PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO · 2020. 2. 28. · HENRI PAUL HYACINTHE WALLON • Wallon postula a...
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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
Profª Miriam Oliveira Mariano
HENRI PAUL HYACINTHE WALLON• Wallon postula a complexidade do real, evita qualquer
simplificação, busca compreender o desenvolvimento humanoatravés de uma perspectiva dinâmica e multidimensional, utilizandoo materialismo dialético como fundamento filosófico e método deanálise.
• Considera que o sujeito se constrói nas suas interações com o meio.
• Enfatiza a dimensão sócio-política da Educação.
• Cursou Medicina, tendo se especializado em Psiquiatria.
• Através da sua prática clínica em Psiquiatria, desenvolveu umgrande interesse pela Psicologia da criança.
• Desenvolveu uma sólida base de conhecimentos em neurologia epsicopatologia que tiveram um papel importante na constituição de suateoria psicológica.
• Como Vygotsky e Piaget, é um teórico da Psicologia Genética, isto é,ocupa-se da gênese das funções psíquicas superiores e do próprio sujeito.
• A partir da psicologia da criança, cada vez mais se interessou pelaEducação.
• Seu objetivo era desenvolver um sistema educacional que representasseuma educação mais justa para uma sociedade mais justa, favorecendo omáximo desenvolvimento das aptidões individuais e a formação doscidadãos.
PSICOGÊNESE DO SUJEITO
• O organismo é a condição primeira, isto é, toda função psíquicasupõe um equipamento orgânico.
• O orgânico, embora necessário, não é suficiente, pois o grupohumano e o ambiente são fundamentais para o desenvolvimentodas potencialidades do indivíduo.
• O ser humano é determinado fisiológica e socialmente.• As fronteiras entre os fatores de natureza orgânica e os de natureza
social são tênues e sua relação de determinação recíproca écomplexa.
• Wallon propõe o estudo integrado do desenvolvimento, isto é, queabarque os vários campos funcionais da atividade infantil.
• Tais campos são: a afetividade, a motricidade e a inteligência.• Por ser geneticamente social, o desenvolvimento se dá em estreita
dependência das condições concretas e materiais.• Wallon dialogou intensamente com a neurologia, a psicopatologia, a
antropologia e até a psicologia animal, buscando construir umconhecimento multidimensional.
• Em relação à neurologia, era contrário à visão localizacionista.• Em relação à psicopatologia, considerava-a uma espécie de lente de
aumento que permitia enxergar fenômenos também presentes noindivíduo normal.
• Em relação à psicologia animal, distinguia o humano do animal pelaemergência da função simbólica.
• A Antropologia forneceu-lhe material para compreender asdiferenças dos meios culturais sobre o desenvolvimentos dossujeitos.
• Wallon também dialogou com outros pesquisadores do campo dapsicologia da criança, principalmente Daniel Stern, Charlotte Bühlere Paul Guillaume.
• Manteve intensa interlocução com as teorias de Piaget e Freud.• Como procedimento metodológico preferencial, elegeu a
observação da criança em seu contexto.• Mesmo privilegiando a observação, adverte contra a ilusão de se
acreditar que ela possa ser totalmente objetiva.
• Toda observação supões escolhas e vieses em função das expectativas,desejos, relações, hábitos mentais ou hipóteses do observador em relaçãoao fenômeno observado.
• Assim sendo, Wallon recomenda que o observador se esforce porexplicitar ao máximo os referenciais prévios que influenciam o seu olhar ea sua reflexão.
• Em resumo, seu método consiste em estudar a criança como umarealidade viva e total no conjunto de sua atividade, de seucomportamento e no conjunto de suas condições de existência e emseguir seu desenvolvimento em todos os seus aspectos e em situá-lo comrelação a outros desenvolvimentos com os quais apresente algum tipo desemelhança.
A DINÂMICA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
• Para Wallon, no desenvolvimento humano podem ser identificadasetapas diferenciadas que se sucedem numa ordem necessária, cadauma sendo a base imprescindível para o aparecimento dasseguintes.
• Em cada idade se estabelece um tipo particular de interações entreo sujeito e o seu ambiente.
• O meio não é uma identidade estática e homogênea e transforma-se juntamente com a criança.
• A determinação recíproca que se estabelece entre as condutas dacriança e os recursos de seu meio imprime um caráter de extremarelatividade ao processo de desenvolvimento.
• Os fatores orgânicos são os responsáveis pela sequência fixa que severifica entre os estágios de desenvolvimento, embora nãogarantam a homogeneidade no seu tempo de duração.
• Assim, a duração de cada estágio e as idades a que correspondemsão referências relativas e variáveis, dependendo das característicasindividuais e das condições de existência.
• O biológico é mais determinante no início da vida e vai cedendoespaço de determinação progressivamente ao social.
• Presente desde o início, a influência do meio vai se tornando maisdecisiva na aquisição das funções psicológicas superiores, como ainteligência simbólica.
• O simples amadurecimento do sistema nervoso não garante odesenvolvimento de habilidades intelectuais mais complexas.
• A cultura e a linguagem é que oferecem ao pensamento osinstrumentos de sua evolução.
• Não é possível definir um limite terminal para o desenvolvimentoda inteligência e da pessoa. Isto depende das condições oferecidaspelo meio e do grau de apropriação que o sujeito faz delas.
• As funções psíquicas podem prosseguir num permanente processode especialização e sofisticação, mesmo que do ponto de vistaestritamente orgânico já tenham atingido a maturação.
• O ritmo pelo qual se sucedem as etapas é descontínuo, marcadopor rupturas, retrocessos, avanços e reviravoltas.
• Cada etapa traz uma profunda mudança nas formas de atividade doestágio anterior. Ao mesmo tempo, condutas típicas de etapasanteriores podem sobreviver nas seguintes, configurandosobreposições.
• A passagem de um estágio a outro não é uma simples ampliação,mas uma reformulação. Com frequência, instala-se uma crise quepode afetar a conduta da criança nos momentos de passagem deuma etapa a outra.
• O desenvolvimento é um processo pontuado por conflitos tanto de origem exógena, quanto de origem endógena.
• Coerente com seu referencial epistemológico (materialismo dialético), Wallon vê os conflitos como propulsores do desenvolvimento, isto é, como fatores dinamogênicos.
• A descrição que Wallon faz dos estágios é descontínua e assistemática.
• Para Wallon, o desenvolvimento da pessoa é uma construção progressiva em que se sucedem fases com predominância afetiva e cognitiva.
• Wallon propões 5 estágios: impulsivo-emocional, sensório-motor eprojetivo, personalismo, categorial e adolescência.
• No estágio impulsivo-emocional (primeiro ano de vida), hápredomínio da emoção, instrumento privilegiado da criança com omeio.
• A exuberância de suas manifestações afetivas é diretamenteproporcional à inaptidão do bebê para agir diretamente sobre arealidade exterior.
• No estágio sensório-motor e projetivo, (que vai até o terceiro ano),o interesse da criança se volta para a exploração sensório-motorado mundo físico.
• A aquisição da marcha e da preensão possibilitam-lhe maiorautonomia na manipulação de objetos e na exploração de espaços.
• Neste estágio se desenvolve a função simbólica e a linguagem.
• O termo ‘projetivo’ (parte da nomeação do estágio) deve-se àcaracterística do funcionamento mental neste período: o atomental projeta-se em atos motores, pois o pensamento precisa doauxílio dos gestos para se exteriorizar.
• Ao contrário do estágio anterior, neste predominam as relaçõescognitivas com o meio (inteligência prática e simbólica).
• No estágio do personalismo (dos três aos seis anos), a tarefaprincipal é o processo de formação da personalidade.
• A construção da consciência de si que se dá por meio das interaçõessociais, reorienta o interesse da criança para as pessoas,determinando o retorno da predominância das relações afetivas.
• O estágio categorial inicia-se por volta dos 6 anos graças àconsolidação da função simbólica e à diferenciação dapersonalidade realizadas no estágio anterior.
• Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para oconhecimento e para a conquista do mundo exterior, determinandoa preponderância do aspecto cognitivo.
• Na adolescência, a crise pubertária rompe a ‘tranquilidade’ afetivado estágio anterior e impõe a necessidade de uma nova definiçãoda personalidade, perturbada por conta das modificações corporaisresultantes da ação hormonal.
• Este processo traz à tona questões pessoais, morais e existenciais,numa retomada da predominância da afetividade.
• Portanto, a momentos predominantemente afetivos, sucedemoutros que são predominantemente cognitivos. Trata-se do Wallonchama de ‘predominância funcional’.
• O predomínio do caráter intelectual corresponde à ênfase naelaboração do real e no conhecimento do mundo físico.
• A predominância do caráter afetivo e das relações com os outroscorrespondem às etapas que se prestam à construção do eu.
• Trata-se do princípio da ‘alternância funcional’.
• Apesar de alternarem a dominância, a afetividade e a cognição nãose mantêm como funções exteriores uma à outra. Cada umaincorpora as conquistas realizadas pela outra, construindo-sereciprocamente, num permanente processo de integração ediferenciação.
• Esta construção recíproca explica-se pelo princípio da ‘integraçãofuncional’.
• Tal princípio é extraído do processo de maturação do sistemanervoso: as funções mais evoluídas (de amadurecimento maisrecente) não suprimem as mais arcaicas, mas exercem sobre elas ocontrole.
• A integração funcional não é definitiva; isto explica os frequentesretrocessos ao longo do desenvolvimento das funções psíquicas.
• Estas são agrupadas por Wallon em: afetividade, ato motor einteligência.
• Ao longo do desenvolvimento ocorrem sucessivas diferenciaçõesentre os campos e no interior de cada um.
• A ideia de ‘diferenciação’ é um conceito-chave na psicogenética deWallon, vide o processo de formação da personalidade
• Segundo este autor, o estado inicial da consciência pode sercomparado a uma nebulosa, uma massa difusa na qual seconfundem o próprio sujeito e a realidade exterior (recém-nascidonão se percebe como indivíduo diferenciado).
• Num estado de simbiose afetiva com o meio, a distinção entre o eue o outro só se adquire progressivamente.
• A criança está num estado de ‘sociabilidade sincrética’.• Portanto, o sentido do processo de socialização é de crescente
‘individuação’.
• Este processo de individuação também preside a construção do eucorporal.
• É pela interação com os objetos que a criança estabelece os limitesentre o mundo exterior e seu próprio corpo, isto é, constrói o ‘corpopróprio’.
• A segunda etapa corresponde à integração do corpo das sensaçõesao corpo visual, isto é, à junção corpo como sentido pelo sujeito àsua imagem como vista pelos outros.
• Leva um tempo até que a criança reconheça a sua imagem refletidano espelho.
• Este processo se dá ao longo do estágio sensório-motor e projetivo.
• A construção do eu corporal é a condição para a construção do eupsíquico, tarefa principal do estágio personalista.
• Torna-se mais frequente o emprego do pronome ‘eu’.• Para afirmação do eu, a criança costuma opor-se sistematicamente
ao que é diferente dela (o não-eu).• Trata-se de um movimento necessário para a criança se destacar da
massa difusa (sincrética) em que se encontrava a suapersonalidade.
• No momento seguinte (estágio categorial), predomina a atividadede imitação em que a criança imita as pessoas que lhe atraem, nummovimento de reaproximação do outro.
• Em seguida, na adolescência, instala-se uma nova fase deoposição.
• Trata-se da afirmação do eu.
• A oposição é um recurso importante para a diferenciação doeu.
• O outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica.
• Mesmo na vida adulta, as fronteiras entre o eu e o não-eupodem ficar borradas devido a situações específicas (como,por exemplo, a paixão).
AS EMOÇÕES
• As emoções se encontram na origem da consciência.
• São sempre acompanhadas de alterações orgânicas, provocando também alterações na mímica facial, na postura, na forma como são executados os gestos.
• Ao longo do desenvolvimento, a afetividade vai adquirindo relativa independência dos fatores corporais através do recurso à fala e à representação mental.
• Wallon dá grande destaque ao componente corporal das emoções, enfatizando como podem ser vinculadas à maneira como o ‘tônus’ se forma, conserva ou se consome.
• A cólera, por exemplo, vincula-se à hipertonia; a alegria, à eutonia; atimidez, à hipotonia. Estes estados são imediatamente sentidos pelossujeitos, portanto, gerando consciência dos estados emocionais.
• É por isso que Wallon afirma que as emoções são a origem da consciência.
• Eminentemente social, a emoção nutre-se do efeito que causa no outro.
• Pelas interações sociais que propicia, Wallon afirma que as emoções estãona origem da atividade intelectual.
• Mas a relação entre emoção e razão é de filiação e , ao mesmo tempo, deoposição.
MOVIMENTO• Além do seu papel de relação com o mundo físico (motricidade de
realização), o movimento tem um papel fundamental na afetividadee na cognição.
• Os progressos da atividade cognitiva fazem com que o movimentose integre à Inteligência.
• No início globais e indiferenciados, os gestos instrumentais (praxias)sofrem um processo de crescente especialização.
• O movimento tem um caráter expressivo principalmente nainfância, mas que se mantém mesmo no adulto em certas culturase/ou circunstâncias.
LINGUAGEM• A linguagem é o instrumento e o suporte indispensável aos
progressos do pensamento.• Entre linguagem e pensamento há uma relação de reciprocidade: a
linguagem exprime o pensamento e ao mesmo tempo age comoestruturadora deste.
• O pensamento discursivo (verbal) foi o objeto privilegiado de seuestudo sobre a inteligência.
• Através da linguagem podemos observar a evolução dopensamento infantil de um estágio inicial sincrético, passando pelaformação de categorias concretas até a formação de categoriasgerais abstratas.
EDUCAÇÃO• Além do material valioso para pensarmos a prática pedagógica,
Wallon desenvolveu uma reflexão política sobre o papel da escolana sociedade.
• A educação tem sempre um papel político.
• Já que os regimes políticos utilizam a educação para manter eprolongar seus objetivos políticos, a educação deve se apropriar deseu poder e papel.
• Para isso, é necessário ter claro o projeto de sociedade que se quer.
• Para Wallon, uma sociedade socialista, caracterizada pelademocracia e justiça social.