guia de história da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

download guia de história da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

of 77

Transcript of guia de história da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    1/77

    ---

    NDICE

    PREMBULO

    AO

    ESTUDO DA HISTRIA

    DA

    ARTE,

    de

    Giulio Cario Argan ........................................

    I .

    O campo da arte ............................................................... .

    2. A literatura artstica ........................................................... .

    A funo da histria da arte ............................................

    .

    ~ 4 ~

    Juzo crtico e valor artstico

    5. Autenticidade

    da

    obra de arte ........................................... .

    6. Qualidade da obra de arte ................................................

    .

    7. Os instrumentos do historiador de arte ........................... .

    8. A atribuio .............................................. ....... . ................ .

    9. A crtica de arte ................................................................. .

    1O

    H

    . , . , .

    .

    Is

    tona e cnttca ............................................................... .

    11. Periodizao e localizao .................................

    12. O mtodo formalista ......................................................... .

    O mtodo sociolgico

    O mtodo iconolgico

    .

    ............................................

    .

    .............................................

    13.

    14.

    15.

    16.

    O mtodo estruturalista ..................................................... .

    C

    o

    0

    d

    h

    0

    d

    tencta a arte e tstona a arte ..................................... .

    GUIA BIBLIOGRAFICO, de Maurizio Fagiolo ........................

    dvertncia

    I.

    Os Instrumentos

    de

    Pesquisa

    I R

    . A

    . e.

    erenctas gerats ............................................................... .

    a Histrias da arte .............................................................

    b Enciclopdias e repertrios .......................................... .

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    2/77

    c As coleces ................................................................... .

    d As revistas ..................................................................... .

    2. Os perodos da histria da arte ........................................... .

    a Da antiguidade tardia

    Alta Idade Mdia ................... .

    b Romnico e Gtico ....................................................... .

    c

    Humanismo e Renascimento ........................................

    d Do Maneirismo Contra-Reforma ..............................

    e Barroco e Rococ ......... ................................................. .

    t Do Neoclassicismo s vanguardas ................................. .

    3. Fontes e literatura artstica ................................................

    a Estudos gerais ................................................................. .

    b Guia dos textos tericos e histricos ..........................

    c

    Fontes acessrias ............................................... : .......... .

    d

    Os centros culturais ......................................................

    I I s Meto o Io gias .......................... ............................................ .

    1

    Das vite s bases da esttica ..............................................

    2. Do Idealismo ao Positivismo ............................................

    3. A pura-visualidade: A Escola

    de

    Viena ............................

    4. O mtodo do perito ............................................................. .

    5. Histria das imagens e da cultura: o Instituto Warburg ..

    6. Psicologia

    da

    viso e estruturalismo ................................

    7.

    O

    mtodo sociolgico ........................................................

    8

    A

    P

    t

    h

    t

    . erspec

    1

    v a ts

    ortca

    ....................................................... .

    9. Lista de textos exemplares ................................................

    III

    Alguns Problemas da Investigao

    ........................................

    I. Tcnicas e estruturas ........................................................... .

    a As tcnicas artesanais e artsticas ................................. .

    b Os gneros artsticos ....................................................

    c

    As

    tipologias da construo c ivi

    I

    d O mobilirio e o traje ..................................................

    e

    A arte popular ................................................................. .

    2. A arte na sociedade ............................................................. .

    a Da

    cidade

    ao territrio ..................................................

    b A profisso do artista ....................................................

    51

    53

    55

    56

    59

    63

    66

    68

    71

    73

    73

    75

    83

    85

    87

    88

    90

    91

    93

    96

    98

    100

    102

    102

    107

    107

    107

    I 1 1

    118

    120

    122

    124

    124

    128

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    3/77

    c O destino da obra de arte ............................................. .

    d A reproduo da obra de arte ...................................... .

    e Arte e espectculo ......................................................... .

    Arte

    c encta .................................................................

    . ..

    .

    g Arte e indstria

    3.

    Momentos culturais

    a

    O classicismo ................................................................. .

    b Perspectiva e proporo ................................................

    .

    c

    Id ealismo naturalismo realismo ............ ...................... .

    d

    Exotismo e primitivismo ..............................................

    .

    e Irracional e razo ........................................................... .

    f A utopia

    131

    135

    139

    141

    143

    144

    144

    146

    148

    151

    153

    157

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    4/77

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    5/77

    1

    O C MPO D

    ARTE

    O campo fenomenal da arte dificilmente delimitvel: cronologic

    mente, compreende manifestaes que vo da mais remota pr-histria a

    aos nossos dias; geograficar

    1ente, todas as reas habitadas da comunida

    humana, qualquer que seja

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    6/77

    (arquitectura, pintura, escultura) e artes

    menores

    (todos

    os

    gneros de

    artesanato): nas primeiras prevaleceria o momento ideativo ou inventivo,

    n segunda o momento executivo ou mecnico. Mas trata-se de uma

    distino vlida apenas para as culturas que a estabeleceram, e nem sequer

    resolutiva neste caso: existem obras

    de

    ourivesaria, esmaltes, tecidos,

    cermicas, etc., que, artisticamente, valem mais do que obras medocres

    de

    arquitectura, pintura ou escultura.

    9 conceito de arte no define, pois, categorias de coisas, mas um tipo

    e valor. Este est

    sempre

    gado ao trabalho humano e

    s

    suas tcnicas

    e indica o resultado de uma relao entre uma a ~ t i _ _ y i d a d e mental yma

    ~ ~ . Y i d a d e

    operacional. Esta relao

    no

    a nica possvel: tambm uma

    obr de engenharia pode realizar uma relao perfeita de ideao e exe

    cuo, e nem por isso uma obra de arte. O valor artstico de

    um

    objectG

    aquele que se evidencia

    na

    sua configurao visvel

    ou

    como vulgar

    mente

    se

    diz, na

    sua forma

    o que est

    em

    relao com a maior ou menor

    importncia atribuda experincia do real, conseguida mediante a per-

    cepo e a representao. Q u ~ ~ q u ~ ~ _ g _ ~ ~ - ~ ~ j a

    :\

    sua

    r ( ~ _ _

    __m - f ~ l _ i d a c . e

    _ o b j ~ c t i v a _ }

    uma fonn sempre qulquer coisa que

    dada

    a perceberl

    Ufn. _

    } l ~ ~ ~ _ g ~ ~

    _ c o m u n i c a 4 ~ _ p - ~ ~ - - ~ - ~ i s > __ ~ _ p e ~ ~ ~ p . ~ . ~ s

    ..

    ~ n n a s

    valem

    como sivnificantes somente na medida em nue uma conscincia l b . e ~

    -----

    - - - ~ - ' 1 - ~ - - - - - -

    --

    ---- _ . . _ - - - - - - - - ~ - - -

    --

    c o l h e . ~

    sig

    i f l . c ; . ~ Q ~

    ..

    I . ~ - 9 - ~ r a

    ~ ~

    ~ ~ ~ < l . ~ : ~ - ~ ~

    ~ r t ~ - - - ~ ~ ~ ~ - ~ ~ - 1 3 . - .

    ~ - ~ - q - ~ . ~ ~ - - ~ ~

    que a

    ~ o n s c i n _ i a

    gue a r ~ c ~ p ~ - - - i u l g a

    ~ 9 _ 1 Q __ ~ ~ ~ - _ P Q r l _ Q _ t ~ _ . - _ . P . i s t r i _ ~ t dCJ

    arte Q ~ tal}

    _

    _ ~ -

    Q _ i _ ~ t ~ ~ a

    ~ . ~ . Q _ i ~ - ' ~ - ~ ~ ~ o

    . ' : 1 ~ -

    h i ~ t c ) ~ ~ a - ~ ~ j ~ - ~ ~ ~ - -

    ~ ~

    valor. Na medida em nue toda a histria uma histria de

    valores2 aindCJ

    4

    .

    ~ .

    .

    '

    ........ _ --

    ...

    ________

    ,_____ .

    _____ _____

    .....

    _.

    . . . . .

    _que l i g a d o ~ _ ...

    ou i n e r e ~ t - ~ s .

    ~ - . f - ~ - ~ o ~ ~ - - - ~ ~ _ Q n t r : . i . u _ t _ _ n i ~ t . r . i .

    Pt _-fle

    P . M ~

    _ ~ ~ ~ - ~ - ~ - d ' _ ~ i ~ - ~ ~ i ~ ~ ~ - - ~ - - f ~ ~ ~ - ~ - ~ ~ l t : l J i n _ l j _ s p e n ~ v e l , .

    2. A LITERATURA ARTSTICA

    Em todas as p o c ~ ~ - ~ ell todas as

    ~ u l t u r a ~

    existiu -__glllSCincia

    .dc

    ~ - ~ ~ ~ ~ - - ~ ~ ~ i _ ~ ~ - As c ~ . ~ . ~ - ~ ~ - _ y o r a r t s t i ~ o sempre foram direta ou indi

    rectamente. associadas g_l _eles _gue a sociedade considerava Q S . _ Y a l o r e ~

    --------- -------

    supremos: o culto do divino, a memria dos mortos, a autoridade de

    Estado, a Histria. Sempre

    as

    coisas em que se reconheceu valor artsticc

    se transformaram

    em

    objecto de particulares atenes: expostas, admira

    das, celebradas, conservadas, protegidas, transmitidas de gerao err

    gerao. A

    l _ ~ t . e r a t u r a

    g ~ e de d ~ ~ ~ s ~ ~ e i r a s _ ~ ~ ~ - - d - - ~ ~ - - ~ ~ p e ~ ~ - ~ r r

    plido t ~ s t e m u _ n h o

    p a n ~ t _ g _ Q

    ~ l . < : l - - : t r i b u < < ? - _ a r t ~ _ . M . - ~ - - ~ - l l - ~ f f i . P Q " . ~ h

    se

    v como

    a J 1 ~

    foi

    d e s Q ~

    a

    ~ t i g ~ ~ g ~ ~ -

    c _ o n s . i 4 e . ~ a l ~ _ l f f i - ~ ~

    Q ~ _ p o .

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    7/77

    nentes essenciais, e por vezes verdadeiramente o eixo, do sistema cultural.

    e1a--se oc-uparam os filsofos, cientes da impossibilictade-cte.cnstnilrum

    sistema do saber sem ter

    em

    conta a arte: a partir do sculo XVIII criam

    -se, sucedendo-se at

    aos

    nossos dias, autnticas filosofias da arte. Dela

    se ocuparam os literatos e sobretudo

    os

    historiadores, conscientes da im

    portncia das obras de arte como factos histricos e acontecimentos me

    morveis, na

    histria religiosa e civil. Pelo

    meio do

    sculo

    XVI

    surge,

    com

    as Vite, de

    Giorgio

    Vasari, a primeira histria d arte especfica, que traa

    o

    desenvolvimento

    orgnico

    dos factos artsticos

    por

    um perodo

    de cerca

    de

    trs sculos, ilustrando os contributos originais das personalidades

    ...

    emergentes, de Cimabue a Miguel Angelo.

    Na literatura sobre arte, ocupa um lugar importantssimo a tratadstica,

    que fixa normas e d instrues ~ ~ g u ~ ~ < ? - - ~ ~ - ~ u ~ i s - - ~ - ~ - ~ ~ ~ _ s t a ~ - - ~ y _ i t ~ r ~ _ l m

    erros

    e aproximar-se-iam

    da

    arte

    que

    constantemente mencionada

    como

    a ideal, a perfeita. Na Idade Mdia, os tratados

    dizem

    especialmente respeito

    tcnica

    e tm um carcter nonnativo. No

    sculo

    XIV, o Libro deli Arte,

    de Cennini, descreve

    - ~ ~

    _ p_rocessos t c f _ i _ ~ < ? S _

    q ( ; l _ J B ~ t ~ ~ - 1 - ~ - s

    - ~ - - ~ - i ~

    le

    i _ l ) d i c - r . - ~ - o . ~ g ~ . ~ . i_li_c_ _ade i d e a J _ _ ~ - ~ - e _ ~ Q b r . ~ t l Q 2 _ _ P ~ ~ ~ - i . ~ - - - 9 1 ~ a

    tcnica

    descrita a P . _ ~ a t ~ a d a por um _gr' _nde m ~ s t r e , Giotto, e pelos seus

    discpulos.

    No

    sculo XV, com Leon Battista Alberti, os tratados assumem

    um

    carcter terico:

    enunciam

    e explicam a

    teoria

    da qual deve

    proceder

    a prxis da realizao - ~ ~ _ i c a . Mais numerosos so os tratados sobre

    a r q u i ~ e c t u r a , que descrevem e analisam os modelos antigos, passando

    em

    seguida a ditar regras tipolgicas (edifcios sacros e civis; planimetrias

    centralizadas e longitudinais), morfolgicas as cinco ordens da arquitec

    tura clssica; envasamentos, ornatos, cpulas, etG.), estilsticas simetria e

    propores, relao

    com

    o espao circundante, etc.),

    tcnico-construtivas

    (esttica do edifcio, materiais e processos

    de

    construo). De

    vez em

    q ' : J ~ " : d o , __' ~ a ~ ~ i s t i c a

    - ~ ~ P - ~ : ~ ~ de p _ ~ ~ b l e f a S

    gerais, de critrios funda

    mentais da r e p r e s e n t a ~ o , vlidos para_ todas

    as

    a r t ~ s : a perspectiva por

    exemplo, Piero della Francesca

    no

    sculo XV, o padre Pozzo no sculo

    XVII), as propores Luca Pacioli no sculo

    XV,

    Albrecht Drer, Vin

    cenzo Danti no sculo XVI), o desenho Vasari, Frederico Zuccari

    no

    sculo XVI). Um caso parte, mas da maior importncia, o Trattato

    de/la Pittura,

    de

    Leonardo, que no tem

    uma

    estrutura terica

    verdadeira

    e prpria, mas recolhe as reflexes do artista sobre a sua prpria

    experin-

    . . .

    cta ptctonca.

    Outro sector da literatura de arte a crtica: incluem-se no seu mbito,

    no sculo XVI, as discusses sobre os mritos comparativos das vrias

    artes (Benedetto V archi) e sobre a preferncia a dar ao desenho floren-

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    8/77

    tino e romano ou

    ao

    "colorido" veneziano (Ludovico Dolce, Paolo Pino),

    e tambm as expressivas descries

    das

    reaces emotivas experimentadas

    perante obras de arte (Pietro Aretino e, no sculo

    XVII,

    Marco Boschini).

    A

    partir

    do

    sculo

    XVII

    (G. B. Bellori), a crtica

    sobretudo apreciao

    da situao artstica contempornea,

    com

    a manifesta

    inteno

    de apoiar

    esta ou aquela corrente.

    No

    sculo XVIII, quando

    se

    ~ ~ ~ n d e _

    J 9 Q 9 _ Q _ _ n b ~ i r o e . n _ t o

    UIJl

    fundamento crtico e

    j

    no

    dog_ ltico, tentou-se J. Richardson) funda-

    Jl entar

    c i e n t i f i c a m e n t ~

    o

    j u ~ Q

    ct:itio

    SQbr e Q_

    v.alQr

    das obras de . a r t ~ .

    crtico propriamente

    um perito uma

    pessoa que, possuindo uma longa

    e vasta experincia da arte,

    est

    em posio de reconhecer se, na obra

    que

    examina, se

    contm

    aquela

    q u a l i d _ ~ d l } _ _ g l } . ~ - ~ p r ~ ~ - _ l Q ~ ~ J l . ~ i n p u

    enco11;trar-

    - s ~ __ _ ~

    _

    - ~ ~ ~ ~ - ~ s ~ ~ ~ ~ ~ t i ~ - ~ ~

    _

    2 _ Q r f ~ ~

    arte;

    etue,

    aprofundando o

    exame,

    reconhece na

    obra

    que estuda caracteres e processos que a aproximam

    das

    obras certas de um determinado perodo, de uma certa escola, de um certo

    mestre.

    No

    decurso do sculo

    XIX,

    cuja cultura

    dominada

    pelo

    ~ - - ~ -

    mento

    p o s i t i v i ~ t a ,

    procurou-se eliminar tud( _Q_ gue havi' _de _emp(ricq la

    activida9e do perito e fornecer-lhe um mtodo baseado em dados objec_

    tivos (Giovanni Morelli).

    Se bem

    que, originariamente, a

    figura

    do perito,

    que se limita a reconhecer a existncia dos factos artsticos, seja

    bem

    diferente da

    do

    historiador

    que

    os reagrupa e

    os

    ordena, propriamente

    ao perito que se

    deve

    o aparecimento de uma historiografia da arte

    em

    Itlia, Giovanni Battista Cavalcaselle, Adolfo Venturi,

    Pietro

    Toesca) j

    nq

    b . ~ s ~ - ~ - - ~ - ~ a s

    na tradio e em

    Q O ~ } l m e n ~ o s L . - . ~ - . 9

    estudQ. i ~ ~ o

    e analtico _ ~ ~ - - ~ b r a s ,

    e n ~ ~ d i ~ a ~ ~ 9 1 . < ? . - ~ . o . ~ u ~ ~ ~ ~ ~ s .

    P . ~ ~ . l l ~ ~ - ~ ~ - ~ - ~ s _ s . ~ ~ ~ c , - ~ a ~ s

    da histria da arte.

    _ ................

    4 .

    - . . . . . . -

    ..

    Na

    prtica, subsiste ainda

    uma

    diferena entre crtica e histria

    da

    arte,

    se

    bem

    que,

    seguindo uma tradio

    que

    remonta

    ao

    sculo XVIII, a crtica

    se

    ocupe

    principalmente

    da

    arte contempornea, seguindo-lhe todos os

    movimentos, preferindo abertamente

    uns

    ou outros, informando o pblico

    atravs da imprensa e procurando orient-lo nesta ou

    naquela

    direco.

    Todavia, esta diferena no encontra justificao no plano terico: aquilo

    a que se chama juzo sobre a gualidade das obras , C.Q_f lO

    v e r e ~ ~ ' _ - - ~

    juzo sobre a

    sua

    actualidade sobre o seu d e s c o l a m . ~ Q t Q _ g o _ . . l - ~ ~ ~ q e

    sobre as premisss qeestblecem

    para

    os

    d e s e n v o l v i m ~ n t o s

    fu_lli_r_Q.

    da

    pesquisa artstica. juzo crtico inclui-se por isso no

    mbito ~

    activi

    dade

    do

    historiador.

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    9/77

    3.

    A FUNO D HISTRIA DA ARTE

    Na nossa poca, duas disciplinas se

    ocupam

    da arte: a filosofia e a

    histria.

    A

    filosofia da arte

    esttica)

    estuda a actividade artstica

    no

    seu

    conjunto, como tipo de actividade

    com

    motivaes, modalidades e

    fina

    lidades que a distinguem

    das

    outras. Se no passado se apresentou. como

    a

    suprema teoria

    da arte,

    procurando

    definir-lhe o

    conceito

    e

    mostran

    do-a como

    modelo

    ideal de todas as actividades artsticas (incluindo as no

    -

    v i _ ~ u a i s ), hoje o processo inverteu-se, porque parte

    das

    anlises d ~ s

    ~ ~ n m e n o s

    busca, para ~ ~ ~ 1 1 . ~ ~ ~ - ~ ~ _ _ u l t _ P ~ i - ~ i d a d e e diversidade, um

    pf ncipio estrutural

    comum,

    aproximando-se

    assim

    dos mtodos

    do

    estru-

    t u ~ ~ . l _ ~ ' l o l _ ~ _ g _ ~ ~ t i c o . -

    ---

    Neste livro no trataremos da filosofia, mas apenas da histria da

    arte.

    Digamos

    desde

    j

    que

    esta

    no

    consta

    somente do

    reagrupamento

    dos

    factos artsticos segundo certos critrios

    de

    ordem,

    mas

    visa tambm

    explicar

    historicamente toda

    a fenomenologia da arte. A

    obra

    de arte

    o

    = -

    . .

    um facto

    esttico

    que

    tem tambm um i n t e ~ e s s e

    histrico: um facto que

    p__2ssui

    valor histrico p o r q ~ e ~ e m

    ~

    valor artstico, uma obra

    de

    arte.

    A

    obra

    de

    um

    grande artista uma realidade histrica

    que

    no fica

    atrs

    da reforma religiosa de Lutero,

    da

    poltica

    de

    Carlos

    V,

    das

    descobertas

    cientficas

    de

    -Galileu.

    Ela

    ,

    pois,

    explicada historicamente,

    como

    se

    explicam historicamente os factos da poltica, da economia, da cincia.

    Os problemas para

    os

    quais c a d ~ _ ~ > r ~ - ~ ~ arte a s o l u ~ _ ~ n ~ o ~ t ~ ~ a

    ou. proposta

    so

    problemas tipicamente artsticos;. mas

    p _ ~ ~ q _ u _ e __

    a

    ~ ~ - - - ~

    l la

    componente c o n s t i t u t i v _ ~ - ~ - ~ -

    ~ ~ ~ ~ ~ ~ a

    c u l t u r . ~ ~ - ' - - ~ ~ _ i s t e ~ e ~ ~ 1 . 9 _ u ~ a ~ ~ ~ ' . l o

    ~ n t r e _ ~ s _ p ~ - ~ ~ 1 ~ ~ - a r t _ s t ~ ~ - ~ s e a problemtica geral da poca.

    Q

    h i ~ t o f a

    dor no deve, pois,. tentar entendei"om" aquela -problenlt_ica.

    geral

    se

    desdobra

    na obra

    do artista e

    nela

    constitui o tema

    ou

    o contedo,

    mas

    como

    aquela problemtica envolve o problema especfico

    da

    arte e se

    A .

    _apresenta

    ao

    artista como

    problema

    artstico. Miguel

    Angelo

    viveu pro-

    funda e dramaticamente a crise religiosa do seu tempo e, sem levannos

    em

    linha de conta aquela situao histrica, no podemos compreender os

    frescos que pintou na

    Capela

    Sistina. Estava certamente ciente da enorme

    responsabilidade que comportava o seu empreendimento pictrico no lugaJ

    mais sagrado, no centro ideal da cristandade. Assumiu uma posio

    ideolgica

    que

    pde ser explicada tambm

    no

    plano doutrinal, que decertG

    influiu de maneira determinante na evoluo da crise. Ma_s. _

    .Q()

    J u _ ~ _ t r Q ~

    nem

    e ~ p r i ~ i ~ ' - e _m __~ S - ~ ~ ~ . ~ _o ~ ~ t - ~ ~ C ? ~ . _ g ~ e . __ t ? i ~ ~ - . 1 ? ~ ~ 1 ~ 2 - ~ - ~ - : _ . ~ g . t ~ l m ~ ~ ~ ~

    expressos num discurso falado

    ou

    e.scrito, Sentiu. qu_e _a

    crise_reJigiosl

    c o J J ~ i ~ - -

    tamb" _

    co ll__ .

    ~ ~ _e - - - ~ f ~ e ~ I J J . : - .

    ~ . O D . l _ 9 _problema

    da

    ~ r t e ,

    d ~

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    10/77

    mesmo modo

    que

    os filsofos a enfrentaram como. p r 9 b l e q 1 ~ filosfico e

    -

    -

    .

    . .

    os polticos como problema poltico. E de facto fcil verificar que a mesma

    conscincia dramtica da crise

    se

    manifesta noutras obras do artista, no

    relacionadas to directamente com os grandes temas da crise: a gnese e

    o destino da humanidade, a salvao ou a queda final.

    A histria da arte t ~ m , _ p 9 i s , _

    f u ~ ~ - - ~ - ~ s ~ ~ < J r . ~ a ~ . - ~ 1 ~ _ J 1 -

    ~ o r n o um

    - .. . .

    4

    ~ ~ - - ~ - ~ o , ~ ~ ~ - ~ ~ ~ - ~

    ~ g ~ ~ t ~

    4 ~ .

    h i s t ~ t . : _

    e ~

    _,

    portanto,

    u m ~

    histria

    e s p ~ c i q l

    ~ 1 1 1 0 _

    i s t < ) r i ~ c:i_ l fi,osofia ou da economia ou da cincia),

    que

    oper

    n u . _ ~ ~ 3 : . ~ P . ~ p r ~ p ~ i ~

    _e tem

    _ m e t o 9 o l _ Q g i ~ ~ - _ p r _ < ) p r i ~ L m ~ ~ ' - - omQ_ todas a ~ s

    ~ i ~ t ~ r i a s especiais, d e ~ e m b o e

    e n q l l ~ d ~ a ~ s e

    na

    ~ t ~ ~ < ? r ~ a _

    g ~ r ' . l l da cultura,

    explicando como ser a cultura elaborada e construda pela. arte.

    ~ J U Z O

    CRTICO E V LOR RTSTICO

    /

    A histria da arte , obviamente, a histria das obras de arte: mas como

    se decide que uma obra uma o b r ~ de _arte? J_ d i s & ~ _ f f i Q S _que esta deciso_

    pode derivar apenas

    do

    juzo crtico; mas em que consiste propriamente

    esse juzo? E at que ponto ele fidedigno? Em todas as pocas o juzo .

    de

    valor sobre obras de arte foi formulado mais ou menos explicitamente,

    ~ s

    em

    cada poca foi formulado

    s e g u n d o _ p ~ ~ m . ~ t r o ~

    d ~ v ~ r ~ o ~ .

    _l

    o b r ~ s

    q J _ ~

    _- ~ _ p ~ - ~ ~ ~ 4 2 _ J 2 f . ~ J : l __ J ~ J r ~ - _ I J } Q _ g r ~ Q - ~ e - ~ . _ ( ) p _ r ~ s : - p r i m ~ ~ _que

    - ~ ~ s

    j no vemos C9ffiQ __ ~ l , e n q u ~ n t o revalori:z;am_()s

    o u t r a ~

    j s q u ~ c i . d a s ou

    _Qesacreditadas. _Pode r e c ~ ~ l ~ - ~ r - : - S . ~ _ f U : l ~ _ l l _ e _ J . l : t < ? c ~ ( ~ ~ f ~ c - ~ a ' - : 1 . ~ j ~ _ ( ? o que

    n_l}Qa __ _ f t p i t j y Q , _ _ _ ~ _ .. q y _ ~ ____Q(l_

    poc(l,

    _t;td

    _cultura

    .e at _cada. p ~ s s o a

    formula e motiva de maneira diferente?

    p

    por outro lado, pode imaginar

    -s_e ~ ~ ~ - ~ i ~ ~ ~ a __ ~ ~ - - ~ ( ) ~ ~ ~ u l e juzos? Sem o juzo, a_ ane seria

    uma

    amlgama confusa de fenmenos dspares, onde

    as

    obras

    que

    caracteriza-

    ram uma ~ p o c Ol u111a_

    ~ ~ t _ u r a , a l t e r a n d o - _ l h ~ s por

    v ~ z ~ _ s

    o c u r ~ 9 , s ~

    r n i ~

    turariam em paridade de valor com milhentas obras insignificantes, e nem

    s e q ~ r poderia manter-se a diferenciao, bem clara em cada civilizao,

    entre a arte e ofcio. O juzo , pois, necessrio, mas no pode reduzir-

    se

    declarao d ~ que

    um._a

    - ~ d a o b ~ a ~ b ~ ~ - ~ e __ ~ e . t ~ f l

    v ~ ~ ~ r .

    artstico;

    ~ ~ 1 l < ? ~ _ e c ~ ~ ~ - t - ~ t u _ i r _ s por si a_ premissa da investigao histrica que,

    ~ a b e n d Q _

    q ~ ~ -

    a q ~ ~ J

    9 ~ i - ~ ~ ~ : ~ ~ r ~ - - ~ e . . ~ J j ~ ~ a e _ \ l ~ r i ~

    l ~ c a l i z - h i

    o

    ~ ~ p a < ? _

    e

    f O tempo, coorden-la com outrs

    .

    o ~ r a s com ~ s qu(lis tem UJ11a _ r e l a ~ ,

    ~ x p l i c a r a_ s i t u a ~ o em que

    fo

    p r o d u z i d ~ e as c o n s ~ q u n c i a s a que

    deu

    _lugar.

    N Q _ ~ f . 9 ~ t ~ m p o . s , . >s p ~ J " r n e t r q s

    d.o juzo _de valor foram_ o_ belo, a

    fidelidade na imita

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    11/77

    rada, etc. Para a nossa cultura,

    que

    se baseia na cincia e considera a

    ------- -------------------

    -

    --- - ----------------------------,.-- ----------- ..-----

    ~ s t < ? _ i ~ - - -

    _ ~ ~ ~ i a q u ~ e s t u ~ a as_ c ~ s humanas, o parametro do JUzo

    - - - -- ---

    - - - - - - - - - - - - - - - - - ~ - - - - - - ..... -------------

    ~ - - - - -

    a histria. Uma obra ~ i s t a como obra _ ~ _ a ~ ~ - q ~ ~ i . _ < ? _ _

    t e l _ i . ~ P ~ ~ ~ ~ - C . } ~

    na histria da arte e contribuiu para a f ~ ~ a o e

    d e s ~ n v ~ l ~ i m ~ J ) t O

    d ~ ~ - ' - 1 ~

    ~ u l t u r a a r t s t i ~ a . ~ p ~ : ? _ j ~ z o q u ~ ~ ~ ~ ~ 1 1 ~ e c e

    _a

    q u ~ l i d ~ d e

    " " . 1 ~ ~ ~ - ~ - ~ - - ~ ~

    ~ l a

    obra,

    de_la

    r e c o J . h e c ~ _ a ~ . t . l ~ ~ ~ _ t e _ l _ p o ~ ~ i s t ~ _ ~ i d _ ~ d e .

    N ~ ~ ~ i ~ e 1 - p ~ ~ ~ ~ - :

    to,

    uma

    d i f e r e n ~ s u b s t ~ i L ~ P J r ~

    o

    _ c r t i ~ -

    ~ - - - J ~ I j J 9 .

    ~

    9

    ~ i ~ 9 r i _ a q _ Q

    4e

    arte. _ y e r ~ . a ~ - ~ - - - q ~ ~ - - ~ j ~ ~ ~ ~ - - c ~ ~ t ~ ~ < ? - - - ~ ~ E s i ~ t e s o b ~ ~ - ~ - ~ ~ ~ n.

    - ~ ~ ~ ~ ~ - - ~ - - ~ ? ~ - ~ - - - ~ ~

    ~ e no intuir o sel:l valor; n . - t : l ~ ' p Q ( l ~ o . 4 e ~ ~ ~ Q - - - ~ - - f ~ c _ t 9

    ~ e e ~ s ~

    i n t ~ _ i ~ < ?

    iQlplicar u m ~ experincia _hist. )rica _da _ a n ~ , _ela m ~ i } - - - ~ - - 4 9 . l ~ - - - ~ m . - ~

    ~ _ i p ese de t abalh.(), _

    que

    .espera d .l inve_stigao histrica a n e c e s s ~ f i _ a

    averiguao.

    5.

    AUTENTICIDADE DA OBRA DE ARTE

    Decidir pela qualidade de uma obra de arte significa decidir

    pela

    sua

    autenticidade

    A noo

    de

    autenticidade, fundamental para o estudo da

    arte, tambm ela uma noo histrica. Em sentido restrito, o autntico

    o contrrio do falso; e o falso, em arte,

    a coisa que passa

    por

    ser

    o

    que

    no

    , a contrafaco do estilo de um artista ou

    de

    uma poca.

    Em

    sentido mais lato, no se incluem no mbito

    do

    autntico as cpias (ainda

    que,

    por

    vezes, vindas da oficina ou da prpria mo do artista), as imi

    taes, as derivaes.

    Em sentido ainda mais alargado, nQ ~ J l t ~ _ J l - I J ~ - _ t c a

    tudo a q u i l ~ _ g ~ ~ - ~ repetio, c o n ~ o r m i d a d e

    com

    m o d e ~ o s operao t c ~ i

    ca s ~ a r a d a de qualquer acto ideativo (

    1

    . A histria da arte,

    como

    qual-

    - - - ~ .

    o o ~

    P - o o

    quer histria, processo: tudo aquilo que marca passo e no faz avanar

    (

    1

    ) A autenticidade de uma obra de arte no se identifica com a autografia Em todos

    os sectores da arte a participao do artista criador na execuo material da obra muitas

    vezes parcial, quando no se reduz direco dos trabalhos ou mera projeco. Nos

    frescos de Giotto, na Baslica de Assis (por exemplo), so muitas as partes no-autgrafas,

    e nelas se podem distinguir as os dos diversos discpulos ou ajudantes; mas apesar disso,

    todo o ciclo deve ser considerado obra autntica de Giotto. H quadros que ostentam a

    assinatura

    de

    Giovanni Bellini e nos quais a interveno directa do mestre

    foi

    mnima ou

    nula: porm, na medida em que tudo leva a crer que foram idealizados, acompanhados,

    aprovados pelo mestre, incluem-se na srie das suas obras autnticas, a menos que sejam

    simples repeties que decalcam o modelo de certas obras do mestre especialmente apre

    ciadas e procuradas pelo pblico.

    As rplicas so muitas vezes aut6grafas ou de qualquer modo executadas na oficina

    e sob o controlo do mestre: tm o valor de obras autnticas quando na sua execuo o

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    12/77

    o processo, nem modifica a situao isento de autenticidade. Conside

    ramos, pois, interessante para a histria da arte tudo aquilo que, de qualquer

    ~ a n e i r a _ s e

    despe_ga da tradio: seja continuando-a

    ~ e s e n v o l v e n d o - a

    ~ e j a

    d e _ ~ v i a r t < l _ Q : _ ~ ~ -

    _ _ ) ~ I

    ~ ~ ~ 9 s ~ j ~

    . f . ' l v _ ~ ~ ~ I Q . 9 ~ ~ - - _ p ~ J ~ I l l ~ c ~ ~ e n t e . A

    discriminao do autntico e do no autntico portanto necessria a

    todos os nveis:

    ao

    dos valores mximos, levar a que se caracterize a obra

    de

    arte como acto nico e irrepetvel;

    ao

    da produo

    menor

    (mobilirio,

    cermica, tecidos, etc.), onde a repetio em muitos exemplares est prevista

    e calculada desde a fase inicial

    da

    ideao e do projecto, levar a

    que

    se

    caracterizem os prottipos ou os modelos.

    A

    distino entre arte e no-arte passa-se muitas vezes no interior da

    obra

    do

    artista, e at dos maiores:

    nem

    se afirma apenas que uma obra

    melhor do que outra, mas tambm que na mesma obra existem por vezes

    partes conseguidas e partes falhadas . Diz-se ento

    que

    o nvel da

    actividade daquele artista descontnuo e a qualidade

    da

    obra desigual.

    Tambm este tipo de juzo que parece depender sobretudo da sensibili

    dade e do gosto

    de

    quem o emite, um juzo histrico: at a um grande

    artista pode acontecer repetir-se, e at na mesma obra podem surgir partes

    em

    que

    o artista pe problemas novos e outras onde fica ligado aos

    prprios hbitos. Morelli, quando se props dar uma base cientfica

    mestre tenha infludo intensamente, e tambm renovado, ou de qualquer modo alterado, a

    experincia consumada no obra de que provm.

    Existem, por exemplo, rplicas de quadros de El Greco em que a textura pictrica

    de tal modo viva que devem

    ser

    consideradas verdadeiros originais que tm em comum

    com a obra de que provm apenas a composio e a tinta. s cpias so geralmente

    repeties mecnicas, decalques. E fcil reconhec-las confrontando-as com o original.

    Distinguem-se das repeties porque estas, sendo executadas pelo artista ou pelos seus

    ajudantes, mostram o estilo habitual do

    artista ou da sua escola, e a sua feitura tem um ritmo

    mais solto e seguro, enquanto o copista imita diligentemente, mas sem agilidade, o estilo

    de outrem. /

    No problema da autenticidade inclui-se o

    do

    estado de conservao. As obras antigas

    chegam frequentemente at ns com lacunas, gastas, estragadas, alteradas. Muitas vezes os

    estragos so antigos, e os restauros com que se quis remediar o mal pioraram-no. No

    raro que os restauros tenham acabado por se substiturem inteiramente ao original, destruin-

    do praticamente a autenticidade da obra. E funo do historiador detectar tudo o que resta

    de autntico e recompor o tema

    da

    obra;

    tambm funo sua, como primeiro e verdadeiro

    responsvel pela conservao dos documentos

    da

    histria

    da

    arte, fazer com que outras

    modificaes no venham juntar-se aos estragos do passado. Se bem que o restauro de

    obras de arte seja hoje uma cincia autntica e especfica,

    que

    se socorre de metodologias

    e de equipamento altamente aperfeioados, a direco das operaes de restauro deve caber

    exclusivamente ao historiador

    de

    arte, como a nica pessoa que est

    em

    condies de

    ajuizar

    da

    autenticidade de um tema figurativo como facto histrico.

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    13/77

    actividade

    do

    perito, sugeriu que se atentasse sobretudo nas repeties ou

    nos maneirismos, supondo que nas partes menos importantes da obra o

    artista possa repetir mecanicamente processos habituais por exemplo, o

    desenho das orelhas, das mos, dos drapeados). De facto, os esquematis

    mos, os maneirismos, as maneiras tpicas ou habituais, so exactamente

    aquilo que os imitadores mais facilmente copiam. Cavalcaselle notou

    que

    a coerncia do desenvolvimento de

    um

    artista

    no

    est na recorrncia

    de certos temas ou motivos, mas na contnua mutao da sua maneira: ou,

    mais precisamente,

    na

    ordem e

    na

    razo das sucessivas mutaes; aquilo

    que

    o historiador deve reconstruir, seja

    no

    mbito das personalidades

    singulares, seja no mbito mais lato de uma situao cultural, o desen

    volvimento de uma experincia. Os artistas vivem no mundo da arte como

    os cientistas no da cincia, conhecem e avaliam o

    que

    foi feito antes deles

    e o que fazem os seus contemporneos; tal como para

    os

    cientistas, tambm

    para

    os

    artistas no admiss_vel a

    i g ~ o r f c i a .

    da histria e

    d a ~

    condies

    actuais da

    sua disciplina. Nas suas obras e com os meios da sua arte,

    os

    artistas desenvolvem

    um

    discurso cultural precioso,

    que

    o historiador deve

    decifrar e reconstruir: reconhecem ou limitam ou negam a autoridade dos

    mestres, aceitam ou discutem

    ou

    recusam polemicame.nte os resultados de

    outras pesquisas, reexaminam criticamente a sua prpria actividade pas

    sada. O historiador decompe a obra de arte nas suas muitas componentes

    culturais, analisa-a como um conjunto de relaes,

    de

    factores interactuan

    tes. No seu -discurso falar frequentemente de influncias recebidas

    ou

    exercidas, porm no existe contradio entre as influncias e a origina

    lidade

    da

    obra, a menos que se trate de influncias passivamente sofridas

    e no de opes motivadas e reflectidas. a pintura

    de

    Rafael possvel

    reconhecer influncias de todos os maiores artistas contemporneos e, no

    entanto, Rafael um artista absolutamente original, e a pluralidade dessas

    influncias demonstra no

    j o ecletismo, mas o altssimo nvel intelectual

    da sua pintura. De facto, em

    vez

    de influncias, deveria falar-se

    de

    vivas

    e construtivas reaces crticas s pesquisas dos

    seus

    contemporneos.

    6. QU LID DE D OBR DE RTE

    _

    ___ ' : ' _ _ ~ q a 4 _ ~ - - ~ - ~ -

    - ~ _ I T ) a o b r ~ < I ~ ~ - ~ s i ~ ~ - d ~ _ q ~ ~ e l ~ d o M J l J ~ n t a

    realizar de uma experincia, com todo o i Q t ~ r ~ s s e _ e

    _ n _ ~ i de

    .busca

    que

    n e c e s s a r i _ ~ e n t ~ . a_

    l C ~ ~ P ~ ~ ~

    O conceito de qualidade artstica foi

    definido no sculo XVIII por J Richardson como valor que a crtica, e

    s

    a crtica, pode descobrir com a leitura atenta das obras. Justamente

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    14/77

    -Richardson desvia a ateno

    do

    estudioso das coisas que o artista diz para

    a

    maneira

    como as diz. A maneira

    do

    artista tensa, intensa, essencial;

    a maneira

    do

    imitador, copista ou falsrio que seja, fraca, penosa, ou

    apenas superficial e artificiosamente viva. Todavia, a qualidade ou a

    autenticidade no se manifestam necessariamente

    na

    fluidez, na facilidade,

    na espontaneidade da formulao. Nas pinturas flamengas do sculo XV

    a feitura lenta, minuciosa, precisa; nos quadros

    de

    Czanne laboriosa

    e atormentada: num e noutro caso a qualidade, altssima, manifesta-se

    justamente naquela feitura

    bem

    distante de imediata e espontnea. Assim,

    uma pintura de Ingres no qualitativamente inferior a uma pintura de

    Delacroix pelo facto de os contornos serem firmemente marcados e no

    diludos, as cores cuidadosamente esbatidas e no lanadas tela com

    toques rpidos e impetuosos; e os mrmores

    de

    Canova no so qualita

    tivamente inferiores aos esbocetos porque apresentam superfcies polidas

    e lustrosas em vez de speras e acidentadas. O estudioso deve, pois,

    concentrar a ateno no

    no

    fulgor exterior,. que .pode ser facilmente

    ~ i m u l a d ~

    mas na vitalidade

    i n t ~ r i o r

    das c a r a c ~ e r ( s t i c a s ; verificar se,

    na

    ~ e r d a d e ,

    so ou no

    e x p r e s ~ i v a s , - ~ ~ q _ . 1 1 ~ C ~ ~ - s . . J - a s ll_ s u p ~ r f l u ~ s , _ _se

    < efinem ou apenas

    d e ~ c r ~ v e m . _ c o ~ v ~ n j 9 n ~ l . m e n ~ ~

    se

    no contexto

    s.oam

    bem ou mal. A busca da qualidade requer indubitavelmente sensibilidade,

    --------

    -

    .....

    mas a sensibilidade no ajuda se no for exercitada, e a nica maneira de

    a exercitar (ou antes, de a formar) "ler" o maior nmero de obras de arte

    possvel, at se adquirir uma familiaridade total

    com

    os processos expres

    sivos das vrias escolas e dos vrios artistas. Muito mais do que nas aulas

    das universidades e nas bibliotecas, o historiador de arte forma-se nos

    museus, nas galerias, nas igrejas, onde quer que existam obras

    de

    arte.

    7. OS INSTRUMENTOS DO HISTORI DOR DE RTE

    Vejamos agora sobre que materiais o historiador trabalha.

    H

    muitas

    obras famosas das quais se sabe tudo, praticamente: o artista que as fez

    e quando, como e para quem as fez. Elas constituem os pilares da histria

    da arte,

    sem

    dvida, mas

    nem

    por isso deixam

    de

    representar para o

    historiador outros tantos problemas. H depois muitas obras acerca das

    quais no existe documentao exaustiva ou, com frequncia, qualquer

    documentao: os estudiosos esto de acordo

    ao

    reconhecerem nelas

    importncia histrica, mas discordam quanto atribuio e data.

    H por

    fim, o

    campo

    sempre aberto

    pesquisa. Muitssimas obras so at agora

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    15/77

    inacessveis,

    por

    uma razo ou por outra, ateno dos estudiosos: fresco:

    escondidos debaixo do reboco e mais tarde pelas transfonnaes da:

    estruturas

    de

    alvenaria; pinturas que continuam quase ignoradas

    em

    igre

    jas distantes dos grandes centros,

    ou

    em velhas coleces muitas veze:

    cobertas por camadas de sujidade ou

    por

    reparaes que

    toma

    impossve

    qualquer leitura sem um bom restauro; quadros, esculturas, objectos

    e

    todo o gnero que giram por esse mundo passando

    de

    um

    comerciante

    para outro, sem que os estudiosos deles tenham notcia; objectos

    de ou

    rivesaria, paramentos, cdigos com iluminuras sepultados nos tesouros

    das igrejas; objectos

    de

    alto artesanato que ficaram ignorados porque

    c

    estudo das ditas artes menores ainda est, especialmente

    em

    Itlia, ben

    pouco desenvolvido. H depois outro material, precioso para a reconstru

    o da histria

    da

    cultura artstica e dos processos de trabalho dos artistas

    os desenhos que documentam os estudos, as pesquisas, por vezes as fase

    dos projectos e da preparao das obras; as gravuras que no passado cons

    tituiram

    um

    dos principais intennedirios para a difusodo

    o n h e i m e n t ~

    da arte dos grandes mestres; as rplicas,

    as

    cpias, as derivaes, que, s

    no podem ser consideradas obras

    de

    arte autnomas, so todavia

    ur

    testemunho precioso

    de

    originais perdidos. H, finalmente, as notcias da

    fontes literrias, os escritos dos artistas, as cartas, os documentos relativo

    a encomendas, a pagamentos,

    s

    sucessivas vicissitudes das obras.

    Nos limites do possvel, evidentemente, o trabalho do historiador dev

    processar-se sobre textos originais: nenhum

    juzo

    decisivo pode

    ser

    feit

    a partir de reprodues, ainda que tecnicamente perfeitas.

    Uma obra d

    arte sempre

    uma

    realidade complexa, que no pode ser reduzida apen(l

    a imagens. O limite das reprodues especialmente evidente na arqu

    tectura: nem

    uma

    vasta srie de fotografias

    do

    conjunto

    com

    perspectiv

    diversas, e dos pormenores do exterior e do interior, permitir

    jamais

    a

    estudioso ficar a conhecer factores essenciais

    como

    a dimenso do edifcic

    a sua relao com o ambiente, a articulao dos espaos interiores, etc.

    mesmo limite vlido para as esculturas: as fotografias podero apresente

    -las de diferentes perspectivas, mas isso no substituir o panorama

    ci

    cular e contnuo que o estudo

    de um

    facto plstico exige, nem

    dar

    a

    estudioso a possibilidade de avaliar as qualidades mais subtis

    da

    modc

    lagem, a reaco

    da

    matria luz, a profundidade dos alicerces e as infn

    -estruturas. At as pinturas que

    se

    apresentam como imagens de superfc:

    so na realidade objectos plsticos dotados de uma estrutura complexa.

    estudioso poder recolher muitos conhecimentos interessantes a partir c

    natureza dos suportes a qualidade e a idade da madeira ou da tela,

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    16/77

    estrutura das tbuas ou das molduras, etc.), dos sinais que frequentemente

    se apresentam inscries, assinaturas., chancelas, etiquetas, nmeros

    de

    inventrio, etc.), da espessura e da composio da imprimao ou das

    camadas de preparados interpostos entre a base e a superfcie pintada, das

    vrias espessuras e da contextura diversa desta ltima. Uma reproduo,

    ainda que boa, no dar nunca a noo precisa das dimenses da pintura,

    da

    exacta relao das cores, da qualidade da superfcie, e

    s

    uma longa

    experincia permitir ao estudioso reconstruir imperfeitamente o aspecto

    do original

    2

    .

    Ciente destes limites e procurando, na medida do possvel, tomar

    conhecimento directo dos originais, o estudioso de arte opera sobretudo

    sobre reprodues fotogrficas. Independentemente dos casos em que a

    reproduo substitui originais perdidos ou danificados ou inacessveis, o

    trabalho do historiador desenvolve-se principalmente sobre reprodues,

    porque consiste predominantemente no confronto entre obras de arte.

    Porque o objectivo explicar a obra de arte como um sistema de relaes,

    2) Em arquitectura recorre-se frequentemente

    reproduo cinematogrfica, que tem

    a vantagem de fornecer uma srie praticamente ilimitada de imagens, de permitir ver de

    distncias e perspectivas diversas, de orientar o observador no reconhecimento visual tanto

    no

    exterior como do interior. Naturalmente, a filmagem de um edifcio ou de um conjunto

    de edifcios reflecte sempre a interpretao do operador

    ou

    de quem o orienta: isto

    no

    fornece uma informao objectiva mas uma leitura crtica da obra. A margem deixada

    interpretao objectiva do operador relevante tambm para a reproduo fotogrfica da

    escultura escolha dos pontos de vista, iluminao);

    certamente menor para a pintura,

    embora

    a fotografia da pintura possa considerar-se totalmente imparcial. Salvo no caso de

    objectos de pequenas dimenses, a fotografia de uma obra de arte fornece o conjunto e

    os

    pormenores. Para uma documentao objectiva, a srie dos pormenores deveria cobrir toda

    a superfcie do original em tamanho natural; mas, como na maior parte das vezes a escolha

    dos pormenores feita pelo operador, reflecte inevitavelmente o seu gosto. A fotografia

    a cores , sem dvida, um subsdio til, mas resulta quase sempre escassamente credvel

    e muitas vezes completamente enganadora. Se a reproduo a preto e branco d ao estu

    dioso pelo menos uma descrio invarivel, a reproduo a cores altera os valores cromticos

    de maneira to desigual que se toma quase impossvel de utilizar num trabalho cientfico.

    De grande utilidade so outros processos, como a fotografia com luz rasante,

    que

    faz

    ressaltar o desenvolvimento

    da

    superfcie pictrica, o

    ductus

    do pincel, o desenvolvimento

    da

    crosta

    as gretas da pasta de tinta depois de seca: elemento muitas vezes precioso para

    a determinao da autografia de uma pintura); a fotografia a infravermelhos, que permite

    a leitura de camadas por baixo da superfcie; o exame

    luz de Wood raios ultravioletas)

    que permite distinguir as partes repintadas. Subsdio tcnico de primeirssima ordem a

    radiografia, que pe em evidncia

    as

    camadas profundas da pintura revelando o esboo,

    as correces feitas pelo artista na primeira feitura e as partes originais eventualmente

    recobertas por grandes reas

    de

    nova pintura.

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    17/77

    e as relaes so muitas vezes indirectas e a longo prazo, somente atravs

    de uma

    extensa

    srie de confrontos possvel caracterizar uma por uma

    as muitas e muito espalhadas razes de que a obra nasceu.

    Os

    confrontos,

    de facto, no servem apenas para revelar as analogias e as dependncias

    directas, mas tambm as divergncias, as associaes de experincias

    diversas, os percursos por vezes complicados de pesquisa do artista.

    8

    A ATRIBUIAO

    Avanando pela via dos confrontos, que se ~ ferem principalmente ao

    estilo e s qualidades intrnsecas das caractersticas, o estudioso chega

    definio histrica da obra, atribuio. Com ela, coloca a obra no preciso

    mbito cultural em

    que

    foi realizada: nas condies artsticas

    de

    um local

    ou de uma poca, no mbito

    de uma

    escola ou

    da

    actividade de deter

    minado artista. Como j se disse, no basta verificar analogias temticas

    ou formais; necessrio reconstruir o processo de desenvolvimento de

    uma cultura figurativa, tendo

    em

    ateno que nela se operam frequente

    mente mudanas ou viragens radicais. Para darmos um nico exemplo,

    consideremos a pintura de Caravaggio; as obras juvenis, como o

    Repouso

    no Egipto ou a Madalena so pintadas com cores claras que do um efeito

    de luminosidade difusa, e as figuras tm atitudes compostas, quase sem

    movimento; nas obras

    da

    maturidade predominam

    os

    escuros, rasgados

    por efeitos chocantes de luz incidente, e as figuras tm frequentemente

    gestos resolutos, violentos. Neste caso, a mudana de estilo do artista

    descrita por fontes literrias; mas se as fontes silenciassem, poderia o

    estudioso

    chegar

    concluso

    de

    que

    dois grupos de

    obras

    to diversos so

    do mesmo artista?

    uma primeira anlise mostra que entre

    os

    dois grupos,

    alm das diferenas evidentes, existem afinidades ou consonncias. Elas

    revelam uma origem, um fundo cultural comum que no certamente

    romano

    ainda

    que os dois grupos

    de

    obras tenham sido com certeza feitos

    em Roma , mas sim lombardo-veneziano: nenhum outro artista setentrio

    nal trabalhando em Roma entre o fim

    do

    sculo

    XVI

    e o princpio

    do

    XVII, alm

    de

    Caravaggio, teria podido produzir

    obras

    com

    uma

    quali

    dade to elevada, to claramente expressivas de uma atitude polmica nos

    confrontos da cultura figurativa do maneirismo romano tardio. Entre

    os

    dois grupos de obras h uma espcie de contradio que no mera

    diversidade; as segundas assinalam uma ntida inverso de tendncia em

    relao s primeiras: so os sinais de uma crise que se desenrolou

    no

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    18/77

    interior da

    mesma

    conscincia em crise, e a de Caravaggio notoriamente

    uma conscincia em crise, em contnua e

    dura

    polmica, no s com o

    ambiente artstico do seu tempo, mas tambm consigo mesma.

    A atribuio no tem grande interesse quando se limita a baptizar uma

    obra, a catalog-la; mas tem um carcter de juzo histrico autntico e

    prprio

    quando

    corrige e precisa o quadro

    de

    uma determinada situao

    cultural.

    Toda

    a gente reconheceu sempre

    que

    o retbulo

    ucellai

    uma

    obra-chave para a histria de pintura toscana no fim do sculo XIII;

    porm, tem-se discutido longamente se o retbulo, seguramente devido a

    um mestre

    de

    primeira grandeza, se deve atribuir a Cimabue, florentino,

    ou a Duccio di Boninsegna, de Siena. Se bem que no tenham aparecido

    novos elementos documentais, hoje geralmente aceite a atribuio a

    Duccio: atravs de

    uma

    anlise mais aprofundada de situao artstica do

    tempo, e especialmente das relaes entre Florena e Siena, chegou-se

    concluso de que a

    obra

    no podia incluir-se na coerncia da actividade

    de Cimabue, e se inseria antes na actividade de Duccio, na

    poca

    da sua

    estada em Florena.

    Tambm a determinao da data implica a anlise histrica. Quando

    a data no est escrita na obra ou no fornecida por documentos credveis,

    pode ser estabelecida, pelo menos por aproximao, atravs do confronto

    da

    obra

    com

    o que

    veio

    antes e

    com

    o

    que

    veio depois, isto

    ,

    situando

    a obra

    em causa

    entre outras de

    que

    se conhece com segurana a data. Em

    suma, trata-se de colocar um facto numa concatenao histrica de factos,

    de compreender que experincias pressupe e que consequncias ter tido

    no trabalho posterior do prprio artista ou no ambiente cultural da poca.

    A atribuio e a datao no pressupem necessariamente o conheci

    mento da personalidade histrica

    do

    artista a que se referem: muitas vezes

    o historiador depara

    com

    obras

    ou

    grupos

    de

    obras

    que

    no

    julga

    poder

    atribuir a um artista

    j

    famoso, e

    que

    atribui a personalidades hipotticas,

    designando-as por

    um

    nome provisrio por exemplo, Mestre

    de

    Santa

    Ceclia, Mestre de Madalena, Mestre do Bambino Vispo , Mestre da

    Natividade de Citt di Castello, etc.). Por vezes, com o alargamento

    da

    investigao, chega-se a identificar o artista ou a reconhecer na obra

    designada

    por

    um nome provisrio o produto de uma fase ainda no

    estudada

    de

    um

    mestre famoso

    por

    outros motivos.

    Para o verdadeiro perito a atribuio e a datao so o ponto

    de

    chegada

    da pesquisa: um dos maiores do nosso sculo, Bernard Berenson, compi

    lou s resultados de muitos anos de assduo reconhecimento de igrejas

    italianas e de museus

    em

    todo o mundo numa srie de simples listas para

    cada artista, contendo as pinturas certas e aquelas por ele atribudas aos

  • 8/9/2019 guia de histria da arte - Giuglio Carlo Argan Maurizio Fagiolo

    19/77

    mestres

    do

    Renascimento italiano. O mesmo Berenson publicou o orpu

    dos desenhos florentinos. Outros investigadores e peritos reuniram em

    repertrios quase completos as pinturas murais e sobre madeira dos

    s c u l o ~

    XIII e XIV os pequenos bronzes e as medalhas

    do

    Renascimento,

    o ~

    exemplares mais significativos da cermica, de tecidos, etc. So

    r e c o l h ~

    preciosas de materiais aturadamente estudados, e constituem teis traba

    lhos preparatrios, mais do

    que

    tratados histricos. Profundidade

    de :

    investigao e densidade de pensamento bem diferentes assume a atribui

    o,

    no

    trabalho de peritos-historiadores como Pietro Toesca e Robertc

    Longhi: implicando uma leitura penetrante dos textos figurativos e

    individualizao das complexas componentes culturais da obra, e tambrr

    a recriao do delicado e tantas vezes imprevisvel processo pelo qual

    artista as combinou, a atribuio assume carcter de juzo crtico t

    histrico.

    Visando a recriao do percurso estilstico dos artistas, a pesquis