com o civismo, especialmente na hinologia salterial. O leigo notinha acesso ao lugar santo, mas isso no lhe impedia de ser um adorador de Jav, parte do ritualismosacrificial em que se fazia representar pelo sacerdote.

    Os simbolismos do culto sacerdotal realizaram-se e se concretizaram em Cristo Jesus e sorememorados na mesa da eucaristia, no plpito do profeta, na congregao confessante, na comunida-de que recebe o perdo do Salvador, no coral dos novos levitas, os cantores da Igreja sacerdotal. Aessencialidade do culto de Israel preserva-se na Igreja: A adorao; a confisso; o sacrifcio de Cristotipificado na Ceia; o sacrifcio do crente efetivado por sua dedicao a Deus (Rm 12.1,2); a confissode pecados, individual e comunitria; o perdo recebido mediante o sacrifcio do Cordeiro; a gratidoem expresses gratulatrias e em oferendas; o louvor.

    02 - As festas:As festas de Israel eram memorativas, comemorativas, consagra-doras e sacramentais. A

    trs delas todos os israelitas tinham a obrigao de comparecer:a. Pscoa: Comemoraoseguida da festa dos pes asmos, rememorando a sada do Egito e a

    ddiva da Terra da Promisso. Contedo: Lembrana do sofrimento sob a escravido faranicae da libertao, alm de rememorar o pacto mosaico, gerador da nao israelita. Comemorava-se do dia 14 a 21 de nisan.

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    b. Festas do Pentecostes e das Semanas: Comemorao no ms de sivan, relembrando a ddi-va da lei no Sinai e a bno das colheitas na nova terra, quando no mais havia famintos.Contedo: Renovao do pacto e lembrana da providncia divina por meio de todos os atoslibertadores de Deus, inclusive nas guerras santas de conquista.

    c. Festa da Expiao, seguida pela dos tabernculos, nos dias 10 e 15 a 21 de tishri, comeo doano civil. Contedo: Salvao, peregrinao no deserto e vicariedade de Israel. No dia 10 de

    tishri, o dia da expiao, no podia haver hilaridade litrgica, pois Israel inteiro estava emcontrio, meditao, reflexo e confisso. Era o dia da tristeza pela constatao da existn-cia e da persistncia do pecado. A festa da expiao era a nica em que o Sumo Sacerdote,vestido de branco, entrava no Santo dos Santos para interceder pelo povo.

    Alm das grandes festas, havia as festas das luas novas, marcando o incio de cada mslunar. Destas, a mais importante era a do stimo ms (tishri ), comemorando a abertura do ms, consa-grando-o. Nesta festa tambm se comemorava o ano novo, o comeo do ano civil.

    Das festas religiosas com forte contedo de civismo no se h de deduzir nenhuma ordemlitrgica, pois o culto organizado, durante as festas, celebrava-se no interior do templo despido dequalquer hilaridade, especialmente o do Dia da Expiao. Os salmos refletem as alegrias laudatriasdas inmeras festividades de Israel, sem estabelecer fronteiras ntidas entre o cvico e o religioso, mas

    separando com muita clareza, nos eventos de adorao, o sagrado do profano.

    03 - As Teofanias:Na consagrao do templo de Salomo a glria (shekinah) de Jav desceu sobre o tabernculo

    para ali permanecer, marcando a presena de Deus com o seu povo (I Rs 8.2; II Cr 7). No Santo dosSantos, pois, onde estava a arca coberta pelo propiciatrio, habitava a shekinah de Jav. O sumosacerdote ficava sozinho, separado de todo povo, naquele lugar misterioso e sombrio, o mais santo detodos, iluminado apenas pelo brilho das brasas do turbulo. A arca de Deus se achava ali, cobertapelo propiciatrio; acima dela, a presena visvel de Jav na nuvem de shekinah (Edersheim; Festasde Israel, p. 128, Unio Cultural Editora, SP). Sem a presena teofnica, gloriosa e glorificante deJav, no havia culto. O Deus de Israel nunca foi um Deus ausente e secundrio. Diante de sua glria(shekinah) e majestade o povo prostrava-se em adorao. Todo fiel adorador reconhecia a presena deJav no templo, seu poder perdoador, sua regncia sobre os eleitos; e ento lhe prestava culto pelaconfisso, pela oferenda do animal substituto em sacrifcio, pela recepo do anncio sacerdotal doperdo e pela alegria de ser perdoado graciosamente, embora a ddiva do perdo s fosse possvelmediante o derramamento do sangue da vtima, morta em seu lugar. O que era smbolo, tornou-serealidade na Igreja, o novo Israel, por meio de Jesus Cristo. Na essncia, a liturgia permanece.

    A teofania templria esteve na viso dos profetas, provocando neles a reverncia e osmovimentos clticos de quem se defronta com o Todo Poderoso. Caso tpico Isaias 6, alm dasvises de Ezequiel. Diante do Majestoso e Numinoso: Respeito, consagrao e reverncia absoluta.Perante Deus, espiritualizante por natureza, a espiritualidade do homem aflora, superando, mas no

    eliminando, a sensorialidade. A sublimao do homem acontece, quando ele colocado frente a frentecom o Sublime, seu Criador, Salvador e Rei. Dissemos que ele colocado, isto mesmo. Deus quem o elege, chama-o, coloca-o na fraternidade dos redimidos, prostra-o diante de seu altar comoadorador, redime-o pelo sacrifcio de seu Filho, santifica-o pelo poder de sua palavra.

    04 - Hekal e Debhir:Podemos dividir o culto de Israel em: Festivo, o das festas programadas por Deus e reali-

    zadas fora do templo. No eram anrquicas e nem despropositadas. Objetivavam manter a memriados feitos de Jav. Sem o depsito de ontem no haveria a reserva de hoje. A Igreja existe por causa dos

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    atos criadores, protetores e redentores de Deus na histria da redeno. A eucaristia, mistrio e festa,tem o mesmo propsito das comemoraes de Israel: Manter viva a lembrana do que Deus j fez; eesta lembrana um alimento da f. Solene: Culto efetivado no hekal ou lugar santo, ondecostumeiramente os sacerdotes sacrificavam intercessoriamente pelos pecadores e mediavam-lhes asoferendas gratulatrias. Solenssimo: Culto executado pelo sumo sacerdote, e somente por ele, umavez por ano, no debhir ou Santos dos Santos. Ali era o local do silncio, onde a fala de Deus era

    prioritria, no a do homem. No debhir Deus falava e o homem ouvia. Nenhum hino se cantava noSantssimo, apenas o dilogo Deus - homem. No hekal, local dos rituais ordinrios (falamos dotemplo de Salomo ), somente os sacrifcios, as oraes, os orculos e os cnticos corais levticoscompunham a liturgia. No mundo exterior, porm, o povo alegrava-se nas festas preordenadas,estabelecidas e regulamentadas por Deus, cantando, ao som de instrumentos, e danando. Este quadrotem de ser levado em conta, quando se transferem expresses e imagens litrgicas de Israel para aIgreja. Toda Igreja agora mais que um hekal, um debhir, um Santos dos Santos, um santurio,isto , lugar de santos, de coisas santas, de palavras santas. Onde dois ou trs se reunem, a umdebhir, lugar onde Cristo est como sujeito e objeto de nossa adorao. A reverncia, pois, , em simesma, e uma forma de cultuar a Deus.

    05 - Expresses Clticas da Igreja

    01 - Tradio ierosolomita:Jerusalm, uma tradio litrgica profundamente judaica e uma administrao eclesistica

    institucional. Vejam a eleio de diconos e a estabilidade ministerial: Tiago, pastor efetivo. A Igrejade Jerusalm foi a lder de todas as outras, e deveria servir de parmetro para as igrejas crists de todosos tempos.

    02 - Tradio sinagogal:No mundo gentlico a Igreja apoiou-se, inicialmente, nas sinagogas, herdando delas as

    tradies litrgicas, adaptadas e desenvolvidas, segundo a f crist e a nova eclesiologia. Veremosdepois a estrutura da liturgia sinagogal.

    03 - Tradio carismtica:A Igreja de Corinto produziu e transmitiu o carismatismo tanto na ordem administrativa

    como na litrgica. Nela, os lderes carismticos instituam-se por indicao direta, supunham, doEsprito Santo, no por eleio ou por indicao apostlica, como acontecia em Jerusalm. A grossomodo, podemos afirmar que as igrejas histricas, como a Presbiteriana, so herdeiras da tradioierosolomita, e as carismticas miram-se e se baseiam nos irrequietos e confusos irmos corntios. Aespontaneidade litrgica precisa de limites, e Paulo os deu, enfticos.

    04 - Tradio cristofnica:A shekinah est sobre e em Jesus Cristo, o que se mantm presente na Igreja e, em

    consequncia, nos cultos. Cristo a cabea do organismo eclesial; ns, os membros. Ele, a shekinahde Deus no meio dos eleitos, inseparvel de sua Igreja. Sem a presena gloriosa de Cristo no hIgreja e o culto, sem a emulao de sua presena, torna-se vazio de sentido e falso.

    Apocalipse um testemunho da glria (shekinah) de Deus em Cristo, em que o Cordeiro

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    colocado no centro da adorao dos santos, que se efetiva nos cus e se realiza tambm na terra. Asolenidade do culto celeste, na viso apocalptica, enriqueceu muito a adorao terrestre da Igrejaprimitiva e sofredora. A exaltao do Cordeiro se faz pela palavra oral e pelo cntico coral, compostodo levirato celestial (os anjos, os quatro seres viventes e os vinte e quatro ancios). A estes somaram-se, num cntico comunitrio, todos os redimidos, uma incontvel multido (Ap 4.10-11; 5. 8-14; 7.11,12;11.16,18; 12.10-12; 14.2,3;15.2-4 cf 19.1-7). Instrumento litrgico do coral celeste: A harpa (Ap 5.8,

    14.2;15.2). O culto do povo de Deus na terra deve ser figura do que acontece no cu. E l a reverncia levada a srio, a cristocentricidade da adorao uma realidade. O personalismo no existe. Infeliz-mente, aqui na terra, muitos cantores esto cantando para si mesmos, mercantilizando o canto sacro(sacro?). Cantam, do altar do Senhor, para venda de discos, CDs e fitas. Lamentvel distoro doculto!

    06 - Igreja, um santurio

    O culto no Velho Testamento era estritamente sacerdotal. Os sacerdotes, e somente eles,tinham acesso parte mais sagrada do templo, isto , aquela inteiramente santificada, completamenteseparada do mundo e das coisas profanas. Os leigos ficavam no exterior, includos no profano, onde asensorialidade se expandia e onde o espiritual se confundia com o material na liturgia das festas. Aspaixes, os sentimentos e as emoes espirituais misturavam-se com as naturais e as carnais nos atosclticos. Hoje, igualmente, o culto sacerdotal, pois a Igreja toda um reino de sacerdotes, e otemplo todo passou a ser um hekal, lugar santo, reunio do povo sacerdotal em Cristo Jesus, o SumoSacerdote do templo, Cabea da Igreja. A solenidade do hekal vetotestamentrio deve ser mantidano hekal neotestamentrio, a Igreja reunida. Onde quer que os sacerdotes de Deus se reunem, aestar o Tabernculo, Jesus Cristo, Deus conosco. E o local bsico de reunio o templo. Toda aIgreja, semelhana do coral levtico, um coral sacerdotal reverente, respeitoso, zeloso, bblico e

    artstico. Um povo sacerdotal no apresenta a Deus msica de m qualidade, de procedncia duvidosa,de rtmos que levantem associaes mundanas concupiscentes. O verdadeiro cntico espiritual somen-te a Igreja invisvel dos verdadeiros eleitos aprende, apreende e executa, pois no procede dos crebroshumanos irregenerados, mas da revelao de Deus: Tambm a voz que ouvi era como de harpistasquando tange as suas harpas. Entoavam novo cntico diante do trono, diante dos quatro seres viventese dos ancios. E ningum pode aprender o cntico, seno os cento e quarenta e quatro mil que foramcomprados da terra (Ap 14. 2b,3). O novo saltrio da Igreja, verdadeiramente espiritual, difere, emuito, da hinologia transitria, emergente dos sentimentos e das circunstncias culturais. Os eleitos,iluminados pelo Esprito, separam bem o cntico realmente sacro daquele com pretenses de sacralidade.A espiritualidade do canto uma obra do Esprito e no um produto comercial destinado ao seguimen-to religioso do mercado consumidor.

    07 - O Culto na Igreja

    Cristo presente, a shekinah divina, o sujeito e o objeto litrgicos. Culto no uma festade religiosos exaltando um cone ou buscando bnos dos cus; o encontro do Senhor, promovidopor este, com seus servos na assemblia litrgica, a comunho dos salvos convocados por Cristo e

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    reunidos pelo Esprito Santo para a edificao, a comunho e a respeitosa adorao ao Redentor. Pauloentende que o motivo ltimo do culto a edificao do corpo de Cristo, habilitando o conjunto e cadamembro para o exerccio da f e do testemunho cristo.

    No culto, exatamente como acontecia no hekal do templo de Salomo, as expressescorporais devem ser reverentes e destinadas reverncia, consentneas com o local de adorao, asublimidade litrgica, a presena do Rei. No hekal do templo os movimentos fsicos no iam alm

    de fechar os olhos, curvar-se, ajoelhar-se, levantar-se, mover suavemente as mos. Nada de pulos,danas, coreografias, bateo de palmas, aplausos. O hedonismo e o ludinismo eram prprios doscultos pagos. No tempo da nova era, da teologia da prosperidade, do Cristo da satisfao tempo-ral, a hilaridade confunde-se com a espiritualidade. O Cristo da cruz tem sido substitudo pelo Cristoda glria terrena; a f salvadora foi trocada pela f positiva, requerente de direitos humanosoriginais e inalienveis. So deveres de Deus e direitos do ser humano, dizem, a sade, a prosperidade,a realizao dos desejos nobres e a felicidade. Semelhante teologia trocou a orao splice, submissa soberania de Deus, pela confisso positiva, orao que no admite resposta negativa, pois o supli-cante no pede favor, reivindica direitos. A soberania do homem est sendo colocada no lugar dasoberania de Deus. E o Senhor de todos e de todas as coisas converte-se em submisso servo do homem.Lamentvel!

    08 - Conjunto litrgico

    Numa Igreja que exercita o sacerdcio geral de todos os homens, a liturgia funo demuitos e ao de todos, no de alguns clrigos privilegiados. Assim, a Igreja possui um conjuntolitrgico bem definido, composto de: Ministros (presbteros docentes e regentes), diconos, lderesdirigentes, cantores, coral, instrumentistas. Este conjunto harmnico dirige o servio litrgico do qualtoda a comunidade participa por meio do responso: Cnticos, leituras responsivas, leituras unssonas,

    oraes e recitaes credais.O trabalho diaconal durante o culto faz parte dele como componente necessrio da liturgia,

    que tambm diaconia. O Culto a Deus diacnico por excelncia.

    09 - Conjunto diacnico

    A existncia da Igreja, em si mesma, um culto ao Criador e Senhor. Tudo que ela faz etudo o que se faz dentro dela e por ela, faz-se ao seu Cabea, Jesus Cristo. So verdadeiros adoradores

    os que trabalham na Igreja em quaisquer funes, atividades, ofcios e ministrios. Enganam-se os quepensam que o culto somente se efetiva na reunio devocional dos crentes. Culto qualquer servioprestado a Deus, especialmente os que cooperam para a ordem e a unidade da Igreja. Alis, a consagra-o maior no dos que so ativos na reunio, mas dos que so dinmicos, dedicados e eficientes nocumprimento de seus ministrios diversos.

    O conjunto diacnico da Igreja se compe de: Conselho, Junta Diaconal, Superintendenteda Escola Dominical, professores, dirigentes infantis, regentes, diretorias departamentais, secretarias,servio de som, servios grficos, servio de manuteno, servios diplomticos e outros. Sem asatuaes setoriais dos vrios servios diacnicos, ordenados por um sistema globalizante e harmoni-

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    zados pelo esprito de cooperao, a Igreja no ser uma boa comunidade litrgica. Os servios inte-grados habilitam a Igreja, qualificando a liturgia existencial do corpo eclesial. Participar da liturgia,pois, trabalhar na e para a Igreja em quaisquer atividades, inclusive a disposio de se congregar.

    10 - Artes litrgicas

    Sendo Deus o Criador e Senhor de todas as coisas, Salvador dos eleitos, dono de tudo o queexiste, o melhor, evidentemente, tem de ser para ele, especialmente no campo das artes, onde acriatividade humana, por doao divina, evidencia a sensibilidade daquele que Deus criou sua ima-gem e semelhana. As artes litrgicas pricipais so:

    01 - Recitativa:Na Sinagoga havia pessoas treinadas para leituras bblicas. Na Igreja tambm deve haver.

    O que tem dificuldades, treine em casa. Repita muitas vezes a leitura em voz alta, cadenciada, respiran-

    do nas pausas virgulares, pronunciando bem as palavras. No leia correndo, atropelando as palavras.Leia para a Igreja, pausadamente, no para si mesmo, com a melhor entonao voclica possvel. Naleitura dos salmos, observe os versos paralelos, procurando a nfase ideogrfica.

    02 - Arte da leitura comunitria:Na leitura responsiva o dirigente no deve quebrar o texto com erros e pontuaes

    inexistentes ou desrespeitar os acentos grficos e as pausas marcadas pelas vrgulas. Cada ledor tem deouvir a leitura dos irmos para no se atrasar ou adiantar-se. A leitura unssona significa: Leitura feitaa uma s voz, isto , a Igreja fala a Deus em unssono. No momento da leitura a Igreja uma nica bocae um s ouvido, falando e ouvindo ao mesmo tempo.03 - Arte musical:

    A melhor msica de Israel era a cantada no templo e nas festas solenes como a da expia-o. Nota-se isto pela letra dos salmos, particularmente o halel, salmos de 113 a 118. As igrejasreformadas elevaram o nvel da msica popular no concupiscente, adaptando-a reverncia daadorao. A msica sacra clssica deve muito Reforma, prioritariamente ao luteranismo com suafigura mxima, J. S. Bach. Os antigos corais, luteranos a calvinistas, nobilitavam-se pela qualidadeliterria, zelo doutrinrio e tcnica musical de seus hinos e cantatas. Deus, certamente, o Pai dasartes, visto ser o Pai dos artistas. Alm do mais, o Rei dos reis, augusto, soberano. No se h delouv-lo com vulgaridade por meio de letras, melodias e ritmos popularescos, sem qualidade e nobre-za. A melhor msica, como acontecia em Israel e nos tempos da Reforma, precisa voltar aos nossostemplos, sublimar os cultos, enriquecer as liturgias modernas, engrandecer o Criador. A Igreja, emqualquer aspecto, tem de ser modelo para o mundo, influenci-lo, criar para ele, jamais ser influenci-ada por ele. Quando se ouvem hinos, corinhos e canes originrios da cultura popular ou advindosdo folclore idolatrizado com ritmos de samba e linhas meldicas herdadas de folias de reis e can-dombls, a tristeza invade o corao dos eleitos de bom senso, pois presenciam a antes imaculadanoiva do Cordeiro sambando; fazendo coreografias cnicas, prprias das artes de representao nospalcos e nos palanques; reproduzindo gestos mmicos da adorao pag, tpicos de mes- de- santo,ou de la de estdios de futebol. Longe, muito longe esto tais cultos de louvor da adoraoinstituda por Deus em Israel; do culto sinagogal; das celebraes clticas da Igreja primitivada; daliturgia reformada calvinista; da projeo do culto celeste revelado em Apocalipse. Deus, augusto e

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    soberano, no deve ser exaltado e aclamado da mesma forma com que se ovaciona e se louva o ReiMomo ou se vulgariza um santo do folclore brasileiro. Atentem para os termos respeitosos e reveren-tes com que Cristo se dirigiu ao Pai. Igreja e mundo so antitticos ente si. O povo sagrado continuaseparado do mundo profano, e assim h de ser eternamente.

    11 - Esttica dirigencial

    No foi sem motivo que Deus determinou que os sacerdotes se vestissem adequadamente,e at com requinte e luxo, para as celebraes litrgicas. No se requerem hoje vestes sacerdotais, masa dignidade da pessoa de Cristo, Senhor e cabea da Igreja, exige do dirigente indumentria decente,digna, discreta, respeitosa. Como o smbolo moderno de respeito o terno com camisa social e gravata,que assim se vistam o dirigente litrgico e o pregador. No se esqueam o pregador e o dirigente doculto de suas condies de servos de Cristo a servio de Deus em nome da Igreja e com ela. A vestimentainadequada do dirigente, alm de ser desrespeitosa, pssimo exemplo para a comunidade, que pode

    descuidar-se da indumentria, mirando-se em seus lderes, e acabar relaxando o comportamento naIgreja durante o culto. A veste descontrada induz descontrao. E mais, o templo deixa de ser verda-deiramente a Casa de Deus para se tornar, no entendimento dos agregados, apenas num local de reu-nio onde se tratam de assuntos religiosos, sociais, morais e polticos. O ambiente da Igreja e a reve-rncia ao Salvador requerem vestimenta adequada, despida de qualquer apelao ao luxo exagerado e seduo.

    12 - Esttica templria

    Examine a construo do templo. Veja como Deus ordenou artstica e esteticamente a suaconstruo e a disposio dos mveis e utenslios litrgicos. Este desvelo esttico deve prevalecer emnossos templos pela arquitetura adequada realizao e solenidade dos servios sagrados pela dispo-sio do plpito, pela colocao do coral, do rgo, do piano, da orquestra, dos vasos ornamentais.Lembrem-se de que a comunidade se posta de frente para os mveis, utenslios, coral, dirigente epregador. A desarmonia do complexo litrgico provoca mal-estar na comunidade. O belo e o harmnicofazem parte da liturgia. O ambiente de culto deve ser solene, ter alegria discreta e oferecer um ambien-te de reflexo, meditao e contrio. A nave precisa evocar o sentimento de reverncia e introspecomeditativa.

    13 - Liturgia crist, herana judaica

    01 - Liturgia do sacrifcio:O ponto de convergncia do culto templrio em Israel era o sacrifcio. Sem ele no se

    adorava a Deus, no se lhe demonstravam contrio, gratido e submisso; no se lhe confessavam ospecados, no se recebia o perdo. Enfim, sem sacrifcio no havia servio litrgico (pulchan).

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    No Novo Testamento, de igual maneira, o culto centraliza-se no sacrifcio de Cristoreconstitudo memorativamente no rito eucarstico, na proclamao da palavra salvadora e na confis-so de pecados. O culto, por sua natureza, cristocntrico, mas de um cristocentrismo fundamentadoexclusivamente da Palavra de Deus; Cristo segundo a revelao bblica; no o das revelaesextrabblicas; no o transubstanciado (sacramentado) nos altares por ordenao sacerdotal.

    02 - Ordem do culto sacerdotal:A ordem natural do culto sacerdotal em Israel era:a. Reconhecimento da presena real de Deus.b. Conscincia de que Deus realmente perdoa os pecados confessados.c. Confisso de pecados com as mos do confessando sobre a cabea do vtima oferecida.d. Morte da vtima, simbolicamente carregando os pecados confessados.e. Declarao de perdo por meio do sacerdote.f. Ao de graas pela misericrdia do perdo.

    O sacrifcio da vtima em lugar do pecador era imprescindvel, pois sem derramamento desangue no h remisso de pecados.

    Hoje Cristo o sacrifcio em lugar do pecador, mas tambm o ressurreto por ele. O queacontecia em Israel, acontece, no essencial, na Igreja: Nossos pecados so depositados aos ps da cruzde Cristo em confisso, para que seu perdo eterno tenha poder dinmico e restaurador na continuidadeda existncia do escolhido. A confisso, portanto, central e essencial no culto cristo. A Igreja queconfessa seus pecados e se humilha: Louva, adora e serve ao Salvador. No Velho Testamento o peca-dor era sacrificado simbolicamente na vtima que oferecia em holocausto. No Novo Testamento opecador realmente morto e ressurreto em Cristo, ao mesmo tempo, Cordeiro e Sacerdote. A Igreja ,pois, confessional no testemunho e confessante no culto.

    03 - Herana sinagogal:No lhe sendo permitido o sacrifcio, a Sinagoga centralizou o culto no ensino (limud),

    especialmente o da Torah e dos profetas bem como na confisso individual e coletiva de pecados eculpas, na esperana de merecimento do perdo anual no grande dia da expiao. A didaqu e okerygma originaram-se da liturgia sinagogal, isto , l esto suas razes. nfases do Culto Sinagogal:Ensino, confisso, pregao.

    A sinagoga usava o saltrio, compunha cnticos, seguindo a tradio salterial, e produziahinos novos, sempre conforme as linhas mestras da poesia e da melodia dos salmos. O que caracteriza-va seu cntico espiritual no eram as inspiraes sentimentais e msticas, mas a fidelidade mel-dica e textual s Sagradas Escrituras e hindia salterial. Desse modo, o culto se preservava da invasodas novidades litrgicas do paganismo reinante, muito influente e atraente, sobretudo no que sereferia s adoraes de divindades ligadas ao sortilgioe fertilidade;evitava tambm as influncias

    profanas das orgias, seculares ou sacralizadas, das bacanais. E no se deve esquecer que os cnticos,hinolgicos ou no, podiam causar a contaminao do altar pelos ritmos percutidores acompnhados decoreografias e danas sensuais dos cultos da prostituio sagrada em que o sensualismo e o sexualismoeram confundidos com espiritualidade. O orgasmo marcava a entrada do esprito da divindade pagno corpo do sacerdote em coito sagrado com a sacerdotisa. No se permitia tambm a intromissodas canes de harm, que as mulheres e odaliscas entoavam ao sulto, macho que representava oreprodutor sagrado, o deus da reproduo e das ressurreies estacionais. Tais canes romnticasvisavam mais o erotismo que o agapismo, e carregavam-se de gemidos e suspiros sensuais. O harm,com seu ritualismo sensorial, herdeiro dos cultos da fertilidade nos quais as sacerdotisas, tambm

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    profetisas, prostituiam-se sacramentalmente com o sacerdote por meio do qual a divindade pag fecun-dava o mundo. O falo (phalos) era o smbolo sagrado da fecundidade, o deus da reproduo. Caneserticas provenientes dos cultos da fertilidade ou dos sensualismos de harns jamais penetraram oscultos do templo e da sinagoga, mesmo esta estando inserida no mundo gentlico. Na verdade, a sina-goga foi o baluarte firme do judasmo na disperso, o sustentculo da f judaica, a fora mantenedoradas tradies mosaicas; e isto por seu culto fundamentado no ensino, na confisso, na esperana de

    perdo e na proclamao da lei e dos profetas, alm de preservar o cntico salterial. So inestimveisos papis do templo e da sinagoga, com seus respectivos cultos, na formao, estruturao, normatizao,propagao e conservao dos valores culturais da f de Israel, mantidos at hoje. O mesmo papel temo culto reformado. Desvirtu-lo destruir os monumentos da Reforma, rasgar os nossos riqussimosanais, esquecendo-se de que os passos do fim da jornada dependem dos que foram dados no incio.

    A Reforma, sem dvida, restaurou o patrimnio cultural do kerygma e da liturgiasinagogal, enquanto o romanismo preservava a ritualstica cerimonial e sacramental do templo judai-co, sem levar em conta a sua substituio em Cristo Jesus, o novo templo de Deus no mundo. Umaatenta leitura de Hebreus faria bem aos ritualistas sacrificiais, ainda apegados a sacrifcios incruentos,conservando holocaustos e altares em seus templos onde Cristo , literalmente sacrificado incruenta-mente em favor do penitente, segundo o ritual da missa.

    Falta a ns cultura litrgica, que Israel tinha de sobra. A Igreja que no esquece o caminhopor onde passou, saber, com certeza, onde est e para onde vai.

    No templo, o acesso dos gentios estava vedado, mas na sinagoga, com objetivos catequticos,permitia-se-lhes o ingresso, mas no lhes dava todos os direitos prprios dos judeus. Isto, supomos,contribuiu para o surgimento, na Igreja primitiva, de duas liturgias distintas: A da Palavra, didtica equerigmtica, e a do Aposento Alto, sacramental e restrita aos membros. O hermetismo litrtico dosprimeiros tempos da Igreja tambm atribudo s perseguies e s delaes de crentes fracos oufalsos.

    A sinagoga celebrava a liturgia da palavra; o templo, a dos sacrifcios. Lembremos que aIgreja romana continua com a dos sacrifcios, pois em cada missa o Cristo sacrificado na hstiaincruentamente para que seu munus vicrio seja eficiente na expiao do pecado venial. O altar, noqual se conserva o sacrrio, ocupa o lugar central do culto, sendo o oficiante indispensvel comomediador da graa salvadora. uma liturgia sacramentalista.

    Grande parte da reforma manteve a dicotomia judaica dos dois cultos, um dos sacrifcios,agora substitudo pela Santa Ceia, antiga cerimnia do Aposento Alto, e o da Palavra, destinado aoscatecmenos e s pessoas no includas na membrezia da Igreja. Calvino eliminou tal dicotomia aoestabelecer a unidade e universalidade da liturgia na bipolaridade: Palavra - eucaristia. Defendeu a tesede que a Santa Ceia deveria estar presente, como parte essencial, em todo culto e, mesmo ausente, suateologia haveria de permanecer na inteno e na proclamao do pacto assim como no reavivamentoda esperana escatolgica: Porque todas as vezes que comerdes este po e beberdes o clice, anunciaisa morte do Senhor, at que ele venha (I Co 11.26). A histria da redeno sumariza-se e se atualiza no

    culto pela presena de Jesus Cristo sem a qual no se realiza de fato. A Ceia do Senhor reatualiza aaliana e, em consequncia, viabiliza a Igreja e aprofunda-lhe a esperana escatolgica, fora que amantm no caminho do xodo cristo.

    No sistema episcopal de culto, sacramentalista, o plpito fica relegado ao segundo plano ,enquanto a mesa eucarstica, equivalente ao altar, toma o lugar central do debhir do templo, pois osacramento mais importante que a palavra. Na liturgia calvinista, o plpito, altar da palavra, de ondese pronuncia o orculo proftico, isto , a mensagem bblica, tanto quanto a mesa eucarstica, onde secelebra a Ceia do Senhor, rememorizao do Calvrio, renovao do pacto da graa, retroviso dosgrandes feitos redentores de Cristo Jesus, anteviso dos eventos escatolgicos, esto no centro do

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    culto, no mesmo grau de importncia, de proeminncia, de simbolismo, de significado; porm, a pala-vra antecede, na estrutura ltrgica, a eucaristia. Eis uma herana sinagogal reabilitada pela Reforma eque deve ser conservada na Igreja. O arranjo do espao reservado ao servio litrgico do templo deveclarificar isto ao entendimento e ao sentimento dos fiis. Eles precisam saber que no culto ouviro apalavra de Deus e comungaro, pela Santa Ceia, com o Redentor e com seus irmos redimidos. Asdemais partes da liturgia decorrem destas e as reforam e confirmam. A Palavra de Deus, lida e procla-

    mada, e a celebrao da Ceia do Senhor, so as duas colunas sobre as quais constri-se a liturgia crist.No entanto, na mente dos leigos e na praxe da Igreja a pregao e a Ceia ficam fora da ordemlitrgica. Frases como estas so comunssimas: Eu dirijo a liturgia e o senhor prega. Depois doculto o senhor fica com a palavra para celebrar a Ceia. Calvino coraria de santa indignao com talcompreenso do culto, colocando o secundrio no lugar do principal. Reiteremos: A Palavra de Deuse a Ceia do Senhor so a essncia e o fundamento do culto, da liturgia.

    14 - Liturgia Sinagogal

    A liturgia da Sinagoga possua, como j delineamos, elementos bsicos, que lhe davamforma e estrutura e lhe permitiam uma ordenao mais ou menos consistente e estvel. Por exemplo: Aorao de louvor pelo conhecimento da glria de Jav, por uma enftica determinao talmdica,obrigatoriamente dava incio ao culto. Depois vinha a confisso de pecados, que precedia, sistema-ticamente, ao sacrifcio, no templo. Sem confisso a adorao no se realizava. Oferecendo o sacrif-cio, o penitente criava a certeza do perdo de Deus, e ento agradecia. Era o momento de gratido.Nesta parte do culto, o adorador cientificava-se dos favores divinos a ele propiciados, iniciando omomento de oraes gratulatrias, laudatrias e intercessrias. Seguia-se o ensino, especialmente daTorah e dos profetas. Encerrava-se o servio litrgico com a Bno Aaranica. O pecado no eravisto como ato de falha moral, mas como transgresso da aliana, desobedincia a Jav. Jamais se

    imaginava um Deus ausente, uma divindade distante a ser invocada, pois o Deus de Israeltabernaculava com seu povo. Eram as efetivas realidades da existncia de Jav e de sua presena real ascausas geradoras e mantenedoras: Da vida dos eleitos, da bno do pacto, da ddiva do lei, da reali-zao do culto, da esperana no reino porvir do Messias.

    15 - Ordem do culto sinagogal

    As partes do culto sinagogal eram permanentes, podendo variar apenas a colocao delas

    na ordem litrgica, mas no sistematicamente. Eis como se celebrava o culto sinagogal:

    01 - Primeira Partea. Louvor: Quando se reconhecia a glria (shekinah) de Jav. Leitura freqentemente usada: Ne

    9.5-23.b. Orao: Yotzer (o Criador), o que faz todas as coisas, o que d a vida e gera os movimentos.

    Esta orao reafirmava a f no Deus Criador, governador e Salvador.c. Confisso de pecados: Sem confisso no se fazia a entrega da vtima sacrificial e, portanto,

    no havia culto, tanto o coletivo como o individual. A confisso preparavao fiel, na Sinagoga,

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    para o grande Dia do Perdo nacional.d. Perdo: A vtima substituta, oferecida por todos, garantia o perdo tanto na esfera individual

    como na comunitria. Na Sinagoga no havia sacrifcio, mas a idia e a lembrana da vtimasacrificial estavam presentes e eram centralizantes no culto.

    e. Gratido: Agradecia-se a Deus o perdo recebido e todas as demais graas. Os cnticos salteriais,geralmente, mas no obrigatoriamente, entravam aqui.

    02 - Segunda parte:a. Orao do amor (Ahabah): Por esta orao o penitente se declarava escravo de Jav, sempre

    sua disposio em quaisquer circunstncias. Amor-dedicao era o que nela se requeria.b. Orao de crena no Deus nico (Ehad - nico): Nesta se repudiava a idolatria e se afirmava

    pertencer a um nico Senhor. Israel, a noiva, s tinha um esposo, Jav. A f verdadeira jamais desviada do Criador para a criatura.

    c. Declarao de f (Shemah): Fazia-se a leitura de Dt 6.4-9 ou Nm 15.17-41.d. Orao das bnos: Eram dezoito oraes ou uma orao s com dezoito sees, agrupadas

    em: Adorao, gratido e intercesso.e. Ensino: Lei e profetas. Comunicao didtica, no retrica.

    f. Bno Aaranica: Observe que esta ordem obedece a uma seqncia lgica, liturgicamentefalando, pois acompanha os movimentos da alma em estado de adorao.

    A Igreja primitiva, no mais vinculada ao sistema sacrificial do templo, adotou, com asmodificaes necessrias, a liturgia da Sinagoga, com nfase na Palavra de Deus e na celebrao daCeia do Senhor, substituta da pscoa judaica e memorial do sacrifcio de Cristo.

    16 - O Deus que convoca

    O culto, tanto o do templo como o da sinagoga e, conseqentemente, o da Igreja, efetiva-sepor convocao de Deus, isto , ele convoca o seu povo para estar reunido no local onde seu nome sefaz presente. Portanto, a assemblia litrgica se reune em Deus, congrega-se pelo poder atrativo e pelafora imperativa do Salvador. Diramos que a Igreja (ekklesia-qahal) eminentemente teocntrica.Seu centro vital Deus, no que ela o tenha chamado para si; pelo contrrio, o Redentor que congregaem torno de si os seus eleitos. Sem a presena de Deus no h culto verdadeiro. Retenhamos bem isto:A Igreja a assemblia dos que Deus escolhe em Cristo Jesus, no a reunio dos que invocam adivindade para que ela desa ao local dos invocadores. Tambm no se define como romaria a stiosde aparies em que a divindade aparecida se limita ao espao e ao tempo, aguardando a visitados fiis. Culto, por outro lado, no pode ser ascese exttica de msticos que pretendem sair domeio fsico para subirem aos cus e l, em esprito, estarem com Deus. O culto o sinal de queDeus desceu at ns, agregou-nos a ele, fez-nos seus adoradores. A presena de Deus gera o culto,no o culto chama Deus para estar presente. Havia no culto da Igreja primitiva a apiklesis, um tipode invocao, no para atrair a presena de Deus, como se o culto comeasse sem ele e fosse ummeio de traz-lo terra, buscando-o do transcendente para o imanente. A apiklesis era uma splicapara que Cristo consagrasse os elementos eucarsticos, desse a eles contedo espiritual para que acomunho se transformasse num meio de graas para os comungantes. Tambm se usava a epiklesisescatologicamente como jaculatria: Vem, Senhor Jesus (Maranata). O mesmo sentido epicltico se

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    dava petio da Orao do Senhor: Venha o teu reino. A Igreja pode invocar o poder do Deuspresente, autor e consumador da f, para que esteja sempre sobre ela, jamais a pessoa de Deus paracomparecer reunio, pois esta existe como consequncia de sua presena. Deus, pelo seu SantoEsprito, produz o culto que sua Igreja expressa em atos litrgicos.

    17 - Culto, uma realizao do Esprito

    pelo Esprito que a Igreja afirma que Cristo Senhor. Sem ele tal confisso de fverdadeiramente no se pronuncia: Ningum pode dizer: Senhor Jesus! seno pelo Esprito Santo (ICo 12.3b). A distintiva sabedoria de conhecer e proclamar a Palavra de Deus, no sacerdcio universalde todos os crentes, vem do Esprito Santo (I Co 12.8), isto , os dons da pregao, da profecia (I Co14.3) e do ensino (Rm 12.7; Ef 4.11,12). O Esprito, por meio do culto, trabalha o aperfeioamento dossantos, pois a liturgia contm os instrumentos necessrios para isso: Reconhecimento da presenteglria de Deus, confisso, perdo, adorao, louvor, dedicao, consagrao, intercesso, ensino, pro-

    clamao, comunho. O convencimento do incrdulo obra do Esprito (I Co 14.24,25; Jo 16.8-11).Ao profeta, isto , ao pregador compete pregar sempre.A adorao verdadeira produzida pelo Esprito Santo (Fp 3.3 cf Jo 4.24; Rm 8.26,27; I

    Co 14.15; Ef 6.18; Jd 20). A hinologia de que Deus se agrada vem do Esprito, inspirador da letra e damsica (I Co 14.2,25; Ef 5.19). tambm o Esprito que nos leva a Cristo e este nos coloca emcomunho com o Pai (Ef 2.28). Por outro lado, o amor que nos vincula a Deus e nos une aos irmos ddiva de Cristo mediante o Esprito (Rm 5.5 cf I Co 13). Deus organiza o culto cristo, como fez noVelho Testamento, e o executa por meio de sua Igreja instrumentalizada pelo Esprito. No culto pago,o homem estabelece as normas de adorao de seus deuses e as pratica, sempre conforme os seusinteresses, satisfaes e desejos. O culto bblico instituio divina. E deus o criou e o organizou paraque o homem o satisfaa. O culto deve ser agradvel a Deus, no ao homem (Rm 12.1.2). Este s

    experimenta a boa, agradvel e perfeita vontade de Deus, quando oferece a ele a totalidade de suavida, corpo-esprito (Rm 12.2). Isto se d de duas maneiras: Pela negao de si mesmo: pela consagra-o de si mesmo (Lc 9.23-27).

    18 - Modelo litrgico

    01 - Elementos litrgicos no Novo Testamento:O Novo testamento no contm um manual de liturgia, como tambm no nos instrui

    explicitamente sobre a responsabilidade da entrega do dzimo, a forma batismal, a Santa Ceia para asmulheres, a eleio de presbteros docentes e regentes, a guarda do domingo. Estas so bblicas porinferncias e analogias. H delas sinais fortes e inconfundveis pelos quais deduzimos e conclumoscontedos e formas. Assim acontece com o culto. Alm de sua biblicidade e formas vetotestamentrias,encontramos, embora no ordenados, os elementos essenciais do culto em textos como: I Ts 5.16-22;Cl 3.16-18; Ef 5.18-21. Nos textos citados se encontram: a- Louvor. b- Orao. c- Ao de graas. d-Pregao. e- Ensino. f- Submisso por via confessional. g- Regozijo espiritual. No confundir o rego-zijo espiritual com ludinismo sensorial. O regozijo sensorial desperta os sentidos e nos induz ao prazere satisfao sensrios. O regozijo espiritual, introspectivo por natureza, a alegria de estar com Deus

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    e servi-lo dia e noite. Observamos, pelas informaes recebidas por meio dos trechos mencionados,que o culto do Novo Testamento no era anrquico e nem improvisado, pois Paulo, o autor sagradodeles, nos esclarece que tudo deve ser feito com ordem e decncia (I Co 14.33,40).

    02 - Modelo litrgico:A Igreja de Corinto ter servido de base eclesiolgica, pneumatolgica e litrgica para mui-

    tas igrejas, como se uma camunidade primitiva, a mais problemtica de todas, pudesse servir de parmetropara a Igreja universal. Cada comunidade possua virtudes e defeitos, mormente as gentlicas, como ade Corinto, que se distanciava da Igreja-me, a de Jerusalm, cujo culto nada tinha de carismatismo. Aliturgia numa igreja com divises e partidos, com pecado de incesto, com irmos apelando aos tribu-nais seculares contra outros irmos, com avareza e carnalidade, com crentes que no podiam ser cha-mados de espirituais, mas de carnais (I Co 3.1-5; 6) no servir de modelo espiritual, pois espiritualidadede fato no existia. Miremo-nos na Igreja ierosolomita ou na de Filadlfia contra a qual o Esprito noteve restries. A ela o cordeiro diz: Conserve o que tens, para que ningum tome a tua coroa (Ap3.11b). Conservar, eis a ordem!

    O culto deve ser racional sem eliminar o emocional (I Co 14.15 cf Rm 12.1,2); no perden-do nunca seus fundamentos bblicos:

    a. Oferta de Deus ao homem: a- A Palavra bblica, o sacrifcio vicrio de Cristo, o perdo.b. Responso do homem: Aceitao, contrio, confisso, dedicao ou consagrao, gratido e

    misso. Eis a liturgia da reunio e da disperso, da comunidade e de cada fiel.03 - Exorcismo:

    O exorcismo no constava do culto vetotestamentrio, do sinagogal e da liturgia da Igrejaprimitiva. Onde a Igreja se reune o Santo dos Santos, local de encontro litrgico de Cristo com seusremidos (Mt 18.20): Onde estiverem dois ou trs reunidos em meu nome, a eu estou no meio deles.E assim como nada impuro podia penetrar alm do vu, no Templo de Salomo, do mesmo modo, oimpuro dos impuros, o porco, deus do lixo e das moscas, no penetra o santurio de Cristo, doSumo sacerdote, que a Igreja, corpo do Cordeiro; e nem se apossa de nenhum de seus membros, poistodos so templos do Esprito Santo. Admitir que Satans pode adentrar o Corpo de Cristo, sua Igreja,e possuir os que so templos do Esprito, o mesmo que admitir o sacrifcio de porco no altar santssimo,jamais profanado, onde Jesus Cristo exerce o ministrio de Sumo Sacerdote. O lugar que o EspritoSanto ocupa no deixa espao para o Demnio. Transformar o culto em sesso de exorcismo profanara Casa de Deus, desconhecer que o culto uma anteviso, uma antecipao escatolgica da comu-nho celeste dos filhos redimidos com o Cordeiro remidor. O culto bipolariza-se na Palavra de Deus ena celebrao da Ceia do Senhor, dois poderosssimos meios de graas concedidos Igreja militantevisvel para sua edificao.

    04 - Lnguas:A lngua estranha, bem como a estrangeira no interpretada, em nada edifica a Igreja.

    Portanto, como recomenda Paulo, deve ser evitada (I Co 14.3,5,9,10,12,18,l9). A lngua estranha(glossolalia) e o exorcismo no constavam da ordem do culto racional (logikos) da Igreja primitivaierosolomita, fundamentada na tradio judaica do templo e da sinagoga. O maior e melhor dom geralpara a fraternidade comunitria o amor. O mais importante carisma para a edificao da Igreja aprofecia, pregao didtica ou querigmtica. Os dons de exorcizar e de curar so equipamentos dosapstolos, exercidos na implantao do reino de Cristo, mas eles no os levavam para dentro da Igrejacomo ordem programtica da liturgia. Deus, que cuida de seus servos, sabe o que lhes bom ouconveniente (Mt 6.6). O culto no e nem pode ser uma disputa entre o Esprito de Deus e o espritosatnico. Culto, repetimos, a reunio dos salvos em Cristo Jesus, convocados por Deus para adorao

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    em esprito e em verdade. Tambm, frisemos, o Corpo de Cristo, a Igreja, e o corpo do crente, doregenerado, so templos do Esprito Santo, onde o Demnio no pode penetrar. A Igreja, pois, nodeve transformar-se em sinagoga de Belzebu. No se orgulhe de no culto de sua Igreja aparecermuito esprito mau. Agradea a Deus se nele o maligno no se manifesta, pois a manifestao deDeus (teofania), de Cristo (cristofania), efetivadas perenemente na Igreja, so incompatveis com ma-nifestaes satnicas. O culto , acima de tudo, uma cristofania permanente, sentida e percebida

    pelos crentes, iluminados pelo Esprito Santo, nos sinais invisveis do gozo espiritual, da paz interior,da edificao da alma contrita, da alegria do salvo, do perdo, da consagrao, do desejo irreprimvelde servir, da harmonia com Deus e com os irmos.

    19 - Liturgia na Didaqu

    A Didaqu (ou o Didaqu), documento originrio do primeiro sculo, mostra, em princ-pio, como se celebravam os servios litrgicos na Igreja primitiva:

    01 - Culto dominical:Reunindo-vos no Dia do Senhor, parti o po e dai graas, depois de haver confessado as

    vossas transgresses. Aqui a ordem inicial do culto aaranico se obedece:a. Confisso: Tal confisso se fazia vista do reconhecimento da grandeza e majestade de Deus:

    Porque isto o que foi dito pelo Senhor: Em todo lugar e tempo oferecer-me-eis um sacrifciopuro, porque eu sou Rei grande, disse o Senhor, e meu nome admirvel entre as naes.

    b.Ao de graas: Gratido pela certeza do perdo e da redeno, graciosas ddivas do Filho deDeus.

    c. Comunho: Ato memorativo de vinculao a Cristo e de fraternidade comunitria.

    02 - Celebrao eucarstica:A respeito de ao de graas assim fareis:

    a. Acerca do clice: Damos-te graas (eucaristia), nosso Pai, pela santa vinha de Davi, teu ser-vo, a qual nos fizeste conhecida por meio de Jesus Cristo, teu servo. A ti aglria para sempre.

    b. E sobre o fragmento de po: Damos-te graas, nosso Pai, pela vida e o conhecimento quenos deste a saber atravs de Jesus Cristo, teu servo. A ti seja a glria pelos sculos.Como esse fragmento estava disperso sobre os montes e, recolhido, fez-se um, assim sejareunida a tua Igreja desde os confins da terra em teu reino! Porque tua a glria, teu o poderatravs de Jesus Cristo para sempre.

    c. Depois da distribuio dos elementos eucarsticos:Somos-te gratos, Pai santo, por teu nome,que fizeste habitar em nossos coraes, pelo conhecimento, e f, e imortalidade, que nos destea saber por meio de Jesus Cristo. A ti seja a glria pelos sculos.

    d. Ao de graas pela criao e pela providncia: Tu, Senhor onipotente, criaste todas ascoisas por causa do teu nome, e deste alimento e bebida aos homens para deleite, para que tesejam agradecidos, mas a ns nos agraciaste com o alimento espiritual e a bebida da vida eternapor instrumentalidade de teu servo. Acima de tudo, damos-te graas porque s poderoso. A tiseja a glria para sempre.

    e. Intercesso pela Igreja: Lembra-te, Senhor, de tua Igreja, para livr-la de todo mal e faz-laperfeita em teu amor, reune-a desde os quatro ventos, santifica-a em teu nome, que para ela

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    preparaste. Porque teu o poder e a glria para sempre.f. Splica para volta de Cristo (Maranata): Venha a graa, e passe este mundo! Hosana ao

    Deus de Davi! Se algum santo, aproxime-se; se no o , arrependa-se: Maranata. Amm.

    Note bem: Toda seo termina com uma doxologia, uma declarao exaltatria da glriade Deus, geralmente recitada pela congregao. Depois das doxologias comumente liam-se os seguin-

    tes textos: Ap 4.11; Mt 24.31; 21.9,15; I Co 16.22.A Didaqu mostra-nos que a Igreja dos primeiros sculos possua uma liturgia elabora,executada pelo dirigente com respostas da comunidade. Elaborao e regulamentao observam-se.Nada de improviso e de influncias localistas. Mantinham-se os vnculos com a velha dispensao,entendendo que a Igreja , de fato, a consumada herana davdica.

    20 - Liturgia segundo Justino Mrtir (140 d.C.)

    Em sua Apologia a Antonino Pio, registra os seguintes princpios de

    Ordenao do Culto:

    01 - Proanfora ou Liturgia da Palavra: ( * )a. Memrias dos apstolos: Textos dos profetas, dos evangelhos e das epstolas.b. Instruo com base nos textos lidos.c. Exortaes requeridas pelas lies ministradas. Destaques exortatrios.d. Oraes comunitrias em forma de litania.e. Salmos e hinos.

    Hinos e cnticos espirituais, acredita-se, sejam os grandes cantos veto e neotestamentriostais como: O Cntico de Mriam, o Cntico de Dbora, Benedictus, Magnificate e textos do NovoTestamento metrificados e musicados.

    02 - Anfora ou Liturgia do Aposento Alto: ( * * )

    a. sculo da paz ou recepo carinhosa dos irmos.b. Ofertrio em favor dos irmos humildes.c. Introduo dos elementos. Palavras da instituio.d. Orao de Consagrao.e. Ao de graas pela criao, providncia e redeno (Cf Didaqu).f. Anamneses, recordao da Paixo. (1)

    g. Dedicao; colocao de dons e virtudes nas mos de Deus.h. Epiclesis, invocao do Verbo e do Esprito Santo para abenoarem o po e o vinho. (2)i. Intercesses.j. Amm congregacional.k. Distribuio dos elementos.l. Comunho.m.Despedida dos fiis.

    ( * )- Proanfora: Missa Catechumenorum.

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    ( ** )- Missa Fidelium. A palavra missa significa: Celebrao da eucaristia, sacrifcio.

    21 - Liturgia do fim do III sculo e incio do IV.

    Como modelo geral, a liturgia do perodo mencionado pode ser apresentada com a seguin-te ordem:

    01 -Liturgia da Palavra:

    a. Lies: Lei, profetas, epstolas, Atos e evangelhos.b. Salmos selecionados: Entoados, podendo ser intercalados entre lies.c. Aleluias: Ao de graas ao Salvador.d. Mensagem: (Uma ou mais).e. Litania diaconal para catecmenos e penitentes. (*)

    f. Despedida dos catecmenos e penitentes.02 - Liturgia do Aposento Alto:

    a. Litania diaconal para os fiis, aps a qual se liam os nomes dos membros da Igreja local,inclusiva dos falecidos. (3)

    b. Bno da paz ou saudao (Paz seja convosco).c. Ofertrio.d. Apresentao dos elementos eucarsticos.e. Preparao dos elementos. Misturava-se gua ao vinho.f. Sursum Corda: (citada em seguida). (4)

    g. Orao congregacional (s vezes o Pai Nosso).h. Ao de graas pela: Criao, providncia, governo e salvao. (Acrscimo: Governo).i. Sanctus (citado a seguir).j. Ao de graas pela redeno em Cristo.k. Palavras da instituio.l. Anamneses (recordao da Paixo). (1)m.Epiclesis. (2)n. Intercesso.o. Orao dominical.p. Partio dos elementos.q. Elevao: O Santo para os santos.r. Comunho: Cantavam-se os hinos dos salmos 34 e 43.s. Ao de graas pela comunho.t. Litania diaconal final. (3)u. Despedida dos fiis.

    Notas:1. O Sanctus podia ser apenas monologado pelo ministro.2. Kyrie Eleison: A partir do terceiro sculo comea-se o uso do Kyrie Eleison aps a orao de

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    confisso ou depois da cada confisso dentro da orao confessional: Tem misericrdia de ns.3. Liturgia do aposento alto: Nos perodos de perseguio da Igreja a liturgia do aposento alto era

    celebrada secretamente. Somente os membros testados dela podiam participar. Tal cerimniasecreta denominava-se Disciplina Arcandi. O celebrante deglutia o po e ingeria o vinho primei-ro. Guardava-se um tempo em silncio e orao para depois efetuar a distribuio. Isso se fazia paraevitar possveis envenenamento da comunidade. As traies eram freqentes. Tambm havia, no

    raro, infiltraes, apesar do extremo zelo na vigilncia.4. Sursum Corda:Ministro: Levantai vossos coraes.Congregao: Levantemo-los ao Senhor.Ministro: Demos graas ao Senhor.Congregao: Dar-lhas digno e justo.

    5. Sanctus:Ministro: Santo, santo, santo, Senhor Deus, todo poderoso.Congregao: Plenos esto os cus e a terra da tua glria.Ministro: Glria seja a ti, Senhor!

    * Penitentes: Os que estavam sob disciplina ou em observao.

    22 - Culto reformado

    Na liturgia sinagogal, com poucas modificaes e adaptaes, a Igreja primitiva buscoufundamentar seu culto, seguindo aproximadamente a mesma ordem. A Reforma, especialmente a dalinha calvinista, retornando aos tempos apostlicos e primeira fase da patrstica, estruturou sua liturgia,como veremos. Negando a centralizao da Igreja no clero e a centralidade da liturgia romana namissa, na hstia transubstanciada em Cristo, a Reforma, mais pelas mos de Calvino, firma as bases do

    culto no fundamento bicolunar da Palavra de Deus e da Ceia do Senhor, tal como se fazia na Igreja dasorigens, evitando a todo custo proeminncias ou evidncias sacerdotais, que desviam do Criador paraa criatura o alvo litrtico ou, pelo menos, a importncia do culto que, a partir do quarto sculo, confor-me se v no manual Constituio Apostlica, surgido por volta do ano 300 d. C., livros II e VIII,tornou-se demasiadamente cerimonialista, sacramentalista e clericalista. Passamos, pois, dos temposprimitivos da Igreja ao da Reforma, fixando-nos no extraordinrio e insupervel Calvino, sem nosesquecermos de que foi Lutero o responsvel pelos cantos corais e comunitrios da Igreja. O essencialdo culto romano o sacerdote, mediador do perdo e do sacrifcio de Cristo pela transubstanciao dopo em hstia. A comunidade leiga depende, pois, do sacerdote, para relacionar-se com Deus e delereceber o perdo. A Reforma quebrou, estribada nas Escrituras e na Igreja primitiva, esta dicotomiaentre clero e leigo, estabelecendo o sacerdcio universal de todos os crentes. Ento, o culto deixou deser uma produo sacerdotal para tornar-se uma expresso de toda comunidade relacionada medi-ante o Esprito, a Palavra iluminada, os sacramentos da Ceia e do batismo e a orao. Os hinos, proce-dentes dos mesmos fundamentos e expondo as mesmas verdades, enriqueciam, sem dvida, o cultoreformado.

    23- Calvino e o Culto:

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    Calvino, ao chegar a Estrasburgo, vindo como exilado da Suia, (1538), encontrou umculto vibrante, mas desordenado. Cada comunidade, feio de seu lder, prestava seu culto localdiferenciado. No havia unidade litrgica entre as igrejas. Procurando levar as comunidades, de maio-ria de composta de exilados franceses, a um consenso litrgico, pois muitas divergncias doutrinrias

    comeam com individualismos clticos, tratou de estabelecer parmetros, princpios normativos, paracaracterizar e personalizar o culto reformado, fazendo dele um evidenciador das novas doutrinas extra-das das Escrituras. Ento redigiu o seu primeiro formulrio litrgico, a que denominou:

    A Forma das Oraes e a Maneira de Administrar os Sacramentos conforme o uso daIgreja Primitiva (Estrarburgo, 1540). Este manual continha normas gerais do culto, trazendo tambmvrios salmos metrificados com suas respectivas partituras musicais. A primeira edio desapareceu,mas a segunda (1542) pode ser encontrada na Biblioteca de Genebra. No mesmo ano da segundaedio, apareceu a primeira edio genebrina. Ambas, alm de estabeleceram normas claras para oculto comunitrio, trazem frmulas para casamento, batizado, sepultamento. Calvino entendia que aIgreja, para ser unida, deveria submeter-se a regras parametrais doutrinrias, disciplinares, governa-mentais e litrgicas. Cada comunidade prestando culto sua maneira, a porta ficaria aberta s distores,

    aos desvios e s divises. O culto importante demais para ficar merc de idiossincrasias de lideran-as, nem sempre bem formadas, ou exposto s influncias externas. O culto reflete a teologia eclesiolgicae deve marcar a fronteira entre o mundano concupiscente e o sagrado espiritualizado. O gozo e aalegria espirituais vibram o esprito e enternecem o corao. A orgia, porm, inclusive a piedosa, agitao corpo e estimula o prazer sensrio. No culto a Deus, celebrado em esprito e em verdade, a alma seeleva; nas orgias sagradas o sensrio evidencia-se e os sentimentos ( puros ou impuros ) confundem-se.

    Calvino sabia, e doutrinou a respeito, que a Bblia a nica norma da f, da conduta morale espiritual, da adorao comunitria e individual.

    24 - Ordem do culto calvinista(Manual Francs de Estrasburgo)

    01 - Liturgia da Palavra:

    a. Leitura introdutria: Sl 124.8: O nosso socorro est em o nome do Senhor, Criador do cu e daterra.

    b. Confisso de pecados (individuais e coletivos).c. Palavra bblica de perdo.d. Absolvio (Declarao de que o perdo vem de Deus, declarado por sua palavra nas Escritu-

    ras. Textos declaratrios do perdo).e. Leitura do Declogo com a comunidade respondendo, aps cada mandamento, com o Kyrie

    Eleison: Senhor, tem misericrdia de ns.f. Colecta por iluminao: Orao breve de dedicao (6).g. Lio (ou pastorais).h. Sermo.

    02 - Liturgia do Aposento Alto:

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    a. Apresentao da oferenda.b. Intercesses.c. Pai Nosso parafraseado.d. Preparao dos elementos enquanto se canta o Credo Apostlico.e. Orao de consagrao (eliminou-se a Epiclesis).

    f. Palavras da instituio.g. Exortao.h. Partio.i. Distribuio dos elementos.j. Comunho, enquanto se canta um Salmo.k. Colecta ps comunho (Orao breve de gratido e despedida dos fiis).l. Bno Aaranica e Apostlica.m.Despedida dos fiis pelo pastor.

    A liturgia de Calvino foi adotada pelas igrejas calvinistas da Inglaterra, Frana, Alemanhado Sul, Holanda, Dinamarca e outros, constando, com modificaes que no lhe afetavam a essncia,

    no The Form of Prayers and Ministration of Sacraments da Igreja Reformada Inglesa, publicado emGenebra em The Book of Common Prayer (1552) e tambm no Directory for Public Worship daAssemblia de Westminster. Esta ltima fez algumas modificaes, mas conservou o essencial. Eis aordem do culto conforme o Directory:

    25- Culto Segundo Determinao de Westminster

    01 - Liturgia da Palavra:

    a. Chamada adorao com sentenas bblicas.b. Orao de Invocao (No da pessoa, mas do poder de Deus).c. Hino ou Salmo metrificado.d. Momentos de Orao (Adorao, gratido e splica).e. Hino ou Salmo metrificado.f. Lio do Antigo Testamento.g. Salmo, hino ou antfona.h. Lio do Novo Testamento.i. Mensagem para crianas.j. Hino para crianas.k. Recitao do Credo dos Apstolos.l. Intercesses.m.Pastorais e anncios.n. Colecta de dedicao.o. Hino.p. Sermo (concludo ou no com orao).q. Hino.r. Doxologia final.

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    02 - Liturgia do Aposento Alto:

    a. Palavras bblicas de convite adorao.b. Colecta de pureza (Orao breve para Deus purificar a vida do crente).c. Hino ou Salmo.

    d. Palavras da instituio.e. Apresentao dos elementos.f. Orao de consagrao.g. Distribuio.h. Comunho.i. Palavras de Consolo ps-comunho: Recordam-se os irmos mortos, j triunfantes, para conso-

    lo dos que militam.j. Breves intercesses.k. Salmo, hino ou doxologia.l. Bno Apostlica.

    26 - Liturgia do Livro de Orao Comum

    1 - Hino.2 - Sentenas Bblicas.3 - Exortao.4 - Confisso de Pecados.5 - Orao Dominical.6 - Introduo (Versculos e respostas seguidos de Glria Patri).

    7 - Salmos em prosa e Glria Patri.8 - Lio do Antigo Testamento.9 - Cntico.10 - Credo Apostlico.11 - Kyrie.12 - Pai Nosso.13 - Sufrgios (7).14 - Colectas.15 - Antfonas.16 - Ao de graas.17 - Sermo.18 - Bno Apostlica.

    Notas:

    1. Anamnesis: Parte da liturgia que relembra a paixo de Cristo com textos bblicos e hinos sacrosalusivos.

    2. Epiclesis: Invocao do Deus Pai para vitalizar os elementos eucarsticos. Calvino eliminou-a desua liturgia.

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    Modelo de Epiclesis:Pai misericordioso; rogamos-te que, de acordo com a santa instituio de teu Filho nosso Salva-

    dor, sejamos feitos partcipes de seu mui bendito corpo e sangue. Envia, Senhor! tua bno sobreeste Sacramento para que nos seja o instrumento que exiba efetivamente o Senhor Jesus (Da liturgiaescocesa de 1629).

    3. Litania: A litania compe-se de clusulas intercessrias ditas pelo dirigente com a resposta da

    congregao pelo Kyrie Eleison: Senhor, tem misericrdia de ns. Sua origem remonta Sinagoga. Foi muito usada na Igreja primitiva. Consta da liturgia de toda a Idade Mdia, e Luteroinseriu-a em sua ordem do culto com pequenas modificaes e adaptaes nova elesiologia.

    4. Sursum Corda:Era o apelo do dirigente litrgico para que os fiis se consagrassem a Deus: Levantaivossos coraes, o que equivale: Dedicai-vos ao Senhor. Invariavelmente ao apelo ( Sursum Corda) seguia-se a orao de consagrao.

    5. Sanctus: Santo, Santo, Santo, Senhor Deus Todo Poderoso! Plenos esto os cus e a terra de tuaglria! Glria seja a ti, Senhor! ( ou: Ns tambm te damos Glria ).

    6. Colecta: Colecta uma orao breve, concisa, direta, com leis estruturais definidas: Invocao:Tu, Senhor... Clusula relativa: Que sondas os coraes... Petio: Revela-nos qual destes doistens escolhido... Afirmao de propsitos: Para preencher a vaga neste ministrio e apostolado...

    Concluso: Do qual Judas se transviou. (Ver Atos 1.24,25).Outro modelo de Colecta, que conserva rigorosamente as cinco partes: Deus todo poderoso(invocao); nico que podes governar as vontades e afetos rebeldes dos pecadores (Clusula rela-tiva); concede a teu povo a graa de amar teus mandamentos e aspirar as tuas promessas (Petio);para que deste mundo, em meio aos acontecimentos vrios e mudanas frequentes, nossas almasolhem para a felicidade verdadeira e eterna (Afirmao de Propsitos); mediante Jesus Cristo, nos-so Senhor (Concluso).Portanto, as cinco partes da Colecta so:1 - Invocao.2 - Clusula relativa.3 - Petio.4 - Afirmao de propsitos.5 - Concluso, que pode ser com uma doxologia.

    7. Sufrgios: Sufrgios so dilogos entre o dirigente litrgico e a comunidade, algumas vezes inter-calados de oraes. Exemplo de sufrgio da liturgia anglicana:Ministro......................... : O Senhor seja convosco.Congregao ................. : E com o teu esprito.Ministro......................... : Oremos: Senhor tem misericrdia de ns.Congregao ................. : Cristo, tem misericrdia de ns.Todos ............................ : Orao do Senhor.

    27 - Lies para a Igreja de nossos dias

    01 - Em nenhuma poca da Igreja a liturgia foi desordenada.Sempre houve parmetros para que todas as comunidades, no essencial, celebrassem o

    mesmo culto. Nunca a Igreja deixou a liturgia ficar merc de estilos individuais do ministro, evi-tando introduo, pelas portas do individualismo, de elementos estranhos ao culto ou de influncias

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    modernizantes.

    02 - Devemos fazer hoje o que os nossos antepassados fizeram.A Igreja no pode olvidar suas razes bblicas do culto. Jesus declarou mulher samaritana

    que a adorao mantm vnculos com o velho povo, pois a salvao vem de Israel: Vs adorais o queno conheceis, ns (os judeus) adoramos o que conhecemos, porque a salvao vem dos judeus ( Jo

    4.22 ). O Divino Mestre universaliza o culto ( Jo 4,21 ) e espiritualiza a adorao ( Jo 4.23,24 ), masno rompe o liame entre a antiga e a nova ordem cltica, pois a ltima procede da primeira.

    03 - Nexos ou heranas da velha liturgia de Israel:a. A idia de um Deus presente, no invocvel. No Velho Testamento o culto realizava-se no

    pressuposto da presena de Jav que, antes tabernaculava com seu povo; ia no meio dele.Depois, no Templo, residia no Santo dos Santos, onde recebia o culto que seus escolhidoslhe prestavam: O Senhor est no seu Santo Templo. A glria de Jav (Shekinah) no seafastava do lugar santssimo. O Culto, portanto, era o meio pelo qual o adorador podia aproxi-mar-se do Deus presente.Na Igreja o fato se repete: Onde se renem dois ou trs em nome de Jesus, a ele est (Mt

    18.20), o Deus que tabernacula conosco: E eis que estou convosco todos os dias at consu-mao dos sculos (Mt 28.20b).

    b. A confisso de pecados: A oferta no podia ser oferecida sem a devida confisso de pecados aDeus por meio do sacerdote.No novo povo de Deus tambm assim: Sem confisso verdadeiramente contrita de nossospecados a Deus por meio do Sacerdote, Jesus Cristo, no receberemos o perdo. O arrependi-mento leva confisso, que no simplesmente declarao formal de culpa, mas arrependi-mento sincero, contrio, entrega de nossas vidas a Jesus Cristo em sacrifcio vivo, santo eagradvel a Deus, que o nosso culto racional. Arrependimento l, arrependimento aqui;Confisso l, confisso aqui. O nexo permanece.

    c. Sacrifcio: Os nossos antepassados judaicos ofertaram animais, simbolicamente para ns, masrealmente para eles. A nova humanidade ofertou-se em holocausto na pessoa de Jesus Cristo,o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A Santa Ceia nos faz lembrar tal mistrio:Isto o meu corpo, que ser partido; Isto o meu sangue, o sangue da Nova Aliana,derramado em favor de muitos, para remisso de pecados. Toda a teologia reformada sustentaque a Santa Ceia substituiu a Pscoa; logo, ela no morreu, seu contedo e significado foramtransferidos para a Santa Ceia. Eis porque a Igreja primitiva e tambm a reformada derammuito valor ao Culto do Aposento Alto, isto , eucarstico.

    d. O Batismo: o batismo, para os reformados, substituto da circunciso. O que aconteceu com aSanta Ceia aplica-se igualmente ao batismo: Mudou-se a forma; mudaram-se os elementos,mas no se alteraram o simbolismo, o significado e o contedo. O que a Circunciso realizava,

    em relao a Israel, realiza o Batismo em relao Igreja.e. Outros elementos litrgicos: Os outros elementos litrgicos do Culto de Israel como: Adora-o, louvor, gratido, splica, intercesso, dedicao, consagrao, petio... esto presentes, emuito atuais, na liturgia da Igreja.Somos pois herdeiros de Israel, porque a nossa salvao vem dele por Jesus.

    04 - Ordem fixa:No defendemos uma ordem rgida, inflexvel, de culto. Isto seria insensato por ignorar a

    prpria dinmica da vida e da histria. Porm, h coisas que no podem ser mudadas por fazerem parte

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    da natureza do fenmeno, do fato ou do ser. Exemplos: Pode-se achar a lei da gravidade muito velha,antiquada, mas no se h de mud-la. O Batismo, a Ceia, o sacrifcio de Cristo, a ressurreio doSalvador, a confisso de pecados, a recepo do perdo so coisas velhas, mas no superadas. Fazemparte do culto hoje como fizeram nos primeiros anos da Igreja. Tambm voc no pode mudar a ordemlgica das coisas. Na ordem numrica o dois vem depois do um. Antes de o crente receber obatismo no pode tomar a Santa Ceia. Esta a ordem lgica, teolgica, psicolgica e at cronolgica.

    Na liturgia, o perdo no pode vir antes da confisso por questo de ordenao psicolgica.O Culto, portanto, possui uma ordem psicolgica, que no deve ser invertida, especial-mente no essencial ou fundamental: Ei-la:

    28 - Ordem Psicolgica do Culto

    01 - Conscincia da presena de Deus: Chamada Adorao:O crente, para que o culto seja verdadeiro e ele se integre realmente como adorador em

    esprito e em verdade, tem de tomar conscincia de que est frente a frente com Deus numa audi-ncia profunda e permanente. Diante de Deus o servo que no se humilha desrespeitoso e irreverente.O primeiro gesto do sdito diante de seu rei era a inflexo. Tambm assim deve nossa postura napresena de nosso Rei, que no acidental, mas permanente.

    O incio do culto pblico deve possibilitar a conscincia da presena de Deus na comu-nidade e cham-la adorao.

    02 - Viso da glria de Deus:A conscincia da presena de Deus possibilita a viso de sua glria. No lhe visualiza a

    glria, no lhe reconhece a majestade quem no tem conscincia de sua presena real como Criador,Salvador, objeto e sujeito do culto. O culto como uma transfigurao, tendo Cristo no centro, os

    profetas e Moiss como testemunhas histricas e revelacionais, e os adoradores perplexos com o inusi-tado da gloriosa companhia da Trindade.

    O adorador que no toma conscincia da majestosa grandeza de Deus, da incrvel difernaentre o humano e o divino confrontados no tempo e no espao litrgicos, da indescritvel santidade deseu Salvador, no est preparado para reconhecer-se pecador, indigno, mortal e relativamente despre-zvel.

    03 - Confisso:Diante da santssima pessoa de Cristo, objetivamente presente, segundo a promessa, (Eis

    que estou convosco), e o testemunho interno do Esprito Santo, o crente se v na presena de DeusPai, Todo Poderoso, de roupa suja, no preparado para festa. Olha para dentro de si mesmo e se desco-bre pecador, indigno de estar diante do Salvador. Esta descoberta, obra do Esprito Santo, leva-o aprostrar-se aos ps do Redentor em humilde confisso de seus pecados, delitos e culpas.

    Como j dissemos, sem confisso, no culto vetotestamentrio, no havia a oferta do animalsacrificial substituto. O pecado era antes confessado sobre a vtima para ento oferec-la em sacrifciopor intermediao sacerdotal. Assim ocorre no culto da dispensao da graa: Quem se confessa aCristo e se humilha perante sua imaculada pessoa, certamente receber o perdo.

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    04 - Perdo:Aps a oferenda do sacrifcio havia o conseqente perdo. O ofertante sabia que seus

    pecados confessados haviam sido expiados na morte e queima da vtima. Aliviava-se e se consideravamais digno perante o Redentor. No diferente na Igreja de Cristo. Ela nos chama ao arrependimentoe, arrependidos, confessamos-lhe os pecados e dele recebemos o perdo. No fundo da alma o crentesabe que seus pecados foram perdoados e ele conservado na comunho dos remidos sem restries.

    Cristo pode dizer ao seu servo que seus pecados foram perdoados, quando sinceramente confessados,pelo testemunho interno do Esprito Santo ou pela palavra de perdo que ele, o Verbo, fala pelasEscrituras Sagradas. H pecados individuais e h os coletivos, comunitrios. Tanto o indivduo comoa comunidade devem confessar a Deus os seus pecados.

    A conscincia de perdo, um gostoso alvio, conduz gratido, ao reconhecimento dedbito, ao agradecimento, homenagem gozosa prestada ao benfeitor, ao impulso laudatrio.

    05 - Louvor:O Louvor expressa, em grau elevadssimo, a gratido do perdoado ao Perdoador. E isto de

    maneira espontnea, natural. Aflora de dentro, do ntimo, quase instintivo. Ao corao grato as coisasficam mais impressivas, mais lindas, mais sugestivas. O mesmo hino, dominicalmente contado, torna-

    se belssimo, sublime, sentimental e espiritual nos lbios do crente cujo corao atingido pelo perdode Cristo e repleto de gratido. Neste estado, o fiel canta com a mente, com o corao e com o esprito.A gratido conduz ao servio, dedicao, consagrao.

    06 - Dedicao ou Consagrao:A gratido a expresso tica do amor. O grato o que ama e procura demonstrar o seu

    amor por meio de alguma forma de servio, de ddiva, de presente. O crente que sai de um culto semvontade de servir a Cristo, de dedicar-se a ele de corpo e alma, de proclamar a sua existncia, suapessoa, seu ministrio e sua deliciosssima amizade, esteve no culto, mas verdadeiramente dele noparticipou e, em consequncia, no se beneficiou de suas bncos santificadoras.

    Quem ama quer sempre: Ouvir o amado falar; falar com ele; falar dele; falar a respeito deleem todas as oportunidades. O assundo do crente o Salvador. Anseia ver todos os seus amigos eparentes gozando as mesmas graas em Cristo Jesus. Seu impulso interceder junto ao Deus por eles.

    07 - Intercesso:A intercesso e a edificao esto no mesmo bloco psicolgico. O que eu quero para mim,

    tambm almejo para os meus amigos. Edifico-me com a Palavra de Deus; por isso desejo o mesmopara eles, suplicando que Deus atue em suas vidas, segundo o beneplcito do Salvador, tanto para curafsica como para a salvao da alma. O ministrio da intercesso o exerccio do sacerdcio geral eindividual. Cristo intercede por mim junto ao Pai; eu intercedo pelos pecadores junto ao Filho no qualme encontro, realizado e feliz.

    08 - Edificao:Edificar construir pelo ensino, pelo consolo, pela fraternidade, pelo amor-servio, pela

    dedicao, pela compreenso, pelo perdo, pela cooperao, pela sinceridade, pela amizade, pela co-munho, pelo esprito de igualdade, pelo servio ao prximo, pela consagrao a Deus, pela submissoao Evangelho, pela unio com os conservos. Um sermo pregado a uma Igreja no edificada comovoz que clama do deserto. A edificao, pois, inclui a proclamao, mas no se resume nela. Deve sero momento do Culto em que se serve o banquete para sustento do povo de Deus e fortalecimento,principalmente dos fracos. A Santa Ceia entra no universo cltico da dedicao. O andamento psicol-

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    gico conduz o adorador ao clmax, ao estgio litrgico da instruo, do preparo, da habilitao para aslutas durssimas na batalha crist contra o mal do pecado, da mundanidade, da incredulidade.

    Dentro desta viso psicolgica, o dirigente litrgico caminhar a trilha natural, cremos, doesprito humano que se coloca em adorao diante de seu Augusto Criador, Salvador e Pai. Nadaforado, nada estereotipado, nada rgido, nada mecanizado. O Culto tem regras e formas: Sigamo-lassem automatiz-las.

    29 - Templo, Trono de Deus

    Para Israel o templo era o trono de Deus na terra, local de sua presena, sinal de sua glria,atestado de seu governo sobre seu povo, ponto de encontro entre o Rei dos reis e seus sditos. Estaimagem foi to forte que constava nas vises apocalpticas tanto do Velho como do Novo Testamen-tos. Este trono terrestre veio a ser o smbolo do celeste, pois nele estava o Santo dos Santos, ondepousava a glria (Shekinah) de Deus. Ao penetrar o templo, o israelita era possudo de uma reverncia

    indescritvel, pois segnificava estar na Casa do Senhor, na presena do Deus altssimo. Seu impulso erao de prostrar-se, confessar e adorar. Os profetas que mostraram, em vises, o tabernculo celeste,davam, na verdade, um contedo escatolgico ao culto no templo, tabernculo de Deus entre homens.O culto, portanto, uma assemblia de antecipao escatolgica. Vejam que Cristo lhe d esta dimen-so quando diz, na instituio da Santa Ceia, substituta da Pscoa judaica: Pois vos digo que nuncamais a comerei, at que ela (a Pscoa) se cumpra no reino de Deus (Lc 22.16). Toda vez, pois, que secelebra a Santa Ceia o quadro simblico do culto sacrificial se repete e uma anteviso escatolgica serealiza. Onde est o santurio, Jesus Cristo, a esto seus redimidos. Essa realidade mstica se configu-ra na reunio dos crentes, sempre em Cristo, em um determinado local separado e consagrado para talfim, o templo. O valor do templo reside no que ele contm, a comunidade dos santos, e no que nele serealiza, o culto comunitrio em esprito e em verdade.

    30 - Liturgia na Orao Dominical

    A Orao Dominical, ensinada e recomendada por nosso Senhor Jesus Cristo, contmprofundo contedo litrgico e est formulada em ordem decrescente, partindo da majestade de Deus,entronizado nos cus e terminando com o homem em situao relacional de conflito com o seu seme-lhante e em estado de fragilidade diante do tentador. A doxologia final, Pois teu o reino, o poder ea glria para sempre. Amm, foi usada na Igreja primitiva, muitas vezes, como responso comunitrio,

    depois de cada petio.Eis a ordem do superior para o inferior, do Santo e soberano para o pecador incapaz e

    tentado:a. Contemplao da glria e da majestade de Deus: Pai nosso que ests nos cus.b. Reconhecimento da santidade de Deus: Santificado seja o teu nome. O pecador se confron-

    ta com o Santo e sente a necessidade de santificar o seu nome.c. Reconhecimento da existncia do reino de Deus: Venha o teu reino. A Igreja, reino

    messinico presente, suplica a vinda do reino porvir, maranata.

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    d. Reconhecimento do reinado de Deus tanto nos cus como na terra: Faa-se a tua vontadeassim na terra como () no cu. O pecador se inclui nos rol dos que fazem a vontade de Deus.Fazer a vontade de Deus servi-lo, e servi-lo e prestar-lhe culto.

    e. Reconhecimento da diria providncia divina: O po nosso de cada dia d-nos hoje.f. Reconhecimento do perdo divina: Perdoa-nos as nossas dvidas, assim como ns temos

    perdoado aos nossos devedores. Deus tem uma relao de perdo com o redimido para que

    este tenha a mesma relao com o seu prximo.g. Reconhecimento da proteo divina: No nos deixes cair em tentao, mas livra-nos domal. Segue a doxologia final.

    A Orao Dominical preferencialmente comunitria; litrgica, portanto. Ela mostra acorreta postura do adorador, eleito e redimido por Cristo, diante da majestosa divindade trina: Pai,Filho e Esprito Santo. Os mesmos princpios litrgicos fundamentais, observveis nas teofanias e noscultos sacrificiais do templo, esto, em princpio, na Orao do Senhor na mesma ordem:

    a. Contemplao da glria de Deus, o santssimo.b. Conscincia da presena de Deus.c. Que a vontade de Deus se realize pelo testemunho e misso de seu povo.

    d. Confisso.e. Conscincia do perdo divino. 6- Relaes interpessoais de perdo. Convivncia comunitria.f. Enfrentamento do tentador e da tentao.

    Pode-se, pois, organizar uma ordem de culto, muito rica e muito bblica, baseada nos temaspeticionais da Orao do Senhor e sua doxologia final.

    A Orao do Senhor procura confrontar a criatura com o Criador, o pecador carente deperdo com o Salvador, o desprotegido com o seu protetor. E isto se processa liturgicamente narealidade coinnica da Igreja e na vida de cada crente. Ela no pode, portanto, ser eliminada sistema-ticamente da ordem litrgica. Alm de ser uma ordenao de Cristo, riqussima em contedo e neces-sria adorao e compreenso do que Deus exige de ns e do que devemos suplicar a ele.

    31- Importncia da Ordem Psicolgica do Culto

    A ordem psicolgica do culto to importante, que se faz presente nas grandes teofaniasde Israel, todas dentro da idia da presena entronizada de Deus no templo celeste e terrestre do Reidos reis, e nas cristofanias escatolgicas do Apocalipse. A noo da presena do Cordeiro e a viso desua glria provocam, intuitivamente, a genuflexo do vidente em temor e adorao (Ap 1.1-17 comdestaque do v.17). No captulo cinco, a viso da glria do Cordeiro, impressionante cristofania, h umaliturgia csmica seguida por outra terrestre. Primeiro, adoram-no os quatro seres viventes e os vinte equatro ancios, o presbiterato celeste (Ap 5.11,12) Em seguida, todas as demais criaturas da terra e doscus (Ap 5.13,14). O encerramento de to faustosa liturgia d-se com o Amm dos quatro seres viven-tes (Ap 5.14), os mesmos que, com os presbteros (24 ancios) deram incio ao exuberante e reverenteculto a Deus.

    Os iluminados vem a glria de Deus e sentem sua majestade, prestando-lhe, conseqente-mente, adorao e louvor. Os rprobos, vem o fausto, a falsa grandeza das bestas emergentes respec-tivamente do mar e da terra e lhes prestam culto idlatra como tambm se prostram diante de Satans,

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    o Drago que d poder s bestas (Ap 13.4,12).A idia da presena do alm por meio de supostas entidades, de espritos encosta-

    dos, de divindades pretensamente representadas em cones ou seres da natureza, levam milhares prostrao idoltrica. Os prodgios e milagres, feitos ou no em nome de Deus ou de Cristo, iludem osincautos por lhes darem impresso da presena do divino, e acabam adorando anticristos. Muitos, osmais infiis e desonestos, espiritualmente falando, no procuram os milagreiros por causa da adora-

    o a um ser transcendente, mas procura de benefcios pessoais imediatos.Quando estabeleci como parmetro do culto, baseado em Isaas 6, a liturgia proposta noprimeiro opsculo, firmava-me, como se pode observar, numa viso ampla veto e neotestamentria daliturgia nascida da manifestao de Deus, da implantao do culto sacrificial, da necessidade daconfisso de pecados, da oferenda de sacrifcios, da eleio de um povo especial e adorador. Tudoagora, porm, se consuma, liturgicamente falando, na encarnao do Verbo, na organizao da liturgiada Ceia, na prestao do culto antecipador das coisas do fim ( at que eu venha).

    A ordem psicolgica do culto observa-se nas teofanias, na cristofania, encarnao e pre-sena do Cordeiro redentor, nas vises apocalpticas da Igreja escatolgica tanto no estado intermedi-rio como na consumao.

    Com Rm 12.1,2 em mente, prestemos um culto racional (logiks) a Deus.

    Trabalho escrito em 1993. Reescrito em 1995.

    Bibliografia01 - Maxwell, William D.: El Culto Cristiano. Biblioteca de Estudos Teolgicos. Methopress Editori-

    al y Grafica. Buenos Aires. Argentina, 1963.02 - Martin, Ralph P. : Adorao na Igreja Primitiva. Edies Vida Nova, SP,