2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... ·...

120
2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31

Transcript of 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... ·...

Page 1: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31

Page 2: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

2. As Tocantinas.indd 2 06/10/2014 03:18:31

Page 3: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

2. As Tocantinas.indd 3 06/10/2014 03:18:31

Page 4: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

2. As Tocantinas.indd 4 06/10/2014 03:18:31

Page 5: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

Célio Pedreira

Palmas-TO2014

As tocantinas

2. As Tocantinas.indd 5 06/10/2014 03:18:31

Page 6: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

ReitorMárcio Antônio da Silveira

Vice-reitoraIsabel Cristina Auler Pereira

Pró-reitor de Pesquisa e pós-graduação

Waldecy Rodrigues Diretora de Divulgação Científica

Michelle Araújo Luz Cilli

Conselho EditorialAirton Cardoso Cançado (Presidente)

Christian José Quintana PinedoDernival Venâncio Ramos Junior

Etiene Fabbrin PiresGessiel Newton Scheidt

João Batista de Jesus FelixJocyleia Santana dos Santos

Salmo Moreira SidelTemis Gomes Parente

Projeto Gráfico & ImpressãoICQ Editora Gráfica e Pré-Impressão Ltda.

Designer ResponsávelGisele Skroch

Projeto original da obraDiogo Bonadiman Goltara

Revisão de TextosNeusa Kruger, Carolina Souza Pedreira e Célia Regina Regis

Foto da CapaSinos da Igreja de Nossa Senhora do Carmo

por Carolina PedreiraImpresso no Brasil

Printed in Brazil

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Tocantins - SISBIB/UFT

Pedreira, Raimundo Célio.As Tocantinas / Raimundo Célio Pedreira. – Palmas, TO: Universidade Federal do

Tocantins / EDUFT, 2014.119 p.

ISBN 978-85-63526-57-1Coleção Literatura Tocantinense, v. 1

1. Literatura Brasileira. 2. Tocantins. 3. Poesia. I. Título. CDD B869.8117

Copyright © 2014 por Raimundo Célio PedreiraTODOS OS DIREITOS RESERVADOS – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio deste documento é autorizado

desde que citada a fonte. A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

P371t

2. As Tocantinas.indd 6 06/10/2014 03:18:31

Page 7: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

vii

ParaDomingas de Oliveira Negre

Dona Domingas,

Quem faz minha almasão as boleiras do Carmo

pois sabem um mundocom tapioca de mandioca.

2. As Tocantinas.indd 7 06/10/2014 03:18:31

Page 8: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

2. As Tocantinas.indd 8 06/10/2014 03:18:31

Page 9: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

ix

Sumário

Prólogo xv

Apresentação xvii

Arrancho 19

Tapioca na Gamela 20

Chá de Suficiência 21

Só o Tronco 22

Desejares 23

Absolutamente Abóbora 24

Idílio 25

Principiar 26

Meninos na Ponta da Rua 27

Grota das Pombinhas 28

Cepo de Madeira ao Vivo 29

Serra do Carmo 30

Cá 31

2. As Tocantinas.indd 9 06/10/2014 03:18:31

Page 10: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

x

Célio Pedreira

In Situ 32

Precisão 33

Calendário de Luas 34

Fonte das Lavadeiras 35

Bulandeira 36

Faculdade das Inclinações 37

Loca 38

Como nunca Entardecido 39

Setenta vezes sete 40

Meio dia 41

Um cajueiro 42

Saga do madurecer 43

Dona Menina 44

Goiaba no Quintal Alheio 45

O sorriso da Pedra 46

Hábil Bocado 47

Apontamento Escasso 48

Lavradura 49

Manual portátil de estreitar 50

Malícias 51

Coseres 52

2. As Tocantinas.indd 10 06/10/2014 03:18:31

Page 11: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

xi

Versão de Otimismo 53

Quem vê querer 54

Estado de estar 55

Reza do Tempo atrás 56

Destampado 57

Acordo 58

Rede de pescar na varanda 59

Jazzmin 60

Inventário de indícios 61

Exército de só 62

Parto de ano 63

De Noites e Natais 64

Inversado 65

Um dois mil e cinco 66

Cinema mudo 67

Entrevista com o senhor menino 68

Beiradeiro 69

Quem viaja só 70

Breviário 71

A primeira vez que sonhou 72

Assentamento 73

2. As Tocantinas.indd 11 06/10/2014 03:18:31

Page 12: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

xii

Célio Pedreira

Pinguela 74

Cerrado queimado 75

Volteado 76

Enxurrada 77

Lenha 78

Elementares 79

Oficina de ancião 80

Carta 81

Cantiga isca 82

O vendedor de ribeiras 83

Improviso em sol maior 84

Olhar de Cega-machado 85

Zinabre 86

Setembro 87

Canoeiro 88

O livro que a gente começou a ler 89

Malabares 90

O Movimento das Águas 91

Chicos 92

Vida acesa ao Sol 93

Serventias 94

2. As Tocantinas.indd 12 06/10/2014 03:18:32

Page 13: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

xiii

Pé de manga 95

Escavações 96

O homem que não desejava 97

Ruazinha 98

Cantiga de Trabalho 99

Ensaio para um dia parvo 100

Rainha Liberdade 101

Receita de Mãe 102

Memorial 103

Ciência de Amigos 104

Dicionário de cismas 105

Rapadura 106

Infinitivo Pleno 107

Bilhete de Adeus 108

Deslabor 109

Vaqueiro de Estrelas 110

De aprender morrer 111

A Resposta 112

De um tempo onde serão necessárias as cinzas 113

Cajuí 114

Lual 115

2. As Tocantinas.indd 13 06/10/2014 03:18:32

Page 14: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

xiv

Célio Pedreira

Frações 116

Raiz de quintal 117

Proa 118

2. As Tocantinas.indd 14 06/10/2014 03:18:32

Page 15: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

xv

PRÓLOGO

Explorar com sensibilidade os limites da língua

“A poesia é o impossível ao alcance da voz”. Com esse verso incluí num pequeno volume publi-cado há alguns anos, uma reflexão sobre o ato de escrever poesia. Célio Pedreira me oferece sistemati-camente desde o Brasil profundo o resultado desse árduo exercício de explorar os limites da língua. Azar de quem não conhece a língua portuguesa. Essa lín-gua única e diversa, falada nos cinco continentes, se contarmos Miami..., insuficientemente reconhecida entre as línguas cultas. Saboreada, reinventada aqui, no falar diário, no comércio de sonhos entre as pes-soas para oferecer suas paixões ou desenganos...

“As Tocantinas” dialogam evidentemente com a poesia de Manoel de Barros, o bruxo do Pan-tanal. Mas, a diferença entre esses dois poetas das águas, além do tempo percorrido nos labirintos da loucura que por igual os possui, é que Manoel se converteu em árvore à margem daquelas águas que não aceitam contorno – ali não se define onde termina o fluxo líquido, onde a lama fecunda, onde a pedra rara – para oferecer poemas como frutas frescas de sabores inéditos. Célio é poeta de outras

2. As Tocantinas.indd 15 06/10/2014 03:18:32

Page 16: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

xvi

Célio Pedreira

águas. Essas que percorrem o dorso cristalino dos planaltos e sabem mais a areias que ao barro do Pantanal, mais à esmeralda líquida que usamos como espelho de nossas aventuras e desventuras. Ele nos oferece a vertigem dos versos imprevisíveis.

Aqui lembro a frase de Oscar Niemeyer: “Na vida o que vale é o espanto”. A poesia de Célio Pe-dreira, a exemplo do seu inspirador, substantiva ver-bos, age sobre os objetos que descreve, alterando-lhes a natureza e a sintaxe. Cria uma sintaxe nova. E leve. Os rebocos escalavrados dos casarões coloniais do Porto observam... e capturam a luz fugidia da tar-de num verso impossível. A seu modo, Célio traba-lha para alargar os limites de expressão da língua. Essa será talvez a herança mais duradoura do poeta.

O mestre Alceu Amoroso Lima – Tristão de Atha-íde – numa página escrita no último quartel do século XX definiu os poetas em duas categorias: os poetas so-litários e os poetas solidários. Os que buscam a poesia dentro de si mesmos, a partir da experiência individu-al e aqueles que buscam a poesia no fragor dos confli-tos humanos. Ambos valiosos, ambos indispensáveis para a literatura. Eu situaria Célio Pedreira numa ter-ceira categoria: a dos que buscam – e encontram – a poesia no exercício temerário da língua. Sem deixar de identificar-se com as categorias do mestre. A litera-tura brasileira necessita desse exercício.

Brasília, outono de 2014.

Pedro Tierra

2. As Tocantinas.indd 16 06/10/2014 03:18:32

Page 17: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

xvii

Apresentação

As tocantinas reunem cem poemas es-critos nos últimos quinze anos. É mais um capítulo da poesia do autor, que pu-

blicou, em 2002, a primeira obra poética. Essa nova coleção de poemas traz a quietude de uma chaleira sobre o fogão à lenha esquentando água para o café. “Arrancho”, poema que inaugura o livro, marca um tom que perpassa toda a obra, o de um otimismo brejeiro, quase triste, que aprecia o invisível e encon-tra no prosaico matéria de poesia. O tempo diurno, emaranhado de afazeres comuns como cozer, ouvir um passarinho distante, amanhecer ou parir, nos convida a trazer o dia para dentro e levar a vida para fora. São nesses poemas solares, como “Meninos na Ponta da Rua”, que encontramos velhos amigos e ob-servadores silenciosos: “Rebocos assistem a rua/sovi-nando cores/e tontos de luz”.

Os poemas de As tocantinas falam sobre a gente de um lugar, sobre paisagens suspensas no tempo de antes e sobre as rachaduras da alma. As fotografias imaginárias são tiradas nos interiores do mapa e do

2. As Tocantinas.indd 17 06/10/2014 03:18:32

Page 18: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

xviii

Célio Pedreira

homem. A obra segue como o curso de um rio ex-tinto e nela aprendemos que vigiar o entardecer ver-melho é a sina do canoeiro. O sertão provido de pri-mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias” e “Jazzmin” contrasta com as agruras de um cerrado seco no vento e no intento de ser huma-no: “Vem aroeira/que o machado cega/é no cerne da gente”. O luar abriga uma série de poemas azuis, quando o dia, partindo, começa a gemer e inventa de ir buscar sorriso em pedra. Em “Escavações”, são os ossos que encontram a memória dilapidada pela au-sência que insiste em sobreviver ao fogo da estiagem. Na boca da noite, os versos-breu contam sobre o va-queiro tangendo boi e outros cantos de dor. Avesso ao ávido, lento, o luto atua em “Aprender a morrer” e “De Um Tempo Onde Serão Necessárias As Cinzas”. Mas, a lamparina sobre a mesa e as contas do rosário acendem a madrugada até desembocar nas manhãs. Uma alegria antiga vem passear em “Receita De Mãe” e inscreve traços de esperança em “Rapadura”: “Es-sas mãos atando linhas de horizontes/sossegam um tecer de dores idas/para indagar doces esperas”.

Escrita sob a sombra de um cajueiro, As To-cantinas compõe um inventário de imagens sobre a paciência. São poemas para ouvir o lamento das margens submersas do Rio Tocantins, por isso, tam-bém, são poemas sobre onde as coisas dormem, talvez, “para ver como acordam”.

Carolina Pedreira

2. As Tocantinas.indd 18 06/10/2014 03:18:32

Page 19: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

19

Arrancho

Dia que a gente precisa ser ipueiralavar as minúciasdepor as margensesconjurar estreitos. Dia que precisa vir sem divulgarperder tempo em nadaesbarrar nos derradeirosencontrar nós. Dia de bestagensalargar os efeitosmalinar nas gasturasjudiar sem doerprecisa.

2. As Tocantinas.indd 19 06/10/2014 03:18:32

Page 20: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

20

Célio Pedreira

Tapioca na gamela

Eita que esse destino de furupaguarnece a brasa e o tiçãoo forno de assar o boloalvura que ama a tapioca na gamelaamassando a vida com as mãospois a festa é certaquando certo o pão.

2. As Tocantinas.indd 20 06/10/2014 03:18:32

Page 21: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

21

Chá de suficiência

Recolha uma beira de córregodeixe descansar a sombra para curtir.

Tome um punhado de caminhosdesses bem indiferentese põe a coar em almas de algodão.

Apanhe dois brejos alegrese uma chávena de boca-de-noitepara amaciar lajedos.

Ao cerrado brancojunte tudo num vão de luare deixe descansaraté o amanhecer.

Sorva em jejum.

2. As Tocantinas.indd 21 06/10/2014 03:18:32

Page 22: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

22

Célio Pedreira

Só o tronco

Por haver encerrado a forçadeixa as primaveras assimperpetuadas em anéiscomo penhor de suas nascençase a crença que pode prosseguircomo silêncio sem flores.

2. As Tocantinas.indd 22 06/10/2014 03:18:32

Page 23: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

23

Desejares

Quando o sol visita o silêncio do meio-diaas redes gemem nos armadoresnum quarto de penumbras e frestas agudaso sertão embala seus filhos ausentes. Geografia de rios enterrados pulsasob os quintais baldios de esperança mesmoque continuam saciando mangueiraspara manter acesa a sombra mornados filhos que conservam nos licores e aguardentes. O pé de cega-machado tudo sabe e vêque prumo é invenção de tortoáspero é ofício de resistêncianinguém lança suas sementesmas nascem e continuam cerrado nos filhos.

2. As Tocantinas.indd 23 06/10/2014 03:18:32

Page 24: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

24

Célio Pedreira

AbsolutamenteAbóbora

Valentia tenrarasteira e brandabordando o cerradoa renda avançabarganha com o roçadocativa monturosusa e desusa o solsustentando doceno sal.

2. As Tocantinas.indd 24 06/10/2014 03:18:32

Page 25: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

25

Idílio Estava andorinha cedoe um dia com feição de vindojá confessava aurora. Lá pelos gerais daquium gris obtuso vadiandoe devagarvi seu olho virestrondo quieto. Ventinho ligeirofez um azul animosomas choveu mansoassim de manga. Pingos acordando a terranem escorremsó chupam seus limites. Saltei no estioe fiquei gastandoum cheiro novo de chão parido.

2. As Tocantinas.indd 25 06/10/2014 03:18:32

Page 26: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

26

Célio Pedreira

Principiar

Para uma manhã aquinão cabe dissimularou é verdadeou não é para sempre.

2. As Tocantinas.indd 26 06/10/2014 03:18:32

Page 27: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

27

Meninos naponta da rua

Solzim rudee nos baldioso mato rindotrepando adobesdesejando o oitão. Tarde fazedeira de nadae um céu caladocunhando o dia nos quintais. Rebocos assistem a ruasovinando corese tontos de luz. O cortejo ocultodas formigas de fogodesenfiando a terra. A vista alcança perto do ermoum rioe os meninos vão.

2. As Tocantinas.indd 27 06/10/2014 03:18:32

Page 28: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

28

Célio Pedreira

Grota daspombinhas

Caminho de grotamaioria é caladoremói terra de quintalaflora na rua quando quere vai rezando no rumo do rio. Caçoada de grota é ladeirafiapo d’água na pedramargem capilarnem fartanem sovinasó passarinho. A grota das pombinhas hoje lamenta cimento agoniza lodo secoou empresta a tarde para as larvascomo suspirar de nada.

2. As Tocantinas.indd 28 06/10/2014 03:18:32

Page 29: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

29

Cepo de madeiraao vivo

Transversal silêncioas raízes de aros meninos de plástico.

2. As Tocantinas.indd 29 06/10/2014 03:18:32

Page 30: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

30

Célio Pedreira

Serra do Carmo

Um céu de tanta belezanão cabe dentro de um luarque vai brotar hojena serra do carmo.

2. As Tocantinas.indd 30 06/10/2014 03:18:32

Page 31: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

31

Enquanto houver silênciohaverá poesia e gente cavoucando o dia.

2. As Tocantinas.indd 31 06/10/2014 03:18:32

Page 32: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

32

Célio Pedreira

In situ Fez alentecer o andarpara somente residir no olharaquelas celebrações de âmagoessas que vicejam sós e não findam. Como os lados permanecem chamasnecessito acreditar em vérticese pontos de interrogar-me duramindulto de quem sinistra. O lugar atende até um amplomercê dele me adejodesignativo de sertão.

2. As Tocantinas.indd 32 06/10/2014 03:18:32

Page 33: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

33

Precisão

Esse luar de hojefaz um silêncio tão vastoque acredito em vida sem verbo.

2. As Tocantinas.indd 33 06/10/2014 03:18:32

Page 34: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

34

Célio Pedreira

Calendáriode luas Espalhe o dia na distância dos vaziosse um grão vingareis a profundeza. Foi assim que surdiua vocação do voare promover reparaçãonas linhasde horizonte escasso. Tanto tornouque fez decotaro que fosse longitudepara estarparto.

2. As Tocantinas.indd 34 06/10/2014 03:18:32

Page 35: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

35

Fonte daslavadeiras Água nova passaaliciando as pedrasno leito de clarear as almas. Acorremos em lavadeirasinvestigando as máculascom mãos causticasespiando alvura. Memória morenamulher serenaque quara nossos porõese estende a vida ao ventodesaconselhando as sombras. Tábua de baterno lombo de nossas nódoasem fonte lavar.

O que estanca incomoda.

2. As Tocantinas.indd 35 06/10/2014 03:18:32

Page 36: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

36

Célio Pedreira

Bulandeira

O braçorompe a rodaa rodavira o raloo ralona raiz da fomefarinha.

2. As Tocantinas.indd 36 06/10/2014 03:18:32

Page 37: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

37

Faculdadedas inclinações O tempo ajustado para os quintais é suposto entre calmo e manhãdesses que lambem em solque estimam alvura. Foi aqui que eles colocaram a gabarora os pés de adversoou sombras do inversocomo imitar de nascercom nossos alheios.

2. As Tocantinas.indd 37 06/10/2014 03:18:32

Page 38: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

38

Célio Pedreira

Loca

Das dores que tragoa mais de dentroé a mais doce e serenaé a dor que me ordenadizer que sem rioeu não me refugio em profundeza.

2. As Tocantinas.indd 38 06/10/2014 03:18:32

Page 39: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

39

Como nuncaentardecido Observe aquela rendatecida do chão ao ocidentecom matiz de anos. Acabamos de fazer gritos nelae prendemos com cuidadocolhemos os prontosoutros trançamos com força. A tarde disse que não tardavae a gente deitou à tarde na mornurapara abrasar essa noitinhae fazer resultar satisfaçãoessas de iguarias.

2. As Tocantinas.indd 39 06/10/2014 03:18:32

Page 40: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

40

Célio Pedreira

Setenta vezes sete Incumbe aqueles velhos interiores com o recorrer das manhãs. os caminhos de apurosembaraços de cipóos enredos sem ingressoincumbe de manhãs. Reaver os árduos o atinar dos aços as fornalhas desprovidas incumbe de manhãs. Para a astúcia das corredeiras deixa o rio remir seus leitos e os portos incumbe de manhãs

2. As Tocantinas.indd 40 06/10/2014 03:18:32

Page 41: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

41

Meio dia

Melhor trilha de morrêncianessa beira de rioé estar-se redede quieto balançar.

Os calangos no quintala rala sombra do pé de mamonaimóveis a pulsar a terra.

A vida escondenuma pausa mornabreve e boa.

Silêncio melhor para o nadafeito querer ausentee a cidade dizendo um solapino.

2. As Tocantinas.indd 41 06/10/2014 03:18:32

Page 42: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

42

Célio Pedreira

Um cajueiro

Podemos começar a recontar o tempopela sombra das árvores em nossos sóis.

2. As Tocantinas.indd 42 06/10/2014 03:18:32

Page 43: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

43

Saga do madurecer Jeito estreitoesse de rejuntar os olhos no peitopara abarcar inteiroo que foi longeo que for remateo que faz acasoe agora vemser prudente manhã.

2. As Tocantinas.indd 43 06/10/2014 03:18:32

Page 44: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

44

Célio Pedreira

Dona Menina Urge uma cantigade deitar com diligência nos depositários da feição. Abotoar uns ornamentosesses de dispensar sacramentode sustentar estado de flor. Dispor zelo mesurar-seem hóstia de celebrar ardor. Então propenso ao azul oferecer-lhe asas.

2. As Tocantinas.indd 44 06/10/2014 03:18:32

Page 45: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

45

Goiaba noquintal alheio

Derruba muroso estado de meninosdeambula vergasequilibra na pontamais arriscada e mais doce.

Tem uma esquecida láde vez que grita (...)- Me vem!

- Ouviu?É a voz do marimbondosujeito com razão de flore chegou primeiro no láonde a fruta ferroa.

2. As Tocantinas.indd 45 06/10/2014 03:18:32

Page 46: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

46

Célio Pedreira

O sorriso da pedra Calcula um caminho angular naquela linha ninho de pousar os passos guarnecer os bambose olhando em sócobiça o preciso. Fica a observar atentamente o bandoriscando rasantes astutosenviando assobios em vem. E vai afoitar-se nos rudimentos de sustentaralém das linhas que esticam o ninhoquando desamparam as asase repentinamente o chãoa pedrao riso decrescentede principiar andar.

2. As Tocantinas.indd 46 06/10/2014 03:18:32

Page 47: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

47

Hábil bocado Acometido de cedinhoapanho arestas no brejo perto de casapara a autoria das lascasalgumas cruasoutras desabridas. Vem congregar um cheiro de vagarescorrer esboçosdiz-se assim desossarressorver vincose aliviar nossos inertes.

2. As Tocantinas.indd 47 06/10/2014 03:18:32

Page 48: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

48

Célio Pedreira

Apontamentoescasso Chega esta tarde como vírgula prenheinclinada em memorialpara alastrar sua faltacomo necessária noite. Diminutivo saiopara não aluir na aptidão das lágrimas ou entro enfermo no versopara abrir outro ladoque esse clamor não cabe.

2. As Tocantinas.indd 48 06/10/2014 03:18:32

Page 49: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

49

Lavradura O encargo da palavratem me deitado vesgos.Onde bocaencontro ermosonde mãospedrae quanto mais me abrigomais alargoos intentosque dão no porão.

2. As Tocantinas.indd 49 06/10/2014 03:18:32

Page 50: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

50

Célio Pedreira

Manual portátilde estreitar Dentro da rua havia as esquinaseram poucasquase nem regavam além da gentesoleira pedra portão. Está faltando alguémtalvez não venhae a ladeira a nos olhardeixa subir com tardelenha casca cerne. Já vamoscomo angular vivere ter que tornarcaminho cunha quina.

2. As Tocantinas.indd 50 06/10/2014 03:18:32

Page 51: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

51

Malícias

Mimosa no artifício dos ermosa semear planura nos vãosarregala-se suave e nascente. Uma maciez de espinhos a lhe guardaro que sejam ardisastúcia de flore nem sangram. No caminho das fontesequilibrando os enleioscrescem-me em bandos belosumas cantigasoutras segredos.

2. As Tocantinas.indd 51 06/10/2014 03:18:32

Page 52: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

52

Célio Pedreira

Coseres Nos retalhos abranda seu caminhoesculpindo de olhares as partesou estampa par e ímparmas perto. Dura descampados nessa feiturade alçarde enraizar até arvorar. Certo que se acodealinhava o pouco tão juntoque aprecia dizercompanheiro.

2. As Tocantinas.indd 52 06/10/2014 03:18:32

Page 53: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

53

Versão deotimismo Gostava de fincar a vida nos ocosprovando vãose quanto mais fundomais as nascentes. Principiava entranhar-selivrando os queixumessubtraindo prudênciase pudesse escaparnascia. Rogar pelo embaraçoe encontrar nódesvestir o nópara saber fundar a linhaequilibrar.

2. As Tocantinas.indd 53 06/10/2014 03:18:32

Page 54: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

54

Célio Pedreira

Quem vê querer Estava comumquase tangentequando resolveu fender com a janelaseus olhos em disparate. Seu cego abandonou o nódesacreditou a cinzae fez-se abrasadocomo à toa faz.

2. As Tocantinas.indd 54 06/10/2014 03:18:32

Page 55: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

55

Estado de estar Vigio a ocupação do longetangendo-mecomo procurar encalçopara estar canoa e asasgracejando um ir. Mas essa margem resmungalonge é lugar de não estare diz querer-me para raizpessoa de valimento fundo. Segue assim cegoo longe cru do cerradoe outras corredeiras irmãsno rumo das serras de nuvenslevando remo e ventomas deixa a mira.

2. As Tocantinas.indd 55 06/10/2014 03:18:32

Page 56: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

56

Célio Pedreira

Reza dotempo atrás Assim ajustando as portas do tempominha avó a esculpirfortificando com um macio generoso nas mãoscada menino e menina nos olhos. Quer dizer que todo diaé predisposto a trama dos caminhosde minha avó e dos nós. Demora o tempo de aplainar a vidamas minha avó tem tempo de temperarcom pitada de riscoos limites impossíveis dos quintais.

2. As Tocantinas.indd 56 06/10/2014 03:18:32

Page 57: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

57

Destampado Uma porção de cidreiraa remendar o passocom solenidade de luzonde me gotejo em manhã. Esperança parideiraessa que chama para pavionossos úmidos. Decorro estrumepara o indício da sementeque o passarinho aceita seralém desse quintalo dia bulido de abrir.

2. As Tocantinas.indd 57 06/10/2014 03:18:32

Page 58: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

58

Célio Pedreira

Acordo Ajusta uma manhãcom graça de comadrespara caber mais cantigae me desenvolver em cuiasde juntar alegria. Por causa do cedoo terreiro é melhorespiando um clarearque desabotoar diz. Igual será a noitinhaobtida dos saposem úmido generosoa botar horas no colopara quem velaa lua fiar orvalho.

2. As Tocantinas.indd 58 06/10/2014 03:18:32

Page 59: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

59

Rede de pescarna varanda Estava miúdonuma oração de musgocalafetando olhar nos pés do muro. Assim conluio em dosesde lugar nenhum qualquere alguma tarde. Desiscar uma rededessas bem atadasna ceva da atoicegasta ontens. Como continuava armadanem carece sersó ficar de ardilque a espera vem.

2. As Tocantinas.indd 59 06/10/2014 03:18:32

Page 60: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

60

Célio Pedreira

Jazzmin Um improviso a suprimir silênciosabre subterrâneos de varandase vara no itinerário do dentroem desgoverno bom de ser. Agasalha florzinhas em arpejose a voz dos haveres brandosno colo quieto dos aromasfaz morada nos gravespendurando a tarde no tempo.

2. As Tocantinas.indd 60 06/10/2014 03:18:32

Page 61: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

61

Inventáriode indícios Decerto é pedramas com algum astúciadessas de conspirarreúnem-se cunhaspara atalhar pisaduras. Um golpe e a gentedesvira bicho de chãodeserda das cancelaspara aprumar a asaalvejar as nódoase cortejar por inteiroo proseio dos vaqueirosas lavadeiras em cantiga. Era assim desde meninoque o pente da memórianos assenta como herançao fermento dos ermos.

2. As Tocantinas.indd 61 06/10/2014 03:18:32

Page 62: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

62

Célio Pedreira

Exército de só Capaz de afiar os olhosnos vergeis da almapara aprisionar o tempodeixar-se sem pulso. Derrotar a chaveque abre os geraese não calcar caminhoquebrar-se em um.

2. As Tocantinas.indd 62 06/10/2014 03:18:32

Page 63: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

63

Parto de ano Quietude escorrendoe a madrugada do primeiro diarepousando um solzinho em conservaque a gente até parece todo. Assim parimos um anocom cheiro novo de luzacordando nossos breus.

2. As Tocantinas.indd 63 06/10/2014 03:18:32

Page 64: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

64

Célio Pedreira

De noites e nataisAlém das estrelasdos orientesé possível tingiruma colheita de luarpara estas noitesdos sósque somos. Rogar de prontopelos vão fechadosde veias abertasda gente que espreitaum amanhecer.Desencardir o voarruir limitesalcançando no escuroos próprios olhosde nossos amargos.Quando enfimsentir planger o dentrodizer em festaque vamos plantara muda de sonhooutra vez.

2. As Tocantinas.indd 64 06/10/2014 03:18:32

Page 65: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

65

Inversado A sanha do versonão cessa o bulircom seus dedos em violana cumbuca dos inversos. Depois assuntacom silencia de jiae sem mesuraverte no sibilinouma gaitada rasapara abreviar o rumo.

2. As Tocantinas.indd 65 06/10/2014 03:18:33

Page 66: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

66

Célio Pedreira

Um dois mil e cinco Ventando umas rasteirasno quintal das andorinhas em febree na cara dos equilibristas. No colo do dia o caos e a callambendo os lutosaquecendo pulsos escusoscom as desusadas brasasdas primeiras manhãs. Alguém vem avisar correndouma fumacinha após o túnele a gente levanta os olhosde esguelha.

2. As Tocantinas.indd 66 06/10/2014 03:18:33

Page 67: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

67

Cinema mudo Trazia na dianteiraa vida cruajuntada em rascunhosque nem deu aviarmas seguia em andar. Escuro é gumecada um em sua películadepois outroscomo herança de velaa refazer frestas. Um espasmo aqui alia estocar a bocacom fortificantes secretosde abrir risosno precisar ircomo nos fins.

2. As Tocantinas.indd 67 06/10/2014 03:18:33

Page 68: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

68

Célio Pedreira

Entrevista como senhor menino Sabia a ocupação dos grãosno estreito das ampulhetasem tempo de desmedir diasde cantiga entoadasempre uma oitava acima. Experimentava vérticesde madurar as madrugadaspara depois aviar delicados arpejosno chão de cada novo e único andar. Evoluia-me com seu silêncio raiza dançar descabendo o corpode apurar os traços da aurora.

2. As Tocantinas.indd 68 06/10/2014 03:18:33

Page 69: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

69

Beiradeiro Rio de mimque alinhava redespara apanhar faz-de-conta

2. As Tocantinas.indd 69 06/10/2014 03:18:33

Page 70: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

70

Célio Pedreira

Quem viaja só Léguas tragando o caminhoe a noite a jorrarum zunzinho bom (...) Uma hastezinha de luaalinhava o cianoem pano de conluio (...) O lugar de chegarnunca aparecenem carece.

2. As Tocantinas.indd 70 06/10/2014 03:18:33

Page 71: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

71

Breviário

Para verso de espiarcarece um pétaquie outro pétala.

2. As Tocantinas.indd 71 06/10/2014 03:18:33

Page 72: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

72

Célio Pedreira

A primeira vezque sonhou

Deu de alcançar as cumeeirasolhos em ramascuidadosamente postasno íngreme das horas.

Ilusão vastadelicada rendade tecer asas.

Pulsavam chãose a raizrompia o gestomas não alcançava palavra.

Janela e longe eram iguaisaparavam alvositinerárioscomo sorte de quem trilhao nascente imaginárioda alma tenra.

2. As Tocantinas.indd 72 06/10/2014 03:18:33

Page 73: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

73

Assentamento

A bandeira no ranchoaprende um sertãoalém das geraesna lida coletiva das candeiasensinando que o juntoclareia maisque é diverso o caminhoe o verso é colher.

A mão no úberetateia o umordenha manhãs de muitosonde a teimosianão se mede em alqueiresmas em sonhos.

2. As Tocantinas.indd 73 06/10/2014 03:18:33

Page 74: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

74

Célio Pedreira

Pinguela

Antes da genteera a curva do rio cuidando as lonjuras. E a gentesimples andorinhaspassíveis de azul na tarde veloz. Bulindo em correntezas como fosse hábeis sem rumoou esquecidos dele. Ainda dissipa o dia e seu aroma desenterra-meem conta-gotasnas inumeráveis utopiasque descuidei nosso rio.

2. As Tocantinas.indd 74 06/10/2014 03:18:33

Page 75: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

75

Cerrado queimado

As cinzasardem a manhã.

Do inversofaz-se o solcomo noitesem madrugada.

Gememas raízespor suas sementes.

Órfão um vento sem norteremove o lutopara não dizermorrer.

2. As Tocantinas.indd 75 06/10/2014 03:18:33

Page 76: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

76

Célio Pedreira

Volteado

Peguei a ser novopor conta dum cajueirinho velhoque deu de por flor e castanhanesses tempos danados.

2. As Tocantinas.indd 76 06/10/2014 03:18:33

Page 77: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

77

Enxurrada

Venho admitir a vidapelos flancosconfidenciar-lhe os bueirosrenascer em grotasjorros explícitosmisturandojardins e monturosdesobedecendo o vastopara juntarestreitar com forçaas águas que descabemnossas recônditas tempestades

2. As Tocantinas.indd 77 06/10/2014 03:18:33

Page 78: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

78

Célio Pedreira

Lenha É hora como antesde recolher escuroantes que trevainventar fresta. Acordar arvoredona ausência de seivaensina ranger. Sorte de brasa é arderdizer um ai bem longoe resistir rubraentre as cinzas. Vem aroeiraque o machado cegaé no cerne da gente.

2. As Tocantinas.indd 78 06/10/2014 03:18:33

Page 79: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

79

Elementares Onde espera luaespiga poesia. Onde floro amor denuncia. Nós passarinhosno ninho. Onde solidãonem.

2. As Tocantinas.indd 79 06/10/2014 03:18:33

Page 80: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

80

Célio Pedreira

Oficinade ancião Ampara a noitepara ocultar chamaalém do olharpois é muito arriscado durar-se.

2. As Tocantinas.indd 80 06/10/2014 03:18:33

Page 81: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

81

Carta

Amigoabrigo-me ao som das cigarraspois o jugo do tempo escapaaos olhos de quem cisma.

A saudade no interiormedra um lume mornopossui latênciae as luas carecem dela.

Mas venho lembrardo cisco no olhoque a casa dos anosinsiste em passadomudando as esquinasonde a gente vigiavao primeiro de maionós e os panfletosos gritos são lágrimas ainda.

Um abraço, amigo.

2. As Tocantinas.indd 81 06/10/2014 03:18:33

Page 82: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

82

Célio Pedreira

Cantiga isca Convém desabotoaruma cantiga leveque acorda risocomo pendão de arrozdedicado em passarinhofazível com transparente. Quisera alinhavaruma cantiga docepara morar seus olhose aviar com lua crescenteuma rede delicadade pescar manhãs.

2. As Tocantinas.indd 82 06/10/2014 03:18:33

Page 83: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

83

O vendedorde ribeiras Atende ao benefício das esperasquem lança seu aproximar em vagarocasião de esticar a vidaou estar disponível para profundo. E pouca largura bastaquando o escasso é tudoatraído para as águasrumo assim sem normatrago para seu curso. A regra do sertão de ribeira é diversaléguas engolem as margense dentro delas alegrias mágicasmeninos se descobrindo espécies canoas carecendo remar. Tudo lhe vendo jáse for de gostoatender aos outonosde nossos cemitérios submersos.

2. As Tocantinas.indd 83 06/10/2014 03:18:33

Page 84: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

84

Célio Pedreira

Improvisoem sol maior O verbo descabe a línguacada sulco canta-se sócomo necessária luzde inventar e crerque além do solo brilho do olhar éfeito de único.

2. As Tocantinas.indd 84 06/10/2014 03:18:33

Page 85: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

85

Olhar deCega-machado Provindo de ermosem arrogância algumaaté sem visitar vergeldesperta a solidão do cerradonum louvor inevitável de alegriaem cor igual flor e tintopois que feito ásperoé belo.

2. As Tocantinas.indd 85 06/10/2014 03:18:33

Page 86: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

86

Célio Pedreira

Zinabre Eram felizes para sempre não fosse o oficio de manter no prumoa lua no céu como convém aos pares. Do fio tensoque sustenta os olhos no ermonem se deram conta dos nósdiscretos e cegosrepousando seus laçosnas espirais.

2. As Tocantinas.indd 86 06/10/2014 03:18:33

Page 87: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

87

Setembro

Os pés da serra inquietam-se.riscando a noite a quente cantoria no capim secoestalidos charrosrasteiroschamas inteirasde olhos vendados dançam o escuroqualquer pé é parqualquer umaou duas todas serão cinzas nos olhos píricos escalando as escarpasda serra do carmo.

2. As Tocantinas.indd 87 06/10/2014 03:18:33

Page 88: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

88

Célio Pedreira

Canoeiro Um olharfica na margem do rio.Outro olhar vaialcançar a possibilidadede semear estrelasacordar horizontes.

2. As Tocantinas.indd 88 06/10/2014 03:18:33

Page 89: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

89

O livro que a gente começou a ler

Deixava tão estreita a noiteque atar a rede nas estrelasnem. Assentei com o tempo na pedrae ficamos. Dos olhos escorriam tantos segredosque era necessário buscar luaralém. Ardiam fronteiras entre nóse seguimos. Vigiava seus sonhoscomo possível fosse velar e vivertambém.

2. As Tocantinas.indd 89 06/10/2014 03:18:33

Page 90: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

90

Célio Pedreira

Malabares As mãos dizem sim nãoe vão em vãosensinando sementesno itinerário dos sonhos. Frutos sempre de vez verdesse equilibram feito iguaisem rotas diferentes. A vida inquieta-seiça e singrasangra e estancabranca e grisboldo e hortelãfebril e sãseguindo os olhoscomo malabaresaos pares.

2. As Tocantinas.indd 90 06/10/2014 03:18:33

Page 91: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

91

O Movimentodas águas Gosto de sementeescorrendo madrugadadessas bem morenasbordando um silêncioem linha quase transparentecomo aquelas de tecer horizontes. Semente e labutainvadem o dia cedopara plantar tambémonde ermoonde ausência. E nas contendasapenas acordamarautos monarcaspara decidir nãosem atinar que nos multiplicamcomo fontespara saciar as águas de março.

2. As Tocantinas.indd 91 06/10/2014 03:18:33

Page 92: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

92

Célio Pedreira

Chicos

Percorrem rapidamente as ruas encontram-nos quase sempre nas esquinas. Rigor de viver.

Somos frágeis demais para esconder reconhecem-nos pelos olhos.

Somos pela nossa voz outra seria latir e já nos bastam os ardis interiores.

Quem mais nos respeitanossa lágrimaa única carícia necessária primeira e derradeiraa cada horizonte abatido.

2. As Tocantinas.indd 92 06/10/2014 03:18:33

Page 93: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

93

Vida acesaao sol

Avisa ao ávidoque está rompendoum rumor de sole vem do ermoaté a rama da melancia. Trilha de trópicoacorda as telhase zanga os lagartosdesde o sertãoaos olhos do mormaço. Pau na porteiradescansa abertoque o silêncio é vazioentre o mioloe o tenro da raiz. Assiste em floro revolucionário ipê.

2. As Tocantinas.indd 93 06/10/2014 03:18:33

Page 94: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

94

Célio Pedreira

Serventias

Aboio serve paraalargar a tardezinhatanger o horizontelevantar a luaengolir o vaqueiroe juntar o gado.

2. As Tocantinas.indd 94 06/10/2014 03:18:33

Page 95: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

95

Pé de manga

Fiel aos quintaisquanto mais sem donomais anda igualna boca dos homense dos porcos.

Oásis soberanono solapinolugar de arvorar-se.

Verde praticávelno estioou festejando chuva.

Paciência índianesses trópicos de machado.

2. As Tocantinas.indd 95 06/10/2014 03:18:33

Page 96: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

96

Célio Pedreira

Escavações

Ermo sertãona sombra da taperaonde adormece o tempo. Um graveto agudovai cavoucando a carneencontra um gemidoquase um caminhoque dá no lajedo d´alma. Não é permitido romperé necessário quebraro jejum dadivosoda saudadeque encerra intactasua vozolharafetoausentes.

2. As Tocantinas.indd 96 06/10/2014 03:18:33

Page 97: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

97

O homem quenão desejava

Enquanto a estrada voltavaespreitava-lhe os vãos semeando vaziose esperava ainda assim uma manhã vazia de sinosestreita de sol para nunca sair do lugar.Um barulho longenem carecia esforçopara ouvir o horizonte de pedras cegas e azuis.Arriscava mapas imagináriosapagava-os rapidamentepara não sofrer de itinerários.

Interino o dia inteirodesafiava a noite com a saudadedo lugar ausente.

2. As Tocantinas.indd 97 06/10/2014 03:18:33

Page 98: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

98

Célio Pedreira

Ruazinha

Afiando quinasem canela alheiaenfeita lodonos estreitos do bueirosenão desanda tempona memória dos murosque gasta meninosnas biqueiras em florquando desabrocham chuvaque medram comadresnos alpendres da tardeque espia na calçadao cepo de sassafrásgovernando tempo e pedradescabendo os homens.

2. As Tocantinas.indd 98 06/10/2014 03:18:33

Page 99: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

99

Cantigade trabalho

Na memória da pedra cangao labirinto de terra fezirmãos na dor.

No latifúndio a terra sangraverte esperança o suor na tezcantos de dor.

2. As Tocantinas.indd 99 06/10/2014 03:18:33

Page 100: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

100

Célio Pedreira

Ensaio paraum dia parvo

No fundo do diaum lasso me dorme catedralde fazer brotarsombra de pequizeirocom visgo de índiae destino de mudez cavada. Dia núisca de nóem peito estreito. Esse tempo que verga o diatem por viço alargar gritosaté sumir em seivamedrando os poros da gente.

2. As Tocantinas.indd 100 06/10/2014 03:18:33

Page 101: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

101

Rainha liberdade O céu hoje vemesticando um breu absolutobom de ser breve. Tentam nos dedos os vãostateando velhas tramelastrancas adormecidasonde qualquer passoé par do caçoar de luz. Penso o homempreso de pensarcomo exilar a liberdadedos olhos do jovemque deseja ver do chãopé de esperança acender.

2. As Tocantinas.indd 101 06/10/2014 03:18:33

Page 102: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

102

Célio Pedreira

Receita de mãe

Pegue paciência afeto e arco-íris uma pitada de maria misture vigília porções de só e miolo de alma a gosto. Unte com luar e leve ao nascente em fogo brando deixe amanhecer todo dia.

2. As Tocantinas.indd 102 06/10/2014 03:18:33

Page 103: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

103

Memorial

Parece calmaria e veste vendaval contragolpe em fogo brando faz-se delicado. Não carece mas entende o sal das horas e nos abraça docemente para sempre.

2. As Tocantinas.indd 103 06/10/2014 03:18:33

Page 104: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

104

Célio Pedreira

Ciênciade amigos O dia acendeu suas súplicasnas terras de cada rogarfeito um plural que juntapara ser só luz de singular. As redes tecidas de afeto embalam novo esperançarcomo o olhar dos amigosdispondo festas no altar. Carece-nos enveredar juntospara a custódia dos sonhosque o dia mandou dizer - pode andar!

2. As Tocantinas.indd 104 06/10/2014 03:18:33

Page 105: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

105

Dicionáriode cismas

Um acomodar de beiras e sol a dilatar-me. Recebo o aviso das canoaspara desaguar o peitomais qualparece espesso. Um atado na voze o vasto acometendo-me. Assim vertem os dias aquidensos de cismase um verdinho em recatoconvidando para a teimosiade ser plantadornas tarefas d´alma.

2. As Tocantinas.indd 105 06/10/2014 03:18:33

Page 106: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

106

Célio Pedreira

Rapadura

Essas mãos atando linhas de horizontes sossegam um tecer de dores idaspara indagar doces esperas. A gente segue plantando moça roça pois o necessário pão é sempre recente quando a terra é para todos semente como a garapa de companheiros que se funde ao fogo das lutas e será torrão dividido na boca de amanhãs.

2. As Tocantinas.indd 106 06/10/2014 03:18:33

Page 107: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

107

Infinitivo pleno

Entre o sertão e o perto a procura converge um aberto horizonte desarmando os olhos de um apreciar sem bordas a enclausurar o longe.

2. As Tocantinas.indd 107 06/10/2014 03:18:33

Page 108: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

108

Célio Pedreira

Bilhete de adeus Queridanão descuide as trancas d’almanem do colo os segredostodo homemé no fundo um regresso.

2. As Tocantinas.indd 108 06/10/2014 03:18:33

Page 109: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

109

Deslabor Para quem trabalha, bom descanso.Para quem férias, bom descalço.

2. As Tocantinas.indd 109 06/10/2014 03:18:33

Page 110: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

110

Célio Pedreira

Vaqueirode estrelas Ouvi dos amigosque um homem descabia-sede tanta estradaque bebido em forçatambém sofriade poesia. Disseram e viramque capinava manhãse fazia sementesonde havia caminhostravoso como caju novodoce feito parto. O soube adianteabrindo estrelas ao solpara desejara noite passando clarae a gente tatearonde brota o dia.

2. As Tocantinas.indd 110 06/10/2014 03:18:33

Page 111: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

111

De aprender morrer

À bica do distante assiste feito arado quieto como a contemplar capim como nem necessário ser. O sabor do calado aquele turvar de conversa confiava-lhe horas severas com delicadeza de andor. Era sempre assim ao sair de casa a cancela misturando os rumos os rumos se enlaçando no andar desmerecendo as normas desviando o olhar (...)

2. As Tocantinas.indd 111 06/10/2014 03:18:33

Page 112: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

112

Célio Pedreira

A resposta

Ocorre silêncio nas coisas que nada parecem serdaí fico observando onde elas latem onde elas mordem.

Na maioria das vezes as coisas só dormemteimo em ficar vigiando para ver como acordam.Disso respondem escritos.

2. As Tocantinas.indd 112 06/10/2014 03:18:33

Page 113: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

113

De um tempo onde serão necessárias as cinzas

Ressoa cá dentro um aradorevolvendo-mequase silênciomeio aço.

Segue um rubor de sementeslatejando-mequase abrigomeio pólvora

Só desejo agora uma tocaiaacuando-mequase alçapãomeio rebento.

Tento desobedecer aos sonhosmas continuam ávidos.

2. As Tocantinas.indd 113 06/10/2014 03:18:33

Page 114: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

114

Célio Pedreira

Cajuí Acende um sol no cerradoo olho é um aradode plantar você.

Belo badoqueiro encurvadoo olho cega-machadode enxergar você.

Querode roxo-ipê-amareloenfeitar você.

Nem é melhor do que ninguémé daquidoce cajuí.

2. As Tocantinas.indd 114 06/10/2014 03:18:33

Page 115: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

115

Lual Luar quando cabe no olhara gente se desabotoa em travessiae deixa a saudade aconselhar.

2. As Tocantinas.indd 115 06/10/2014 03:18:33

Page 116: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

116

Célio Pedreira

Frações

Bailam as estaçõesnos rosáriosconta-a-contae as digitais do tempo são maisde quem perdeu a conta.

Quem ficounão passasó escorrepelo pêndulodo relógio.

Bate na portapode entrarficarbalançandonas horas.

2. As Tocantinas.indd 116 06/10/2014 03:18:33

Page 117: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

As tocantinas

117

Raiz de quintal pareço imitando inérciadecifrando pegadasreparando de forapelos lados de dentroe bebendo mijo de menino.

2. As Tocantinas.indd 117 06/10/2014 03:18:33

Page 118: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

118

Célio Pedreira

Proa

Em cada remansooutra cantigade lua prateando areiaa noite flutua nas águasé cheia ou meia minguante.

Saudade vaie volta de esporãodói.

A dor de quem deixa a beira do rioé voltar só.

2. As Tocantinas.indd 118 06/10/2014 03:18:33

Page 119: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

119

CONTATOS COM O AUTOR:

Raimundo Célio PedreiraE-mail: [email protected]

Endereço: Rua Mizael Pereira, 2001Centro – Porto Nacional – TO

CEP – 77.500-000

2. As Tocantinas.indd 119 06/10/2014 03:18:33

Page 120: 2. As Tocantinas.indd 1 06/10/2014 03:18:31repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/1402/2/As... · 2019. 10. 3. · mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias”

2. As Tocantinas.indd 120 06/10/2014 03:18:33