Monografia Monica Savi Mondo Perdona

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MÔNICA SAVI MONDO PERDONÁ MAGAGNIN PROGRAMA DO FUNDO DE APOIO À MANUTENÇÃO E AO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR - FUMDES USO DE EPI/EPC NO SETOR AGRÍCOLA DA REGIÃO SUL, VISANDO SEGURANÇA E QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR Tubarão 2014

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  • UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

    MNICA SAVI MONDO PERDON MAGAGNIN

    PROGRAMA DO FUNDO DE APOIO MANUTENO E AO

    DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO SUPERIOR - FUMDES

    USO DE EPI/EPC NO SETOR AGRCOLA DA REGIO SUL, VISANDO

    SEGURANA E QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR

    Tubaro

    2014

  • MNICA SAVI MONDO PERDON MAGAGNIN

    USO DE EPI/EPC NO SETOR AGRCOLA DA REGIO SUL, VISANDO

    SEGURANA E QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR

    Projeto de Monografia apresentado ao Curso de Especializao em Engenharia de Segurana do Trabalho da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial obteno do ttulo de Especialista em Segurana do Trabalho.

    Orientador: Prof. Msc. Jos Humberto Dias de Toldo

    Tubaro

    2014

  • MNICA SAVI MONDO PERDON MAGAGNIN

    USO DE EPI/EPC NO SETOR AGRCOLA DA REGIO SUL, VISANDO

    SEGURANA E QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR

    Esta Monografia foi julgada adequada obteno do ttulo de Especialista em Engenharia de Segurana do Trabalho e aprovada em sua forma final pelo Curso de Especializao em Engenharia de Segurana do Trabalho da Universidade do Sul de Santa Catarina.

    Tubaro, 21 de outubro de 2014.

    ______________________________________________________

    Professor e orientador Jos Humberto Dias de Toldo, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

  • Dedico a minha falecida tia que sempre me

    apoiou em meus estudos, a meu pai e minha

    me, por todos os ensinamentos, minha irm,

    pelo companheirismo em toda minha vida e

    meu esposo, pelo incentivo para realizao da

    especializao.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus por ser minha inspirao e me conceder sade e foras todos os dias para

    realizao de minhas metas.

    Aos professores do curso por todos os ensinamentos repassados e

    compartilhamento de experincias profissionais.

    Ao professor Jos Humberto pelas orientaes e melhorias propostas no presente

    trabalho.

    Aos colegas do curso, pelo companheirismo, incentivo, amizade e troca de

    conhecimentos.

    Aos servidores da Unisul, pelo caf das manhs e tardes de sbado.

    A todos as pessoas que contribuam para realizao deste trabalho.

  • Tudo tem sua hora. Domine a ansiedade que s atrapalha. Conserve a confiana,

    procure o equilbrio. Faa sua parte. (ZBIA GASPARETTO).

  • RESUMO

    O segmento agrcola no Brasil muito importante para o desenvolvimento da economia

    nacional, contribuindo em muito para permanncia das famlias rurais nas suas pequenas

    propriedades, principalmente nas famlias pertencentes ao sul catarinense. No entanto, os

    pequenos agricultores desta regio carecem de mais ateno no que se refere a sua sade. Para

    atingir o nvel de qualidade exigido, o trabalho desenvolvido nestas lavouras expe estes

    trabalhadores a intempries climticas, adotando posturas desfavorveis, exigindo o emprego

    de grande esforo fsico, alem de manter contato com diversos agentes que trazem

    conseqncias drsticas para o bem estar do agricultor. O conjunto destes fatores de risco,

    quando no se usa nenhum tipo de equipamento de proteo individual, pode favorecer o

    surgimento de problemas de sade, na maioria das vezes percebidos em longo prazo. Este

    estudo buscou levantar caractersticas a respeito da situao atual de sade dos trabalhadores

    do municpio de Treze de Maio (SC), e do comportamento no desempenhar de suas funes

    na produo agrcola, principalmente no que se refere ao uso dos equipamentos de proteo

    pelos trabalhadores. Atravs da analise e comparao de dados coletados e encontrados na

    literatura, foi possvel verificar que a maioria dos agricultores deixa a sade em segundo

    plano, tendo em vista a necessidade financeira e o aumento de produtividade. Entretanto

    reclamam de problemas de sade, ocasionados pelo trabalho desgastante da atividade e pelo

    uso inadequado dos equipamentos de proteo individual, que na sua maioria so imprprios

    para o trabalho.

    Palavras-chave: Sade. EPI. EPC. Agrotxicos. Agricultura Familiar. Riscos.

  • ABSTRACT

    The agricultural sector in Brazil is very important for the development of the national

    economy, contributing greatly to the permanence of rural families in their small farms,

    especially in families belonging to the south of Santa Catarina. However, the small farmers in

    this region require further attention with respect to their health. To achieve the required level

    of quality, the work of these crops exposes these workers to inclement weather, adopting

    unfavorable postures, requiring the use of great physical effort, in addition to maintaining

    contact with various agents that bring drastic consequences for the welfare of the farmer. All

    these risk factors, when not using any personal protective equipment, may favor the onset of

    health problems, most often perceived in the long term. This study tried to investigate

    characteristics regarding the current health situation of workers of the municipality of

    Thirteen May (SC), and behavior in the play of its functions in agricultural production,

    especially with regard to the use of protective equipment by workers. By analysis and

    comparison of data collected and reported in the literature, we found that most farmers leave

    the health background, with a view to financial need and increasing productivity. However

    complain of health problems caused by stressful work activity and the inappropriate use of

    personal protective equipment, which are mostly unfit to work.

    Keywords: Health. EPI. EPC. Pesticides. Family Farming. Risks.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Equipamento de Proteo Individual para aplicao de defensivos ...................... 20

    Figura 2 Localizao do municpio de Treze de Maio ........................................................ 24

    Figura 3 EPI completo recomendado para aplicao de agrotxicos .................................. 26

    Figura 4 Percentual de agricultores que possuem EPI no municpio de Treze de Maio SC ............................................................................................................................................. 27

    Figura 5 Etapa da colheita da batata .................................................................................. 29

    Figura 6 Etapa da colheita do fumo .................................................................................. 29

    Figura 7 Percentual de agricultores que qualificam os EPI disponveis no mercado no

    municpio de Treze de Maio SC.......................................................................................... 35

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Classe toxicolgica e cor da faixa no rtulo de produto agrotxico................. ..... 18

    Tabela 2 Ordem da Etapa em que ocorre maior frequncia de acidentes no processo

    produtivo e cor da faixa no rtulo de produto agrotxico.................................................. ...... 28

    Tabela 3 Ordem crescente das etapas onde o trabalho se torna mais desgastante para a sade

    fsica e mental do agricultor durante o processo produtivo.............................................. ....... 32

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 12

    1.1 TEMA ......................................................................................................................... 12

    1.2 DELIMITAO DO TEMA ....................................................................................... 12

    1.3 PROBLEMA ............................................................................................................... 12

    1.4 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 13

    1.5 OBJETIVOS................................................................................................................ 13

    1.5.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 13

    1.5.2 Objetivos especficos....................................................................................................14

    1.6 METODOLOGIA ........................................................................................................ 14

    2 REVISO TERICA .................................................................................................. 15

    2.1 AGRICULTURA FAMILIAR ..................................................................................... 15

    2.2 AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL ................................................................ 16

    2.2.1 Agricultura familiar em Santa Catarina..................................................................16

    2.2.2 Agricultura familiar em Treze de Maio....................................................................17

    2.3 TOXICIDADE DOS AGROTXICOS ....................................................................... 17

    2.4 EQUIPAMENTOS DE PROTEO INDIVIDUAL ................................................... 19

    2.5 A SEGURANA NO TRABALHO AGRCOLA ........................................................ 20

    2.6 ACIDENTE DO TRABALHO .................................................................................... 22

    3 RESULTADOS E ANLISES ..................................................................................... 24

    3.1 CAMPO DE PESQUISA ............................................................................................. 24

    3.2 COLETA DE DADOS ................................................................................................. 24

    3.2.1 Entrevistas Semi-estruturadas................................................................................ 25

    3.3 AMOSTRAGEM ......................................................................................................... 25

    3.4 APRESENTAO E ANLISE DE DADOS ............................................................. 26

    4 CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................... 39

    REFERNCIAS ................................................................................................................. 41

    APNDICES ...................................................................................................................... 43

  • 12

    1 INTRODUO

    O segmento agrcola no Brasil muito importante para o desenvolvimento da

    economia nacional, contribuindo em muito para permanncia das famlias rurais nas suas

    pequenas propriedades, principalmente nas famlias pertencentes ao sul catarinense. No

    entanto, os pequenos agricultores desta regio carecem de mais ateno no que se refere a sua

    sade. Para atingir o nvel de qualidade exigido, o trabalho desenvolvido nestas lavouras

    expe estes trabalhadores a intempries climticas, adotando posturas desfavorveis, exigindo

    o emprego de grande esforo fsico, alem de manter contato com diversos agentes que trazem

    consequncias drsticas para o bem estar do agricultor.

    O conjunto destes fatores de risco, quando no se usa nenhum tipo de

    equipamento de proteo individual ou coletivo, pode favorecer o surgimento de problemas

    de sade, na maioria das vezes percebidos em longo prazo.

    Este estudo busca levantar dados a respeito da situao atual de sade dos

    trabalhadores do setor agrcola do municpio de Treze de Maio (SC), e do comportamento no

    desempenhar de suas funes na produo agrcola, principalmente no que se referem ao uso

    dos equipamentos de proteo na exposio aos agrotxicos quando aplicados na lavoura.

    1.1 TEMA

    Uso de EPI/EPC no setor agrcola

    1.2 DELIMITAO DO TEMA

    Uso de EPI/EPC no setor agrcola da regio sul, visando segurana e qualidade de

    vida do trabalhador.

    1.3 PROBLEMA

    A atividade laboral agrcola pode apresentar alta exposio dos trabalhadores a

    agentes qumicos, como agrotxicos. A eliminao dos riscos deve ser feita atravs de

  • 13

    medidas de preveno, tanto na concepo de equipamentos de proteo coletiva como

    individual nos prprios postos de trabalho.

    Diante deste contexto, essa pesquisa tem a seguinte questo investigativa: O

    trabalhador est ciente da importncia de utilizar os equipamentos de proteo? O uso de

    equipamentos de proteo coletiva e individual e a sua higienizao de forma correta

    garantem a sade e integridade fsica do trabalhador rural?

    1.4 JUSTIFICATIVA

    O tema em questo de extrema importncia para garantir a sade e integridade

    fsica do trabalhador rural e contribuir para o desenvolvimento da cidade de Treze de

    Maio/SC, diminuindo incidncias de doenas relacionadas a utilizao de agrotxicos pelos

    produtores rurais.

    A Engenharia de Segurana do Trabalho nos d subsdios atravs das normas

    regulamentados (NR) para atuar no campo profissional. A NR 31 Segurana e sade no

    trabalho na agricultura, pecuria, silvicultura, explorao florestal e aquicultura, ser o guia

    de orientao a ser aplicado neste trabalho de pesquisa.

    De acordo com a NR 31, poderemos estabelecer parmetros para levar at o

    trabalhador agrcola, meios de transformar o cotidiano mais digno e seguro, garantindo assim

    sua qualidade de vida, evitando acidentes de trabalho e doenas profissionais.

    Diante deste contexto, entendemos que esta pesquisa se justifica, pois pode

    contribuir com os trabalhadores agrcolas da regio de Treze de Maio/SC, alertando sobre o

    uso adequado do EPI e os riscos de exposio aos agrotxicos.

    1.5 OBJETIVOS

    1.5.1 Objetivo geral

    Reconhecer as condies de trabalho executados pelos pequenos agricultores na

    regio de Treze de Maio, SC, e investigar se o uso adequado do EPI e EPC garante a

    integridade fsica e sade dos trabalhadores envolvidos na aplicao de agrotxicos.

  • 14

    1.5.2 Objetivos especficos

    Descrever as culturas que predominam na regio em questo;

    Investigar se os agricultores esto fazendo o uso adequado dos EPI e EPC;

    Identificar se os agrotxicos manipulados pelos agricultores esto

    provocando doenas, e o seu grau de toxidade.

    1.6 METODOLOGIA

    A pesquisa do ponto de vista da natureza aplicada. Da forma de abordagem do

    problema quantitativa e qualitativa; quantitativa, pois utiliza a estatstica para traduzir

    nmeros, opinies e informaes.

    J a pesquisa qualitativa constitui [...] uma propriedade de idias, coisas e

    pessoas que permite que sejam diferenciadas entre si de acordo com suas naturezas

    (MEZZAROBA, 2003, p. 110). Suas marcas principais so: profundidade, plenitude e

    produo de conhecimento de forma verticalizada, buscando a essncia do assunto (BONAT,

    2009, p.12).

    Do ponto de vista dos objetivos, exploratria, pois se trata de levantamento

    bibliogrfico com entrevistas, experincias prticas e estudo de caso.

    Conforme Leonel, 2007, o principal objetivo da pesquisa exploratria

    proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo. Muitas vezes o pesquisador no

    dispe de conhecimento suficiente para formular adequadamente um problema ou elaborar de

    forma mais precisa uma hiptese. Nesse caso, necessrio desencadear um processo de

    investigao que identifique a natureza do fenmeno e aponte as caractersticas essenciais das

    variveis que se quer estudar.

    Do ponto de vista dos procedimentos tcnicos, uma pesquisa de estudo de caso,

    pois interroga pessoas e detalha uma realidade.

    Conforme Leonel, (2007) o estudo de caso, como modalidade de pesquisa, pode

    ser utilizado tanto nas cincias biomdicas como nas cincias sociais. Nas cincias sociais

    para a investigao das particularidades que envolvem a formao de determinados

    fenmenos sociais. Por unidade-caso podemos entender uma pessoa, uma famlia, uma

    comunidade, uma empresa, um regime poltico, uma doena, etc.Para a coleta de dados no

    estudo de casos geralmente utilizam-se as tcnicas da pesquisa qualitativa, sendo a entrevista

    a principal delas.

  • 15

    2 REVISO TERICA

    2.1. AGRICULTURA FAMILIAR

    A agricultura familiar corresponde ao trabalho da famlia na agricultura, tendo

    uma relao direta com a terra na produo de alimentos para manuteno da sua prpria

    famlia, de seus animais e de outros consumidores. Carneiro (apud CARNEIRO, 2006, p. 30)

    elabora um conceito abrangente, incluindo a dinmica social do grupo familiar. Ela exprime

    que a agricultura familiar entendida como uma unidade de produo onde trabalho, terra e

    famlia esto intimamente relacionadas.

    Agricultor familiar todo aquele que explora parcela de terra na condio de

    proprietrio, assentado, arrendatrio ou posseiro, e atende simultaneamente aos seguintes

    quesitos: utiliza o trabalho direto seu e da sua famlia, podendo ter, em carter complementar,

    ate dois empregados permanentes e contar com a ajuda de terceiros, quando a natureza

    sazonal da atividade agropecuria o exigir; no detenha, a qualquer titulo, rea superior a

    quatro mdulos fiscais, quantificados segundo a legislao em vigor; tenha, no mnimo, 80%

    da renda familiar bruta anual originada da explorao agropecuria, pesqueira e/ou

    extrativista; resida na propriedade ou em aglomerado rural ou urbano prximo (ALTMANN

    et al.,2004).

    A agricultura familiar brasileira bastante diversificada e inclui tanto famlias que

    vivem e exploram minifndios, em condies de extrema pobreza, como grandes produtores

    inseridos no mercado do agronegcio, com rendimentos bem acima da linha da pobreza

    (SOUZA FILHO e BATALHA, 2006, p 14 apud OLIVEIRA,2007, p 45).

    A mecanizao da lavoura levou superproduo, principalmente de produtos

    para exportao, ora alardeada como positiva por contribuir para a balana 12comercial.

    Resultou, ainda, no esvaziamento do espao rural por conta da falta de opes de trabalho

    para o agricultor, considerando a estrutura fundiria nacional. Alm disso, a produo agrcola

    baseou-se no uso intensivo do solo, ocasionando seu desgaste prematuro (CARNEIRO, 2006,

    p. 38).

    A forma como o Estado interveio na agricultura moldou as tcnicas produtivas

    adotadas pelos produtores rurais (MATTEI, 2006 apud CARNEIRO,2006). Estas polticas,

    porm, deixaram uma parcela dos estabelecimentos rurais margem do processo,

    principalmente os pequenos produtores familiares, uma vez que no dispunham de recursos

    para acompanhar a mecanizao dos estabelecimentos mais dinmicos (CARNEIRO, 2006).

  • 16

    Segundo Carneiro (2006, p. 17), algumas famlias agrcolas que no tiveram

    acesso ao processo de modernizao das zonas rurais viram suas atividades prejudicadas e

    uma parcela dos seus componentes, sem funes definidas, se voltou para outras atividades.

    2.2. AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL

    A agricultura familiar no Brasil, sempre foi sinnimo de famlias numerosas, onde

    todos ou quase todos os integrantes do grupo familiar, trabalhavam na propriedade da

    famlia, cultivando alimentos para consumo prprio e para serem vendidos e revertidos em

    produtos e alimentos no produzidos na sua propriedade, para o sustento da famlia.

    Atualmente estas famlias esto cada vez menores, pois a vida no campo esta difcil e cada

    vez mais perdendo espao para as reas urbanas.

    A agricultura familiar no Brasil, segundo dados do Projeto de Cooperao Tcnica

    INCRA/FAO, representa 85,2% do total dos estabelecimentos, que ocupam 30,5% da rea

    total e so responsveis por 37,9% do Valor Bruto da Produo Agropecuria Nacional. Estes

    agricultores, com apenas 30,5% da rea, respondem por 37,9% de toda a produo nacional

    (BEREZANSKI, 2008).

    Na mesa dos brasileiros, a agricultura familiar contribui de forma significativa nos

    produtos da cesta bsica. responsvel, na pecuria, por 58% do leite, 60% do rebanho de

    sunos, 50% das aves e 30% dos bovinos, e na agricultura, por 87% da produo de mandioca,

    70% da produo de feijo, 46% do milho, 38%do caf, 34% do arroz, 21% do trigo (SPIES,

    2010)

    2.2.1 Agricultura Familiar em Santa Catarina

    Em Santa Catarina, a agricultura familiar responsvel pela produo da maioria

    dos alimentos. No entanto, a que menos remunerada. Isto, na maioria das situaes ocorre

    pela falta de agregao de valor. Sem dvida, tal fato, est na burocracia e nas exigncias

    estruturais incompatveis com o agricultor familiar. Grande parte da produo descende de

    europeus das mais diversas origens, principalmente de portugueses, italianos e alemes. Estes

    imigrantes trouxeram ao estado uma rica capacidade empreendedora, expressa na variedade

    da produo agrcola hoje existente.

    A agricultura no Estado de Santa Catarina tipicamente familiar, 90,5%do total

    dos estabelecimentos so familiares. Os agricultores familiares de Santa Catarina possuem

  • 17

    60% da rea agrcola e respondem por nada menos do que 71,3% do Valor Bruto da Produo

    Agropecuria Catarinense (BEREZANSKI, 2008).Isto se deve ao grande nmero de pequenas

    propriedades existentes no estado, o que favorece a permanncia no campo destas famlias,

    trabalhando na lavoura e utilizando basicamente mo de obra familiar. Este modelo familiar

    de produo incentiva continuidade da atividade no campo, principalmente em relao

    permanncia dos filhos.

    2.2.2 Agricultura Familiar em Treze de Maio

    Em Treze de Maio SC, as principais atividades econmicas esto associadas a

    organizaes sociais. Existe o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural - CMDR, que

    representada por agricultores, a administrao pblica e entidades, que se articula com a

    Secretaria Municipal de Agricultura, Indstria e Comrcio, EPAGRI, CIDASC, Sindicato dos

    Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar - SINTRAF, Banco do Brasil, BESC e

    CRESOL.

    A produo de fumo se d em parceria com diversas empresas fumageiras e a

    cultura do arroz realizada com a COPAGRO. Na agricultura destacam-se as seguintes

    atividades: arroz, milho, mandioca, fumo e batata.

    De acordo com o IBGE as reas de maior cultivo no ltimo ano so:

    Milho 60 hectares

    Arroz 1030 hectares

    Fumo 695 hectares

    Mandioca 350 hectares

    Batata 50 hectares

    Cebola 15 hectares

    2.3. TOXICIDADE DOS AGROTXICOS

    No Brasil, o uso dos agrotxicos foi difundido durante o perodo que ficou

    conhecido como a modernizao da agricultura nacional, entre 1945 e 1985. Nesse perodo,

    notadamente aps 1975, se efetivou a instalao da indstria de agrotxicos no pas,

    conformada pelas principais empresas fabricantes destes produtos em nvel mundial (TERRA;

    PELAEZ, 2009).

  • 18

    O mercado brasileiro de agrotxicos apresentou crescimento significativo entre

    1977 e 2006, cujo consumo de agrotxicos expandiu-se a taxas de 10% ao ano, colocando o

    Brasil entre os seis maiores consumidores de agrotxicos do mundo, de 1970 at 2007

    (TERRA, 2008).

    O termo agrotxicos foi definido pela Lei Federaln 78029 de 11/07/89, artigo

    2, inciso I, regulamentada pelo Decreto no. 98, e exclui fertilizantes e qumicos administrados

    a animais para estimular crescimento ou modificar comportamento reprodutivo (OPAS/OMS,

    1997):

    Os produtos e os componentes de processos fsicos,qumicos ou biolgicos destinados ao uso nos setores de produo, armazenamento e beneficiamento de produtos agrcolas, nas pastagens, na proteo de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e tambm em ambientes urbanos, hdricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composio da flora e da fauna, a fim de preserv-la da ao danosa de seres vivos considerados nocivos,bem como substncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes,estimuladores e inibidores do crescimento (OPAS/OMS, 1997, p.16).

    O termo agrotxico, ao invs de defensivo agrcola, passou a ser utilizado no

    Brasil, para denominar os venenos agrcolas, aps grande mobilizao da sociedade civil

    organizada. Esse termo colocou em evidncia a toxicidade desses produtos para o meio

    ambiente e a sade humana.

    O Ministrio da Sade determina a classe toxicolgica dos produtos por meio

    detestes de laboratrio, onde se consegue medir a toxicidade de um produto. No Brasil, esses

    parmetros so levados em conta para a classificao de produtos fitossanitrios, quanto sua

    toxicidade. Por determinao legal, todos os produtos devem apresentar nos rtulos uma faixa

    colorida, indicativa de sua classe toxicolgica, conforme mostra a Tabela 1.

    Tabela 1- Classe toxicolgica e cor da faixa no rtulo de produto agrotxico.

    Classe I Extremamente txicos Faixa vermelha

    Classe II Altamente txicos Faixa amarela

    Classe III Medianamente txicos Faixa azul

    Classe IV Pouco txicos Faixa verde

    Fonte: (OPAS/OMS, 1997, P.19)

    Segundo Almeida e Adissi (2001), a exposio dos agricultores aos riscos de

    agrotxicos tem sido uma constante em todo meio rural brasileiro, pelas formas como so

    utilizados estes agroqumicos. Em todas as atividades da produo agrcola em que h

    utilizao de agrotxicos, o trabalhador se expe, seja de maneira direta ou indireta.

  • 19

    A ao dos agrotxicos sobre a sade do trabalhador costuma ser deletria, muitas

    vezes fatal, provocando inmeras reaes no organismo humano, dentre as quais, problemas

    respiratrios, efeitos gastrintestinais, distrbios musculares, debilidade motora e fraqueza

    (SILVA et al., 2005).

    Para Delgado e Paumgartten (2004), nos pases em desenvolvimento, o uso

    indevido de agroqumicos representa um srio problema de sade pblica, mas esta questo

    ainda no foi devidamente estudada. O consumo de defensivos tem crescido rapidamente

    nesses pases, mas na maioria dos casos no existe controle eficaz sobre a venda e uso destes

    produtos. Os Equipamentos de Proteo Individual (EPI) no so usados rotineiramente, no

    h monitoramento da exposio ocupacional e o diagnstico e tratamento dos casos de

    intoxicao falho.

    2.4 EQUIPAMENTOS DE PROTEO INDIVIDUAL EPI

    Os equipamentos de proteo individual, conhecidos pela sigla EPI, so definidos

    pela Norma Regulamentadora nmero 6, aprovada pela Portaria n 3.214/78, do Ministrio do

    Trabalho, como: todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador,

    destinado proteo de riscos suscetveis de ameaar a segurana e a sade no trabalho. Do

    ponto de vista tcnico e legal, para serem considerados como EPI, os equipamentos devem

    possuir um certificado de aprovao, denominado pela sigla C.A., expedido pelo Ministrio

    do Trabalho. Esse certificado identifica que o equipamento passou por um processo de

    registro junto ao rgo controlador (FILHO, 2001 apud TROIAN et al.,2009).

    No meio rural, os EPI mais comumente utilizados para a aplicao de defensivos

    so: (i) mscaras protetoras, (ii) culos, (iii) luvas impermeveis, (iv) chapu impermevel de

    abas largas, (v) botas impermeveis, (vi) macaco com mangas compridas e (vii) avental

    impermevel, como mostra a Figura 1:

  • 20

    Figura 1 - Equipamento de Proteo Individual para aplicao de defensivos.

    Fonte: http://jogepis.com.br/exibir_produtos_detalhe.php?id=20. Acessado em 25 jun. 2014

    Normalmente, o uso desses EPI indicado via receiturio agronmico e nos

    rtulos dos produtos. Alm disso, algumas especificidades devem ser observadas em relao

    ao manuseio dos EPI: (i) os filtros das mscaras e respiradores so especficos para defensivos

    e tm data de validade; (ii) as luvas recomendadas devem ser resistentes aos solventes dos

    produtos; (iii) o trabalhador deve seguir as instrues de uso de respiradores; (iv) a lavagem

    deve ser feita usando luvas e separada das roupas da famlia; e (v) devem ser mantidos em

    locais limpos, secos, seguros e longe de produtos qumicos (CORDEIRO, 2003).

    Seifert e Santiago (2009) relataram que todo trabalhador est sujeito a acidentes

    de trabalho, mas os que esto ligados agropecuria, esto constantemente expostos a

    produtos qumicos e aos agrotxicos. E como nem sempre o trabalho pode ser supervisionado

    diretamente, torna-se difcil a coordenao e a vigilncia de medidas prevencionistas de

    segurana.

    2.5 A SEGURANA NO TRABALHO AGRCOLA

    A segurana no trabalho agrcola regulamentada pela NR 31, que tem por

    objetivo estabelecer os preceitos a serem observadas na organizao e no ambiente de

    trabalho, de forma a tornar compatvel o planejamento e o desenvolvimento das atividades da

    agricultura, pecuria, silvicultura, explorao florestal e aquicultura com a segurana e sade

    e meio ambiente do trabalho (NR 31, Portaria MTE n86, 2005).

  • 21

    O item 31.8.1 desta NR considera:

    a) Trabalhadores em exposio direta, os que manipulam os agrotxicos, adjuvantes e

    produtos afins, em qualquer uma das etapas de armazenamento, transporte, preparo,

    aplicao, descarte, e descontaminao de equipamentos e vestimentas;

    b) Trabalhadores em exposio indireta, os que no manipulam diretamente os

    agrotxicos, adjuvantes e produtos afins, mas circulam e desempenham suas atividades

    de trabalho em reas vizinhas aos locais onde se faz a manipulao dos agrotxicos em

    qualquer uma das etapas de armazenamento, transporte, preparo, aplicao e descarte, e

    descontaminao de equipamentos e vestimentas, e ou ainda os que desempenham

    atividades de trabalho em reas recm-tratadas.

    Ainda, segundo a NR 31 o empregador rural ou equiparado deve fornecer

    instrues suficientes aos que manipulam agrotxicos, adjuvantes e afins, e aos que

    desenvolvam qualquer atividade em reas onde possa haver exposio direta ou indireta a

    esses produtos, garantindo os requisitos de segurana previstos nesta norma (item 31.8.7 da

    NR 31).

    O empregador rural ou equiparado deve proporcionar capacitao sobre preveno

    de acidentes com agrotxicos a todos os trabalhadores expostos diretamente (item 31.8.8 da

    NR 31). Segundo o subitem 31.8.8.1 da NR 31 esta capacitao deve ser proporcionada aos

    trabalhadores em exposio direta mediante programa, com carga horria mnima de vinte

    horas, distribudas em no mximo oito horas dirias, durante o expediente normal de trabalho,

    com o seguinte contedo mnimo:

    a) Conhecimento das formas de exposio direta e indireta aos agrotxicos;

    b) Conhecimento de sinais e sintomas de intoxicao e medidas de primeiros socorros;

    c) Rotulagem e sinalizao de segurana;

    d) Medidas higinicas durante e aps o trabalho;

    e) Uso de vestimentas e equipamentos de proteo pessoal;

    f) Limpeza e manuteno das roupas, vestimentas e equipamentos de proteo pessoal.

    A NR 31 tambm fala no item 31.8.9 das medidas que o empregador rural ou

    equiparado deve adotar:

    a) Fornecer equipamentos de proteo individual e vestimentas adequadas aos riscos, que

    no propiciem desconforto trmico prejudicial ao trabalhador;

    b) Fornecer equipamentos de proteo individual e vestimentas de trabalho em perfeitas

    condies de uso e devidamente higienizados, responsabilizando-se pela

  • 22

    descontaminao dos mesmos ao final de cada jornada de trabalho, e substituindo-os

    sempre que necessrio;

    c) Orientar quanto ao uso correto dos dispositivos de proteo;

    d) Disponibilizar um local adequado para a guarda da roupa de uso pessoal;

    e) Fornecer gua, sabo e toalhas para higiene pessoal;

    f) Garantir que nenhum dispositivo de proteo ou vestimenta contaminada seja levado

    para fora do ambiente de trabalho;

    g) Garantir que nenhum dispositivo ou vestimenta de proteo seja reutilizado antes da

    devida descontaminao;

    h) Vedar o uso de roupas pessoais quando da aplicao de agrotxicos.

    2.6 ACIDENTE DO TRABALHO

    Define-se como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exerccio do trabalho

    a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho dos segurados especiais, provocando leso

    corporal ou perturbao funcional, permanente ou temporria, que cause a morte, a perda ou a

    reduo da capacidade para o trabalho.

    Consideram-se acidente do trabalho a doena profissional e a doena do trabalho.

    Equiparam-se tambm ao acidente do trabalho: o acidente ligado ao trabalho que, embora no

    tenha sido a causa nica, haja contribudo diretamente para a ocorrncia da leso; certos

    acidentes sofridos pelo segurado no local e no horrio de trabalho; a doena proveniente de

    contaminao acidental do empregado no exerccio de sua atividade; e o acidente sofrido a

    servio da empresa ou no trajeto entre a residncia e o local de trabalho do segurado e vice-

    versa.

    Os principais conceitos tratados so apresentados a seguir:

    Acidentes com CAT Registrada Correspondem ao nmero de acidentes cuja

    Comunicao de Acidentes do Trabalho CAT foi cadastrada no INSS. No so

    contabilizados o reincio de tratamento ou afastamento por agravamento de leso de acidente

    do trabalho ou doena do trabalho, j comunicados anteriormente ao INSS.

    Acidentes Sem CAT Registrada Correspondem ao nmero de acidentes cuja

    Comunicao de Acidentes Trabalho CAT no foi cadastrada no INSS. O acidente

    identificado por meio de um dos possveis nexos: Nexo Tcnico Profissional/Trabalho, Nexo

  • 23

    Tcnico Epidemiolgico Previdencirio NTEP ou Nexo Tcnico por Doena Equiparada a

    Acidente do Trabalho. Esta identificao feita pela nova forma de concesso de benefcios

    acidentrios.

    Acidentes Tpicos So os acidentes decorrentes da caracterstica da atividade

    profissional desempenhada pelo acidentado.

    Acidentes de Trajeto So os acidentes ocorridos no trajeto entre a residncia e

    o local de trabalho do segurado e vice-versa.

    Acidentes Devidos Doena do Trabalho So os acidentes ocasionados por

    qualquer tipo de doena profissional peculiar a determinado ramo de atividade constante na

    tabela da Previdncia Social.

    Acidentes Liquidados Corresponde ao nmero de acidentes cujos processos

    foram encerrados administrativamente pelo INSS, depois de completado o tratamento e

    indenizadas s seqelas.

    Assistncia Mdica Corresponde aos segurados que receberam apenas

    atendimentos mdicos para sua recuperao para o exerccio da atividade laborativa.

    Incapacidade Temporria Compreende os segurados que ficaram

    temporariamente incapacitados para o exerccio de sua atividade laborativa. Durante os

    primeiros 15 dias consecutivos ao do afastamento da atividade, caber empresa pagar ao

    segurado empregado o seu salrio integral. Aps este perodo, o segurado dever ser

    encaminhado percia mdica da Previdncia Social para requerimento do auxlio-doena

    acidentrio espcie 91. No caso de trabalhador avulso e segurado especial, o auxlio-doena

    acidentrio pago a partir da data do acidente.

    Incapacidade Permanente Refere-se aos segurados que ficaram

    permanentemente incapacitados para o exerccio laboral. A incapacidade permanente pode ser

    de dois tipos: parcial e total. Entende-se por incapacidade permanente parcial o fato do

    acidentado em exerccio laboral, aps o devido tratamento psicofsico-social, apresentar

    seqela definitiva que implique em reduo da capacidade. Esta informao captada a partir

    da concesso do benefcio auxlio-acidente por acidente do trabalho, espcie 94. O outro tipo

    ocorre quando o acidentado em exerccio laboral apresentar incapacidade permanente e total

    para o exerccio de qualquer atividade laborativa. Esta informao captada a partir da

    concesso do benefcio aposentadoria por invalidez por acidente do trabalho, espcie 92.

    bitos Corresponde a quantidade de segurados que faleceram em funo do

    acidente do trabalho.

  • 24

    3 RESULTADOS E ANLISES

    3.1 CAMPO DE PESQUISA

    Treze de Maio um municpio brasileiro do Estado de Santa Catarina. Sua

    populao estimada em 2004 era de 6.980 habitantes. O municpio emancipou-se

    politicamente pela lei estadual n 803, de 20 de dezembro de 1961, com territrio

    desmembrado de Tubaro. A distncia at a capital Florianpolis de 165 km, e faz divisa

    territorial com Jaguaruna, Sango, Tubaro, Morro da Fumaa e Pedras Grandes. Seu clima

    subtropical.

    Figura 2: Localizao do municpio de Treze de Maio

    Fonte: https://maps.google.com.br/maps/mm. Acesso em: 11 jul. 2014.

    3.2 COLETA DE DADOS

    O trabalho consistiu em uma pesquisa bsica direta com os agricultores coletando

    informaes do cotidiano na produo de suas culturas, empregando uma metodologia de

    abordagem quantitativa, atravs da utilizao de um questionrio para coleta de dados que

    foram descritos e explorados. Estes dados foram qualificados e interpretados atravs de uma

    abordagem cientifica tcnica e intuitiva que contribuiu para uma melhor compreenso dos

    fenmenos.

  • 25

    Nesta anlise intuitiva, conseguiu-se integrar e interpretar os dados coletados

    atravs da observao direta das instalaes e dos equipamentos presentes na propriedade e

    juntamente com a participao direta do agricultor pesquisado e de seus informantes, obteve-

    se uma analise e interpretao sobre o assunto.

    Os dados foram explorados com a ajuda de um levantamento bibliogrfico, alm

    de entrevistas com os agricultores atravs da conversa direta, obtendo informaes com o

    auxilio do questionrio, atravs do qual se fez perguntas relacionadas produo e ao

    cotidiano dos agricultores.

    A coleta dos dados foi feita por meio de fontes primrias e secundrias. As fontes

    primrias consistem em entrevistas e questionrios elaborados pelo pesquisador, e, as fontes

    secundrias o material disponvel para consulta, como livros, revistas, sites da Internet,

    dentre outros (VEDOVATTO, 2009)

    3.2.1 Entrevistas Semi-estruturadas

    Na comunicao para coleta de dados, fez-se necessrio, para desenvolvimento

    deste estudo, a aplicao em campo de entrevista semi-estruturada com os sujeitos da

    pesquisa, em seu ambiente de trabalho, combinando o uso de um questionrio com questes

    abertas e fechadas, totalizando 11 questes (Apndice I). As entrevistas foram realizadas no

    contexto sociocultural dos trabalhadores, sem dimensionamento de tempo, coletando dados

    nas respostas discutidas, atravs de uma conversa simples e natural com os agricultores com

    perguntas curtas e diretas sobre questes concretas. As entrevistas foram realizadas no ms de

    junho de 2014, totalizando oito dias de trabalho.

    3.3 AMOSTRAGEM

    Buscou-se neste trabalho a obteno de dados representativos dos agricultores

    familiares do municpio de Treze de Maio que vive exclusivamente da produo de batata,

    milho, feijo, arroz, mandioca, fumo entre outros. Considerou-se como unidade amostral o

    estabelecimento agropecurio, onde foi entrevistado o agricultor, bem como a observao

    sucinta dos equipamentos e instalaes da propriedade.

  • 26

    Os agricultores entrevistados foram escolhidos a partir de uma lista cedida por

    um rgo pblico de Treze de Maio, ligado ao setor agropecurio. Foi ento entrevistado um

    total de 15 agricultores que vivem exclusivamente da produo destas culturas.

    3.4 APRESENTAO E ANLISE DE DADOS

    Aps a coleta dos dados, iniciou-se a interpretao dos resultados dos

    questionrios realizados com os agricultores e as respostas foram analisadas estatisticamente

    atravs de levantamentos de percentuais de agricultores includos nesta pesquisa.

    Os equipamentos de proteo individual EPI, recomendados para a aplicao

    dos agrotxicos esto ilustrados na Figura 3, sendo composto por camisa, cala, avental, touca

    rabe, viseira, mscara, botas e luvas.

    Figura 3: EPI completo recomendado para aplicao de agrotxicos.

    Fonte: http://jogepis.com.br/exibir_produtos_detalhe.php?id=20. Acesso em 18 jun. 2014

  • 27

    Com relao presena dos equipamentos de proteo individual utilizados no

    setor agrcola, observou-se que 86,6% dos agricultores (Grfico 1) possuem todos os

    equipamentos de proteo individual (EPI), recomendados para a atividade e em bom estado

    de conservao e uso como mostra a Figura 3.

    Atravs da anlise acima, pode-se perceber que o no uso dos equipamentos de

    proteo individual durante a maior parte do ciclo produtivo, no se deve a inexistncia do

    mesmo na propriedade, pois os agricultores possuem os EPI, mas somente usam o

    equipamento completo durante a aplicao de agrotxicos, comprovando sua preocupao em

    relao aos agentes qumicos. Porm, nas outras etapas da atividade, no menos prejudiciais,

    h pouca preocupao com a segurana pessoal e, que estes problemas de sade poderiam ser

    amenizados com o uso de simples equipamentos de proteo individual, como luvas e botas.

    Figura 4: Percentual de agricultores que possuem EPI no municpio de Treze de Maio SC

    Fonte: Autora, 2014.

    Este percentual apresentado no Grfico 1 refere-se ao conjunto completo de

    equipamentos de proteo individual.

    Segundo estudo realizado por Monquero et al. (2009), foi observado que 63% dos

    entrevistados utilizam EPI padro (bon ou chapu, mscara, macaco, luvas e botas) durante

  • 28

    o preparo da calda e aplicao do produto, 14,8% dos produtores utilizam apenas

    mscara e luvas e nenhum EPI foi utilizado por 22,2% dos entrevistados.

    Na tabela 2 encontram-se as resposta dos agricultores entrevistados para as ordens

    das etapas em que ocorre a maior frequncia de acidentes no processo produtivo. Observa-se

    uma grande concordncia entre os agricultores entrevistados, e as diferenas foram

    estatisticamente significativas pelo teste no paramtrico de Friedman (p < 0,0001). As

    etapas podem ser ordenadas de acordo com a frequncia e acidentes em:

    1 Colheita;

    2 Aplicao de defensivos;

    3 Secagem;

    4 Classificao;

    5 Adubao;

    6 Transplante e plantio;

    7 Semeadura

    Tabela 2. Ordem da Etapa em que ocorre maior frequncia de acidentes no processo produtivo

    Fonte: Autora, 2014

  • 29

    Todos consideram a colheita (Figuras 5 e 6) a etapa da produo, onde o trabalho

    se torna mais desgastante para a sade fsica e mental do trabalhador dentro do processo

    produtivo. No entanto, 93,3% afirmam ser a colheita a etapa da produo, onde mais

    acontecem acidentes de trabalho neste processo de produo. Grande parte das regies

    produtoras constitui-se de topografia acidentada onde a utilizao da mecanizao quase

    impraticvel tornando o trabalho na lavoura intensivo e extenuante.

    Figura 5: Etapa da colheita da batata

    Fonte: Autora, 2014.

    Figura 6: Etapa da colheita do fumo

    Fonte: Autora, 2014.

  • 30

    O cultivo das plantaes no setor agrcola exige esforo fsico contnuo em quase

    todas as fases, principalmente na poca do transplante, aplicao de adubos e defensivos e,

    colheita.

    A anlise dos riscos nos locais de trabalho deve necessariamente incorporar a

    vivncia, o conhecimento e a participao dos trabalhadores, j que eles realizam o trabalho

    cotidiano e sofrem seus efeitos e, portanto, possuem um papel fundamental na identificao,

    eliminao e controle dos riscos.

    Os agentes qumicos ocupam o lugar mais importante entre os agentes

    causadores de doenas profissionais, no s pelo grande nmero de produtos qumicos

    encontrados na indstria moderna (nmero que cresce diariamente), mas tambm pelas

    consequncias, bastante srias, que muitos desses produtos so capazes de ocasionar a sade.

    O produto qumico pode penetrar no corpo atravs da via respiratria - atingem as

    vias areas superiores podendo atingir os pulmes (gases, vapores, poeiras, fumaas, etc.), via

    cutnea - penetram pelos poros fixando-se no tecido adiposo subcutneo, podendo atingir a

    circulao sangunea e, via digestiva - so de manifestao dentria, da mucosa, tubo

    digestivo e fgado.

    A etapa de aplicao de agrotxicos uma das mais problemticas e isso se deve

    ao contato direto com defensivos agrcolas, muito perigosos para a sade do aplicador.

    Baseando-se nesta situao, observou-se que 86,6% dos agricultores disseram utilizar todo o

    EPI somente na etapa de aplicao de defensivos agrcolas. Porm, nas demais etapas do

    processo produtivo somente se fazem uso de botas e raramente se utilizam s luvas.

    A aplicao de agrotxicos a atividade de manejo das culturas que oferece maior

    perigo aos agricultores e suas famlias. A elevada demanda de pulverizaes exige cuidados

    com a segurana no trabalho atravs da utilizao adequada de EPI. A no utilizao do EPI

    conduz a intoxicaes crnicas e agudas e pode provocar vtimas entre as famlias dos

    agricultores.

    Para dificultar o diagnstico de intoxicao por agrotxico, o trabalhador rural

    brasileiro, principal populao exposta, dificilmente est em contato com um nico produto.

    Frequentemente, se expe a mltiplos produtos ao longo de muitos anos, podendo apresentar

    vrios episdios de intoxicao. Esta exposio mltipla pode resultar em quadros

    sintomatolgicos combinados, que se confundem com outras doenas comuns, mascarando a

    real causa da intoxicao e levando a erros diagnsticos e a tratamentos equivocados

    (MATOS et al., 2002).

  • 31

    Alm dos problemas que causam sade, o uso de agrotxicos tambm traz

    consequncias ao meio ambiente. Embora a pesquisa tecnolgica tenha avanado em relao

    reduo do uso de agrotxicos nas lavouras, o destino das embalagens continua sendo um

    problema ao meio ambiente. Mesmo com a trplice lavagem das embalagens vazias, os

    produtos qumicos podem continuar concentrados nos recipientes, contaminando a gua e o

    solo (FIQUEIREDO, 2008, p.18). Segundo o MPT/PR (2007) os agrotxicos utilizados

    comprovadamente poluem, e muito, os solos e os lenis freticos, tanto na regio onde so

    empregados, como em regies mais afastadas, implicando degradao em toda a rede

    ecolgica, inclusive quando os alimentos produzidos nestes solos e as guas captadas nestes

    lenis freticos chegam casa dos consumidores.

    As informaes quanto ao manejo correto e adequado dos agrotxicos so

    praticamente inexistentes, situao que se agrava quanto utilizao de equipamentos de

    proteo individual. Sendo evidente o alto nvel de desconhecimento do perigo no manuseio,

    a despreocupao com a proteo pessoal mera consequncia (MPT/PR, 2007).

    Programas e campanhas de conscientizao so realizados pelas agropecurias em

    relao ao correto uso dos agrotxicos nas lavouras, quanto importncia da utilizao dos

    equipamentos de proteo (EPI), quanto ao destino das embalagens vazias dos agrotxicos

    para preservao do meio ambiente. No entanto, depoimentos revelam que grande parte dos

    agricultores no utiliza os equipamentos de proteo, ou utiliza parcialmente, o que aumenta

    os riscos de intoxicaes.

    Na tabela 3 encontram-se as resposta dos agricultores entrevistados para as

    ordens das etapas onde o trabalho se torna mais desgastante para a sade fsica e mental do

    agricultor durante o processo produtivo agrcola. Observa-se nesta questo uma menor

    concordncia entre os agricultores entrevistados, mas as diferenas foram estatisticamente

    significativas pelo teste no paramtrico de Friedman (p < 0,0001). As etapas podem ser

    ordenadas de acordo com o desgaste do trabalho em:

    1 Colheita;

    2 Secagem;

    3 Aplicao de defensivos;

    4 Classificao;

    5 Transplante e plantio;

    6 Adubao;

    7 Semeadura

  • 32

    Tabela 3. Ordem crescente das etapas onde o trabalho se torna mais desgastante para a sade

    fsica e mental do agricultor durante o processo produtivo.

    Fonte: Autora, 2014.

    A colheita foi apontada por todos os entrevistados como a etapa mais desgastante

    para a sade do agricultor, seguidas pela secagem e aplicao de defensivos. Todos os

    agricultores afirmam ser durante a colheita, o perodo em que as condies de trabalho so

  • 33

    desfavorveis para o bem estar fsico e mental dos agricultores. Isso se deve ao fato dos

    trabalhadores executarem suas atividades ao ar livre, principalmente a cu aberto, sofrendo

    muito com a radiao solar, principalmente no vero, e em condies ergonmicas

    prejudiciais, exigindo um grande esforo fsico.

    Segundo Araldi (2004 apud HEEMANN, 2009), o critrio ergonmico para um

    bom ambiente de trabalho aquele que ajuda as pessoas a atingir seus objetivos com menor

    esforo, estresse, e erros, dentro dos limites tolerveis. Mas quando as condies ambientais

    so desfavorveis acabam se tornando uma grande fonte de tenso, aumentando o risco de

    acidentes e podendo causar danos considerveis a sade do trabalhador. O processo da

    colheita trs consequncias diretas, principalmente pelas aes do tempo, como calor, frio,

    chuvas e ventos, permanecendo expostos por longos perodos.

    Entre os agricultores entrevistados, os problemas de sade mais frequentes

    citados por eles na realizao das tarefas dirias nas plantaes e que prejudicam em muito o

    desenvolver das atividades, trazendo srias consequncias para a sade das pessoas deste

    grupo familiar, podemos citar:

    Dores na coluna - 93,3% dos entrevistados

    Alergias - 53,3%

    Dores na cabea - 40%

    Enjo 40%

    Problemas respiratrios 35,5%

    Problemas com a pele 25%

    A anlise dos riscos nos locais de trabalho deve necessariamente incorporar a

    vivncia, o conhecimento e a participao dos trabalhadores, j que eles realizam o trabalho

    cotidiano e sofrem seus efeitos e, portanto, possuem um papel fundamental na identificao,

    eliminao e controle dos riscos.

    A colheita, a secagem e a aplicao de agrotxicos so as etapas mais

    desgastantes. Assim, percebe-se que os agricultores sofrem principalmente de dores na

    coluna, citado, na pesquisa, por 93,3% dos entrevistados, seguido pelo aparecimento de

    alergias (53,3%), dores na cabea e enjoo, citados por 40% dos entrevistados, seguido de

    problemas respiratrios (35,5%) e em ltimo com 25% os problemas com a pele. So nestas

    etapas onde estes problemas de sade se tornam mais frequentes e confirmam os dados da

    pesquisa.

  • 34

    O trabalho agrcola uma ocupao rdua, pois exige demanda fsica elevada

    alm de envolver movimentos repetitivos, e a associao destas caractersticas aumenta o

    risco de desordens msculo-esqueltico agudas e crnicas. Alm disso, fatores como clima

    e a urgncia de certos tipos de trabalho fazem com que os agricultores trabalhem muitas horas

    alm do perodo normal, predispondo-os a fadiga e a acidentes (ALMEIDA, 1995 apud

    HEEMANN, 2009).

    A maioria dos agrotxicos pertencentes s classes I e II possui como grupos

    qumicos: organofosforados, carbamatos e piretrides. Os inseticidas organofosforados e os

    carbamatos so poderosos inibidores de enzimas fundamentais para o bom funcionamento do

    sistema nervoso. Essas substncias podem ser absorvidas pelo organismo pelo contato com a

    pele, por ingesto, ou inalao. Atuam no sistema nervoso central, no sangue e em outros

    rgos. Seus sintomas so: suor abundante, intensa salivao, lacrimejamento, fraqueza,

    tontura, dores abdominais e clicas, viso turva e embaraada. Em casos mais agudos, a

    vtima pode ter vmitos, dificuldade respiratria, colapso, e convulses (TROIAN, 2009, p.

    8).

    Os agrotxicos compostos por piretrides so absorvidos pelo trato digestivo, pela

    via respiratria e pela cutnea. Do ponto de vista agudo no so muito txicos, mas irritam os

    olhos e mucosas, causam alergias na pele e asma brnquica. Seus sintomas iniciais so:

    formigamento nas plpebras e nos lbios, irritao das conjuntivas e mucosas e espirros. Aps

    pode aparecer coceira intensa, manchas na pele, secreo e convulses (TROIAN et al., 2009,

    p. 8). Existe considervel evidncia de que agricultores sofrem de doenas associadas

    exposio a pesticidas (organofosforados), dentre as quais: depresso, ansiedade, disfunes

    neurolgicas, dores musculares etremores semelhantes aos causados pelo mal de Parkinson.

    Com relao aos principais fatores que dificultam e desfavorecem a aquisio e

    uso do EPI no setor agrcola, obteve-se a ordenao dos fatores como:

    1: Com o uso dificulta o trabalho;

    2: Desconfortvel

    3: Alto custo;

    4: No gosta;

    5: No necessrio pela experincia que possui;

    6. Os EPI fazem mal a sade

    A utilizao de equipamentos de proteo nas atividades agrcolas sempre foi um

    assunto muito discutido, principalmente pela sua importncia para a sade, o que leva muitos

  • 35

    fabricantes a desenvolver produtos que tenham melhor aceitao entre os usurios. Atravs da

    pesquisa neste trabalho comprovou-se que 53,3% dos agricultores entrevistados definem que

    o principal obstculo para o uso correto destes equipamentos na atividade a existncia de

    EPI inadequados para a realizao das tarefas, o que dificulta o trabalho e 40% dizem que o

    desconforto proporcionado pelo EPI, a principal causa da averso ao uso destes equipamentos

    e somente 6,7% dizem ser o alto custo do produto a principal dificuldade encontrada para o

    uso devido (Figura 6).

    Figura 7: Percentual de agricultores que qualificam os EPI disponveis no mercado no

    municpio de Treze de Maio - SC

    Fonte: Autora, 2014.

    Segundo estudo realizado por Troianet al.,(2009), quando observado o uso dos

    equipamentos de proteo individual, visualizou-se que estes no so bem aceitos pelos

    agricultores, em especial quando as plantaes so cultivadas no vero, em poca de altas

    temperaturas, e por isso o uso dos equipamentos considerado desconfortvel, tambm

    salientam o alto custo destes equipamentos. Segundo pesquisa realizada por Monquero et al.,

    os principais motivos apresentados pelos entrevistados para a no utilizao do equipamento

    de proteo individual so: o fato de o EPI padro ser muito quente, incmodo e dificultar a

    respirao e a mobilidade.

  • 36

    Conforme estudo realizado por Marques et al., (2010), os principais motivos

    do no uso ou uso incompleto do EPI foram: calor (60,6%), desconforto (57,6%), no acham

    necessrio (24,2%); sendo o descuido e a falta de tempo os motivos menos citados (3,3%).

    A rejeio a estes equipamentos e consequentemente a no utilizao dos mesmos

    por parte dos agricultores, se deve na maioria dos casos a falta de assistncia a estes

    produtores, principalmente no que dizem respeito ao acesso destes agricultores, as

    informaes sobre a periculosidade dos produtos utilizados na produo e os riscos da

    atividade. A existncia de treinamentos e cursos sobre o assunto raramente acontecem.

    Segundo Troianet al (2009) o que se percebe que na maioria das etapas do

    cultivo, o agricultor mantm contato direto com os agrotxicos. As etapas de aplicao de

    agroqumicos (agrotxico) coincidem, em grande parte, com as pocas de vero e

    consequentemente com temperaturas elevadas. Por isso o uso dos equipamentos de proteo

    individual no tem uma boa aceitao por parte dos agricultores, os quais ficam expostos aos

    ricos sade.

    Silva et al. (2001 apud TROIAN et al., 2009), em estudo desenvolvido em Maj

    (RJ) afirmam que o emprego dos agrotxicos no meio rural brasileiro tem trazido uma

    srie de consequncias, tanto para o ambiente como para a sade do trabalhador rural.

    Segundo os autores, esses fatores esto relacionados ao uso inadequado dessas substncias,

    toxicidade das mesmas, falta de utilizao dos equipamentos de proteo individual e, ainda,

    precariedade do sistema de vigilncia. Em seu estudo constataram que a maioria da

    populao pesquisada (64%) no fazia a leitura dos rtulos dos agrotxicos utilizados e

    observou-se, tambm, que embora 90% dos trabalhadores considerem importante a utilizao

    de medidas de segurana, somente 70% destes as utilizam (SILVA et al., 2001).

    Os Equipamentos de Proteo Individual (EPI), por exemplo, devem ser adotados

    s quando no existam outras alternativas, sendo algumas vezes inevitveis. Se no

    forem adequados, podem gerar uma sobrecarga e dificultar o trabalho. Segundo Monqueroet

    al (2009), a subutilizao ou utilizao ineficiente de EPI representa grande perigo sade

    do aplicador, causando elevao significativa no nmero de intoxicaes. Neste aspecto

    deve-se enfatizar que o uso de EPI um ponto de segurana do trabalho que requer ao

    tcnica, educacional e psicolgica para a sua aplicao.

    Pode-se perceber que os principais fatores responsveis pelos riscos de

    intoxicao e de contaminao do meio ambiente a falta de uma poltica mais efetiva de

    fiscalizao, controle e acompanhamento tcnico adequado na utilizao de agrotxicos e na

    sua destinao final. Seriam necessrias medidas urgentes por partes de rgos

  • 37

    governamentais, empresas produtoras de agrotxicos e a sociedade em geral, buscando

    reduzir impactos em relao ao meio ambiente e sade humana.

    Com relao opinio dos agricultores sobre os EPI utilizados e disponveis no

    mercado, percebe-se que:

    93,3% dizem que os EPI so de boa qualidade;

    60% consideram o conforto inadequado ou ruim;

    100% dizem estar em boa segurana durante o uso dos Equipamentos;

    60% consideram caro o preo pago aos EPI

    Todos afirmam que existem poucas marcas e modelos de EPI disponveis

    para compra.

    Com relao ao local de armazenamento e destino das embalagens, todos os

    agricultores armazenam, na medida do possvel, em locais seguros. Marques et al. (2010),

    atravs de estudo, constatou que dos produtores entrevistados, 90% afirmaram realizar o

    descarte das embalagens de agrotxicos de maneira correta, ou seja, devoluo da

    embalagem seguindo os procedimentos recomendados, porm, 3,3% afirmaram queimar as

    embalagens aps o uso. Ainda segundo o autor, o armazenamento dos agrotxicos em local

    exclusivo e trancado realizado por 98,3% dos entrevistados, porm 1,7% faziam o

    armazenamento em local imprprio, como por exemplo, dentro de casa.

    Segundo estudo semelhante realizado por Monquero et al. (2009), a devoluo

    das embalagens nos postos de recebimento foi realizada por 81,4% dos entrevistados. O

    restante dos produtores no devolve as embalagens por causa da burocracia neste momento,

    principalmente pela necessidade da nota fiscal do produto e pelo fato dos produtores terem

    que devolver as embalagens na cidade em que esses defensivos agrcolas foram comprados

    acarretando gastos com transporte.

    Com relao higienizao do EPI aps o uso, 75% dos agricultores entrevistados

    informaram que fazem corretamente a higienizao dos mesmos, e 25 % somente s vezes.

    Segundo a NR 31, os EPI devem ser lavados e guardados corretamente, para

    assegurar maior vida til e para evitar a contaminao dos uniformes, roupas dos

    trabalhadores e o meio ambiente. Os EPI devem ser mantidos e higienizados separados das

    roupas de uso pessoal.

    a) A pessoa que for lavar os EPI deve usar luvas a base de Nitrila ou Neoprene;

    b) As vestimentas de proteo devem ser abundantemente enxaguadas com gua

    corrente para diluir e remover os resduos da calda de pulverizao;

  • 38

    c) A lavagem deve ser feita de forma cuidadosa, preferencialmente com sabo neutro

    (sabo de coco). As vestimentas no devem ficar de molho. Em seguida, as peas devem ser

    bem enxaguadas para remover todo o sabo;

    d) O uso de alvejantes no recomendado, pois vai danificar o tratamento do tecido;

    e) As vestimentas devem ser secas sombra. Ateno: somente use mquinas de lavar

    ou secar, quando houver recomendaes do fabricante.

  • 39

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Aps o levantamento dos dados na pesquisa e suas comparaes com referncias

    da literatura, verificou-se que os agricultores da regio estudada, no costumam utilizar os

    equipamentos de proteo individual nas etapas em que se faz mais necessrio seu uso, como

    na colheita. Porm, a maioria dos agricultores utiliza o EPI completo na etapa de aplicao de

    agrotxicos.

    As condies de trabalho as quais o agricultor est exposto so muito

    preocupantes, pois destroem e comprometem a sade dos trabalhadores rurais atravs de uma

    jornada de trabalho cansativo e estressante, contribuindo para o surgimento de diversos

    problemas de sade, principalmente nas etapas de colheita, secagem e aplicao de

    agrotxicos. Pode-se afirmar que o setor agrcola apesar de ser uma atividade

    economicamente importante, demanda cargas de trabalho que podem afetar o organismo dos

    agricultores levando-os ao desgaste e, podendo causar problemas agudos e crnicos de sade

    ocupacional.

    Atravs da pesquisa, verificou-se a inexistncia de equipamentos de proteo

    individual adequado situao de trabalho dos produtores, que afirmam, em sua grande

    maioria, no utilizar estes equipamentos devido s dificuldades na realizao das tarefas e

    tambm ao desconforto dos equipamentos inadequados para as condies climticas

    cotidianas.

    Outro ponto verificado foi que todas as doenas citadas pelos agricultores, foram

    confirmadas pelos dados coletados da literatura e desta forma, evidenciam a existncia de

    problemas de sade como dores na coluna, alergias, dores de cabea, enjoos entre outros, e

    que esto relacionados como o trabalho na lavoura.

    Apesar dos problemas relatados, os agricultores em geral, no apresentam um

    adequado nvel de conscientizao sobre os perigos a que esto expostos, no associando,

    algumas vezes, tais problemas ao cultivo das plantaes.

    Atravs da pesquisa, verificou-se que os objetivos evidenciados no captulo 1

    foram alcanados. Foi descrito as culturas que predominam na regio em questo, investigou

    se os agricultores esto fazendo o uso adequado dos EPI e EPC e identificou se agrotxicos

    manipulados pelos agricultores que esto provocando doenas, e o seu grau de toxidade.

    A importncia desta pesquisa para a formao de engenheira de segurana do

    trabalho relevante, pois conduz a aproximao ao cotidiano dos trabalhadores, procurando

    sensibiliz-los na utilizao dos equipamentos de proteo.

  • 40

    Espera-se que os resultados deste trabalho contribuam para futuras pesquisas

    acerca das demandas do mercado para o engenheiro de segurana e das lacunas que possam

    vir a existir em sua formao. Ressalta-se que este estudo, pela sua abrangncia, apresenta as

    competncias julgadas relevantes (por importncia ou aplicao) pelos agricultores

    respondentes. A amostra pesquisada no permite generalizaes dos resultados para as demais

    regies do pas.

  • 41

    REFERNCIAS

    ALMEIDA, C. V. B.; ADISSI, P. J. Exposio a riscos de agrotxicos: apenas uma falta de informao dos agricultores? In: XXI Encontro Nacional de Engenharia de Produo ENEGEP. Salvador, BA, 2001. 7p. Disponvel em: Acesso em: 16 jun. 2014 ALMEIDA, W. F DE. Trabalho agrcola e sua relao com a sade/doena. In: MENDES, Ren (Org.). Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995, p. 487-544.

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    Anurio estatstico da Previdncia Social 2007: Acidentes do trabalho. Disponvel em: Acesso em: 11 jul. 2014.

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  • 42

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  • 43

    APNDICE

    Questionrio Aplicado

    1- Quais os tipos de cultura que voc produz atualmente?

    2- O que voc entende por equipamentos de proteo individual e para que serve?

    3- Quais equipamentos de proteo individual voc possui em sua propriedade e qual o

    estado de conservao?

    4- Enumere em ordem crescente quais so as etapas onde mais ocorrem acidentes

    durante o processo produtivo:

    a. Semeadura ( )

    b. Aplicao de defensivos ( )

    c. Adubao ( )

    d. Transplante e plantio ( )

    e. Colheita ( )

    f. Secagem ( )

    g. Classificao ( )

    5- Enumere em ordem crescente quais so as etapas onde o trabalho se torna mais

    desgastante para a sade fsica e mental do agricultor durante o processo produtivo:

    a. Semeadura ( )

  • 44

    b. Aplicao de defensivos ( )

    c. Adubao ( )

    d. Transplante e plantio ( )

    e. Colheita ( )

    f. Secagem ( )

    g. Classificao ( )

    6- Quais os problemas de sade mais freqentes ocasionados pelo seu trabalho na agricultura?

    7- Em quais etapas da produo so utilizados algum tipo de equipamento de proteo,

    quais e por qu?

    a. Semeadura ..........................................................................................

    b. Aplicao de defensivos.......................................................................

    c. Adubao.............................................................................................

    d. Transplante e plantio............................................................................

    e. Colheita................................................................................................

    f. Secagem..............................................................................................

    g. Classificao........................................................................................

    8- Qual a importncia do EPI no dia a dia da produo?

    9- Enumere em ordem crescente quais os principais fatores que dificultam e desfavorecem a

    aquisio e uso dos equipamentos de proteo na agricultura.

    ( ) Com o uso dificulta o trabalho

    ( ) Desconfortvel

    ( )O EPI fazem mal a sade

    ( )No necessrio pela experincia que possui

    ( )Alto custo

    ( )No gosta

    10- De acordo com os itens relacionados abaixo, como voc classifica o EPI existentes no

    mercado e que so recomendados para a utilizao no setor agrcola.

  • 45

    1. Qualidade: ( )pssima, ( )ruim, ( )boa, ( )tima

    2. Conforto: ( )inadequado, ( )ruim, ( )bom, ( )timo

    3. Segurana: ( )pssima, ( )ruim, ( )boa, ( )tima

    4. Custo: ( )caro, ( )razovel, ( )barato, ( )no compensa

    5. Compra: ( )muito fcil, ( )fcil, ( )boa, ( )difcil, ( )muito difcil

    6. Disponibilidade:( )poucos produtos e marcas, ( )disponvel, ( )muitos produtos e

    marcas.

    11- Depois da utilizao do EPI, voc faz a higienizao correta do mesmo para posterior

    utilizao?