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ECONOMIA DI COMUNIONE UNA CULTURA NUOVA Anno XII • n.25 • Dicembre 2006 • Periodico quadri- mestrale culturale. Una copia euro 4 • Autorizza- zione del Tribunale Civile di Roma n.83 del 18-2-95 • Spedizione in abbonamen- to postale 45% art.2 comma 20/b legge 662/96 - Padova Editore: Città Nuova Editrice della P.A.M.OM. Direttore responsabile: Alberto Ferrucci Direzione e Amministrazione: via degli Scipioni, 265 • 00192 Roma Stampa: Grafiche Fassicomo Coop. Sociale a.r.l. via Imperiale, 41 16143 Genova 25 Economia de Comunhão uma cultura nova

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ECONOMIA DI COMUNIONE• UNA CULTURA NUOVAAnno XII • n.25 • Dicembre2006 • Periodico quadri-mestrale culturale. Unacopia euro 4 • Autorizza-zione del Tribunale Civiledi Roma n.83 del 18-2-95 •Spedizione in abbonamen-to postale 45% art.2comma 20/b legge 662/96- PadovaEditore: Città NuovaEditrice della P.A.M.OM.Direttore responsabile:Alberto FerrucciDirezione eAmministrazione:via degli Scipioni, 265 •00192 RomaStampa:Grafiche Fassicomo Coop. Sociale a.r.l.via Imperiale, 4116143 Genova

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Economia de Comunhãou m a c u l t u r a n o v a

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Indice

Economia di Comunioneuna cultura nuovaAnno XII • n.25 • Dicembre 2006Periodico quadrimestrale culturale.Una copia 4 euro

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«Uma escolha para todos», ainda atualAlberto Ferrucci

O Paraíso na terra de FrançoisIsaline Dutru

Para a inauguração do Pólo Lionello Chiara Lubich

A fraternidade é possível no âmbito econômico?

Vera Araujo

Uma economia de reciprocidadecomo resposta séria à miséria

Luigino Bruni

A inauguração do Pólo Lionello Bonfanti

E. Gullo e A. Frassineti

Os novos caminhos do desenvolvimento econômico

Stefano Zamagni

Um Fórum sobre a EdC no JornalToscana Hoje

Renato Burigana

Uma experiência positiva e,espera-se, contagiosa

Piero Tani

Cartas do mundo Carla Bozzani

Yunus: as lições de um prêmioBenedetto Gui

Micro crédito nas Filipinas Leo Andringa

Koinonia no Banco Kabayan Francis e Teresa Ganzon

O novo site das teses:instruções para uso

Antonella Ferrucci

Dez novas tesas Antonella Ferrucci

EdC tra America Latina ed Italia Armando Tortelli

Cartas ao diretor Alberto Ferrucci

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Quando estava para concluir o número 25 deste noticiá-rio tomei nas mãos o número 1, impresso em outubrode 1994, com 16 páginas e uma veste gráfica bastante

caseira: os textos não podem mais serlidos no computador, mas o seu conteú-do ainda é extremamente atual.A síntese está na mensagem de Chiara,de 1991:«Ao contrário da economia con-sumista, baseada na cultura do ter, aeconomia de comunhão é a cultura dodar.Isto pode parecer difícil,árduo,herói-co, mas não é assim, porque o homem,feito à imagem de Deus, que é Amor,encontra justamente no amor, no dar, asua realização.Esta exigência encontra-se no profundodo seu ser, quer ele creia quer não.

E nesta constatação, confirmada pela nossa experiên-cia, encontra-se a esperança de uma difusão universalda economia de comunhão».Foi publicado um artigo de Vera Araújo sobre a «cultu-ra do dar»; notícias das sociedades anônimas do póloSpartaco, no Brasil, e Solidariedade, na Argentina, queestavam iniciando; experiências sobre o amor deDeus, de pessoas que tinham sido ajudadas, lá onde oprojeto tinha nascido de imediato. Aquele númerotrazia ainda a história da empresa filipina Ancilla,cria-da por Tita Puangco, depois de ter deixado um cargoimportante em um banco,e dois artigos de BenedettoGui, um dos quais com orientações aos estudantespara as teses sobre o projeto.E,enfim,o editorial,no qual o projeto era apresentadocomo «uma escolha possível para todos». Reli comatenção, e uma certa emoção, e pensei que seria útiltranscrevê-lo na íntegra:«Impelida pelo Espírito Santo e pela generosidade deum povo,que permaneceu intacta ante as agressões deum sistema no qual convivem extrema pobreza eimensa riqueza, três anos atrás, no Brasil, Chiara sentiuque o momento histórico estava maduro – no limiar doterceiro milênio – para o lançamento de uma econo-mia capaz de superar as contradições do presente eorientar os homens e os povos ao mundo unido: aEconomia de Comunhão na Liberdade. Uma propostatotalmente evangélica, já vivida pela primeira comuni-dade de Trento, sob os bombardeios. Porém, pareciaaplicável apenas nas Mariápolis permanentes e nosfocolares, por pessoas que decidiram deixar os bens, aprofissão, a família e os talentos por Deus.Agora, Chiara abre as portas dessa experiência de vidaa todas as pessoas que se sentem chamadas a teste-munhar o Ideal com a própria presença atuante nasociedade.Um caminho de santidade para todos, uma vida fun-

damentada não mais numa ideologia, mas na aplica-ção de valores que se encontram na base da famílianatural,em qualquer parte do mundo,a toda a famíliahumana. É a alegria de partilhar, de dar – como pode-mos experimentar na nossa família natural – é oimpulso a se preocupar com os mais fracos, sem mediresforços, que torna as pessoas felizes, pois responde àsmais profundas exigências da alma humana. Este con-vite à comunhão,este “encontro marcado com Deus nahistória”, não pode ficar sem resposta.É um convite à pessoa, convite que espera uma respo-sta livre e que coloca à prova a vontade de correspon-der ao Ideal da unidade,partindo das condições huma-nas em que cada um de nós se encontra.Para poder realizar uma verdadeira comunhão dostalentos e dos bens materiais é preciso que antes detudo nos tornemos “um só coração e uma só alma”,como os primeiros cristãos.A natureza humana não é suficiente para nos impelir àcomunhão em âmbitos tão vastos. Somente aquele“clima de heroísmo e de extrema generosidade” quenasce de Jesus presente entre nós pode nos levar a vivera partilha com todos os que vivem este Ideal, seja comquem tem necessidades materiais seja com quem estádando a vida para divulgar essa nova cultura.Estas páginas têm a intenção de nos ajudar a aprofun-dar pelo menos alguns aspectos do desenvolvimentoda Economia de Comunhão no mundo, e a conhecermais de perto as necessidades dos irmãos, para querealmente não exista mais nenhum indigente entrenós.Por meio deste noticiário,gostaríamos também denos enriquecer com essas experiências,novos caminhospercorridos para o benefício de todos.Este é o primeiro objetivo e a condição necessária parapoder dar ao mundo a prova da viabilidade concreta deuma nova economia para o homem».

Passados 12 anos,festejamos hoje,com as instituiçõespúblicas e em diálogo com a cultura contemporânea,o nascimento do Pólo Lionello Bonfanti – ao lado daMariápolis de Loppiano –, graças aos seus 5600sócios.E,nas proximidades de outras «cidades novas»,outros cinco começam a crescer.Alguns dos pioneiros do projeto já terminaram a sua«santa viagem», focolarinas como Ginetta Calliari eLia Brunet, e empresários como, ultimamente,François Neveux, que não deixou como herança ape-nas uma empresa produtiva no Pólo Spartaco, mas,sobretudo, um capital moral e um rastro de luz espiri-tual, que não deixa nada a desejar daquele dos mon-ges mais santos.Pedindo aos nossos amigos que, do Céu, continuem anos sustentar, parece-me que ainda podemos assinara escolha que aquele editorial propõe. 3

Alberto Ferrucci

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O Paraíso na terra de François

Durante toda a vida François per-seguiu uma urgência: realizar oparaíso na terra. Quando entrouno mundo do trabalho, comojovem engenheiro empregadonuma fábrica, inventou uma novatecnologia para a depuração daágua. Depois de dois anos, diantedas injustiças com as quais sedeparou trabalhando para outros,decidiu fundar sozinho, sem finan-ciamentos bancários, uma empre-sa própria, no mesmo setor, a fimde «criar riqueza para os outros».Quando se lançou nesse desafioFrançois ainda não possuía a fé.Françoise,que se tornara sua espo-sa, por sua vez, tinha sempre son-hado conduzir o marido à fé, parapoder ajudar os povos do terceiromundo. Na empresa Neveux oclima é fora do comum: cada pro-blema é resolvido com o diálogo ea confiança, sem a necessidade desindicatos e greves. François procu-rava valorizar cada empregado,retribuindo com um salário 30%superior ao do mercado.Em pouco tempo ele reuniu umcapital considerável e fundou umasegunda empresa, onde podia rea-lizar suas invenções, construindoequipamentos para a depuraçãoda água. Tudo parecia correr bematé que uma ameaça de enfartelevou François a encontrar-se facea face consigo mesmo,e com Deus.A partir daquele momento oempresário adquiriu uma energiaincansável: «Somos nós que deve-mos construir o paraíso. Deus éimpaciente! Devemos escalar eultrapassar as montanhas!».Depois de dois anos François encon-trou o Movimento dos Focolares eempenhou-se imediatamente, coma certeza que Deus o esperava ali.Era o seu sonho que se realizava!Ele, então, abriu uma terceiraempresa, muito especial. Por isso,sua esposa sugeriu um nome mara-vilhoso: «Cêntuplo», que empregaex-dependentes químicos e outraspessoas marginalizadas da socieda-de, fabricando caiaques, pranchasde surf e brinquedos. É o início deseu «paraíso na terra».François tornou-se ainda presiden-te da associação «Ajuda Católica»

da cidade de Agen, onde pôde seencontrar com os mais miseráveis,muitos dos quais, aos poucos, fo-ram acolhidos pela família Neveux.Ele era sempre fervoroso, na efer-vescência do pensamento criativo.Um inventor nato, François enxer-gava as soluções para os váriosproblemas da depuração da água,chegando a registrar mais de 35patentes que, como dizia um con-corrente com quem manteve sem-pre uma relação de estima,«foramcopiadas, mas nunca igualadas».Reconhecendo o seu talento, aComissão Européia das Norma-tivaso convidou a participar, como espe-cialista, das reuniões para a defini-ção das leis específicas européiaspara a depuração e desinfecção daságuas. Nestas ocasiões, juntamentecom Françoise, procuravam mantersempre um am-biente de amor recí-proco entre todos, seja nos gruposde trabalho seja no «grupo das sen-horas» que atua paralelamente.Desta forma a atmosfera nessesencontros se transformava.Em 29 de maio de 1991, dia em queFrançois completou 56 anos,Chiara Lubich lançou o grande pro-jeto da Economia de Comunhão naliberdade. Imediatamente, Françoisviu nele a resposta que semprehavia esperado, e escreveu aChiara: «Estou profundamenteconvencido de que a Economia deComunhão é o único caminho quetornará possível um futuro susten-tável, um futuro normal. É precisoagir com prontidão,velocidade,semmedo de errar. Costuma-se dizerque Deus é paciente, eu, ao contrá-rio, creio que nós é que somos len-tos, mas Ele nos espera com impa-ciência. Eu idealizei uma tecnologiamuito simples, que vale ouro.

Chiara, considere-se sua proprietá-ria: com ela podemos obter muitoslucros. Sem tardar devemos fundaruma multinacional do amor...».Convidado por Alberto Ferruccipara um congresso da EdC noBrasil, em junho de 1995, Françoislançou-se logo nessa aventuradando início à Rotogine, umaempresa que pode utilizar gratui-tamente as suas técnicas de pro-dução de grandes equipamentosde material plástico, caixas d’água,fossas sépticas e brinquedos paraparques infantis. Em dez anosFrançois fez dez viagens da Françapara o Brasil, a fim de formar ope-rários e engenheiros. Abraçando acruz, superou muitas dificuldadestécnicas, ligadas à organização daempresa e à comercialização inter-na no mercado brasileiro.No dia 12 de abril de 2006, vésperada Páscoa, fortes dores no estôma-go o levaram ao hospital, onderecebeu o diagnóstico de um cân-cer no cólon. Imediatamente,François ofereceu a Deus essadoença, pela Economia deComunhão. E escreveu: «De algu-ma forma esse sofrimento trarágrandes benefícios para aEconomia de Comunhão. Era preci-so que eu participasse com o meucorpo, como Cristo, pelo desenvol-vimento desse projeto, que omundo inteiro admira, mas quepoucos colocam em prática. O fatode sofrer pessoalmente para mimé uma passagem obrigatória».A Editora Nouvelle Cité,consideran-do François o primeiro empresárioda EdC, na França, ainda em 2005havia pedido que ele colaborassena publicação de um livro sobre oseu itinerário profissional. Quandopercebeu que não poderia maisfazer viagens e que a sua «partida»estava próxima, ele assumiu comgrande empenho esta missão, quesentiu como a sua última contribui-ção para o projeto EdC. A publica-ção do livro está prevista para omês de setembro de 2007.No dia 26 de agosto de 2006François concluiu a sua SantaViagem, tendo deixado abertoshorizontes impensáveis para quempossui a paixão de empreender.

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IsalineDutru

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Para a inauguração do Pólo Lionello

Caríssimos empresários, autoridades civis e religiosas,e todos os participantes deste importante momento.

Chegamos à esperada inauguração do “PóloLionello”, uma das expressões essenciais da Economia deComunhão, florescida – certamente por uma inspiração deDeus – daquele ideal de unidade, de comunhão e de frater-nidade universal que constitui o objetivo pelo qual nasceu oMovimento dos Focolares.

O meu vivo agradecimento àqueles que, de maneirasdiferentes, tornaram possível a sua realização e, especial-mente, aos empresários que tiveram a coragem de investirnele os seus melhores recursos.

Os meus votos são de que as empresas já presentes, eaquelas que desejarem unir-se ao Pólo Lionello, sejam umtestemunho vivo de unidade, e uma resposta concreta aosproblemas econômicos da atualidade, por meio da realiza-ção de uma economia nova, baseada na partilha dos bens eno amor aos pobres.

Pediram-me, e eu escolhi, um lema para o Pólo: Deusopera sempre.

E isto para nos recordar o valor que Deus dá ao tra-balho, ao engenho criativo peculiar do homem. Mas estasnossas capacidades construirão eficazmente e serão porta-doras de alegria se seguirem o projeto de Deus. Portanto, vãoadiante, caros empresários, para descobrir o seu desígnio e oseu anseio. Jesus, que estará entre vocês pelo amor recíproco,os ajudará a vê-lo com clareza. O fato de que o Pólo surgiuao lado da Mariápolis de Loppiano já insere-se neste projetode Deus, que o vê como parte constitutiva da Mariápolis,chamada a ser o esboço de uma sociedade nova, alicerçadano Evangelho.

Que cada visitante do Pólo Lionello possa ver realiza-do o que se dizia da Igreja primitiva: “A multidão... tinha umsó coração e uma só alma... tudo entre eles era em comum...e não havia nenhum indigente” (cfr. At, 4, 32-34).

Maria, a Theotokos, nos abençoe.

Com as minhas mais cordiais saudações,Chiara Lubich

28 de outubro de 2006

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A fraternidade é possível no âmbito econômico?A palavra fraternidade certa-mente suscita em nós reaçõesmuito diferentes. Reações posi-tivas se ela é usada no contextodos relacionamentos familiares,onde é percebida como sinôni-mo de apoio, de calor afetivo.Reações que tocam a perplexi-dade se a fraternidade se insereno âmbito público. E, enfim, rea-ções de incredulidade se é colo-cada no complexo mundo daeconomia.O princípio de fraternidade temuma conotação religioso-morale uma leiga-natural.Em todas as grandes religiões –com diferentes teores e nosmais vários contextos – a frater-nidade está presente comoobjetivo no relacionamentoentre os seres humanos, comoelemento capaz de edificar umaconvivência sã e pacífica.Mas é com o cristianismo queela assume uma validade uni-versal. Supera os liames de san-gue e de amizade para fundar aprópria convivência humana.Na modernidade, a fraternidadeemerge na sua validez leigacomo categoria social e políticano trinômio da revolução fran-cesa: liberdade, igualdade, fra-ternidade. Mas logo o terceiroelemento do trinômio foiesquecido. Hoje volta-se a darvalor a ele, e isso porque a fra-ternidade é a plenitude da reci-procidade que, por sua vez, nosdá a chave de leitura para umamaior compreensão da igualda-de e da liberdade.Os nossos tempos exigem a fra-ternidade compreendida nãoapenas como comportamentovirtuoso, ético, mas como cate-goria conceitual, como paradig-ma científico capaz de susten-tar o discurso cultural e ofere-cer novas possibilidades decompreensão e orientação paraa transformação da ordemsocial.Em economia existem algunspontos cruciais que necessitamser revistos a partir da perspecti-va do princípio de fraternidade.

Um desses pontos é o mercado.De espaço de troca de bens eserviços e de elemento de con-strução de relações sociais posi-tivas, o mercado, aos poucos,tornou-se uma espécie de poderem si mesmo, capaz de influen-ciar, de modo determinante, emoutras dimensões da vida. Omercado está impondo os seuscritérios de julgamento, a suacultura, os seus valores, os seusmétodos, às populações, aosEstados, às instituições interna-cionais.Sobre esse ponto o princípio defraternidade pode oferecer asbases de uma nova cultura. Esteé um processo já em andamen-to. Como se sabe, está nascendouma cultura da partilha, que seapresenta como um elementoportador de esperança para ocrescimento da humanidade,seja pessoal que socialmente.Outro ponto determinante é aracionalidade econômica. Base-ada nessa racionalidade a idéiaque orienta o agir econômico éo próprio interesse. A históriaestá demonstrando o quantotudo o que se construiu e cre-sceu ao redor dessa matériapode ser enganoso. Como umasociedade que se baseia, emúltima análise, sobre um indivi-dualismo radical pode sesustentar?Nesta perspectiva o princípio defraternidade pode oferecer,antes de tudo, uma antropolo-gia que respeita todas asdimensões do homem, e, sobreesta base, fazer com que o agireconômico encontre motivaçõ-es que respeitem a dignidade

da pessoa humana; pode geraruma racionalidade baseadasobre a abertura ao outro, a con-fiança, a justiça e a honestidade.Um terceiro ponto crucial é o daempresa. Impelida pelo estímu-lo de maximizar os próprioslucros (segundo um pensamen-to teórico que nunca se extin-guiu) mas, também, de abrir-sea novas responsabilidadessociais e éticas, a empresa preci-sa de princípios fortes para rea-lizar a sua vocação natural deproduzir bens e serviços, comer-cializar, criar trabalho, inovar...Mas o princípio de fraternidadepoderá levá-la a realizar a suamissão mais importante: ser,antes de qualquer coisa, umacomunidade de pessoas. Umacomunidade que, em seu ínti-mo, vive relações autênticas eprofundas, com a capacidade detransbordá-las fora de si.De certa forma é o que se estárealizando no âmbito daEconomia de Comunhão.Nas empresas da EdC a fraterni-dade vitaliza as relações econô-micas e os dinamismos estrutu-rais e dá significado às relaçõesdentro e fora da empresa. Nosúltimos anos, no âmbito desteprojeto, houve um forte incenti-vo para que nascessem «pólosindustriais» onde a fraternidadeé vivida entre empresas e dávisibilidade ao projeto na suatotalidade. O objetivo dessespólos é que as empresas sejamvistas, materialmente, masespecialmente que se veja o queestá por baixo do projeto: o sen-tido de família, o amor, a unida-de, a comunhão, isto é, a frater-nidade realizada, inclusive, noâmbito das estruturas econômi-cas.Qualquer pessoa que visite umpólo EdC ouvirá falar de econo-mia, mas, por trás desta palavra,encontrará uma inusitadadimensão espiritual, um com-promisso de viver plenamenteas exigências do amor evangéli-co e de gerar a autêntica frater-nidade.

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Vera Araujo

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A história do capitalismo é a histó-ria de grandes sucessos (riqueza,tecnologia, desenvolvimento eco-nômico...),mas é também a históriade grandes críticas à sua respostainsuficiente ao tema da igualdadee, sobretudo, ao da pobreza. A glo-balização acentuou seja os suces-sos que as críticas e, se o capitali-smo dos próximos anos não deruma resposta, séria e duradoura, aoescândalo de milhões de pessoasque morrem de fome por causa daindigência, e ao outro milhão quemorre pela opulência, logo o movi-mento pela responsabilidade socialda empresa (CSR), a ética dos negó-cios, o “capitalismo com o rostohumano”, cairão no esquecimentohistórico, uma lajota a mais noassoalho das boas intenções.Até agora as soluções propostaspelo capitalismo ao drama da misé-ria não foram suficientes. É neces-sário algo a mais, algo diferente.O drama da pobreza, que muitaspessoas sofrem, não será aliviado –e quem dera resolvido – até quandomuitos não souberem tornar-selivremente pobres para liberaroutros. A pobreza é uma relação enão se resolve sem reciprocidade,sem comunhão.A Economia de Comunhão (EdC)procura, há 15 anos, enfrentar comseriedade o tema da pobreza, e fazisso criando empresas que colocamem comum os lucros que produ-zem: um terço fica na empresa edois terços são doados para proje-tos de desenvolvimento e para for-mação cultural.Para quem deseja comprometer-sepor um mundo mais justo e frater-no, a inauguração do Pólo LionelloBonfanti – o pólo italiano da EdC,em Loppiano, próximo a Florença,com as 15 empresas que atuamnele – deve ser recebida com gran-de alegria. Por quê?Antes de tudo o pólo exprime umaeconomia popular e fraterna. Semuma economia popular e fraternaos discursos sobre a pobreza dos

outros são retórica. O proprietáriodo Pólo é uma comunidade (quaseseis mil pessoas, na Itália) que acre-dita e assume como próprio estemodo de fazer economia.Na EdC não temos o grande filan-tropo (Bill Gates), nem o empreen-dedor humanitário (Adriano Oli-vetti), que suscita uma economiasocial, mas um povo, composto portrabalhadores, estudantes, estudio-sos, donas de casa, aposentados,empresários, que exprime a suavisão da vida, colocando em risco aprópria poupança e o própriotempo em vista de uma economiamais justa e solidária. Um sloganque Chiara Lubich usou no lança-mento da EdC foi: “Somos pobres,mas muitos”.Além disso, o Pólo recorda que acultura, o território e a proximidadesão dimensões importantes e fun-damentais, inclusive na era da glo-balização e do tele-trabalho.Este pólo nos faz retornar à culturados distritos industriais que, nãopor acaso, tiveram uma longa efeliz tradição justamente nestaregião Toscana. Evidentemente sãodistritos industriais originais e dife-rentes dos tradicionais, mas, assimcomo o Pólo, os distritos sublinhamque o capital mais precioso para aempresa é o capital relacional ecivil, que se cria entre as empresas,entre as empresas e o território e asua cultura tácita.Neste sentido o Pólo será mais doque um agregado de empresas. Elerecorda e anuncia que a economianecessita dos homens reais, dosrostos, do entusiasmo das mulhe-res e dos homens,e que a dimensãocomunitária é fundamental parauma boa economia, até mesmo naera da globalização e do virtual.E, enfim, uma pergunta: O Pólo seráuma ilha feliz, resguardada dascontradições e dos problemas daeconomia “normal”? É para fugir dacidade que se vem para o Pólo?Constrói-se a cidade nova parafugir das cidades velhas e tristes e

para separar-se delas? Na realidade a questão da “separa-ção”deve ser colocada em um nívelmais radical. A economia de merca-do moderna separou demais, omercado e a economia, da cidade:city,bolsas,zonas industriais,clubesde empresários... separados dacidade; roupas separadas, clubes eesportes separados, etc. Por isso aEdC, e os seus pólos “separados”, naverdade unifica, traz novamente aeconomia ao coração de uma cida-de nova, e a coloca num relaciona-mento vital com ela.O Pólo se apresenta, então, comouma ponte para ligar áreas queforam separadas pela modernida-de: o mercado e a cidade.Portanto, o Pólo e a EdC são econo-mia civil, e, também por isso, talveznão seja um acaso que ele surja naToscana, pátria do humanismo civil.O que foi construído em Loppiano éum “bem público”da economia civil,que diz respeito a todos aqueles quebuscam e querem uma economiacapaz de encontrar-se com a justiçae com a fraternidade. É possível con-jugar uma identidade forte (como éa do Movimento dos Focolares) coma universalidade. Toda experiênciacivil possui raízes, um nome e umahistória, mas muitas vezes são essasexperiências, necessariamente pe-quenas e particulares, que consti-tuem o coração de grandes mudan-ças culturais epocais.Foi o que aconteceu com os cari-smas, no decorrer dos séculos: deBento a Francisco, da Gandhi eYunus. Sem a ação renovadora doscarismas a vida social e econômicase achata na rotina dos interesses edas burocracias. Sem carismas asociedade morre. Estes, fundadossobre a gratuidade (charis), levam aultrapassar a fronteira do território,do humano, dão uma alma às insti-tuições, e são garantia e esperançaque um mundo “sem indigentes”pode ser algo mais sério do queproclamações no papel e sugesti-vas conferências acadêmicas. 7

LuiginoBruni

Uma economia de reciprocidade como resposta séria à miséria

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Crônica de uma semana especial

A inauguração do Pólo Lionello Bonfanti«Ainda se por pouco tempo e secom um trabalho muito humil-de, fui um instrumento deDeus, que por meio de obrasconcretas – como a criaçãodeste pólo – quer mostrar aomundo inteiro que ele existe ese manifesta... Da nossa manei-ra, muito pequena, demonstra-mos a quem nos rodeia, a quemcontamos ou a quem contare-mos essa experiência, que que-remos ser pessoas diferentesdaquelas que o mundo pro-põe... “homens novos”, comovocês dizem!».Assim escreveu Elisabeth, umadas mais de duzentas pessoasque ajudaram na limpeza docanteiro de obras, nos dias queprecederam a inauguração doPólo Lionello Bonfanti: umaturma de jovens, adultos, operá-rios, médicos e outros voluntá-rios que, munidos com vassou-ras, panos e “óleo de cotovelo”arregaçaram as mangas paraoferecer um pouco de seu tempoe esforço e participar, tambémdesse modo,do projeto do qual oPólo é um testemunho.

«Portas abertas no Pólo Lio-nello» foi o título do primeirodia da semana de inaugura-ção. Era o dia 2 de outubro de2006, e o primeiro ato solenede inauguração foi abrir asportas aos moradores dodistrito de Burchio, onde o Pólose localiza, aos habitantes domunicípio de Incisa e de toda aregião do Valdarno e, ainda, atodos os que desejavam ver econhecer «a novidade». Forammais de dois mil os visitantesque lotaram a galeria, o corre-dor dos escritórios, o bar, a con-feitaria. No galpão – transfor-mado em auditório para a oca-sião – não havia mais lugares,nem de pé, e no palco o prefei-to de Incisa Valdarno, FabrizioGiovannoni, cumprimentou atodos, evidenciando: «Nestaregião existem muitos centrosprodutivos, alguns de excelência,mas aqui existe algo a mais. O

Pólo é uma ocasião única, nãoapenas de desenvolvimento eco-nômico e de geração de empre-gos, mas é um centro de experi-mentação de novas práticas deeconomia solidária. Por isso con-sideramos que o nosso municípiotenha sido dotado de uma novaexcelência produtiva».Dando prosseguimento apre-sentaram-se as 15 empresasque iniciam as suas atividadesno Pólo Lionello, com algunstestemunhos dos própriosempresários. E, enfim, o con-certo da Orquestra Juvenil doValdarno, que deixou o selofinal neste dia de festa, marca-do pela fraternidade.

No dia 23 de outubro continuao envolvimento do territóriotoscano, com o Congresso«Toscana, ética e desenvolvi-mento: o projeto da Economiade Comunhão», promovidopela E. di C. S/A, em colabora-ção com a Região Toscana e a

Província de Florença, e com opatrocínio da prefeitura deIncisa Valdarno. Participaram120 pessoas, entre prefeitos,assessores estaduais e munici-pais, o presidente da RegiãoToscana, personalidades repre-sentativas de entidades e insti-tuições e do mundo econômi-co.Após apresentar o projeto daEdC, Daniela Ropelato, doMovimento Político pelaUnidade, traçou a trama dosfracassos do agir econômico,em termos de democracia e deconvivência civil, analisando,de modo especial, a prática daexperiência da EdC.David Termini, representanteda Província de Florença, con-cluiu a sua participação namesa-redonda dizendo: «Se éverdade que é possível realizara paz combatendo a pobreza,este não é só um modo de com-bater a pobreza, mas de condu-zir o mundo à paz».

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O presidente da região Tosca-na, Dr. Cláudio Martini, disse,entre outras coisas: “«Hoje omundo necessita de um novo“investimento ético” e de soli-dariedade. (...) Interes-sante,nesta experiência, é que elaconvida a refletir sobre a neces-sidade de manter juntos, odinamismo da competitividadede um sistema industrial e ovalor ético e de solidariedadeda fraternidade e da convivên-cia; este convite é muito signifi-cativo, porque nos leva a assu-mir que não é obrigatório escol-her entre as duas coisas: não sedeve, em nenhuma hipótese,escolher o dinamismo e a com-petitividade».

Terça-feira, 24 de outubro, foi odia do encontro privado com obispo de Fiesole, D. Giovan-netti, que visitou os locais detrabalho, e, numa atmosferade família, abençoou ambien-tes e empresários.

Os dias 25 e 26 de outubro fica-rão para a história como osdois primeiros dias de ativida-de do Pólo Lionello. Algumasde suas empresas são consul-toras ou dedicam-se à forma-ção profissional em várioscampos, e, juntas, propuseramseminários de formação multi-disciplinar gratuitos a empre-sas privadas e instituiçõespúblicas. Foram mais de 170 osparticipantes, entre empresá-rios, dirigentes de empresas efuncionários públicos. Impres-sionou a todos, de um modoespecial, o clima no qual essesseminários se desenvolveram,os relacionamentos entre osrelatores, e o próprio ambien-te, que favorece o diálogo, aparticipação, a abertura e ointercâmbio.Tais seminários abriram, por-tanto, os batentes do Pólo àsatividades de formação profis-sional, que constituem um deseus objetivos, no desejo de ser

não apenas um local para aaprendizagem técnica/profis-sional, mas também um lugarde reflexão e elaboração cultu-ral sobre as várias temáticasque dizem respeito ao mundodo trabalho e todos os seusprotagonistas.

Sexta-feira, 27 de outubro, foi odia da abertura à Itália e aomundo, com o congresso«Sinais de fraternidade emeconomia», que teve a partici-pação de estudiosos, empresá-rios, agentes econômicos e cul-turais: 1200 pessoas, com 15delegações estrangeiras.O objetivo era evidenciar osprincípios inspiradores e funda-mentais do projeto EdC, comtodos aqueles que os concreti-zam na vida de cada dia, dosindigentes aos empresários, eabrir um diálogo com outrosintérpretes da economia civil esolidária, a fim de conhecer asexperiências desenvolvidas.

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Tiveram a palavra a sociólogaVera Araújo, do Centro deEstudos do Movimento dosFocolares; a professora Adria-naCosseddu, docente de direitopenal e comercial naUniversidade de Sassari e o pro-fessor Luigino Bruni, docente deeconomia política naUniversidade de Milão Bicocca.Seguiu-se a apresentação doPólo Lionello Bonfanti e a expe-riência do empresário ArmandoTortelli, um dos fundadores doPólo Spartaco, no Brasil.À tarde foram apresentados ostestemunhos de Teresa Ganzon,das Filipinas – desde 1990 dire-tora do Banco Kabayan, especia-lizado em micro-crédito – e deLetty Mumar, também filipina,que graças à ajuda recebida daEconomia de Comunhão conse-guiu sair da indigência. O seutestemunho, que causou como-ção, precedeu e, de certa forma,norteou, a mesa-redonda con-clusiva, moderada pelo jornali-sta Michele Zanzucchi, e da qualparticiparam Acli, Banco Ético,

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Mesa-redonda

� Andrea Olivero, presidente daACLI, fundada em 1945, atual-mente com 900 mil sócios:«Nestes anos reinterpretamos onosso empenho procurandocaminhos para humanizar a eco-nomia. Como foi sancionado nosanos 50, o nosso atual compro-misso é dar à fraternidade umlugar central. Não palavras, masfatos, regras concretas; não ape-nas compreender a pessoa indi-vidualmente, mas influir naordem política, econômica, civil».� Mario Cavani, recorda que oBanco Popular Ético nasceu em1994, de vinte e duas organiza-ções sem fins lucrativos, comraízes nos primeiros tratadossobre a economia ética, e seentrelaça com o surgimento docomércio équo e solidário.Sustenta o mundo no profit e aeconomia solidária, financiandoa cooperação social e interna-cional, a tutela do ambiente e asociedade civil. O Banco Éticotorna-se sócio da E.di.C S/A paraapoiar o surgimento do PóloLionello, pelo objetivo comumde salvar a centralidade da pes-soa humana na economia.� Turiddu Campaini, presidenteda UNICOOP Florença, recordaque a mesma teve sua origemem 1891, com a primeira coope-rativa de consumo, e atualmen-te opera nas sete províncias daregião Toscana, com um milhãode sócios, 7 mil e quinhentosdependentes, e dois trilhões defaturamento anual, tendo comoobjetivo a solidariedade,a cultu-ra e o consumo consciente. «Aúltima frente – continuou Cam-paini – consiste na atividadesolidária em favor de países doterceiro mundo. Nestes anosdifíceis procuramos diminuir asvozes dos custos, mas a voz“solidariedade” não sofreu alte-rações. Conseguimos mobilizardois milhões de euros para arealização de projetos, com acolaboração de várias realidadesde voluntariado; de relevo a ação

realizada com o Movimento dosFocolares, em Fontem».� Antonio Mandelli, presidenteda Federação das EmpresasSociais da Companhia dasObras recorda que a mesma sur-giu em 1986, por uma intuiçãode D. Luigi Giussani, hoje tem 42sedes na Itália e 11 no exterior.Um arquipélago de realizações.Qual o segredo? “Partilhando asnecessidades dos outros abrimo-nos a um dinamismo que nosestimula a fazer todo o possível,eda melhor forma,para respondera essas necessidades, com siste-maticidade e criatividade”.� Claudia Fiaschi, vice-presiden-te do Consórcio CGM, conta queeste surgiu em 1987, e hoje é for-mado por 3 sociedades e 83 con-sórcios aos quais são associadasmil e trezentas cooperativas deserviços sociais, sanitários, edu-cativos e de inserção no trabal-ho, para as faixas mais carentes.Na sua rede operam 35 mil tra-balhadores, dos quais cerca de 9mil são indigentes ou voluntá-rios. A meta: “Melhorar os luga-res onde vivemos, temos emcomum o amor pelo homem e otrabalho nas comunidades dopróprio território”.

Numa troca de idéias final,Turiddu Campaini evidencia queuma característica própria doprojeto EdC, que emergiu duran-te aquele dia, é a capacidade dereunir, e provocar o encontro e acontaminação recíproca, as reali-dades mais diversificadas dasociedade civil, com a finalidadecomum da solidariedade.Antonio Mandelli sublinhou:“Como no tempo das invasõesbárbaras os beneditinos contri-buíram para a reconstrução dasociedade, assim hoje, desteslugares pequenos, pode ter par-tida a regeneração da socieda-de. Lugares que possuem umanota comprometedora: exigemtoda a nossa vida”.

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Companhia das Obras, Unicoop,CGM Consór-cio, E. di C. S/A,todos representantes do mundoda economia civil e social naItália, que conseguiram colocarem destaque os «talentos» unsdos outros.O dia oficial da inauguração foio sábado, 28 de outubro.O presidente do Conselho italia-no, Romano Prodi, esteve pre-sente e desejou, fora do progra-ma, visitar todas as empresasdo Pólo. Em sua saudação afir-mou: «Qualquer sociedade preci-sa de exemplos, porque de outraforma torna-se árida, e tudo semantém como um standartrepetitivo. Aqui está um exemploforte, importante. (...) Estesexemplos são uma corda de sal-vação,são um ponto fixo no qualpodemos confiar (...). Por isso,simplesmente, quero exprimir aminha gratidão».Além do auditório para 350 pes-soas, montado em um dos gal-pões, outras duas salas estavamcoligadas via vídeo. O evento foitransmitido em rede nacional

pela Telepace, e via satélite porTelespazio, criando, naquelasduas horas, um verdadeiromicrocosmo, como um só cora-ção e uma só alma, ao redor doPólo Lionello e do projeto da EdC.O professor Stefano Zamagnisalientou, em seu discurso, quea chave do sucesso da EdC con-siste na valorização da pessoahumana em todas as suasdimensões.E o cardeal Antonelli: «A idéiada EdC é aparentemente simples,mas nada utópica. (...) É uma epi-fania, uma manifestação dacaridade e, portanto, uma epifa-nia do próprio Deus».Como conclusão do dia foidescerrada a placa com o lemaque Chiara Lubich deu ao PóloLionello: «Deus opera sempre».E, na sua mensagem, explica:«para que nos recordemos ovalor que Deus dá ao trabalho,ao engenho criativo do homem.Mas estas nossas capacidadesconstruirão eficazmente, e serãofonte de alegria, se seguirem oprojeto de Deus».

Terça-feira, 30 de outubro.Calaram-se os rumores de umasemana inesquecível: mais de 5mil pessoas participaram e 103agentes de mídia notificaram.Nesta manhã pairava uma ale-gria profunda e cheia de grati-dão por tudo o que aconteceu.Empresários, trabalhadores,amigos, todos os que se encon-tram envolvidos na EdC, decidi-ram acolher o desafio de coloca-rem-se à serviço de uma idéiaque é maior do que a competên-cia pessoal, do que as própriascertezas e pontos de vista.Todosdispostos ao confronto, e maisainda ao diálogo, a fim de queemergisse um projeto do qualninguém poderia ser considera-do o autor, porque somente jun-tos será possível descobrir aqual futuro é destinado.Hoje o Pólo é uma realidade enos recorda que o povo silencio-so dos indigentes espera porirmãos para reencontrar a pró-pria dignidade. É este o objetivodo nosso trabalho.

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Foto di Roberto Rigo e Ugo Pettenuzzo

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Reflexões na inauguração do Pólo Lionello Bonfanti, em 28/10/22006

Os novos caminhos do desenvolvimento econômico O evento de hoje tem um caráterextraordinário e não usual. Uno-me à alegria de todos os amigosque, nesta festa, vêem realizadomais do que um sonho, uma pro-fecia.Procurarei responder a uma per-gunta que poderia ser formuladaassim: é possível conjugar a iden-tidade própria de um carisma,como a do Movimento dosFocolares, com a práxis ordináriado agir econômico, particular-mente na ação empresarial?A minha resposta positiva derivade uma constatação que se base-ia na história dos fatos econômi-cos e das idéias econômicas, ouseja: quando nasceu a empresamoderna, como nós a concebe-mos hoje – a época do humani-smo civil (anos 1400) – tal pergun-ta não tinha nenhum sentido,porque a empresa nasceu exata-mente para exprimir uma identi-dade precisa, que era aquela queos humanistas civis da épocahaviam identificado como abusca do bem comum. Esta idéia,do nascimento da economia demercado e da empresa moderna,é interessante notar,surgiu exata-mente nestas terras,portanto, tal-vez não seja um acaso que o PóloLionello tenha sido criado aqui,porque a economia de mercadonasceu na Toscana, em Florença,Sena, etc.Havia uma idéia basilar: dar uma

resposta a uma enunciação que opensamento franciscano – nosanos 1200-1300 – já havia elabo-rado e difundido na aplicação daregra de Francisco. E uma frase,que me agrada recordar, é esta:“Aesmola ajuda a sobreviver, masnão a viver, porque viver é produ-zir e a esmola não ajuda a produ-zir”. E o que fizeram os francisca-nos e os outros humanistas civis?Criaram a economia de mercadoe com ela surgiu a empresa, paradar a todos a possibilidade de pro-duzir para o bem comum.Com a chegada da revoluçãoindustrial acontece uma mudan-ça profunda, isto é, no centro daatividade econômica é colocado ocapital, a máquina. Desde entãodesenvolver-se significava acu-mular.Por isso, durante o longo períododa sociedade industrial, nós assi-stimos a uma desvalorização doelemento humano, da pessoahumana. O sujeito do desenvolvi-mento é o capital, portanto, naempresa torna-se imperativotransformar o ganho em investi-mento, porque o investimentoproduz um capital ulterior.Isto nos ajuda a entender porque,por cerca de dois séculos e meio, oespírito original tenha sidoesquecido. Foi assim que nasceuaquela dicotomia, da qual carre-gamos as conseqüências até hoje,entre economia e ética, que éuma distinção que não tem razãode ser – se observamos e racioci-namos segundo a ótica do huma-nismo civil – porque fazer econo-mia e fazer ética era a mesmacoisa, era uma unidade. Mas, coma revolução industrial, dá-se adicotomia. Por quê? Porque com a revolução industrialtoma força uma tipologia singu-lar, ou uma versão da economiade mercado, que é o mercado detipo capitalista, que tem osmesmos ingredientes básicos defuncionamento: a divisão do tra-balho, o desenvolvimento, a liber-dade da empresa, a competição...nada muda, apenas, como diriamos gregos, muda o “telós”, isto é, a

finalidade última. Porque a finali-dade última do mercado civil erao bem comum e a finalidade últi-ma do mercado capitalista é obem total1.Então, qual é a novidade de hoje?Hoje, como todos já sabem, entra-mos na época pós-industrial.Época pós-Taylorista, pós-Fordi-sta... os nomes são muitos, mas osignificado profundo desta tran-sformação, ainda em ato, é exata-mente a retomada prepotente dacategoria da pessoa humana.Hoje a pessoa retorna ao centroda atividade econômica, comohavia acontecido nos anos qua-trocentos, quando a economia demercado nasceu, em sentidohistórico.Se quisermos, portanto, que aempresa volte a florescer e tersucesso, é necessário centralizartudo sobre a pessoa humana.Como? Com os incentivos? Esta éa resposta freqüente dos econo-mistas, e é um erro, porque osincentivos – naturalmente aludoaos incentivos materiais, monetá-rios ou não, é indiferente – trazemresultados positivos em breveprazo, mas certamente não alongo prazo. Não é este o momen-to de falar sobre o assunto, mas,quem acompanha a literaturamais recente sabe que a longoprazo os incentivos tem efeitosperversos, tendem a produzirefeitos contrários às intençõesdaqueles que os haviam propo-sto.Portanto, é preciso objetivar asmotivações, precisa que quemtrabalha na empresa partilhe,com o empresário, o objetivo últi-mo que move a empresa. Istosignifica que é mais importanteagir sobre a motivação intrínsecade quem trabalha do que sobre amotivação extrínseca.A este ponto começamos a enten-der o significado da pergunta ini-cial. É por esse motivo que aempresa da Economia de Comu-nhão tem sucesso, terá sucesso eterá cada vez mais sucesso: por-que os empresários da EdC, talvezsem uma consciência teórica bem

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precisa, mas com aquela intuiçãoque deriva do pensamento inicialde Chiara, compreenderam que omodo mais eficaz – estava paradizer eficiente – de obter resulta-dos é, justamente, valorizar a pes-soa humana em todas as suasdimensões. E por isso é possívelconjugar identidade e aplicaçãodo carisma, com o ato de fazerempresa. E isto é ligado, como osespecialistas sabem, ao fato queentramos na fase da “knowled-ge society”, ou seja, a “sociedadedo conhecimento”, porque oconhecimento hoje é cada vezmais tácito.Nós sabemos que o conhecimen-to pode ser codificado ou tácito. Écodificado quando encontra-seincorporado aos códigos, ou aosprotocolos, e é tácito quando exi-ste na mente das pessoas. E qual éa diferença? É que eu,manager ouempresário, para entrar na possedo conhecimento tácito que estána cabeça de todos – porque,como se diz,“o Espírito sopra ondequer” e uma idéia genial pode virdo último funcionário assumidoou do que ocupa o degrau maisbaixo da escala hierárquica daempresa – eu não posso entrar naposse do conhecimento tácito senão tenho a contribuição da livrevontade da pessoa.É por isso que as motivaçõesintrínsecas são tão importantes.Os incentivos materiais funcio-nam até o ponto em que o conhe-cimento é codificado: eu lhe pagomais e você produz mais. Mas se apessoa não está em condições dedividir as finalidades para asquais foi chamada, no trabalho daempresa, é inútil querer algumacoisa, ela jamais dará o melhor desi mesma. E o melhor de si mesmanão pode ser controlado, porexemplo, por uma câmera exter-na ou por um supervisor, justa-mente porque o conhecimento étácito.Então, é importante compreenderque a idéia que guiou a ação dosfocolarinos que iniciaram a EdC éuma idéia genial, pioneira, quesurpreendeu os próprios cultores,que estão ainda muito ligados auma idéia de fazer empresa“Taylorista” ou “Fordista”. Nãodigo que este modelo tenha desa-parecido, é necessário tempo paraque um certo paradigma sejasuperado, mas é um fato que,

olhando em perspectiva, este seráum modo novo de produzir.Portanto, esta fórmula dasempresas EdC é vitoriosa. E é inte-ressante que outros tipos deempresa, que não se reconhecemno Carisma, observem e estudemesse modelo.Alguém poderia dizer: “Mas sealguém, que não tem o Carismaque deu origem a essa experiên-cia, quisesse imitar o modo defazer negócios, a forma de com-portamento das empresas EdC,ele poderia, igualmente, ter umafunção positiva?”. Ou, dizendo deoutra maneira, não existe o riscodo oportunismo? Sei que essasperguntas surgem de vez emquando. Creio que não devemosnos preocupar com isso,não deve-mos pretender mudar o “coração”dos homens com ameaças desanções. Mas nós sabemos comoas coisas acontecem.É mais inteligente compreenderque o princípio de contaminaçãoé mais eficaz quando se aplica àsvirtudes do que aos vícios. Paraser explícito, quero dizer que seuma empresa imita o comporta-mento das empresas EdC sem terassumido interiormente a suafinalidade, é um mal menor.Porque, como ensina a teoria psi-cológica da atribuição, quandouma pessoa repete muitas vezesum ato bom, mesmo se inicial-mente não acredita nele, ao finalacaba por acreditar. Por isso nãodevemos nos preocupar com apresença de “oportunistas”. Oimportante é que o aparato insti-tucional da economia permita àsempresas EdC realizarem a suavocação de “minoria profética”.“Minoria profética” é um termotécnico usado pelos economistasquando estudam a teoria dosjogos. É considerado assim umgrupo de sujeitos que, ainda queconsciente de que os outros nãofarão o mesmo, continua a secomportar em conformidade comum carisma específico.Concluindo. Sabe-se que existemduas categorias de bens: bens dejustiça e bens de gratuidade. Osbens de justiça – por exemplo, osgarantidos pelo antigo welfarestate – atribuem a um superior(em geral o estado, mas não só)um preciso dever, de modo que osdireitos dos cidadãos sobre aque-les bens sejam garantidos. Ao

invés, os bens de gratuidade – porexemplo, os bens relacionais –determinam uma obrigação quederiva da ligação especial de umsujeito com o outro. (É o reconhe-cimento de uma mútua ligatioentre pessoas que funda uma ob-ligatio). Note-se que, se paradefender um direito é possívelrecorrer à lei, uma obrigação écumprida por meio da gratuida-de, por conseguinte, depois queocorreu o processo de reconheci-mento recíproco. Jamais algumalei, nem aquela constitucional,poderá obrigar à qualidade rela-cional no cumprimento de servi-ços à pessoa, por exemplo, nocampo sanitário.Não obstante todos percebemquanto os bens de gratuidade sãofundamentais para a necessidadede felicidade que toda pessoa trazdentro de si. De fato, a gratuidadenão é uma virtude ética, como é ajustiça. Ela diz respeito à dimen-são supra-ética do agir humano, asua lógica é a da superabundân-cia. A lógica da justiça, ao contrá-rio, é a da equivalência (ou mel-hor, da proporcionalidade), comojá ensinava Aristóteles.Entendemos porque a esperançanão pode ancorar-se na justiça.Numa sociedade,por uma hipóte-se, perfeitamente justa, não have-ria lugar para a esperança – o queos seus cidadãos esperariam amais? –. Isso não aconteceria emuma sociedade onde o princípiode gratuidade conseguiu plantarraízes profundas, justamente por-que a esperança nutre-se dasuperabundância.É este o significado último do PóloLionello: testemunhar que umaorganização mission-oriented,que absorve a própria força de umcarisma religioso especial, tem acapacidade de “fazer bem” tantoquanto as análogas estruturasprodutivas, e ainda mais. Existeum lindo pensamento de Sênecaque diz que não existem ventosfavoráveis para o navegante quenão sabe aonde ir. Os empresáriosda EdC sabem aonde ir e, portan-to, terão sempre ventos favoráveisda sua parte.

1 Bem “comum” é o bem de todos e deixa de existirse um só fica excluído; o bem “total” é a soma dosbens dos sujeitos individuais, portanto conservaum valor, ainda que alguém seja esquecido [NdR].

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Um Fórum sobre a EdC no Jornal Toscana HojeEm concomitância com a inaugu-ração do Pólo Lionello Bonfanti, osemanário católico ToscanaOggiquis organizar um fórum sobre aEconomia de Comunhão e aregião Toscana, divulgado nacio-nalmente pelo jornal Avvenire.

Alguns dias atrás foi inaugura-do, em Loppiano, o Pólo daEconomia de Comunhão dedi-cado a Lionello Bonfanti. O pre-sidente da região Toscana,Cláudio Martini, o visitou, eAlberto Ferrucci, empresário, foium de seus artífices.Martini e Ferruci foram convida-dos por ToscanaOggi para umaavaliação dos desenvolvimentose relações com a economiatoscana, em um diálogo do qualparticiparam também o econo-mista Piero Tani e FrancescoMinoli, representando a EdC dasregiões da Toscana e Úmbria. Nocentro das reflexões foi colocadoo homem com os seus valores eescolhas futuras,voltadas a conju-gar desenvolvimento e sustenta-bilidade, mas, especialmente abusca de novos caminhos de cola-boração com todos aqueles, domundo da cooperação às peque-nas e médias empresas,que dese-jam dar respostas concretas aodesenvolvimento industrial.

O que é a Economia de Comu-nhão e como pode “contagiar” aToscana?Ferrucci: «A Economia de Co-munhão aplica à economia umparadigma geral do carisma deChiara Lubich:a fraternidade uni-versal. Tudo nasceu após umavisita ao Brasil, anos atrás, dodesejo de dar uma vida digna aohomem, porque aquilo queChiara havia visto era intolerável.Como empresários estamostodos comprometidos em favo-recer uma cultura do dar,da par-tilha, uma governance onde apessoa humana seja colocadano primeiro lugar. Os lucros sãopartilhados: para desenvolver aempresa e uma parte é dadaaos pobres».Martini: «Para a região Toscana é

uma experiência muito interes-sante e estimulante. Gostaria defazer duas reflexões.É uma expe-riência interessante porque captaa necessidade de ética, para aqual existe uma sensibilidadeespecial, a exigência de ética cre-sceu, e está crescendo, de modoevidente. Creio que hoje sejanecessária uma reconversão aum modelo econômico que recu-pere a participação e o envolvi-mento. Além disso, há uma que-stão de valores.Eu considero commuito interesse a idéia de man-ter juntos o rendimento e a efi-ciência. Conseguir conciliar doisconceitos aparentemente incon-ciliáveis, como a qualidade devida, de relações e o dinamismoprodutivo, é importante para onosso futuro. Esta capacidademe intriga culturalmente».

Talvez seja necessário buscar umareflexão cultural sobre os mode-los econômicosFerrucci: «O aspecto cultural éimportante. São mais de 250 asteses já desenvolvidas sobre aEconomia de Comunhão. Ela éum fato global, não de um nicho.

Cada vez mais está sendo estu-dada nas universidades e exi-stem muitos seminários de estu-do que analisam seus aspectosparticulares.Trabalhar todos jun-tos por um futuro sustentável épossível somente se considerocada homem como um irmão, seestamos todos de acordo. Éimportante aprender a se colocarno lugar dos outros. Enquantoempresários nós devemos ofere-cer modelos concretos de desen-volvimento sustentável, umaalternativa concreta, não teórica.Há algum tempo foi feito umseminário com um título provo-catório, ‘Felicidade e economia’.Teve um sucesso que superou asexpectativas. Atualmente éimportante que este tema sejadebatido nas Universidades, quese possa analisar e estudar aEconomia de Comunhão comoum modelo que pode ser propo-sto para o crescimento econômi-co de um país».Martini: «Este projeto deve serestudado, é preciso pesquisar, éum valor cultural. Este é umtempo de grande confusão devalores e de significados. Em

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RenatoBurigana

Economia de Comunhão uma cultura nova

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grande parte da nossa popula-ção está crescendo uma aversãoà economia, à tecnologia, à ciên-cia.São considerados temas frios,que repugnam. Ao mesmotempo há quem admira essasdisciplinas. Muitos jovens convi-vem mal com esse momento,por-que não conseguem encontrarum equilíbrio. Além do mais asfortes desigualdades estão inter-pelando as nossas consciênciasmais do que um ano atrás. Nósprecisamos de alguém que tenteconciliar estas realidades, porqueacho que não é justo nem idola-trá-las nem opor-se a elas. A EdC,juntamente com a cooperação,poderia ser um caminho praticá-vel, uma outra estrada sobre aqual se caminha junto».

Quais relações existem com o ter-ritório toscano?Ferrucci: «O Pólo de Loppianosurgiu exatamente para dialogarcom toda a região. Não teria sen-tido construí-lo se não se abrisseàs empresas, ao território e aosúltimos, aos pobres. Na Ligúria,por exemplo, existem 58 coope-rativas que sustentam, com osseus lucros, três cooperativassociais que não resistiriam deoutra forma. Este poderia ser umcaminho a percorrer: integrar-secom cooperativas já presentes naregião para realizar uma “educa-ção ao trabalho”, para criar umsistema».Martini: «Eu também estou con-vencido de que deverá existir umforte liame com o território. Seriainteressante se, no Pólo, houves-se empresas de diferentes seto-res. Poderiam contagiar-se mu-tuamente e suscitar novas idéiasde empreendimentos a partirdesta “contaminação”.Criemos uma convenção, com asprefeituras, as empresas, as asso-ciações. Envolvamos inclusivequem se encontra fora do proces-so produtivo. Vejo no Pólo umadupla significação: um apelo àreflexão, séria e aprofundada,sobre a Economia de Comunhão,mas também uma ligação fortecom a região Toscana».

Avaliar positivamente a expe-riência da EdC é bastante fácil:trata-se de pessoas que desen-volvem – com sucesso – umaatividade econômica,particular-mente uma atividade empresa-rial, segundo modalidadesnovas, que ligam aspectos típi-cos desta atividade com valoresde solidariedade e de espiritua-lidade, evitando qualquer sepa-ração entre o estilo da própriavida pessoal e aquele da ativida-de econômica em que atuam.Diante desta experiência, semdúvida minoritária, o economi-sta, porém, deve se interrogarsobre o seu significado em con-fronto com o funcionamento dosistema econômico e a sua ten-dência para com realizações eti-camente mais aceitáveis, sejaem termos de resultados(bem-estar, justiça, respeito dapessoa) que de instrumentosutilizados.Nesta direção, alguns economi-stas que estudaram esta expe-riência (Benedetto Gui eStefano Zamagni, para citaralguns dos nomes mais signifi-cativos) deram uma contribui-ção importante, numa justaavaliação que a vê como umexperimento que permite testara validade de algumas recentese originais teorias econômicas.Tais teorias se propõem superaralguns aspectos típicos do para-digma tradicional usado peloseconomistas para interpretar os

fatos econômi-cos: o paradigmaque vê o agenteeconômico comoum sujeito proje-tado a maximi-zar o própriobem-estar indi-vidual e, emnível empresa-rial, o própriolucro. Superar

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Piero Tani

Uma experiência positiva e,espera-se,contagiosa

este paradigma significa for-mular a hipótese de um sujeitoeconômico – consumidor, em-presário, investidor – guiado poroutros impulsos, ou seja, a soli-dariedade, a reciprocidade, ovalor dos relacionamentos pes-soais, o desejo de operar junto enão apenas de operar “contra”.Naturalmente a objeção maisóbvia é se um comportamentoinspirado em uma maneira tãodiferente seja difundido na rea-lidade ou apenas desejável. Aatenção à experiência daEconomia de Comunhão podecontribuir para que se encontrea resposta a esta pergunta.Mas existe algo a mais: o com-portamento dos sujeitos econô-micos não é o mesmo em todaparte, e, principalmente, não éimutável. Deste modo, a refe-rência a valores éticos varia deum lugar a outro, e varia tam-bém a sanção social que atingeos transgressores, uma sançãoque difere da sanção penal, masque às vezes é igualmente efi-caz para desestimular compor-tamentos incorretos. A diferen-ça na quantidade de evasãofiscal que existe de um país paraoutro é certamente devido auma opinião pública mais oumenos disposta a perdoar ouaté a louvar o transgressor.Experiências inovadoras, aindaque de dimensões limitadas,como a Economia de Comu-nhão, podem incentivar umamudança de mentalidade,podem contagiar outras expe-riências. Por isso é essencial que,ainda que seja limitada, a novaexperiência não fique isolada,não reste como uma experiên-cia de nicho (market). Inclusivesob este ponto de vista aEconomia de Comunhão pareceter boas intenções de caminharno sentido certo.

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Cartas do mundo

Trechos de cartas recebidas dequem participa do projeto EdCaceitando ser ajudado em algu-ma necessidade material, atra-vés dos lucros das empresas EdCe da contribuição dos membrosdo Movimento dos Focolares.

� O barraco de zincoAté três anos atrás morávamosem um barraco de zinco,madeira compensada e palha.No tempo das chuvas muitasvezes sofríamos as inundaçõesde um canal mau-cheiroso.Quando nos decidimos aceitaresta ajuda pudemos construiruma casinha nova, e foi umaalegria poder receber vocês noseco, apesar da chuva torren-cial, no dia em que ela foiabençoada. Agora a nossasituação econômica melhoroue estamos muito contentesporque podemos restituir todaa soma que havíamos recebi-do, para que outros possam serajudados.

(Ho Chi Minh City)

� A tocadora de flautaApós sofrer um acidente meupai não podia mais trabalhar,minha mãe estava desempre-gada e muitas vezes não sabía-mos o que colocar na mesa,mas sempre chegava o quenós necessitávamos. Aos pou-cos papai se recuperou e pôdetrabalhar, minha mãe encon-trou um emprego simples e aorquestra onde toco flauta mepresenteou com uma bolsa deestudos. Experimentamos queDeus jamais nos abandona, eagora que a Providência chegapelo nosso trabalho, a ajudaque recebíamos pode serdestinada a outros.

(Brasil)

� A coragem de recomeçarA guerra na Bósnia nos tiroutudo: casa, trabalho, amigos e,principalmente, a força paraviver e recomeçar. Com essaajuda inesperada eu retomei acoragem para reconstruir umapequena casa e comprar um

fogão. No ano que vem talvezpossamos ter água corrente.

(Bósnia)

� Eu também posso darEu trabalhava de dia e estuda-va à noite, mas quando asmensalidades da escolaaumentaram eu não conse-guia mais pagar. Confiei aminha situação, e quem estavaperto de mim me ajudou, alémde superar este momento,também a pagar as contasatrasadas. Terminei os estudose tive uma promoção no tra-balho: não preciso mais rece-ber, agora também posso dar.

(Brasil)

� Posso sorrirPor muitos anos tinha umagrande dificuldade de me rela-cionar com os outros, nunca sor-ria porque não tinha dentes enem a possibilidade de fazeruma prótese. Com a ajuda quechegou da comunhão de bens,sorrir não é mais motivo deembaraço, mas de alegria.

(Brasil)

� O companheiro voltouQuando adoeci gravemente omeu companheiro não supor-tou a situação e me deixousozinha, com cinco filhos. Aajuda de vocês, e o sustentoconcreto, me ajudaram a cui-dar da saúde e ele teve a cora-gem de voltar, assumir os cui-dados com os filhos e prepa-rar-se para o matrimônio reli-gioso.

(Madagascar)

� Tantan e JonJonO meu primeiro marido morreunum acidente de trabalhoquando eu estava no quartomês da gravidez de Tantan.Casei-me novamente, masquando descobrimos que osegundo filho, JonJon, tinhaSíndrome de Down, o meusegundo marido nos deixou.Estava desorientada, pobre; eramuito difícil criar os filhos sozin-ha, e me perguntava: se Deus

ama a todos, por que existem osricos e os pobres?O amor de Deus revelou-sequando encontrei as pessoas docentro Bukas Palad. Eu trabalha-va, mas o meu salário não erasuficiente para os estudos dosfilhos, e foi assim que me ofere-ceram a ajuda da EdC.A minha parte era gastar aqueledinheiro com atenção: falavacom Tantan sobre todos os pro-blemas da família, e explicáva-mos a Jonjon que devíamosamar, viver de forma modesta,comprar somente o necessário.Dividia o dinheiro em sete enve-lopes,para as despesas mensais,o aluguel, água, luz, alimenta-ção, as despesas imprevistas, etínhamos que pegar o dinheirosempre do envelope certo. Eusabia que era importante seguiras regras. Por amor aos meus fil-hos procurei viver a pobreza emtodos os aspectos, pois não sóos ricos se deixam tomar pelomaterialismo. Para nós issosignificou ir contracorrente.Morávamos com meus pais. Éra-mos vinte pessoas numa casamuito pequena e não faltavamas incompreensões. Para poder-mos mudar para uma das casaspopulares construídas porBukas Palad foi preciso aindauma ajuda financeira da EdC.Tantan freqüentou um colégiobom, até se diplomar naUniversidade Dominicana deSanto Tomás, e Jonjon cursouuma escola especial, onde foipremiado três vezes pelo mel-hor rendimento, participou dasOlimpíadas Especiais dasFilipinas, ganhando a prova develocidade e conquistando oitomedalhas. Em seguida foi admi-tido como funcionário na pada-ria de Bukas Palad e agora éindependente. Ele me ajuda nalimpeza da casa e vai pagar ascontas nas repartições.Quando terminou os estudosTantan sentiu o chamado deDeus e decidiu responder. Agoraele freqüenta a escola dos foco-larinos em Loppiano.

(Filipinas)

a cura diCarla

Bozzani

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O que Bangladesh, um dos últi-mos países em renda per capita,e ainda por cima com umapopulação de maioria islâmica –um adjetivo que em geral soamal nas nossas terras – podeensinar ao mundo?

Evidentemente, muito, já que,antes do Nobel, o professorMuhammad Yunus (um perso-nagem que ainda deve serdescoberto, mas de quem nãofaltam biografias) havia recebi-do dezenas de prêmios. Alémdisso, a filosofia do GrameenBank foi imitada por centenasde outras instituições, na Ásia,África, América do Sul, e tam-bém nos Estados Unidos e emmuitos países europeus, inclusi-ve na próspera Noruega, sededa comissão que lhe conferiueste importante reconhecimen-to. E, enfim, o micro crédito setornou uma das principais pala-vras de ordem para quem seocupa com a promoção dodesenvolvimento, desde oBanco Mundial até o multifor-me mundo das OrganizaçõesNão Governamentais.O país pode ensinar, por exem-plo, que, em geral, os recursosmais importantes para o resga-te econômico de uma famíliacom dificuldades financeiraselas já possuem, e não são fre-qüentemente reconhecidos, ouestão amarrados por laços devários tipos. Mas, existe a capa-cidade, se lhes são dadas as con-dições, de iniciar um percurso deautonomia que, vindo de fora,ninguém conseguirá realizar.E não só, muitas vezes estesrecursos são a energia e a inteli-gência das mulheres, as maisdeterminadas no querer dar umfuturo aos próprios filhos, mas,comumente, as mais excluídasnos negócios (muitas vezesmicro-negócios) da família.Ensina ainda que, para quemvive sempre atormentado pelaurgência de garantir a sobrevi-vência de cada dia, ter umempréstimo com juros possíveis

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O prêmio Nobel da Paz 2006 para Muhummad Yunus e o seu “banco dos pobres”

Yunus: as lições de um prêmio

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Benedetto Gui

Economia de Comunhão uma cultura nova

de serem assumidos pode signi-ficar a possibilidade de olharmais longe e começar uma ati-vidade capaz de garantir umarenda. Isso, porém, exige possuiralguma ferramenta, compraralguma mercadoria para trabal-har ou revender, adquirir algumconhecimento, e em todos oscasos, fazer um pequeno inve-stimento.Além disso, justamente aquelestipos de pessoas a quem nin-guém quis dar crédito, porqueprivadas de patrimônios que ogarantam – e também de ummínimo de prestígio – podemmerecer a confiança, pagandoos empréstimos com umamedida desconhecida aomundo dos grandes bancos edos grandes empresários (fre-qüentemente apenas 2 ou 3pontos percentuais do créditodevido, contra os 7, 10, ou, àsvezes, muito mais).

Tudo isso se mostrou real,porém, há uma condição quenos ensina alguma coisa: éimportante que quem recebeum empréstimo não olhe ape-nas os seus interesses imedia-tos, sem considerar o bom fun-cionamento de todo o sistemade empréstimos e reembolsos,porque assim a tentação deficar com o dinheiro sem pagaras prestações devidas seria fortedemais.Por isso, o Grameen Bank inau-gurou um esquema de empré-stimos de grupo no qual os pri-meiros beneficiados sabem quenão podem faltar com o com-promisso dos pagamentos, paranão prejudicar os que receberãodepois; assim uns ajudarão esolicitarão os outros.E, enfim, um último ensinamen-to, em Bangladesh o micro cré-dito venceu o desafio graças,também, a uma presença capi-lar de emissários nos vilarejos,que não apenas cobravam asprestações semanais, mas apro-veitavam para reunir grupos demães de família a quem ensina-

vam como administrar o poucodinheiro, como fazer uma sim-ples contabilidade, às vezesdando noções de higiene ou decomo alimentar os próprios fil-hos sem gastar muito.

Ora, se estes ensinamentos serevelaram preciosos para milhõ-es de pessoas que hoje estãoenvolvidas nas milhares deinstituições de micro crédito, oque é mais importante paraquem está envolvido no projetoda Economia de Comunhão,centralizado exatamente noresgate econômico de irmãosque padecem pela necessidade? Parece-me que os pontos essen-ciais são dois: que ninguémjamais seja visto apenas comobeneficiário, por conseguinteque todos sejam colocados emcondições de dar o melhor desuas energias para alcançar omáximo da autonomia compa-tível com as suas possibilidades(que são muito diferentes entreum ancião só e inválido e umajovem família em dificuldades).Até porque justamente a expe-riência do Movimento que dávida ao projeto é que o caminhoprivilegiado para a nossa reali-zação é aprender a dar, e queuma condição importantíssima,não só para quem se encontraem necessidade, mas para qual-quer um que aspire uma vidaplena, não é tanto possuir (oureceber) o necessário, maspoder partilhar o próprio camin-ho, na comunhão.

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Micro crédito nas Filipinas

O micro crédito praticado peloBanco Kabayan – uma das pri-meiras empresas da EdC nasFilipinas – é algo a mais e dife-rente de uma simples práticabancária. Poderia se dizer queé uma escola de vida onde, pormeio do aprendizado de regraspara a administração do din-heiro e da poupança, se con-strói uma nova cultura contri-buindo na formação de pesso-as novas.Tereza Ganzon que com omarido, Francis, administra oBanco, conta:“Demos início a um serviço demicro crédito individual e a umcom o estilo do Grameen Bank– de Yunus, o economista deBangladesh que acabou dereceber o Prêmio Nobel da Paz –que prevê a concessão do crédi-to depois de ter criado entre asmulheres dos bairros pobres‘grupos de solidariedade’, nosquais podemos explicar asregras do crédito solidário eajudá-las a administrar as pró-prias atividades com sucesso.Estas mulheres sempre acredi-taram não possuir dinheirosuficiente para as primeirasnecessidades, mas aprenderama arte de economizar, talvezpouco dinheiro de cada vez,mas que num espaço de um,dois ou três anos tornavam-serecursos preciosos para casosde emergência, para a educa-ção dos filhos, etc. Por meio depequenos empréstimos (menosde 50 dólares), garantidos pelogrupo inteiro, elas podiamcomeçar a produzir alimentosou doces, abrir uma lojinha nobairro, vender verdura ou peixena feira, e ganhar o suficientepara mandar os filhos para aescola, melhorar o barraco,enfrentar problemas de saúde”.“Devagar – continua Teresa –difundiu-se a alegria de perten-cer a um grupo, de passar otempo com outras mulheresque buscam, como elas, ganhardo que viver, e até criar com aspróprias economias um fundo

comum do grupo, que podia serusado, por exemplo, para visitarlugares que não conheciam epoder alargar os próprios hori-zontes.Os maridos, admirando o esfor-ço delas em melhorar a vida dafamília, passaram a tratá-lascom maior respeito, encorajan-do-as a participarem do encon-tro semanal.Para o Banco isso significoumandar aos bairros maispobres e aos vilarejos 50 jovens,treinados como funcionários decrédito, para organizar os gru-pos de mulheres e descobrirpossíveis micro-empresáriosindividuais. Foi necessário con-struir um novo andar na sededo Banco, para dar um local detrabalho para eles”.

No verão do ano passado, jun-tamente com Luigino Bruni,fomos encontrá-los e pudemosassistir, numa pequena sala,um encontro de um grupo demicro crédito, de cerca 50 pes-soas, quase todas mulheresque vivem no mesmo bairro,todas conhecidas entre si.O encontro, semanal, durauma hora e é coordenado porum membro do grupo. A parti-cipação é assumida com muitaseriedade; se alguém não tema possibilidade de ir deve avi-sar anteriormente, com umacarta explicando as razões desua ausência. No início, asecretária, também escolhidaentre os membros, lê e subme-te à aprovação de todos, a atado encontro anterior e as car-tas que chegaram.Em seguida, acontece ummomento importante da reu-nião: todas as semanas são reli-dos uma série de pontos, de“mandamentos” desenvolvidospelo Banco Kabayan para quemadere ao projeto do micro crédi-to, necessários para que se vivabem essa experiência.Destaca-se, entre todos, a pro-messa, repetida todas assemanas, de não procurar

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LeoAndringa

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empréstimos em outros bancos,de modo que tenham condiçõesde restituir o que pegaram doKabayan. Depois as pessoas dogrupo fazem o pagamento dosjuros semanais devidos pelopróprio crédito, e tambémdepositam alguma poupança,ainda que mínima.Nestes encontros existe umacultura de dignidade, honesti-dade, seriedade e também dealegria. Pela reciprocidade dosrelacionamentos percebi que ofuncionário do banco, queestava presente, conhecia acada um e era bem aceito pelogrupo. A sua era uma presençasilenciosa, e a reunião se con-cluiu com uma linda canção emuita alegria.Em seguida pude constatarque entre este funcionário ealguns dos indigentes quefazem parte do grupo haviauma relação que ultrapassavao aspecto contratual. O semi-nário “Koinonia”demonstracomo é importante a formaçãoe o envolvimento dos funcio-nários. (ver pág. 19-20).Esta experiência demonstrouque é possível, partindo do“contrato”, alcançar o estágioda “comunhão”, e que “partirdo contrato” é um modo novode ajudar os indigentes.Normalmente, de fato, parte-se do oposto, isto é, oferecendodinheiro sem subordiná-lo àsua restituição, e desse modo,se a “cultura do dar” não étotalmente partilhada, não sechega à plena reciprocidade: oindigente espera pelo envelo-pe mensal e o doador nãopode deixar de dá-lo, porquepercebe que o indigente nãotem alternativas. E assim per-manece uma situação dedependência e de indigência.O objetivo da Economia deComunhão é que “não existammais indigentes”, e isso superaa situação de dependência. Énosso dever encontrar oscaminhos para alcançar aplena comunhão, aquela dosprimeiros cristãos.

Em agosto de 2006 a empresada EdC Banco Kabayan convidouos próprios dependentes, 170pessoas, para participarem, naMariápolis Paz, do Movimentodos Focolares, do Seminário“Koinonia”, dois dias nos quaisfoi possível aprofundar, concreti-zar e difundir a cultura decomunhão,em grego “koinonia”.O programa era composto deconferências, filmes, cantos,jogos baseados na confiançarecíproca e momentos de ora-ção, úteis para reforçar a con-sciência de si mesmos, de Deuse do próximo, de acordo com acultura local, ainda não devasta-da pelo secularismo. NasFilipinas, de fato, as igrejas sãotomadas pelos jovens inclusivenas missas celebradas demanhã, nos dias de semana.As primeiras duas sessões, decaráter espiritual, foram precedi-das por um momento de inter-câmbio que criou logo um climade abertura recíproca. Na primei-ra,refletiu-se sobre as falsas ima-gens de Deus, que impedem umrelacionamento autêntico deamor com Ele e, na segunda,sobre o valor de cada pessoa aosolhos de Deus, todas amadasigualmente, ainda que criadasdiferentes umas das outras.Na terceira sessão refletiu-sesobre o perdão, e na sua conclu-são foi feita a “corrente do amor”.Cada um podia conversar comum colega, por apenas doisminutos, sobre três temas: agra-decer por algo que havia recebi-do, pedir perdão por algumacoisa e fazer um propósito paramelhorar. Todos participaram,felizes por poderem exprimir demodo espontâneo e construtivoos sentimentos mais escondidos.O fato de ter pouco tempo àdisposição não dava espaço aconsiderações e assim os relacio-namentos entre todos foram ele-vados a um plano superior, a uni-dade interna foi reforçada.O segundo dia foi dedicado àcomunhão com o outro. Foi pro-jetado um documentário sobre

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Um novo experimento para a formação à cultura de comunhão Koinonia no Banco Kabayan

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Teresa eFrancis

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o trabalho infantil que suscitouindignação ao ver crianças tra-balhando em condições tãoperigosas e precárias. Muitosdos presentes eram pais e,assim, foram levados a compre-ender e apreciar o objetivo daempresa, que mira a comunhãoentre os seus membros e com acomunidade. E, ainda, empen-har-se para não considerar ape-nas os dons recebidos e amar aprópria família de modo a nãopermitir jamais o desfrutamen-to (abuso?) de menores, fazendotudo o que está ao próprio alcan-ce para tirar as pessoas das con-dições alienantes em que seencontram por causa da pobreza.Em seguida foi dedicado umespaço à história dos primeirosanos do Banco Kabayan, com asuperação da crise na empresa ea nova visão adquirida com aadesão ao projeto EdC, e os valo-res que levaram à expansão daempresa a fim de fornecer servi-ços a outras comunidades egerar empregos. Valores funda-mentais de excelência e serviço,transparência e integridade, uni-dade, fé e confiança na interven-ção divina, e compromisso com odesenvolvimento da comunida-de, em uma empresa que hoje émais sólida,com um senso moralforte, que condiciona as escolhasdos produtos a serem oferecidose desenvolvidos.Três quartos dos participantesdo seminário começaram a tra-balhar no Banco Kabayan nosúltimos anos e, assim, puderamconhecer a fundo a cultura e opensamento de quem criou eguia o BK, tendo condições deinterrogar-se sobre o chamadopessoal a ser um partner ativona missão e visão da empresa.O seminário foi concluído comuma saudação calorosa dadapor Ray e Madda, co-responsá-veis pela Mariápolis, ao final daSanta Missa, com a presença detodos os moradores, seguidapor uma série de testemunhosespontâneos dos participantes,na veste de “promotores de

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comunhão”, lidas, com solenida-de, diante de todos.Alguns diziam:

Desejo me comprometer paraser uma chave que abre as por-tas da vida de quem encontro...tocar o coração do meu próximode forma que no final do diaambos seremos gratos por ter-nos tornado parte da vida dooutro e conscientes de quevaleu a pena.

(Supervisor de micro crédito)

Quero ser uma benção para osmeus colegas, oferecendo a elesa minha amizade e partilhandoas minhas idéias e talentos.

(Caixa)

Quero ser um dom de Deus quepossa dar alegria, felicidade,força, coragem e inspiração,para viver como uma únicafamília, em Cristo.

(Chefe de seção)

Quero ser mais aberto para osmeus colegas, mais capaz deuma partilha plena, e participarde suas alegrias e sofrimentoscomo sabe fazer um amigo ver-dadeiro.

(Formador)

Quero ser uma pessoa melhor,que ama e respeita o próximo,movida pelos princípios da doa-ção e da partilha, com um cora-ção capaz de perdoar.

(Funcionário)

Quero ser uma pessoa capaz denão esquecer os muitos presen-tes recebidos e as minhas fra-quezas, de modo a partilharlivremente e com amor tudo oque possuo, sem esperar nadaem troca.(Responsável pela programação)

Desejo mudar o meu modo deser usando os ensinamentos de“Koinonia”. Sei com clareza o

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que devo mudar, o que devofazer.

(Chefe de seção)

Quero ser um pai modelo paraos meus filhos,um amigo verda-deiro em quem se pode confiar.

(Motorista)

Quero ser um cidadão responsá-vel, sensível não apenas aosmeus problemas, mas tambémaos das pessoas com quem vivoe da minha comunidade.

(Setor de contabilidade do micro crédito)

O desafio agora consiste emreforçar e renovar constante-mente em nós essas promessas,colocando sempre em primeirolugar as necessidades dosoutros quando realizamos asnossas atividades diárias parafornecer serviços financeiros,especialmente nos setores maismarginalizados da comunidade.

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Desde o mês de junho passadoestá ativo o novo site das tesesEdC.O endereço,www.ecodicom.net, continua omesmo. O site contém os dadosessenciais das 246 teses, em 13línguas, das quais este arquivoteve notícia, de 1994 até hoje.Daquelas que constam no elen-co estão disponíveis para con-sulta on line, a resenha e o textode 187 teses. Isso por decisão dosautores que, com este instru-mento, desejam agilizar o estu-do do fenômeno EdC, por partede outros estudantes e estudio-sos.O site è composto por quatroseções: a «Home» onde sãoexplicadas as motivações dosite; a seção «Info» com as refe-rências para contato com oarquivo mundial; a seção«Noticiário» que torna disponí-veis os arquivos Acrobat Reader(pdf) deste Noticiário, em váriaslínguas; e enfim a seção «Teses»que constitui o conteúdo espe-cífico do site.Nesta seção, atualmente com-posta de 5 páginas, pode-se

encontrar, emordem crono-lógica dediscussão, dasmais antigasàs mais recen-tes, os cada-stros relativosàs 246 tesessobre a EdC.Além do nomedo autor estãod i s p o n í v e i s(quando con-hecidos) otítulo da tese,a data de discussão, o âmbito dapesquisa, a Universidade, ocurso, o orientador e o nível daqualificação.Com facilidade é possível «fil-trar» os dados do Banco deDados pela língua, o ano dadiscussão e o âmbito da pesqui-sa. Este último filtro, em espe-cial, é muito prático, porqueinserindo uma palavra-chave(por exemplo, «sociologia») sãofiltrados todos os cadastros queno campo «âmbito da pesqui-sa» contém este termo.Os cadastros podem ser organi-

Neste número apresentamos dezteses, das quais oito provêm doBrasil, uma da Eslovênia e umada Itália.Cinco pesquisas foram realizadaspor estudantes de economia:duas delas analisam a contribui-ção do projeto EdC para umdesenvolvimento sustentável, aterceira confronta os princípiosda EdC com os do Comércio ÉquoSolidário, a quarta estuda osdesenvolvimentos da Edc naAmazônia e a quinta aplica osseus princípios ao caso concretoda promoção do desenvolvimentode uma área do norte brasileiro.Duas teses foram escritas porestudantes de Ciências Jurídicas,e ambas confrontam o projeto

EdC com as normas da Consti-tuição Brasileira, promulgadaem 1988, encontrando entre elesuma plena consonância. Umatese da Eslovênia, em Teologia,descreve a mensagem econômi-ca do Movimento dos Focolarespor meio da EdC, e uma feita noBrasil, em Comunicação Social,analisa a aproximação dasempresas EdC com as RelaçõesPúblicas, considerando tal apro-ximação satisfatória, mas augu-rando que a mesma possa pro-gredir, a fim de que cresça a difu-são do projeto no mundo.E enfim, a décima tese é emPsicologia Social, e examina anovidade da EdC na organizaçãodo trabalho.

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O novo site das teses:instruções para uso

Dez novas teses

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Economia de Comunhão uma cultura nova

Arquivo mundial das teses de EdC:Antonella Ferruccic/o Prometheus SrlPiazza Borgo Pila 4016129 Gênovatel +39/010/5459820 – 5459821(segunda-feira e quarta-feira,das 10h às 13h)e-mail:[email protected]

As teses colocadas à disposiçãopelos autores podem ser con-sultadas na página www.eco-dicom.net. A página www.edc-online.org (em quatro lín-guas), na seção “notícias eeventos”, traz as informaçõessobre todos os eventos relati-vos à EdC no mundo, e pode serconsultada, em todas asoutras seções, para obterbibliografia, dados, estatísti-cas, artigos e muito mais.

zados em ordem alfabéticapelos campos que compõem oBanco de Dados, simplesmenteclicando sobre a título de cadauma das colunas. Por exemplo,clicando na coluna«Universidade» os dados serãoordenados alfabeticamentesegundo as Universidades, evi-denciando assim, por «proximi-dade», as teses discutidas namesma faculdade.

Todos estão convidados a nosvisitar! www.ecodicom.net

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Tese: A justiça social no âmbito de um novo agir econômico:a EdC e o Constitucionalismo Social

Orientador: Prof. Rafaela Daisy

O estudo percorre a história do direito ao trabalho, que vê a constante mobiliza-ção dos trabalhadores pela conquista de condições de trabalho dignas e salárioscapazes de suprir ao menos às necessidades primárias da vida humana, a educa-ção dos filhos, a habitação, a saúde.Repassando a história da economia e do trabalho brasileiros a partir dos anos 70,graças à disponibilidade de capital estrangeiro, se havia verificado um verdadeiro“milagre econômico”, com um notável crescimento da economia, a criação deindústrias ao redor das grandes cidades e o aumento dos postos de trabalho.Tudoisso transformou as relações sociais, dando espaço ao individualismo e à difusãoda cultura do lucro e do desenvolvimento a qualquer preço.A recessão que seguiu este período, nos anos 80, provocou uma hiper-inflação, ofechamento de empresas e a desocupação, e foi enfrentada com o modelo neo-liberal, que exigia a redução dos custos sociais, o enfraquecimento dos sindicatose da capacidade contratual da força trabalho, a introdução do trabalho flexível ea ampla difusão do sub-emprego, vistos hoje como causa das muitas desigualda-des sociais.Neste contesto de crescente estado de miséria, sobretudo nos grandes centrosurbanos, impõe-se a necessidade da solidariedade social. Na Constituição Federal,promulgada em 1988, os direitos do trabalho encontram espaço na forma jurídi-ca do “constitucionalismo social”.É o momento no qual as forças de trabalho, movidas pela solidariedade e pelanecessidade de igualdade, qual reação ao modelo neo-liberal, se reúnem em coo-perativas de produção, voltadas não apenas à subsistência dos trabalhadores,mas também à formação de capital: nasce a economia solidária.A Economia de Comunhão, ainda que pertencente a este âmbito, surge com umadiferente visual, envolvendo os próprios empresários e formadores de capital nacriação de empresas que destinam os lucros ao bem comum.A grande novidade da EdC é a formação humana ligada à gratuidade, à abertura,aos elementos da reciprocidade de comunhão, que geram uma nova dimensãonas relações entre empresários e trabalhadores, caracterizadas precedentementepela opressão e a desconfiança recíprocas.Nasce uma nova mentalidade, uma cultura da partilha, que coloca no centro avalorização da pessoa humana, em pleno acordo com a Constituição FederalBrasileira: um agir econômico que dá um verdadeiro impulso à justiça social.

Ana Camila Marques May e-mail: [email protected]

Diploma em Ciências Jurídicas Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Lorena 31 de dezembro de 2004Língua:português

Tese:A proposta econômica do Movimento dos Focolares – Obra de Maria

Orientador: Dr.Peter Kvaternik

O projeto EdC, que teve origem no Movimento dos Focolares, é apresentado nopresente estudo como uma nova cultura econômica, fundada sobre a abertu-ra ao outro, em contraposição à atual e opressora cultura do egoísmo.Após uma apresentação do Movimento dos Focolares e da sua rica atividadede diálogo inter-religioso e inter-cultural, o projeto EdC é analisado sob a luzda moderna Doutrina Social da Igreja, nos seus aspectos antropológico e tran-scendente.Evidenciam-se os diversos atores do projeto e a sua proposta de destinaçãodos lucros das empresas, tentando uma avaliação crítica das três finalidades:a ajuda aos pobres, o desenvolvimento da empresa e a formação de um povorenovado.Expõem-se as funções e perspectivas pastorais do projeto EdC, com atençãoespecial à “cultura do dar”, que se opõe à mentalidade atual da “cultura dopossuir”.Enfim são analisadas as concretizações do projeto sob o perfil da DoutrinaSocial da Igreja, utilizando o método crítico analítico e comparativo sistemáti-co pastoral.

Primoz Prepeluh e-mail: [email protected]

Diploma em Teologia Universidade de Lubliana31 de março de 2005 Língua:esloveno

Economia de Comunhão uma cultura nova

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Tese: Economia da reciprocidade: um confronto entre Comércio Équo e Economia de Comunhão

Orientador: Prof. Davide Castellani

Passou-se em resenha vários elementos: os efeitos concretos de comportamentosde confiança e reciprocidade no interior das empresas, a influencia que assumemas motivações pessoais sobre as decisões empresariais, os incentivos que moti-vam estratégias de cooperação e não oportunistas e a potencialidade de difusãode tais comportamentos econômicos no sistema econômico. Examinada a litera-tura existente sobre o fenômeno do non profit tentou-se definir os comporta-mentos de reciprocidade e confiança que surgem das relações pessoais dos dife-rentes sujeitos econômicos, no caso da EdC como no do Comércio Équo, compa-rando analiticamente os dados obtidos, a fim de captar peculiaridades constituti-vas e perspectivas de desenvolvimento. Emergiram os seguintes principais pontosde contato entre as duas realidades estudadas: em ambos os casos os relaciona-mentos pessoais revelam possuir uma importância fundamental, notou-se a ten-dência comum a constituir redes de associações cujos objetivos podem ser com-partilhados, verificou-se que se um sujeito mantém, no tempo, uma estratégia decooperação, cria um capital positivo de reputação que conduz a instaurar, com osterceiros, relações de confiança e reciprocidade, revelou-se, enfim, que em segui-da a uma fase inicial de forte expansão, na qual são recolhidas muitas adesões,segue uma fase de contenção, devida aos novos desafios (especialmente cultu-rais) que o projeto deve enfrentar.

Manzaroli Maria Grazia [email protected]

Mestrado em Economia EmpresarialUniversidade dos Estudos de Urbino “Carlo Bo”14 de junho de 2005Língua:italiana

Tese: O associacionismo e a Economia de Comunhão:uma proposta de melhoramento da qualidade de vidaem Santana do Urucuri – São Miguel do Guamá (Pará)

Orientador: Prof. Celina Julia Nunes Santos Cunha

O principal objetivo do estudo era salientar a importância de que a atividade eco-nômica propicie a realização da pessoa – não obstante todas as suas dificuldadese limites – tornando-a protagonista do processo produtivo nesta área marcadapor particulares dificuldades de desenvolvimento.O estudo avaliou as diferentes potencialidades produtivas da região, privilegian-do as que apresentam um rápido retorno econômico, com a intenção de propô-lasaos pequenos produtores, instaurando uma relação de comunhão e partilha, quetraz em si a capacidade de gerar relações sociais mais humanizadas e, de conse-qüência, uma melhor qualidade de vida. As situações mais difíceis da região deSão Miguel do Guamá foram enfrentadas com o espírito de fraternidade e justiçapeculiares do projeto EdC.Foram analisados os setores da apicultura, tratamento de águas para pesca, pro-dução de frutas, cereais e farinha de mandioca, criação de gado, etc. Estimulandona comunidade uma organização solidária, baseada nos princípios da EdC, viu-sea possibilidade de optar por qualquer uma dessas atividades, obtendo melhoresresultados com o trabalho comunitário e com a assistência de técnicos, especiali-stas e pesquisadores do governo.O estudo propõe, em última análise, tornar a Economia de Comunhão o princípiovital do projeto federal de Sistema Produtivo Local, enriquecendo o valor produti-vo da região no âmbito da economia solidária, criando logomarcas especiais, queexplicitem esse espírito e caracterizem o produto no mercado, por exemplo, paraa produção da farinha de mandioca.

João Guilherme daSilva Passos [email protected]

Diploma em Ciências Econômicas Universidade Federal do ParáDepartamento de Economia 15 de setembro de 2005 Língua:português

Tese: EdC: um estudo sobre a aplicação do projeto nas empresas de Manaus

Orientador: Prof. Eliraldo Abensur

O projeto EdC baseia-se sobre princípios cristãos e universais, e tem comoprincipal objetivo a humanização da economia, graças à “cultura do dar”, quetransforma uma visão egoística e instrumental em uma visão social.O projeto propõe uma administração ética e transparente e uma distribuiçãode lucros segundo três finalidades: as necessidades da empresa, a ajuda aosnecessitados e a formação de pessoas capazes de vivenciar a “cultura do dar”.A pesquisa avaliou a aplicabilidade do modelo de gestão proposto pela EdCem base à atuação do mesmo na cidade de Manaus, e foi realizada por meioda compilação de questionários e entrevistas. Foram analisados os casos con-cretos das empresas do empresário Rogério Cunha, que aderiu ao projetoainda em 1994, da Clínica Médica Salus e de outras diversas pequenas empre-sas, todas motivadas por uma visão que coloca a pessoa humana no centro daprópria atividade.

Erinete Cruz Da Silva e-mail: [email protected]

Diploma em Ciências Econômicas Centro de Consultoria EconômicaCIESA4 de novembro de 2005Língua:português

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Tese: Economia de Comunhão, gestão operativa e desenvolvimento: estudo do caso da Prodiet Farmacêutica, de Curitiba

Orientador: Prof. Oklinger Mantovaneli Júnior

O estudo avalia a congruência da gestão empresarial das empresas EdC comum desenvolvimento sustentável, examinando o caso da empresa PRODIETFarmacêutica, de Curitiba, estado do Paraná.Inicia-se apresentando e contextualizando os princípios EdC na organizaçãoempresarial, identificando os principais sujeitos administrativos utilizados naorganização e analisando-os com processos quantitativos e indutivos, pormeio de parâmetros de sustentabilidade econômica e de gestão. Para este fimforam entrevistadas dez pessoas encarregadas em postos-chaves na empresa,segundo uma linha estruturada em três partes: a primeira relativa à aplicaçãodos valores EdC na organização, a segunda sobre as atividades administrativase a terceira concernente às atividades comerciais.Concluiu-se que a empresa contribui ao desenvolvimento sustentável comações éticas e socialmente responsáveis, seja no seu interno que no ambienteexterno, congruentes seja com a EdC seja com o paradigma doDesenvolvimento Sustentável, que, por sua vez, contribuem não apenas com ocrescimento quantitativo da empresa mas também com o seu crescimentoqualitativo.Foi ainda evidenciado que as ações éticas, humanas e responsáveis da práticadiária não são realizadas com a razão expressa de contribuir de modo con-sciente para o desenvolvimento sustentável. Tendo presente que tais açõespodem ter um forte impacto no combate à tendência ilimitada ao lucro e aoconsumo a todo custo, seria útil tornar-se mais conscientes da importânciadas conseqüências que podem provocar, em nível local e global.

Ana Paula Lemnos Pinheiro e-mail: [email protected]

Mestrado emDesenvolvimento Sustentávele Responsabilidade Social

Dezembro de 2005Língua:português

Tese:A organização econômica brasileira e a EdC:reflexões à luz do artigo 170 da Constituição Brasileira

Orientador: Prof. Antônio Raimundo Barros de Carvalho

A Constituição Brasileira é constituída por normas e princípios que descrevemo dever-ser do Estado. A Constituição do Brasil, promulgada em 1988, introdu-ziu um capítulo especial dedicado à estrutura da organização econômica e noartigo 170 são definidos os seus objetivos e princípios inspiradores.Este deve assegurar a cada pessoa uma existência digna, e tender a uma justi-ça social. Os constituintes descrevem um modelo capitalista mas pressupõeinstrumentos para a sua “humanização”.A atual economia mundial tende a mostrar índices de crescimento contrapo-stos a uma gradual degradação social, demonstrada pelo elevado nível depobreza que, inclusive no Brasil, contradiz o propósito de “dignidade humana”.Neste contexto o projeto de Economia de Comunhão na liberdade, aqui surgi-do em 1991, é uma proposta de um novo agir em economia, baseado na partil-ha e na solidariedade. As empresas que aderem ao projeto introduzem a soli-dariedade como critério inclusive na produção, consideram a pessoa humanacomo centro da atividade econômica e dividem os lucros para finalidades quetendem à justiça social. Hoje mais de 700 empresas, em todo o mundo, parti-cipam do projeto, numa experiência que já oferece respostas concretas.O estudo foi desenvolvido com a finalidade de verificar a consonância entre aspropostas da EdC e as expectativas das Constituição brasileira com relação àordenação econômica e conclui que, ainda que não seja a única alternativapossível, o novo caminho de ação econômica proposto responde em maneiramais do que satisfatória ao Artigo 170 da Constituição da República.

Luciana Leite Raposo e Silva e-mail: [email protected]

Diploma em Ciências Jurídicas Faculdade de Direito daUniversidade Federal doAmazonas6 de julho de 2006Língua:português

Economia de Comunhão uma cultura nova

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Tese: A contribuição das Relações Públicas na empresas EdC Orientador: Prof. Getulio Vergetti

Neste estudo analisa-se qual contribuição as Relações Públicas podem dar àsempresas EdC na elaboração de suas estratégias de comunicação, considerando aimportância de relevo que assumem nelas as Comunicações Empresariais.Após um exame da literatura sobre o projeto EdC e sobre os últimos desenvolvi-mentos teóricos das Comunicações Empresariais e das Relações Públicas, apesquisa foi realizada com visitas in loco e entrevistas, no Brasil com os trabalha-dores da empresa FEMAQ, de Piracicaba (SP), e na Itália com os funcionários daempresa ECIE, de Lainate.O estudo demonstra a grande importância e desenvolvimento da ComunicaçãoEmpresarial nas empresas EdC, fator fundamental para a difusão dos aspectosinovadores introduzidos nas empresas com a aplicação dos valores que caracteri-zam o projeto.As empresas entrevistadas porém, não demonstram ter criado uma verdadeiraestratégia de comunicação e procedimentos operativos que assegurem a manu-tenção da sua qualidade no tempo: evidencia-se a oportunidade de uma estrutu-ra profissional capaz de acrescer a difusão do patrimônio de experiências já exi-stentes nas empresas EdC, a fim de dar as mesmas uma maior visibilidade.

Tita Marleide Feitosa Santos e-mail: [email protected]

Diploma em ComunicaçãoSocial e Relações Públicas Escola Superior de RelaçõesPúblicas ESURP 13 de julho de 2006Língua:português

Tese: Economia de Comunhão: novos paradigmas propostos para a organização do trabalho

Orientador: Prof. José Clerton de Oliveira Martins

A fim de estudar a organização do trabalho no projeto Economia deComunhão analisam-se as empresas em atividade no Pólo Spartaco, e a apli-cação da proposta EdC no território semi-árido do Ceará, por meio do projeto“A nossa cabra”.O estudo é realizado segundo os ditames da Escola Dejouriana e dos antropó-logos contemporâneos Da Matta e Darcy Ribeiro, baseados sobre o “sofrimen-to psicológico”, que permitem avaliar a validade dos aspectos perseguidosatualmente nas organizações EdC.Tratando-se de um estudo qualitativo utilizou-se uma metodologia com crité-rios antropológicos e etnográficos, recolhendo dados e efetuando a observa-ção direta.Os indicadores emersos da análise dos dados revelam a potencialidade da EdCde evidenciar o sofrimento psicológico das organizações derivadas de sua cul-tura e modelo administrativo. Do confronto com a EdC e a sua ética evidencia-se que uma organização fundada sobre normas rígidas não é a melhor solu-ção para a realização humana no trabalho.

Waleska Maria deSousa Barros e-mail: [email protected]

Mestrado em Psicologia Social Universidade de Fortaleza 22 de setembro de 2006Língua:português

Tese: Governo, Responsabilidade Social e a contribuição da EdC e os limites de uma economia sustentável

Orientador: Prof. Marcia Regina Gabardo da Camara

Foram estudados os instrumentos e motivações do governo e do mundo produti-vo brasileiro sobre o tema da salvaguarda ambiental, iniciando com um olharsobre a literatura neoclássica e aos estudos críticos sobre a economia sustentável.Em base a seus documentos oficiais analisou-se o comportamento ambiental dogoverno brasileiro e utilizaram-se outras fontes, relacionadas às técnicas empre-sariais de controle da degradação ambiental, à Responsabilidade Social, àEconomia de Comunhão e a um modelo de massa crítica para a cooperação.O estudo conclui que em todos esses âmbitos evidencia-se uma crescente aten-ção à proteção ambiental, que surge a partir de uma mudança de hábitos e valo-res, não apenas nos indivíduos mas também no mundo produtivo.Ética, cooperação e diálogo emergem como principais características de uma eco-nomia sustentável. Confirmando a importância dos valores, as empresas queassumem a Responsabilidade Social ou os princípios da EdC, são consideradasmodelos a serem imitados a fim de contribuir para uma economia sustentável.

Cristina Botti de Souza e-mail: [email protected]

Mestrado em Economia Universidade Estadual de Londrina 26 de outubro de 2006 Língua:português

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EdC tra America Latina ed ItaliaEconomia de Comunhão uma cultura nova

I quindici anni del Progetto EdCsono stati festeggiati nel con-gresso brasiliano di giugno nellacittadella del Movimento pressoSan Paolo, presenti 506 fraimprenditori (tra cui diciottoargentini), studiosi e studenti,Erano presenti i responsabili deidue poli produttivi brasiliani e diquello argentino, del centrostudi Filadelfia e delle associa-zioni EdC del Brasile e dell’Ar-gentina: dalla profonda unitàtra queste diverse realtà, soste-nute dall’invito di Chiara “Pre-gare come angeli e lavorarecome facchini”, sono nate nuovecollaborazioni ed un rinnovatoslancio nello sviluppo dell’EdCnel quotidiano delle aziende:alla fine del congresso avevanoaderito al progetto EdC novenuove aziende, ed era nato l’im-pegno a far nascere le prime treaziende del Polo del Nord Est,basato sull’offerta di know howe messa a disposizione di capi-tali da parte di imprenditori delCentro e Sud del Brasile.Nel corso del congresso si sonotenute le assemblee della EspriS/A del polo Spartaco e dell’As-sociazione Nazionale EdC, emomenti di esposizione di lavo-ri accademici.Nella Expo delle aziende orga-nizzata durante il congresso,presenti stands di 109 aziendedi cui sette argentine ed unastatunitense, si creavano oppor-tunità di rapporti commerciali eil progetto di una delegazione diimprenditori alla inaugurazionedel Polo Lionello.

Ottobre 2006Armando Tortelli, presidentedella Associazione EdC delBrasile ed imprenditore dellaProdiet Farmaceutica di Curi-tiba, responsabile della dele-gazione, veniva invitato a por-tare la sua testimonianza nelconvegno precedente l’inau-gurazione.La Prodiet è cresciuta in un mer-cato difficile in pochi anni, da 13a 180 collaboratori, raggiungen-

Armando Tortelli

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do un fatturato di 38 milioni didollari: uno sviluppo fondatooltre che su una forte eticaimprenditoriale, sulla importan-za sociale dell’impresa, vistacome occasione di evangelizza-zione, di partecipazione e fiori-tura umana dei lavoratori.Se la condivisione del profittodipendeva dagli azionisti, lavita dell’azienda dipendeva dalavoratori felici di costruire“l’azienda di tutti”, non solo unmezzo di sopravvivenza: ogninuovo posto di lavoro, ogniaumento di fatturato, ogninuovo rapporto costruito erauna testimonianza.La decisione di aprire una filialenel polo Spartaco, un assurdoper un imprenditore del Sud,nata dal desiderio di contribuireal suo sviluppo, permettevaall’azienda di rendersi conto diessere in grado di operare intutti i 27 stati del Brasile e si tra-sformava in una occasione diforte crescita.Con l’avvio del polo del Nordest,non essendo possibile aprirviuna filiale Prodiet, nascevaassieme ad imprenditori locali ilprogetto di una produzione didolci utilizzando la ricca varietàdi frutti tropicali della regione,che si avvierà nel marzo 2007.

Incontro con COOP ToscanaNegli ultimi anni si sono molti-plicate le occasioni di coopera-zione tra la cittadella diLoppiano e le pubbliche istitu-zioni, il comune di Incisa Val-darno, la provincia di Firenze ela Regione Toscana ed anchecon la più rilevante attivitàdella società civile toscana, lacooperativa di consumo chevanta oltre un milione di soci,la UNICOOP Toscana.Una collaborazione nata inoccasione del suo progetto “Ilcuore si scioglie” ultimamentecondiviso con il volontariato cat-tolico, che chiede ai soci COOPrisorse per progetti di coopera-zione internazionale, di cui alcu-ni adesso realizzati accanto alla

cittadella del Movimento deiFocolari nella foresta del Came-run, a Fontem.Incontratisi il progetto EdC e leiniziative UNICOOP a supportodi un modo nuovo di fare econo-mia, è nato il desiderio di colla-borare presentando ai sociCOOP nei vari supermercati, ilprogetto EdC ed i prodotti dellesue aziende.In occasione della inaugurazio-ne del Polo Lionello si è cosìorganizzato un primo incontrotra UNICOOP Toscana, la dele-gazione latino americana ed ilConsorzio “Terre di Loppiano”nato proprio per la commercia-lizzazione di prodotti EdC, conl’idea di attrezzare nei super-mercati dei “Corner” in cui sipresentare il progetto EdC,offrendo in acquisto prodottidi aziende di varie parti delmondo.

Polo del Nord Est del BrasileIn questi ultimi mesi è iniziata lacostruzione dei capannoni perle prime tre aziende del nascen-te polo accanto alla città diRecife. La società Polo Empre-sarial EdC do Nordeste S/A chelo gestisce, attualmente conta892 azionisti, 150 dei quali sisono impegnati a continuare asottoscrivere mensilmente azio-ni del valore di 50 Reais (circa 18Euro).In una lettera agli azionisti essaha comunicato di avere ormaiterminato le opere di sbanca-mento per i primi due capanno-ni, di aver iniziato le fondazioni,il sistema di drenaggio ed acqui-stato parti prefabbricate: sonogià disponibili le forniture ester-ne di energia elettrica, gas,acqua e drenaggi: le prime treimprese produrranno dolci,manufatti di polietilene e tessili.

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Maurizia e Marinella

Novilinguists Multimídia é umasociedade de traduções especia-lizada no setor técnico, informá-tico e médico. Foi fundada em1977 quando entrevimos, naInternet, um instrumento decomunicação e um campo detrabalho muito promissor. Osprimeiros anos de atividadeforam intensos, porque tratou-se de colocar à prova o nossorelacionamento, ao mesmotempo profissional e de amiza-de. Gradualmente conseguimosconquistar a estima dos nossoscolaboradores externos, cercade trinta pessoas, e dos clientes,que se sentiram acolhidos pornós de modo especial.Os germes do amor mútuocomeçaram a colocar suas raí-zes alguns anos atrás. Nós nãoconhecíamos o Movimento dosFocolares, mas desde os primei-ros anos de atividade procuráva-mos acolher com uma palavrade conforto o fornecedor quesofria a perda de um ente queri-do, direcionar trabalho para umoutro que naquele momentopodia ter necessidade, alegrar-nos junto com clientes ou forne-cedores por um matrimônio ouum novo nascimento.Nestes anos, embora sem con-hecer o projeto da Economia deComunhão, procuramos aplicara lógica da repartição dos lucrosajudando o Sermig, de ErnestoOlivero, com a tradução para oinglês do site Web da instituiçãoe contribuímos para as despe-sas da Casa Fratte Jacopa, con-fiada às irmãs Alcantarinas, deAssis, que acolhe numerososjovens. Por uma iniciativa pró-pria procuramos ajudar algunsjovens romenos na regulariza-ção de seus documentos deidentidade.Tudo isso demonstra como oEvangelho está inscrito no cora-ção de cada homem, porque,sem o saber,procurávamos vivera unidade, ainda que na nossajovem e pequena medida. Em

2004 conhecemos oMovimento dos Focolares, gra-ças a uma pessoa conhecida,emAssis, e logo fomos contagiadaspela idéia de que empresários,como nós, pudessem construiruma atividade econômicabaseada na comunhão, colocan-do como alicerce o amor recí-proco e a livre distribuição doslucros a favor de quem necessi-ta ou que vive um momento dedificuldade.Logo procuramos conhecertestemunhos e ler livros que nosajudassem a compreender se ocaminho que percorremos atéagora nos conduzia realmentepara a EdC,e aos poucos estamosdando os passos necessários afim de nos orientar ao projeto.Procuramos nos aproximar dasinstituições com transparência,regularizamos o nosso quadrode dependentes e começamos afalar abertamente sobre onosso modo de agir a clientes efornecedores.Com esta carta temos a alegriade nos apresentar às empresasEdC como potenciais fornecedo-res, porque hoje, crescendo noespírito da unidade, o nossodesejo é criar novas oportunida-des de ocupação para os jovens,e “robustecer-nos”como empre-sa, para que possamos contri-buir com os nossos lucros edifundir a cultura do dar e doamor recíproco no nossoambiente de trabalho.O nosso Core Business é a tradu-ção de software. Já traduzimostoda a linha Symantec, o siste-ma operacional Linux Suse,

scanner/câmeras fotográficasKodak, impressoras Cânon, o siteWeb da Google, os produtosGeneral Eletric, os manuais deutilização de maquinários de con-trole numérico e máquinas,uten-sílios, fichas técnicas, manuais deuso de instrumental médico,comunicados de imprensa,balanços e relatórios financeiros.Os nossos conhecimentos lin-güísticos compreendem as prin-cipais línguas européias eoutras ainda, sob pedido.Recentemente começamos aministrar cursos de formaçãolingüística para executivos quebuscam integrar o aprendizadotradicional com um mais apto atorná-los autônomos nas suasexigências de comunicação compartner e clientes.Naquilo que nos é possível dese-jamos nos colocar na escuta,desde já, e esperamos em brevepoder colaborar com as outrasempresas EdC na edificação deum mundo econômico maishumanizado, no qual o amor deJesus regule plenamente as rela-ções humanas e profissionais.

Maurizia Gregorio e Marinella Merlo

(Email: [email protected])

Agradeço pela bonita carta queescreveram, e tenho a satisfaçãode apresentá-las às empresasEdC, particularmente àquelasque, nos diversos países, operamno setor de traduções, com asquais faço votos possam ser cria-dos relacionamentos de colabo-ração, tecendo uma rede.

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Cartas ao diretoral

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a cura diAlbertoFerrucci

Economia de Comunhão uma cultura nova

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