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PROTOCOLO DE
CUIDADOS DE FERIDAS
2008
1 PROTOCOLO DE FERIDAS
Prefeitura Municipal de Florianpolis Secretaria Municipal de Sade
PROTOCOLO DE CUIDADOS DE FERIDAS
Florianpolis, SC. Julho, 2008.
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F663p FLORIANPOLIS. Secretaria Municipal de Sade. Vigilncia em Sade. Protocolo de cuidados de feridas / Coordenado por Antnio Anselmo Granzotto de Campos; Organizado por Lucila Fernandes More e Suzana Schmidt de Arruda. Florianpolis: IOESC, 2007. 70 p. il. 1. Enfermagem 2.Feridas 3. Cicatrizao deferidas I.Ttulo II. CAMPOS, Antnio Anselmo Granzotto de III. MORE, Lucila Fernandes IV. ARRUDA, Suzana Schmidt de CDU : 616-083
CDD : 617.14
Bibliotecria Responsvel: Ivete Marisa Blatt - CRB 14/062 SES - Hospital Nereu Ramos - Centro de Estudos
1 PROTOCOLO DE FERIDAS
Prefeitura Municipal de Florianpolis Secretaria Municipal de Sade
Prefeito Municipal
Drio Elias Berger
Secretrio Municipal de Sade
Joo Jos Cndido da Silva
Secretrio Adjunto de Sade
Clcio Antonio Espezim
Vigilncia em Sade
Antonio Anselmo Granzotto de Campos
Vigilncia em Sade do Trabalhador
Carlos Renato da Silva Fonseca
2 PROTOCOLO DE FERIDAS
Cmara Tcnica Vigilncia em Sade - Setorial CCIH
Antonio Anselmo Granzotto de Campos Coordenador
Carlos Renato da Silva Fonseca
Lucila Fernandes More
Suzana Schmidt de Arruda
Organizadores
Lucila Fernandes More Enfermeira da Vigilncia em Sade / CEREST
Suzana Schmidt de Arruda Enfermeira da Vigilncia em Sade / CEREST
Comit Tcnico de Padronizao
Carin Iara Loeffler Enfermeira / Ateno Bsica Sade
Claudiniete Maria da C. B. Vasconcelos Enfermeira / CS Ingleses
Christiane Brunoni Enfermeira / CS Costa da Lagoa
Eliete Magda Colombeli Mdica / PA Norte da Ilha
Francelise da Fonseca Schneider Enfermeira / Setor Rec. Materiais
Juliana Balbinot. Reis Girondi Enfermeira / Regional Continente
Jlio Cezar de Almeida Fogliatto Enfermeiro / CS Abrao
Lucila Fernandes More Enfermeira / Vigilncia em Sade / CEREST
Michelle Carolina Borges Enfermeira / CS Agronmica
Monich Melo Cardoso Enfermeira / Vigilncia Nutricional e DNAT
Suzana Schmidt de Arruda Enfermeira Vigilncia em Sade / CEREST
Tatiana Vieira Fraga Enfermeira / CS Jd. Atlntico
3 PROTOCOLO DE FERIDAS
SUMRIO 1 INTRODUO ........................................................................................................5 1. Objetivos ...........................................................................................................11 1.1. Objetivo Geral.................................................................................................11 1.2. Objetivos Especficos......................................................................................11 REVISO DE LITERATURA.................................................................................13 1. Histrico do tratamento de feridas .....................................................................14 2. Anatomia e Fisiologia da pele e anexos ............................................................16 2.1. Funes da pele .............................................................................................16 3. Feridas e suas classificaes ............................................................................19 3.1. Etiologia ..........................................................................................................19 3.2. Tempo de cicatrizao....................................................................................20 3.3. Contedo bacteriano.......................................................................................20 3.4. Presena de transudato e exsudato ...............................................................21 3.5. Morfologia .......................................................................................................22 3.6. Caracterstica do leito da ferida ......................................................................23 4. Cicatrizao da ferida ........................................................................................24 4.1. Fases da cicatrizao .....................................................................................24 4.2. Tipos de cicatrizao ......................................................................................25 4.3. Fatores que interferem no processo de cicatrizao ......................................25 4.4. Complicaes da cicatrizao de feridas........................................................26 4.5. Condies ideais para o processo de cicatrizao .........................................26 4.6. Estado Nutricional no processo de cicatrizao..............................................28 4.7. Desbridamento da ferida.................................................................................29 4.8. Medidas Preventivas.......................................................................................30 5. Avaliao de feridas...........................................................................................30 6. Atendimento ao usurio com queimaduras........................................................31 6.1. Tratamento I - queimaduras de espessura parcial..........................................34 6.2. Tratamento II queimaduras de espessura total............................................35 7. Atendimento ao usurio ostomizado..................................................................35 7.1. Classificao das ostomias intestinais............................................................36 7.2. Complicaes dos ostomas intestinais ...........................................................36 CONSIDERAES METODOLGICAS ..............................................................39 CUIDADO DE FERIDAS .......................................................................................42 1. Caractersticas de um curativo ideal ..................................................................43 1.1. Tcnicas utilizadas..........................................................................................43 1.2. Tipos de coberturas de Curativo.....................................................................43 1.3. Tipos de curativos...........................................................................................43 1.4.Cuidados para trocas da bolsa coletora de ostomia ........................................46 2. Padronizao dos insumos ................................................................................46 2.1. Resumo da utilizao dos insumos no tratamento de feridas ........................52 3. Fluxograma de tratamento das feridas ..............................................................53 3.1. Fluxograma de lceras ...................................................................................54 3.2. Fluxograma de atendimento ao usurio com queimadura ..............................55
4 PROTOCOLO DE FERIDAS
PROCESSO DE MONITORAMENTO ...................................................................56 1. Da formao e competncias da equipe............................................................57 2. Da liberao dos produtos e materiais na rede .................................................58 ATRIBUIES DOS PROFISSIONAIS DE SADE.............................................59 1. Atribuies do Enfermeiro ................................................................................. 61 2. Atribuies do Tcnico e do Auxiliar de Enfermagem........................................60 3. Atribuies do Mdico........................................................................................61 4. Atribuies do Cirurgio Dentista.......................................................................61 REGULAMENTAO DA ATUAO DO ENFERMEIRO...................................63 REFERNCIAS .....................................................................................................67 APNDICES..........................................................................................................70 Apndice 1 Questionrio sobre curativo .............................................................71 Apndice 2 - Guia para Avaliao e Descrio de Feridas....................................74 Apndice 3 Ficha de Avaliao de Feridas.........................................................75 Apndice 4 Fluxograma de Liberao de Insumos para Curativo ......................76
5 PROTOCOLO DE FERIDAS
INTRODUO
6 PROTOCOLO DE FERIDAS
As tentativas humanas de intervir no processo de cicatrizao das feridas, acidentais
ou provocadas intencionalmente como parte da realizao de procedimentos,
remontam Antigidade, demonstrando que desde ento j se reconhecia
importncia de proteg-las de forma a evitar que se complicassem e repercutissem
em danos locais ou gerais para o usurio. Tem-se verificado avanos na compreenso dos processos e fenmenos envolvidos
nas diversas fases da reparao tissular e simultaneamente muito se tenha investido
em pesquisa, o desenvolvimento de novas tcnicas e produtos para a realizao de
curativos e mtodos coadjuvantes no tratamento de feridas tm exigido a criao de
grupos de estudo sobre as leses cutneas.
Embora no haja dados precisos e estudos significativos no estado de Santa
Catarina e no Brasil relacionados incidncia e prevalncia do tratamento de feridas
agudas e/ou crnicas, alguns trabalhos demonstram que o impacto psquico, social e
econmico da cronificao de leses, em especial as lceras crnicas dos ps e
pernas, representam segunda causa de afastamento do trabalho no Brasil.
Isso Indica que, embora se acredite que j foi descoberto e pesquisado no campo da
cicatrizao e dos curativos e que existem recursos e tecnologias em excesso no
mercado, muito h que se pesquisar nesse campo no s para aperfeioar tais
recursos, como para torn-los acessveis a maior nmero de pessoas, mediante o
desenvolvimento de tecnologias mais simples e baratas, igualmente eficazes, pois
um dos desafios para o gestor pblico o elevado custo de tais recursos, em sua
maioria importados e cuja tecnologia patenteada por empresas multinacionais.
Neste sentido, o cuidado com feridas, estimulado pelo aprimoramento continuo de
tecnologias e prticas inovadoras, principalmente no campo interdisciplinar, vm
ocasionando inmeros questionamentos em relao eficcia dos produtos
utilizados no tratamento de feridas, pois a incidncia e a prevalncia de lceras
crnicas so ainda extremamente altas, repercutindo em elevados custos financeiros
e profundas conseqncias sociais sobre os portadores, os quais com freqncia
desenvolvem seqelas que podem levar perda de membros e de suas funes,
com conseqente afastamento do trabalho e de suas atividades normais.
Da, a importncia e desafio da equipe de trabalho interdisciplinar, principalmente,
no que tange ao acesso s vrias condutas de tratamento, pois visvel que os
profissionais de sade envolvidos com o tratamento de feridas vm acompanhando
os avanos nesta rea, conciliando, ratificando e ampliando novos conceitos e
7 PROTOCOLO DE FERIDAS
mtodos alternativos s tecnologias de ponta, bem como elaborando normas e
rotinas cada vez mais aperfeioadas de cuidados com a pele e as feridas, buscando
adequ-las s melhores prticas clnicas e aos diversos ambientes de cuidado.
Contudo, a estruturao dessas normas e rotinas exige considerao e reflexo
cuidadosa. necessrio que elas incorporem tanto a arte quanto a cincia do
cuidado com as feridas.
A arte refere-se habilidade e aplicao da tcnica que o profissional utiliza ao
realizar os cuidados mais indicados preveno e tratamento da ferida de um
usurio. A cincia diz respeito ao conhecimento e a compreenso do profissional
sobre o processo patolgico e o tratamento especfico empregado. A arte e a cincia
so os requisitos bsicos para a promoo da sade e preveno de doenas e
agravos, bem como o tratamento das doenas durante o ciclo de vida do ser
humano.
Nesta perspectiva, foi criado o Comit para elaborao do Protocolo de Cuidado de
Feridas no Municpio de Florianpolis, composto por enfermeiros e mdicos da
Secretaria Municipal de Sade (SMS), pois as feridas e as lceras constituem e se
constituiro em fator de preocupao nos Centros de Sade (CS) devido grande
prevalncia, seja no usurio acamado por longo perodo ou em decorrncia de
outras enfermidades que resultam em leso, como problemas vasculares e traumas.
Concomitante ao trabalho de pesquisa para a elaborao deste Protocolo sentimos
a necessidade de implementar normas e rotinas para o cuidado adequado ao
paciente, no que diz respeito ao ambiente nos CS.
Imbudos nessa crena, concordamos com Potter e Perry (2004) quando diz que, a
boa sade depende, em parte, de uma ambiente seguro. As prticas ou tcnicas que
controlam ou evitam a transmisso de infeco ajudam a proteger os usurios e os
profissionais de sade contra a doena. Os usurios em todos os ambientes de
cuidado de sade esto em risco de adquirir infeces por causa da baixa
resistncia aos microorganismos infecciosos, de maior exposio s quantidades e
tipos de microorganismos causadores de doena, bem como dos procedimentos
invasivos.
Neste sentido, ao praticar as tcnicas de preveno e controle de infeco, sejam no
nvel de ateno bsica ou no nvel da alta complexidade (hospitalar), os
profissionais, podem se proteger do contato com materiais infecciosos ou da
exposio a uma doena transmissvel, tendo o conhecimento do processo
8 PROTOCOLO DE FERIDAS
infeccioso e da proteo apropriada com barreira, bem como evitar a disseminao
dos microorganismos patognicos para os usurios e suas famlias.
O grupo enquanto espao de construo, desconstruo e reconstruo de
conhecimentos, auxiliaro tambm, na padronizao e validao dos produtos para
o tratamento de feridas, resultando em benefcios para a instituio e, em especial
para o usurio. Isto porque se estima que o uso seguro de coberturas, a
periodicidade das trocas, a padronizao de tcnicas atualizadas para a realizao,
monitoramento e a avaliao da ferida por profissionais qualificados tcnico e
cientificamente, contribuem na construo de prticas inovadoras, principalmente no
que refere tanto reduo de custos e desperdcio de materiais e medicamentos
como na diminuio do tempo dispensado pelos profissionais de enfermagem na
realizao dos curativos.
Ressalta-se ainda, que com a elaborao e implantao do protocolo pretendemos
mostrar que a escolha do curativo ideal permanece um desafio aos profissionais de
sade. Por um lado, diante da rpida evoluo no tratamento de feridas pelo
surgimento de modernas coberturas, vale a pena relembrar que uma escolha deve
estar pautada em diversos pontos que considerem sempre, e em primeiro lugar, o
conforto, o bem-estar do usurio e, sobretudo, a otimizao da qualidade da
assistncia prestada. Por outro, que o cuidado integral do tratamento de feridas traz
diversos benefcios aos usurios, tais como: o custo do tratamento - que mais
econmico e efetivo que o convencional; as feridas mostram melhoras em curto
prazo e requerem menos trocas dos curativos (de 2 a 5 dias); reduz as complicaes
e o tempo que interferem diretamente na qualidade de vida dos usurios e
familiares.
Com base nestas consideraes, importante salientar, que as feridas do dia-a-dia,
como pequenos cortes e/ou escoriaes, costumam cicatrizar em poucos dias, sem
complicaes. As feridas agudas e crnicas problema que afetam milhes de
pessoas no Brasil s podem ser curadas com efetividade e rapidez por meio de
curativos avanados e programa integral de tratamento e podem necessitar de
cuidados especficos, realizados por equipes interdisciplinares e orientados por
protocolos definidos.
Assim, com o objetivo de contribuir com a reduo desta estatstica, alinhados a
conceitos modernos de sade nos questionamos: Qual ento o verdadeiro custo da cicatrizao para o usurio, para a comunidade e para a instituio?
9 PROTOCOLO DE FERIDAS
Frente a este questionamento, elaboramos um Questionrio sobre Curativo
(Apndice 2) que foi aplicado em todos os CS com o objetivo de verificar alguns
aspectos relacionados aos curativos realizados nestes e tambm no domiclio. A
rede bsica de Florianpolis formada por 48 CS, 03 Centros de Atendimento
Psicossocial e um Pronto Atendimento. O atendimento est centrado na Estratgia
de Sade da Famlia, num total de 84 equipes. Em 04 CS ainda temos como
modelo, o Programa de Agentes Comunitrios de Sade (PACS).
Os resultados aqui apresentados se referem a um perodo especfico, o ms de maio
de 2007, e foram obtidos nos 48 CS, com as Equipes de Sade da Famlia (ESF).
Das respostas apresentadas, os pontos que consideramos importantes so os
seguintes:
O local de realizao dos curativos a sala de curativo/procedimentos,
eventualmente consultrio, sendo que houve relato da realizao do
procedimento na sala de esterilizao/preparo de material.
Conforme o quadro 1, observamos que a realizao de curativos ocorre
tambm no domiclio sendo que praticamente todos os CS esto envolvidos
nesta atividade.
Quadro 1: Realizao de curativo no domiclio
Centros de Sade que realizam curativo no domiclio
94%
6%
Realizam curativo no domiclioNo realizam curativo no domiclio
A maioria das ESF realiza tal procedimento diariamente. A forma de acesso
ao domiclio o deslocamento a p, seguido de uso de veculo prprio, com
gasto de tempo mnimo de uma hora por procedimento. Ainda em relao ao
deslocamento, h relato da utilizao do carro dos familiares que vm ao
10 PROTOCOLO DE FERIDAS
Centro de Sade buscar o profissional e lev-lo para realizar tal
procedimento.
De acordo com as respostas recebidas, verificamos que a maioria dos curativos
realizada pela equipe de enfermagem, sendo que h predominncia dos tcnicos ou
auxiliares de enfermagem, seguidos por enfermeiros e eventualmente por mdicos
(Quadro 2).
Quadro 2: Profissional que realiza curativo
Profissional que realiza o curativo
97%
3%
Enf. Aux. e tec. Enf tb mdicos
O gasto de materiais foi estimado, sendo que se observou que a quantidade referida
de uso maior que a dispensada pelo almoxarifado.
Ainda em relao ao material utilizado, as respostas nos indicam que a utilizao de
produtos como gua oxigenada e P.V.P.I. tpico so usuais no tratamento das
feridas, bem como o uso da pomada de neomicina e bacitracina seguido da
utilizao de cido Graxo Essencial (AGE).
Verificando a literatura encontramos referncias de contra indicao do uso do
P.V.P.I. tpico e da pomada de neomicina e bacitracina no tratamento das feridas.
O P.V.P.I. tpico possui ao deletria nos tecidos provocando alguns efeitos
colaterais, tais como: acidose metablica, hipernatremia, neutropenia, irritao da
pele e membranas mucosas, queimadura, dermatite, hipotireoidismo e prejuzo da
funo renal.
Em relao utilizao tpica da neomicina, verificamos que ela a causa mais
freqente de alergias o que pode desencadear resposta alergnica a outros
medicamentos com princpio ativo similar.
11 PROTOCOLO DE FERIDAS
A reviso de literatura nos mostra as recomendaes atuais de utilizao de
coberturas em feridas, e podemos inferir que o tratamento destas na Rede Bsica
necessita ser atualizado.
Considerando que as perguntas foram abrangentes e referem-se exclusivamente ao
perodo do ms de maio de 2007 e no temos uma srie histrica dos gastos nesta
rea, difcil concluir com preciso a estimativa destes, entretanto, podemos
observar que o gasto, naquele ms, representou cerca de 42% dos gastos totais
com os materiais de enfermaria e cirurgia.
A anlise dos resultados do questionrio, embora insipiente e restrita, ainda assim,
aponta para a necessidade de implantar um protocolo de cuidados e indicao
adequada de uso de coberturas em feridas; bem como a necessidade do
gerenciamento destes materiais, considerando que o no acompanhamento e
controle no uso propiciam a possibilidade de desperdcio.
A indicao inadequada de tratamento das leses, sejam elas crnicas ou agudas,
podem agravar, em longo prazo, a situao do usurio, resultando em nus para a
equipe de sade e para a gesto como um todo, considerando os gastos com
materiais, internaes e necessidade de tratamento sistmico.
Frente ao exposto, acreditamos que politicamente estratgico a SMS investir
nessa causa. Est dentro da capacidade de governabilidade do gestor municipal e a
iniciativa de ao gerar grande impacto para o Municpio de Florianpolis.
1. OBJETIVOS
1.1. Objetivo Geral
Padronizar e implementar o Protocolo para o Cuidado de Feridas na Rede
Bsica de Sade no Municpio de Florianpolis.
1.2. Objetivos Especficos
Elaborar e implementar o Protocolo para o Cuidado de Feridas na Rede Bsica
de Sade;
Elaborar e implantar o Manual de Normas e Rotinas de Processamento de
Artigos e Superfcie;
12 PROTOCOLO DE FERIDAS
Padronizar os produtos e materiais adequados para preveno e tratamento de
feridas;
Reduzir o tempo dos profissionais de enfermagem e os custos em relao ao
tratamento de feridas;
Eliminar os fatores desfavorveis que retardam a cicatrizao e prolongam a
convalescena, o que eleva os custos do tratamento;
Capacitar os profissionais de sade da rede bsica para a utilizao do
Protocolo de tratamento de feridas vigente;
Promover educao permanente com os profissionais de sade;
Prevenir infeces cruzadas, atravs de tcnicas e procedimentos adequados;
Garantir ao usurio, a adeso e continuidade ao tratamento de feridas;
Proporcionar ao usurio, um tratamento de feridas adequado, garantindo a
eficcia no processo.
13 PROTOCOLO DE FERIDAS
REVISO
DE LITERATURA
14 PROTOCOLO DE FERIDAS
1. Histrico do tratamento de feridas
A histria revela que a preocupao com o tratamento de feridas sempre existiu.
Desde a era pr-histria idade antiga eram preparados cataplasmas de folhas e
ervas com o intuito de estancar hemorragias e facilitar a cicatrizao. O estudo dos
curativos usados ao longo dos tempos sugere que alguns tratamentos usados eram
bizarros, ou mesmo terrveis, enquanto outros ainda nos so familiares atualmente.
Os primeiros registros escritos de tcnicas mdicas e cirrgicas vm do Egito Antigo
onde constavam tratamentos para todos os tipos de leses, desde fraturas,
laceraes at cirurgias.
Com a decadncia do poder do antigo Egito, a civilizao grega gradualmente se
desenvolveu. Dentre os homens que deixaram sua marca nesse perodo est
Hipocrates (460-377 a.C.), que lanou a base da medicina cientfica ao enfatizar a
observao cuidadosa com a ferida ulcerativa. Ele utilizava formas simples,
aplicando suaves bandagens no tratamento de feridas. Criou a definio de
cicatrizao por primeira inteno, na qual as bordas da pele se mantm prximas,
e por segunda inteno, quando h perda de tecido e as bordas da pele se
afastam significativamente.
Nos sculos que conduziram ao tempo de Cristo a cirurgia Hindu era muito
avanada. Novamente, bandagens e cataplasma eram os tratamentos usados para
as feridas.
Na poca do Imprio Romano, os romanos possuam uma tcnica cirrgica
avanada especialmente considerando que no havia anestesia a no ser o pio e o
lcool. As feridas eram tratadas energicamente, sendo irrigadas com vinhos, gua e
leos.
Galeno (129-199 d.C.), porm, que se destacou como a pessoa cujo trabalho teve
impacto mais duradouro sobre o tratamento de feridas. Trabalhou como cirurgio
dos gladiadores em Prgamo e depois como mdico do Imperador Marco Aurlio.
Foi famoso por sua teoria do pus louvvel, ou seja, o desenvolvimento do pus seria
necessrio para a cura e, portanto, deveria ser ativamente estimulado. Galeno
descobriu a eficcia da aplicao de tinta de escrever, teias de aranha e argila nas
feridas.
Na Idade Contempornea, com os avanos do sculo XIX e incio do XX, surge
Florence Nightingale (1820 -1910) precursora da enfermagem, que atuou na Guerra
15 PROTOCOLO DE FERIDAS
da Crimia, evento este que criou uma imensa demanda de curativos. Todos esses
curativos eram lavados e reutilizados muitas vezes.
No sculo XIX desde que a relao entre bactrias e a infeco ficou conhecida,
iniciou-se tentativas no sentido de combat-las quimicamente. Joseph Lister (1827-
1912) introduziu a assepsia e utilizou pela primeira vez uma soluo de fenol em
compressas e suturas conseguindo evitar as amputaes e reduzir os ndices de
mortalidade.
Entre 1840 e a Segunda Guerra Mundial o foco para o tratamento de feridas foi o
uso de anti-spticos e agentes tpicos com ao antimicrobiana e a proteo com
cobertura seca. Nessa fase eram usados anti-spticos como: Lquido de Dakin;
Eusol; Iodo; cido Carblico (spray) e Cloretos de mercrio e alumnio. Sendo que, o
maior avano do sculo XX foi o advento dos antibiticos, utilizados, por aplicao
local atravs de pulverizao ou por incorporao do material no prprio curativo.
Alexandre Fleming (1929) usou penicilinas para tratar infeces, questionou o uso
de anti-spticos (antimicrobianos) devido a sua toxidade e outros tipos de
antibiticos foram sendo introduzidos.
A partir do sculo XX, os curativos tornaram-se estreis e os procedimentos seguem
tcnicas asspticas. Durante as dcadas de 1930-40, medida que o tratamento de
feridas passava gradualmente para a esfera da enfermagem, ligou-se a esta uma
espcie de aura mstica. O fenmeno se ampliou com o desenvolvimento da
tcnica assptica de fazer curativos, geralmente sem tocar no usurio.
Em 1982 surgem as coberturas base de hidrocolides passando a ser largamente
utilizada em feridas de espessura parcial. Tambm no incio dos anos 90 so
lanados os hidropolmeros.
A simplicidade no tratamento de feridas veio com o desenvolvimento de materiais
como os filmes transparentes porosos para cobertura de feridas ou mesmo mtodos
como a exposio completa da ferida sob condies estreis.
No Brasil, a partir da dcada de 90 foram publicados os primeiros trabalhos com
curativos midos e no final da dcada entram no mercado vrios produtos
especficos. Atualmente existe grande variedade de materiais e sintticos
disponveis no mercado facilitando a opo do profissional pelo material e produto
mais indicado para cada tipo de ferida, bem como revoluo dos princpios dos
tratamentos tpicos de feridas, com novas perspectivas, embasado em pesquisas e
atualizaes constantes.
16 PROTOCOLO DE FERIDAS
2. Anatomia e Fisiologia da pele e anexos
Um adulto revestido por aproximadamente 2m de pele, com aproximadamente 2
mm de espessura. Isto faz da pele o maior rgo do corpo, pois representa 15% do
peso corporal, formado por camadas distintas com caractersticas e funes
diferentes: Derme, Epiderme e a Hipoderme subcutnea e rgos anexos como:
folculos pilosos, glndulas sudorparas e sebceas e unhas.
A. Primeira Camada (Epiderme): a camada mais externa da pele, constituda por
um epitlio estratificado pavimentoso queratinizado, tendo como clula principal o
Queratincito, clulas achatadas ricas em queratina, substncia responsvel pela
proteo.
A epiderme est em constante renovao. As clulas mais antigas so substitudas
por outras mais novas e em mdia a cada 12 dias ocorre esta renovao.
B. Segunda Camada (Derme): a camada da pele, localizada entre a epiderme e a
hipoderme, formada de tecido conjuntivo que contm fibras proticas, vasos
sangneos e linfticos, terminaes nervosas, rgos sensoriais e glndulas.
As fibras so produzidas por clulas chamadas Fibroblastos, que podem ser
elsticas, que permitem a elasticidade e conferem maior resistncia pele.
C. Terceira Camada (Hipoderme): a terceira e ltima camada da pele, formada
basicamente por clulas de gordura e faz conexo entre a derme e a fscia
muscular. Permite que as duas primeiras camadas deslizem livremente sobre as
outras estruturas do organismo e atua como reservatrio energtico; isolamento
trmico; proteo contra choques mecnicos; fixao dos rgos e modela a
superfcie corporal.
2.1. Funes da pele
A pele desempenha um grande nmero de funes vitais, quais sejam:
A. Proteo das estruturas internas: a principal funo da pele proteger o
organismo das ameaas externas contra ataques de microorganismos e corpos
17 PROTOCOLO DE FERIDAS
estranhos. Tambm protege o tecido subjacente e as estruturas de traumatismo
mecnico. Ajuda a manter um ambiente estvel no interior do corpo impedindo a
perda de gua, eletrlitos, protenas e outras substncias.
B. Percepo sensorial: a pele apresenta inmeras terminaes nervosas. Conduz
os estmulos que recebe do meio externo para o crebro onde so traduzidas as
sensaes de frio, calor, tato, entre outros. Os nervos sensoriais existem por toda a
pele, entretanto, algumas reas so mais sensveis que outras. A sensibilidade nos
permite identificar perigos em potencial e evitar traumas.
C. Termorregulao: a pele elimina ou conserva o calor do corpo conforme a
necessidade. Para dissipar o calor em excesso produz o suor. Para manter a
temperatura provoca o arrepio.
O controle da temperatura do corpo envolve o esforo de nervos, vasos sangneos
e glndulas. Quando a pele exposta ao frio ou quando a temperatura do corpo
baixa os vasos sangneos se contraem, reduzindo o fluxo sangneo e
conservando assim o calor do corpo. Da mesma forma, se a pele se tornar muito
quente ou a temperatura interna do corpo subir as pequenas artrias dentro da pele
se dilatam aumentando o fluxo sangneo, e a produo de suor aumentam para
promover o esfriamento.
D. Excreo: a excreo atravs da pele importante na termorregulao, no
equilbrio de eletrlitos e na hidratao. Alm disso, a excreo de sebo ajuda a
manter a integridade e a flexibilidade da pele. O sebo que produzido pelas
glndulas sebceas composto por vrias substncias que atuam como
lubrificantes naturais do plo evitando que fiquem quebradios. Tambm, torna a
pele oleosa, diminuindo a evaporao de gua a partir da camada crnea
(epiderme); protege a pele contra o excesso de gua na superfcie, (facilitando a
gua escorrer da pele), cuja ao evitar o crescimento de bactrias e fungos,
(ao bactericida e antifngica), e promove a emulso de algumas substncias.
E. Metabolismo: a pele ajuda a manter a mineralizao dos ossos e dentes.
Quando exposta luz solar, a vitamina D sintetizada em uma reao fotoqumica,
que crucial para o metabolismo do clcio e fsforo. Conta com componentes
18 PROTOCOLO DE FERIDAS
celulares e humorais do sistema imunolgico e diversos sistemas moleculares de
defesa contra microrganismos que, por sua vez so essenciais para a sade dos
ossos e dentes.
Muitos medicamentos so inativados por sistemas metablicos no fgado, como o
sistema enzimtico P-450. Os medicamentos circulam atravs do organismo e
passam pelo fgado, onde as enzimas atuam inativando as drogas ou alterando sua
estrutura, de modo que os rins possam filtr-las. Algumas drogas alteram esse
sistema enzimtico, fazendo a inativao de outra droga ocorrer com maior rapidez
ou lentido que o habitual.
F. Absoro: alguns medicamentos podem ser absorvidos diretamente atravs da
pele chegando corrente sangnea.
O conceito de biodisponibilidade refere-se velocidade e ao grau de absoro de
determinado medicamento pela corrente sangnea. A biodisponibilidade depende
de diversos fatores, como o modo com que foi concebido e manufaturado o produto
farmacolgico, as propriedades fsicas e qumicas do medicamento e a fisiologia da
pessoa tratada.
Produto farmacolgico a prpria forma de dosagem de um medicamento:
comprimido, cpsula, supositrio, emplastro transdrmico ou soluo.
Habitualmente, consiste da droga combinada com outros ingredientes. Por exemplo,
os comprimidos so misturas de medicamento e aditivos que funcionam como
diluentes, estabilizadores, desintegrastes e lubrificantes. As misturas so granuladas
e reduzidas forma do comprimido.
O tipo e a quantidade de aditivos e o grau de compresso afetam a rapidez com que
o comprimido se dissolve. Os fabricantes de medicamentos ajustam essas variveis
para otimizar a velocidade e o grau de absoro do medicamento. Se um
comprimido se dissolver e liberar com demasiada rapidez o medicamento, poder
gerar um alto nvel da substncia ativa na circulao sangnea, provocando
resposta excessiva.
desejvel que haja coerncia de biodisponibilidade entre os produtos
farmacolgicos, o que nem sempre ocorre. Produtos quimicamente equivalentes
contm a mesma substncia ativa, mas podem ter ingredientes inativos diferentes,
que afetam a velocidade e o grau de absoro. Por isso, produtos farmacolgicos
19 PROTOCOLO DE FERIDAS
equivalentes podem apresentar diferenas quanto aos efeitos do medicamento,
mesmo quando ministrados na mesma dose.
3. Feridas e suas classificaes
Ferida qualquer leso que interrompa a continuidade da pele. Pode atingir a
epiderme a derme, tecido subcutneo, fscia muscular, chegando a expor estruturas
profundas.
3.1. Etiologia
As feridas so classificadas segundo diversos parmetros, que auxiliam no
diagnstico, evoluo e definio do tipo de tratamento, tais como cirrgicas,
traumticas e ulcerativas.
A. Cirrgicas: provocadas por instrumentos cirrgicos, com finalidade teraputica,
podem ser:
Incisivas: perda mnima de tecido
Excisivas: remoo de reas de pele.
B. Traumticas: provocadas acidentalmente por agentes que podem ser:
Mecnicos: prego, espinho, por pancadas;
Fsicos: temperatura, presso, eletricidade;
Qumicos: cidos, soda custica;
Biolgicos: contato com animais, penetrao de parasitas.
C. Ulcerativas: leses escavadas, circunscritas, com profundidade varivel,
podendo atingir desde camadas superficiais da pele at msculos. As lceras so
classificadas conforme as camadas de tecido atingido, conforme apresentado
abaixo:
Estgio I: pele avermelhada, no rompida, mcula eritematosa bem delimitada,
atingindo epiderme.
Estgio II: pequenas eroses na epiderme ou ulceraes na derme. Apresenta-se
normalmente com abraso ou bolha.
20 PROTOCOLO DE FERIDAS
Estgio III: afeta derme e tecido subcutneo.
Estgio IV: perda total da pele atingindo msculos, tendes e exposio ssea.
3.2. Tempo de cicatrizao
A ferida aguda quando h ruptura da vascularizao com desencadeamento
imediato do processo de hemostasia. Na reao inflamatria aguda, as modificaes
anatmicas dominantes so vasculares e exsudativas, e podem determinar
manifestaes localizadas no ponto de agresso ou ser acompanhada de
modificaes sistmicas.
A ferida crnica quando h desvio na seqncia do processo cicatricial fisiolgico.
caracterizada por respostas mais proliferativa (fibroblsticas) do que exsudativa. A
inflamao crnica pode resultar da perpetuao de um processo agudo, ou
comear insidiosamente e evoluir com resposta muito diferente das manifestaes
clssicas da inflamao aguda.
3.3. Contedo bacteriano
Quanto ao contedo bacteriano a ferida pode ser subdivida em:
Limpa: leso feita em condies asspticas e isenta de microrganismos;
Limpa contaminada: leso com tempo inferior a 6 horas entre o trauma e o
atendimento e sem contaminao significativa;
Contaminada: leso com tempo superior a 6 horas entre o trauma e o
atendimento e com presena de contaminantes, mas sem processo infeccioso
local;
Infectada: presena de agente infeccioso local e leso com evidncia de
intensa reao inflamatria e destruio de tecidos, podendo haver pus;
Odor: o odor proveniente de produtos aromticos produzido por bactrias e
tecidos em decomposio. O sentido do olfato pode auxiliar no diagnstico de
infeces (microorganismos) na ferida.
21 PROTOCOLO DE FERIDAS
3.4. Presena de transudato e exsudato
O transudato uma substncia altamente fluida que passa atravs dos vasos e
com baixssimo contedo de protenas, clulas e derivados celulares.
O exsudato um material fluido, composto por clulas que escapam de um vaso
sanguneo e se depositam nos tecidos ou nas superfcies teciduais, usualmente
como resultado de um processo inflamatrio. O exsudato caracterizado por um alto
contedo de protenas, clulas e materiais slidos derivados das clulas. Os
exsudatos das reaes inflamatrias variam no contedo de lquido, protenas
plasmticas e clulas. A natureza exata do exsudato amplamente ditada pela
gravidade da reao e sua causa especfica.
A colorao do exsudato depende do tipo de exsudato e pode ser caracterstica do
pigmento especfico de algumas bactrias. Existem diversas coloraes, sendo as
mais freqentes as esbranquiadas, as amareladas, as avermelhadas, as
esverdeadas e as achocolatadas.
O exsudato seroso caracterizado por uma extensa liberao de lquido, com
baixo contedo protico, que conforme o local da agresso origina-se de soro
sanguneo ou das secrees serosas das clulas mesoteliais. Esse tipo de exsudato
inflamatrio observado precocemente nas fases de desenvolvimento da maioria
das reaes inflamatrias agudas, encontrada nos estgios da infeco bacteriana.
O exsudato sanguinolento decorrente de leses com ruptura de vasos ou de
hemcias. No uma forma distinta de exsudao, quase sempre, um exsudato
fibrinoso ou supurativo, acompanhado pelo extravasamento de grande quantidade
de hemcias.
O exsudato purulento um lquido composto por clulas e protenas, produzida por
um processo inflamatrio assptico ou sptico. Alguns microrganismos
(estafilococos, pneumococos, meningococos, gonococos, coliformes e algumas
amostras no hemolticas dos estreptococos) produzem de forma caracterstica,
supurao local e por isso so chamados de bactrias piognicas (produtoras de
pus).
Exsudato fibrinoso o extravasamento de grande quantidade de protenas
plasmticas, incluindo o fibrinognio, e a participao de grandes massas de fibrina.
22 PROTOCOLO DE FERIDAS
3.5. Morfologia
Descreve a localizao, dimenses, nmero e profundidade das feridas.
A. Quanto localizao: as feridas ulcerativas freqentemente acometem usurios
que apresentam dificuldades de deambulao.
- reas de risco para pessoas que passam longos perodos sentados:
Tuberosidades isquiticas;
Espinha dorsal torcica;
Ps;
Calcanhares.
- reas de risco para pessoas que passam longos perodos acamados:
Regio sacrococcgea;
Regio trocantrica, isquitica espinha ilaca;
Joelhos (face anterior, medial e lateral);
Tornozelos;
Calcanhares;
Cotovelos;
Espinha dorsal;
Cabea (regio occipital e orelhas).
B. Quanto s dimenses: Extenso rea = cm.
Pequena: menor que 50 cm;
Mdia: maior que 50 cm e menor que 150 cm;
Grande: maior que 150 cm e menor que 250 cm;
Extensa: maior que 250 cm .
C. Quanto ao nmero: existindo mais de uma ferida no mesmo membro ou na
mesma rea corporal, com uma distncia mnima entre elas de 2 cm, far-se- a
somatria de cada uma.
D. Quanto profundidade:
Feridas planas ou superficiais: envolvem a epiderme, derme e tecido
subcutneo;
23 PROTOCOLO DE FERIDAS
Feridas profundas: envolvem tecidos moles profundos, tais como msculos e fscia;
Feridas cavitrias: caracterizam-se por perda de tecido e formao de uma
cavidade com envolvimento de rgos ou espaos. Podem ser traumticas,
infecciosas, por presso ou complicaes ps-cirrgica.
A Mensurao da ferida: serve para avaliar o comprimento X largura X
profundidade. Vrias tcnicas podem ser utilizadas para realizar este procedimento,
dentre elas destacamos:
Medida simples: Consiste em mensurar uma ferida, medindo-a em seu maior
comprimento e largura, utilizando a rgua dividida em unidade de medida linear
(cm). aconselhvel associ-la fotografia.
Medida cavitria: Consiste em, aps a limpeza da ferida, preencher a cavidade com
SF 0,9%, aspirar com seringa estril o contedo e observar em milmetro o valor
preenchido. Outra tcnica utilizada a travs da introduo de uma esptula ou
seringa estril na cavidade da ferida, para que seja marcada a profundidade. Aps,
verificar o tamanho com uma rgua.
3.6. Caracterstica do leito da ferida
So divididos em tecidos viveis e inviveis. Os tecidos viveis compreendem:
Granulao: de aspecto vermelho vivo, brilhante, mido, ricamente
vascularizado; Epitelizao: revestimento novo, rosado e frgil.
Os tecidos inviveis compreendem:
Necrose de coagulao: (escara) caracterizada pela presena de crosta
preta e/ ou bem escura;
Necrose de liquefao: (amolecida) caracterizada pelo tecido amarelo/
esverdeado e/ ou quando a leso apresentar infeco e/ ou presena de
secreo purulenta;
Desvitalizado ou Fibrinoso: tecido de colorao amarela ou branca, que
adere ao leito da ferida e se apresenta como cordes ou crostas grossas,
podendo ainda ser mucinoso.
24 PROTOCOLO DE FERIDAS
4. Cicatrizao da ferida
A cicatrizao um processo fisiolgico dinmico que busca restaurar a
continuidade dos tecidos. Devemos conhecer a fisiopatologia da cicatrizao,
entender os fatores que podem aceler-la ou retard-la, para atuar de forma a
favorecer o processo cicatricial.
4.1. Fases da cicatrizao
importante sabermos reconhecer as fases da cicatrizao para que possamos
implementar o cuidado correto com a ferida. Ocorre por regenerao das clulas
epiteliais na superfcie da ferida, em decorrncia da perda da inibio de contato e
da migrao de clulas epidrmicas em direo a superfcie. A. Fase de inflamao ou exsudativa: a primeira fase de hemostasia e inflamao
iniciam-se com a ruptura de vasos sanguneos e o extravasamento de sangue. A
leso de vasos sanguneos seguida rapidamente pela ativao da agregao
plaquetria e da cascata de coagulao, resultando na formao de molculas
insolveis de fibrina e hemostasia. Durante este processo ocorre o recrutamento de
macrfagos e neutrfilos, ou seja, ocorre reao completa do tecido conjuntivo
vascularizado em resposta agresso do tecido, cujo objetivo interromper a causa
inicial (dor, calor rubor e edema).
B. Fase proliferativa (granulao e reepitelizao): caracteriza-se pela
neovascularizao e proliferao de fibroblastos, com formao de tecido rseo,
mole e granular na superfcie da ferida (3 a 4 dias). Contudo, a formao do tecido
de granulao estimulada por nveis baixos de bactrias na ferida, mas inibida
quando o nvel de contaminao elevado.
C. Fase de Maturao ou remodelagem do colgeno: a fase final de
cicatrizao de uma ferida que se caracteriza pela reduo e pelo fortalecimento da
cicatriz. Durante esta fase, os fibroblastos deixam o local da ferida, a vascularizao
reduzida, a cicatriz se contrai e torna-se plida e a cicatriz madura se forma (de 3
25 PROTOCOLO DE FERIDAS
semanas a 1 ano a mais). O tecido cicatricial sempre vai ser menos elstico do que
a pele circundante.
4.2. Tipos de cicatrizao
As feridas so classificadas pela forma como se fecham. Uma ferida pode se fechar
por inteno primria, secundria ou terciria.
1 inteno ou primria: a cicatrizao primria envolve a reepitelizao, na
qual a camada externa da pele cresce fechada. As clulas crescem a partir
das margens da ferida e de fora das clulas epiteliais alinhadas aos folculos
e s glndulas sudorparas. As feridas que cicatrizam por primeira inteno
so, mais comumente, feridas superficiais, agudas, que no tem perda de
tecido e resultam em queimaduras de primeiro grau e cirrgicas em cicatriz
mnima, por exemplo. Levam de 4 a 14 dias para fechar;
2 inteno ou secundria: uma ferida que envolve algum grau de perda
de tecido. Podem envolver o tecido subcutneo, o msculo, e possivelmente,
o osso. As bordas dessa ferida no podem ser aproximadas, geralmente so
feridas crnicas como as lceras. Existe um aumento do risco de infeco e
demora cicatrizao que de dentro para fora. Resultam em formao de
cicatriz e tm maior ndice de complicaes do que as feridas que se
cicatrizam por primeira inteno;
3 inteno ou terciria: Ocorre quando intencionalmente a ferida mantida
aberta para permitir a diminuio ou reduo de edema ou infeco ou para
permitir a remoo de algum exsudato atravs de drenagem como, por
exemplo, feridas cirrgicas, abertas e infectadas, com drenos. Essas feridas
cicatrizam por 3 inteno ou 1 inteno tardia.
4.3. Fatores que interferem no processo de cicatrizao
O processo de cicatrizao pode ser afetado por fatores locais e sistmicos e
tambm por tratamento tpico inadequado.
Fatores locais: Localizao e infeco local (bacteriana) e profundidade da
ferida; edema, grau de contaminao e presena de secrees; trauma,
ambiente seco, corpo estranho, hematoma e necrose tecidual;
26 PROTOCOLO DE FERIDAS
Fatores sistmicos: fatores relacionados ao cliente como idade, faixa etria,
nutrio, doenas crnicas associadas, insuficincias vasculares lceras, uso
de medicamentos sistmicos (antiinflamatrios, antibiticos, esterides e
agentes quimioterpicos);
Tratamento tpico inadequado: a utilizao de sabo tensoativo na leso
cutnea aberta pode ter ao citoltica, afetando a permeabilidade da
membrana celular. A utilizao de solues anti-spticas tambm pode ter
ao citoltica. Quanto maior for concentrao do produto maior ser sua
citotoxicidade, afetando o processo cicatricial. Essa soluo em contato com
secrees da ferida tem a sua ao comprometida.
4.4. Complicaes da cicatrizao de feridas
As complicaes mais comuns associadas cicatrizao de feridas so:
Hemorragia interna (hematoma) e externa podendo ser arterial ou venosa;
Deiscncia: separao das camadas da pele e tecidos. comum entre 3 e
11 dias aps o surgimento da leso;
Eviscerao: protruso dos rgos viscerais, atravs da abertura da ferida;
Infeco: drenagem de material purulento ou inflamao das bordas da ferida;
quando no combatida, pode gerar osteomielite, bacteremia e septicemia;
Fstulas: comunicao anormal entre dois rgos ou entre um rgo e a
superfcie do corpo.
4.5. Condies ideais para o processo de cicatrizao
A. Temperatura: A temperatura ideal, para que ocorram as reaes qumicas,
(metabolismo, sntese de protenas, fagocitose, mitose) em torno de 36,4 C a
37,2 C. Se a temperatura variar, o processo celular pode ser prejudicado ou at
interrompido. Portanto, limpeza da leso com soro fisiolgico aquecido, menor
exposio da leso no momento da limpeza e cobertura adequada, so fatores
importantes para preservarmos a temperatura local;
B. Ph do tecido lesional: As secrees das glndulas sudorparas e sebceas
promovem um pH cido (4,2-5,6) importante para a pele, impedindo a penetrao ou
27 PROTOCOLO DE FERIDAS
colonizao por microorganismos. O pH do tecido de uma ferida ligeiramente cido
(5,8-6,6) para que as funes celulares ocorram adequadamente; este pode ser
afetado por secrees (urina, fezes) e certos anti-spticos. Portanto, deve-se avaliar
criteriosamente o uso destes produtos;
C. Nveis bacterianos na ferida: Contaminadas: presena de microrganismos,
porm, sem proliferao. Colonizadas: presena e proliferao de microrganismos,
sem provocar reao no hospedeiro. Infectadas: bactrias invadem o tecido sadio e
desencadeiam resposta imunolgica do hospedeiro. O controle da colonizao nas
feridas depende da limpeza adequada, uso de tcnica assptica na troca do
curativo, uso de curativos que promovam barreira e que ajudem no controle
microbiano.
D. Umidade no leito da leso: A atividade celular adequada ocorre em meio mido.
Atravs de trabalho comparativo, demonstrou, em porcos, que feridas com perda
parcial de tecido epitelizavam, em metade do tempo, quando cobertas com filme de
poliuretano ao serem comparadas com outras expostas ao ar. A manuteno do
meio mido proporcionada pela pelcula facilitou a migrao e a reproduo
celulares.
Como vimos cicatrizao das feridas pode ser retardada por diversos fatores, tanto
devido a condies do usurio como devido aos cuidados inadequados com a
mesma. A ferida deixa de passar pelas etapas normais de cicatrizao devido
cronicidade de uma fase ou ao no comeo de uma das fases. Tanto as condies
que evitam como mantm a inflamao so comumente responsveis. Estas
condies incluem presena de tecido necrtico, infeco, colocao de gaze ou de
agentes citotxicos no interior da ferida, manipulao inadequada, e imunidade
comprometida. Cavitao, tunelizao e fstulas podem ocorrer como resultado de
uma cicatrizao comprometida.
O tratamento timo obtido pela manuteno de um leito de ferida mido e pela
manuteno da umidade da pele circundante. O curativo mido protege as
terminaes nervosas, reduzindo a dor; acelera o processo cicatricial, previne a
desidratao tecidual e a morte celular; promove necrlise e fibrinlise. A
impossibilidade de manter estas condies tambm lentifica a cicatrizao,
causando dessecao, hipergranulao ou macerao.
28 PROTOCOLO DE FERIDAS
4.6. Estado Nutricional no processo de cicatrizao
Recente estudo prospectivo demonstrou que dentre vrios fatores diferentes,
condio fsica, atividade, mobilidade e estado nutricional para o desenvolvimento
de leses de presso, os usurios que apresentaram baixo peso corpreo, nvel de
albumina srica baixo, energia, ingesto inadequada de alimentos e de lquidos
desenvolveram leses de presso. Em idosos, a cada grama de albumina srica
reduzida, triplica a chance do desenvolvimento de lceras de presso. Os usurios
anmicos apresentam retardo no processo cicatricial, porque os nveis baixos de
hemoglobina reduzem a oxigenao do tecido lesado. Logo, o comprometimento do
estado nutricional prvio injria dificultar o processo cicatricial. No caso de
lceras de presso, favorecer o aparecimento delas pela inabilidade do organismo
de lanar mo de nutrientes especficos para cicatrizao.
Assim, frente importncia da Nutrio no Processo Cicatricial a cicatrizao de
feridas envolve uma srie de interaes fsico-qumicas que requerem vrios
nutrientes em todas as suas fases:
A. Fase inflamatria: Iniciada quando a ferida formada e termina geralmente em
quatro ou seis dias. Nutrientes requeridos: aminocidos (principalmente arginina,
cistena e metionina), vitamina E, vitamina C e Selnio, para fagocitose e
quimiotaxia; vitamina K, para sntese de protrombina e fatores de coagulao.
B. Fase proliferativa: Inicia-se geralmente no 3 dia e pode continuar por vrias
semanas. Ocorre a proliferao de clulas epiteliais e fibroblastos (sntese de
colgeno). Nutrientes requeridos: aminocidos (principalmente arginina), vitamina C,
Ferro, vitamina A, Zinco, Mangans, Cobre, cido pantotnico, tiamina e outras
vitaminas do complexo B.
C. Fase de maturao: Envolve o processo de estabilizao da sntese de colgeno
e aumento da retrao da ferida. Esta fase pode continuar por mais de dois anos.
Nutrientes requeridos: aminocidos (principalmente histidina), vitamina C, Zinco e
Magnsio.
29 PROTOCOLO DE FERIDAS
4.7. Desbridamento da ferida
As diretrizes da Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR) so pouco
precisas com relao ao desbridamento. Contudo, indicam a remoo de qualquer
tecido necrosado do interior da ferida, se esta for consistente com os objetivos, com
a seleo do mtodo apropriado s condies do usurio, bem como as
necessidades de avaliao e o controle da dor. As diretrizes tambm estabelecem
que as tcnicas de desbridamento podem ser utilizadas isoladas ou combinadas.
Sob essa tica, o desbridamento de tecido invivel o fator mais importante na
gerncia de leses. A cicatrizao no pode ocorrer at que o tecido necrtico seja
removido. reas de tecido necrtico podem esconder lquidos subjacentes ou
abscessos. O tecido necrtico pode ser amarelo e mido ou cinza, e est separado
do tecido vivel. Se este tecido necrtico e mido secar, aparecer uma escara
preta, grossa e dura. Porm, mesmo que o desbridamento seja doloroso,
especialmente em queimaduras, estes so necessrios para prevenir infeco e
promover a cura, bem como se deve considerar a instalao do processo infeccioso.
Os mtodos de desbridamento podem ser:
A. Instrumental, conservador e cirrgico: utilizam-se materiais cortantes como
tesouras, lminas de bisturis e outros. indicado para remover grande quantidade
de tecidos ou em extrema urgncia. realizado por mdicos cirurgies, incises em
tecidos vivos, e na tentativa de transformar feridas crnicas em feridas agudas.
B. Mecnico: o desbridamento mecnico envolve curativos midos a secos,
utilizados normalmente em feridas com excesso de tecido necrtico e secreo
mnima, exigem a realizao de tcnica apropriada, e o material usado no curativo
fundamental ao seu desfecho. Tambm funciona por frico, irrigao e hidroterapia.
C. Autoltico: atravs de um processo fisiolgico, o qual o ambiente mantido
mido estimulando as enzimas auto-digestivas do corpo. Embora, este processo
seja mais demorado no doloroso, de fcil realizao e apropriado para
usurios que no toleram outro mtodo. Se a ferida estiver infectada, o
desbridamento autoltico no a melhor opo teraputica.
30 PROTOCOLO DE FERIDAS
D. Qumico: o desbridamento qumico com agentes enzimticos um mtodo
seletivo de desbridamento. As enzimas so aplicadas topicamente s reas de
tecido necrtico, fragmentando os elementos de tecido necrtico. As enzimas
digerem somente o tecido necrtico e no agridem o tecido saudvel. Estes agentes
exigem condies especificas que variam com o produto, que deve seguir as
orientaes do fabricante. A aplicao das enzimas deve ser interrompida assim que
a ferida estive limpa e com tecido de granulao favorvel.
4.8. Medidas Preventivas
Usar placas de hidrocolide em proeminncias sseas, nos usurios de risco;
Reduzir reas de presso utilizando colcho caixa de ovo ou de ar;
Orientar mudanas de decbitos freqentemente;
Utilizar coxins, travesseiros, para amenizar reas de presso;
Manter panturrilhas e tornozelos apoiados em almofadas;
Realizar higiene ntima e/ou corporal sempre que necessrio;
Promover hidratao da pele;
No realizar massagem em proeminncias sseas e reas de presso.
5. Avaliao de feridas
Na avaliao da leso importante que o profissional classifique a ferida e
identifique o estgio da cicatrizao, antes da aferio, para que possa realizar uma
estimativa do processo cicatricial e quais os fatores que iro interferir neste
processo. Essa combinao de mtodos dar uma viso mais acurada sobre o caso.
Essa avaliao deve vir acompanhada de um registro minucioso sobre a ferida que
descreva a localizao, etiologia, tamanho, tipo, a colorao de tecido no leito da
leso, quantidade e caracterstica do exsudato, odor, aspecto da pele ao redor, entre
outros, tambm os aspectos relacionados s condies gerais do usurio, tais como:
estado nutricional, doenas crnicas concomitantes, imunidade, atividade fsica,
condies socioeconmicas e para os acamados, local onde permanece a maior
parte do tempo, condies do local entre outros precisam ser avaliados, seguir o
Guia para Avaliao e Descrio de Feridas (Apndice 3).
31 PROTOCOLO DE FERIDAS
A avaliao da ferida envolve tambm o seu estadiamento, que poder variar de
acordo com a sua etiologia. Por exemplo, as lceras de presso so estadiadas por
estgios, enquanto as lceras por p diabtico, em graus.
Aps avaliao minuciosa, a equipe dever registrar os dados coletados na Ficha de
Avaliao de Feridas (Apndice 4), considerando tanto os dados especficos do
exame da leso quanto do estado geral do mesmo. A seguir ser realizado, o
acompanhamento semanal deste usurio para verificar a evoluo e adeso do
tratamento.
6. Atendimento ao usurio com queimaduras
As queimaduras so os maiores traumas a que um ser humano pode ser exposto.
Nenhum outro tipo de trauma desencadeia uma resposta metablica to intensa e
com tantas repercusses em praticamente todos os rgos e sistemas. Alm das
repercusses imediatas conseqentes s queimaduras, as seqelas fsicas e
emocionais do usurio queimado e de sua famlia permanecem por toda a vida.
Entretanto, recentes avanos no conhecimento da fisiopatologia da resposta
metablica queimadura, cuidados com as feridas, novas tcnicas cirrgicas e
bioengenharia da pele tm demonstrado excelentes resultados na maioria dos
usurios queimados que sobrevivem ao trauma.
As queimaduras comprometem as funes bsicas da pele e/ou causam alteraes
das funes normais de outros rgos e sistemas. Sua gravidade determinada
principalmente pela extenso da superfcie corporal queimada e pela profundidade.
A profundidade da leso dependente da temperatura e durao da energia trmica
aplicada pele. O contato da pele com o calor, substncias qumicas ou eletricidade
resulta na destruio do tecido em graus variveis. Do ponto de vista evolutivo as
queimaduras so classificadas em:
Primeiro Grau: Atinge apenas a epiderme, o local apresenta hiperemia ou
vermelhido, calor, edema discreto, ardncia e ressecamento da pele.
Geralmente, aparecem em pessoas que se expuseram demasiadamente ao
sol (raios ultravioleta) e/ou ao calor extremo. Quando atinge mais da metade
do corpo, torna-se grave;
Segundo Grau: Atinge a derme, podendo ser superficial e profunda e tem
como caracterstica a presena de flictenas ou bolhas com contedo lquido
32 PROTOCOLO DE FERIDAS
ou colide. Apresenta edema que atinge regies circunvizinhas, apresentando
dor intensa por sua relao ntima com vasos e terminaes nervosas
perifricas, podendo sangrar; a perda de gua e eletrlitos pode provocar
desidratao. Esta queimadura geralmente causada por vapor, lquidos e
slidos escaldantes;
Terceiro Grau: Destri todas as camadas da pele, atingindo tecidos
adjacentes e profundos originando cicatrizao hipertrfica por segunda
inteno e pode ser causada por chama direta do fogo. A pele apresenta-se
endurecida, de colorao acinzentada ou nacarada, pode ser indolor e no
apresentar sangramento.
A extenso da queimadura outro fator a ser analisado em relao gravidade:
quanto maior a superfcie corporal queimada, independente da profundidade, maior
a intensidade da resposta metablica e suas complicaes. Vrios mtodos esto
disponveis para determinar a extenso da queimadura, que fornecem uma
estimativa da superfcie corporal queimada (SCQ).
Existem trs mtodos de avaliao comumente utilizados: a Regra dos nove
(Quadro 3.1) mais comumente utilizada em adultos.
Quadro 3.1 - Regra dos Nove
REA ADULTO CRIANA
Cabea e pescoo 9% 18%
Membros superiores 9% 9%
Tronco anterior 18% 18%
Tronco posterior 18% 18%
Genitais 1% -
Membros inferiores 18% 14%
O esquema de Lund e Browder (Quadro 3.2), mais adequado para uso em pediatria
e a comparao da SCQ com a regio palmar (incluindo os dedos) do usurio que
corresponde a aproximadamente 1% da SCQ.
33 PROTOCOLO DE FERIDAS
Quadro 3.2 - Tabela de Lund e Browder
Com base na anlise da SCQ e da profundidade das queimaduras o usurio pode
ser tratado em nvel ambulatorial ou hospitalar.
A Sociedade Brasileira de Queimaduras relaciona os seguintes critrios para
encaminhamento a uma Unidade de Queimados:
Queimaduras de espessura parcial superiores a 20% da superfcie do corpo
(SC) em adulto ou 10% da SC em criana ou 5% SC em criana menor que 2
anos de idade;
Queimaduras de terceiro grau em 10% da SC em adulto ou 2% SC em
criana de qualquer idade;
Queimaduras que envolvem face, mos, ps, genitlia, perneo e articulaes
importantes;
Queimaduras causadas por eletricidade, inclusive leso por raio;
Queimaduras qumicas;
Leso por inalao;
IDADE REA %
0-1 1-4 5-9 10-14 ADULTO
Cabea 19 17 13 11 7
Pescoo 2
Tronco Anterior/
Posterior 13
Brao Direito/ Esquerdo 4
Antebrao Direito/
Esquerdo 3
Mo Direita/ Esquerda 2,5
Ndega Direita/
Esquerda 2,5
Genitlia 1
Coxa Direita/ Esquerda 5,5 6,5 9 8,5 9,5
Perna Direita/ Esquerda 5 5,5 - 6 7
P Direito/ Esquerdo 3,5
Fonte: Lund CC, Browder NC.
Skin estimation of burns. Surg
Ginecol Obstet. 79:352-8, 1944;
34 PROTOCOLO DE FERIDAS
Queimadura em usurios com desordens mdicas preexistentes que
poderiam complicar os cuidados, prolongar a recuperao ou influenciar a
mortalidade;
Qualquer usurio com queimadura e trauma concomitantes (tais como
fraturas, e outros.);
Queimaduras em pacientes que requerem interveno especial, social,
emocional e/ou longo perodo de reabilitao.
6.1. Tratamento I - queimaduras de espessura parcial
Neste tipo de queimaduras esperada a reepitelizao a partir dos anexos
drmicos. Nenhum produto tpico, exceto talvez fatores de crescimento utilizados
experimentalmente, podem acelerar o processo de cicatrizao. Portanto, o princpio
bsico do tratamento o de no agredir mais a pele.
O primeiro atendimento deve consistir de:
Anamnese: como, quando, onde e com o que ocorreu a queimadura;
Analgesia;
Comprovao da imunizao antitetnica;
Limpeza da superfcie queimada com clorexidine 1%;
Curativo primrio no aderente com murim com AGE;
Curativo secundrio absorvente com chumaos de gaze;
Curativo tercirio com ataduras e/ou talas para conforto. As bolhas ntegras
quando presentes no primeiro curativo, se o tempo decorrido da queimadura
at o atendimento for menor que 1 hora: devem ser aspiradas com agulha
fina estril, mantendo-se ntegra a epiderme como uma cobertura biolgica
derme queimada, j que a retirada do lquido da flictena remove tambm os
mediadores inflamatrios presentes, minimizando a dor e evitando o
aprofundamento da leso; se maior que 1 hora: manter a flictena ntegra; se a flictena estiver rota: fazer o desbridamento da pele excedente.
Aps 48 horas o curativo deve ser trocado com degermao da superfcie queimada
e curativo fechado com sulfadiazina de prata creme ou, preferencialmente, por
coberturas que permaneam por 5 a 7 dias, evitando a troca freqente, pois dessa
forma, os queratincitos diferenciados a partir da membrana basal no so
removidos, mantendo o processo de reepitelizao. recomendvel que os
35 PROTOCOLO DE FERIDAS
curativos sejam inspecionados a cada 48 horas para monitorar o processo de
cicatrizao e o aparecimento de infeco. Dentre os curativos que podem ser
utilizados como permanentes citamos os hidrocolides e rayon com prata
nanocristalina de liberao lenta. Antibiticos no esto indicados, exceto se for
observada na troca de curativos, secreo purulenta, celulite peri-queimadura,
edema, petquias e sinais sistmicos como febre e comprometimento geral.
Em geral, ao final de 21 dias, o processo de reepitelizao se completa,
permanecendo a rea queimada com aspecto hipercrmico, usualmente
avermelhado ou rseo, que tende a desaparecer. O acompanhamento ambulatorial
deve incluir neste momento, uso de cremes hidratantes em grande quantidade,
acompanhado de massagem no local, evitar o sol por 06 meses e monitoramento
durante 01 ano para o aparecimento de cicatrizes hipertrficas.
6.2. Tratamento II queimaduras de espessura total
O tecido queimado deve ser tratado com degermao balneoterapia diria com
clorexidina 1% e uso de agentes antimicrobianos como sulfadiazina de prata para
evitar a proliferao bacteriana no tecido queimado. Concentraes muito baixas so
letais para a maioria dos microrganismos, agindo na membrana celular e na parede
celular bacteriana. Aps o enxge da clorexidina, ela aplicada em uma camada
fina, sobre a superfcie queimada. O tratamento deve ser contnuo, com aplicao 1
vez ao dia, aps o banho. Est sempre indicada a exciso e enxertia de pele,
portanto o usurio dever ser encaminhado ao hospital para a realizao do
procedimento.
7. Atendimento ao usurio ostomizado
A palavra ostoma origina-se do grego stoma, que significa boca ou abertura de
qualquer vscera oca atravs do corpo por diversas causas. Dependendo da origem
do segmento corporal, do-se nomes diferenciados como, por exemplo,
gastrostomia (abertura no estmago), traqueostomia (abertura na traquia).
36 PROTOCOLO DE FERIDAS
7.1. Classificao das ostomias intestinais
necessrio o conhecimento sobre a anatomia e fisiologia do intestino, para
identificar o segmento intestinal exteriorizado. Alm deste dado, acresce o tipo de
efluente. Denomina-se efluente as fezes excretadas pelo ostoma intestinal. Desse
modo, ser necessrio conhecer o tipo de cirurgia realizada e as caractersticas do
efluente para identificar os tipos de ostomia e atravs desse conhecimento se
prestar uma assistncia de qualidade. (Quadro 4)
Quadro 4 Classificao das ostomias intestinais TIPO DE OSTOMIA
INTESTINAL LOCALIZAO NO ABDOME
CARACTERSTICAS DO EFLUENTE
Ileostomia Quadrante inferior direito
Consistncia inicial lquida
passando pastosa.
Efluente com pH alcalino,
altamente corrosivo pele.
Eliminao freqente e de
grande volume.
Ostomia de clon ascendente Quadrante inferior direito Apresenta efluente liquido a
pastoso.
Ostomia de clon transverso
Quadrante inferior direito,
podendo localizar-se tambm no
quadrante superior direito ou
esquerdo.
Efluente pastoso a semiformado.
Ostomia de clon Descendente
e sigmide Quadrante inferior esquerdo Efluente slido e formado.
Fonte: Martins, Margarete Linhares, et al. 2007.
7.2. Complicaes dos ostomas intestinais
Dentre as complicaes dos ostomas intestinais, as mais freqentes so
hemorragias, necrose, estenose, retrao, prolapso, hrnias paraostomias,
dermatites. So complicaes precoces dos estomas intestinais: sangramento, isquemia, necrose, edema e retrao. As complicaes tardias podem manifestar-
se meses ou anos aps a cirurgia.
37 PROTOCOLO DE FERIDAS
Segue abaixo, as principais complicaes e formas de tratamento e/ou cuidados
adequados:
A. Prolapso: a exteriorizao ou protruso de segmentos de ala intestinal,em
extenso varivel, atravs do ostoma, alm do plano cutneo do abdome. Pode
ocorrer em associao com a hrnia paraostomal. Em caso de prolapso, so
indicados dispositivos com barreira de proteo de pele flexvel, utilizao de
barreiras protetoras de resina em pasta ou protetores cutneos na regio
periostoma.
B. Hrnia paraostomal: consiste na protruso das alas intestinais pelo trajeto do
ostoma, dentro do tecido subcutneo, criando um abaulamento ao redor do mesmo.
A correo da hrnia paraostomal cirrgica e indicada quando houver dor
abdominal intensa, impossibilidade de adequao do equipamento, obstruo
intestinal devido ao encarceramento da hrnia.
So indicados dispositivos que devem ser de barreira flexvel e uso de cintas
elsticas para conteno abdominal ou de cintos de proteo para essa patologia.
C. Retrao: que compreende a penetrao da ala intestinal para a cavidade
abdominal devido ao segmento intestinal curto ou exteriorizado sob tenso.
O tratamento da retrao cirrgico e nestes casos, recomendam-se como
dispositivos o uso de sistema coletor com barreira convexa, barreiras associadas na
apresentao de p e pasta, e cintos auxiliares para fixao.
D. Dermatites: so muito freqentes e podem estar relacionadas s complicaes
descritas anteriormente. Dentre os cuidados, destaca-se a manuteno da
integridade da pele, sendo para isso necessria a higiene e o uso adequado dos
dispositivos. A identificao do agente causal das dermatites periostoma o primeiro
passo para o sucesso do tratamento. (Quadro 5).
38 PROTOCOLO DE FERIDAS
Quadro 5: Tipos de dermatite que ocorrem na pele periostoma
TIPO DE DERMATITE
CARACTERSTICAS
Irritativa
Ocorre pelo contato do efluente com a pele.
Cuidados:
1 Revisar as aes de cuidado;
2 Limpar adequadamente a pele com gua morna e sabo neutro;
3 Evitar contato do efluente com a pele atravs do uso de bolsa drenvel, com
barreira protetora de pele com necessidade inclusive de uso de barreiras
cutneas adicionais em forma de p, pastas e placas;
4 Trocar o dispositivo a cada sinal de vazamento.
Alrgica
Pode instalar-se devido a reaes de contato da pele com produtos:
Cuidados:
1 Investigar a causa da alergia;
2 Na troca de dispositivos, usar preferencialmente os hipoalergnicos.
Por trauma
mecnico
Ocorre pela retirada abrupta da bolsa coletora, pela troca freqente ou na limpeza
exagerada.
Cuidados:
1 Evitar aes inadequadas que provoquem trauma mecnico;
2 Rever aes de cuidado;
3 Usar de dispositivos com protetor de pele (bolsa com 2 peas)
Infecciosa
So secundrias as causas anteriores citadas. As infeces mais freqentes so
foliculite (estafilococos) e candidase (cndida albicans)
Cuidados: Esta associada ao uso de medicamentos tpicos especficos, como fungicidas,
corticides e/ou antibiticos.
Fonte: Martins, Margarete Linhares, et al. 2007.
39 PROTOCOLO DE FERIDAS
CONSIDERAES
METODOLGICAS
40 PROTOCOLO DE FERIDAS
Trata-se de um estudo de carter exploratrio e descritivo, com abordagem do tipo
quali/quantitativa, que se apresenta como a mais adequada por ser capaz de revelar
valores, smbolos, normas e representaes de um grupo de profissionais da
Secretaria Municipal da Sade (10 enfermeiros e 1 mdico), realizado no perodo de
janeiro a julho de 2007.
preciso ressaltar que compreendemos o mtodo como um conjunto de etapas e
processos que so utilizados, de forma ordenada, com o intuito de investigar os fatos
e procurar entender uma dada realidade.
Em funo do objetivo proposto e do tipo de estudo, elaborou-se um cronograma de
planejamento e desenvolvimento das etapas do projeto, onde foram subdivididos os
temas em trs pequenos grupos de estudo, com um total de 18 encontros semanais,
no perodo matutino e vespertino.
Em cada encontro semanal programado, as discusses com o grupo tiveram como
finalidade socializar as questes que mereciam aprofundamento, a fim de buscar
solues coletivas, enriquecendo as decises que aconteciam de forma
compartilhada. Nesse sentido, a busca pela fundamentao cientifica reuniu fontes
bibliogrficas da rea de Medicina, Enfermagem, Anatomia, Fisiologia, Farmacologia
e da Bioqumica.
A reflexo do grupo, relacionando a teoria prtica dessa realidade, reinterpretou
em conjunto os textos lidos anteriormente, o que propiciou compor o contedo
necessrio ao Protocolo de Cuidados de Feridas, bem como o Manual de Normas e
Rotinas de Processamento de Artigos e Superfcies, fortalecendo as percepes e
saberes (re)construdo durante todo o desenvolvimento do estudo. Foram utilizadas
discusses no grande grupo, pautadas em diversos referenciais literrios.
Para coleta de dados buscou-se conhecer a situao da realizao dos curativos
pela equipe de sade da famlia dentro da Rede Bsica, sendo elaborado um
questionrio com perguntas abertas e fechadas que foi aplicado e respondido por
todos os Centros de Sade. O questionrio abordou desde quem o executor do
procedimento at a estimativa de gasto com materiais para curativos, bem como do
deslocamento realizado e tempo gasto para a realizao do curativo.
A anlise dos dados foi realizada atravs de leituras sucessivas e classificao at
quando foi possvel agrupar as respostas considerando as suas similaridades e
divergncias, visando construo de um conjunto sistematizado de dados vlidos
para a anlise pretendida.
41 PROTOCOLO DE FERIDAS
Destacamos como ponto positivo do estudo, a participao efetiva de todos os
profissionais envolvidos, pois a convivncia em grupo permitiu a formao de
vnculos afetivos de respeito e confiana mtuos criando um clima de cumplicidade
para as atividades propostas, favorecendo um ambiente mais harmonioso,
encorajador, criativo e cooperativo traduzido nas reflexes formuladas e que
contriburam para a construo do conhecimento. Enfim, com o Protocolo e o
Manual de Normas e Rotinas elaborado, revisado e finalizado, passamos segunda
etapa do projeto, que a apresentao e validao do mesmo pelo Senhor
Secretrio Municipal de Sade.
Aps esta etapa de aprovao do Projeto, a etapa seguinte ser a de implantao
do mesmo e a capacitao da Rede.
42 PROTOCOLO DE FERIDAS
CUIDADO
DE FERIDAS
43 PROTOCOLO DE FERIDAS
1. Caractersticas de um curativo ideal
1 Manter alta umidade na interface ferida/cobertura;
2 Remover o excesso de exsudao;
3 Permitir a troca gasosa;
4 Fornecer isolamento trmico;
5 Ser impermevel a bactrias;
6 Estar isento de partculas e txicos contaminadores;
7 Permitir a troca sem provocar trauma.
1.1. Tcnicas utilizadas
Estril: curativo realizado na unidade de sade, com material estril (pinas
ou luvas), soluo fisiolgica 0,9% e cobertura estril.
Limpa: curativo realizado no domiclio, pelo usurio e/ou familiar. Realizado
com material limpo, gua corrente ou soro fisiolgico 0,9% e cobertura estril.
1.2. Tipos de coberturas de Curativo
Passivo: Somente protegem e cobrem as feridas.
Interativos: Proporcionam um micro ambiente timo para a cura.
Bioativos: Resgatam ou estimulam a liberao de substncias durante o
processo de cura.
1.3. Tipos de curativos
Incises cirrgicas com bordos aproximados, cicatrizao por primeira
inteno.
A partir de 24 horas j podem ficar expostas, pois j se formou a rede de fibrina
protetora impossibilitando a entrada de microorganismos.
Se o usurio desejar que a inciso fique coberta, poder ser realizado apenas
um curativo passivo.
Feridas abertas: Irrigao com soluo fisiolgica 0,9%, morna (em torno de
37C, para no ocorrer resfriamento no leito da leso, o que retarda o processo
44 PROTOCOLO DE FERIDAS
de cicatrizao), utilizando seringa de 20ml e agulha 40X12 (a presso exercida
no leito da leso no deve ultrapassar 15 psi, a fim de preservar os neotecidos
formados).
Leses fechadas: Consiste no curativo tradicional, com uso de pinas.
Drenos: considerado um curativo complexo. O dreno tem como objetivo:
proporcionar a drenagem de sangue, exsudato, bile e outros fluidos corpreos,
evitando acmulo destes na cavidade.
A. Curativo Tradicional Material:
Pacote de curativo (normalmente tem 1 pina hemosttica e/ ou Kocher, 1
anatmica e 1 dente de rato);
Pacote de compressa cirrgica 7,5x7,5 cm estreis;
Saco de lixo hospitalar (se necessrio);
Chumao (s/n);
Cuba rim;
Atadura (s/n);
Luvas de procedimento;
Soluo fisiolgica a 0,9% aquecida (37C);
Esparadrapo comum ou esparadrapo hopoalergnico (s/n). B. Curativo interativo e bioativo em feridas abertas
Material:
Cobertura adequada (de acordo com a prescrio de Enfermagem);
Luvas de procedimento;
Pacote de curativo;
Cuba rim;
Saco de lixo hospitalar (s/n);
Pacote de gaze estril;
Cuba redonda estril;
Seringa de 20 ml;
Agulha 40x12;
45 PROTOCOLO DE FERIDAS
Soluo fisiolgica 0,9% (37C).
PROCEDIMENTO:
Lavar as mos;
Observar orientao e prescrio mdica e/ou de enfermagem;
Preparar material observando validade e integridade;
Preparar o ambiente;
Orientar o cliente;
Calar luvas, normalmente de procedimento;
Remover curativo antigo com cuidado para no lesar a pele utilizando a pina
anatmica dente de rato ou com as mos enluvadas. O uso de SF 0,9% pode
ajudar na remoo;
Desprezar a pina utilizada para remoo do curativo, bem como trocar as
luvas se estiverem contaminadas. Examinar a ferida cuidadosamente
observando: pele e adjacncias (colorao, hematomas, salincias) aparncia
dos bordos, caractersticas do exsudato, presena de tecido necrosado, de
granulao, sinais de infeco (hiperemia, edema, calor, dor).
Se ferida fechada: realizar a limpeza comeando pelo local da inciso
utilizando a pina Kocher. Fazer uma torunda de gaze com o auxlio da pina,
molhar a mesma com SF 0,9% Com movimentos rotatrios do punho, de
forma rtmica e firme, iniciar a limpeza de dentro para fora, do local mais limpo
para o mais contaminado. Utilize todas as faces da torunda apenas uma vez,
desprezando em seguida.
Se ferida aberta: Realizar irrigao com soluo fisiolgica 0,9%, morna
utilizando seringa de 20ml e agulha 40X12 ou frasco de SF 0,9% perfurado com agulha 40X12. Se necessrio, remover exsudatos e/ou fibrina e/ou restos
celulares da leso. Secar a regio peri-lesional, aplicando no leito da ferida a
cobertura indicada. Cobrir com curativo secundrio.
A utilizao de solues anti-spticas deve ser realizada somente aps
criteriosa avaliao.
Utilizar a pina anatmica para cobrir a ferida.
Ao final, recolher o material, deixar o ambiente em ordem, desprezar o
material descartvel contaminado em lixo hospitalar (saco branco).
46 PROTOCOLO DE FERIDAS
Pinas e materiais permanentes contaminados devem permanecer 30 min.
em soluo desinfetante.
Proceder a lavagem das mos.
Fazer o registro do procedimento.
Orientar o usurio/famlia de acordo com a(s) necessidade(s).
1.4. Cuidados para trocas da bolsa coletora de ostomia
Limpar a pele ao redor do ostoma com gua morna e sabo neutro, enxaguar
abundantemente e secar bem com um tecido macio;
Medir o ostoma, utilizando um medidor especfico, e marcar o tamanho no
papel (proteo) que recobre a placa protetora da bolsa;
Antes de recortar, afastar a parte plstica anterior da posterior, tomando o
cuidado de no perfurar a bolsa;
Recortar a abertura inicial da placa e posicionar a bolsa com a abertura sobre
a ostomia;
Retirar o papel protetor da placa e posicionar a bolsa com a abertura sobre a
ostomia, pressionando levemente contra a pele;
Remover o papel protetor do adesivo lateral (quando existir) e fix-lo na pele
com uma leve presso sem formar rugas;
Proceder remoo da bolsa. Indica-se preferencialmente a retirada durante
o banho, pois o umedecimento do adesivo e o deslocamento da placa
protetora suavemente da pele facilitam o procedimento. Indica-se que a troca
ocorra pela manh ou entre as refeies, pois nestes horrios h uma
diminuio da eliminao do contedo intestinal.
2. Padronizao dos insumos
A. Alginato de Clcio
Conceito/Composio: Fibras originrias de algas marinhas marrons, compostas
pelos cidos hialurnico e manurnico, com ons de clcio e/ou sdio incorporados
em suas fibras.
Mecanismo de ao: O sdio presente no exsudato e no sangue interagem como
47 PROTOCOLO DE FERIDAS
clcio presente no curativo de alginato. A troca inica auxilia no desbridamento
autoltico. O curativo tem alta capacidade de absoro, resulta na formao de um
gel que mantm o meio mido para a cicatrizao e induz a hemostasia.
Indicaes: Feridas abertas, sangrantes, altamente exsudativas com ou sem
infeco, at a reduo do exsudato.
Contra-indicaes: Leses superficiais sem ou com pouca exsudao; leses por
queimaduras.
Aplicao:
Proceder limpeza conforme a tcnica de jato;
Remover exsudato e/ou tecido desvitalizado se necessrio;
Secar a pele adjacente leso;
Aplicar diretamente sobre o leito da ferida evitando contato com a pele
ntegra, a fim de evitar lacerao da pele;
Ocluir com curativo secundrio estril;
Se a ferida for cavitria, preencher toda a cavidade com alginato;
Periodicidade de trocas;
Trocar o curativo secundrio sempre que necessrio;
Feridas Infectadas: trocar a cada 24 horas;
Feridas limpas com sangramentos: trocar a cada 48 horas;
Feridas muito exsudativas: trocar quando saturar o produto.
B. Creme de Sulfadiazina de Prata Conceito/Composio: Sulfadiazina de prata micronizada a 1%. Mecanismo de ao: Atua contra uma grande variedade de microorganismos,
como: bactrias gram-negativas e positivas, fungos, vrus e protozorios.
O uso indiscriminado da sulfadiazina de prata causa citotoxicidade e pode levar
resistncia microbiana.
Raramente as bactrias so eliminadas pelos antibiticos tpicos, devido proteo
da capa fibrinosa na superfcie ulcerada e algumas espcies bacterianas so
capazes de produzir um biofilm protetor que dificulta a ao do antibitico. Tecidos
desvitalizados ou necrticos, espaos mortos, colees serosas e sanguneas
tambm bloqueiam a ao dos antibiticos. Tais fatos permitem afirmar que
antibioticoterapia sistmica a mais adequada para tratar feridas infectadas.
48 PROTOCOLO DE FERIDAS
Indicaes: Priorizado para tratamento de queimaduras. Contra-indicaes: Presena de hipersensibilidade aos componentes; disfuno
renal ou heptica, leucopenia transitria, rarssimos casos de hiposmolaridade,
rarssimos episdios de aumento da sensibilidade luz solar. Mulheres grvidas,
crianas menores de dois meses de idade e recm-nascido prematuro, devido ao
risco de Kernicterus, causado pelo bilirrubinemia.
Aplicao:
Proceder limpeza conforme a tcnica de jato;
Remover exsudato e/ou tecido desvitalizado se necessrio;
Secar a pele adjacente leso;
Aplicar uma fina camada do creme sobre o leito da ferida;
Ocluir com curativo secundrio estril.
Periodicidade de trocas: As trocas devero ser feitas conforme a saturao das
gazes ou no perodo mximo de 24 horas.
C. Prata Nanocristalina
Conceito/Composio: Polietileno com nano partculas de prata reativas, com 5
camadas.
Mecanismo de ao: Apresenta-se em forma de placa, impregnado com prata, cuja
funo a de inativar as bactrias retiradas do leito da ferida e retidas dentro da
fibra da cobertura. Tem capacidade de absorver de moderado a intenso exsudato
formando um gel coeso que se adapta superfcie da ferida formando meio mido,
provendo desbridamento autoltico. Sua absoro ocorre na vertical e horizontal.
Indicaes: Ferida com moderada a intensa exsudao, com ou sem infeco, com
ou sem tecido necrtico, feridas cavitrias, queimaduras de profundidade parcial (2
grau) e feridas estagnadas.
Contra-indicaes: Presena de hipersensibilidade aos componentes; disfuno
renal ou heptica, leucopenia transitria, rarssimos casos de hiposmolaridade,
rarssimos episdios de aumento da sensibilidade luz solar.
Aplicao:
Aplicar diretamente sobre a ferida de forma que ultrapasse a borda da ferida
em pelo menos 1 cm em toda a sua extenso;
Remover da embalagem e umedecer com gua destilada estril (no utilizar
49 PROTOCOLO DE FERIDAS
soluo fisiolgica salina); deve ser re-umidificado diariamente;
Aplicar cobrindo a ferida com lado azul voltado para ferida;
Fixar a membrana com um curativo secundrio apropriado para manter
umidade na ferida; se necessrio, molhar o curativo para facilitar a remoo
sem trauma.
OBS.: incompatvel com produtos a base de leo, com petrolato.
Periodicidade de trocas: Trocar quando houver saturao da cobertura ou
extravasamento de exsudato, no ultrapassando 7 dias aps a aplicao.
D. Hidrocolide Conceito/Composio: Curativo composto de gelatina, pectina e
carboximetilcelulose sdica.
Mecanismo de ao: Estimulam a angiognese (devido hipxia no leito da ferida),