DIMENSIONAMENTO DE VIGAS CONSIDERANDO A PROTENSÃO … · 2019-09-05 · Fonte: (ABNT NBR6118,...

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DIMENSIONAMENTO DE VIGAS CONSIDERANDO A PROTENSÃO PARCIAL Automatic design of partially prestressed concrete beams Izaura de Vargas Martins (1); Lorenzo Augusto Ruschi e Luchi (2) (1) Mestre em Engenharia Civil, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória - ES, Brasil. e-mail: [email protected]; (P) Apresentador (2) Dr. Prof., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal do Espírito Santo e-mail: [email protected] Resumo: Este artigo apresenta uma ferramenta computacional para o dimensionamento de vigas parcialmente protendidas biapoiadas conforme a ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento. Para diferentes tipos de carregamento, distribuídos e pontuais, o programa realiza o pré-dimensionamento da força de protensão, calcula as perdas imediatas e progressivas, verifica o estado-limite de abertura de fissuras e o estado-limite último. O programa foi desenvolvido utilizando o Microsoft Excel e o Microsoft Visual Basic for Applications, apresenta interface gráfica com o usuário e geração de memoriais de cálculo, servindo como recurso didático no meio acadêmico tanto no nível de graduação como de pós- graduação. Os resultados obtidos são validados pela comparação com exemplos presentes na literatura. Palavras chaves: Vigas protendidas; protensão parcial; abertura de fissuras. Abstract: This work presents a computational program for the design of simply supported partially prestressed concrete beams according to NBR 6118: 2014. For different loads, the program calculates the initial prestress force and the instantaneous and time-dependent losses. Also verifies the limit state of cracking and the ultimate limit state. This program was developed using Microsoft Excel e o Microsoft Visual Basic for Applications, based on the software elaborated by Dominicini and Coelho (2014). It presents user graphical interface and design report, and can be used as a didactic resource in the academic environment at undergraduate and graduate levels. The results obtained are validated by comparison with examples in the literature. Keywords: prestressed beams; partially prestressed concrete; limit state of cracking.

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DIMENSIONAMENTO DE VIGAS CONSIDERANDO A PROTENSÃO PARCIAL

Automatic design of partially prestressed concrete beams

Izaura de Vargas Martins (1); Lorenzo Augusto Ruschi e Luchi (2)

(1) Mestre em Engenharia Civil, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória - ES, Brasil.

e-mail: [email protected]; (P) Apresentador

(2) Dr. Prof., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal do Espírito Santo

e-mail: [email protected]

Resumo: Este artigo apresenta uma ferramenta computacional para o dimensionamento de vigas parcialmente protendidas biapoiadas conforme a ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento. Para diferentes tipos de carregamento, distribuídos e pontuais, o programa realiza o pré-dimensionamento da força de protensão, calcula as perdas imediatas e progressivas, verifica o estado-limite de abertura de fissuras e o estado-limite último. O programa foi desenvolvido utilizando o Microsoft Excel e o Microsoft Visual Basic for Applications, apresenta interface gráfica com o usuário e geração de memoriais de cálculo, servindo como recurso didático no meio acadêmico tanto no nível de graduação como de pós-graduação. Os resultados obtidos são validados pela comparação com exemplos presentes na literatura.

Palavras chaves: Vigas protendidas; protensão parcial; abertura de fissuras.

Abstract: This work presents a computational program for the design of simply supported partially prestressed concrete beams according to NBR 6118: 2014. For different loads, the program calculates the initial prestress force and the instantaneous and time-dependent losses. Also verifies the limit state of cracking and the ultimate limit state. This program was developed using Microsoft Excel e o Microsoft Visual Basic for Applications, based on the software elaborated by Dominicini and Coelho (2014). It presents user graphical interface and design report, and can be used as a didactic resource in the academic environment at undergraduate and graduate levels. The results obtained are validated by comparison with examples in the literature.

Keywords: prestressed beams; partially prestressed concrete; limit state of cracking.

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1 INTRODUÇÃO

O concreto protendido tem sido muito utilizado na engenharia brasileira, o que torna

muito interessante o investimento no aperfeiçoamento dos métodos de cálculo e

dimensionamento dessas peças. Porém, há poucos programas que realizam o

dimensionamento de vigas parcialmente protendidas, seguindo a ABNT NBR 6118:2014

– Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento, e os que existem, geralmente são

comerciais.

Alguns trabalhos podem ser citados, Klein e Loriggio (2006), assim como Nacht

(2015) apresentam uma ferramenta computacional para o dimensionamento de vigas

protendidas, nos níveis de protensão completa e limitada, que verificam os estados-limites

de serviço.

Em Lazzari et al. (2013) é proposta uma ferramenta automática para o cálculo de

vigas de concreto submetidas à flexão, protensão completa, limitada e parcial, utilizando

a norma brasileira NBR 6118:2007 e a francesa Règles BPEL 91. Silva (2015) apresenta

o desenvolvimento de um programa para a verificação de seções poligonais de concreto

armado e protendido submetidas à flexão composta oblíqua. Labadan (2016) desenvolve

um programa para o dimensionamento de vigas contínuas protendidas pós-tracionadas.

Observa-se que o concreto protendido é amplamente estudado, entretanto, poucos

são os programas que abordam o nível de protensão parcial. Fato que contraria o mercado

atual, uma vez que a protensão parcial proporciona um aproveitamento mais racional dos

materiais, dosando-se convenientemente as armaduras ativas e passivas, como expõe

Emerick (2005).

Assim, este trabalho apresenta uma ferramenta computacional para o

dimensionamento de vigas parcialmente protendidas, que possa ser utilizada no meio

acadêmico como recurso didático adicional na disciplina Concreto Protendido. O

programa é desenvolvido utilizando o Microsoft Excel e o Microsoft Visual Basic for

Applications, a partir de Dominicini e Coelho (2014), que desenvolvem uma ferramenta

para o dimensionamento de vigas biapoiadas protendidas, para os níveis de protensão

completa e limitada, de acordo com a NBR 6118:2007.

2 PROTENSÃO PARCIAL

O nível de protensão parcial produz tensões de compressão mais brandas do que a

limitada e completa. É especificado para a pré-tração na classe de agressividade ambiental

I e pós-tração nas classes I e II. Deve-se verificar o estado-limite de serviço de abertura

das fissuras, com valor limite de 0,2 mm, para a combinação frequente.

Inicialmente, o programa determina a área de armaduras ativas e passivas

necessárias, bem como seu alojamento. Então, realiza a verificação da abertura das

fissuras na seção mais solicitada.

França (2001) e Cholfe e Bonilha (2013) apresentam roteiros para a verificação de

peças com protensão parcial, os quais foram utilizados como base para a dedução das

equações implementadas no programa, para o cálculo das tensões nas armaduras.

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Considera-se o diagrama linear do concreto comprimido, desprezando-se a sua

resistência à tração (ver Figuras 1 e 2).

Figura 1. Equilíbrio da seção transversal retangular no estádio II

Fonte: (Elaborada pelos autores, 2018)

Figura 2. Equilíbrio da seção transversal T no estádio II

Fonte: (Elaborada pelos autores, 2018)

Do equilíbrio das forças, em caso de protensão aderente, obtêm-se as Eq. (1) e (2),

para o calculo da tensão na armadura passiva para seções retangulares ou T com linha

neutra na mesa e para seções T com linha neutra na alma, respectivamente.

𝜎𝑠 =𝜀𝑝𝑟é 𝐸𝑝 𝐴𝑝

𝑏𝑐 . 𝑥2𝛼𝑒

𝑥

𝑑 − 𝑥+ 𝐴𝑠

′ 𝑥 − 𝑑′

𝑑 − 𝑥− 𝐴𝑠 −

𝐸𝑝

𝐸𝑠

𝑑𝑝 − 𝑥𝑑 − 𝑥

𝐴𝑝

(1)

𝜎𝑠 =𝜀𝑝𝑟é 𝐸𝑝 𝐴𝑝

12𝛼𝑒

𝑥

𝑑 − 𝑥 [𝑥. 𝑏𝑓 − (𝑥 − ℎ𝑓)

2

𝑥 (𝑏𝑓 − 𝑏𝑤)] + 𝐴𝑠′ 𝑥 − 𝑑′

𝑑 − 𝑥− 𝐴𝑠 −

𝐸𝑝

𝐸𝑠

𝑑𝑝 − 𝑥𝑑 − 𝑥

𝐴𝑝

(2)

Em que 𝜀𝑝𝑟é é o pré-alogamento dos cabos, 𝐸𝑝, 𝐴𝑝 e 𝑑𝑝 são o módulo de elasticidade,

área e altura útil da armadura ativa, respectivamente, 𝑏𝑐 é a largura da seção de concreto

comprimida, 𝑥 é a posição da linha neutra, 𝛼𝑒 é a relação entre os módulos de elasticidade

do aço e do concreto, 𝐸𝑠, 𝐴𝑠 e 𝑑 são o módulo de elasticidade, a área e altura útil da

armadura passiva, respectivamente, 𝐴𝑠′ e 𝑑′ são a área e altura útil da armadura dupla,

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respectivamente, 𝑏𝑓 e ℎ𝑓 são a largura e altura da mesa, respectivamente, e 𝑏𝑤 é a largura

da alma.

Para protensão não aderente, não há compatibilidade de deformações entre a

armadura ativa e a seção de concreto, portanto, devem ser utilizadas as Eq. (3) e (4), para

seções retangulares ou T com linha neutra na mesa e para seções T com linha neutra na

alma, respectivamente.

𝜎𝑠 =𝜀𝑝𝑟é 𝐸𝑝 𝐴𝑝

𝑏𝑐 . 𝑥2𝛼𝑒

𝑥

𝑑 − 𝑥+ 𝐴𝑠

′ 𝑥 − 𝑑′

𝑑 − 𝑥− 𝐴𝑠

(3)

𝜎𝑠 =𝜀𝑝𝑟é 𝐸𝑝 𝐴𝑝

12𝛼𝑒

𝑥

𝑑 − 𝑥[𝑥. 𝑏𝑓 −

(𝑥 − ℎ𝑓)2

𝑥 (𝑏𝑓 − 𝑏𝑤)] + 𝐴𝑠′ 𝑥 − 𝑑′

𝑑 − 𝑥− 𝐴𝑠

(4)

Do equilíbrio dos momentos, em caso de protensão aderente, obtêm-se as Eq. (5) e

(6), para o calculo da tensão na armadura passiva para seções retangulares ou T com linha

neutra na mesa e para seções T com linha neutra na alma, respectivamente.

𝜎𝑠 =𝑀𝐶𝐹 − 𝜀𝑝𝑟é 𝐸𝑝 𝐴𝑝(𝑑𝑝 − 𝑦𝑐𝑔)

𝑏𝑐 . 𝑥2𝛼𝑒

𝑥

𝑑 − 𝑥(𝑦𝑐𝑔 − 𝑥 3⁄ ) + 𝐴𝑠

′ 𝑥 − 𝑑′

𝑑 − 𝑥(𝑦𝑐𝑔 − 𝑑′) + 𝐴𝑠(𝑑 − 𝑦𝑐𝑔) +

𝐸𝑝

𝐸𝑠

𝑑𝑝 − 𝑥𝑑 − 𝑥

𝐴𝑝(𝑑𝑝 − 𝑦𝑐𝑔)

(5)

𝜎𝑠

=𝑀𝐶𝐹 − 𝜀𝑝𝑟é 𝐸𝑝 𝐴𝑝(𝑑𝑝 − 𝑦𝑐𝑔)

1 2𝛼𝑒

𝑥

𝑑 − 𝑥 (𝑥 𝑏𝑓 (𝑦𝑐𝑔 −

𝑥3

) −(𝑥 − ℎ𝑓)

2

𝑥 (𝑏𝑓 − 𝑏𝑤) (𝑦𝑐𝑔 −

𝑥3

+ℎ𝑓

3)) + 𝐴𝑠

′ 𝑥 − 𝑑′

𝑑 − 𝑥(𝑦𝑐𝑔 − 𝑑′) + 𝐴𝑠(𝑑 − 𝑦𝑐𝑔) + ( 𝐴𝑝

𝐸𝑝

𝐸𝑠 𝑑𝑝 − 𝑥

𝑑 − 𝑥) (𝑑𝑝 − 𝑦𝑐𝑔)

(6)

Em que 𝑀𝐶𝐹 é momento fletor na combinação frequente, 𝑦𝑐𝑔 é a altura do centroide

a partir do topo da seção transversal.

Para protensão não aderente, não há compatibilidade de deformações entre a

armadura ativa e a seção de concreto, portanto, devem ser utilizadas as Eq. (7) e (8), para

seções retangulares ou T com linha neutra na mesa e para seções T com linha neutra na

alma, respectivamente.

𝜎𝑠 =𝑀𝐶𝐹 − 𝜀𝑝𝑟é 𝐸𝑝 𝐴𝑝(𝑑𝑝 − 𝑦𝑐𝑔)

𝑏𝑐 . 𝑥2𝛼𝑒

𝑥

𝑑 − 𝑥 (𝑦𝑐𝑔 − 𝑥 3⁄ ) + 𝐴𝑠′ 𝑥 − 𝑑′

𝑑 − 𝑥 (𝑦𝑐𝑔 − 𝑑′) + 𝐴𝑠(𝑑 − 𝑦𝑐𝑔) (7)

𝜎𝑠 =𝑀𝐶𝐹 − 𝜀𝑝𝑟é 𝐸𝑝 𝐴𝑝(𝑑𝑝 − 𝑦𝑐𝑔)

1 2𝛼𝑒

𝑥

𝑑 − 𝑥 (𝑥 𝑏𝑓 (𝑦𝑐𝑔 −

𝑥3

) −(𝑥 − ℎ𝑓)

2

𝑥 (𝑏𝑓 − 𝑏𝑤) (𝑦𝑐𝑔 −

𝑥3

+ℎ𝑓

3)) + 𝐴𝑠

′ 𝑥 − 𝑑′

𝑑 − 𝑥 (𝑦𝑐𝑔 − 𝑑′) + 𝐴𝑠(𝑑 − 𝑦𝑐𝑔)

(8)

As Equações (1) e (5), proporcionam o cálculo da tensão na armadura passiva e

posição da linha neutra de forma iterativa para protensão aderente em seções retangulares

ou T com linha neutra na mesa. E as Equações (2) e (6) permitem calcular a tensão na

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armadura passiva e posição da linha neutra para seções T com linha neutra na alma. A

resposta será o par 𝜎𝑠 e x que atender simultaneamente as duas equações.

Assim, como as Eq. (3) e (7), proporcionam o cálculo da tensão na armadura passiva

e posição da linha neutra de forma iterativa para protensão não aderente em seções

retangulares ou T com linha neutra na mesa. E as Equações (4) e (8) permitem calcular a

tensão na armadura passiva e posição da linha neutra em seções T com linha neutra na

alma.

Determinada a tensão 𝜎𝑠, deve-se calcular o valor característico da abertura de

fissuras wk conforme a NBR 6118:2014. Assim, para cada elemento ou grupo de

elementos de armaduras passiva e ativa aderente que controla a fissuração, excluídos

cabos em bainhas, considera-se uma área da região de envolvimento do concreto,

constituída por retângulos com lados à distância máxima de 7,5 ϕ do eixo de cada

elemento de armadura, ver Figura 3.

Figura 3. Concreto de envolvimento da armadura

Fonte: (ABNT NBR6118, 2014)

O valor característico da abertura de fissuras, calculado para cada parte da região de

envolvimento, deve ser o menor dos obtidos nas Eq.(9) e (10).

𝑤𝑘 =𝜙𝑖

12,5𝜂1

𝜎𝑠𝑖

𝐸𝑠𝑖

3𝜎𝑠𝑖

𝑓𝑐𝑡𝑚 (9)

𝑤𝑘 =𝜙𝑖

12,5𝜂1

𝜎𝑠𝑖

𝐸𝑠𝑖(

4

𝜌𝑟𝑖+ 45) (10)

Em que 𝜎𝑠𝑖, 𝜙𝑖, 𝐸𝑠𝑖 e 𝜌𝑟𝑖 são definidos para cada área de envolvimento em exame;

𝐴𝑐𝑟𝑖 é a área da região de envolvimento protegida pela barra 𝜙𝑖; 𝐸𝑠𝑖 é o módulo de

elasticidade do aço da barra considerada; 𝜙𝑖 é o diâmetro da barra que protege a região

de envolvimento considerada; 𝜌𝑟𝑖 é a taxa de armadura passiva ou ativa aderente, exceto

em bainhas, em relação à área da região de envolvimento 𝐴𝑐𝑟𝑖; 𝜎𝑠𝑖 é o acréscimo de tensão

entre o estado-limite de descompressão e o carregamento frequente, no centro de

gravidade da armadura, calculado no estádio II, considerando toda a armadura ativa; e 𝜂1

é o coeficiente de conformação superficial da armadura considerada.

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3 FUNCIONAMENTO GERAL DO PROGRAMA

O programa desenvolvido apresenta tela inicial com uma barra de ferramentas com

ícones para entrada de dados e geração de memórias de cálculo, ver Figura 4.

Figura 4. Barra de ferramentas da tela inicial

Fonte: (Elaborada pelos autores, 2018)

Inicialmente, o usuário deve definir a geometria da seção transversal, o vão da viga

e o número de seções de análise. Então, deve-se informar a resistência característica à

compressão do concreto, a resistência à compressão do concreto no momento da

protensão e o módulo de elasticidade da armadura ativa, ver Figura 5.

Figura 5. Definição das propriedades geométricas da seção e materiais

Fonte: (Elaborada pelos autores, 2018)

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Na próxima janela, ver Figura 6, define-se a classe de agressividade ambiental e o

nível de protensão. Para o caso de protensão parcial, deve-se informar a porcentagem do

momento permanente a balancear, para o cálculo da área de armadura ativa necessária.

Então, o usuário deve definir os carregamentos permanentes e acidentais, distribuídos e

ou concentrados. Além disso, deve ser informada a excentricidade e porcentagem

estimada de perda para o pré-dimensionamento da força de protensão inicial necessária.

Figura 6. Definição do nível de protensão e cargas

Fonte: (Elaborada pelos autores, 2018)

O programa calcula a força de protensão inicial necessária e fornece opções para o

aço a ser adotado, realizada a escolha, e é calculado o número necessário de fios,

cordoalhas ou barras. O usuário deve definir em quantos cabos estes elementos devem

ser alojados e definir o perfil dos cabos, ver Figura 7 e 8. Para os níveis de protensão

completa e limitada, o programa fornece também o fuso limite para os cabos.

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Figura 7. Definição da armadura ativa

Fonte: (Elaborada pelos autores, 2018)

Figura 8. Definição da geometria dos cabos

Fonte: (Elaborada pelos autores, 2018)

Em seguida são calculadas as perdas de protensão imediatas e progressivas. O

programa calcula a força de protensão ao longo do cabo e tensões nas seções de análise

após as perdas. Para protensão parcial, nas seções que ultrapassam o estado-limite de

formação de fissuras na combinação frequente, emite-se um aviso indicando a verificação

do estado-limite de abertura das fissuras, que é analisado pelo programa posteriormente.

O usuário deve informar a largura da alma, dimensões da mesa, altura útil para as

armaduras passiva e ativa, área de armadura dupla e sua altura útil. Então, o programa

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realiza o dimensionamento no estado-limite último e gera um relatório com a área de aço

necessária em cada seção de análise (não é considerada a decalagem).

Obtida a área de armadura passiva necessária, realiza-se a verificação do estado-

limite de abertura das fissuras na seção mais solicitada. Inicialmente, o usuário deve

definir o diâmetro da armadura passiva longitudinal e da armadura transversal, bem como

o número de ramos dos estribos. A partir destes dados, o programa aloja a armadura

longitudinal e indica quantas camadas serão utilizadas e o número de barras por camada,

assim é calculada a área da região de envolvimento da armadura.

Em seguida, o programa calcula a tensão na armadura passiva, s, e a posição da

linha neutra. Então, é calculado automaticamente o valor da abertura das fissuras, pelas

Eq. (9) e (10). Assim, é verificado o estado-limite de abertura das fissuras, ver Figura 9.

Figura 9 – Verificação da abertura das fissuras

Fonte: (Elaborada pelos autores, 2018)

4 APLICAÇÕES NUMÉRICAS

A seguir são apresentadas duas aplicações numéricas presentes na literatura, cujos

resultados foram comparados com os obtidos no programa desenvolvido neste trabalho.

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4.1 Aplicação numérica 1

França (2001) apresenta o cálculo da tensão na armadura passiva e abertura de

fissuras para uma viga de seção transversal retangular, conforme Figura 10. Seja

εpré=5 ‰, Ep = 200 GPa, armadura aderente em bainha CP 190 RB, Es = 210 GPa, Ecs =

25 GPa, fct = fctm = 2,0 MPa, e o momento fletor na combinação frequente igual a 245

kN.m.

Figura 10. Aplicação numérica 1: seção transversal da viga

Fonte: (Adaptada de França, 2001)

Para desenvolvimento desta aplicação numérica no programa, foi adotado vão de 15

metros com carregamento permanente distribuído de 4,02 kN/m, que somado ao peso

próprio da viga, resulta em MCF = 245 kN.m. Para a obtenção da área de armadura ativa

indicada, foi adotado o balanceamento de 40% do momento devido ao carregamento

permanente, resultando no alojamento de 4 cordoalhas CP 190 RB 12,7 mm. Arbitrou-se

εpré=5 ‰, conforme indicado no problema.

Os resultados obtidos por França (2001) e pelo programa são apresentados na Tabela

1, observa-se que são muito próximos. A abertura característica das fissuras é inferior a

0,2 mm, portanto, está respeitado o estado-limite de abertura das fissuras.

Tabela 1. Resultados: aplicação numérica 1

França (2001) Programa

Área de armadura ativa Ap (cm²) 4,0 4,056

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Área de armadura passiva adotada As (cm²) 3,0 3,14

Alojamento da armadura passiva 2 12,5 mm + 1 8 mm 4 10 mm

Posição da linha neutra x (cm) 34,73 35,17

Deformação no concreto εc 0,42‰ 0,42‰

Acréscimo de alongamento na armadura ativa ∆εp 0,37‰ 0,35‰

Alongamento na armadura passiva εs 0,43‰ 0,42‰

Tensão no concreto σc (kN/cm²) 1,05 1,05

Tensão na armadura ativa σp (kN/cm²) 107,33 106,99

Tensão na armadura passiva σs (kN/cm²) 8,97 8,73

Resultante do concreto Nc (kN) 456,23 461,40

Resultante da armadura ativa Np (kN) 429,32 433,99

Resultante da armadura passiva Ns (kN) 26,91 27,41

Área de envolvimento das armaduras Acri (cm²) 359,38 312,5

Abertura característica das fissuras w (mm) 0,03 0,019

Verifica-se que ocorre uma diferença entre os valores das áreas das regiões de

envolvimento das armaduras, o que se deve ao fato de terem sido adotados alojamentos

com barras de diâmetros distintos. França (2001) adota duas barras com diâmetro de 12,5

mm e uma de 8 mm, enquanto o programa utiliza 4 barras com diâmetro de 10 mm. Os

cálculos das áreas de envolvimento das armaduras desenvolvido por França (2001) e pelo

programa são apresentados nas Eq. (11) e (12), respectivamente.

𝐴𝑐𝑟𝑖 = 𝑏𝑤 [(ℎ − 𝑑) + 7,5∅] = 25[(70 − 65) + 7,5 × 1,25] = 359,38 𝑐𝑚2 (11)

𝐴𝑐𝑟𝑖 = 𝑏𝑤 [(ℎ − 𝑑) + 7,5∅] = 25[(70 − 65) + 7,5 × 1,0] = 312,5 𝑐𝑚2 (12)

Salienta-se, também, que os valores característicos da abertura das fissuras foram

calculados por equações distintas. França (2001) utiliza as Eq. (13) e (14), enquanto o

programa segue a NBR 6118:2014, ver Eq. (15) e (16). Fator que influencia diretamente

nos resultados.

𝑤𝑘 =1

10

𝜙𝑖

(2𝜂𝑏 − 0,75)

𝜎𝑠𝑖

𝐸𝑠𝑖

3𝜎𝑠𝑖

𝑓𝑐𝑡𝑚

= 1

10×

12,5𝑚𝑚

(2 × 1,5 − 0,75)×

8,97

21000×

3 × 8,97

0,2= 0,03𝑚𝑚 (13)

𝑤𝑘 =1

10

𝜙𝑖

(2𝜂𝑏 − 0,75)

𝜎𝑠𝑖

𝐸𝑠𝑖

(4

𝜌𝑟𝑖

+ 45)

= 1

10×

12,5𝑚𝑚

(2 × 1,5 − 0,75)×

8,97

21000× (

4

(3 358,38⁄ )+ 45) = 0,12𝑚𝑚

(14)

𝑤𝑘 =𝜙𝑖

12,5𝜂1

𝜎𝑠𝑖

𝐸𝑠𝑖

3𝜎𝑠𝑖

𝑓𝑐𝑡𝑚

=10𝑚𝑚

12,5 × 2,25×

8,73

21000×

3 × 8,73

0,2= 0,019𝑚𝑚 (15)

𝑤𝑘 =𝜙𝑖

12,5𝜂1

𝜎𝑠𝑖

𝐸𝑠𝑖

(4

𝜌𝑟𝑖

+ 45) =10𝑚𝑚

12,5 × 2,25×

8,73

21000× (

4

(3,14 312,5⁄ )+ 45) = 0,065𝑚𝑚 (16)

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4.2 Aplicação numérica 2

França (2001) apresenta, também, o cálculo da tensão na armadura passiva e abertura

de fissuras para uma viga de seção T, conforme a Figura 11. Seja o vão da viga L = 18 m,

a força de protensão após as perdas Pinf = 2238 kN, Ep = 200 GPa, armadura não aderente,

Es = 210 GPa, Ecs = 25 GPa, fctm = 2,4 MPa, fct = 1,2 fctm = 2,9 MPa, g0k = 23,5 kN/m, g1k

= 14,0 kN/m, qk = 28 kN/m e 1 = 2 = 0,3.

Figura 11. Aplicação numérica 2: seção transversal da viga

Fonte: (Adaptada de França, 2001)

Para a obtenção da área de armadura ativa indicada, foi adotado o balanceamento de

77% do momento devido ao carregamento permanente, resultando no alojamento de 15

cordoalhas CP 190 RB 15,2 mm. Foi adotada a mesma armadura passiva indicada no

problema.

Os resultados obtidos por França (2001) e pelo programa são apresentados na Tabela

2, observa-se que os resultados são muito próximos. Salienta-se que, como no exemplo

anterior, as armaduras passivas foram alojadas em diâmetros diferentes e os valores

característicos das aberturas das fissuras foram calculados por equações distintas. A

abertura característica das fissuras é inferior a 0,2 mm, portanto, está respeitado o estado-

limite de abertura das fissuras.

Tabela 2. Resultados: aplicação numérica 2

França (2001) Programa

Área de armadura ativa Ap (cm²) 21,6 21,53

Área de armadura passiva adotada As (cm²) 50,0 50,27

Área de armadura dupla adotada As’ (cm²) 4,0 4,0

Posição da linha neutra x (cm) 33,83 33,66

Deformação no concreto 𝜀𝑐 0,47‰ 0,475‰

Tensão na armadura passiva 𝜎𝑠 (kN/cm²) 14,12 14,34

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Tensão na armadura dupla 𝜎𝑠

′ (kN/cm²) -8,45 -8,49

Abertura característica das fissuras w (mm) 0,06 0,048

5 CONCLUSÃO

O programa desenvolvido é capaz de realizar o dimensionamento de vigas

parcialmente protendidas biapoiadas de maneira satisfatória, verificando o estado-limite

de aberturas das fissuras, área ainda pouco explorada pelos programas acadêmicos. Os

resultados obtidos pelo programa são muito próximos aos exemplos apresentados na

literatura. A ferramenta apresenta interface gráfica com o usuário, o que facilita e amplia

sua utilização. A geração de relatórios e memórias de cálculo a torna mais didática,

possibilitando sua adoção como recurso auxiliar no meio acadêmico tanto no nível de

graduação como pós-graduação. O programa também realiza o dimensionamento à força

cortante e alojamento dos estribos ao longo da viga, além do cálculo da flecha na seção

mais solicitada. Futuramente pretende-se, ainda, expandi-lo para análise e

dimensionamento de vigas hiperestáticas e lajes.

REFERÊNCIAS

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