GUSTAVO GOMES BASSO · 2012. 5. 8. · Basso, Gustavo Gomes. Governança Corporativa no Brasil: O...

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Universidade de Brasília Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Administração GUSTAVO GOMES BASSO GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL: O impacto da adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado no risco de empresas de capital aberto Brasília DF 2011

Transcript of GUSTAVO GOMES BASSO · 2012. 5. 8. · Basso, Gustavo Gomes. Governança Corporativa no Brasil: O...

  • Universidade de Brasília

    Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

    Departamento de Administração

    GUSTAVO GOMES BASSO

    GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL: O impacto da

    adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado no risco de

    empresas de capital aberto

    Brasília – DF

    2011

  • GUSTAVO GOMES BASSO

    GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL: O impacto da adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado no risco de

    empresas de capital aberto

    Monografia apresentada ao Departamento de Administração como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Administração.

    Professor Orientador: Dr. José Carneiro

    da Cunha Oliveira Neto

    Brasília – DF

    2011

  • Basso, Gustavo Gomes. Governança Corporativa no Brasil: O impacto da adesão à

    Câmara de Arbitragem do Mercado no risco de empresas de capital aberto / Gustavo Gomes Basso. – Brasília, 2011.

    46 f. : il.

    Monografia (bacharelado) – Universidade de Brasília, Departamento de Administração, 2011.

    Orientador: Prof. Dr. José Carneiro da Cunha Oliveira Neto, Departamento de Administração.

    1. Governança Corporativa. 2. Câmara de Arbitragem do Mercado. 3. Painel de Dados. I. Título: Subtítulo.

  • GUSTAVO GOMES BASSO

    GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL: O impacto da

    adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado no risco de

    empresas de capital aberto

    A Comissão Examinadora, abaixo identificada, aprova o Trabalho de Conclusão do Curso de Administração da Universidade de Brasília do

    (a) aluno (a)

    Gustavo Gomes Basso

    Dr. José Carneiro da Cunha Oliveira Neto Professor-Orientador

    Me. André Luiz Marques ________________________ Professor-Examinador Professor-Examinador

    Brasília, 13 de julho de 2011

  • Para meu Senhor e Salvador Jesus Cristo; e para os meus avós Irineu, Maria e Didi, dedico esse trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    Esse é o primeiro trabalho formal no qual tenho a oportunidade de registrar

    meu agradecimento às pessoas que me ajudaram a enfrentar os desafios dos meus

    26 anos de vida, incluindo esse: a conclusão do meu curso superior. Graças a meu

    Deus, tenho consciência que não estou sozinho nessa jornada e sei que várias

    pessoas contribuíram para meu crescimento e resultados obtidos nessa trajetória.

    Agradeço DIARIAMENTE essas pessoas em oração e quero aproveitar esse

    “primeiro trabalho” para expressar minha gratidão formal a algumas das pessoas

    mais importantes da minha vida.

    Agradeço a meu Deus pela vida, saúde, sabedoria e todos os recursos e

    privilégios que tenho. E que eu possa honrar todas essas bênçãos, viver

    intensamente suas promessas e fazer a diferença nesse mundo.

    Agradeço à minha família: meu pai (Julio), minha mãe (Glace) e meu irmão

    (Guilherme), por todo amor e carinho e pela estrutura e recursos confiados a mim

    durante todo esse percurso. Só estou aqui hoje graças a vocês na minha vida, muito

    obrigado.

    À também minha família: tia Riza, tio Zé, Fernanda e Flávia, por assumirem

    com tanto carinho o papel de “segundo(a)” pai, mãe e irmãos, por todo amor, por

    todo apoio sempre e por todo companheirismo. E é lógico, aos “agregados”: Denis

    “Kuba” e André “Jatobinha” (e pai Ricardo), os quais sou muito grato, também, pelo

    companheirismo, carinho e apoio.

    Aos também familiares: tio Neu, tia Fátima e meus padrinhos: tia Sônia e tio

    Gordo (e família). Obrigado pelo amor e carinho ao longo dessa jornada.

    Agradeço aos meus preciosos amigos-irmãos que durante minha vida

    estiveram ao meu lado, compartilhando maravilhosos momentos de diversão,

    aprendizado, luta e vitória. Dos tempos de INEI, mais de 15 anos de amizade e por

    toda vida: João Paulo “Jay Pee”, Grazy, Luiz Alfredo (e família), Daniel de Leon (e

    família) e o casal Mari (e família) e Alessandro (e família). Dos tempos de Igreja

    Batista Central de Brasília, onde pude moldar meus valores e crenças e me tornar

    uma pessoa ainda melhor: André Valença, Guilherme Queiroz, Renato Goes,

    Paulinho “Trompete” e Pr. Marco. Dos tempos de UnB e outras tantas aventuras,

    onde, durante os quase 6 anos de amizade, enfrentamos juntos grandiosos desafios,

  • sempre superando nossos limites e (é claro) nos divertindo muito. Esses anos se

    tornaram tão intensos e desafiadores que nossas experiências nos transformaram

    em irmãos de longuíssima data: Felipe “Família” (e família: Jacke, Tati e Milton),

    Alexandre “Goianão”, Ilo “Cabrilo”, Bruno “Shoyu Mastaralho”, Patricia “Paty

    Sangalo”, Ismael Pamplona “Danada”. Vocês não sabem o quanto são especiais.

    Amo vocês!

    Agradeço aos grandes mestres, em quem pude me espelhar e aprender.

    Tive a honra de ter os mais diversos professores e mentores, e sou muito grato a

    eles por tanto crescimento. Destaco entre eles: meu amigo e Professor Dr. José

    Carneiro, a quem admiro e me espelho, profissionalmente, intelectualmente e como

    pessoa; os Professores Dr. Pedro Meneses, Me. Pedro Henrique Albuquerque e Me.

    Rodrigo Ferreira pelo exemplo de dedicação e competência na atividade acadêmica;

    o Professor Elias Miranda, um grande mestre e instrumento de Deus na minha vida,

    que através da música contribuiu de forma única para a construção do meu caráter e

    dos meus valores; e o Seu Feliz, que com sua simplicidade e humildade me fez

    aprender grandes lições e sempre me apoiou em minhas decisões.

    Às tias Kátia Freires e Celly (minhas outras segundas mãezonas!), Túlio

    Fortuna e Fausio. Por todo apoio, carinho e credibilidade. Nos momentos mais

    difíceis vocês me apoiaram e foram fiéis aos valores mais preciosos que um homem

    pode ter.

    À Kirlian “Kiki”; Keicinha; Jureminha; Mairão; às Virgens e agregadas (Vivi

    “Ruiva”, Ritinha, Thais “Maluca”, Renatinha, Eliana “Lilica”, Débora “Bocão”, Darlinha

    e Sofia); ao Thomás, Lalá e Raoni. Muito obrigado por todo carinho e pelas ótimas

    bagunças!

    À Ludmila Maciel e Shalua “Xaxá” pelo apoio e companheirismo durante o

    curso e na hora do “desespero final”. Vocês são 10!

    Ao meu amigo e “chefão” Gustavo Lima Junior (e sua filha Thais Lima) pela

    compreensão e apoio nessa reta final.

    Ao meu amigo que também me ensina diariamente valores preciosos e é um

    exemplo de sabedoria e integridade, João Moraes Filho (Batistão) e aos colegas de

    trabalho, Marcos Thasmo e Fernando Motta, pela companhia e por segurarem a

    barra durante esse semestre decisivo

    Enfim, agradeço a todos meus amigos e colegas que contribuíram para que

    esse momento pudesse acontecer. Pessoas que tive o prazer de conviver durante

  • toda minha formação pessoal, escolar, profissional e, nessa última etapa,

    acadêmica. Obrigado à UnB, ao curso de Administração e aos secretários! Aos

    meus companheiros de UnB: VALEU GALERA! Vou sentir saudades disso tudo!

  • O que eu sei me faz ganhar dinheiro. O que eu não sei me faz perder dinheiro. Toda vez que fui arrogante perdi dinheiro, porque quando sou arrogante, acredito mesmo que o que não sei não é importante.

    Robert Kiyosaki – Pai Rico Pai Pobre

    Habilidade é como você utiliza a técnica na situação do jogo; habilidade é técnica sob pressão. Conhecimento é como você utiliza as informações na situação do jogo; conhecimento é informação sob pressão (...) Conhecimento não é poder, é apenas poder em estado latente.

    Chris Brady e Tara C. Brady – Regras do Jogo

  • RESUMO

    Com o objetivo de melhorar os resultados das companhias e fortalecer o mercado acionário, muito se tem estudado e aprendido sobre as técnicas de governança corporativa. Hoje, as tidas "melhores práticas de governança" se tornaram um manual de sistemas, controles e estímulos envolvendo os relacionamentos entre proprietários, Conselho de Administração, Diretoria e órgãos de controle. Especificamente, uma das ações incluída no grupo das “melhores práticas” é a substituição do Poder Judiciário comum pela arbitragem, como meio de solução de conflitos. Medindo-se o risco das organizações no mercado acionário, o presente trabalho tem como objetivo estimar as conseqüências de se adotar a Câmara de Arbitragem do Mercado como mediadora dos conflitos entre as empresas e seus stakeholders. Para tanto, foi-se estimado um modelo econométrico de regressão linear múltipla por painel de dados utilizando-se mínimos quadrados ordinários e, posteriormente, mínimos quadrados generalizados para se corrigir o problema de auto-correlação serial. O resultado da pesquisa apresentou uma redução de aproximadamente 7,13% no risco das empresas que adotam a arbitragem como o método de solução litigiosa. Palavras-chave: 1. Governança Corporativa. 2. Câmara de Arbitragem do Mercado. 3. Painel de Dados.

  • LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1: Comparativo dos Segmentos de Listagem ................................................. 24

    Figura 2: Distribuição dos resíduos da estimação da Equação (4) por painel de dados e MQO. .................................................................................................... 37

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Resultados da estimação da Equação (4) por painel de dados e MQO. ... 36

    Tabela 2: Resultados da estimação da Equação (4) por painel de dados e MQG .... 39

    Tabela 3: Comparativo dos resultados estimados pelos métodos MQO e MQG ...... 39

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13

    1.1 Formulação do problema ............................................................................ 14

    1.2 Objetivo Geral ............................................................................................. 15

    1.3 Objetivos Específicos .................................................................................. 15

    1.4 Justificativa ................................................................................................. 15

    2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 17

    2.1 Governança Corporativa ............................................................................. 17

    2.2 Relação, Conflito e Custo de Agência......................................................... 18

    2.3 Características da Boa Governança ........................................................... 19

    2.4 As Diferentes Estruturas de Propriedade .................................................... 20

    2.5 As Consequências da Estrutura de Capital do Mercado Brasileiro ............. 21

    2.6 Avanços Institucionais: Ações para Fortalecer os Direitos dos Acionistas

    Minoritários ............................................................................................................ 22

    2.7 Segmentos Especiais de Listagem do Mercado de Ações da Bovespa ...... 23

    2.8 Arbitragem .................................................................................................. 26

    2.9 Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM) ................................................. 29

    3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA ......................................................... 31

    3.1 Tipo e descrição geral da pesquisa............................................................. 31

    3.2 Caracterização do objeto de estudo............................................................ 31

    3.3 Objeto do estudo ......................................................................................... 32

    3.4 Procedimentos de coleta e de análise de dados ......................................... 34

    4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 36

    4.1 Painel de Dados e Regressão por MQO ..................................................... 36

    4.2 Correção da Auto-Correlação Serial e Validação dos Resultados .............. 38

    5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................ 41

    REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43

  • 13

    1 INTRODUÇÃO

    O cenário da governança corporativa no Brasil apresenta consideráveis

    diferenças em relação ao que é praticado no EUA. O mercado norte-americano é

    marcado pela pulverização do controle acionário, o que pode implicar na

    expropriação de riqueza do acionista, já que os gestores possuem maior liberdade

    de decisão e escolha (BERK; DEMARZO, 2009).

    No Brasil, a realidade é marcada por um controle acionário muito mais

    concentrado, onde os administradores são monitorados facilmente. Os conflitos

    entre stakeholders, na estrutura de capital das empresas brasileiras, estão

    concentrados no relacionamento entre os diferentes tipos de acionistas: os

    controladores e os controlados (LEAL; CARVALHAL DA SILVA; VALADARES,

    2002).

    Isso ocorre, porque nesse cenário é apresentada uma alta concentração de

    propriedade e a existência de um grupo de controle bem definido, diferentemente do

    que ocorre no EUA. Companhias brasileiras como a CST e o Pão de Açúcar

    apresentam 94,7% e 94,3% de concentração de propriedade, respectivamente. Ao

    passo que as norte-americanas IBM e Exxon possuem, respectivamente, somente

    6,5% e 4,4% de capital em poder dos acionistas controladores (SILVEIRA, 2006).

    O conflito entre acionistas controladores e controlados no Brasil surgem

    então como uma preocupação no mercado. Com o objetivo de proteger os acionistas

    minoritários da expropriação dos acionistas controladores, entidades reguladoras

    brasileiras procuram estabelecer novas políticas, além de estimular a busca pelos

    melhores mecanismos de controle, estímulos e gestão de suas empresas: as

    melhores práticas de governança corporativa (LEAL; SAITO, 2003).

    Existem vários benefícios derivados da adesão às melhores práticas de

    governança. Por isso, a então Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA, que hoje

    é a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros, BM&FBOVESPA) criou os níveis

    diferenciados de governança corporativa, com o objetivo de proteger os acionistas

    minoritários e estimular o crescimento do mercado acionário no Brasil. Tais níveis de

    governança obrigam as empresas listadas a seguirem regras rígidas no mercado,

  • 14

    por exemplo: a proibição de ações preferenciais; a realização de ofertas públicas de

    colocação de ações por meio de mecanismos que favoreçam a dispersão do capital;

    a manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações representando uma

    porcentagem fixa do capital, entre outras.

    Dentre as várias exigências à listagem nos níveis diferenciados de

    governança da BM&FBOVESPA, existe a obrigação à adesão da Câmara de

    Arbitragem do Mercado (CAM). Ao se optar pela utilização da arbitragem como meio

    de solução de litígios, abdica-se, portanto, dos meios tradicionais prestados pela

    justiça comum. A utilização da CAM torna-se, então, um caminho legal, rápido,

    sigiloso e barato para a resolução de conflitos entre os stakeholders das

    organizações aderentes.

    1.1 Formulação do problema

    A diferença processual entre as resoluções de conflitos via justiça comum e

    utilizando-se os meios da arbitragem são óbvias e muito discrepantes (FREITAS,

    2006). A rapidez, os baixos custos e o sigilo processual são apenas algumas das

    mais importantes vantagens do processo arbitral em relação ao praticado pelo Poder

    Judiciário brasileiro. Assim, a utilização de um caminho mais eficiente para a solução

    de conflitos reflete um aumento na segurança do exercício do direito, tanto dos

    executivos, quanto dos acionistas e clientes dessas organizações. Como

    conseqüência, Berk e Demarzo (2009, pg. 935) afirmam que:

    a valorização e a liquidez das ações de um mercado são influenciadas positivamente pelo grau de segurança que os direitos concedidos aos acionistas oferecem e pela qualidade das informações prestadas pelas

    empresas.

    Contudo, faz-se necessário saber quanto, objetivamente, a melhora nos

    processos judiciais (a maior segurança para o acionista) influencia no risco das

    organizações. Logo, qual é o impacto efetivo, no risco da organização, ao se aderir à

    arbitragem como meio de solução litigiosa?

  • 15

    1.2 Objetivo Geral

    O objetivo desse trabalho foi mensurar o impacto da adesão à CAM no risco

    de empresas de capital aberto.

    1.3 Objetivos Específicos

    1. Coletar o histórico dos preços das empresas que aderiram à CAM após sua

    abertura de capital;

    2. Mensurar o risco dessas empresas ao longo do tempo;

    3. Mensurar a variação no risco dessas empresas antes e depois da adesão à

    CAM;

    1.4 Justificativa

    Como citado na seção 1.1 deste trabalho, a adoção de melhores práticas de

    governança corporativa têm como objetivo maior fortalecer o mercado de ações,

    aumentando a valorização e a liquidez das empresas de capital aberto (BERK;

    DEMARZO, 2009). Contudo, o que gera a valorização e a liquidez no mercado é a

    decisão de um conjunto de pessoas (investidores) em aplicar nesse mercado. Para

    isso, cada investidor utiliza uma série de critérios antes de decidir onde colocar o

    seu dinheiro. E um dos critérios mais importantes para a tomada de decisão é o

    nível de risco do investimento (BERK; DEMARZO, 2009).

    A criação de segmentos especiais de governança na BM&FBOVESPA,

    portanto, cria uma série de normas rígidas para aumentar a segurança do acionista

    e reduzir o risco do investimento (BERK; DEMARZO, 2009). Mas o quanto que cada

    regra, norma, critério, controle ou compromisso impacta efetivamente no risco da

    companhia? A adoção de práticas que visam aumentar a segurança do investidor

  • 16

    realmente diminui o risco do ativo? Essas práticas refletem no preço da ação? Se

    refletem, quanto é esse reflexo?

    Ao mensurar o efeito da adesão da CAM no risco das empresas, os

    investidores estarão municiados de um critério objetivo na hora de aplicar seu

    capital. Por mais óbvio que sejam os benefícios da arbitragem, a mensuração do seu

    impacto no risco das organizações de capital aberto permitirá ao acionista gerenciar

    o risco do seu investimento de forma mais precisa.

  • 17

    2 REFERENCIAL TEÓRICO

    Este capítulo apresenta a revisão de literatura dos principais elementos

    teóricos pertinentes para a realização e o entendimento desse trabalho.

    Primeiramente é apresentado o conceito de governança corporativa e conflitos de

    agência. Também é caracterizado, nesse referencial, o que é tido como “boas

    práticas de governança corporativa”. Em seguida, faz-se um breve comparativo

    entre o mercado norte-americano e o brasileiro e como essas diferenças impactam a

    estrutura de capital das empresas nacionais. É definido o contexto da governança

    corporativa no Brasil e as medidas tomadas pelos stakeholders do mercado em prol

    do desenvolvimento do mesmo. Tem-se, então, o conceito de arbitragem, seus

    fundamentos, características e vantagens da sua utilização em relação aos métodos

    de justiça comum (Poder Judiciário). Por fim, é apresentada a CAM, o detalhamento

    dos seus procedimentos (como são aplicados nas empresas listadas em bolsa) e

    quais são os benefícios de sua utilização.

    2.1 Governança Corporativa

    Silveira e Saito (2008, p. 80) definem governança corporativa como “um

    conjunto de mecanismos internos e externos, de incentivo e controle, que visam a

    minimizar os custos decorrentes do problema de agência”. Silveira (2004) destaca a

    importância do estudo desses mecanismos, já que é bem difundida a hipótese de

    que as práticas de governança afetam o desempenho das empresas.

    Carvalho (2002, p. 19), por sua vez, define governança corporativa de forma

    genérica, como: “os mecanismos ou princípios que governam o processo decisório

    dentro de uma empresa”. Sob a perspectiva do retorno esperado aos acionistas,

    Oliveira Neto (2010, resumo VI) diz que a “governança corporativa pode ser definida

    como um conjunto de instrumentos que visam garantir aos fornecedores de capital o

    recebimento dos eventuais benefícios produzidos por seus investimentos” e Silveira

    (2004) a cita como mecanismos que objetivam maximizar o retorno sobre os

    investimentos dos fornecedores de recursos. Oliveira Neto (2010) também relata que

  • 18

    a interação entre empresa e acionistas, cuja relação contratual, influenciada por

    fatores internos e externos à organização, caracteriza a governança corporativa.

    No Brasil, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) é a

    organização exclusivamente dedicada à promoção da governança e o principal

    fomentador das práticas e discussões do tema no País (IBGC, 2009, pg. 19).

    Segundo o IBGC (2009), governança corporativa é definida como:

    o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, Conselho de Administração, Diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de Governança Corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade.

    Berk e Demarzo (2009), assim como Silveira e Saito (2008), conceituam

    governança corporativa com o enfoque no conflito de interesses. Segundo Berk e

    Demarzo (2009) o termo deriva da tentativa de minimizar fraudes pela aplicação de

    sistemas de controle, regulamentações e incentivos.

    2.2 Relação, Conflito e Custo de Agência

    Para entender os conflitos de interesses citados por Berk e Demarzo (2009),

    primeiramente serão listados os personagens desses conflitos. Jensen e Meckling

    (1976) definem esses personagens como: o principal; e o agente, onde o primeiro

    delega, contratualmente ao segundo, autoridade para a tomada de decisões que

    afetam seu bem estar. E esse é o modelo de relacionamento entre acionista e gestor

    em uma empresa de capital aberto, definido pelos autores como sendo a relação de

    agência. Nesse contexto, “se ambas as partes da relação são maximizadoras de

    utilidade, há boas razões para se acreditar que o agente não agirá sempre no

    melhor interesse do principal” (JENSEN; MECKLING, 1976, p. 308), o que origina o

    conflito de agência.

    Ainda segundo Jensen e Meckling (1976), o principal (acionista) pode limitar

    as divergências de interesses com os agentes (gestores). Para tanto, ele deve

    estabelecer incentivos próprios para o agente e implementar ferramentas de controle

    com o objetivo de monitorar as atividades dos mesmos. Assim, faz com que os

  • 19

    gestores tomem decisões ótimas sob o ponto de vista do acionista. Contudo, é

    quase certo que essas ferramentas de estímulo, monitoramento e controle

    apresentem custos para a empresa, chamados custos de agência.

    Berk e Demarzo (2009) afirmam que, quando diferentes stakeholders de uma

    empresa possuem interesses próprios, tais interesses podem gerar conflitos de

    agência. Têm-se, então, outros tipos de relacionamentos e conflitos de agência,

    como, por exemplo: entre portadores de títulos de dívida e acionistas (BERK;

    DEMARZO, 2009; SILVEIRA; SAITO, 2008) e entre acionistas majoritários

    (controladores) e minoritários (VALADARES; LEAL, 2000; BERK; DEMARZO, 2009).

    Um exemplo prático do conflito de agência entre credores e acionistas é, segundo

    Silveira e Saito (2008, p. 82), “a tendência ao subinvestimento quando a empresa

    está fortemente endividada e há uma probabilidade considerável de falência”.

    Nesses casos, há um desestímulo ao financiamento de novos projetos com capital

    próprio. Tais projetos, mesmo tendo um Valor Presente Liquido (VPL) positivo,

    poderão ter parte ou todo seu ganho absorvido pelo pagamento de juros, não

    interessando ao acionista. Já entre controladores e acionistas minoritários, o conflito

    ocorre principalmente pela defesa dos interesses dos acionistas majoritários em

    detrimento dos outros investidores e será explicitado com maiores detalhes em

    seguida nesse referencial teórico.

    2.3 Características da Boa Governança

    Oliveira Neto (2010, p. 39 e 40) define a boa governança como uma atuação

    sob “regras e procedimentos claros, com elevados níveis de transparência quanto à

    divulgação de informações”. Segundo o IBGC (2009, p. 19), as boas práticas de

    governança são a aplicação objetiva de princípios básicos, sendo estes:

    transparência; equidade (tratamento justo a todos os sócios e stakeholders);

    prestação de contas (accountability); e responsabilidade corporativa. Outra

    importante definição é detalhada por Romano (1996), onde o nível de governança

    corporativa está diretamente relacionado à eficiência das ferramentas e práticas

    utilizadas na organização, com o objetivo de se igualar os interesses entre acionistas

    e gestores.

  • 20

    Vários autores evidenciaram o impacto das melhores práticas de governança

    no valor da empresa. Gompers, Ishii e Metrick (2003) perceberam essa relação no

    mercado americano, Silva (2004) e Silva e Leal (2005) no mercado brasileiro, Black

    (2001) no mercado russo, Joh (2003) no mercado coreano, entre outros. De acordo

    com Bhojraj e Sengupta (2003), existe uma forte relação entre a qualidade da

    governança e a classificação de risco do título da firma. Os autores afirmam que a

    redução da assimetria de informação pela execução dos melhores níveis de

    governança, afeta a rentabilidade e a classificação de risco de bônus corporativos.

    Há, portanto, “um custo de oportunidade para a má governança; assim, substituindo-

    a por boa governança, é possível aumentar o valor da empresa – em outras

    palavras, boa governança é um projeto com VPL positivo” (BERK; DEMARZO, 2009,

    p. 915).

    2.4 As Diferentes Estruturas de Propriedade

    A estrutura de propriedade da empresa de capital aberto é diretamente

    afetada pelas diferentes estruturas legais que regem o ambiente da mesma (LA

    PORTA; LOPEZ-DE-SILANDEZ; SHLEIFER; VISHNY, 1998, 2000). Países que têm

    um fraco sistema de proteção ao acionista possuem a estrutura acionária de suas

    empresas concentradas em um grupo bem definido e o mercado financeiro é menos

    desenvolvido. Já em lugares onde a estrutura legal é eficiente, o mercado é mais

    bem desenvolvido e as empresas de capital aberto tendem a ter propriedade

    difundida.

    Como evidenciado por La Porta et al. (1998, 2000), Black (2001) e Berk e

    Demarzo (2009), o contexto norte-americano fornece um arcabouço legal favorável

    ao acionista, que promove a pulverização do controle acionário e um diferente

    relacionamento entre proprietários e executivos. Assim, os administradores possuem

    maior liberdade de decisão e escolha, o que pode implicar a expropriação de riqueza

    do acionista e gerar a predominância de conflitos de agência entre gestores e

    acionistas (BERK; DEMARZO 2009).

  • 21

    No Brasil, o cenário é diferente. A legislação brasileira não fornece a proteção

    devida ao acionista, o que gera a concentração de propriedade das empresas de

    capital aberto (BERK; DEMARZO, 2009). Dado o alto nível de concentração

    acionária, os controladores monitoram os executivos facilmente. Nesse contexto, o

    principal conflito de agência se dá entre acionistas majoritários e minoritários (LEAL

    et al., 2002). Tal estrutura evidencia o conflito entre acionistas controladores e

    controlados e faz com que entidades reguladoras brasileiras estabeleçam políticas

    com o objetivo de proteger os acionistas minoritários (LEAL; SAITO, 2003).

    2.5 As Consequências da Estrutura de Capital do Mercado Brasileiro

    A presença de acionistas controladores possui tanto pontos positivos quanto

    negativos. Como ponto positivo, pode-se destacar o efeito incentivo, em que os

    grandes acionistas têm maior incentivo para coletar informações e monitorar os

    gestores, já que os mesmos possuem muitos recursos investidos na empresa. Na

    relação de agência entre gestor e acionista, os grandes acionistas possivelmente

    contornam o conflito de agência, já que possuem tanto o interesse na maximização

    do valor quanto o poder suficiente para terem seus interesses respeitados (SAVOIA;

    SILVEIRA; BELLATO, 2006).

    O principal ponto negativo à grande concentração de ações é a perseguição,

    pelos grandes acionistas, de benefícios privados do controle às custas dos demais

    investidores. Nesse sentido, os acionistas majoritários usariam do seu direito de

    controle (direito de voto) para extraírem recursos da companhia em detrimento dos

    acionistas minoritários (SAVOIA; SILVEIRA; BELLATO, 2006).

    Também foi evidenciado por Brandão e Bernardes (2005) que o conflito entre

    controladores e controlados contribui para aumentar o custo de capital das

    empresas (o que reduz seu valor econômico e de mercado) e reduz as projeções de

    retornos financeiros dos analistas do mercado de capitais. É percebido então um

    enfraquecimento do mercado, já que tal efeito, observado em economias menos

    desenvolvidas e em mercados com grande concentração de capital, gera menor

    incentivo para a captação de financiamento em menor volume, o que contribui para

    a depreciação das empresas (SILVEIRA, 2002).

  • 22

    2.6 Avanços Institucionais: Ações para Fortalecer os Direitos dos Acionistas Minoritários

    Com o objetivo de fortalecer os direitos dos acionistas minoritários, Brandão

    e Bernardes (2005) relatam que vários avanços têm surgido no Brasil. A Nova Lei

    das Sociedades Anônimas (Lei das SAs, nº 10.303, 31/10/01), como ficou

    conhecida, é um dos exemplos. Com o propósito de melhor proteger os acionistas

    minoritários, essa reforma da Lei das SAs apresenta alguns destaques, como por

    exemplo:

    a) A limitação da emissão de ações preferenciais em 50% do total das ações

    emitidas (artigo 8º da Lei 10.303). Anteriormente, o limite era de apenas

    1/3 da emissão total, o que permitia o controle de companhias com um

    aporte menor de capital;

    b) Titulares de ações que representem, pelo menos, 15% do total das ações

    com direito a voto, e de ações que representem, no mínimo, 10% do

    capital total da companhia, terão direito de eleger um membro e seu

    suplente no conselho de administração, em votação separada à da

    Assembléia Geral (artigo 141). A eleição desse conselheiro pelos

    acionistas minoritários deve ser feita a partir de uma lista tríplice elaborada

    pelo acionista controlador (artigo 8º da lei 10.303);

    c) A solução de divergências entre os acionistas e a companhia, ou entre os

    próprios acionistas, poderão ser solucionadas mediante arbitragem (artigo

    109). Tal mecanismo pode ser definido no estatuto da empresa e se torna

    de extrema importância dado um cenário regido por um precário aparato

    judiciário.

    Além da melhoria da legislação, houve mudanças no contexto institucional.

    Entidades como: a BM&FBOVESPA, a Associação dos Analistas e Profissionais de

    investimento do Mercado de Capitais (APIMEC), o IBGC, o Instituto Brasileiro de

    Relações com Investidores (IBRI) e a Associação Nacional dos Investidores do

    Mercado de Capitais (ANIMEC) atuaram a favor das melhorias nas práticas de

    governança corporativa no Brasil (BRANDÃO; BERNARDES, 2005).

    Uma das contribuições da BM&FBOVESPA para o desenvolvimento desse

    cenário foi a criação de segmentos diferenciados de governança corporativa. Esses

  • 23

    segmentos classificam as empresas listadas em bolsa de acordo com regras

    variadas, que têm como foco a proteção dos acionistas minoritários (BERK;

    DEMARZO, 2009; FREITAS, 2006). A adesão a esses segmentos é voluntária,

    contudo, de acordo com Brandão e Bernardes (2005), a implantação dessa

    diferenciação vem sendo aderida por várias companhias, principalmente a partir de

    2004. Com relação ao nível de proteção aos acionistas minoritários, a classificação

    diferenciada das empresas listadas em bolsa foi mais significativa às companhias de

    capital aberto do que a própria reforma da Lei das SAs (BRANDÃO; BERNARDES,

    2005).

    2.7 Segmentos Especiais de Listagem do Mercado de Ações da Bovespa

    Pela necessidade de desenvolver o mercado de capitais brasileiro e atrair

    novos investimentos e novas empresas, a BOVESPA desenvolveu segmentos de

    listagem com regras rígidas de governança corporativa (BM&FBOVESPA, 2011).

    Esses segmentos são: Bovespa MAIS, Mercado Nível 1, Mercado Nível 2 e Novo

    Mercado (BERK; DEMARZO, 2009). Todas as regras são consolidadas nos

    respectivos regulamentos, sua adesão é voluntária e os compromissos são firmados

    em contrato entre as companhias e a BM&FBOVESPA. Na figura 1, são listadas as

    principais características de cada segmento:

  • 24

    Figura 1: Comparativo dos Segmentos de Listagem Fonte: BM&FBOVESPA, 2011

    A adesão aos segmentos diferenciados de governança corporativa tem como

    objetivo reduzir o risco do investimento e atenuar as incertezas na avaliação da

    companhia. Com o risco mitigado pela aplicação das melhores práticas de

    governança corporativa, o preço das ações torna-se mais atraente o que, aplicado

    de forma geral, fortalece o mercado acionário (FREITAS, 2006; BERK;DEMARZO

    2009). La Porta et al. (1997) também dizem que uma regulamentação mais rígida a

    partir de um sistema jurídico eficiente que preze pelos direitos dos acionistas

    (principalmente os minoritários), torna o mercado acionário mais forte.

  • 25

    Portanto, para mitigar os efeitos da ineficiência do sistema judiciário brasileiro

    no julgamento de causas relacionadas às empresas listadas em bolsa, a

    BM&FBOVESPA instituiu uma câmara arbitral. Com base nos dispositivos da Lei

    9.307/96, a CAM tem como finalidade imediata, atuar na composição das normas e

    conflitos relacionados ao mercado de capitais e às questões de cunho societário,

    abrangendo (FREITAS, 2006, p. 246; CAM, 2011):

    o A lei das sociedades anônimas;

    o Os estatutos sociais das companhias;

    o As normas editadas pelos:

    Conselho Monetário Nacional;

    Banco Central do Brasil;

    Comissão de Valores Mobiliários;

    o Os regulamentos da BM&FBOVESPA e dos segmentos especiais de

    listagem (entre eles o próprio Regulamento do Novo Mercado,

    Regulamento de Práticas Diferenciadas de Governança Corporativa,

    dentre outros);

    o Os Contratos Sociais de sociedades limitadas;

    o Os regulamentos de Fundos de Investimento;

    Como visto na Figura 1 a adesão à CAM faz-se obrigatória para as

    empresas (e seus respectivos administradores, acionistas controladores e membros

    do conselho fiscal) atuantes no Novo Mercado, no Nível 2 das Práticas

    Diferenciadas de governança corporativa e no Bovespa MAIS e optativa para as

    empresas listadas no Nível 1 de governança corporativa e no mercado tradicional.

    (CAM, 2011). Os investidores que adquirirem ações de companhias que optaram

    pela adesão, automaticamente se tornam sujeito às regras da CAM.

  • 26

    2.8 Arbitragem

    Arbitragem é um meio (método) privado de resolução de conflitos (CAM, 2011;

    BRASIL, 2006). Tal meio pode ser recorrido por pessoas físicas (maiores de 18

    anos), que tenham discernimento e que possam exprimir sua vontade, e também por

    pessoas jurídicas (BRASIL, 2006). Utilizada há décadas para resolução de diversos

    litígios nacionais e internacionais (MARTINS, 2001), a arbitragem é regulamentada

    no Brasil pela Lei 9.307/96, também conhecida como “Lei da Arbitragem”. Em

    12/12/2001, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela constitucionalidade

    dessa lei e firmou seu entendimento no julgamento de recurso em processo de

    homologação da Sentença Estrangeira 5.206 (CONJUR, 2011; BRASIL, 1995; CAM,

    2011). A Lei 9.307/96 autorizou a utilização da arbitragem para o julgamento de

    conflitos envolvendo bens patrimoniais disponíveis, ou seja, aqueles direitos nos

    quais as partes podem transacionar (contratos em geral, civis ou comerciais) (Lei

    9.307/96, Cap I, Art. 1º), por exemplo: questões que envolvam inadimplências ou

    divergências comerciais, escolares, contratos de aluguel, contratos com

    seguradoras, contratos com fornecedores; cobrança de dívidas, duplicatas e notas

    promissórias não pagas; cheques sem provisão de fundos; disputas comerciais

    internacionais envolvendo duas ou mais empresas de países diferentes, questões

    imobiliárias que envolvam construtoras, erros médicos, danos materiais, morais,

    contratos entre acionistas, etc. (TRIBUNAL ARBITRAL DE ARAÇATUBA, 2011).

    Casos como a separação de um casal ou disputa da guarda dos filhos já não podem

    ser submetidos à arbitragem, pois não há envolvimento de direitos que tenham valor

    econômico e que possam ser comercializados (BRASIL, 2006).

    Como a arbitragem é um meio privado de solução de conflitos, não há

    órgãos oficiais ou estatais de arbitragem. O que se tem, contudo, são as Instituições

    Arbitrais, que são organizações privadas e não integram o Poder Público. Essas

    Instituições (ou Câmaras, Centros, Institutos, etc.) administram e facilitam o

    procedimento arbitral sem emitir qualquer julgamento sobre o conflito. Dentre suas

    responsabilidades está a comunicação entre as partes e os árbitros (na forma de

    correspondências, documentos e pelas providências em geral), que pode arquivar

    cópias de todo o procedimento arbitral durante seu curso. Cada instituição é provida

    de um regulamento próprio para organizar o procedimento, com regras que devem

  • 27

    ser seguidas pelas partes e pelos árbitros durante o julgamento (BRASIL, 2006), e

    um quadro de árbitros (escolhidos pela própria organização) à sua disposição para a

    solução dos litígios. Como exemplo de institutos especializados em realizar a

    arbitragem, tem-se a própria CAM, a Câmara de Comércio Internacional

    (Internacional Commerce Chamber), a American Arbitration Association, entre outros

    (SEIXAS, 2010).

    Com relação ao procedimento arbitral, os interessados podem escolher entre

    a arbitragem institucional e a arbitragem ad hoc (ou não-institucional). A arbitragem

    institucional é caracterizada pela adoção de uma organização para a realização do

    procedimento arbitral. Nesse caso, a arbitragem será administrada por essa

    instituição e deverá obedecer às regras e procedimentos da mesma. Já na

    arbitragem ad hoc, as partes adotam metodologias próprias para a solução dos

    conflitos. Os interessados criam e adotam livremente os procedimentos arbitrais que

    irão reger o conflito de acordo com sua conveniência e interesse (SEIXAS, 2010;

    CAM, 2011).

    Existem condições específicas para a utilização da arbitragem como método

    de resolução de conflitos. De acordo com o Art. 3º da Lei 9.307/96: “As partes

    interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante

    convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o

    compromisso arbitral”. Em outras palavras, a submissão de um conflito ao tribunal

    arbitral e exclusão da participação do Poder Judiciário deve ser acordada entre as

    partes e materializada por escrito. Antes de ocorrido um possível litígio, ainda no

    momento de assinatura do contrato, a convenção de arbitragem é feita mediante

    “cláusula compromissória”. Esta cláusula deverá estar no contrato firmado e detalhar

    que possíveis conflitos serão resolvidos por arbitragem. Já o “compromisso arbitral”

    é um documento escrito e assinado pelas partes, que decidirá pela utilização da

    arbitragem, após o surgimento do litígio (Art. 4º e 9º da Lei 9.307/96; BRASIL, 2006).

    A decisão proferida pelo árbitro tem os mesmos efeitos “da sentença

    proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título

    executivo” (Lei 9.307/96, Cap. V, Art. 31º). Além disso, o Art. 17 equipara os árbitros

    aos funcionários públicos, para efeito da legislação penal e o Art. 18 dispõe que para

    fins processuais o árbitro “é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não

    fica sujeita a recurso ou a homologação do Poder Judiciário”. Ou seja, a sentença

    arbitral é equiparada à decisão proferida por um juiz de direito dos tribunais de

  • 28

    justiça comum e não é passível de recurso ao Judiciário ou a qualquer outro órgão

    ou instituição reguladora do contrato em questão (FREITAS, 2006).

    Qualquer pessoa capaz é habilitada para atuar como árbitro, ou seja, não há

    necessidade de nenhuma formação específica (Lei 9.307/96 Art. 13º). Contudo, os

    árbitros deverão ser da confiança das partes e escolhidos livremente pelos

    interessados de forma independente e imparcial (Lei 9.307/96 Art. 13º § 1º e

    BRASIL, 2006). As câmaras de arbitragem colocam, então, à disposição dos

    interessados, árbitros especializados nas áreas de conhecimento relacionadas aos

    litígios em questão. Essas condições promovem uma grande vantagem da justiça

    arbitral em relação à justiça comum: as sentenças são tomadas por árbitros com

    profundo conhecimento do assunto em questão. Essas decisões carregadas de

    conteúdo técnico são fruto de uma avaliação integral à questão e aumentam a

    eficiência do sistema e a adequação da sentença. Também não há necessidade de

    representação das partes por advogado. Os interessados podem requerer a

    instalação da arbitragem diretamente (CAM, 2011; FREITAS, 2006; BRASIL, 2006).

    Algumas das principais vantagens da arbitragem são a flexibilidade e a

    informalidade que as partes envolvidas possuem no julgamento do conflito. A

    definição dos procedimentos que disciplinarão o processo, o prazo final para sua

    condução e os árbitros que decidirão sobre o caso, todos são estipulados pelas

    próprias partes. A possibilidade de criação dessas regras particulares e de comum

    acordo entre os interessados possibilita uma eficiente solução para o caso (CAM,

    2011).

    Além de flexível, a arbitragem também conta com o benefício da rapidez, dos

    baixos custos e do sigilo. A celeridade existe na execução do processo, já que a

    arbitragem deve ser concluída no prazo máximo legal de 180 dias (6 meses), caso

    não haja outro prazo acordado entre as partes, o que torna a solução arbitral muito

    mais rápida do que a intermediada pelo Poder Judiciário (CAM, 2011; FREITAS,

    2006). Os custos apresentados pelo processo de decisão arbitral são

    consideravelmente mais baixos em relação aos custos da justiça comum (CAM,

    2011; FREITAS, 2006). Ainda assim, os serviços prestados pelas câmaras de

    arbitragem possuem valores específicos, de acordo com cada instituição, como no

    caso da CAM (CAM, 2011). Quanto ao sigilo, o Art. 13 § 6º (Lei 9.307/96) exige que

    os árbitros, no desempenho de sua função, ajam com “discrição”, o que impõe a eles

  • 29

    a confidencialidade sobre o procedimento, seus atos, documentos, informações,

    dados trazidos pelas partes e a própria sentença arbitral.

    Em suma, as principais vantagens da solução litigiosa por meio de arbitragem

    são: o cumprimento imediato da sentença arbitral, agilidade, especialização,

    flexibilidade e informalidade, custos mais baixos em relação à justiça comum e o

    sigilo.

    2.9 Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM)

    Instituída pela BM&FBOVESPA (antiga BOVESPA) em junho de 2001, a

    CAM é uma instituição arbitral que visa oferecer um foro adequado para a solução

    de problemas relativos ao mercado de capitais, com foco nos litígios societários. Ela

    atua na solução dos conflitos surgidos nas companhias que aderiram aos segmentos

    especiais de listagem da BM&FBOVESPA, mas não exclusivamente. Pode utilizar a

    estrutura da CAM qualquer interessado, investidor ou empresa (sendo ou não

    companhia de capital aberto) com o objetivo de solucionar conflitos societários ou

    pertinentes ao mercado de capitais (CAM, 2011).

    De acordo com a CAM (2011), seu corpo de árbitros é composto por

    profissionais de reputação ilibada e notório conhecimento sobre o mercado de

    capitais e assuntos relacionados. Os árbitros são profissionais de diversas áreas de

    atuação, como: advogados, economistas, contadores e administradores de

    empresas. Para compor o corpo de árbitros, tais profissionais são escolhidos pelo

    Conselho de Administração da BM&FBOVESPA.

    Existem três tipos de procedimento arbitral oferecidos pela CAM: o ordinário,

    o sumário (ambos sendo procedimentos de arbitragem institucionais) e o ad hoc. O

    procedimento ordinário é mais completo, recomendável para questões de maior

    complexidade que exigem, na maioria das vezes, produção de provas, elaboração

    de perícias e/ou depoimento de partes e testemunhas e requer três árbitros. O

    procedimento arbitral sumário é simplificado e, portanto, mais rápido e econômico

    em comparação ao procedimento ordinário. É recomendável para questões de

    menor complexidade onde não é necessária a produção de provas, além daquelas

    apresentadas nos próprios requerimentos de abertura da arbitragem e somente um

  • 30

    árbitro é necessário. Na arbitragem ad hoc, os interessados poderão também

    escolher árbitros externos à CAM, outra Câmara ou Centro de Arbitragem ou

    qualquer detalhe procedimental e administrativo permitido pela arbitragem para a

    solução do conflito (submetidos à prévia aprovação do Presidente da CAM). O

    requerente do processo escolhe o tipo de procedimento arbitral que será adotado e

    cabe à parte requerida solicitar ou não a conversão do mesmo (CAM, 2011).

    Para se vincular à CAM, os interessados devem inserir uma cláusula

    (cláusula compromissória) no texto de acordos contratos, Estatutos e Contratos

    Sociais, por exemplo, em que as partes interessadas se comprometem a resolver

    seus futuros e eventuais conflitos por arbitragem a ser conduzida pela CAM. Na

    ausência dessa cláusula, as partes deverão assinar o “compromisso arbitral”, que

    conterá: a qualificação das partes, a matéria objeto da arbitragem, entre outros

    (CAM, 2011).

    De uma forma geral, ao determinar a resolução dos conflitos por meio da

    CAM, pela adesão das boas práticas de governança corporativa, a BM&FBOVESPA

    oferece aos investidores a segurança de uma alternativa mais ágil e especializada

    na solução de possíveis conflitos. Com isso, os direitos dos acionistas são

    ampliados e o processo se torna mais seguro e efetivo (BERK; DEMARZO, 2009).

  • 31

    3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA

    Nesse capitulo é apresentado o método para a realização do trabalho.

    Primeiramente, a pesquisa é caracterizada e descrita. Em seguida, faz-se uma breve

    exposição do objeto de pesquisa e dos critérios que determinaram os participantes

    do estudo. Por fim, na última seção é mostrado o modelo e o procedimento realizado

    para a análise dos dados.

    3.1 Tipo e descrição geral da pesquisa

    A pesquisa apresentada é empírica. A fonte das informações são os

    registros das negociações das empresas atuantes na BM&FBOVESPA (dados

    coletados pelo sistema Economática®). Têm-se, então, os preços das ações de

    todas as empresas que aderiram à CAM (como forma de solução de conflitos

    judiciais), após sua abertura de capital, mês a mês, disponibilizados pela bolsa. As

    empresas selecionadas para o estudo, além de aderentes à CAM, apresentam

    dados contínuos e consecutivos, ou seja, possuem registros mensais (preço de

    fechamento) e sem que haja algum mês sem cotações durante o período de estudo.

    Trata-se, portanto, de um delineamento de pesquisa explicativo (MICHEL,

    2009; SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006). A análise dos dados tem como objetivo

    mensurar a correlação entre o risco da organização na bolsa de valores e sua

    adesão à CAM. Quanto a abordagem, a pesquisa é quantitativa (SILVA; MENEZES,

    2001), com dados de natureza secundária (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006) e

    recorte longitudinal (HAIR; BABIN; MONEY; SAMOUEL, 2005).

    3.2 Caracterização do objeto de estudo

    As organizações alvo de estudo e que tiveram seus riscos mensurados

    nessa pesquisa são empresas de capital aberto, cujas ações são negociadas na

  • 32

    BM&FBOVESPA. Além disso, essas empresas aderiram à CAM após sua abertura

    de capital, caracterizando uma melhoria nos seus métodos de governança

    corporativa (BERK; DEMARZO, 2009). Essas companhias são pertencentes a

    diversos setores de atuação, como: financeiro, utilidade pública, construção e

    transporte, materiais básicos, tecnologia da informação, bens industriais e consumo

    cíclico.

    3.3 Objeto do estudo

    A seleção da base de dados para o estudo obedeceu aos seguintes critérios:

    Cotações históricas dos preços das ações de empresas que:

    o Possuem capital aberto com ações negociadas em bolsa de valores

    (BM&FBOVESPA);

    o Aderiram à CAM;

    o Já possuíam ações negociadas em bolsa antes da adesão à CAM

    (período superior a 3 meses);

    Período histórico de cotações mensais, contínuos e consecutivos, desde a

    abertura de capital da empresa até julho de 2010;

    Assim, para se obter máximo número de observações e mensurar o impacto

    da adesão à CAM, independente da organização ou seu setor de atuação, foram

    selecionadas todas as empresas com registro em bolsa que atenderam aos critérios

    mencionados. Com relação ao período de análise, foi necessária uma série de

    tempo suficientemente longa para se perceber a variação do risco da empresa no

    decorrer do tempo. Foram selecionadas 15 empresas, listadas no Quadro 1, com

    uma série histórica de cotações que abrange o período de janeiro de 2002 até julho

    de 2010 (101 períodos), para cada uma dessas empresas (totalizando 1515

    observações).

    EMPRESA AÇÃO ANALISADA

    Banco do Brasil BBAS3

    Cesp CESP3

  • 33

    Eletropaulo ELPL4

    Eternit ETER3

    Fibria FIBR3

    IdeiasNet IDNT3

    Magnesita MAGG3

    Marcopolo POMO4

    Net NETC4

    Porto Bello PTBL3

    Sabesp SBSP3

    São Carlos SCAR3

    Saraiva SLED4

    Tractebel TBLE3

    Weg WEGE3

    Quadro 1 – 15 empresas e as respectivas ações objetos desse estudo. Fonte: Elaborado pelo autor com dados da BM&FBOVESPA (2011).

    Existe, portanto, um equilíbrio na relação “Quantidade de Companhias x

    Extensão da Base Histórica”, cujo produto foi o maior número de observações

    possíveis, atingindo-se os critérios pré-estabelecidos. Por exemplo: empresas como

    Banrisul e Brasilfoods (que também aderiram à CAM) foram retiradas do estudo

    dado que não cumpriram o critério de possuir cotações mensais e contínuas durante

    o período estudado. Já com relação à extensão da base histórica, ela foi limitada

    (janeiro/2002 a julho/2010) de forma que todas as empresas selecionadas

    apresentaram cotações contínuas e aderiram à CAM dentro desse período. Em

    síntese, a base analisada possui um número tal de organizações para análise que a

    adição de uma empresa na população estudada impacta negativamente na

    quantidade de observações totais. De forma semelhante, a base histórica analisada

    (mantidos os critérios necessários para a seleção da população) pertence ao limite

    máximo, onde a adição de um período maior de estudo diminui o número de

    observações totais.

  • 34

    3.4 Procedimentos de coleta e de análise de dados

    Os dados foram coletados pelo software Economática®, cujas informações

    são alimentadas pelos registros das negociações realizadas na BM&FBOVESPA. A

    base de dados foi tabulada no Microsoft Excel e analisada no software EViews7. A

    estrutura da tabela é composta pelas colunas: Data, Empresa, CDI, IBRX, Ibovespa,

    Cotação da Empresa e Dummy. Essa estrutura está disposta na forma para análise

    em painel de dados.

    O risco das ações foi mensurado utilizando-se o Modelo de Precificação de

    Ativos Financeiros (CAPM, ou Capital Asset Pricing Model). O CAPM, proposto por

    William Sharpe (1964) como um modelo de risco e retorno, é o principal método de

    mensuração de custo de capital utilizado pela maioria das grandes empresas

    (GRAHAM; HARVEY, 2001; BRUNER; EADES; HARRIS; HIGGINS, 1998) e têm o

    modelo representado pela Equação (1):

    (1)

    Onde:

    Ri = taxa esperada de retorno do ativo i

    Rf = taxa de retorno livre de risco

    Rm = taxa esperada de retorno sobre o portfólio de mercado representado

    β = medida de risco sistemático de mercado

    A forma funcional para estimação do CAPM (Modelo de Mercado) pode ser

    apresentada na forma de prêmio de risco (GUJARATI; PORTER, 2011), expresso

    pelas Equações (2) e (3):

    (2)

    (3)

    Onde:

    ΦR = prêmio para o risco da empresa

    α = intercepto do ativo

    u = termo de erro estocástico do ativo i

  • 35

    Para a mensuração do impacto da adesão da CAM no risco das empresas,

    foi adicionada uma variável binária (dummy) ao modelo, de acordo com a Equação

    (4). Foi utilizada uma regressão linear múltipla em painel de dados por mínimos

    quadrados ordinários (MQO):

    (4)

    Onde:

    D = 1 se a empresa aderiu à CAM

    = 0 se a empresa não aderiu à CAM

    β2 = impacto da adesão à CAM prêmio para o risco da empresa

    Para representar: a “taxa esperada de retorno sobre o portfólio de mercado

    representado” (Rm) foi-se utilizado o IBRX (Índice Brasil); a “taxa de retorno livre de

    risco” (Rf) foi-se utilizado as taxas do CDI (Créditos de Depósitos Interbancários);e a

    “taxa esperada de retorno do ativo i” (Ri) foi-se utilizado as cotações das ações de

    cada empresa alvo no estudo. A medida de risco sistemático de mercado (β) mede a

    variação do ativo em relação ao mercado. Como o objeto do estudo é um conjunto

    de ativos que compõem a carteira do IBRX, espera-se que o β tenha um valor

    próximo de 1. Já o β2 , espera-se que seja negativo e significativo, pois a literatura

    defende a diminuição do prêmio para o risco da empresa ao se aderir à CAM. Em

    síntese ao modelo de regressão múltipla, tem-se o prêmio para o risco da empresa

    (ΦR) como a variável dependente; e o prêmio para o risco do mercado (Rm – Rf) e a

    definição de adesão à CAM (D, dummy) com as variáveis explanatórias.

  • 36

    4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos pela aplicação da

    regressão linear múltipla por painel de dados modelo representado pela Equação

    (4). Os resultados foram obtidos utilizando-se o software EViews7. Foram utilizadas

    2 estimações: a primeira pelo método dos MQO e a segunda por MQG, sendo esta

    segunda estimação feita para se corrigir o problema de auto-correlação serial

    apresentada pelos MQO. No capítulo também é apresentado o resultado final do

    modelo, atingindo-se o objetivo proposto pelo estudo: a mensuração do impacto da

    adesão à CAM no prêmio para o risco das empresas de capital aberto.

    4.1 Painel de Dados e Regressão por MQO

    Utilizou-se o modelo representado pela Equação (4), e foi gerado o resultado

    pelo método de regressão linear múltipla por painel de dados e MQO, ilustrado na

    Tabela 1 e Figura 2.

    Tabela 1: Resultados da estimação da Equação (4) por painel de dados e MQO.

    Dependent Variable: COTACAO-CDI

    Method: Panel Least Squares

    Date: 06/30/11 Time: 17:35

    Sample: 2002M02 2010M06

    Periods included: 101

    Cross-sections included: 15

    Total panel (balanced) observations: 1515

    White period standard errors & covariance (d.f. corrected)

    WARNING: estimated coefficient covariance matrix is of reduced rank

    Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.

    C 8.048841 6.41E-15 1.26E+15 0.0000

    IBRX-CDI 1.227211 2.98E-17 4.12E+16 0.0000

    DUMMY -7.138916 7.14E-15 -1.00E+15 0.0000

    R-squared 0.550782 Mean dependent var 1.612028

    Adjusted R-squared 0.550188 S.D. dependent var 11.85457

  • 37

    S.E. of regression 7.950623 Akaike info criterion 6.986356

    Sum squared resid 95577.17 Schwarz criterion 6.996897

    Log likelihood -5289.165 Hannan-Quinn criter. 6.990281

    F-statistic 926.9262 Durbin-Watson stat 2.145928

    Prob(F-statistic) 0.000000

    Fonte: EViews7

    Figura 2: Distribuição dos resíduos da estimação da Equação (4) por painel de dados e MQO. Fonte: EViews7

    Os resultados gerados estipulam os valores ao modelo apresentado na

    Equação (4), de acordo com a Equação (5) (valores aproximados):

    (5)

    Onde:

    α = 8,048841

    β = 1,227211

    β2 = -7,138916

    O intercepto do modelo (α) apresentou um valor de 8,048841. Isso significa

    que os ativos analisados apresentaram um retorno anormal médio de 8,04%

    (aproximadamente) acima do mercado. Esse valor era esperado, dado que o objeto

    de estudo comporta ativos com maior volatilidade média que o índice de mercado

    (IBRX).

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    -20 -10 0 10 20

    Series: RESID

    Sample 2002M02 2010M06

    Observations 1515

    Mean -1.84e-15

    Median 0.942545

    Maximum 25.67527

    Minimum -22.67493

    Std. Dev. 7.945370

    Skewness -0.191719

    Kurtosis 3.809062

    Jarque-Bera 50.60142

    Probability 0.000000

  • 38

    O valor de β e β2 apresentados foram os valores esperados para o modelo.

    Como citado anteriormente, o objeto de estudo contém as séries históricas das

    cotações de 15 ativos, pertencentes à carteira do IBRX (proxy da variável Rm). Por

    isso, o valor de β (1,227211) é coerente com o esperado, já que a relação entre o

    risco do mercado e o risco do conjunto de empresas analisadas é próximo de 1.

    Além disso, β2 (-7,138916) apresentou um valor negativo e significativo, validando a

    literatura ao se afirmar que a adesão à CAM impacta negativamente no risco das

    empresas negociadas em capital aberto (BERK; DEMARZO, 2009; FREITAS, 2006;

    LA PORTA et al.,1997). Esse valor de β2 significa que a adoção da CAM como

    método para a solução de litígios reduz em 7,13% o risco da empresa para seus

    investidores.

    Contudo, a estatística d de Durbin-Watson (2.145928) acusa uma auto-

    correlação serial negativa para o experimento1. De acordo com Gujarati e Porter

    (2011), ao apresentar auto-correlação serial, os estimadores de MQO não são os

    melhores estimadores lineares não tendenciosos (MELNT), ou seja: o erro padrão

    não é o mais eficiente. Para se corrigir o problema de estimação e validar os dados

    apresentados, foi-se utilizado outro método de regressão linear múltipla: os mínimos

    quadrados generalizados (MQG) (GUJARATI; PORTER, 2011).

    4.2 Correção da Auto-Correlação Serial e Validação dos

    Resultados

    Ao rodar o modelo em painel de dados por MQG, obtêm-se os resultados da

    Tabela 2.

    1 Tendo-se [4 – du = 2,08355] e [4 – dL = 2,08622] para 1500 observações, 2 variáveis e nível de

    significância de 5%. Fonte: Stanford University, 2011.

  • 39

    Tabela 2: Resultados da estimação da Equação (4) por painel de dados e MQG

    Dependent Variable: COTACAO-CDI

    Method: Generalized Linear Model (Quadratic Hill Climbing)

    Date: 06/30/11 Time: 17:36

    Sample: 2002M02 2010M06

    Included observations: 1515

    Family: Normal

    Link: Identity

    Dispersion computed using Pearson Chi-Square

    Coefficient covariance computed using observed Hessian

    Convergence achieved after 1 iteration

    Variable Coefficient Std. Error z-Statistic Prob.

    C 8.048841 1.026624 7.840109 0.0000

    IBRX-CDI 1.227211 0.028916 42.43999 0.0000

    DUMMY -7.138916 1.047428 -6.815665 0.0000

    Mean dependent var 1.612028 S.D. dependent var 11.85457

    Sum squared resid 95577.17 Log likelihood -5289.166

    Akaike info criterion 6.986358 Schwarz criterion 6.996899

    Hannan-Quinn criter. 6.990283 Deviance 95577.17

    Deviance statistic 63.21241 Restr. Deviance 212763.7

    LR statistic 1853.852 Prob(LR statistic) 0.000000

    Pearson SSR 95577.17 Pearson statistic 63.21241

    Dispersion 63.21241

    Fonte: EViews7

    Percebe-se, portanto, que ao rodar novamente o modelo, aplicando-se outro

    método (MQG), os resultados foram similares e muito próximos aos obtidos pelo

    método MQO (Tabela 3).

    Tabela 3: Comparativo dos resultados estimados pelos métodos MQO e MQG

    MQO MQG

    Coeficiente Erro padrão Coeficiente Erro padrão

    α 8,048841 6,41E-15 8,048841 1,026624

    β 1,227211 2,98E-17 1,227211 0,028916

    β2 -7,138916 7,14E-15 -7,138916 1,047428

    Fonte: EViews7

  • 40

    Portanto, mesmo apresentando auto-correlação serial no modelo por MQO,

    o estimador é eficiente. O modelo foi, então, corroborado pelos resultados.

  • 41

    5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

    Durante todo o trabalho foi relatada a importância da adoção de melhores

    práticas de governança corporativa, no Brasil e no mundo. É percebido um consenso

    entre diversos autores, onde a resolução dos conflitos de agência e a estipulação de

    meios mais eficientes para o mesmo impactam positivamente nos resultados das

    companhias e no aumento do nível de investimentos. Mas qual a contribuição exata

    de cada uma dessas “melhores práticas”? Quanto cada procedimento de

    governança impacta no resultado efetivo das empresas? Determinadas práticas

    impactam realmente no resultado das companhias?

    Como citado anteriormente, autores como: Gompers, Ishii e Metrick (2003),

    Silva e Leal (2005), Black (2001), Joh (2003), Bhojraj e Sengupta (2003), entre

    outros, afirmam que a qualidade da governança impacta no risco das empresas

    nacionais e internacionais. Portanto, este estudo teve como objetivo mensurar

    pontualmente o impacto na melhora de um procedimento de governança específico:

    a adoção da CAM como meio de solução de litígios. Chegou-se, então, ao valor de

    7,13% (aproximadamente) de redução do risco aos investidores das empresas

    aderentes à CAM. Um resultado significativo.

    Dentro dessa perspectiva, pôde-se medir a importância de um fator

    específico no nível de risco da empresa (a adesão à CAM). Já era previsto pela

    literatura que os benefícios relativos à arbitragem (flexibilidade, baixos custos, sigilo,

    rapidez, entre outros) gerassem uma diminuição no risco das empresas

    beneficiadas, pela adoção desse procedimento. Assim, os resultados desse trabalho

    corroboram e mensuram essa expectativa, o que pode auxiliar o investidor em sua

    tomada de decisão. Percebe-se quantitativamente o impacto da CAM no risco das

    empresas e sua significância.

    Mesmo com um resultado coerente em relação à teoria e satisfatório

    estatisticamente, a aplicação de outros métodos econométricos pode contribuir para

    a correlação encontrada nesse estudo. Pode-se, por exemplo, estimar o resultado

    da relação “Adesão à CAM” x “Risco da Empresa” por painel de dados pelo método

    da máxima verossimilhança ou pelo método de momentos generalizados (GMM).

    Além de, com o painel de dados, permitir se obter os resultados utilizando-se efeitos

    fixos e aleatórios.

  • 42

    Em adição à estimação mais profunda dessa relação, estudos posteriores

    podem analisar outras relações entre as diversas variáveis relacionadas às melhores

    práticas de governança corporativa, como: a relação entre o risco de empresas

    semelhantes com níveis de governança diferentes; a associação entre outras

    variáveis que caracterizam uma boa governança e as empresas que aderiram à

    essas práticas; o impacto da utilização de uma câmara de arbitragem por empresas

    de diferentes países, entre outros. Tais estudos serão complementares aos

    resultados aqui apresentados e poderão contribuir para tornar ainda mais detalhada

    e específica a relação “risco x qualidade da governança” e a auxiliar os investidores

    em sua tomada de decisão.

  • 43

    REFERÊNCIAS

    BERK, J.; DEMARZO, P. Finanças Empresariais. Tradução Christiane de Brito Andrei. Porto Alegre: Bookman, 2009.

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