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As tocantinas
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Célio Pedreira
Palmas-TO2014
As tocantinas
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ReitorMárcio Antônio da Silveira
Vice-reitoraIsabel Cristina Auler Pereira
Pró-reitor de Pesquisa e pós-graduação
Waldecy Rodrigues Diretora de Divulgação Científica
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Conselho EditorialAirton Cardoso Cançado (Presidente)
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Projeto Gráfico & ImpressãoICQ Editora Gráfica e Pré-Impressão Ltda.
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Projeto original da obraDiogo Bonadiman Goltara
Revisão de TextosNeusa Kruger, Carolina Souza Pedreira e Célia Regina Regis
Foto da CapaSinos da Igreja de Nossa Senhora do Carmo
por Carolina PedreiraImpresso no Brasil
Printed in Brazil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Tocantins - SISBIB/UFT
Pedreira, Raimundo Célio.As Tocantinas / Raimundo Célio Pedreira. – Palmas, TO: Universidade Federal do
Tocantins / EDUFT, 2014.119 p.
ISBN 978-85-63526-57-1Coleção Literatura Tocantinense, v. 1
1. Literatura Brasileira. 2. Tocantins. 3. Poesia. I. Título. CDD B869.8117
Copyright © 2014 por Raimundo Célio PedreiraTODOS OS DIREITOS RESERVADOS – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio deste documento é autorizado
desde que citada a fonte. A violação dos direitos do autor (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
P371t
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vii
ParaDomingas de Oliveira Negre
Dona Domingas,
Quem faz minha almasão as boleiras do Carmo
pois sabem um mundocom tapioca de mandioca.
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Sumário
Prólogo xv
Apresentação xvii
Arrancho 19
Tapioca na Gamela 20
Chá de Suficiência 21
Só o Tronco 22
Desejares 23
Absolutamente Abóbora 24
Idílio 25
Principiar 26
Meninos na Ponta da Rua 27
Grota das Pombinhas 28
Cepo de Madeira ao Vivo 29
Serra do Carmo 30
Cá 31
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x
Célio Pedreira
In Situ 32
Precisão 33
Calendário de Luas 34
Fonte das Lavadeiras 35
Bulandeira 36
Faculdade das Inclinações 37
Loca 38
Como nunca Entardecido 39
Setenta vezes sete 40
Meio dia 41
Um cajueiro 42
Saga do madurecer 43
Dona Menina 44
Goiaba no Quintal Alheio 45
O sorriso da Pedra 46
Hábil Bocado 47
Apontamento Escasso 48
Lavradura 49
Manual portátil de estreitar 50
Malícias 51
Coseres 52
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As tocantinas
xi
Versão de Otimismo 53
Quem vê querer 54
Estado de estar 55
Reza do Tempo atrás 56
Destampado 57
Acordo 58
Rede de pescar na varanda 59
Jazzmin 60
Inventário de indícios 61
Exército de só 62
Parto de ano 63
De Noites e Natais 64
Inversado 65
Um dois mil e cinco 66
Cinema mudo 67
Entrevista com o senhor menino 68
Beiradeiro 69
Quem viaja só 70
Breviário 71
A primeira vez que sonhou 72
Assentamento 73
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xii
Célio Pedreira
Pinguela 74
Cerrado queimado 75
Volteado 76
Enxurrada 77
Lenha 78
Elementares 79
Oficina de ancião 80
Carta 81
Cantiga isca 82
O vendedor de ribeiras 83
Improviso em sol maior 84
Olhar de Cega-machado 85
Zinabre 86
Setembro 87
Canoeiro 88
O livro que a gente começou a ler 89
Malabares 90
O Movimento das Águas 91
Chicos 92
Vida acesa ao Sol 93
Serventias 94
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As tocantinas
xiii
Pé de manga 95
Escavações 96
O homem que não desejava 97
Ruazinha 98
Cantiga de Trabalho 99
Ensaio para um dia parvo 100
Rainha Liberdade 101
Receita de Mãe 102
Memorial 103
Ciência de Amigos 104
Dicionário de cismas 105
Rapadura 106
Infinitivo Pleno 107
Bilhete de Adeus 108
Deslabor 109
Vaqueiro de Estrelas 110
De aprender morrer 111
A Resposta 112
De um tempo onde serão necessárias as cinzas 113
Cajuí 114
Lual 115
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xiv
Célio Pedreira
Frações 116
Raiz de quintal 117
Proa 118
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xv
PRÓLOGO
Explorar com sensibilidade os limites da língua
“A poesia é o impossível ao alcance da voz”. Com esse verso incluí num pequeno volume publi-cado há alguns anos, uma reflexão sobre o ato de escrever poesia. Célio Pedreira me oferece sistemati-camente desde o Brasil profundo o resultado desse árduo exercício de explorar os limites da língua. Azar de quem não conhece a língua portuguesa. Essa lín-gua única e diversa, falada nos cinco continentes, se contarmos Miami..., insuficientemente reconhecida entre as línguas cultas. Saboreada, reinventada aqui, no falar diário, no comércio de sonhos entre as pes-soas para oferecer suas paixões ou desenganos...
“As Tocantinas” dialogam evidentemente com a poesia de Manoel de Barros, o bruxo do Pan-tanal. Mas, a diferença entre esses dois poetas das águas, além do tempo percorrido nos labirintos da loucura que por igual os possui, é que Manoel se converteu em árvore à margem daquelas águas que não aceitam contorno – ali não se define onde termina o fluxo líquido, onde a lama fecunda, onde a pedra rara – para oferecer poemas como frutas frescas de sabores inéditos. Célio é poeta de outras
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Célio Pedreira
águas. Essas que percorrem o dorso cristalino dos planaltos e sabem mais a areias que ao barro do Pantanal, mais à esmeralda líquida que usamos como espelho de nossas aventuras e desventuras. Ele nos oferece a vertigem dos versos imprevisíveis.
Aqui lembro a frase de Oscar Niemeyer: “Na vida o que vale é o espanto”. A poesia de Célio Pe-dreira, a exemplo do seu inspirador, substantiva ver-bos, age sobre os objetos que descreve, alterando-lhes a natureza e a sintaxe. Cria uma sintaxe nova. E leve. Os rebocos escalavrados dos casarões coloniais do Porto observam... e capturam a luz fugidia da tar-de num verso impossível. A seu modo, Célio traba-lha para alargar os limites de expressão da língua. Essa será talvez a herança mais duradoura do poeta.
O mestre Alceu Amoroso Lima – Tristão de Atha-íde – numa página escrita no último quartel do século XX definiu os poetas em duas categorias: os poetas so-litários e os poetas solidários. Os que buscam a poesia dentro de si mesmos, a partir da experiência individu-al e aqueles que buscam a poesia no fragor dos confli-tos humanos. Ambos valiosos, ambos indispensáveis para a literatura. Eu situaria Célio Pedreira numa ter-ceira categoria: a dos que buscam – e encontram – a poesia no exercício temerário da língua. Sem deixar de identificar-se com as categorias do mestre. A litera-tura brasileira necessita desse exercício.
Brasília, outono de 2014.
Pedro Tierra
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Apresentação
As tocantinas reunem cem poemas es-critos nos últimos quinze anos. É mais um capítulo da poesia do autor, que pu-
blicou, em 2002, a primeira obra poética. Essa nova coleção de poemas traz a quietude de uma chaleira sobre o fogão à lenha esquentando água para o café. “Arrancho”, poema que inaugura o livro, marca um tom que perpassa toda a obra, o de um otimismo brejeiro, quase triste, que aprecia o invisível e encon-tra no prosaico matéria de poesia. O tempo diurno, emaranhado de afazeres comuns como cozer, ouvir um passarinho distante, amanhecer ou parir, nos convida a trazer o dia para dentro e levar a vida para fora. São nesses poemas solares, como “Meninos na Ponta da Rua”, que encontramos velhos amigos e ob-servadores silenciosos: “Rebocos assistem a rua/sovi-nando cores/e tontos de luz”.
Os poemas de As tocantinas falam sobre a gente de um lugar, sobre paisagens suspensas no tempo de antes e sobre as rachaduras da alma. As fotografias imaginárias são tiradas nos interiores do mapa e do
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Célio Pedreira
homem. A obra segue como o curso de um rio ex-tinto e nela aprendemos que vigiar o entardecer ver-melho é a sina do canoeiro. O sertão provido de pri-mavera que aparece em “Goiaba No Quintal Alheiro”, “Malícias” e “Jazzmin” contrasta com as agruras de um cerrado seco no vento e no intento de ser huma-no: “Vem aroeira/que o machado cega/é no cerne da gente”. O luar abriga uma série de poemas azuis, quando o dia, partindo, começa a gemer e inventa de ir buscar sorriso em pedra. Em “Escavações”, são os ossos que encontram a memória dilapidada pela au-sência que insiste em sobreviver ao fogo da estiagem. Na boca da noite, os versos-breu contam sobre o va-queiro tangendo boi e outros cantos de dor. Avesso ao ávido, lento, o luto atua em “Aprender a morrer” e “De Um Tempo Onde Serão Necessárias As Cinzas”. Mas, a lamparina sobre a mesa e as contas do rosário acendem a madrugada até desembocar nas manhãs. Uma alegria antiga vem passear em “Receita De Mãe” e inscreve traços de esperança em “Rapadura”: “Es-sas mãos atando linhas de horizontes/sossegam um tecer de dores idas/para indagar doces esperas”.
Escrita sob a sombra de um cajueiro, As To-cantinas compõe um inventário de imagens sobre a paciência. São poemas para ouvir o lamento das margens submersas do Rio Tocantins, por isso, tam-bém, são poemas sobre onde as coisas dormem, talvez, “para ver como acordam”.
Carolina Pedreira
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Arrancho
Dia que a gente precisa ser ipueiralavar as minúciasdepor as margensesconjurar estreitos. Dia que precisa vir sem divulgarperder tempo em nadaesbarrar nos derradeirosencontrar nós. Dia de bestagensalargar os efeitosmalinar nas gasturasjudiar sem doerprecisa.
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Tapioca na gamela
Eita que esse destino de furupaguarnece a brasa e o tiçãoo forno de assar o boloalvura que ama a tapioca na gamelaamassando a vida com as mãospois a festa é certaquando certo o pão.
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Chá de suficiência
Recolha uma beira de córregodeixe descansar a sombra para curtir.
Tome um punhado de caminhosdesses bem indiferentese põe a coar em almas de algodão.
Apanhe dois brejos alegrese uma chávena de boca-de-noitepara amaciar lajedos.
Ao cerrado brancojunte tudo num vão de luare deixe descansaraté o amanhecer.
Sorva em jejum.
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Só o tronco
Por haver encerrado a forçadeixa as primaveras assimperpetuadas em anéiscomo penhor de suas nascençase a crença que pode prosseguircomo silêncio sem flores.
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Desejares
Quando o sol visita o silêncio do meio-diaas redes gemem nos armadoresnum quarto de penumbras e frestas agudaso sertão embala seus filhos ausentes. Geografia de rios enterrados pulsasob os quintais baldios de esperança mesmoque continuam saciando mangueiraspara manter acesa a sombra mornados filhos que conservam nos licores e aguardentes. O pé de cega-machado tudo sabe e vêque prumo é invenção de tortoáspero é ofício de resistêncianinguém lança suas sementesmas nascem e continuam cerrado nos filhos.
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AbsolutamenteAbóbora
Valentia tenrarasteira e brandabordando o cerradoa renda avançabarganha com o roçadocativa monturosusa e desusa o solsustentando doceno sal.
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Idílio Estava andorinha cedoe um dia com feição de vindojá confessava aurora. Lá pelos gerais daquium gris obtuso vadiandoe devagarvi seu olho virestrondo quieto. Ventinho ligeirofez um azul animosomas choveu mansoassim de manga. Pingos acordando a terranem escorremsó chupam seus limites. Saltei no estioe fiquei gastandoum cheiro novo de chão parido.
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Principiar
Para uma manhã aquinão cabe dissimularou é verdadeou não é para sempre.
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Meninos naponta da rua
Solzim rudee nos baldioso mato rindotrepando adobesdesejando o oitão. Tarde fazedeira de nadae um céu caladocunhando o dia nos quintais. Rebocos assistem a ruasovinando corese tontos de luz. O cortejo ocultodas formigas de fogodesenfiando a terra. A vista alcança perto do ermoum rioe os meninos vão.
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Grota daspombinhas
Caminho de grotamaioria é caladoremói terra de quintalaflora na rua quando quere vai rezando no rumo do rio. Caçoada de grota é ladeirafiapo d’água na pedramargem capilarnem fartanem sovinasó passarinho. A grota das pombinhas hoje lamenta cimento agoniza lodo secoou empresta a tarde para as larvascomo suspirar de nada.
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Cepo de madeiraao vivo
Transversal silêncioas raízes de aros meninos de plástico.
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Serra do Carmo
Um céu de tanta belezanão cabe dentro de um luarque vai brotar hojena serra do carmo.
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Cá
Enquanto houver silênciohaverá poesia e gente cavoucando o dia.
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In situ Fez alentecer o andarpara somente residir no olharaquelas celebrações de âmagoessas que vicejam sós e não findam. Como os lados permanecem chamasnecessito acreditar em vérticese pontos de interrogar-me duramindulto de quem sinistra. O lugar atende até um amplomercê dele me adejodesignativo de sertão.
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Precisão
Esse luar de hojefaz um silêncio tão vastoque acredito em vida sem verbo.
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Calendáriode luas Espalhe o dia na distância dos vaziosse um grão vingareis a profundeza. Foi assim que surdiua vocação do voare promover reparaçãonas linhasde horizonte escasso. Tanto tornouque fez decotaro que fosse longitudepara estarparto.
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Fonte daslavadeiras Água nova passaaliciando as pedrasno leito de clarear as almas. Acorremos em lavadeirasinvestigando as máculascom mãos causticasespiando alvura. Memória morenamulher serenaque quara nossos porõese estende a vida ao ventodesaconselhando as sombras. Tábua de baterno lombo de nossas nódoasem fonte lavar.
O que estanca incomoda.
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Bulandeira
O braçorompe a rodaa rodavira o raloo ralona raiz da fomefarinha.
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Faculdadedas inclinações O tempo ajustado para os quintais é suposto entre calmo e manhãdesses que lambem em solque estimam alvura. Foi aqui que eles colocaram a gabarora os pés de adversoou sombras do inversocomo imitar de nascercom nossos alheios.
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Loca
Das dores que tragoa mais de dentroé a mais doce e serenaé a dor que me ordenadizer que sem rioeu não me refugio em profundeza.
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Como nuncaentardecido Observe aquela rendatecida do chão ao ocidentecom matiz de anos. Acabamos de fazer gritos nelae prendemos com cuidadocolhemos os prontosoutros trançamos com força. A tarde disse que não tardavae a gente deitou à tarde na mornurapara abrasar essa noitinhae fazer resultar satisfaçãoessas de iguarias.
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Setenta vezes sete Incumbe aqueles velhos interiores com o recorrer das manhãs. os caminhos de apurosembaraços de cipóos enredos sem ingressoincumbe de manhãs. Reaver os árduos o atinar dos aços as fornalhas desprovidas incumbe de manhãs. Para a astúcia das corredeiras deixa o rio remir seus leitos e os portos incumbe de manhãs
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Meio dia
Melhor trilha de morrêncianessa beira de rioé estar-se redede quieto balançar.
Os calangos no quintala rala sombra do pé de mamonaimóveis a pulsar a terra.
A vida escondenuma pausa mornabreve e boa.
Silêncio melhor para o nadafeito querer ausentee a cidade dizendo um solapino.
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Um cajueiro
Podemos começar a recontar o tempopela sombra das árvores em nossos sóis.
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Saga do madurecer Jeito estreitoesse de rejuntar os olhos no peitopara abarcar inteiroo que foi longeo que for remateo que faz acasoe agora vemser prudente manhã.
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Dona Menina Urge uma cantigade deitar com diligência nos depositários da feição. Abotoar uns ornamentosesses de dispensar sacramentode sustentar estado de flor. Dispor zelo mesurar-seem hóstia de celebrar ardor. Então propenso ao azul oferecer-lhe asas.
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Goiaba noquintal alheio
Derruba muroso estado de meninosdeambula vergasequilibra na pontamais arriscada e mais doce.
Tem uma esquecida láde vez que grita (...)- Me vem!
- Ouviu?É a voz do marimbondosujeito com razão de flore chegou primeiro no láonde a fruta ferroa.
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O sorriso da pedra Calcula um caminho angular naquela linha ninho de pousar os passos guarnecer os bambose olhando em sócobiça o preciso. Fica a observar atentamente o bandoriscando rasantes astutosenviando assobios em vem. E vai afoitar-se nos rudimentos de sustentaralém das linhas que esticam o ninhoquando desamparam as asase repentinamente o chãoa pedrao riso decrescentede principiar andar.
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Hábil bocado Acometido de cedinhoapanho arestas no brejo perto de casapara a autoria das lascasalgumas cruasoutras desabridas. Vem congregar um cheiro de vagarescorrer esboçosdiz-se assim desossarressorver vincose aliviar nossos inertes.
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Célio Pedreira
Apontamentoescasso Chega esta tarde como vírgula prenheinclinada em memorialpara alastrar sua faltacomo necessária noite. Diminutivo saiopara não aluir na aptidão das lágrimas ou entro enfermo no versopara abrir outro ladoque esse clamor não cabe.
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Lavradura O encargo da palavratem me deitado vesgos.Onde bocaencontro ermosonde mãospedrae quanto mais me abrigomais alargoos intentosque dão no porão.
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Manual portátilde estreitar Dentro da rua havia as esquinaseram poucasquase nem regavam além da gentesoleira pedra portão. Está faltando alguémtalvez não venhae a ladeira a nos olhardeixa subir com tardelenha casca cerne. Já vamoscomo angular vivere ter que tornarcaminho cunha quina.
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Malícias
Mimosa no artifício dos ermosa semear planura nos vãosarregala-se suave e nascente. Uma maciez de espinhos a lhe guardaro que sejam ardisastúcia de flore nem sangram. No caminho das fontesequilibrando os enleioscrescem-me em bandos belosumas cantigasoutras segredos.
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Célio Pedreira
Coseres Nos retalhos abranda seu caminhoesculpindo de olhares as partesou estampa par e ímparmas perto. Dura descampados nessa feiturade alçarde enraizar até arvorar. Certo que se acodealinhava o pouco tão juntoque aprecia dizercompanheiro.
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Versão deotimismo Gostava de fincar a vida nos ocosprovando vãose quanto mais fundomais as nascentes. Principiava entranhar-selivrando os queixumessubtraindo prudênciase pudesse escaparnascia. Rogar pelo embaraçoe encontrar nódesvestir o nópara saber fundar a linhaequilibrar.
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Quem vê querer Estava comumquase tangentequando resolveu fender com a janelaseus olhos em disparate. Seu cego abandonou o nódesacreditou a cinzae fez-se abrasadocomo à toa faz.
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Estado de estar Vigio a ocupação do longetangendo-mecomo procurar encalçopara estar canoa e asasgracejando um ir. Mas essa margem resmungalonge é lugar de não estare diz querer-me para raizpessoa de valimento fundo. Segue assim cegoo longe cru do cerradoe outras corredeiras irmãsno rumo das serras de nuvenslevando remo e ventomas deixa a mira.
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Reza dotempo atrás Assim ajustando as portas do tempominha avó a esculpirfortificando com um macio generoso nas mãoscada menino e menina nos olhos. Quer dizer que todo diaé predisposto a trama dos caminhosde minha avó e dos nós. Demora o tempo de aplainar a vidamas minha avó tem tempo de temperarcom pitada de riscoos limites impossíveis dos quintais.
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Destampado Uma porção de cidreiraa remendar o passocom solenidade de luzonde me gotejo em manhã. Esperança parideiraessa que chama para pavionossos úmidos. Decorro estrumepara o indício da sementeque o passarinho aceita seralém desse quintalo dia bulido de abrir.
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Célio Pedreira
Acordo Ajusta uma manhãcom graça de comadrespara caber mais cantigae me desenvolver em cuiasde juntar alegria. Por causa do cedoo terreiro é melhorespiando um clarearque desabotoar diz. Igual será a noitinhaobtida dos saposem úmido generosoa botar horas no colopara quem velaa lua fiar orvalho.
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Rede de pescarna varanda Estava miúdonuma oração de musgocalafetando olhar nos pés do muro. Assim conluio em dosesde lugar nenhum qualquere alguma tarde. Desiscar uma rededessas bem atadasna ceva da atoicegasta ontens. Como continuava armadanem carece sersó ficar de ardilque a espera vem.
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Jazzmin Um improviso a suprimir silênciosabre subterrâneos de varandase vara no itinerário do dentroem desgoverno bom de ser. Agasalha florzinhas em arpejose a voz dos haveres brandosno colo quieto dos aromasfaz morada nos gravespendurando a tarde no tempo.
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Inventáriode indícios Decerto é pedramas com algum astúciadessas de conspirarreúnem-se cunhaspara atalhar pisaduras. Um golpe e a gentedesvira bicho de chãodeserda das cancelaspara aprumar a asaalvejar as nódoase cortejar por inteiroo proseio dos vaqueirosas lavadeiras em cantiga. Era assim desde meninoque o pente da memórianos assenta como herançao fermento dos ermos.
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Exército de só Capaz de afiar os olhosnos vergeis da almapara aprisionar o tempodeixar-se sem pulso. Derrotar a chaveque abre os geraese não calcar caminhoquebrar-se em um.
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Parto de ano Quietude escorrendoe a madrugada do primeiro diarepousando um solzinho em conservaque a gente até parece todo. Assim parimos um anocom cheiro novo de luzacordando nossos breus.
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De noites e nataisAlém das estrelasdos orientesé possível tingiruma colheita de luarpara estas noitesdos sósque somos. Rogar de prontopelos vão fechadosde veias abertasda gente que espreitaum amanhecer.Desencardir o voarruir limitesalcançando no escuroos próprios olhosde nossos amargos.Quando enfimsentir planger o dentrodizer em festaque vamos plantara muda de sonhooutra vez.
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Inversado A sanha do versonão cessa o bulircom seus dedos em violana cumbuca dos inversos. Depois assuntacom silencia de jiae sem mesuraverte no sibilinouma gaitada rasapara abreviar o rumo.
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Um dois mil e cinco Ventando umas rasteirasno quintal das andorinhas em febree na cara dos equilibristas. No colo do dia o caos e a callambendo os lutosaquecendo pulsos escusoscom as desusadas brasasdas primeiras manhãs. Alguém vem avisar correndouma fumacinha após o túnele a gente levanta os olhosde esguelha.
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Cinema mudo Trazia na dianteiraa vida cruajuntada em rascunhosque nem deu aviarmas seguia em andar. Escuro é gumecada um em sua películadepois outroscomo herança de velaa refazer frestas. Um espasmo aqui alia estocar a bocacom fortificantes secretosde abrir risosno precisar ircomo nos fins.
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Entrevista como senhor menino Sabia a ocupação dos grãosno estreito das ampulhetasem tempo de desmedir diasde cantiga entoadasempre uma oitava acima. Experimentava vérticesde madurar as madrugadaspara depois aviar delicados arpejosno chão de cada novo e único andar. Evoluia-me com seu silêncio raiza dançar descabendo o corpode apurar os traços da aurora.
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Beiradeiro Rio de mimque alinhava redespara apanhar faz-de-conta
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Quem viaja só Léguas tragando o caminhoe a noite a jorrarum zunzinho bom (...) Uma hastezinha de luaalinhava o cianoem pano de conluio (...) O lugar de chegarnunca aparecenem carece.
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Breviário
Para verso de espiarcarece um pétaquie outro pétala.
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A primeira vezque sonhou
Deu de alcançar as cumeeirasolhos em ramascuidadosamente postasno íngreme das horas.
Ilusão vastadelicada rendade tecer asas.
Pulsavam chãose a raizrompia o gestomas não alcançava palavra.
Janela e longe eram iguaisaparavam alvositinerárioscomo sorte de quem trilhao nascente imaginárioda alma tenra.
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Assentamento
A bandeira no ranchoaprende um sertãoalém das geraesna lida coletiva das candeiasensinando que o juntoclareia maisque é diverso o caminhoe o verso é colher.
A mão no úberetateia o umordenha manhãs de muitosonde a teimosianão se mede em alqueiresmas em sonhos.
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Pinguela
Antes da genteera a curva do rio cuidando as lonjuras. E a gentesimples andorinhaspassíveis de azul na tarde veloz. Bulindo em correntezas como fosse hábeis sem rumoou esquecidos dele. Ainda dissipa o dia e seu aroma desenterra-meem conta-gotasnas inumeráveis utopiasque descuidei nosso rio.
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Cerrado queimado
As cinzasardem a manhã.
Do inversofaz-se o solcomo noitesem madrugada.
Gememas raízespor suas sementes.
Órfão um vento sem norteremove o lutopara não dizermorrer.
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Volteado
Peguei a ser novopor conta dum cajueirinho velhoque deu de por flor e castanhanesses tempos danados.
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Enxurrada
Venho admitir a vidapelos flancosconfidenciar-lhe os bueirosrenascer em grotasjorros explícitosmisturandojardins e monturosdesobedecendo o vastopara juntarestreitar com forçaas águas que descabemnossas recônditas tempestades
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Lenha É hora como antesde recolher escuroantes que trevainventar fresta. Acordar arvoredona ausência de seivaensina ranger. Sorte de brasa é arderdizer um ai bem longoe resistir rubraentre as cinzas. Vem aroeiraque o machado cegaé no cerne da gente.
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Elementares Onde espera luaespiga poesia. Onde floro amor denuncia. Nós passarinhosno ninho. Onde solidãonem.
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Oficinade ancião Ampara a noitepara ocultar chamaalém do olharpois é muito arriscado durar-se.
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Carta
Amigoabrigo-me ao som das cigarraspois o jugo do tempo escapaaos olhos de quem cisma.
A saudade no interiormedra um lume mornopossui latênciae as luas carecem dela.
Mas venho lembrardo cisco no olhoque a casa dos anosinsiste em passadomudando as esquinasonde a gente vigiavao primeiro de maionós e os panfletosos gritos são lágrimas ainda.
Um abraço, amigo.
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Cantiga isca Convém desabotoaruma cantiga leveque acorda risocomo pendão de arrozdedicado em passarinhofazível com transparente. Quisera alinhavaruma cantiga docepara morar seus olhose aviar com lua crescenteuma rede delicadade pescar manhãs.
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O vendedorde ribeiras Atende ao benefício das esperasquem lança seu aproximar em vagarocasião de esticar a vidaou estar disponível para profundo. E pouca largura bastaquando o escasso é tudoatraído para as águasrumo assim sem normatrago para seu curso. A regra do sertão de ribeira é diversaléguas engolem as margense dentro delas alegrias mágicasmeninos se descobrindo espécies canoas carecendo remar. Tudo lhe vendo jáse for de gostoatender aos outonosde nossos cemitérios submersos.
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Improvisoem sol maior O verbo descabe a línguacada sulco canta-se sócomo necessária luzde inventar e crerque além do solo brilho do olhar éfeito de único.
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Olhar deCega-machado Provindo de ermosem arrogância algumaaté sem visitar vergeldesperta a solidão do cerradonum louvor inevitável de alegriaem cor igual flor e tintopois que feito ásperoé belo.
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Zinabre Eram felizes para sempre não fosse o oficio de manter no prumoa lua no céu como convém aos pares. Do fio tensoque sustenta os olhos no ermonem se deram conta dos nósdiscretos e cegosrepousando seus laçosnas espirais.
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Setembro
Os pés da serra inquietam-se.riscando a noite a quente cantoria no capim secoestalidos charrosrasteiroschamas inteirasde olhos vendados dançam o escuroqualquer pé é parqualquer umaou duas todas serão cinzas nos olhos píricos escalando as escarpasda serra do carmo.
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Canoeiro Um olharfica na margem do rio.Outro olhar vaialcançar a possibilidadede semear estrelasacordar horizontes.
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O livro que a gente começou a ler
Deixava tão estreita a noiteque atar a rede nas estrelasnem. Assentei com o tempo na pedrae ficamos. Dos olhos escorriam tantos segredosque era necessário buscar luaralém. Ardiam fronteiras entre nóse seguimos. Vigiava seus sonhoscomo possível fosse velar e vivertambém.
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Malabares As mãos dizem sim nãoe vão em vãosensinando sementesno itinerário dos sonhos. Frutos sempre de vez verdesse equilibram feito iguaisem rotas diferentes. A vida inquieta-seiça e singrasangra e estancabranca e grisboldo e hortelãfebril e sãseguindo os olhoscomo malabaresaos pares.
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O Movimentodas águas Gosto de sementeescorrendo madrugadadessas bem morenasbordando um silêncioem linha quase transparentecomo aquelas de tecer horizontes. Semente e labutainvadem o dia cedopara plantar tambémonde ermoonde ausência. E nas contendasapenas acordamarautos monarcaspara decidir nãosem atinar que nos multiplicamcomo fontespara saciar as águas de março.
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Chicos
Percorrem rapidamente as ruas encontram-nos quase sempre nas esquinas. Rigor de viver.
Somos frágeis demais para esconder reconhecem-nos pelos olhos.
Somos pela nossa voz outra seria latir e já nos bastam os ardis interiores.
Quem mais nos respeitanossa lágrimaa única carícia necessária primeira e derradeiraa cada horizonte abatido.
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Vida acesaao sol
Avisa ao ávidoque está rompendoum rumor de sole vem do ermoaté a rama da melancia. Trilha de trópicoacorda as telhase zanga os lagartosdesde o sertãoaos olhos do mormaço. Pau na porteiradescansa abertoque o silêncio é vazioentre o mioloe o tenro da raiz. Assiste em floro revolucionário ipê.
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Serventias
Aboio serve paraalargar a tardezinhatanger o horizontelevantar a luaengolir o vaqueiroe juntar o gado.
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Pé de manga
Fiel aos quintaisquanto mais sem donomais anda igualna boca dos homense dos porcos.
Oásis soberanono solapinolugar de arvorar-se.
Verde praticávelno estioou festejando chuva.
Paciência índianesses trópicos de machado.
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Escavações
Ermo sertãona sombra da taperaonde adormece o tempo. Um graveto agudovai cavoucando a carneencontra um gemidoquase um caminhoque dá no lajedo d´alma. Não é permitido romperé necessário quebraro jejum dadivosoda saudadeque encerra intactasua vozolharafetoausentes.
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O homem quenão desejava
Enquanto a estrada voltavaespreitava-lhe os vãos semeando vaziose esperava ainda assim uma manhã vazia de sinosestreita de sol para nunca sair do lugar.Um barulho longenem carecia esforçopara ouvir o horizonte de pedras cegas e azuis.Arriscava mapas imagináriosapagava-os rapidamentepara não sofrer de itinerários.
Interino o dia inteirodesafiava a noite com a saudadedo lugar ausente.
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Ruazinha
Afiando quinasem canela alheiaenfeita lodonos estreitos do bueirosenão desanda tempona memória dos murosque gasta meninosnas biqueiras em florquando desabrocham chuvaque medram comadresnos alpendres da tardeque espia na calçadao cepo de sassafrásgovernando tempo e pedradescabendo os homens.
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Cantigade trabalho
Na memória da pedra cangao labirinto de terra fezirmãos na dor.
No latifúndio a terra sangraverte esperança o suor na tezcantos de dor.
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Ensaio paraum dia parvo
No fundo do diaum lasso me dorme catedralde fazer brotarsombra de pequizeirocom visgo de índiae destino de mudez cavada. Dia núisca de nóem peito estreito. Esse tempo que verga o diatem por viço alargar gritosaté sumir em seivamedrando os poros da gente.
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Rainha liberdade O céu hoje vemesticando um breu absolutobom de ser breve. Tentam nos dedos os vãostateando velhas tramelastrancas adormecidasonde qualquer passoé par do caçoar de luz. Penso o homempreso de pensarcomo exilar a liberdadedos olhos do jovemque deseja ver do chãopé de esperança acender.
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Receita de mãe
Pegue paciência afeto e arco-íris uma pitada de maria misture vigília porções de só e miolo de alma a gosto. Unte com luar e leve ao nascente em fogo brando deixe amanhecer todo dia.
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Memorial
Parece calmaria e veste vendaval contragolpe em fogo brando faz-se delicado. Não carece mas entende o sal das horas e nos abraça docemente para sempre.
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Ciênciade amigos O dia acendeu suas súplicasnas terras de cada rogarfeito um plural que juntapara ser só luz de singular. As redes tecidas de afeto embalam novo esperançarcomo o olhar dos amigosdispondo festas no altar. Carece-nos enveredar juntospara a custódia dos sonhosque o dia mandou dizer - pode andar!
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Dicionáriode cismas
Um acomodar de beiras e sol a dilatar-me. Recebo o aviso das canoaspara desaguar o peitomais qualparece espesso. Um atado na voze o vasto acometendo-me. Assim vertem os dias aquidensos de cismase um verdinho em recatoconvidando para a teimosiade ser plantadornas tarefas d´alma.
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Rapadura
Essas mãos atando linhas de horizontes sossegam um tecer de dores idaspara indagar doces esperas. A gente segue plantando moça roça pois o necessário pão é sempre recente quando a terra é para todos semente como a garapa de companheiros que se funde ao fogo das lutas e será torrão dividido na boca de amanhãs.
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Infinitivo pleno
Entre o sertão e o perto a procura converge um aberto horizonte desarmando os olhos de um apreciar sem bordas a enclausurar o longe.
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Bilhete de adeus Queridanão descuide as trancas d’almanem do colo os segredostodo homemé no fundo um regresso.
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Deslabor Para quem trabalha, bom descanso.Para quem férias, bom descalço.
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Vaqueirode estrelas Ouvi dos amigosque um homem descabia-sede tanta estradaque bebido em forçatambém sofriade poesia. Disseram e viramque capinava manhãse fazia sementesonde havia caminhostravoso como caju novodoce feito parto. O soube adianteabrindo estrelas ao solpara desejara noite passando clarae a gente tatearonde brota o dia.
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De aprender morrer
À bica do distante assiste feito arado quieto como a contemplar capim como nem necessário ser. O sabor do calado aquele turvar de conversa confiava-lhe horas severas com delicadeza de andor. Era sempre assim ao sair de casa a cancela misturando os rumos os rumos se enlaçando no andar desmerecendo as normas desviando o olhar (...)
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A resposta
Ocorre silêncio nas coisas que nada parecem serdaí fico observando onde elas latem onde elas mordem.
Na maioria das vezes as coisas só dormemteimo em ficar vigiando para ver como acordam.Disso respondem escritos.
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De um tempo onde serão necessárias as cinzas
Ressoa cá dentro um aradorevolvendo-mequase silênciomeio aço.
Segue um rubor de sementeslatejando-mequase abrigomeio pólvora
Só desejo agora uma tocaiaacuando-mequase alçapãomeio rebento.
Tento desobedecer aos sonhosmas continuam ávidos.
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Cajuí Acende um sol no cerradoo olho é um aradode plantar você.
Belo badoqueiro encurvadoo olho cega-machadode enxergar você.
Querode roxo-ipê-amareloenfeitar você.
Nem é melhor do que ninguémé daquidoce cajuí.
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Lual Luar quando cabe no olhara gente se desabotoa em travessiae deixa a saudade aconselhar.
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Frações
Bailam as estaçõesnos rosáriosconta-a-contae as digitais do tempo são maisde quem perdeu a conta.
Quem ficounão passasó escorrepelo pêndulodo relógio.
Bate na portapode entrarficarbalançandonas horas.
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Raiz de quintal pareço imitando inérciadecifrando pegadasreparando de forapelos lados de dentroe bebendo mijo de menino.
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Célio Pedreira
Proa
Em cada remansooutra cantigade lua prateando areiaa noite flutua nas águasé cheia ou meia minguante.
Saudade vaie volta de esporãodói.
A dor de quem deixa a beira do rioé voltar só.
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CONTATOS COM O AUTOR:
Raimundo Célio PedreiraE-mail: [email protected]
Endereço: Rua Mizael Pereira, 2001Centro – Porto Nacional – TO
CEP – 77.500-000
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