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Índice

Princípios Gerais (1990) ............................................................................................................................. 5

O Carisma CVX – 1ª parte (2001) ..................................................................................................... 13

O Carisma CVX – 2ª parte (1999) .................................................................................................... 57

A Nossa Missão Comum (1999) ......................................................................................................... 83

Plano de Formação da CVX-P (2004) ........................................................................................... 95

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Princípios Gerais da Comunidade de Vida Cristã

Aprovados pela Assembleia Geral em 7 de Setembro de 1990

Confirmados pela Santa Sé em 3 de Dezembro de 1990

Preâmbulo [1-3]........................................................................................................................................... 7 Parte I: O Nosso Carisma [4-9] ............................................................................................ 7 Parte II: Vida e Organização da Comunidade [10-15]................................ 9 Parte III: Aceitação dos Princípios Gerais [16-17] .......................................... 11

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Preâmbulo

1. As Três Pessoas Divinas, contemplando toda a Humanidade, em tantas divisões peca-minosas, decidem dar-se completamente a todos os homens e mulheres e libertá-los de todas as suas cadeias. Por amor, o Verbo encarnou e nasceu de Maria, a Virgem pobre de Nazaré. Inserido entre os pobres e partilhando com eles a sua condição, Jesus convida-nos a todos a entregarmo-nos continuamente a Deus e a instaurar a unidade no seio da nossa família humana. Este dom que Deus nos faz, e a nossa resposta, continua até hoje, sob a acção do Espírito Santo, em todas as nossas circunstâncias particulares. Por isso, nós, mem-bros da Comunidade de Vida Cristã, escrevemos estes Princípios Gerais para nos ajudarem a fazer nossas as opções de Jesus Cristo e a participar por Ele, com Ele e n’Ele, nesta iniciativa de amor que expressa a promessa de Deus de fidelidade para sempre. 2. Porque a nossa Comunidade é um estilo de vida cristã, estes Princípios devem ser interpretados não tanto segundo a letra deste texto, mas antes pelo espírito do Evangelho e a lei interior do amor. Esta lei, que o Espírito inscreve em nossos corações, expressa-se a si mesma de maneira nova em cada situação da vida diária. Respeita o que há de singular em cada vocação pessoal e possibilita-nos ser abertos e livres, sempre à disposição de Deus. Desafia-nos a tomar consciência das nossas graves responsabilidades, a buscar constante-mente respostas às necessidades dos nossos tempos e a trabalhar juntos com todo o Povo de Deus e todas as pessoas de boa vontade para o progresso e a paz, a justiça e a caridade, a liberdade e a dignidade de todos. 3. A Comunidade de Vida Cristã é uma associação mundial de direito público cujo centro executivo se encontra actualmente em Roma. É a continuação das Congregações Marianas, iniciadas por Jean Leunis S.J. e aprovadas oficialmente pela primeira vez pela bula do Papa Gregório XIII, Omnipotentis Dei, de 5 de Dezembro de 1584. Remontando além das Congre-gações Marianas, vemos a nossa origem nesses grupos de leigos que se desenvolveram depois de 1540 em diferentes partes do mundo, através da iniciativa de Santo Inácio de Loyola e dos seus companheiros. Vivemos este estilo de vida cristã em alegre comunhão com todos aqueles que nos precederam, agradecidos pelos seus esforços e realizações apostóli-cos. No amor e na oração, associamo-nos a todos estes homens e mulheres da nossa tradi-ção espiritual que nos foram propostos pela Igreja como amigos e intercessores válidos que nos ajudam no cumprimento da nossa missão.

Parte I: O Nosso Carisma

4. A Nossa Comunidade é formada por cristãos: homens e mulheres, adultos e jovens, de todas as condições sociais que desejam seguir Jesus Cristo mais de perto e trabalhar com Ele na construção do Reino, e reconheceram na Comunidade de Vida Cristã a sua particular vocação na Igreja. O nosso objectivo é tornarmo-nos cristãos comprometidos, dando teste-munho, dentro da Igreja e da sociedade, dos valores humanos e evangélicos que afectam a dignidade da pessoa, o bem-estar da família e a integridade da criação. Estamos particular-mente conscientes da necessidade premente de trabalhar pela justiça através de uma opção preferencial pelos pobres e de um estilo de vida simples, que expresse a nossa liberdade e

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solidariedade com eles. A fim de preparar mais eficazmente os nossos membros para o tes-temunho e o serviço apostólico, especialmente no nosso ambiente diário, reunimos em comunidade pessoas que sentem uma necessidade mais urgente de unificar a sua vida humana em todas as suas dimensões com a plenitude da sua fé cristã de acordo com o nos-so carisma. Procuramos atingir esta unidade de vida, em resposta ao chamamento de Cristo, a partir de dentro do mundo em que vivemos. 5. A espiritualidade da nossa Comunidade está centrada em Cristo e na participação no Mistério Pascal. Brota da Sagrada Escritura, da liturgia, do desenvolvimento doutrinal da Igreja e da revelação da vontade de Deus através dos acontecimentos do mundo de hoje. Dentro do contexto destas fontes universais, consideramos os Exercícios Espirituais de Santo Inácio como a fonte específica e o instrumento característico da nossa espiritualidade. A nos-sa vocação chama-nos a viver esta espiritualidade que nos abre e nos dispõe para qualquer desejo de Deus em cada situação concreta da nossa vida diária. Reconhecemos particular-mente a necessidade da oração e do discernimento, pessoal e comunitário, do exame de consciência diário e do acompanhamento espiritual, como meios importantes para buscar e encontrar a Deus em todas as coisas. 6. A união com Cristo leva à união com a Igreja onde Cristo, aqui e agora, continua a sua missão de salvação. Tornando-nos sensíveis aos sinais dos tempos e aos movimentos do Espírito, seremos mais capazes de encontrar a Cristo em todas as pessoas e em todas as situações. Partilhando a riqueza de ser membros da Igreja, participamos na liturgia, medi-tamos a Escritura e aprendemos, ensinamos e promovemos a doutrina cristã. Trabalhamos junto com a hierarquia e outros líderes eclesiais, motivados por uma comum preocupação pelos problemas e progresso de todas as pessoas e abertos às situações em que a Igreja se encontra hoje. Este sentido de Igreja impele-nos a uma colaboração criativa e concreta na obra de fazer avançar o Reino de Deus na terra, e inclui uma disponibilidade para partir e servir onde as necessidades da Igreja assim o peçam. 7. O dom de nós mesmos encontra a sua expressão num compromisso pessoal com a Comunidade Mundial, através de uma comunidade local livremente escolhida. Esta comuni-dade local, centrada na Eucaristia, é uma experiência concreta de unidade no amor e na acção. De facto, cada uma das nossas comunidades é uma reunião de pessoas em Cristo, uma célula do seu Corpo Místico. Estamos vinculados pelo nosso compromisso comum, o nosso estilo de vida comum, e pelo nosso reconhecimento e amor a Maria como nossa mãe. A nossa responsabilidade em desenvolver os vínculos da comunidade não pára na comunida-de local, mas estende-se à Comunidade de Vida Cristã Nacional e Mundial, às comunidades eclesiais de que fazemos parte (paróquia, diocese), a toda a Igreja e a todas as pessoas de boa vontade. 8. Como membros do Povo de Deus peregrino, recebemos de Cristo a missão de ser suas testemunhas diante de todas as pessoas, pelas nossas atitudes, palavras e acções, identifi-cando-nos com a sua missão de anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, aos cegos dar a vista, mandar em liberdade os oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor. A nossa vida é essencialmente apostólica. O campo da missão da CVX não conhece limites: estende-se à Igreja e ao mundo, a fim de levar o evangelho da salvação a todos, de servir as pessoas e a sociedade, abrindo os corações à conversão e lutando pela transformação das estruturas opressoras.

a) Cada um de nós é chamado por Deus para fazer presente a Cristo e a sua acção sal-

vadora no nosso ambiente. Este apostolado pessoal é indispensável para difundir o Evangelho de uma maneira duradoura e profunda no meio da grande diversidade de pessoas, lugares e situações.

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b) Ao mesmo tempo, exercitamos um apostolado corporativo ou de grupo numa grande variedade de formas, seja através da acção do grupo, iniciada ou sustentada pela Comunidade através de estruturas adequadas, ou através do envolvimento dos membros em organizações e esforços seculares e religiosos já existentes.

c) A Comunidade ajuda-nos a viver este compromisso apostólico nas suas diferentes

dimensões e a estar sempre abertos ao que é mais urgente e universal, particular-mente através da “Revisão de Vida” e do discernimento pessoal e comunitário. Ten-tamos dar um sentido apostólico até às realidades mais humildes da vida quotidiana.

d) A Comunidade urge-nos a proclamar a Palavra de Deus e a trabalhar pela reforma

das estruturas da sociedade, participando nos esforços para libertar as vítimas de todo o tipo de discriminação e especialmente para abolir as diferenças entre ricos e pobres. Queremos contribuir, a partir de dentro, para a evangelização das culturas. Desejamos fazer tudo isto num espírito ecuménico, prontos a colaborar naquelas ini-ciativas que favoreçam a unidade entre os cristãos. A nossa vida encontra a sua per-manente inspiração no Evangelho de Cristo pobre e humilde.

9. Uma vez que a espiritualidade da nossa Comunidade está centrada em Cristo, vemos o papel de Maria em relação a Ele: Ela é o modelo da nossa colaboração na missão de Cristo. A cooperação de Maria com Deus começa com o seu “sim” no mistério da Anunciação-Encarnação. O seu serviço efectivo, como se expressa na sua visita a Isabel, e a sua solida-riedade com os pobres, como aparece no Magnificat, fazem dela uma inspiração para a nossa acção pela justiça no mundo hoje. A cooperação de Maria na missão de Seu Filho, continuada ao longo de toda a sua vida, inspira-nos a uma entrega total a Deus em união com Maria que, aceitando os desígnios de Deus, se tornou nossa mãe e mãe de todos. Assim, confir-mamos a nossa própria missão de serviço ao mundo, recebida no baptismo e na confirma-ção. Honramos Maria, a Mãe de Deus, de uma maneira especial, e confiamos na sua inter-cessão para o cumprimento pleno da nossa vocação.

Parte II: Vida e Organização da Comunidade 10. Membros

Tornar-se um membro da Comunidade de Vida Cristã pressupõe uma vocação pessoal. Durante um período de tempo, determinado nas Normas Gerais, o candidato é iniciado no estilo de vida próprio da CVX. Este tempo é oferecido ao candidato e à Comunidade para discernirem a vocação dele. Uma vez tomada a decisão e aprovada pela Comunidade, o novo membro assume um compromisso temporário e, com o auxílio da Comunidade, comprova a sua aptidão para viver de acordo com o fim e o espírito da CVX. Depois de um período de tempo conveniente, determinado pelas Normas Gerais, segue-se o compromisso permanen-te.

11. Laços Comunitários

Como primeiro meio de formação e continuado crescimento, os membros reúnem-se regu-larmente numa comunidade local estável, que assegure a cada o membro uma partilha pro-funda da sua fé e da sua vida, uma verdadeira atmosfera de comunidade e um sério com-promisso com a missão e o serviço.

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12. Estilo de Vida

a) O estilo de vida da Comunidade de Vida Cristã compromete os seus membros, com o auxílio da comunidade, a buscar um contínuo crescimento pessoal e social que seja espiritual, humano e apostólico. Na prática, isto envolve participação na Eucaristia sempre que possível; uma vida sacramental activa; prática diária da oração pessoal, especialmente daquela que se baseia na Sagrada Escritura; discernimento por meio da revisão diária da própria vida e, se possível, direcção espiritual regular; uma renovação interior anual, de acordo com as fontes da nossa espiritualidade; e amor à Mãe de Deus.

b) Já que a Comunidade de Vida Cristã pretende trabalhar com Cristo para fazer avançar

o Reino de Deus, todos os membros individuais são chamados a uma participação acti-va no vasto campo do serviço apostólico. O discernimento apostólico, tanto individual como comunitário, é o caminho ordinário para descobrir a melhor maneira de tornar Cristo presente, concretamente, no nosso mundo. A nossa missão ampla e exigente requer de cada membro uma vontade de participar na vida social e política e um esfor-ço por desenvolver as qualidades humanas e as capacidades profissionais, a fim de se tornar um trabalhador mais competente e uma testemunha mais convincente. Além disso, requer também simplicidade em todos os aspectos da vida, para seguir mais de perto a Cristo na Sua pobreza e para preservar a liberdade interior apostólica.

c) Finalmente, cada um assume a responsabilidade de participar nas reuniões e outras

actividades da Comunidade, e de ajudar e encorajar os outros membros a realizar a sua vocação pessoal, sempre prontos todos para dar e receber conselho e ajuda, como amigos no Senhor.

13. Governo

a) A Comunidade Mundial de Vida Cristã é governada pela Assembleia Geral, que deter-mina normas e políticas, e pelo Conselho Executivo, responsável pela sua implementa-ção ordinária. A composição e funções destes organismos estão especificadas nas Normas Gerais.

b) A Comunidade Nacional, constituída de acordo com as Normas Gerais, compreende

todos aqueles membros que, em determinado país, se esforçam por viver o estilo de vida e a missão CVX. A Comunidade Nacional é governada por uma Assembleia Nacio-nal e um Conselho Executivo. Os seus objectivos são assegurar as estruturas e os pro-gramas de formação necessários para responder efectivamente ao que é preciso para um desenvolvimento harmonioso de toda a Comunidade, e para uma efectiva partici-pação da Comunidade de Vida Cristã na missão da Igreja.

c) As Comunidades Nacionais podem, se acharem útil, estabelecer ou aprovar comunida-

des ou centros regionais ou diocesanos que agrupem as comunidades locais de uma determinada região, diocese, cidade ou instituição. São constituídas segundo as Nor-mas Gerais e os Estatutos Nacionais.

14. Assistente Eclesiástico

A Comunidade de Vida Cristã tem em cada nível um assistente eclesiástico, designado de acordo com o Direito Canónico e as Normas Gerais. O assistente toma parte na vida da comunidade aos seus vários níveis, de acordo com as Normas Gerais. Trabalhando em cola-boração com outros responsáveis da comunidade, ele é principalmente responsável pelo desenvolvimento cristão de toda a comunidade, e ajuda os seus membros a crescer nos

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caminhos de Deus, especialmente através dos Exercícios Espirituais. Em virtude da missão que lhe foi confiada pela hierarquia, cuja autoridade representa, tem também especial res-ponsabilidade pelas questões doutrinais e pastorais e pela harmonia própria de uma comuni-dade cristã.

15. Propriedade

A Comunidade de Vida Cristã em cada nível pode, se for útil, possuir e administrar proprie-dades, como pessoa eclesiástica de Direito Público, de acordo com o Direito Canónico e a lei civil do país em questão. A posse e administração dessas propriedades pertencem à comuni-dade específica.

Parte III: Aceitação dos Princípios Gerais 16. Modificação dos Princípios Gerais

Os Princípios Gerais, que expressam a identidade fundamental e o carisma da Comunidade de Vida Cristã e, por conseguinte, a sua aliança com a Igreja, foram aprovados pela Assem-bleia Geral e confirmados pela Santa Sé como Estatutos fundamentais desta Comunidade Mundial. Emendas a estes Princípios Gerais requerem voto por maioria de dois terços na Assembleia Geral e confirmação por parte da Santa Sé.

17. Suspensão e Exclusão

A aceitação dos Princípios Gerais da Comunidade de Vida Cristã é um requisito para ser membro da CVX em qualquer nível. A falha grave da sua observância, por parte de um membro ou de uma comunidade local, é causa de suspensão e eventual exclusão decidida pela Comunidade Nacional. A falha grave da Comunidade Nacional em intervir quando uma das suas comunidades locais não observa os Princípios Gerais é causa para a sua suspensão e eventual exclusão da Comunidade Mundial. Permanece sempre o direito de apelo de uma decisão local ou regional à Comunidade Nacional, e de uma decisão nacional à Comunidade Mundial.

tradução revista por Hermínio Rico sj., Agosto 2005

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O Carisma CVX (1ª parte)

Apresentado na XIII Assembleia Geral Mundial – Itaici, Julho 1998

Revisto em Dezembro 2001

(Progressio Suplemento nº 56, Dezembro 2001)

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Índice

Prólogo ................................................................................................................................................................................. 17

Introdução ...................................................................................................................................................................... 18

Chaves de interpretação .......................................................................................................................... 20

CRITÉRIOS DE FORMAÇÃO CVX

I. A PESSOA CVX A. BUSCAR E ENCONTRAR A VOCAÇÃO NA IGREJA ................................................ 22 1. Vocação pessoal ............................................................................................................................... 22 2. A vocação cristã .............................................................................................................................. 22 3. A vocação específica à CVX........................................................................................... 23 3.1. Uma vocação inaciana...................................................................................................... 24 3.2. Uma vocação comunitária............................................................................................ 25 3.3. Uma vocação laical ............................................................................................................. 25

4. Perfil da pessoa CVX.............................................................................................................. 26 5. Buscar e encontrar a vocação individual na CVX............................... 27 5.1. O papel vital dos Exercícios no discernimento da vocação ............. 27 5.1.1. Níveis do chamamento de Deus............................................................. 29 5.1.2. Etapas no discernimento da vocação.................................................. 30 5.1.3. Preparação e confirmação da eleição feita nos Exercícios 31 5.2. A utilização de experiências ou provações..................................................... 32 5.3. O acompanhamento pessoal ....................................................................................... 32 B. DISPONIBILIDADE PARA A MISSÃO ...................................................................................... 33 1. Sentido da missão.......................................................................................................................... 33 1.1. A missão de Jesus.................................................................................................................. 33 1.2. A missão da Igreja ............................................................................................................... 33 1.3. Dimensão sacramental da missão .......................................................................... 34 1.4. Dimensão profética da missão.................................................................................. 34 1.5. Dimensão vital da missão ............................................................................................. 35 1.6. Maria modelo para a missão....................................................................................... 35

2. O campo da missão CVX .................................................................................................. 35 3. Desenvolvimento da missão na CVX................................................................ 36 3.1. Missão individual................................................................................................................. 36 3.2. Missão de grupo .................................................................................................................... 37 3.3. Missão comum ....................................................................................................................... 37

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4. Encontrar a nossa missão em CVX...................................................................... 38 4.1. O discernimento apostólico ........................................................................................ 38 4.1.1. Oração pessoal e comunitária................................................................... 39 4.1.2. Olhar a realidade................................................................................................. 39 4.1.3. O nosso carisma inaciano............................................................................ 39 4.1.4. Moções espirituais............................................................................................. 39 4.1.5. Processo de grupo............................................................................................... 40 4.2. O discernimento apostólico como atitude permanente...................... 40 4.3. Critérios inacianos para o discernimento apostólico............................ 41

II. A COMUNIDADE DE VIDA CRISTÃ (CVX) A. O PROCESSO DA CVX COMO COMUNIDADE......................................................... 43 B. CARACTERÍSTICAS DA CVX ENQUANTO COMUNIDADE....................... 44 1. Uma comunidade de vida.................................................................................................... 44 2. Uma comunidade em missão......................................................................................... 46 2.1. Uma missão sempre comunitária........................................................................... 46 2.2. Discernimento apostólico comunitário ............................................................ 46

3. Uma comunidade mundial................................................................................................ 47 3.1. A universalidade da CVX............................................................................................. 47 3.2. Raízes teológicas da universalidade da CVX .............................................. 47 3.3. Uma comunidade ao serviço de um mundo.................................................. 48

4. Uma comunidade eclesial .................................................................................................. 48 4.1. As bases do carácter eclesial da CVX ................................................................ 48 4.2. Relações da comunidade CVX com a Igreja................................................ 49

III. O COMPROMISSO NA CVX O COMPROMISSO NOS PRINCÍPIOS GERAIS E NORMAS GERAIS ............ 50 A. FUNDAMENTAÇÃO DO COMPROMISSO......................................................................... 50 B. O COMPROMISSO TEMPORÁRIO............................................................................................... 51 1. O processo conducente ao compromisso temporário ....................... 51 2. Objecto e sentido do compromisso temporário ...................................... 52 3. Maneiras de abordar o compromisso temporário ................................. 53 C. O COMPROMISSO PERMANENTE............................................................................................. 54 1. Compromisso permanente................................................................................................. 54 2. Compromisso público ............................................................................................................. 55

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Prólogo

O documento que publicamos, “O Carisma CVX”, foi aprovado em 1998 pela Assembleia Geral em Itaici. É a versão corrigida e definitiva do documento publicado na PROGRESSIO em Dezembro de 1996 com o mesmo título, que tinha duas partes: “Critérios de formação CVX” e “Processos de crescimento em CVX”. O documento actual corresponde à primeira parte: “Critérios de formação CVX”. Na sua revisão foram incorporadas as sugestões enviadas pelas comunidades nacionais. A apresentação é mais clara, ordenada e concisa. A revisão da segunda parte está ainda a ser estudada.

A sua história: Na origem do documento está um primeiro esboço de duas páginas prepa-rado em 1994 para facilitar o diálogo entre as comunidades nacionais. Colocavam-se as seguintes perguntas:

Que tipo de pessoa esperamos que seja o membro CVX?

Tomando a experiência de Inácio como ponto de referência, perguntava-se: Até que ponto somos inacianos?

Tomando a pedagogia de Inácio como ponto de referência na formação dum corpo apostólico, perguntava-se: Até que ponto é a nossa CVX inaciana?

Tomando o discernimento vocacional e apostólico como ponto de referência, perguntava-se: Como entendemos e vivemos o compromisso na CVX?

Que tipo de comunidade esperamos que seja a CVX?

Supondo que a CVX é uma “comunidade em missão”, colocava-se o conceito de missão e de missão comum e perguntava-se: Quando me senti enviado pela e na comunidade?

Este breve esboço foi proposto pela primeira vez à reunião da CVX australiana em Janeiro de 1995 e foi muito bem recebido. Foi depois utilizado e desenvolvido pouco a pouco em nume-rosos encontros internacionais organizados durante os anos 1995, 1996 e 1997 em África, na América Latina, Ásia e Europa. Fruto das aportações de tantas comunidades nacionais, o documento foi-se desenvolvendo até atingir a forma presente.

Os Princípios Gerais continuam a ser o documento fundamental da CVX. O Carisma CVX pre-tende ajudar as diversas comunidades na compreensão e na posta em prática dos mesmos.

A quem está destinado? Na edição de 1996, dizia-se: “As orientações para os guias, assis-tentes e responsáveis da CVX”. Mas não era um documento reservado, nem queria excluir ninguém. Prova disso é que se publicava como suplemento da PROGRESSIO e era enviado a todos os subscritores da revista. A razão dessa “restrição” está no facto de o documento não ser de fácil leitura, especialmente para aqueles que desejam conhecer a CVX ou acabam de incorporar-se numa comunidade. Não foi concebido para eles. Os que trabalharam no docu-mento de 1996 (e na sua revisão) são do parecer que o presente documento oferece mate-riais úteis para retiros, reuniões de estudo ou encontros comunitários. Pelo que, como a edi-ção de 1996, será útil para os guias, assistentes e responsáveis da CVX.

Há que reconhecer que o documento é um pouco longo, impressiona mesmo a guias vetera-nos e não poucas vezes foi recebido com receio. Mas, à medida que os participantes num encontro, por exemplo, o vão utilizando em pequenas doses para a reflexão pessoal e a par-tilha, o documento vai-se tornando simples e inspirador. No final do encontro, muitos parti-cipantes reconhecem que o documento descreve a sua experiência pessoal na CVX e olham-no de outra maneira.

Publicamo-lo na PROGRESSIO para fazê-lo mais acessível a todas as comunidades.

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Introdução A Comunidade de Vida Cristã é uma associação internacional de fiéis: homens e mulheres, adultos e jovens, de todas as condições sociais, que desejam seguir Jesus Cristo mais de perto e trabalhar com Ele na construção do Reino. Os seus membros integram pequenos grupos que fazem parte de comunidades mais amplas a nível regional e nacional constituindo UMA Comunidade Mundial e estão presentes nos 5 continentes e em quase 60 países.

Estamos convencidos que a Comunidade de Vida Cristã tem muito para oferecer à Igreja e à sociedade. O papel desempenhado pelas CONGREGAÇÕES MARIANAS na formação dos leigos, para o serviço do Reino, durante mais de 400 anos de história constitui uma herança precio-sa para a CVX. Mas CVX não é apenas um novo nome dado às Congregações Marianas em 1967. Nas palavras do P. Paulussen, a CVX representa o renascer do movimento, quase um novo começo.

A nova identidade da CVX está expressa nos Princípios Gerais, aprovados em 1971 e revis-tos em 1990. Desde o início, contudo, se sentiu necessidade de completar este texto funda-mental com outros documentos que explicitassem melhor o processo de formação próprio da CVX.

Em 1982, a Comunidade Mundial apresentou o SURVEY como documento-chave para orien-tar a formação CVX. Hoje esse SURVEY devidamente adaptado permanece relevante para qualquer análise e descrição do crescimento de uma CVX, dos meios a utilizar e da contribui-ção dos diferentes papéis em cada estágio deste crescimento.

Todavia, faz-se ainda sentir a necessidade de uma apresentação mais clara da vocação do leigo na CVX, bem como do processo de crescimento dos seus membros, dando orientações susceptíveis de enriquecer os planos de formação das Comunidades Nacionais e de favorecer uma maior unidade na Comunidade Mundial. Foi o que particularmente se constatou na Assembleia Mundial “Hong Kong’94” que recomendou a implementação de planos de forma-ção (inicial e permanente) de acordo com certos critérios preferenciais.

O primeiro passo foi a redacção de um breve documento “Critérios para a formação CVX”, elaborado por uma equipa internacional. Este primeiro esboço foi sendo pouco a pou-co retocado à luz dos Encontros Internacionais para Jesuítas e CVX que decorreram na Euro-pa, África e América Latina entre 1995 e 19961. Em Dezembro de 1996, foi publicado como suplemento na PROGRESSIO (nº 45 e 46) para que as comunidades nacionais o experimen-tassem e o usassem como instrumento de trabalho na sua preparação para a próxima Assembleia Mundial no Brasil.

Durante o ano de 1997, o ExCo2 recebeu comentários e sugestões sobre o documento. Com esses contributos, um pequeno grupo de peritos completou-o e unificou o estilo, dando-lhe a sua forma actual. Assim se oferece novamente à Comunidade Mundial como uma expressão válida do carisma inaciano que nos caracteriza. Tendo em conta as diversidades culturais, pareceu oportuno manter o texto como "documento de trabalho" que poderá enriquecer e ser enriquecido pelos planos de formação e pelas experiências de cada Comunidade Nacio-nal. Na busca de uma maior fidelidade ao nosso carisma, não pareceu conveniente ratificar o texto formalmente pela Assembleia Mundial no Brasil.

1 Em língua inglesa: Roma, Agosto de 1995. Caleruega (Filipinas), Abril 1997; Sydney, Julho 1997. Em língua espanhola: Buenos Aires, Outubro 1996; Lima, Janeiro 1996; Madrid, Abril e Novembro 1996; Puente Grande (México), Outubro 1996; Santo Domingo, Maio 1998. Em língua francesa: Lubumbashi (Zaire), Julho 1995; Cairo, Janeiro 1996; Yaounde (Camarões), Agosto 1996; Bouake (Costa de Marfim), Agosto 1996. Em língua portuguesa: Soutelo, Outubro/Novembro 1997. 2 Conselho Executivo Mundial da CVX, cujo Secretariado Executivo está em Roma.

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Estas orientações são destinadas aos guias, assistentes e responsáveis pela formação na CVX. A sua maior experiência e conhecimento do estilo de vida da Comunidade possibilitarão que cada Comunidade Nacional adapte o conteúdo deste documento à etapa de crescimento dos seus membros.

O documento está dividido em duas partes, cujos títulos são:

1. Critérios de formação CVX

2. Processos de crescimento na CVX e Material de Apoio.

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Chaves de interpretação

Para melhor compreender e utilizar estes dois documentos, propomos algumas chaves úteis à sua interpretação:

A dimensão pessoal da pedagogia inaciana (vocação humana)

Santo Inácio acreditava firmemente que cada criatura é uma obra original e única do Cria-dor. Cada pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus, é livre de responder ao Seu amor. Estes Critérios de Formação ajudam-nos a reconhecer aqueles que escolheram a CVX como seu caminho de vida, e como devem ser formados. Até agora, na rica história da CVX, a ênfase tem sido posta sobretudo na comunidade.

Sem nada perder desta riqueza, trata-se agora de olhar para pessoa (subjectum) que tem o potencial para entrar na escola dos Exercícios e viver o estilo de vida CVX. A pedagogia de Santo Inácio é um processo de formação dirigido a todos e ajuda cada um a colocar tudo quanto é e tem ao serviço do Reino de Deus. Para isso, cada pessoa é convidada a viver numa atitude de disponibilidade, sempre pronta a questionar o seu modo de pensar e de agir, exercitando-se em integrar constantemente experiência, reflexão e acção3. A CVX, que-rendo ser fiel a esta pedagogia, deseja formar homens e mulheres que se oferecem livre-mente ao Senhor e à Sua Igreja, prontos para servir em todos os lugares onde possam ser enviados. Estes critérios pretendem ser uma referência para este processo de formação.

O sopro do Espírito através da história da CVX

A trajectória mais recente da formação na CVX, sob o impulso do Senhor e do Seu Espírito, tem-se vindo a plasmar em diferentes documentos: os das Assembleias Mundiais, o SURVEY, os Princípios Gerais revistos e por numerosos programas e instrumentos de formação. Estes critérios são mais uma página desta história cheia da presença e da acção do Senhor4. Eis a razão por que devem ser lidas e experimentadas não como um documento suplementar, mas como uma humilde tentativa de recolher as graças mais recentes que marcaram este cami-nho e dando um passo mais no sentido da vivência plena do nosso carisma CVX.

Partilhar a nossa herança comum

A história da CVX, escrita pelo Espírito, é inseparável da história da sua associação apostólica com a Companhia de Jesus e outras famílias religiosas de inspiração inaciana, para um maior serviço e glória de Deus. Esta colaboração entre a CVX e a Companhia de Jesus tem vindo a crescer com a passagem do tempo.

Actualmente, depois da Congregação Geral 34 da Companhia de Jesus5, esta colaboração pode intensificar-se ainda mais, como consequência da recomendação, feita pela Companhia, de criar uma rede apostólica inaciana para multiplicar os recursos humanos e institucionais ao serviço da missão de Cristo.

À luz desta colaboração convém ler e pôr em prática estes documentos que se destinam aos responsáveis da formação em CVX, muitos dos quais são jesuítas. Partilhamos com eles a comum herança espiritual dos Exercícios Espirituais, a riqueza de uma longa tradição e o desejo de entregar a vida, em missão, ao serviço dos outros.

Estes documentos devem ser lidos e postos em prática à luz desta cooperação. São destina-dos para os que estão envolvidos na formação CVX, muitos deles jesuítas. Partilhamos com eles a herança comum dos Exercícios Espirituais, as riquezas duma longa tradição, e o dese-jo de nos comprometermos, em missão, ao serviço dos outros.

3 A respeito do paradigma inaciano, recomenda-se ver "Pedagogia Inaciana – questionamento prático", documento preparado em 1993 pela Comissão Internacional para o Apostolado Educativo da Companhia de Jesus, ICAEJ. 4 Entre os documentos incluídos no Material de apoio, pode-se consultar os que se referem à história e raízes da CVX. 5 O documento "Colaboração com os leigos na missão", da CG 34, inclui-se no Material de Apoio.

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CRITÉRIOS DE FORMAÇÃO CVX

1 Neste documento desejamos descrever o carisma específico da CVX. Apresentamo-lo

como uma vocação particular dentro da Igreja, à qual os membros correspondem com um compromisso de vida. Esta perspectiva permite expressar simultaneamente a sim-plicidade e a riqueza, as raízes históricas e os enriquecimentos posteriores deste carisma; mas não pretende expô-lo exaustivamente ou examinar todos os seus aspec-tos.

2 Esta apresentação baseia-se nas experiências das nossas Comunidades Nacionais, mas

vai para além do efectivamente vivido nesta ou naquela Comunidade Nacional. A nossa vocação e carisma são um ideal e um desafio para todos nós. Os contributos dos membros mais experientes da CVX são necessários para a aplicação deste documento em cada Comunidade Nacional. Mas devemos, em conjunto, continuar a procurar a constante renovação da nossa vida pessoal e comunitária de acordo com o nosso carisma.

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I. A PESSOA CVX

A. BUSCAR E ENCONTRAR A VOCAÇÃO NA IGREJA

1. Vocação pessoal 3 Esperamos que todos membros CVX participem na missão de Cristo de acordo com a

sua própria vocação e estado de vida na Igreja. "A nossa Comunidade é formada por cristãos: homens e mulheres, adultos e jovens, de todas as condições sociais que desejam seguir Jesus Cristo mais de perto e trabalhar com Ele na construção do Reino e reconheceram na Comunidade de Vida Cristã a sua particular vocação na Igreja" (PG 4)6.

4 O fundamento da formação e da renovação da CVX é o valor de cada pessoa e a con-

vicção de que cada pessoa tem uma vocação divina, que abraça todas as dimensões da sua existência. Deus chama cada um. Ele toma a iniciativa, mas respeita a nossa liberdade pessoal. Cada indivíduo descobre este chamamento quando o escuta e aceita os desejos de Deus. Este chamamento de Deus é uma vocação pessoal, que se revela nas nossas inclinações mais profundas e nos nossos desejos mais autênticos. A nossa resposta livre ao chamamento de Deus é o que dá sentido e dignidade à nossa exis-tência.

5 Entender a nossa vida pessoal, a nossa família, o nosso trabalho e a vida cívica como

uma resposta ao chamamento do Senhor liberta-nos de qualquer inclinação para nos resignarmos perante as situações em que nos encontramos. Leva-nos igualmente a reagir contra o conformismo que procura impor-nos um estado e um estilo de vida.

6 Cada pessoa encontra na sua própria vocação pessoal o modo concreto de viver a

vocação universal da família humana, que é um chamamento à comunhão com o Pai por intermédio do Filho no Espírito de amor. Ao realizar a sua missão como resposta de amor ao chamamento do Senhor, o indivíduo realiza progressivamente o seu desti-no de desenvolver uma plena comunhão com Deus e com a família humana.

7 Neste documento a CVX é apresentada como uma vocação particular na Igreja. Mas

esta vocação só pode ser entendida à luz da vocação fundamental de todos os cris-tãos.

2. A vocação cristã 8 A vida cristã é a resposta ao chamamento de Jesus para O seguirmos e sermos trans-

formados pelo Seu Espírito. Este é o projecto do Pai que nos predestinou em Cristo7. Cristo convida-nos a segui-Lo na Sua vida e na Sua morte, adoptando, pela graça do

6 Princípios Gerais da Comunidade de Vida Cristã, aprovados pela Assembleia Mundial da CVX em Guadalajara, em Setembro de 1990 e confirmados pela Santa Sé em Dezembro do mesmo ano. 7 "Em Cristo, Deus nos elegeu antes da criação do mundo, para caminharmos no amor... e sermos Seus filhos adoptivos por meio de Cristo Jesus" (Ef 1, 4-5).

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Espírito, aqueles mesmos sentimentos e atitudes que eram Seus estão expressos nas Bem-aventuranças8, para que também nós possamos passar da morte à vida verda-deira9.

9 O Senhor convida-nos à intimidade com Ele10 e a colaborar com Ele na Sua missão de

anunciar a Boa Nova e promover o Reino de Deus11. 10 Respondemos a este chamamento do Senhor na fé, acolhendo a Sua palavra e o dom

do Seu Espírito, pelo qual o Pai nos consagra para a missão de Cristo sacerdote, profe-ta e rei. O baptismo é o sinal sacramental desta incorporação no corpo de Cristo, a Igreja, a comunidade dos Seus discípulos.

11 O chamamento de Deus é inserido no tecido dos nossos dons naturais e nas circuns-

tâncias da nossa história pessoal e social, da qual participamos. 12 A vocação cristã é um convite a reordenar toda a nossa vida colocando Jesus no centro

dela. Na vocação cristã, encontramos a inspiração para escolher um novo estilo de vida, a força para perseverar e a alegria para anunciar a Boa Nova aos pobres12, para amar e para perdoar.

13 Nos adultos, que têm já definida a suas vidas familiares e profissionais, a pergunta

sobre como seguir Jesus afectará, sobretudo, o modo de viver os seus compromissos até chegarem a uma transformação profunda e gradual das suas relações com os outros, com os seus bens materiais e consigo próprios. Na linguagem de Inácio, a res-posta a esta pergunta leva à emenda ou reforma da vida de cada um.

14 Nos jovens, que ainda não definiram claramente o que querem ser ou fazer, a per-gunta sobre como seguir Jesus não só os levará a um novo modo de vida mas ajudá-los-á também a tomarem decisões mais livres sobre as suas opções de vida (constituir família, celibato, sacerdócio ou vida religiosa, profissão).

15 A vocação está intimamente vinculada à missão. Quando um cristão aprofunda os seus

laços de amizade com o Senhor, Ele confia-lhe uma missão. A vocação tem a sua ori-gem na entrada de Deus na sua vida e precisa de tempo para transformar o seu cora-ção, vinculando-o totalmente a Cristo. A missão confiada a ele por Cristo é um desejo profundo, permanente e crescente nascido deste vínculo13.

16 Os membros da CVX reconhecem a sua vocação pessoal na Igreja nesta forma particu-

lar de vida cristã. A vocação particular dos membros da CVX está estreitamente rela-cionada com o discernimento da sua missão apostólica, isto é, do tipo de serviço que cada cristão é chamado a prestar na Igreja para a evangelização do mundo.

3. A vocação específica à CVX 17 A vocação à CVX especifica a vocação universal mediante três características princi-

pais:

8 Mt 5, 3-12. 9 "...poderei conhecê-Lo, a Ele, ao poder da Sua ressurreição e à comunhão nos Seus padecimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos" (Fil. 3, 10-11). 10 "... chamei-vos amigos porque tudo o que ouvi de Meu Pai vos deu a conhecer. Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu é que vos escolhi a vós" (Jo. 15, 15-16). 11 "... como o Pai me enviou, também Eu vos envio" (Jo. 20, 21). 12 Lc 4, 14-21 13 "Designou a doze para serem Seus companheiros e para enviá-los a pregar” (Mc 3, 13).

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3.1. Uma vocação inaciana 18 O carisma e a espiritualidade da CVX são inacianos. Assim, os Exercícios Espirituais de

S. Inácio são a fonte específica deste carisma e o instrumento característico da espiri-tualidade CVX14.

19 Os Princípios Gerais sublinham o carácter inaciano da CVX usando frases por todo o

texto que remetem para a experiência dos Exercícios ou para o carisma inaciano. Sub-linham o papel central de Jesus Cristo. As suas referências explícitas às origens inacia-nas do modo de proceder CVX, e à importância do discernimento apostólico na abertu-ra pessoal aos apelos mais urgentes e universais do Senhor, deixam claro que o dis-cernimento se deve tornar o meio normal para tomar decisões.

20 O estilo de vida CVX é configurado pelos traços da Cristologia Inaciana: austero e sim-

ples, em solidariedade com os pobres e os marginalizados da sociedade, integrando contemplação e acção, em tudo vivendo vidas de amor e serviço na Igreja, sempre num espírito de discernimento. Esta Cristologia Inaciana brota da contemplação da Encarnação onde a missão de Jesus é revelada. Brota da contemplação d’Ele que é enviado pelo Pai para salvar o mundo; que escolhe e chama pessoalmente os que Ele quer para colaborar com Ele, de entre aqueles que se reconhecem a si próprios como fracos e pecadores. Emerge do seguimento de Jesus, Rei eterno, que se despojou de Si mesmo15 para viver uma vida de pobreza e humilhações, em união com Ele na Sua paixão e ressurreição, onde a força do Espírito forma a Igreja como Corpo de Cristo.

21 A espiritualidade inaciana explica igualmente o carácter mariano do carisma CVX. O

papel de Maria na Comunidade é, com efeito, o mesmo que Ela tem nos Exercícios e na experiência espiritual de Inácio. A mãe de Jesus está constantemente presente ao lado do seu Filho, como mediadora e como inspiração, e um modelo da resposta ao Seu chamamento e do trabalho com Ele na Sua missão.

22 À luz da experiência fundante dos Exercícios, a CVX tem como objectivo a integração

da fé com a vida em todas as suas dimensões: pessoal, familiar, social, profissional, política e eclesial.

23 A espiritualidade dos Exercícios reforça o carácter distintivo desta vocação cristã: 24 O magis inaciano marca o estilo da nossa resposta à vocação universal à santida-

de, pela busca da "maior glória de Deus", seguindo mais de perto a Jesus Cristo16, mediante "oblações de maior estima e momento"17.

25 Cristo, além disso, revela-se na espiritualidade inaciana como "homem-para-os-

outros", e segui-Lo a Ele é pormo-nos nós próprios ao serviço dos nossos irmãos e irmãs: um modo distintamente apostólico de compreender o Reino de Deus. Os membros CVX são cristãos que "desejam seguir Jesus Cristo mais de perto e traba-lhar com Ele na construção do Reino"18.

14 "A nossa vocação chama-nos a viver esta espiritualidade que nos abre e nos dispõe a todos os desejos de Deus em cada situação da nossa vida diária" (PG. 5). 15 Fil 2,7. 16 PG 4. 17 EE 97, 104, etc. 18 PG 4.

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26 Finalmente, os Exercícios, e portanto a nossa espiritualidade, sublinham o carácter eclesial do serviço apostólico. Na medida em que é uma missão recebida de Cristo, é mediada através da Igreja. “A união com Cristo leva à união com a Igreja onde Cristo, aqui e agora, continua a Sua missão de salvação”19.

27 O carácter inaciano da CVX20 e dos seus membros encontra expressão na prática regu-

lar dos modos inacianos de oração, exame, avaliação, discernimento apostólico (pes-soal e comunitário), e pela participação frequente nos sacramentos.

3.2. Uma vocação comunitária 28 Os membros da CVX vivem a espiritualidade inaciana em comunidade21. A ajuda de

irmãos e irmãs que partilham o mesmo chamamento é essencial para o nosso cresci-mento em fidelidade à nossa vocação e missão. Além disso, a comunidade em si mes-ma é um elemento constitutivo do testemunho apostólico da CVX.

29 “A fim de preparar mais eficazmente os nossos membros para o testemunho e o servi-

ço apostólico, especialmente no nosso ambiente diário, reunimos em comunidade pes-soas que sentem uma necessidade mais urgente de unificar a sua vida humana em todas as suas dimensões com a plenitude da sua fé cristã de acordo com o nosso carisma”22.

3.3. Uma vocação laical 30 A CVX é definida nos Princípios Gerais como uma associação, não de leigos, mas de

fiéis: "A nossa comunidade é formada por cristãos: homens e mulheres, adultos e jovens de todas as condições sociais...”23.

31 Mas, na etapa de maturidade, por altura do compromisso permanente, a vocação CVX

torna-se especificamente laical nos seus objectivos e características peculiares. "Procu-ramos atingir esta unidade de vida, em resposta ao chamamento de Cristo, a partir de dentro do mundo em que vivemos"24.

19 PG 6. 20 O exemplo e a vida de Inácio são como uma árvore fecunda no jardim da Igreja. O ramo principal que sai desta árvore é a Companhia de Jesus. Mas inaciano não se identifica com jesuítico. A espiritualidade dos Exercícios alimenta muitas outras famílias religiosas e grupos laicais, expressando, cada um à sua maneira, determinados aspectos do mesmo carisma inaciano. Entre estes grupos ocuparam um lugar muito especial as Congregações Marianas, antecesso-ras da Comunidade de Vida Cristã. 21 A dimensão comunitária da vocação CVX será expressa mais amplamente num capítulo à parte (125-163). 22 PG 4. 23 PG 4 24 PG 4. Pio XII dizia em 1946: “os fiéis, e mais precisamente os leigos, encontram-se na linha mais avançada da vida da Igreja; por eles a Igreja é o princípio vital da sociedade humana. Portando eles, eles especialmente, devem ter consciência, cada vez mais clara, não só de pertencer à Igreja, mas de ser a Igreja” (AAS 38, 1947, p. 149).

“O carácter secular é próprio e peculiar dos leigos... Aos leigos pertence, por vocação própria, buscar o Reino de Deus, tratando e ordenando, segundo Deus, os assuntos temporais. Vivem no século, isto é, em todas e cada uma das activi-dades e profissões, assim como nas condições ordinárias da vida familiar e social com as quais a sua vida é entretecida. Ali são chamados por Deus a cumprir a sua própria função, guiando-se pelo espírito evangélico, de tal modo que, tal como o fermento, contribuem para a santificação, por dentro, do mundo e deste modo revelam Cristo aos outros, brilhando, antes de mais nada, com o testemunho da sua vida, com a sua fé, esperança e caridade, A eles, muito especialmente, corresponde iluminar e organizar todos os assuntos temporais a que estão estreitamente vinculados, de tal maneira que se realizem continuamente segundo o espírito de Jesus Cristo e se desenvolvam e sejam para a glória do Criador e Redentor" (LG 31).

"Deste modo o ‘mundo’ converte-se no lugar e meio da vocação cristã dos leigos, porque ele mesmo está destinado a dar glória a Deus Pai, em Cristo. O Concílio pode, desde então, indicar o sentido próprio e particular do chamamento de Deus que se dirige a todos os leigos. Não são convidados a abandonar a posição que ocupam no mundo..., mas (o baptismo) confere-lhes uma vocação que diz respeito precisamente à sua situação no mundo... Assim, o estar e o agir no mundo são, para os leigos, uma realidade não só antropológica e sociológica, mas especificamente teológica e ecle-sial” (ChL. 15).

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4. Perfil da pessoa CVX 32 A vocação CVX pressupõe certas condições, essencialmente as mesmas requeridas

para fazer os Exercícios Espirituais. Esta aptidão é reconhecida naquelas características que permitem ao indivíduo o encontro com Deus. Não é tanto uma questão de algo já adquirido, mas de potencial. Para indicar tal aptidão, Inácio utiliza a expressão "tener sujeto". Tener sujeto tem um sentido dinâmico: um indivíduo torna-se progressiva-mente "sujeto" (disposto) ou, pelo contrário, não disposto; podemos avançar ou recuar, mas nunca estamos estáticos, nunca ficamos no mesmo sítio.

33 As Anotações25 oferecem-nos um retrato do exercitante adulto. Este retrato é, às

vezes, um ponto de partida e, outras vezes, um ponto de chegada. Estas são as condi-ções mínimas postas por Inácio para iniciar a aventura e são também, na sua plenitu-de, o resultado do cometimento. Por outras palavras, os traços característicos que definem um indivíduo idóneo deverão de algum modo estar presentes desde o início. Inácio adaptava os Exercícios à individualidade de cada um, mas, ao mesmo tempo, recomendava que a questão da eleição não devia ser colocada a toda a gente indiscri-minadamente. Mais, ao descrever o exercitante e as condições requeridas para fazer os Exercícios Espirituais, Inácio pressupõe que quem deseja fazer esta experiência quer acima de tudo “amar e servir Sua divina Majestade”26. Estas são igualmente as características distintivas da pessoa mais apta a tornar-se membro CVX.

34 Estas características pessoais que, de algum modo, devem estar já presentes no início

da experiência inaciana, podem agrupar-se em duas categorias: 35 Do ponto de vista humano:

capaz de enfrentar a realidade, sensível ao mundo social e político em que vive, capaz de comunicar e prestar serviço aos outros dum modo significativo.

com grandes desejos de viver uma vida dinâmica e apaixonada, ainda que esses ideais estejam, pelo menos por um curto tempo, misturados com ambição pessoal;

não satisfeito com o seu pequeno mundo, mas pronto para mudar os seus pontos de vista e estilo de vida.

36 No que se refere à sua experiência de Deus:

movido pelo desejo27 de encontrar e seguir Jesus Cristo28;

apaixonado por Jesus e pela Sua missão, ansiando por uma relação pessoal mais profunda com Ele que reorientará e corrigirá, se necessário, as suas necessidades e aspirações, e curará as suas feridas e debilidades;

consciente de ser um pecador, mas amado e escolhido por Cristo;

25 EE 1-20. 26 EE 233. 27 O desejo é algo fundamental para S. Inácio. Para ele, o ser humano era fundamentalmente a sua capacidade de desejar e considerava a pessoa como alguém com muita capacidade de crescer em santidade e em frutos apostólicos quanto maior fosse a sua capacidade de desejar. O desejo para S. Inácio é impulso de vida. É essa noção vital, esse movimento vital que nos torna disponíveis para querer, sonhar, agir e amar. O ser humano é esse ser de desejo: dese-jar a justiça, a paz, o amor. Desejar Deus. Quanto mais aumenta essa capacidade interior de desejar, mais preparada está a pessoa para que Deus a cumule e a preencha. Por isso S. Inácio considerava que uma pessoa com grandes desejos, ainda que fosse um grande pecador, estava apta para fazer os Exercícios, porque para ele a vida espiritual não é cumprimento de regras e normas, mas o desejo aberto e exposto, que o Senhor pode mover, atrair, aumentar e preencher. 28 Constituições 102

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aberto às necessidades dos outros, pronto a servi-los e a juntar-se a todos os que procuram construir um mundo ao mesmo tempo mais humano e mais divino;

consciente de ser um membro responsável da Igreja, identificado com a sua men-sagem e comprometido com a sua missão.

5. Buscar e encontrar a vocação individual na CVX 37 A formação dos leigos deve levá-los a uma cada vez mais clara descoberta da sua

vocação e uma sempre maior prontidão para vivê-la de modo a cumprirem a sua mis-são29.

38 No processo de descobrir se um indivíduo tem vocação à CVX, duas coisas devem ser

consideradas. Primeiro, se o indivíduo que aspira viver tal vocação tem uma disposição adequada e, segundo, se a tem, como é que isso pode ser fortalecido e a pessoa aju-dada a reconhecer que Deus a chama a abraçar o estilo de vida CVX. Estes elementos da pedagogia da CVX em relação à vocação baseiam-se principalmente nos Exercícios Espirituais30.

5.1. O papel vital dos Exercícios no discernimento da vocação 39 O discernimento duma vocação particular à CVX realiza-se, sobretudo, durante os

Exercícios Espirituais, onde se encontram, além das perspectivas fundamentais que determinam a escolha de um estilo de vida cristã, as etapas para o discernimento duma vocação.

40 Os Exercícios Espirituais são fundamentais e essenciais para viver a vocação CVX. Eles

são "a fonte e o instrumento característico da nossa espiritualidade"31. Portanto, não podemos compreender e muito menos viver a vocação CVX sem passar pela experiên-cia dos Exercícios.

41 No começo do livro dos Exercícios, S. Inácio define o que ele entende ser o método

que Deus lhe inspirou e graças ao qual pôde ajudar tantas pessoas: "...por este nome, Exercícios Espirituais, entende-se todo o modo de examinar a consciência, de meditar, de contemplar, de orar vocal e mentalmente, e de outras operações espirituais, con-forme adiante se dirá”32.

42 Para Inácio, os Exercícios são os diferentes modos de "exercitar" o espírito. Ele justifi-

ca a sua definição dizendo: "Porque, assim como passear, caminhar e correr são exer-cícios corporais, da mesma maneira, todo o modo de preparar e dispor a alma para tirar de si todas as afeições desordenadas e, depois de tiradas, buscar e achar a von-tade divina na disposição da sua vida para a salvação da alma, se chamam exercícios espirituais".

43 Portanto, para Inácio, é claro que assim como um corpo que não se exercita perde a

sua agilidade e movimento, assim é também com o espírito, que necessita de exercício para dar o seu melhor de si e satisfazer o seu profundo anseio de realização plena.

29 Christifideles Laici, 58. 30 Os Exercícios são "para vencer-se a si mesmo e ordenar a vida..." (EE 21); são para "investigar e... pedir em que vida ou estado de nós se quer servir Sua divina majestade" (EE 135); são escola exímia para sentir e responder ao chamamento de Deus, para viver a vida em escuta e resposta generosa ao Senhor que nos chama e envia. Os Exercí-cios nos preparam para viver a vida como "vocação-resposta". 31 PG 5. 32 EE 1.

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44 A Comunidade de Vida Cristã, fiel ao espírito inaciano que a inspira, quer que os seus

membros sejam ágeis em espírito, exercitando-se constantemente para escutar os chamamentos de Deus e responder-lhes prontamente com todo o seu ser.

45 A experiência original dos Exercícios Espirituais completos, tal como a concebeu S.

Inácio, cobre o período de aproximadamente um mês, passado em silêncio, falando apenas com um guia ou acompanhante espiritual. Nesse contexto, é possível para o exercitante experimentar, como é proposto por Inácio, os diferentes modos de orar, de examinar-se a si mesmo e de contemplar, reflectir e "tirar proveito", ficando assim sensível ao que o Senhor quer em termos de vocação e acção apostólica.

46 Ao longo das quatro semanas dos Exercícios, depois de se ter confrontado consigo

mesmo como pecador amado por Deus, ainda que pecadora, o retirante é colocado perante a pessoa de Jesus Cristo, com quem continuará a crescer em intimidade, dis-posto a ser e a fazer no mundo o que Jesus é e faz, assumindo mesmo as consequên-cias disso.

47 Já no tempo de Inácio, e com muito maior razão nas modernas circunstâncias da vida,

muitas vezes não é possível, sobretudo aos leigos, fazer a experiência dos Exercícios em trinta dias. Por esta razão, os Exercícios podem ser adaptados às diferentes cir-cunstâncias de cada pessoa, fazendo-se em várias etapas mais curtas ou ainda na vida corrente, mas com seriedade, sem descurar nenhum dos passos do itinerário inaciano. Estes Exercícios, adaptados por etapas ou na vida corrente, são verdadeiramente uma experiência inaciana.

48 Uma vez feitos e assimilados, o maior fruto produzido pelos Exercícios é um novo esti-

lo de vida. Tudo o que se viveu ao longo das quatro semanas – em termos de proximi-dade à pessoa de Jesus e ao seu estilo de vida; em termos de aprender a discernir os movimentos do Espírito na vida de cada dia; em termos de se chegar a ser "contem-plativo na acção" –, tudo isto refaz o estilo de vida duma pessoa, levando-a a ser e a agir mais de acordo com os desejos do Senhor para a construção do Seu Reino.

49 A CVX espera que os seus membros sejam pessoas de oração, capazes de escutar os

desejos do Senhor, aptos a discernir entre os muitos apelos da vida o que é mais ade-quado à construção do Reino de Deus. Por esta razão, a CVX põe à sua disposição a escola dos Exercícios que são, segundo uma carta do próprio Inácio a Manuel Miona, "tudo quanto de melhor nesta vida posso pensar, sentir e entender, tanto para o homem poder aproveitar para si mesmo como para poder frutificar, ajudar e fazer aproveitar a muitos outros"33.

50 Para os membros CVX, portanto, os Exercícios Espirituais não são uma experiência

opcional, que se possa ou não fazer, ou que uma vez feita, pertença aos arquivos do passado. São uma experiência básica, vitalizante, constitutiva da sua própria vocação. Uma experiência, por outro lado, a que haverá que voltar sempre, e cujo efeito em cada pessoa precisa de ser alimentado e renovado constantemente.

51 Os EE não são uma experiência com a qual "culmina" a vida apostólica, mas antes

uma experiência inicial decisiva para a opção apostólica pessoal, que será depois vivi-da pelo resto da vida.

33 16 de Novembro de 1536.

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5.1.1. Níveis do chamamento de Deus

• O PAI chama à vida: A grandeza de ser humano

52 Quando o Pai nos cria, Ele chama-nos, homens e mulheres, a viver plenamente à ima-gem e semelhança de Deus34, a ser fecundos e a multiplicar-nos, a encher a terra e a submetê-la e a reconhecer a bondade fundamental de todas as coisas. Finalmente, o Novo Testamento revela toda a grandeza do ser humano que, criado em Cristo, é chamado à vida divina em comunhão com o Pai, por meio do Filho, no Espírito de amor.

53 O Princípio e Fundamento recorda-nos que somos chamados a ser em diálogo, reco-

nhecendo os dons e a presença de Deus em tudo – na saúde ou na doença, na riqueza ou pobreza, com honras ou sem elas – e a responder, como Jesus, com louvor, reve-rência e serviço35.

54 A Primeira Semana leva-nos a confrontar o plano de Deus para nós e a realidade do

pecado e da morte, as marcas distintivas da nossa existência pessoal e colectiva. No Colóquio da Misericórdia, reconhecemos e humildemente confessamos o nosso pecado e depois, cheios de confiança e de gratidão, recebemos o perdão de Deus, que nos sal-va por meio de Jesus Cristo. A experiência do amor de Cristo, que morreu na cruz para nos dar vida nova no Seu Espírito, convida os exercitantes a perguntarem-se, "Que farei por Cristo?" e a avançar para a Segunda Semana.

55 Cada dia, estendemos este diálogo de vida com o exame de consciência, em que reco-

nhecemos "os benefícios recebidos" das coisas, pessoas e acontecimentos36. Este é um modo de viver dia após dia a Contemplação para Alcançar Amor, que nos urge a "pedir conhecimento interno de tanto bem recebido, para que eu... possa em tudo amar e servir a Sua divina majestade"37.

• JESUS CRISTO chama-nos a estar com Ele e a segui-Lo

56 A experiência fundamental de ser salvo por Cristo e libertado da escravidão do peca-do38, suscita em nós o desejo de nos pormos inteiramente ao Seu serviço e de ouvir o Seu chamamento para trabalharmos com Ele na construção do Seu Reino39. De facto, o Rei eterno chama-nos a estar com Ele e a trabalhar com Ele, a segui-Lo no Seu sofrimento e na Sua glória. Estar com Jesus e segui-Lo no Seu trabalho de implantar o Reino constitui uma opção única e indivisível. Seguir o Senhor significa querer conhe-cê-Lo melhor, amá-Lo mais intensamente e segui-Lo mais de perto na Sua missão40. Este é o objectivo de todas as Contemplações nos Exercícios Espirituais.

34 Ver Gen 1, 26-30. 35 Ver EE 23. 36 Ver EE 43. 37 Ver EE 233-234. 38 EE 53. A 1ª Semana de Exercícios costuma chamar-se a "Semana do pecado". Seria mais apropriado chamar-lhe "Semana da misericórdia", "Semana da salvação". Na verdade, o centro desta 1ª Semana é a experiência de Deus como Deus Salvador e Libertador. E a experiência humana como a experiência de ser um pecador salvo e perdoado. Esta revelação dá-se na figura de Cristo crucificado (EE 53). Diante d'Ele, S. Inácio ensina o ser humano a perguntar-se: Que fiz? Que faço? Que farei por Cristo? Àquele, ou àquela, que estava perdido e fechado nos abismos obscuros do seu próprio eu, a salvação apresenta-se como saída de si, viagem para o outro. Ao pecador que se encontrava perdido e sem saída ressoa agora, como oferta de liberdade e salvação, o chamamento do Rei Eterno. Responder-lhe não somente com juízo e razão, mas entregando-se inteiramente é o caminho de libertação para o homem e para a mulher. 39 Ver EE 95. 40 Ver EE 104.

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57 Esta opção por Cristo e por trabalhar pelo Seu Reino significa, na espiritualidade ina-ciana optar pelo Cristo total. Conhecer, amar e servir os Seus irmãos e irmãs, isto é amar mais intensamente e seguir mais de perto o Cristo que é a "vida verdadeira"41. É também exaltá-Lo e contribuir para reconciliar com Ele e n'Ele todas as coisas até que o Pai seja tudo em todos42.

58 A CVX está totalmente imbuída por esta grande opção: desejar seguir mais de perto a

Jesus Cristo e trabalhar com Ele na construção do Reino43.

• O ESPÍRITO SANTO move-nos a maior fidelidade no seguimento de Cristo

59 Inácio era um pedagogo que aprendia da experiência. A sua espiritualidade não é baseada em abstractos princípios de perfeição, mas na ser concreto de Deus, próximo e transcendente, que experimentamos na vida. Os que fazem os Exercícios devem pre-parar-se para tomarem a importantíssima decisão de encontrar "o estado de vida que Deus nosso Senhor nos der para escolher"44, usando uma metodologia bem concreta: contemplando a vida de Cristo e estando, ao mesmo tempo, muito atento aos próprios sentimentos e moções interiores, através dos quais o Espírito Santo lhes fala e os move.

60 A experiência de consolações e desolações e dos vários espíritos45 joga um papel fun-

damental nas eleições inacianas. O grupo de Meditações e Regras para fazer uma elei-ção46 estão orientadas para clarificar estas experiências e assim conduzirem a um dis-cernimento. Mas, estão sempre interessadas com experiências actuais e não com desejos abstractos, porque Inácio só fica satisfeito quando é "o Criador que age ime-diatamente com a criatura e a criatura com o seu Criador e Senhor47.

5.1.2. Etapas no discernimento da vocação 61 Inácio fala de fazer uma sã e boa "eleição da sua própria vida e estado". Esta

“eleição” deve ser uma resposta livre e generosa da nossa parte a um "chamamento vocacional" de Deus. Inácio indica-nos a maneira de nos dispormos interiormente para escutar o chamamento do Senhor e de nos comportarmos dependendo da maneira como Deus se faz ouvir.

62 Podemos distinguir entre dois objectivos:

Discernir um "estado de vida": vida laical (na CVX ou noutro lado qualquer), sacer-dócio ou vida religiosa.

Discernir um "estilo de vida"48. Um elemento chave neste discernimento é a rela-ção entre a pessoa e os seus possíveis contextos de vida: família, amigos, comuni-dade, estudos, trabalho... Nem todos os contextos são favoráveis ao crescimento pessoal, nem para o crescimento em liberdade necessário para discernir um estilo de vida. Precisamos, pois, de facilitar este discernimento entre estilos de vida que favorecem o crescimento. Muitas vezes, o desenvolvimento fica a meio caminho por falta de cuidado nas primeiras etapas.

41 Ver EE 139. 42 Ver 1Cor 15,28. 43 Ver PG 4. 44 Ver EE 135. 45 Ver EE 176. 46 Ver EE 135-168; 169-189. 47 Ver EE 15. 48 Ver EE 189.

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63 O discernimento da vocação é um processo com etapas que é essencial seguir e conhecer. Estas etapas não são lineares; mas há entre elas um movimento dinâmico de graça e liberdade.

64 Primeiro, temos que ter uma disposição apropriada, adoptando atitudes espirituais

particulares, que são pré-requisitos para uma boa eleição:

Assimilar os critérios de Cristo49.

Tomar decisões de acordo com a vontade de Deus50.

Ter os nossos afectos centrados em Deus, amando a Jesus com um coração livre e apaixonado51:

65 • no "primeiro grau de humildade", fazendo uma opção fundamental: "que em

tudo obedeça à lei de Deus, nosso Senhor, de tal sorte que... nem pela própria vida temporal, eu nem esteja a deliberar se hei-de infringir um mandamento... que me obrigue sob pena de pecado mortal"51.

66 • no "segundo grau de humildade", sentir-se indiferente e livre em relação a

todos as coisas criadas, a ponto de não ser capaz de considerar em qualquer circunstância um pecado venial, quer dizer, assim como não resistir volunta-riamente ao chamamento de Deus, ainda que em coisas menores52.

67 • no "terceiro grau de humildade"53, buscar o magis com uma crescente identifi-

cação com o Espírito de Cristo pobre e humilde. 68 Por outro lado, temos que procurar cuidadosamente as manifestações da vontade do

Senhor:

reflectindo, na Sua presença, sobre a finalidade da eleição e sobre as vantagens e inconvenientes de cada alternativa, à luz da fé;

permanecendo atento às moções dos espíritos e seus efeitos (consolação ou deso-lação) para discernir em que sentido o Senhor nos está a mover;

rezando fervorosamente ao Senhor para que dê a conhecer a Sua vontade.

5.1.3. Preparação e confirmação da eleição feita nos Exercícios

69 Segundo a tradição inaciana, os Exercícios Espirituais constituem o melhor tempo para

discernir a nossa vocação. Contudo, como Inácio bem sabia, não podemos fazer os Exercícios com vista a escolher o nosso estado de vida sem nos prepararmos bem. Esta preparação pode durar um razoável período de tempo, mas não deve continuar indefinidamente, para evitar que a eleição se torne impossível. Embora as Terceira e a Quarta Semanas dos Exercícios sejam já um tempo de confirmação da eleição da Segunda Semana, convém dispor do tempo necessário para confirmar e explicitar melhor o chamamento do Senhor, através do que nos acontece internamente e exter-namente no nosso contacto com o mundo.

70 Tanto durante o tempo de preparação como no de confirmação, Inácio convida-nos a

colocarmo-nos em diversas situações, a que ele chama experiências ou provações, e a

49 Ver Bandeiras, EE 136-148. 50 Ver Binários, EE 149-157. 51 Ver EE 165. 51 Ver EE 165. 52 Ver EE 166. 53 Ver EE 167.

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sermos acompanhados espiritualmente por alguém que nos possa ajudar a discernir o chamamento do Senhor.

5.2. A utilização de experiências ou provações 71 Como preparação para os Exercícios que envolvam uma eleição, estas experiências

não são somente de serviço real, mas podem acima de tudo pôr a pessoa num contex-to favorável para se cair na conta de novos chamamentos do Senhor. Como prepara-ção e confirmação de uma eleição, é também importante notar quaisquer moções espi-rituais e seus efeitos, como sugere S. Inácio no segundo tempo para se fazer uma boa eleição54.

72 Nestas experiências, que podem ser capazes de nos comover55, procuramos tornar-nos

vulneráveis à vontade do Senhor na comunidade e por meio da comunidade. Esta vul-nerabilidade prepara-nos para a, e as consequências dela confirmam-nos na, eleição que fizemos.

73 Alguns possíveis campos de experiências:

Experiências de exposição ao mundo do sofrimento e da pobreza.

Participar em actividades apostólicas e de serviço em situações diferentes das habituais mais protegidas, para experimentar as próprias qualidades e pobrezas e, sobretudo, para poder viver a fundo o dom gratuito de si mesmo.

Empreender estudos e programas de formação com uma clara intenção apostólica: só para "ajudar as almas..."

Uma Escola de oração como preparação para a experiência dos Exercícios, começar acompanhamento pessoal, participação em retiros e Exercícios ligeiros, etc.

74 A escolha das experiências ou provações e a maneira de as apresentar dependerá da

etapa do discernimento vocacional em que cada pessoa se encontrar. É importante, além disso, ter em consideração a idade de quem se encontra a discernir a sua voca-ção à CVX. Para leigos adultos, com um estado de vida já definido, as experiências aconselháveis serão diferentes das que se propõem a jovens, cujo discernimento voca-cional será sobre o seu estado de vida.

5.3. O acompanhamento pessoal 75 O acompanhante espiritual não é para pedir conselho, muito menos para perguntar o

que devemos fazer. Trata-se de partilhar as nossas experiências com alguém para escutar melhor o que Deus está a dizer e o que Ele pede. Ocasionalmente, o acompa-nhante pode aportar clarificação ou oferecer conselho, mas essas ocasiões devem ser mais a excepção do que a regra. O acompanhamento espiritual é um instrumento indispensável para buscar e encontrar a própria vocação56. É particularmente útil antes e depois dos Exercícios anuais.

54 Ver EE 176. 55 "sentir e gostar" (EE 2). 56 O acompanhamento pressupõe uma confiança mútua que se traduz em abrir-se com sinceridade ao acompanhante. Daí a necessidade de uma grande discrição e confidencialidade por ambas as partes. Também é importante que o acompanhante tenha assimilado as Anotações (EE 1-20) e conheça os processos do crescimento espiritual assim como as exigências de uma vocação apostólica. Também é importante que tenha integrado na sua própria vida as implicações apostólicas da promoção da justiça, do diálogo intercultural e inter-religioso como dimensões da evangelização.

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B. DISPONIBILIDADE PARA A MISSÃO

1. Sentido da missão

1.1. A missão de Jesus57 76 Nos evangelhos e de um modo especial no evangelho de João, Jesus é-nos apresenta-

do como O enviado do Pai. O ser enviado é precisamente o que dá sentido à Sua vida e à Sua presença entre nós, de tal maneira que não podemos entender a figura de Jesus senão a partir desta missão que o Pai Lhe confiou. Por outro lado, a missão não é algo que pertença a Jesus; é dom que Ele recebeu do Pai58.

77 Jesus vive esta missão em total comunhão com o Pai59. Por isso a realidade mais ínti-

ma de Jesus é ser Filho. A Sua vida é a do Pai, a que Lhe dada pelo Pai. Uma vida que Ele entregará à humanidade e por isso os crentes serão aqueles que vivem com a vida do Filho61.

78 A missão de Jesus, o Filho, é a que o Pai Lhe confiou. Jesus sabe que Ele não é pro-

prietário desta missão: Ele que não veio a este mundo "por si mesmo", mas para e levar a cabo a Sua missão, porque o Pai e Ele são um, e vivem em comunhão plena com o Espírito (Deus é Trindade e é Comunhão)62.

79 O objectivo desta missão será precisamente que todos os homens e mulheres, os

amados do Pai, cheguem à comunhão com o Deus Trino: mesmo agora, somos cha-mados a viver na plenitude de Deus63. Jesus é o mensageiro e, ao mesmo tempo, a mensagem64.

1.2. A missão da Igreja 80 A Igreja é "a congregação de todos os crentes que olham Jesus como autor da salva-

ção e princípio de unidade e de paz"; “é convocada e constituída por Deus para ser sacramento visível desta unidade salvífica"65. A Igreja é o sacramento de salvação na história concreta do nosso mundo66.

81 Pela acção do Espírito Santo, a Igreja representa as mãos e os pés de Jesus, Ressusci-

tado e Vivo. A Igreja continua a mesma missão do Filho, de tal maneira que é essa missão que lhe dá razão de ser. A Igreja é o sacramento da missão do Filho que,

57 O ponto de partida da missão é a relação com Jesus. Jesus está presente não só no coração de cada um dos mem-bros da CVX, mas também no seu Corpo, do qual o grupo CVX é uma das suas células; além disso, está presente naqueles a quem são enviados – família, amigos, local de trabalho, a comunidade mais ampla, especialmente os mais necessitados. Portanto, a missão adquire vida e dá força ao grupo quando esta tríplice presença – Jesus presente no coração de cada membro do grupo, Jesus presente na CVX e Jesus presente naqueles a quem o grupo é enviado – adquire vida e actua neles. 58 "Desci do céu não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d'Aquele que Me enviou" (Jo 6, 38). Ver Jo 4, 34; 5,30; 9,4-5; 14,24). 59 "O que Me enviou está em Mim" (Jo 8, 29). Ver Jo 3, 35; 17, 7-8; 5, 19. 61 "Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim também o que Me come viverá por Mim" (Jo 6,57). 62 Ver Jo 10,30 e 38; 11, 41-42; 13, 9; 14, 20; 16, 28. 63 "como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós" (Jo 17, 21). Ver Jo 17, 24 e 26. 64 "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim" (Jo 14, 6). 65 Ver Lumen Gentium 9. 66 Ver LG 1.

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movida pelo Espírito, caminha pela história para a plenitude da comunhão de todos com Cristo e, no mesmo Espírito, para a vida plena com o Pai. Se não fosse pela mis-são do Filho, a Igreja não seria nada, perderia o seu sentido67.

1.3. Dimensão sacramental da missão 82 Jesus é o sacramento do amor do Pai; a Igreja, o sacramento de Jesus, é vida e salva-

ção para toda a humanidade. O chamamento do Pai, brotando do amor, realiza-se e é eficaz em Jesus e na Sua missão; o chamamento de Jesus, por amor, realiza-se e é eficaz na Igreja e na sua missão. E esta missão da Igreja desenvolve-se na missão dos chamados e convocados pelo amor do Pai pela Igreja.

83 Cada cristão é, antes de mais, alguém arrebatado pelo amor de Deus. Esta vínculo

com o Senhor (vocação) tomará forma concreta, desenvolver-se-á e será eficaz preci-samente no momento em que os cristãos recebem o Espírito e são enviados ao mun-do, em missão, na e pela Igreja.

84 De acordo com a especificidade de cada um dos carismas que surgem na comunidade

cristã, a Igreja confia a missão de Jesus a todos os cristãos. Para ser realmente mis-são, tem de ser expressada por meio de sinais específicos. A missão confiada pelo Pai realiza-se através de nós, o corpo de Cristo. A missão confiada por Jesus realiza-se através dos membros da Igreja. A missão de cada fiel e de cada grupo de fiéis, comu-nidade, igreja local, realiza-se através de sinais visíveis proporcionais a cada situação. Cada carisma eclesial expressará o "missionar" no seu modo específico68.

85 Missão implica que alguém envia e que alguém é enviado a implementar a mesma

missão de Jesus na e através da Igreja.

1.4. Dimensão profética da missão 86 A missão de Jesus explica-se e entende-se nos escritos do Novo Testamento como

uma missão profética. Jesus é "o profeta" par excellence69 que, através das Suas pala-vras e do Seu comportamento (palavra+acção), realiza a missão que o Pai Lhe con-fiou. A missão não é simplesmente um modo de pensar ou uma maneira estar no mundo, mas antes acções específicas70 e palavras71. Os discípulos de Jesus são cha-mados a comportar-se como profetas, como Jesus os ensina72.

87 Cada cristão é consagrado73 para esta missão profética. É este o sentido da unção do

rito baptismal74 "O Espírito Santo unge o baptizado, imprime-lhe o Seu selo inde-lével75 Com esta unção, o cristão pode repetir as palavras de Jesus: "O Espírito do

67 Ver Jo 17, 17. 68 O carisma próprio das associações de leigos, expressa o envio em missão através de processos de discernimento comunitário e formas concretas segundo as suas próprias características. O carisma próprio da vida religiosa expressa a missão através do processo de discernimento que tem por referente e expressão o voto de obediência. Em qualquer caso, trata-se de buscar a vontade de Deus e levá-la a cabo como missão de Igreja. 69 "poderoso em palavras e obras para a salvação de Israel" (Lc 24, 19, 21). Ver Lc 4, 24; 13, 33; 7, 16; 24, 19; Mc 1, 22; 6, 2; Mt 21, 11-14; 16, 14. 70 "Jesus chamou os discípulos e deu-lhes poder para expulsar os espíritos impuros e de curar toda a enfermidade e toda a doença" (Mt 10, 1). 71 "Pai, consagra-os na verdade... rogo por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim" (Jo 17, 17 e 20). Ver Mc 6, 30). 72 Ver Mt 10, 40-42. 73 Consagração significa que Deus se apropria daquele a quem quer destinar para uma determinada missão. No Antigo Testamento os reis eram consagrados ungindo-se-lhes com óleo a cabeça. 74 "Deus todo poderoso... te consagra com o crisma da salvação para que, incorporado no seu povo, sejas sempre membro de Cristo, sacerdote, profeta e rei, para a vida eterna" (Unção com o crisma no Ritual do baptismo). 75 Ver 2Cor 1, 21-22.

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Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu, para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recobrar a vista; a mandar em liberdade os oprimidos e a proclamar o ano de graça do Senhor"76. Assim, mediante o lavamento baptismal e a unção com o crisma, o baptizado participa na missão de Jesus Cristo, nosso Messias Salvador"77.

1.5. Dimensão vital da missão 88 Ser cristão implica ser discípulo e, portanto, ter recebido a missão profética, uma mis-

são que tem muitas facetas. Algumas vezes, a mais importante é comunicar esperança e sentido de viver aos homens e mulheres deste nosso mundo, mas sem dúvida, em muitos casos, significará também denunciar e falar sem medo. Isto pressupõe uma maneira de viver e de pensar, um modo de enfrentar os desafios da vida nos nossos âmbitos familiar, social, político, profissional. Por isso, não basta estar simplesmente lá; os cristãos estão lá como profetas, para anunciar com acções e com palavras a presença do Reinado de Deus.

1.6. Maria modelo para a missão 89 O desígnio de Deus fez de Maria uma peça-chave na possibilidade da própria missão

do Filho78. Maria foi escolhida pelo amor imensurável de Deus. Ela foi chamada – voca-ção – e enviada a realizar a missão de dar à luz o Filho para o nosso mundo.

90 Maria acolheu o chamamento e imediatamente partiu (acção) para levar a boa notícia

(palavra) a Isabel. O acolhimento do mistério marcou a sua vida79. Ela foi, antes de mais, a primeira crente, a primeira cristã80. Em Maria, as esperanças e os desejos de salvação que os pobres tinham depositado no amor de Deus realizaram-se. Maria foi a pobre de Yahvé81, que, no meio da sua pobreza real, pôs a sua esperança em Deus somente. O seu estilo de vida, pobre e simples, foi um gesto profético82.

2. O campo da missão CVX 91 De acordo com as orientações dadas pelo Vaticano II, a missão dos leigos em CVX não

é para ser entendida num sentido restritivo nem estabelecendo dicotomias. O campo da missão na CVX não conhece limites. Estende-se à Igreja e ao mundo, ao serviço das pessoas e da sociedade, num esforço por chegar ao coração de cada pessoa e por transformar estruturas injustas, trazendo o Evangelho a todos e em todas e a todas as situações e circunstâncias83.

92 Considerando o carácter laical da vocação CVX e dada a situação do mundo de hoje,

marcado por graves injustiças estruturais e pela marginalização duma larga parte da família humana que vive em pobreza e miséria, o serviço a que a CVX é chamada a dar prioridade, à luz da sua opção preferencial pelos pobres, é a promoção da justiça.

76 Lc 4, 18-19. Ver Is 61, 1-2. 77 Ver ChL 13. 78 Ver PG 9. 79 Ver Lc 2, 19 e 51. 80 Ver Lc 1, 45. 81 Esse é o sentido do Magnificat que recolhe e resume as expectativas de todos os pobres (ver Lc 1, 46-56). Está inspirado no canto de Ana, mulher que só esperava na acção de Deus (ver 1Sam 2, 1-10). 82 Ver Lc 10, 21; Mt 11, 25-27; Mt 10, 4. 83 Ver PG 8.

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93 É o amor de Deus que nos impele, como membros da CVX, a transformar o mundo, para que todos os filhos e filhas de Deus possam viver com dignidade. Devemos tentar ver Jesus em cada homem e mulher, porque Jesus se identificou com cada um, em especial com os mais necessitados84. Compromisso com a causa da liberdade e da jus-tiça só faz sentido para nós na medida em que está motivado pelo Espírito de Cristo, como uma expressão de fé e de amor.

94 O trabalho pela justiça assume formas diversas segundo as circunstâncias regionais,

culturais e as diferentes situações sociopolíticas. No entanto, esta prioridade deve mostrar-se no nosso estilo e nível de vida. Nos Exercícios Espirituais, pedimos a graça de seguir Jesus, pobre e humilde, e esperamos obter esta graça do Senhor. Crer em Jesus, portanto, significa segui-Lo mais de perto; partilhar a Sua pobreza significa viver uma vida de fé que promove a justiça e toma o partido dos pobres. Um estilo de vida simples salvaguarda a nossa liberdade apostólica, expressa a nossa solidariedade com os pobres e torna credível a nossa fé. Esta opção não pode permanecer teórica. Inácio, falando da pobreza, pede aos jesuítas que "...todos a seus tempos sintam alguns efeitos dela"85.

95 A promoção da justiça é, portanto, integral ao contexto mais amplo da evangelização,

do anúncio de Jesus Cristo e do Seu Reino.

3. Desenvolvimento da missão na CVX 96 Como comunidade, a CVX recebe um carisma específico (inaciano) ao serviço da mis-

são da Igreja. Expressa-se pelo envio dos seus membros em missão, fruto do discer-nimento apostólico comunitário, para formas específicas de apostolado. Nem sempre será fácil fazer isso, mas uma coisa é certa: os que optaram pelo carisma inaciano são, antes de mais, apóstolos na missão da Igreja e portanto são enviados pela comu-nidade que partilha a sua vocação específica. É seu direito saberem que a comunidade os envia explicitamente e, ao mesmo tempo, acompanha o discernimento apostólico e a missão à medida que ela se desdobra.

3.1. Missão individual 97 Em relação com os outros e atentos aos sinais dos tempos, os que a isso estão dispos-

tos são movidos a abrir os seus corações às necessidades dos homens e mulheres do seu mundo. Desse contacto com a realidade surgem chamamentos pessoais que con-duzirão a formas específicas de seguir o Senhor.

98 O convite para O seguir (vocação) tornar-se-á concreto na forma como pessoalmente

respondemos a estes chamamentos. A vocação inicial de seguir Jesus desembocará em actividades específicas. Mas, para que estas actividades se tornem missão, é necessá-rio que a comunidade assuma o chamamento, ajude a discernir e, finalmente, envie cada um em missão86. Neste sentido talvez seja mais correcto falar de envolvimento pessoal na missão da Igreja.

84 Ver Mt 25, 31-46. 85 Const. 287 (Ver PG 4 e 8). 86 Esse é o processo que se dá em toda a missão profética. Deus irrompe imprevisivelmente na vida e no coração daqueles a quem quer enviar ao serviço do Seu povo (vocação) e logo, desde a adesão do coração e a partir das neces-sidades do povo, vai aclarando a missão e precisando os gestos e palavras do profeta que expressam a sua missão.

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99 Para cada membro CVX, os diferentes contextos da sua vida laical, família, política, trabalho, comunidade, Igreja local, são os principais campos de acção.87

3.2. Missão de grupo 100 A acção pode ser não só a nível pessoal, mas também ao nível do grupo, segundo as

circunstâncias, e em resposta às necessidades percebidas pelos membros da comuni-dade. Estas actuações apostólicas são também expressão da vocação pessoal que cada um recebeu do Senhor. Nestes casos, a comunidade, de uma maneira ou de outra, tenderá a dar à acção, que assume e discerne, sentido de missão. Podemos falar, por-tanto, de envolvimento de grupo na missão da Igreja. Trabalhar em equipa, com a graça de Deus, terá maior eficácia apostólica.

101 À medida que as instituições da Igreja tomam consciência da sua incapacidade, senti-

rão a necessidade de colaborar entre elas ao serviço da missão de Jesus, e a colaborar com outras associações de crentes ou não-crentes que escolheram servir os que mais necessitam. Para os cristãos, missão na Igreja pode frequentemente significar partilhar com crentes e não-crentes, a nível pessoal ou de grupo.

3.3. Missão comum 102 A missão comum da CVX é a missão que Cristo lhe confiou como associação de Igreja.

Esta missão é a resposta que a CVX se sente chamada a dar às grandes necessidades e aspirações do mundo de hoje. É a sua forma de anunciar a Boa Nova do amor de

87 Assinalamos alguns desses campos de actuação com as palavras de João Paulo II, na Exortação Apostólica Christifi-deles Laici (30 de Dezembro de 1988). "Redescobrir e fazer redescobrir a dignidade inviolável de cada pessoa humana constitui uma tarefa essencial; é mais, em certo sentido, a tarefa central e unificante do serviço que a Igreja e, nela, os leigos, estão chamados a prestar à família humana... Se bem que a missão e a responsabilidade de reconhecer a dignidade pessoal de todo o ser humano e de defender o direito à vida é tarefa de todos, alguns leigos são chamados a isso de modo particular. Trata-se dos pais, dos educadores que trabalham no campo da medicina e da saúde e dos que detêm o poder económico e político" (ChL. 37 e 38). "O matrimónio e a família constituem o primeiro campo para o compromisso social dos fiéis leigos. É um compromisso que só pode levar-se a cabo adequadamente tendo a convicção do valor único e insubstituível da família para o desen-volvimento da sociedade e da própria Igreja". (ChL 40). "A caridade que ama e serve a pessoa não pode jamais estar separada da justiça: uma e outra, cada qual a seu modo, exigem o efectivo reconhecimento pleno dos direitos da pessoa, para a qual está ordenada a sociedade com todas as suas estruturas e instituições"... "Para animar cristãmente a ordem temporal - no sentido assinalado de servir a pessoa e a sociedade - os fiéis leigos não podem, de modo nenhum, abdicar da participação na "política"; isto é, na multiforme e variada acção económica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucional-mente o bem comum... Todos e cada um têm o direito e o dever de participar na política, se bem que com diversidade e complementaridade de formas, níveis, tarefas e responsabilidades. As acusações de arrivismo, de idolatria do poder, de egoísmo e corrupção que, com frequência, são dirigidos aos homens do governo, do parlamento, da classe dominan-te, do partido político, como também a difundida opinião de que a política seja necessariamente um lugar de perigo moral, não justificam o mínimo nem a ausência nem o cepticismo dos cristãos em relação à "coisa" pública"... "além disso, uma política para a pessoa e para a sociedade encontra o seu rumo constante no caminho da defesa e promoção da justiça, entendida como "virtude" em que todos devem ser educados e como "força" moral que sustém o empenho por favorecer os direitos e deveres de todos e de cada um, na base da dignidade pessoal do ser humano" (ChL. 42) "No contexto das perturbadoras transformações que hoje se dão no mundo da economia e do trabalho, os fiéis leigos hão de comprometer-se, na primeira fila, em resolver os gravíssimos problemas da crescente desocupação, a lutar pela mais tempestiva superação de numerosas injustiças provenientes de deformadas organizações de trabalho, a converter o local de trabalho numa comunidade de pessoas respeitadas na sua subjectividade e no direito à participação em desenvolver formas de solidariedade entre aqueles que participam no trabalho comum e de intercâmbios tecnológicos" (ChL.43). "É absolutamente necessário que cada fiel leigo tenha sempre uma viva consciência de ser "membro da Igreja" a quem se confiou uma tarefa original, insubstituível e indelegável que deve levar a cabo para o bem de todos. Nesta perspecti-va, assume todo o seu significado a afirmação do Concílio sobre a absoluta necessidade do apostolado de cada pessoa singular: "O apostolado que cada um deve realizar e que flúi com abundância da fonte de uma vida autenticamente cristã (cf. Jo.4, 14), é a forma primordial e a condição de todo o apostolado dos leigos, inclusivamente do associado e nada pode substituí-lo. A este apostolado, sempre e em todas as partes proveitoso, e em certas circunstâncias o único apto e possível, estão chamados e obrigados todos os leigos, qualquer que seja a sua condição, ainda que não tenham ocasião ou possibilidade de colaborar em associações" (Conc. Vaticano II - Decreto sobre o Apostolado dos Leigos, 16)" (ChL. 28).

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Deus no momento histórico actual. A missão comum é tornada concreta pela identifi-cação de prioridades apostólicas e de linhas de acção.

103 Isto não significa que todos os membros CVX tenham que fazer a mesma coisa. A mis-

são é que é comum: as tarefas são diferentes. Isto em razão, não apenas da origem da missão, mas também da sua orientação. Todos nós, cada um à sua maneira, defendemos os mesmos valores, prosseguimos os mesmos objectivos e temos as mes-mas prioridades. Podemos falar de envolvimento comum na missão da Igreja.

4. Encontrar a nossa missão em CVX 104 Na pedagogia inaciana, o ponto de partida é o mundo real. Todos são convidados a

exporem-se à dor, à pobreza, e à “angústia” do nosso mundo. Isto é verdade sobretu-do para os jovens. Inácio usa um termo clássico para expressar esse tipo de experiên-cias. Fala de "provações"89. Estas experiências tocam aqueles que as vivem e permite-lhes olhar o seu mundo com uma nova visão. Estas provações são como “sacramen-tos” que profundamente marcam a pessoa. Seria bom para a CVX procurar modos rea-listas de experimentar o seu mundo desta maneira.

105 Este "baptismo de realidade" vai para lá da pura análise social, e através dele adquire-

se uma especial sensibilidade para os sinais dos tempos. 106 Por outro lado, para encontrar a nossa missão na CVX, é importante estar em disponi-

bilidade sincera para o serviço da Igreja local e universal. Assim actuaram sempre Iná-cio e os seus companheiros.

107 Estando sempre atento aos sinais dos tempos e pronto para o serviço da Igreja, é-se

sensível aos chamamentos específicos que, pelo discernimento apostólico pessoal e comunitário, se transformam em missão. Contudo, não se pode esquecer que o pri-meiro passo no discernimento, para se poder escolher com liberdade e a partir do amor, é a indiferença.

108 Todo o processo de discernimento pelo qual "procuramos" a vontade de Deus no que

se refere à nossa missão requer atenção cuidadosa aos ritmos pessoais e de grupo, com a ajuda dos acompanhantes pessoais e guias de grupo.

4.1. O discernimento apostólico 109 O discernimento apostólico é uma atenção inteligente e contemplativa que o cristão

adulto dá ao Espírito em todos os seus compromissos na família, profissão, sociedade e Igreja. O objectivo é procurar e encontrar a vontade de Deus no que diz respeito à nossa missão. Para buscar a vontade de Deus, o coração deve arder do mesmo fogo que arde no coração de Cristo90. É necessário igualmente conhecer os diferentes modos como Deus pode manifestar a Sua vontade. Numa palavra, deve-se estar pron-to para optar pela maior glória de Deus e pelo bem mais universal.

89 Para compreender a pedagogia inaciana não basta conhecer os Exercícios. Inácio propõe para a formação de um jesuíta uma série de experiências. A primeira de todas é fazer os "Exercícios Espirituais por um mês pouco mais ou menos"... "A segunda, servir em hospitais"... a "terceira, peregrinar por outro mês sem dinheiro"... a "quarta, exerci-tar-se em diversos ofícios baixos e humildes" ... a "quinta, ensinar a doutrina cristã a pessoas rudes" (Constituições 65-69). Evidentemente que este processo não é exigível na CVX, mas é válida a intuição de Inácio que em definitivo tem, antes de mais, os olhos no processo kenótico de Jesus como chave para entender o mistério da salvação (Ver Fil 2, 1ss). 90 Ver Lc 12, 49; Fil 2, 5.

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Quando este processo de discernimento é feito em comunidade - o que é muito carac-terístico da CVX - convém ter presentes os seguintes elementos:

4.1.1. Oração pessoal e comunitária 110 O discernimento é, do princípio ao fim, um caminho de oração. Recordando que fomos

criados para "louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor"91, "reconhecemos a necessidade da oração e do discernimento, pessoal e comunitário… como meios impor-tantes para buscar e encontrar a Deus em todas as coisas"92. Com "grande ânimo e liberalidade"93 queremos pedir a nosso Senhor os dons da disponibilidade e do conhe-cimento da Sua vontade neste mundo no qual vivemos. Fazemos estes pedidos como parte importante da nossa oração pessoal diária e repetimo-los nos nossos encontros comunitários ao longo de todo o processo de discernimento.

4.1.2. Olhar a realidade 111 Reconhecemos que o mundo inteiro é o nosso lugar de encontro com Deus. Por esta

razão, estabelecemos contacto com tudo o que nos rodeia para aí descobrirmos o chamamento do Senhor. E porque o campo da nossa possível missão não tem limi-tes94, não podemos estreitar este nosso olhar sobre a realidade quando procuramos descobrir qual é a nossa missão. O Senhor fala-nos na nossa comunidade, através da sua história presente e passada, na Igreja e no nosso país95. Este é o modo como podemos vê-Lo a actuar através de nós nos nossos apostolados pessoais96 e nos apos-tolados de grupo ou associados97. As necessidades que vemos hoje na Igreja e no mundo são igualmente chamamentos do Senhor. Queremos responder melhor, saben-do que "o amor consiste mais em obras do que em palavras"98.

4.1.3. O nosso carisma inaciano

112 Como Comunidade sabemos que a nossa vocação comum, o nosso carisma e estilo de

discernimento, têm a sua origem nos Exercícios Espirituais e estão expressos nos Prin-cípios Gerais da CVX. A nossa vida não tem sentido se não for para querer e buscar "em tudo e por tudo o maior louvor e glória de Deus nosso Senhor" (EE 189). Recor-demos que "a nossa vida é essencialmente apostólica" e que "o campo da missão da CVX não conhece limites". “Como membros do Povo de Deus peregrino recebemos de Cristo a missão de ser Suas testemunhas diante de todas as pessoas, pelas nossas ati-tudes, palavras e acções"99.

4.1.4. Moções espirituais 113 S. Inácio aprendeu a reconhecer os movimentos interiores e espirituais. Na sua Auto-

biografia ele diz que estando ainda na casa de Loyola "se lhe abriram um pouco os olhos e começou a maravilhar-se desta diversidade e a reflectir sobre ela, colhendo por experiência que com uns pensamentos ficava triste e com outros alegre e pouco a

91 Ver EE 23. 92 Ver PG 5. 93 Ver EE 5. 94 Ver PG 8. 95 Ver o que dissemos sobre as "provações" que S. Inácio propunha. 96 Ver PG 8a. 97 Ver PG 8b. 98 Ver EE 230. 99 Ver PG 8.

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pouco chegou a conhecer a diversidade dos espíritos que se agitavam: um do demónio e o outro de Deus"100.

114 Depois, em Manresa, durante a experiência original dos Exercícios Espirituais, apro-

fundou a sua consciência dessa diversidade de moções espirituais e da forma de inter-pretá-las para conhecer a vontade do Senhor. Formados na escola dos Exercícios, podemos aprofundar diariamente a nossa compreensão e aprendermos a ficarmos mais conscientes e interpretarmos com mais segurança estes movimentos interiores, suscitados ao olharmos para o que nos rodeia. Isto permite-nos conhecer o que o Senhor deseja de nós, como indivíduos e como comunidade.

4.1.5. Processo de grupo 115 Estes movimentos interiores serão experimentados na oração e na vida diária por cada

membro da comunidade. Eles serão também parte da experiência que partilhamos abertamente. Tomar consciência deles e interpretá-los espiritualmente permitir-nos-á saber se as nossas reacções ao mundo à nossa volta nos conduzem ao maior serviço e louvor de Deus.

116 Tudo isto pressupõe que o grupo já está profundamente alicerçado na confiança mútua

e que, com a ajuda do guia, pode ser sensível ao processo dinâmico do grupo como tal. Será importante Uma constante abertura aos outros, através da escuta, será importante, evitando qualquer discussão a não ser que o processo de discernimento explicitamente o peça.

117 Estes elementos são essenciais para um discernimento apostólico e convém que este-

jam presentes ao longo de todo o processo. Como já foi dito, o apoio constante de um bom guia de comunidade é necessário. De forma semelhante para o discernimento apostólico individual é recomendado que tenhamos o apoio de um acompanhante espi-ritual experimentado.

4.2. O discernimento apostólico como atitude permanente 118 De uma ou outra forma, estes elementos estão sempre presentes no membro CVX que

deseja viver o discernimento apostólico como atitude habitual. É o fruto da “Contem-plação para alcançar amor" no fim dos Exercícios101: "conhecimento interno de tanto bem recebido, para que eu, inteiramente reconhecido, possa em tudo amar e servir a Sua divina majestade". Movido por esse amor agradecido, S. Inácio convida-nos a buscar sempre a maior lucidez quanto à presença e acção de Deus nas nossas vidas.

119 Por isso, o exame é uma das actividades mais significativas pela qual o discernimento

apostólico se torna parte de nós102. Nos Exercícios são-nos propostos diversos tipos de exame. Entre eles está o Exame Geral (ou revisão do dia) que nos ajuda a "em tudo amar e servir" recordando que "o amor consiste mais em obras do que em palavras".

100 Autobiografia 8. 101 Ver EE 230-237. 102 Uma dinâmica fundamental dos Exercícios Espirituais é o contínuo apelo a reflectir, na oração, sobre o conjunto de toda a experiência pessoal para poder discernir onde nos leva o Espírito de Deus. Inácio exige a reflexão sobre a expe-riência humana como meio indispensável para discernir a sua validade, porque sem uma reflexão prudente, é muito possível a mera ilusão enganadora e sem uma consideração atenta, o significado da experiência individual pode ser desvalorizado ou tornar-se trivial. Só depois de uma reflexão adequada da experiência e de uma interiorização do significado e das implicações do que se vive, se pode proceder livre e confiantemente a uma eleição correcta dos modos de proceder que favoreçam o desenvolvimento pleno e integrado de cada pessoa que busca a maior fidelidade no cum-primento da missão que recebe de Deus. Para S. Inácio a reflexão constitui o ponto central na passagem da experiência à acção. A contínua inter-relação de experiência, reflexão e acção definem o paradigma pedagógico inaciano.

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Para Inácio, a revisão do dia é verdadeiramente um colóquio a transbordar gratidão humilde e cheio de fé, confiança e amor103.

120 Supõe-se que aquele que pratica este “exercício espiritual” é um apóstolo que, ao lon-

go do dia, colaborou com o Senhor Jesus, de acordo com a meditação do Reino: "aquele que quiser vir comigo..."104, e que no final do dia quer falar sobre o que o Senhor fez durante todo este tempo, "como um amigo fala ao seu amigo"105. Para o dia que está prestes a começar, há a oração a pedir a graça de viver cada momento partilhando a missão de Jesus.

121 Assim, para aqueles que seguem as pegadas do apóstolo procurando continuar ao lado

do Senhor, o exame é uma paragem absolutamente indispensável, que lhes permite ver a sua jornada em perspectiva e recuperar forças para empreender a nova etapa com renovado vigor e lucidez. Acima de tudo, a prática fiel do exame é essencial para a formação do "contemplativo na acção" que busca e encontra Deus em todas as coi-sas.

4.3. Critérios inacianos para o discernimento apostólico 122 Os Princípios Gerais da CVX insistem na necessidade do discernimento apostólico106.

Oferecem também alguns critérios, inspirados pelos que foram estabelecidos por S. Inácio, para seleccionar os ministérios e as missões particulares. Como tudo o que nos vem de Inácio, neste caso o discernimento apostólico, tem a marca do “magis” (o mais eficaz). O seu zelo pela maior glória de Deus levava-o a buscar os meios mais eficazes para ajudar o próximo.

123 O discernimento desses meios mais aptos faz-se no Espírito de Cristo, através das

regras para discernir quais os movimentos interiores que vêm do mesmo Espírito, através da nossa contemplação da vida de Jesus. Essas regras foram já mencionadas no parágrafo referente à escolha da nossa vocação pessoal. É um processo que envol-ve o coração não menos que a cabeça. Inácio, contudo, propõe alguns critérios racio-nais, (cf. Três tempos para fazer eleição, EE 175) com vista a descobrir o maior servi-ço que se pode prestar ao nosso próximo em determinadas circunstâncias.

124 Os critérios inacianos de discernimento apostólico encontram-se não apenas nos EE,

mas também, e sobretudo, na Autobiografia, onde o progresso pessoal e os processos são ilustrados e nas suas Cartas, onde Inácio sugere estratégias para objectivos defi-nidos e propõe meios para os atingirmos. Nas Constituições da Companhia107, Inácio faz uma apresentação sistemática dos critérios para a escolha dos ministérios108. Estes

103 Alguns tipos de "exames" propostos no livro dos Exercícios são: a "Quinta adição da Oração (EE 77); o "Primeiro Modo de Orar" que pode ser considerado como uma oração de exame (EE 241); o Exame Particular (EE 24-31). Ver no Material de apoio: "Revisão do Dia". 104 Ver EE 95. 105 Ver EE 54. 106 "A Comunidade ajuda-nos a viver este compromisso apostólico nas diferentes dimensões e a estarmos sempre abertos ao mais urgente e universal, particularmente através da "Revisão de Vida" e do discernimento pessoal e comu-nitário. Tentamos dar um sentido apostólico até às realidades mais humildes da vida quotidiana" (PG 8c). "Já que a Comunidade de Vida Cristã tem como objectivo trabalhar com Cristo para fazer avançar o Reino de Deus, todos os membros são chamados a uma participação activa no vasto campo do serviço apostólico. O discernimento apostólico, tanto individual como comunitário, é caminho ordinário para descobrirmos a melhor maneira de tornar Cristo presente, concretamente no nosso mundo" (PG 12b). 107 Ver Constituições 618, 622... 108 O bem mais universal, mais duradouro: "pensar globalmente, agir localmente", que por outras palavras significa "preferir o estrutural ao conjuntural"; criar instituições mais que acções pontuais; preferir acções e serviços em que os participantes possam intervir. O mais necessário e urgente: estar onde não está mais ninguém; estar onde quem lá deveria estar se preocupa pouco. O maior fruto: formar agentes multiplicadores; criar espaços de comunicação, conscientes de que somos uma única família global.

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critérios podem ajudar-nos a nós na CVX a definir a nossa própria missão apostóli-ca109; por exemplo, que como membros da CVX devemos estar abertos ao que é mais urgente e mais universal.

109 Ver também PG 8a.

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II. A COMUNIDADE DE VIDA CRISTÃ

(CVX) 125 A CVX é chamada a ser, antes de mais, uma comunidade cristã, com um certo número

de traços e características específicos. Para ajudar a uma melhor compreensão dos traços distintivos da CVX enquanto comunidade, examinaremos primeiro, muito bre-vemente, o caminho específico de crescimento e de maturação da comunidade e, depois, mais pormenorizadamente, o papel que a comunidade desempenha no cresci-mento e maturação dos seus membros.

A. O PROCESSO DA CVX COMO COMUNIDADE

126 A nossa fé bíblica mostra que Deus chama não apenas indivíduos, mas também envia comunidades a caminho, religiosas ou laicais, como a CVX.

127 Portanto, tomando os Exercícios Espirituais como a "fonte específica" da nossa espiri-

tualidade, a CVX como grupo vive uma história de graça semelhante à caminhada vivi-da por um indivíduo. A comunidade atravessa momentos de promessa, de chamamen-to e de avanço com confiança e esperança. Atravessa períodos de crise: momentos em que se sente longe de Deus, mas regressa para Ele e sente-se acolhida. Passa por experiências de regeneração do amor de Deus, em reconciliação e aceitação mútua, e por períodos de discernimento dos apelos de Deus para continuar a crescer até se tor-nar comunidade apostólica de discernimento.

128 Começa habitualmente por se constituir como uma comunidade de amigos no Senhor.

Este primeiro objectivo dá orientação ao grupo e oferece a base necessária para o desenvolvimento da comunidade. Para que a comunidade possa ter, desde o princípio, a riqueza dos "amigos no Senhor" é importante que nela se viva uma verdadeira expe-riência de Deus110.

129 Depois de um tempo inicial em que a comunidade está cheia de esperança, pode haver

momentos de crise e de tensão, e mesmo de pecado colectivo. Nesses tempos, é importante que o guia os ajude a ver e a viver que um grupo CVX pode acabar por se dissolver, se ninguém o ajuda a olhar e a viver esses momentos como tempos de cres-cimento, de purificação e de reconciliação em e com Cristo (Primeira semana dos Exercícios).

130 Graças a essa experiência, um novo desejo começa a surgir na comunidade: estar

unida a Cristo na sua missão no mundo e orientar a vida, cada vez mais, à luz das escolhas de Cristo (Segunda semana e seguinte dos Exercícios). Contacto com a pobreza, marginalização, e outras situações dolorosas no nosso mundo e a prática fre-quente dos Exercícios Espirituais, personalizados e completos, se possível, serão

110 "A frequente participação na Eucaristia, a intensa vida sacramental, a prática diária da oração pessoal, especialmen-te baseada na Sagrada Escritura, o discernimento por meio da revisão diária da própria vida e – dentro do possível – a direcção espiritual periódica; uma renovação interior anual em conformidade com as fontes da nossa espiritualidade e o amor à Mãe de Deus" (PG. 12a).

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necessários. Este será o momento para discernimento vocacional (para jovens, a elei-ção dum estado de vida, duma profissão, etc… para adultos, a reforma de vida) e mais tarde para se abrir como pessoa e como comunidade a um permanente discernimento apostólico no seguimento de Cristo.

131 Deste modo, a Comunidade torna-se uma comunidade apostólica, composta por adul-

tos “que desejam seguir mais de perto a Jesus Cristo e trabalhar com Ele na constru-ção do Reino e que reconheceram na Comunidade de Vida Cristã a sua particular voca-ção na Igreja”111; consequentemente, fazem com ela um compromisso permanente. Os membros dum grupo ajudam-se mutuamente a manter vivo o seu zelo apostólico e o serviço de qualidade que a Igreja espera deles.

132 Vê-se a si mesma não só como comunidade de apóstolos, isto é, de pessoas mais ou

menos comprometidas nas suas missões individuais, mas é antes uma comunidade apostólica em que os seus membros, ainda que se dediquem a suas diferentes tarefas, partilham as vidas e o modo como cada um realiza a própria missão, fazem discerni-mento sobre o objectivo e o conteúdo dessa missão. Eles são enviados pela Comuni-dade e, com a sua ajuda, avaliam o modo como estão a seguir Cristo que foi enviado pelo Pai.

133 Na etapa adulta, a missão mais importante é normalmente a “família”. O tempo dedi-

cado à comunidade será rigorosamente administrado. As reuniões e demais aconteci-mentos são programados para ter “missão” como seu objectivo. O ritmo comunitário não pode ser como nas etapas primeiras, quando os seus membros estavam em de formação (do ponto de vista humana, profissional e cristão). Neste estádio, é necessá-ria muita imaginação e flexibilidade.

B. CARACTERÍSTICAS DA CVX ENQUANTO COMUNIDADE

1. Uma comunidade de vida 134 "A fim de preparar mais eficazmente os nossos membros para o testemunho e o servi-

ço apostólico, especialmente no nosso ambiente diário, reunimos em comunidade pes-soas que sentem uma necessidade mais urgente de unificar a sua vida humana, em todas as suas dimensões, com a plenitude da sua fé cristã de acordo com o nosso carisma"112.

135 A vocação na CVX é comunitária. É vivida com o apoio da comunidade. O compromisso

do indivíduo para com a Comunidade Mundial expressa-se por intermédio de uma comunidade particular livremente escolhida113 composta, no máximo, por doze pes-soas, em geral de condição semelhante114. Cada membro desta comunidade de amigos no Senhor é chamado a acompanhar os seus membros no discernimento das suas vocações pessoais e vidas de colaboradores na missão de Cristo115. Podemos dizer que a comunidade é um meio privilegiado para a CVX implementar a espiritualidade inacia-na e o serviço apostólico na vida dos seus membros116.

111 PG 4. 112 PG 4. 113 Ver PG 7. 114 Ver NG 39b. 115 Ver PG 12c. 116 Ver PG 11.

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136 A CVX é “uma reunião de pessoas em Cristo, uma célula do Seu Corpo místico”, fun-dada, portanto, na fé e numa vocação comum, mais do que em afinidades naturais: "Estamos vinculados pelo nosso compromisso comum, o nosso estilo de vida comum, e pelo nosso reconhecimento e a Maria como nossa mãe"117.

137 A própria comunidade, na medida em que o grupo expressa união entre os seus mem-

bros e com os outros, dá testemunho da Boa Nova de Cristo perante o mundo. 138 Com algumas excepções, os membros de um grupo normalmente não partilham os

bens em comum nem vivem debaixo do mesmo tecto. No entanto, a CVX é uma comunidade de vida, e enquanto tal é uma "experiência concreta de unidade no amor e na acção"118, porque os seus membros estão comprometidos em:

seguir a mesma vocação específica na Igreja (PG 4) e adoptar um estilo de vida consequente com essa vocação119;

partilhar os seus problemas, aspirações, projectos e vários aspectos das suas vidas, e ajudarem-se uns aos outros desta maneira para viverem a sua fé cristã em plenitude120;

ajudar-se mutuamente nas suas necessidades materiais e espirituais, com espírito de solidariedade;

assumir uma missão comum, não obstante diferentes condições sociais, idades, personalidades ou tarefas121.

139 O processo de formação da CVX implica a ajuda mútua dos seus membros para o cres-

cimento espiritual e apostólico, procurando integrar a sua fé com as suas vidas. A comunidade é capaz de continuar a dinâmica gerada pelos Exercícios Espirituais122, de forma a que os membros estejam melhor preparados para o testemunho e o serviço apostólico123.

140 A comunidade CVX apoia o desenvolvimento humano, espiritual e apostólico de cada

um dos seus membros, sobretudo por meio:

de actividades apostólicas assumidas pela comunidade e o seu compromisso com uma missão comum;

do testemunho das vidas dos membros, especialmente dos adultos;

de actividades formativas como a oração partilhada, o exame geral, o discernimen-to comunitário e grupos de estudo;

da vida do grupo e do trabalho em equipa que suportam atitudes de liberdade inte-rior e de abertura aos outros, tais como a capacidade de compreender e de per-doar, a renúncia aos próprios desejos, e uma sensibilidade às necessidades dos outros e a prontidão para responder;

do serviço à comunidade local, regional, nacional e mundial. 141 A expressão mais concreta desta vida comunitária é a reunião que deve ter lugar se-

manal ou quinzenalmente. A regularidade é necessária para um crescimento real no grupo124. Nestas reuniões, têm lugar importantes elementos da formação CVX, apro-

117 Ver PG 7. 118 Ver PG 7. 119 Ver PG 4 e PG 7. 120 Ver PG 12c. 121 Ver PG 8. 122 Ver NG 39c. 123 Ver PG 4. 124 Ver NG 39b.

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priados para uma comunidade que vive em missão e que está comprometida no servi-ço apostólico. Os laços comunitários são reforçados mediante um melhor conhecimen-to uns dos outros e por gestos recíprocos de amor e de serviço.

142 A vida da CVX está centrada na Eucaristia. É por isso que todos os seus membros par-

ticipam periodicamente juntos na celebração da Eucaristia125, expressando sacramen-talmente aquela comunhão íntima fundada em Cristo e na Igreja.

2. Uma comunidade em missão 143 Viver em missão é o modo de ser específico da CVX e da própria Igreja. Tudo quanto é

e faz adquire o seu sentido da missão126. A CVX é uma comunidade em missão, ou comunidade apostólica.

2.1. Uma missão sempre comunitária 144 Mesmo quando o serviço apostólico é feito individualmente, este é sempre parte da

missão recebida na CVX. A missão é sempre comunitária. 145 É o ser enviado pela Igreja que dá sentido de missão às tarefas apostólicas e aos ser-

viços humanitários dos membros da CVX. A comunidade mundial, integrada na vida e missão da Igreja, é a mediadora fundamental da nossa missão. Nós recebemos esta missão nas nossas comunidades locais e nacionais.

146 A missão é comunitária também porque é fruto de um discernimento comunitário, a

nível local, nacional e mundial. Graças à comunidade, um discernimento pessoal para escolher, completa-se com o discernimento comunitário para enviar.

147 O pequeno grupo ou comunidade local é indispensável ao discernimento da missão,

embora esta estrutura não seja o melhor meio para sustentar certas actividades apos-tólicas nem o lugar onde nascem todas as iniciativas. Quando se trata, no quadro da missão, de fixar prioridades apostólicas mais universais ou de concretizar acções orga-nizadas, próprias da CVX ou em colaboração com outros grupos, devemos recorrer a estruturas mais importantes, como as Assembleias Gerais e os Conselhos Executivos a nível da Comunidade Mundial ou das Comunidades Nacionais.

2.2. Discernimento apostólico comunitário 148 O discernimento apostólico comunitário é uma maneira de pôr em prática o que o Con-

cílio Vaticano II chamou discernir os sinais dos tempos e envolve os seguintes passos:

que a comunidade esteja atenta e capaz de se abrir às necessidades aos outros, de ouvir os seus desejos mais profundos e reconhecer as suas necessidades mais prementes, para descobrir quais são as tarefas mais urgentes e mais universais que devem ser assumidas, e para oferecer soluções mais eficazes, mais radicais e mais globais para estes problemas.

que a comunidade reze pela graça da disponibilidade. Nesta oração, recebemos o fruto duma comunidade que deseja estar atenta e aberta a esse Espírito que nos chama ao serviço e nos envia em missão. Esta oração partilha-se no grupo.

125 Ver NG 40. 126 Ver PG 4 e 8.

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que a comunidade delibere, envie e confirme a nossa missão: que seja capaz de tomar decisões, de optar e de assumir tarefas apostólicas em que, de uma maneira ou de outra, todos os membros do grupo estão comprometidos.

3. Uma comunidade mundial

3.1. A universalidade da CVX 149 A dimensão comunitária da CVX reflecte a tensão que se encontra entre o particular e

o universal, entre a comunidade local e a comunidade mundial. A CVX é basicamente uma comunidade de partilha de vida ao nível local, mas tem também uma dimensão universal.

150 No seguimento um discernimento comunitário iniciado na Assembleia de Roma ’79 e

concluído em Providence ’82, a Federação Mundial decidiu tornar-se uma única comu-nidade mundial, governada pelas Assembleias Mundiais, que são momentos privilegia-dos de discernimento comunitário da missão CVX.

151 Inicialmente, um grupo reunido à volta do P. Jean Leunis SJ fundou a Congregação

Mariana. Ao multiplicarem-se os grupos, agregaram-se a uma comunidade-mãe em Roma (1574), chamada a "Prima Primaria". Em 1953, as Congregações Marianas uni-ram-se numa Federação Mundial.

152 Em 1967, foram aprovados os Princípios Gerais e a renovação do espírito expressou-se

na mudança de nome para Federação Mundial de Comunidades de Vida Cristã. Em 1982, a Assembleia Mundial de Providence aprovou ser uma única Comunidade Mun-dial, vivida em comunidades locais. Cada membro da CVX pertence, em primeiro lugar, à Comunidade Mundial através da sua comunidade particular. "O dom de nós mesmos encontra a sua expressão num compromisso pessoal com a Comunidade Mundial, através de uma comunidade local livremente escolhida"127.

153 Assim a dimensão universal da CVX é visível na nossa comunidade mundial una. Esta

dimensão universal deveria estar presente como atitude em todos os membros e em todas as comunidades locais, uma vez que está enraizada na nossa teologia e é um elemento essencial da nossa espiritualidade inaciana.

3.2. Raízes teológicas da universalidade da CVX 154 Os Princípios Gerais falam-nos das três Pessoas Divinas que ao contemplar a humani-

dade dividida, decidem dar-se completamente a todos os homens e mulheres para os libertar de todas as usas cadeias128. Esta iniciativa redentora expressa-se na Encarna-ção do Filho e desperta – como graça – nos membros da CVX o desejo de participar na missão de Jesus Cristo

155 Quanto mais profundamente vivermos a nossa fé em Cristo, maior será o nosso desejo

de comunhão com todos os homens e mulheres, indo para além da nossa comunidade local, para chegar a “todas as pessoas de boa vontade”129, como a Trindade fez em Cristo. Na Assembleia Mundial em Roma 1979, disse-se:

127 Ver PG 7. 128 Ver PG 1. 129 Ver PG 7.

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Somos chamados a um sentido mais profundo de comunidade. A nossa comunida-de é chamada a reflectir a família de Deus. Deus é comunidade.

Os membros da CVX esforçam-se por contemplar o mundo a que são enviados, à maneira da Trindade, levando a cabo nas suas vidas a tarefa que o Rei Eterno deseja realizar na história de cada um130.

3.3. Uma comunidade ao serviço de um mundo 156 “A nossa responsabilidade em desenvolver os vínculos da comunidade não pára na

comunidade local, mas estende-se à Comunidade de Vida Cristã Nacional e Mundial, às comunidades eclesiais de que fazemos parte (paróquia, diocese), a toda a Igreja e a todas as pessoas de boa vontade”131.

157 Na Assembleia Mundial Roma ‘79, fez-se um discernimento comunitário que conduziu

à decisão de transformar a Federação Mundial em uma Comunidade Mundial. As prin-cipais razões que levaram a tal escolha foram as seguintes:

Sensibilidade e compromisso para com as necessidades e problemas da humani-dade132.

Abertura a pessoas de outros países e culturas133.

Necessidade de unidade de visão e acção perante os problemas mundiais134.

Disponibilidade para o mais urgente e para o mais universal. Como membros CVX, estamos “predestinados para nada, disponíveis para tudo”. Enquanto outras asso-ciações dentro da Igreja assumem tarefas apostólicas específicas, a CVX permane-ce aberta para servir todas as necessidade da Igreja e do mundo, quaisquer que elas sejam135.

Enriquecimento mútuo entre comunidades136.

4. Uma comunidade eclesial

4.1. As bases do carácter eclesial da CVX 158 A CVX nasce e cresce no seio da Igreja, e colhe da Igreja a sua identidade e universa-

lidade. Esta relação vital com a Igreja funda-se na união com o próprio Cristo. De fac-

130 Ver PG 4. 131 Ver PG 7. 132 “Pede-se-nos uma maior sensibilidade às necessidades dos outros. A universalidade da CVX é um desafio e um ideal que nos convida a comprometermo-nos ainda mais com todos, pois todos somos preciosos diante de Deus. Um membro da CVX e uma pequena comunidade, se têm uma visão universal, abrir-se-ão à missão de Cristo que se estende a todos.” (Roma ’79) 133 “Como membros de uma comunidade mundial somos chamados a estabelecer laços mais íntimos com outras cultu-ras, rompendo preconceitos, abrindo os olhos a perspectivas de outra países, interessando-nos pelos que vivem além das nossas fronteiras, descobrindo melhor a riqueza que existe em cada um deles” (Roma ’79). “O mundo precisa do testemunho de uma comunidade de amor que vá para além das fronteiras. 134 A CVX, como parte da Igreja, está chamada a uma responsabilidade global, perseguindo, apesar das diferenças, as mesmas metas e visão do mundo (Roma ’79). Ao sermos uma comunidade mundial, com maior união dos problemas comuns, podemos dar uma resposta mais ade-quada à situação do mundo de hoje (ibid.). 135 “O campo da missão da CVX não tem limites: estende-se à Igreja e ao mundo, para tornar presente o Evangelho de salvação a todos” (PG 8). 136 “Esta dimensão universal convida-nos a enriquecermo-nos mutuamente através do partilhar profundo das nossas espiritualidades, programas de formação, planos sociais, instituições espirituais e recursos. Na medida em que cada membro e comunidade viva esta dimensão universal, poderemos ver a verdadeira dimensão dos nossos problemas nacionais, abrindo-nos cada vez mais às necessidades de toda a associação” (Roma ’79).

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to, esta “união com Cristo leva à união com a Igreja onde Cristo, aqui e agora, conti-nua a sua missão de salvação”137.

159 A CVX está, a todos os níveis, ao serviço do povo de Deus. Pela sua própria existência

dentro da Igreja, a CVX contribui para promover:

uma Igreja onde se encontra comunidade na diversidade de carismas e de ministé-rios e responsabilidade partilhada no cumprimento da única missão de Cristo;

uma Igreja que não é um fim em si mesma, pois “tem como missão anunciar o Reino de Cristo e de Deus e de instaurá-lo em todas as nações e constitui na terra o gérmen e o princípio desse Reino”138.

4.2. Relações da comunidade CVX com a Igreja 160 a. Fidelidade à mensagem de Cristo A CVX procura aprofundar o seu conhecimento do Evangelho vivendo a fé que nos foi

transmitida pelos Apóstolos, preservada e interpretada pela Igreja e resguardada pelo seu magistério.

161 b. Participação na vida da Igreja A CVX não vive isolada do resto da comunidade cristã (paróquia, diocese, Igreja nacio-

nal e universal). Pelo contrário, sente-se parte integrante desta comunidade, e expres-sa-o:

na vida litúrgica e sacramental que, centrada na eucaristia, é “uma experiência concreta de unidade no amor e na acção”139;

em toda a sua vida, pela participação nas actividades da Igreja e pela identifica-ção afectiva e efectiva com o seu destino, comprometida no seu desenvolvimento, atenta às suas necessidades e problemas, contente com os seus progressos.

162 c. Colaboração na missão da Igreja Tendo recebido a missão na Igreja e pela Igreja, a CVX, de acordo com as suas orien-

tações e prioridades pastorais, oferece ao povo de Deus e aos seus pastores a contri-buição do seu serviço apostólico e do seu carisma rico e original, num espírito de dis-cernimento e de responsabilidade partilhada.

163 d. Solidariedade A CVX procura de modo especial abrir-se, num espírito de comunhão fraterna, aos

pobres e aos excluídos, a quantos que, na Igreja e no mundo, têm mais necessidade de ajuda e de amparo; está pronta a partilhar o que tem com eles e a integrar esta atitude no seu estilo de vida.

137 PG 6. 138 Lumen Gentium 5. 139 PG 7.

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III. O COMPROMISSO NA CVX

O COMPROMISSO NOS PRINCÍPIOS GERAIS E NORMAS GERAIS

164 “Tornar-se um membro da Comunidade de Vida Cristã pressupõe uma vocação pes-soal. Durante um período de tempo, determinado nas Normas Gerais, o candidato é iniciado no estilo de vida próprio da CVX. Este tempo é oferecido ao candidato e à Comunidade para discernirem a vocação dele. Uma vez tomada a decisão e aprovada pela Comunidade, o novo membro assume um compromisso temporário e, com o auxí-lio da Comunidade, comprova a sua aptidão para viver de acordo com o fim e o espíri-to da CVX. Depois de um período de tempo conveniente, determinado pelas Normas Gerais, segue-se o compromisso permanente”140.

165 “Qualquer que seja o modo de admissão, os novos membros devem ser ajudados pela

Comunidade a assimilar o estilo de vida CVX, a decidir se se sentem chamados a ele, se desejam e são capazes de vivê-lo, e a identificar-se com a grande Comunidade de Vida Cristã. Depois de um período de tempo, ordinariamente não maior que quatro anos e não menor que um, assumem um compromisso temporário com este estilo de vida. Recomenda-se vivamente, neste momento, uma experiência dos Exercícios Espi-rituais como meio de chegar a esta decisão pessoal”141.

166 “O compromisso temporário continua válido até que a pessoa, depois de um processo

de discernimento, expresse o seu compromisso permanente na CVX, a não ser que livremente se retire da Comunidade ou seja excluído dela. A duração de tempo entre o compromisso temporário e o permanente não deve ser, ordinariamente, superior a oito anos nem inferior a dois”142.

167 “Uma experiência dos Exercícios completos numa das suas diversas formas (na vida

diária, o mês de retiro, vários retiros ao longo de vários anos) precede o compromisso permanente com a Comunidade de Vida Cristã”143.

A. FUNDAMENTAÇÃO DO COMPROMISSO

Quando nos interrogamos sobre as razões que nos levam a comprometermo-nos na CVX, descobrimos os próprios fundamentos do compromisso. São três os fundamentos principais:

168 1. O fundamento teológico trinitário. As raízes do compromisso na CVX não se

encontram em nós mesmos, mas em Deus. O Princípio e Fundamento do nosso com-promisso está em Deus que estabelece com o Seu povo uma aliança inquebrável. O Senhor é o primeiro a comprometer-se de modo permanente, visível. Deus tem sido fiel a essa aliança vezes sem conta ao longo da história, como testemunham as Suas

140 PG 10. 141 NG 2. 142 NG 3. 143 NG 4.

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acções libertadoras. Mas é na Encarnação que Ele nos mostra, “sem deixar lugar a dúvidas”, o maior e irrevogável sinal desta aliança144.

169 2. O fundamento antropológico. Os seres humanos não são puros espíritos e têm

necessidade de expressar as suas experiências mais profundas através dos sentidos. A nossa relação com o mistério de Deus exprime-se melhor em sinais visíveis, sacra-mentais. Do mesmo modo, somos parte da história em que vivemos, por isso as nos-sas experiências espirituais e apostólicas são vividas nestes tempos. Portanto, o com-promisso temporário ou permanente com a CVX é perceptível pelos sentidos. O com-promisso permanente quer significar que, na contingência do tempo, medimos a nossa resposta pelo Amor de Deus sempre fiel e a plenitude do mistério de Cristo que resu-me em Si todas as coisas145.

170 3. O fundamento comunitário – a Igreja. Não vivemos a nossa vocação e a nossa

missão como indivíduos isolados. Vivemo-las em comunidade e proclamamos perante essa comunidade de amigos e de companheiros no Senhor que estamos na Igreja e com a Igreja. A comunidade tem o direito de ver, de ouvir, de sentir e de apreciar o nosso compromisso. Isso ajuda-nos a viver com coerência o estilo de vida com que nos comprometemos146.

171 Comprometermo-nos é, portanto, apresentarmo-nos livremente perante o Senhor e o

Seu povo e dar um sinal visível daquilo que vivemos e discernimos nos nossos cora-ções. É um gesto de alguma maneira semelhante ao compromisso matrimonial. Pro-clamando, perante Deus e os nossos companheiros, que nos comprometemos com uma espiritualidade, um estilo de vida, uma missão, confirmamos diante deles o nosso discernimento e a oblação de nós mesmos. Proclamamos publicamente que a Comuni-dade de Vida Cristã é o corpo em que vivemos o carisma que nos deu o Espírito do Senhor.

B. O COMPROMISSO TEMPORÁRIO

1. O processo conducente ao compromisso temporário

172 A leitura dos Princípios Gerais e das Normas Gerais mostra que a vida na CVX nasce de um chamamento do Senhor dirigido a cada um dos seus membros e que uma tal voca-ção é apostólica e universal, vivida na Igreja e no seio de uma comunidade local.

173 Esta ênfase na vocação pode inspirar, mais do que qualquer outra coisa, os passos

iniciais na CVX. Os novos membros “devem ser ajudados pela Comunidade a assimilar o estilo de vida CVX, a decidir se se sentem chamados a ele, se desejam e são capazes de vivê-lo”147.

174 A vocação – ou chamamento – é sentida de início como uma atracção vaga e difusa,

mas, no entanto, suficiente para incitar a entrar em contacto com a CVX. Quando uma pessoa se integra numa comunidade, esta ajuda-a a familiarizar-se com o estilo de vida e com os os meios de crescimento no Espírito próprios da CVX148. Estes meios

144 Ver 2Cor 1, 19-20. 145 Ver Lc 9, 62; Rom 12, 1. 146 Ver Mt 6, 14-16; 1Tes 1, 6-10; Heb 10, 23-25. 147 Ver NG 2. 148 Ver PG 12.

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são-lhe propostos de modo gradual, no decurso de um processo de formação durante o qual o guia149 desempenha um papel importante.

175 Neste estádio de crescimento, a pessoa deve tomar certas decisões: fazer um dia de

recolecção, juntar-se à vida de uma comunidade local, assistir regularmente às reu-niões de grupo, iniciar-se no acompanhamento espiritual, tomar parte numa actividade apostólica, fazer Exercícios Espirituais ou um retiro de quatro a oito dias, etc. Estas decisões levam a um compromisso progressivo no estilo de vida CVX. Ao longo do pro-cesso, o candidato sentirá “moções”, e estas servirão para o ajudar a verificar se este é ou não o caminho para ele enriquecer a sua relação com Deus. A Comunidade, pela sua parte150, sustenta a pessoa num ambiente de discernimento e encoraja-o a dar novos passos em direcção ao crescimento e ao compromisso.

176 Finalmente chegará o momento em que a pessoa deve ponderar em oração se o cami-

nho ao longo do qual foi instruído e acompanhado durante algum tempo (de 1 a 4 anos, segundo as Normas Gerais) é verdadeiramente um chamamento e uma graça de Deus. Este momento de discernimento pode chegar de modo espontâneo, não importa em que ponto do processo ou pode ser uma resposta a um convite deliberado.

2. Objecto e sentido do compromisso temporário 177 O compromisso temporário é a expressão dum desejo de viver segundo o estilo de

vida CVX. Este compromisso implica a procura da vocação à qual o Senhor está a chamar a pessoa, e o discernimento dessa vocação.

178 Naqueles que já têm a necessária disposição, este discernimento vocacional desenvol-

ve-se a dois níveis:

A escolha de um estado de vida, por aqueles que ainda não o fizeram (a vida religiosa, claro, exclui um compromisso permanente com a CVX).

Emenda e reforma de vida, para os que já decidiram sobre o seu estado de vida151.

179 Este discernimento de vocação não toma como garantido uma vocação à CVX definiti-

va, mas procura permanecer aberto a qualquer estado de vida a que possamos estar a ser chamados pela vontade de Deus. Este processo, vivido à maneira da CVX, implica que a pessoa já pertença a uma comunidade com a qual fez um compromisso tempo-rário, mesmo que a vocação pessoal não tenha ainda sido claramente definida.

180 Um aspecto importante deste discernimento é a questão: “quer e deseja” buscar e

encontrar a vontade de Deus na sua vida e seguir o Seu chamamento? Isto pressupõe uma experiência sempre aprofundada de Deus fomentada pelos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, com o apoio da comunidade, para um maior serviço. Discerne se sim ou não o caminho CVX é o que Deus quer para ele, e se está “aberto, livre e disponí-vel” para prosseguir este caminho com uma “determinação deliberada”152 em direcção a um estilo de vida apostólico.

181 Esta etapa é vocacional e, como tal, permanece aberta a diferentes opções. Para um

adulto casado, por exemplo, a questão será se é chamado a viver um estilo de vida

149 Ver NG 41b. 150 Ver NG 39a. 151 Ver EE 189. 152 Ver EE 97.

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CVX na vida de casado. Os jovens perguntar-se-ão a que estilo de vida (laical, religio-sa ou clerical) são chamados. Um bom número de adultos e jovens sentir-se-ão cha-mados a viver segundo o estilo de vida CVX. Outros descobrirão que a motivação para aderirem era mais de natureza “social” ou afectiva e, reconhecendo que não têm dese-jo de continuar, procurarão outros modos de pertença à Igreja.

182 Para os jovens ou adultos que chegam à conclusão que a comunidade responde aos

seus desejos mais profundos, esta etapa leva-os a um renovado compromisso com o estilo CVX.

183 Assim, o “Compromisso Temporário”, feito na comunidade e aceite por ela, é a expres-

são da determinação do indivíduo procurar a vontade de Deus, servindo-se dos méto-dos inacianos e da oferta pela comunidade do seu próprio processo inaciano de forma-ção.

184 É importante que o compromisso temporário não seja reduzido a um conjunto de obri-

gações, mas deve ser a nossa resposta de amor, dada segundo o espírito do Evange-lho e a lei interior do amor153, a Deus que nos amou primeiro.

185 Os Exercícios Espirituais de S. Inácio têm um papel chave no discernimento da voca-

ção. Nesta etapa de formação, o compromisso temporário fomenta as disposições necessárias para fazer bem os Exercícios Espirituais, tendo presente a sua vocação apostólica.

3. Maneiras de abordar o compromisso temporário 186 É importante que aqueles que fazem o compromisso encontrem uma expressão sacra-

mental (sinal que realiza o que significa) do seu desejo de buscar e encontrar a vonta-de de Deus, pelo uso dos meios inacianos e na companhia da comunidade. Ao mesmo tempo, a comunidade local compromete-se a acompanhá-los e encorajá-los, oferecen-do-lhes os instrumentos inacianos. É também importante fazer uma referência explíci-ta ao seu compromisso com a Comunidade Mundial, um corpo apostólico na Igreja.

187 O compromisso temporário pode ser realizado de várias maneiras. Uma forma é ter

uma reunião anual para todos quantos têm já alguns anos de participação na CVX, na qual seriam convidados a reflectir sobre o significado do compromisso temporário. O discernimento é assim provocado e todos os que desejam fazer o seu compromisso temporário podem pôr-se de acordo sobre o melhor maneira de o expressarem (oca-sião, forma, fórmula). Uma outra maneira pode ser ter cada ano, como uma tradição regional ou nacional, um procedimento, uma fórmula e uma data fixa (por exemplo, o Dia Mundial da CVX, a festa da Imaculada Conceição, o Pentecostes...) em que todos aqueles que o desejarem fazem o seu compromisso temporário.

188 Num processo CVX bem conduzido, este tempo de discernimento dum compromisso

temporário explícito é incontornável. Se não se faz, poderá ser por uma das três seguintes razões:

O processo interrompe-se nalgum ponto e torna-se repetitivo;

entende-se mal o compromisso, tem um significado e conotações erradas;

153 Ver PG 13.

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as formas pelas quais o compromisso se expressa e é celebrado levantam dificul-dades.

189 O nosso desafio hoje é encontrar sinais eclesiais visíveis para aquilo que estamos a

tentar viver e acreditar que expressem um ponto de vista teológico e espiritual con-gruente com a nossa formação.

C. O COMPROMISSO PERMANENTE 190 No processo da vocação do membro da CVX, o compromisso permanente corresponde

à etapa da vida apostólica plena: quando a vocação pessoal é vivida como missão apostólica. Toda a vocação se desenvolve e se expressa na missão. O compromisso permanente é o fim a que chegam os membros que completaram o discernimento da sua vocação e se ofereceram a eles próprios e abraçaram o estilo de vida CVX. Esta etapa está necessariamente associada ao discernimento apostólico, como elemento indispensável ao desenvolvimento da missão.

191 O compromisso temporário na CVX está ligado ao processo de formação e corresponde

ao apelo do Rei eterno e à “eleição”. O compromisso permanente procede da CVX como estilo de vida e está em harmonia com o abandono cheio de confiança da Con-templação para Alcançar Amor. O compromisso é o “Tomai, Senhor, e recebei” como resposta ao compromisso de Deus que 1) me deu tanto; 2) habita em mim, dando-me existência e sentido; 3) trabalha e opera por mim; 4) vendo como todos os bens e todos os dons descem do alto: como o meu limitado poder vem do alto, e, bem assim, a justiça, a bondade, a piedade, a ternura e a misericórdia e a vontade necessária para viver n'Ele o nosso compromisso154.

192 O compromisso permanente é a culminação do nosso discernimento vocacional, no

qual expressamos o nosso desejo de descobrir a vontade de Deus e de realizá-la na nossa vida apostólica, em resposta ao nosso chamamento específico, e a nossa pronti-dão para sermos enviados em missão155.

1. Compromisso permanente 193 Longe de considerar o compromisso permanente como uma decisão arriscada que

compromete a nossa liberdade futura, é importante cair na conta que a liberdade inte-rior constitui o fundamento desta decisão e um dos seus frutos. A verdadeira liberdade existe quando as pessoas são capazes de orientar as suas vidas de acordo com os seus desejos mais profundos. Portanto, são livres na medida em que são capazes de viver de acordo com os desejos profundos que o Espírito do Senhor despertou nos seus corações.

194 Os nossos actos livres não se baseiam só no poder da vontade; são actos de fé e de

esperança. A qualidade radical do nosso compromisso não tem tanto a ver com as nossas capacidades, mas com “a liberdade para a qual Cristo nos libertou e quer que permaneçamos livres”156.

154 Ver EE 235-237. 155 Ver PG 8c. 156 Gal 5, 1.

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195 Por esta razão, quando os membros CVX chegam à conclusão de que o anúncio de Cristo e da Sua Boa Nova ao mundo à volta deles é aquilo que “eu quero e desejo e é minha determinação deliberada”157, eles sabem que o Senhor guiou os seus passos num longo caminho. A liberdade de se comprometerem não se limita à possibilidade de escolher. Significa realmente darem-se a si próprios, entregarem-se a Deus e con-fiarem em Deus totalmente.

196 É neste espírito que Inácio reza: “Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a

minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e tudo o que possuo. Vós mo destes, a Vós o restituo. Tudo é Vosso, disponde de tudo, segundo a Vossa vontade. Dai-me o Vosso amor e graça que esta me basta”158. A nos-sa liberdade vem do amor de Deus e é-lhe oferecida a Ele. Deus amou-nos primeiro; Deus comprometeu-se connosco primeiro.

2. Compromisso público 197 Dando testemunho perante a CVX, os que fazem o compromisso pedem ao Senhor a

graça de poderem dar uma resposta generosa à Sua fidelidade. E ao fazê-lo diante da comunidade inteira, estão a pedir a sua ajuda: que a comunidade os possa acompa-nhar no seu caminho. A expressão exterior desta oferenda interior dá-lhe, de alguma maneira, um carácter sacramental.

198 Para o resto da Comunidade, a celebração pública do compromisso tem também uma

certa dimensão sacramental. É um sinal visível do Espírito a actuar em cada membro, para o levar a um maior compromisso com a sua missão. É também um sinal que constrói e consolida a Comunidade no seguimento de Jesus Cristo, enviado pelo Pai. Em espírito de fé, o compromisso público de um membro da comunidade é um convite a "deixar de lado todo o impedimento e perseverar" no serviço àquele que nos chamou à comunidade, "fixos os olhos em Jesus, autor e consumador da fé"159

199 Este é o tempo de confirmação da “eleição”, de assegurar um forte compromisso com

a missão e o serviço160. Os Exercícios Espirituais deveriam ser a chave deste processo de vida em missão, ajudando-nos a seguir mais perfeitamente Cristo pobre e humil-de161.

200 Durante esta etapa, a formação deve ser concebida como “formação permanente” que

nos permite estar sempre “em boa forma apostólica” e, assim, capazes de dar em cada momento a resposta mais adequada à pergunta: "Que devo fazer por Cristo?"

tradução revista por Hermínio Rico sj., Agosto 2005, primordialmente a partir da versão em língua inglesa

157 EE 98. 158 EE 234. 159 Ver Heb 12, 1-4. 160 Ver PG 11. 161 Ver PG 8d.

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O Carisma CVX (2ª parte)

(Progressio Suplemento nº 45-46, Dezembro 1996)

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Índice

PROCESSOS DE CRESCIMENTO EM CVX

Introdução ...................................................................................................................................................................... 61

DIMENSÕES QUE ENTRAM EM JOGO NA FORMAÇÃO CVX Dimensão Espiritual............................................................................................................................................... 62 Dimensão Comunitária...................................................................................................................................... 63 Dimensão Apostólica............................................................................................................................................ 63 Dinamismos fundamentais da personalidade ........................................................................ 64

O dinamismo intelectual........................................................................................................................... 64 O dinamismo afectivo................................................................................................................................. 64

FASES POR QUE PASSA A FORMAÇÃO CVX A motivação...................................................................................................................................................................... 67 A procura.............................................................................................................................................................................. 67 A descoberta ..................................................................................................................................................................... 68 A confirmação................................................................................................................................................................ 68

ETAPAS FUNDAMENTAIS DO CRESCIMENTO EM CVX.................... 69 Primeiro contacto e período de Acolhimento na CVX.............................................. 70 Características pessoais .............................................................................................................................. 70 Objectivos .............................................................................................................................................................. 71 Meios fundamentais utilizados durante este período....................................................... 71 Função do guia e do animador.............................................................................................................. 72 Sinais que indicam o fim do período de Acolhimento na CVX............................. 72 Etapa de Fundamentação da Vocação.............................................................................................. 73

Discernimento do Processo Conhecer o Deus revelado por e em Jesus Cristo................................................................ 73 Aceitar-se e amar-se a si mesmo como Deus nos conhece e ama .......................... 73 Conhecer e amar o “próximo” como Deus o conhece e ama ..................................... 74 Conhecer a vocação e o estilo de vida CVX ............................................................................ 74 Aportações da CVX durante a etapa de Fundamentação ............................................. 75 Sinais que indicam o fim da etapa .................................................................................................... 75

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Etapa do Discernimento da Vocação ................................................................................................ 76 Momentos do Discernimento da Vocação Escutar o chamamento a seguir Cristo na sua missão..................................................... 77 Encontrar a própria vocação na Igreja ........................................................................................... 77 Aportes da CVX durante a etapa do Discernimento Vocacional ......................... 78 Sinais que indicam o fim da etapa .................................................................................................... 78 Etapa do Discernimento Apostólico .................................................................................................. 79 Características da Etapa do Discernimento Apostólico................................................. 80

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PROCESSOS DE CRESCIMENTO EM CVX

Introdução 1 Hoje, como nos tempos de Jesus, o apóstolo vai sendo informado e transformado pou-

co a pouco. Cada Apóstolo vive uma história pessoal de amor, feita de conversão, des-cobertas e de identificação com Cristo. A frase de Paulo “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20) vai-se tornando realidade. Alguns aspectos deste caminho são comuns a todos os cristãos, outros são próprios daqueles que seguem a mesma vocação cristã específica, como a CVX.

2 O presente documento, que incorpora muitos documentos do SURVEY, deve ser inter-

pretado à luz dos Critérios de Formação CVX e trata de integrar melhor o cresci-mento pessoal com o da comunidade, tendo em conta que o crescimento desta depen-de, sobretudo, do crescimento de cada um dos seus membros.

Como Comunidade Mundial devemos ter em conta os contextos socioculturais de cada comunidade. Por isso estas indicações são necessariamente gerais, deixando a cada comunidade nacional e local a aplicação concreta dos mesmos.

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DIMENSÕES QUE ENTRAM EM JOGO NA FORMAÇÃO CVX

3 A vida CVX desenvolve-se em três dimensões que desde o ponto de vista do processo

de crescimento de cada indivíduo e da resposta que vão dando à sua vocação são inseparáveis umas das outras, já que se condicionam mutuamente:

Espiritual – Comunitária – Apostólica

4 O desenvolvimento destas três dimensões depende de duas capacidades e dinamismos

fundamentais da personalidade, que constituem o substrato natural da vida no Espíri-to, como depende também das respectivas expressões comunitárias e apostólicas:

dinamismo intelectual dinamismo afectivo

Dimensão Espiritual 5 A dimensão espiritual abarca todos os aspectos da nossa colaboração com a graça de

Deus na realização do seu plano de salvação em nós e, através de nós, nos outros.

Este crescimento no Espírito de Cristo traduz-se nas seguintes atitudes espirituais:

Sentir com Cristo, através do conhecimento interno de Jesus, para mais o amar e servir.

Sentir com Maria, modelo de discípulo, a qual, cheia do Espírito Santo, con-templa a acção salvadora de Deus nos acontecimentos e intercede por nós, dese-jando “pôr-nos com seu Filho”.

Sentir com a Igreja, como Esposa de Cristo e nossa Mãe, na sua realidade con-creta de comunidade de discípulos de Jesus, encarnada na história humana.

Sentir com o mundo, agradecidos pelas riquezas da criação e pelos progressos do homem, compadecidos das suas misérias e necessidades, comprometidos com a sua libertação integral.

A Vida no Espírito de Cristo desenvolve-se segundo uma dupla dinâmica:

6 ascética, que consiste, não em reprimir as nossas inclinações naturais, mas no

esforço sincero em colocar todas as dimensões do nosso ser – corpo, mente e espí-rito – sob a influência do Espírito de Jesus e “ordenar a sua vida sem se determinar por afeição alguma desordenada” (EE 21).

7 mística, considerada no sentido amplo, como dimensão constitutiva da vida de fé,

consiste na experiência de Deus, acolhida como puro Dom, que desperta em nós o desejo espontâneo de maior comunhão com o amor, levando-nos a abandonar-nos ao Espírito do Senhor que vai transformando o nosso modo de relação com Deus, com os outros, com a natureza e connosco mesmos.

8 A nossa colaboração com a graça exprime-se especialmente pela coerência no uso

dos seguintes meios:

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Perseverar na oração, buscando maior conhecimento e amor do Senhor (medi-tação, contemplação) e a integração fé-vida (exame).

Viver os sacramentos, o Baptismo, o Matrimónio, a Reconciliação e especial-mente a Eucaristia.

Familiarizar-se com a Escritura, Palavra viva que Deus dirige aos homens e mulheres de hoje.

Exercitar-se na purificação do coração, renunciando às tendências egoístas e cultivando as atitudes próprias de Cristo.

9 O autêntico esforço ascético (expresso nos serviços prestados, renúncias generosas,

práticas e exercícios espirituais) dispõe a pessoa a abrir-se à acção do Espírito (místi-ca). Conforme a pessoa vai fazendo progressos na vida espiritual, diminui a iniciativa e predomina cada vez mais a atitude de acolhimento das moções divinas, fazendo sua a vontade do Senhor: “Faça-se em mim segundo a tua palavra!”. Mas, assim como a experiência de Deus deve motivar desde o princípio a procura espiritual, o uso dos meios ascéticos continua a ser necessário, em distintos graus, ao longo de toda a vida.

Dimensão Comunitária 10 A dimensão comunitária da formação é uma consequência da natureza da CVX que,

como o próprio nome indica, é uma vocação vivida em comunidade e concebe-se a si mesma como uma comunidade em missão. Por isso é muito importante que cada ele-mento do programa de formação seja vivido dentro da comunidade (formação para a comunidade) e reforce os laços comunitários descritos no PG 7 (formação para a comunidade. Respeito dos meios usados pela CVX para esta formação pela comunida-de e para a vida da comunidade).

Dimensão Apostólica 11 A dimensão apostólica da formação que compreende em particular:

Experiências apostólicas formativas – planificadas, realizadas e avaliadas comunita-riamente – que ajudam a descobrir e a desenvolver:

as atitudes espirituais próprias do apóstolo: a humildade, a gratuidade, a união com Deus, a recta intenção…

as capacidades e carismas de cada um em função do serviço apostólico. Por exemplo: Dom de aconselhar, discernir, consolar, ensinar, ajudar nas necessida-des materiais, organizar…

Há dois tipos principais de experiências apostólicas:

normais, de acordo com os serviços apostólicos prestados pela respectiva comu-nidade;

em situações limite de inserção entre os pobres ou marginalizados. 12 A formação para o acompanhamento espiritual em grupo e individual. Trata-se de

um serviço apostólico de grande valor para o qual todos os membros CVX devem estar, até certo ponto, preparados.

13 O discernimento do próprio campo de serviço apostólico e a respectiva preparação

para esse serviço, através da aquisição de conhecimentos, capacidades e experiência requerida.

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Dinamismos fundamentais da personalidade

14 O dinamismo intelectual A assimilação pessoal do estilo da CVX nas suas três dimensões não é possível sem o

conhecimento claro do processo que o orienta e do processo em que se inspira, ou sem uma reflexão que permite interpretar estas experiências.

O processo de formação CVX inclui necessariamente, portanto, um aspecto intelectual, que torna possível a compreensão profunda da nossa vida e da nossa fé, dentro do contexto social e eclesial em que vivemos.

15 Esta reflexão intelectual, não necessariamente académica, feita dentro do contexto

cultural de cada pessoa e grupo CVX, tem dois objectivos específicos:

Desenvolver, mediante o exercício do discernimento espiritual e de análise social, a capacidade de compreender a realidade em toda a sua complexidade e de pen-sar de modo crítico e criativo. Desejamos aprender a avaliar ideias e situações e a formar o nosso próprio juízo à luz de critérios cristãos e, baseando-nos em ele-mentos objectivos, não nos deixarmos levar pelas opiniões dominantes no ambiente em que nos movemos.

Por outro lado, os métodos de planificação ajudam a procurar soluções adequa-das aos problemas que encontramos no nosso serviço apostólico.

16 Estudar as matérias intimamente relacionadas com o projecto de vida CVX nas

suas três dimensões. Se bem que, evidentemente, não seja possível tratá-las exaustivamente, faltaria algo de vital na formação do membro CVX se alguma destas matérias fosse completamente esquecida. Sublinhamos quatro:

17 A reflexão sobre a mensagem cristã, através do estudo da Teologia e das

suas fontes, em particular da Escritura e Ensinamentos da Igreja. É neces-sário, especialmente, o conhecimento da Bíblia e o estudo da Cristologia, Eclesiologia e Ética (social, profissional e sexual).

18 A Reflexão sobre os Exercícios Espirituais e a Espiritualidade Inacia-

na. Os Exercícios Espirituais, como fonte específica e instrumento caracte-rístico da nossa espiritualidade, são o fundamento do processo de forma-ção CVX. Graças a esta reflexão sobre o método e a dinâmica espiritual dos Exercícios poderemos compreender melhor a nossa própria experiência e seremos capazes de acompanhar outras pessoas.

19 A Reflexão sobre o Carisma CVX: Estilo de vida e Missão. Este carisma

que tem a sua origem na espiritualidade inaciana e na experiência mundial da CVX está plasmado nos Princípios e Normas Gerais.

20 A Reflexão sobre a Realidade individual e social, em todos os seus

níveis: psicopedagógico, político, económico, sociocultural e religioso.

21 O dinamismo afectivo Os afectos são as ressonâncias que brotam numa pessoa, quando esta entra em rela-

ção existencial com o meio ambiente. Os afectos incluem tendências, desejos, emo-ções, sentimentos, paixões, etc. Trata-se de reacções que surgem espontaneamente, independentemente da nossa vontade, ainda que esteja sempre na nossa mão dar rédea solta a essas reacções e até provocá-las ou tratar de as controlar e superar.

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22 A afectividade é a base do comportamento humano, isto é, da nossa relação com Deus, com os outros, com a natureza e connosco próprios. Constitui, portanto, o fun-damento da vida espiritual, comunitária e apostólica. É uma realidade natural que deve ser transformada pela graça. Se bem que as limitações da afectividade não tenham em si mesmas uma conotação moral ou espiritual e possam ser vividas a outro nível com fé e paciência, contudo, o amadurecimento afectivo contribui decisivamente para o desenvolvimento da vida espiritual, para os relacionamentos positivos com os outros e para uma acção apostólica fecunda.

23 A qualidade dos nossos relacionamentos com os outros é sinal da qualidade da nossa

relação com Deus. Temos um coração único e com ele amamos Deus e os homens. Se desconfio das pessoas, também não me fio de Deus. Se não tenho amigos, também não serei amigo de Deus. Se estou atento às pessoas, estou atento a Deus. Não se trata do que desejaríamos ser nos nossos sonhos, mas do que realmente somos e que se manifesta nos afectos espontâneos. Para saber qual é a nossa relação com Deus basta as nossas relações humanas.

24 Também a nossa relação com a natureza reflecte a qualidade da nossa relação com

Deus. A capacidade de saborear a natureza, de a admirar, de se alegrar ao contemplar uma flor ou respirando o ar puro, de aceitar os rigores do clima e o cansaço do próprio corpo são, na realidade, aspectos do nosso modo de comunicar com Deus.

25 Daqui, a importância que se deve dar, nos processos de formação CVX, à vida afecti-

va. No que toca ao amadurecimento afectivo, convém assinalar os seguintes passos: 26 Estar atento à dimensão afectiva da nossa personalidade: sentimentos,

desejos, impulsos, etc. que vêm à superfície e estar atento às motivações que influenciam o comportamento: quais são os sentimentos que me empatam? Por-que me sinto assim? Não se trata de uma introspecção solitária, mas de um diá-logo com Deus, à luz da fé, esperança e amor.

27 Aceitar com serenidade as manifestações espontâneas da nossa afectivi-

dade com as limitações e condicionamentos da natureza e história pessoal. Acei-tar não significa consentir com os impulsos naturais contrários aos ditames da consciência moral, mas observá-los com naturalidade, sem nos espantarmos, envergonharmos, desanimarmos nem nos sentirmos culpados. A maneira de aceitar a nossa própria realidade espelha o modo como pensamos que Deus nos aceita. A confiança no amor incondicional de Deus e a fé na Sabedoria e Provi-dência renovam constantemente as nossas relações connosco próprios, assim como a esperança no presente e no futuro.

28 Integrar os diferentes níveis afectivos. Esta integração dá-se de duas

maneiras: esforçando-se, com uma disciplina adequada, por pôr a afectividade psico-orgânica (o desejo de comer, os impulsos sexuais, a necessidade de segu-rança e de reconhecimento…) sob controlo da consciência moral e fomentando as tendências afectivas superiores (a atracção pela verdade, pelo bem, pelos ideais altruísticos e sociais). O sentido da justiça e da honestidade, a paixão pela inves-tigação científica ou por uma causa humanitária favorecem uma vida disciplina-da.

29 Não se trata de reprimir as tendências psico-orgânicas, mas de as ordenar, aceitando

a negação de si mesmo que implica esta disciplina, procurando satisfazê-las segundo a vontade de Deus (na vida conjugal, no trabalho profissional, etc.) e gozando desta satisfação.

30 Alcançar a maturidade afectiva não significa que todas as tensões tenham ficado resol-

vidas, mas que as tensões se vão resolvendo sem esforço excessivo nem menosprezo

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da unidade pessoal, integrando-se dentro da vida moral e espiritual. Os principais sinais de maturidade afectiva são:

capacidade de cumprir o próprio dever. boas relações interpessoais (se bem que não perfeitas). capacidade de tomar decisões sem excessivas dúvidas e com paz.

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FASES POR QUE PASSA A FORMAÇÃO CVX

31 A formação CVX é um processo que nos ajuda a seguir Cristo cada vez mais de perto,

em novas situações, novas dimensões da nossa personalidade, novos níveis de pro-fundidade. Em cada etapa de formação, o membro CVX trata de assimilar certos valo-res e desenvolver certas atitudes, próprias do Espírito do Senhor. Estes valores estão relacionados como seu modo de ser e de viver, com formas novas de amar a Deus e ao próximo. Neste processo de assimilação de valores no seguimento de Cristo, a pes-soa atravessa em cada etapa da formação, tanto nas iniciais como nas avançadas, cer-tas fases determinadas, num movimento cíclico: 1) motivação, 2) procura, 3) des-coberta, 4) confirmação.

A motivação 32 O primeiro passo no processo de crescimento humano e espiritual são os desejos. O

interesse com que se persegue um ideal e a influência que este tem na transformação da pessoa dependem da força dos desejos. Se não está motivada por desejos fortes e definidos, a formação não será sólida nem o crescimento efectivo. Contudo, a expe-riência ensina-nos que no início muitos desejos aparecem só de forma indefinida e incerta.

33 Uma das tarefas dos formadores é, precisamente, ajudar a pessoa a descobrir e articu-

lar os desejos profundos inspirados por Deus. É preciso muita criatividade e arte para desapertar estes desejos. Daí, a importância dos momentos fundantes, o encontro com modelos referenciais atractivos, actividades de serviço que nos põem em contacto com situações comovedoras e experiências espirituais profundas. É importante que estas experiências sejam apoiadas pelo acompanhamento espiritual individual.

A procura 34 A procura começa quando a pessoa se decide a actuar movida pelos desejos, ainda

que os desejos e objectivos não estejam claramente definidos. Os desejos traduzem-se em procura, à medida que se usam coerentemente os meios para alcançar o que se deseja. Sem esta decisão os desejos permanecem meros desejos, um sonho acordado (wishful thinking) e podemos cair facilmente no engano de pensar que bastam os desejos para responder às necessidades e aspirações próprias ou dos outros. Como bom pedagogo, Inácio ensina-nos a verificar a autenticidade, sinceridade e coerência dos nossos desejos. O critério é precisamente a decisão efectiva de usar os meios mais eficazes para chegar ao fim que nos propomos (EE 149-157).

35 Se em cada etapa do caminho espiritual a procura se orienta por um processo ordena-

do, as descobertas contribuirão para a integração da pessoa, evitando o activismo, a dispersão e a inconstância.

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A descoberta 36 A descoberta oferece a resposta plena ou parcial ao desejo e à procura. A descoberta é

uma intuição ou nova maneira de compreender uma realidade que tem relação com as nossas vidas. A descoberta produz a mudança mais ou menos profunda na atitude e comportamento da pessoa: facilita processos de libertação, resolve mal-entendidos e preconceitos, enriquece os conhecimentos e o serviço, abre caminhos para a acção e suscita novos desejos.

37 Em cada etapa há descobertas próprias do nível em que a pessoa se encontra. As des-

cobertas mais ricas e eficazes são as que têm um carácter experiencial. Santo Inácio dizia que não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas internamente (EE 2).

38 As experiências da primeira etapa do processo de formação levam-nos a descobrir o

pecado e as faltas nas nossas vidas e a necessidade que temos de redenção - desco-brindo a Cristo como salvador. Graças a este encontro com o amor incondicional de Deus em Cristo, as nossas decisões adquirem uma nova dimensão como respostas de amor. As nossas decisões tornam-se expressões do amor a Cristo e do desejo de o seguir mais de perto.

A confirmação 39 A confirmação é o sinal que Deus dá quando actuamos segundo os seus desejos. É a

prova de autenticidade da descoberta. Só quando nos pomos a caminho e experimen-tamos os efeitos positivos da luz ou moção que o Senhor nos fez descobrir, ao ter encontrado maior harmonia a nível pessoal e comunitário, sabemos que caminhamos pelo caminho que o Senhor nos traça. A confirmação, graças ao elemento de experiên-cia que comporta, ajuda a clarificar o caminho e a ajustar a orientação, intensidade e modos de actuar.

40 Os desejos começam a tornar-se realidade. Sentimo-nos confirmados porque, ao ver

realizados os nossos desejos, podemos concluir que o próprio Deus os suscitou. A ver-dadeira confirmação consiste na constatação de que a descoberta chega a abrir novos desejos e uma nova procura, iniciando assim um novo ciclo de crescimento e de graça.

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ETAPAS FUNDAMENTAIS DO CRESCIMENTO EM CVX

41 Os Exercícios Espirituais são, indubitavelmente, o meio fundamental de formação em

CVX em ordem ao crescimento dos seus membros até à plenitude da sua vocação e missão. Por isso, o processo de crescimento em CVX desenvolve-se segundo a dinâmi-ca da experiência espiritual proposta nos Exercícios. Se bem que desde os primeiros passos em CVX se convidem os membros a fazer os Exercícios completos, na sua evo-lução pessoal não assimilam todas as graças das quatro semanas, mas vão passando por etapas sucessivas do itinerário inaciano.

42 O fundamento da vocação à CVX é a experiência pessoal do amor de Deus que nos cria

e salva em Jesus Cristo, própria do Princípio e Fundamento e da Primeira Semana. Profundamente agradecido a Jesus, o membro CVX pergunta: que devo fazer por Cristo? Pergunta essa que leva à procura da sua vontade em relação ao próprio esta-do e estilo de vida.

43 A finalidade desta segunda etapa, correspondente à Segunda Semana dos Exercícios,

será então crescer no seguimento de Jesus, pela assimilação do seu Espírito e obter as disposições necessárias para um verdadeiro discernimento, que culmina na eleição da vocação pessoal de cada um na CVX.

44 Tendo chegado a uma identificação mais profunda com Cristo e ao compromisso defi-

nitivo, o membro CVX dispõe-se a participar efectivamente no mistério da Paixão e Ressurreição, partilhando a missão de Cristo no serviço de cada dia e de toda a vida. Deste modo, cresce nele a facilidade de procurar e achar a vontade de Deus em todas as coisas, deixando-se guiar pelo Espírito, para em tudo amar e servir.

45 Seguindo este esquema à luz dos Critérios de Formação CVX, consideramos a CVX em

relação à missão e a missão como objectivo essencial de CVX. Dividimos o seu cami-nho em:

Período de Acolhimento Etapa de Fundamentação da Vocação Etapa de Discernimento da Vocação Etapa de Discernimento Apostólico

Etapas: Prepara para: Acolhimento ⇒ Entrada na CVX Fundamentação da Vocação ⇒ Compromisso temporário Discernimento da Vocação ⇒ Compromisso permanente Discernimento apostólico ⇒ Partilhar a missão de Cristo

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Primeiro contacto e período de Acolhimento na CVX “Senhor, onde moras?” 46 Durante o período de acolhimento, que pode durar vários meses, o candidato aproxi-

ma-se da CVX para a conhecer melhor e reflectir sobre a sua natureza e objectivos. Recomenda-se este tempo de reflexão não apenas às pessoas que desejam pertencer a um grupo CVX, mas também aos grupos que tendo já vivido uma experiência apos-tólica de tipo comunitário, se interessem pela caminhada da CVX como mais uma eventual possibilidade.

47 Trata-se, invariavelmente, de pessoas que têm uma certa inquietação interior, cons-

ciente ou inconsciente e que procuram “mais” nas suas vidas. A CVX pode, por vezes, canalizar positivamente a generosidade que está na origem dessa inquietação e dessa busca.

48 Durante este tempo, são levados a descobrir em si mesmos os desejos profundos que

o Senhor lhes inspira, fazendo, de alguma forma, a experiência do que é uma comuni-dade CVX e recebendo uma informação básica sobre as suas estruturas e espirituali-dade, o que lhes deve permitir ver se a CVX é ou não o caminho ao qual o Senhor os chama.

Características pessoais A vocação à CVX supõe, no futuro candidato, determinadas condições:

49 • Do ponto de vista humano: deve ser

sensível ao envolvimento sociopolítico;

desejoso de levar, com entusiasmo, uma vida dinâmica e rica de sentido, mesmo que ainda o não consiga encarar ou formular com precisão;

inquieto em relação a si mesmo, procurando mudar a forma de viver, e com desejo de ser útil à sociedade e à sua família. Que ande à procura de “algo mais”.

50 • Do ponto de vista cristão: deve

ter uma certa inquietação espiritual; aspirar a aproximar-se mais de Deus e a ser, cada vez mais, fortificado pelo Seu Espírito;

desejar aprender a rezar e a aprofundar o sentido da Escritura, particular-mente do Evangelho;

desejar também colaborar com todos os que se esforçam por construir um mundo ao mesmo tempo mais humano e mais divino;

abrir-se às necessidades dos seus semelhantes e da Igreja a que pertence. 51 Desde o princípio, todos os que desejam entrar numa comunidade devem ser chama-

dos a conhecerem-se mutuamente, a fim de poderem partilhar as suas experiências com confiança. Pouco a pouco, criarão laços de amizade até se tornarem irmãos e irmãs no Senhor.

Na verdade, os candidatos caracterizam-se:

52 • Pela diversidade. Vêm de meios diferentes, cada um com o seu passado, nível de formação humana e profissional, as suas experiências de vida e de fé, as suas esperanças, necessidades, feridas interiores...

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53 • Pela instabilidade. Alguns candidatos acabam por deixar o grupo, não tendo encontrado o que procuravam; outros juntam-se à comunidade, pelo menos para tentar...

Objectivos 54 Os objectivos perseguidos neste período (esses objectivos correspondem, por vezes,

a etapas mais avançadas) são os seguintes:

• Sentirem-se acolhidos e aceites; espera-se que façam o mesmo pelos outros;

• Crescer na confiança de Jesus, estabelecendo, com Ele, relações de maior intimidade;

• Olhar o mundo circundante, nas suas dimensões humana, social, cultural e cris-tã, com sentimentos positivos e um grande desejo de melhor as coisas;

• Iniciar-se à oração inaciana;

• Conhecer a CVX e os seus caminhos de crescimento, como resposta possível para os seus desejos e aspirações;

• Assumir, desde o princípio, determinadas responsabilidades;

• Aprender a partilhar experiências e sentimentos;

• Descobrir a importância da revisão de vida (exame geral);

• Iniciar-se no acompanhamento espiritual;

• Fazer pelo menos uma experiência de retiro inspirado nos Exercícios de Santo Inácio:

Meios fundamentais utilizados durante este período: 55 As reuniões são essenciais nesta etapa de acolhimento, porque constituem o lugar

privilegiado da maior parte dos “acontecimentos” comunitários: formação, catequese, revisão de vida, avaliação, etc. Estes encontros serão regulares e realizar-se-ão, pelo menos de quinze em quinze dias. A qualidade das reuniões realça o “estilo” CVX:

56 • A oração marca o começo e o fim de todas as reuniões. O ambiente e o espírito

destas reuniões devem ser impregnados de fé, de esperança e de amor, caracterís-ticas de toda a vida cristã.

57 • A Revisão de Vida dá uma orientação especial às reuniões da CVX. Tem por

objectivo a integração da fé e da vida pessoais. Em sentido restrito, a revisão de vida é uma troca sincera das experiências de cada um para melhor descobrir, com a ajuda do grupo, o que o Senhor nos quer dizer, para o pormos em prática.

58 De uma maneira geral, a revisão de vida consiste em procurar sempre a relação

entre os assuntos tratados durante as reuniões e as experiências dos participantes. As perguntas que favorecem uma tal procura da relação “assunto/vida” são as seguintes:

Qual é a nossa experiência em relação ao assunto examinado?

Que nos quer dizer Deus pela interpretação desta experiência?

Que resposta espera de nós? 59 • A avaliação deve ser breve, não ultrapassando um quarto de hora. Depois de

alguns minutos de silêncio, cada um exprime-se brevemente:

O que é que me ajudou ou impressionou particularmente, durante a reunião?

Houve alguma coisa que me incomodou ou não compreendi?

Que sugestões posso propor para melhorar as reuniões seguintes?

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A Avaliação é apenas um aspecto da Revisão de Vida. Esta tem igualmente por finalidade ajudar-nos a descobrir o que Deus nos comunica, fazendo desaparecer eventuais obstáculos.

Durante o período de acolhimento, os principais assuntos a avaliar traduzem-se pelas seguintes questões:

Quais são os principais desafios do mundo que me rodeia?

É verdade que Cristo nos convida a partilhar a Sua missão no mundo?

Qual é a história da minha vida de fé?

Com Santo Inácio de Loyola, que meios temos para rezar a nossa vida quoti-diana?

Quais são a história e os elementos fundamentais da CVX? 60 É importante introduzir cada assunto lentamente e progressivamente, atendendo às

experiências dos participantes e fazendo a ponte com as suas experiências. Isto deve permitir que todos descubram, pouco a pouco, o que Deus lhes comunica. É preciso dar tempo, repetir as coisas, estudar e assimilar os temas de diferentes maneiras.

61 Se são bem conduzidas, as reuniões ajudarão os participantes a progredir em conjun-

to, como irmãos, e a consolidar o espírito de comunidade. Suscitarão igualmente neles o desejo de se unirem mais intensamente a Cristo e de se aproximarem mais do mun-do em que vivem (é este o fruto do Princípio e Fundamento inaciano).

Função do guia e do animador: 62 • No princípio, é preferível que o guia e o animador preparem a reunião em conjunto,

de forma a poderem agarrar a situação do grupo com uma maior objectividade.

• É de evitar toda e qualquer forma de voluntarismo, de imposição. O guia e o ani-mador permanecerão sempre à escuta de cada participante e do grupo como grupo.

Sinais que indicam o fim do período de Acolhimento na CVX 63 • Os membros do grupo sentem-se responsáveis pelo mundo em que vivem, uns

pelos outros enquanto elementos do mesmo grupo. Estão dispostos a assumir res-ponsabilidades e que o fazem com prazer, tanto na preparação das reuniões como na planificação e organização de actividades.

• Os participantes são capazes de propor orientações comuns.

• Passados alguns durante os quais caminharam em conjunto. a maioria dos partici-pantes sabe onde quer ir e chegou à conclusão que era aquilo que buscava. Estão prontos a passar à etapa seguinte. Os outros, pelo contrário, decidem que isto não responde àquilo que esperavam e deixam o grupo. A CVX é uma associação de Igreja entre muitas outras que nos ajudam a viver plenamente a nossa vocação cristã.

64 Aqueles que desejam e estão prontos a seguir a “caminhada CVX” entram numa

comunidade.

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Etapa de Fundamentação da Vocação “Vinde e vede!” 65 Aqueles que ao final do período de acolhimento reconhecem que a CVX responde aos

seus desejos profundos e optam por formar parte de uma comunidade começam a primeira etapa do caminho CVX.

66 Esta etapa inspira-se no chamamento à conversão ao Deus de Jesus, própria da

Primeira Semana dos Exercícios Espirituais, à luz do Princípio e Fundamento: Deus chama-nos a abandonar o nosso próprio modo de pensar e actuar para viver à sua imagem e semelhança (Gn 1,26). Trata-se de O reconhecer como “princípio e funda-mento” da nossa existência e de toda a realidade, respondendo aos dons da sua bon-dade com o louvor, a reverência e o serviço.

67 Entendida assim, esta etapa tem como experiência fundamental a de compreender que

somos incondicionalmente amados por Deus Criador e Salvador e destinados a reali-zarmo-nos no amor e serviço. Corresponde à interiorização personalização da vocação cristã.

68 Poderíamos, portanto, descrever esta etapa também como conhecimento mútuo:

ser conhecido e conhecer as outras pessoas do grupo; conhecer pessoalmente Jesus Cristo e ser conhecido por Ele; conhecer criticamente o envolvente humano em que nos movemos; conhecer suficientemente o caminho CVX e ver se esta é a nossa voca-ção.

Discernimento do Processo

Conhecer o Deus revelado por e em Jesus Cristo 69 Experiências que se pretende promover

Purificar a imagem de Deus: passar do Deus da religião institucionalizada ao Deus Pai de Jesus Cristo.

Personalizar a relação de fé com Jesus Cristo, em quem encontramos o amor misericordioso de Deus que nos salva-chama, dando-nos um novo horizonte de sentido à vida.

Iniciar a passagem da fé formal (inclusive sociológica) para a fé pessoal. 70 Meios e ajudas que oferece a CVX

Iniciação à experiência dos Exercícios Espirituais em torno ao Princípio e Fun-damento e Primeira Semana.

Iniciação à leitura da Bíblia.

Iniciação à oração, particularmente aos diversos modos de orar (EE 238-260) e as Adições inacianas (EE 73-90).

Introdução aos sacramentos de Iniciação: Baptismo e Confirmação

Aceitar-se e amar-se a si mesmo como Deus nos conhece e ama 71 Experiências que se pretendem promover

Crescer na consciência de ser criatura amada e escolhida por Deus para algo grande.

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Aprofundar o sentido cristão do pecado e da culpa na experiência pessoal de perdão, acreditando que Deus não nos ama porque somos bons, mas que é o seu amor que nos torna capazes de amar e de actuar de modo consequente.

Iniciar um processo de purificação dos dinamismos culpabilizadores e voluntaris-tas e de libertação dos afectos e atitudes egoístas que nos impedem de manter uma relação adulta com Deus e com os outros.

72 Meios e ajudas que oferece a CVX

Introdução à Antropologia cristã: quem é o homem, à luz da Revelação: Géne-sis, etc.

Noções básicas de psicologia: carácter, qualidades, debilidades, medos e meca-nismos de defesa ou adaptação, complexos, condições essenciais de saúde mental.

Estudo e prática das Regras para o Discernimento de Espíritos da Primeira Semana (EE 313-327) e do Exame Geral e Particular (EE 24-43).

Valorização dos Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia (EE 44), através do aprofundamento do sentido de comunhão eclesial (Igreja como comunidade convocada para a reconciliação com Deus e de uns com os outros no Espírito de Cristo).

Conhecer e amar o “próximo” como Deus o conhece e ama 73 Experiências que se pretendem promover:

Aprender a olhar o mundo como Deus o olha, com uma visão positiva e espe-rançada da realidade em todas as dimensões (humanas, sociais, culturais e eclesiais) e tratar de ajudar os outros como o próprio Deus faz.

Conhecer e ser conhecido pessoalmente através do trato e comunicação pes-soal: fazer a experiência de ser acolhido e aceite pelos outros e fazer o mesmo com eles.

Pôr-se em contacto com os pobres: não se isolar num mundo à medida das nos-sas aspirações, nem cair numa relação de mera assistência ou ajuda paternalis-ta.

74 Meios e ajudas que oferece a CVX

Visão cristã do mundo e da sociedade (Gaudium et Spes).

Iniciação à análise crítica da realidade social (o método: percepção-enriquecimento-planificação ou equivalente de “experiência-análise social-reflexão teológica-acção”).

Participação em experiências diversificadas de serviço, acompanhadas em comunidade. A reunião de grupo há de ajudar a procurar e reconhecer as possi-bilidades de acção e ir oferecendo alguns critérios de organização e de avalia-ção.

Proposta de modelos de identificação que dinamizem a procura pessoal.

Conhecer a vocação e o estilo de vida CVX 75 Experiências que se pretendem promover

Conhecer claramente o caminho CVX e ver se responde ao que se procura e deseja profundamente (identidade, estilo de vida, espiritualidade, missão, orga-nização e meios de crescimento).

Tomar parte activa na comunidade, assumir responsabilidades, contribuir eco-nomicamente.

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Aprender a partilhar as experiências e sentimentos pessoais em ordem à revisão de vida comunitária.

76 Meios e ajudas que oferece a CVX

Oportunidades e materiais para aprofundar os Princípios Gerais e os Critérios.

Desempenhar os diferentes papéis no interior da comunidade local e regional (formação na acção).

Iniciação ao compromisso e à participação activa e responsável na vida do gru-po e no caminho CVX: é conveniente propor a cada membro, desde o princípio, compromissos sucessivos mais ou menos formais, segundo as directivas da comunidade nacional.

Aportações da CVX durante a etapa de Fundamentação 77 A reunião de grupo, na qual se deve prestar especial atenção:

ao acolhimento, encontro e comunicação pessoal e à oração partilhada e ao exame, propondo materiais práticos e teóricos.

78 Dados os múltiplos objectivos desta etapa, as reuniões serão semanais ou quin-

zenais.

As reuniões devem seguir o modelo e método CVX, respeitando sempre o tempo, mais ou menos espaçado, de oração e avaliação final.

As reuniões com tema inspirar-se-ão nos objectivos da formação para esta eta-pa.

79 A Revisão de Vida há de privilegiar os aspectos positivos. Só a partir deles se pode

iniciar o intercâmbio de questões pessoais. 80 O acompanhamento pessoal – que não pode ser substituído pelo grupo – deve aju-

dar:

ao auto-conhecimento e crescimento na aceitação de si mesmo e dos outros;

ao relacionamento pessoal de fé com Jesus Cristo que dá sentido à própria vida;

a (re)situar-se criticamente na relação com o meio sócio-cultural.

Os secretariados nacionais e locais devem oferecer: 81 Seminários ou cursos de:

Iniciação à oração inaciana, Iniciação à análise da realidade social e cultural Iniciação ao conhecimento da CVX (PG e Critérios) Preparação para a Confirmação, se ainda não a receberam Iniciação à leitura da Bíblia, Cristologia.

82 Experiências especialmente importantes, como os Exercícios Espirituais, os encon-

tros grupais e intergrupais, as celebrações do Dia Mundial da CVX, liturgias espe-ciais, campos de trabalho.

Sinais que indicam o fim da etapa 83 Os membros têm a convicção de ter vivido um profundo encontro pessoal e comu-

nitário com Deus. Esta experiência leva-nos a desejar aprofundá-la e comprometer-se mais, tanto pessoal como comunitariamente.

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Cada membro fez algumas experiências de Exercícios Espirituais e pratica alguma forma de oração na vida. Dá valor à vida sacramental, que frequenta com assidui-dade.

Valora positivamente o vivido em comunidade nos anos iniciais. Confia nas poten-cialidades da vida comunitária. Os membros sentem-se, de certo modo, responsá-veis uns pelos outros num clima de confiança, respeito e aceitação mútua.

Desenvolveu-se e fortaleceu-se a sensibilidade em relação aos problemas da injus-tiça e marginalização social. Compreende-se melhor a necessidade de abertura ao político e sociocultural.

Existe a consciência da necessidade de contribuir economicamente para o funcio-namento da Comunidade Nacional e Mundial. Procuram-se e encontram-se formas adequadas para o fazer.

Aparece o desejo de assumir de forma mais consciente o estilo de vida CVX e de contrair maiores vínculos com a Comunidade Nacional e Mundial. Expressão deste desejo pode ser a decisão de fazer o Compromisso Temporário.

84 Esta etapa, ordinariamente, não dura mais de quatro anos e não menos de um (NG 2).

Ao longo deste período, os membros do grupo começavam a colocar-se a questão da vocação pessoal. Aqueles que desejam empreender o “discernimento vocacional” e estão preparados para o fazer, começam uma nova etapa. Nem todos os membros de uma comunidade fazem esta transição ao mesmo tempo. A transição está marcada pela celebração do Compromisso Temporário.

Etapa do Discernimento da Vocação “O que devo fazer por Cristo?” 85 Como dizíamos nos “Critérios”, o “Compromisso Temporário” manifestado na comuni-

dade e assumido por ela é a expressão, por parte do indivíduo, do seu desejo de viver segundo o estilo de vida CVX no momento presente e da determinação de procurar a vontade de Deus na sua vida, utilizando para isso os meios inacianos; e pela parte da comunidade que o acolhe, a oferta desinteressada da pedagogia inaciana própria da CVX.

86 É importante cair na conta dos possíveis equívocos: que a vocação secular na Igreja é

o que fica quando não se tem outra vocação; e ficar em CVX porque não se conhece outros grupos cristãos.

87 O que significa “discernimento vocacional” para o jovem e para o adulto? Alguns, dada

a sua idade juvenil, colocam a questão da eleição de um estado: leigo, sacerdote, reli-gioso. Outros, dada a idade mais adulta, e sobretudo se já são casados, colocam ape-nas a eleição do estilo de vida: o que é que Deus quer de mim em relação às diferen-tes dimensões da vida: pessoal, familiar, profissional, político-social, uso do dinheiro, etc. Que decisões devo tomar para que, no meu estado, viva de acordo com o Senhor que me chama ao maior serviço? A proposta da CVX ajuda-se a responder melhor a este chamamento?

88 Esta etapa pode levar, portanto, a um duplo discernimento:

ao discernimento e eleição de estado de vida em que Deus se quer servir de uma pessoa: amor conjugal ou amor célibe, de leigo, sacerdote ou religioso.

ao discernimento e eleição do estilo de vida a que o Senhor chama a pessoa, para mais fielmente viver o seu próprio estado de vida.

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Momentos do Discernimento da Vocação 89 O discernimento vocacional tem, normalmente, dois tempos, característicos da Segun-

da Semana dos Exercícios Espirituais:

O primeiro corresponde ao desenvolvimento das disposições necessárias para uma boa eleição. Trata-se, em particular, da liberdade interior (indiferença inaciana) e da progressiva identificação com o Espírito de Cristo, pobre e humilde, inteiramente entregue ao serviço dos seus irmãos e irmãs, segundo a vontade do Pai.

90 O segundo momento corresponde à eleição propriamente dita, como modo especí-

fico de seguir a Cristo. Trata-se de desejar e escolher o que Deus deseja de nós.

O objectivo desta etapa de discernimento vocacional realiza-se, portanto, através dos seguintes passos:

Escutar o chamamento a seguir Cristo na sua missão:

Experiências que se pretende promover:

91 Conceber a fé cristã como vocação-missão.

Conceber o amor pessoal e o desejo de seguir mais de perto Jesus, através da contemplação dos mistérios da sua vida.

Comprometer-se com a sua resposta de salvação da humanidade, partilhando do seu sentimento de profunda solidariedade com os sofrimentos e necessidades do seu povo.

Descobrir mais claramente a realidade das desordens sociais, os valores e as normas reinantes e a sua influência nos costumes e estruturas (pecado social).

Compreender as condições do seguimento de Cristo e da fecundidade do serviço apostólico, dispondo-se a renunciar a tudo e a si mesmo (liberdade, indiferença, “magis”) por amor do Senhor e do evangelho.

Meios e ajudas que oferece a CVX

92 Iniciar uma experiência de oração pessoal vinculada à vida e uma atitude de

discernimento em relação aos acontecimentos quotidianos.

Fazer a experiência completa dos EE em retiro, na vida corrente ou retiro por etapas.

Aprofundar o conhecimento de Cristo, através de leituras, cursos de teologia para leigos, etc.

Assumir alguma tarefa de responsabilidade no próprio grupo, na CVX ou na Igre-ja local.

Dedicar-se a algumas experiências fortes de serviço humilde aos mais pobres e marginalizados.

Encontrar a própria vocação na Igreja 93 Experiências que se pretendem promover

Colocar e levar a cabo a eleição de estado.

Colocar e levar a cabo a renovação pessoal do estilo de vida.

Crescer no amor à Igreja e no compromisso com a missão de anunciar o Reino de Deus a todos.

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Tomar consciência da própria identificação com o carisma CVX. 94 Meios e ajudas que a CVX oferece

Aprender a discernir os sentimentos e moções interiores, familiarizando-se com o método inaciano de eleição.

Conhecer as diversas vocações na Igreja: sacerdócio, matrimónio, vida religio-sa, celibato, institutos seculares, ministérios laicais, serviços apostólicos, teste-munho de vida evangélica, santificação do mundo, etc.

Procurar testemunhos e modelos referenciais para as diversas vocações.

Familiarizar-se com a visão da Igreja no Vaticano II (LG e GS), desenvolvendo o sentido de pertença eclesial, colaboração e participação responsável.

Colaborar com outras associações de Igreja.

Aportes da CVX durante a etapa do Discernimento Vocacional:

As reuniões de grupo acentuam a comunicação espiritual de moções interiores produzidas tanto na oração como na vida. São reuniões de discernimento sobre as moções espirituais dos membros, com a ajuda do guia.

O acompanhamento espiritual.

Os Secretariados Nacionais e locais devem oferecer, segundo as possibilidades: 95 Grupos de estudo ou Cursos sobre:

A vocação na Bíblia: Abraão, Moisés, Isaías, Jeremias, Maria, os Apósto-los...

O dinamismo e estruturas dos Exercícios Espirituais. Pode Ter duas fases: uma como preparação para os vir a fazer completos e outra sobre reflexão e aprofundamento da experiência dos EE já feitos.

O Discernimento espiritual inaciano, a Autobiografia de Santo Inácio.

A doutrina social da Igreja ou a formação sócio-política. 96 Oportunidades e sugestões para o aprofundamento do conhecimento de Cristo, da

Igreja dos Sacramentos da Ordem e Matrimónio, da vocação laical, etc., através de:

Listas de leituras escolhidas sobre estas matérias.

Guiões para estudo nas reuniões da comunidade.

Seminários de formação teológica.

Encontros entre aquelas pessoas que estão a viver o processo de discerni-mento vocacional.

Participação nos cursos de Teologia para Leigos nalguma Faculdade de Teo-logia ou Instituição adequada.

Sinais que indicam o fim da etapa 97 O final desta etapa traz consigo:

a eleição do estado de vida e/ou a reforma de vida.

a opção definitiva pela CVX, expressa publicamente no Compromisso Permanente. 98 Estas novas situações correspondem existencialmente às seguintes atitudes:

No discernimento pessoal e comunitário vêem-se claramente os sinais da von-tade de Deus em relação ao “estado de vida” e do “estilo de vida” da pessoa (trabalho, profissão, relações sentimentais, domicílio, estudos...).

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Ao fazer a eleição do estado de vida, sobretudo entre jovens adultos ainda céli-bes, colocam-se entre as várias alternativas vocacionais: o sacerdócio, a vida religiosa, o matrimónio, a vocação laical célibe...

A pessoa conseguiu uma estabilidade afectiva, espiritual e profissional relativas, integrando os diferentes elementos da sua vida com a própria missão.

A pessoa tem a convicção de que o Senhor a chama a viver e a servir em CVX.

A nível pessoal e comunitário procura-se seriamente responder ao que o Senhor pede a cada um e ao grupo.

Graças ao crescimento espiritual da maioria dos seus componentes, o grupo adquiriu uma identidade e coesão estáveis. É o lugar privilegiado da experiência do discernimento comunitário.

Os membros ligam-se responsavelmente com o movimento, assumindo serviços concretos, que podem exigir muito tempo, dinheiro, sacrifício.

Etapa do Discernimento Apostólico “Muito servir por puro amor” 99 Na etapa do compromisso permanente com a CVX não se trata de algumas incursões

em “apostolados”, mas de algo muito mais fundo e duradouro. Descobre-se, como Jesus, que não só recebo “envios”, mas que sou enviado. Por este motivo, comprome-temo-nos a dar um sentido apostólico a toda a nossa vida: família, trabalho, socieda-de, Igreja, descanso, doença. Inclusive a morte, a própria e a dos outros. Agradecido, vivo este compromisso como puro dom de Deus, o que me permite trabalhar com Jesus Cristo pelo reino do Pai.

100 Este envio concretiza-se nas diversas mediações. Na celebração de cada sacramento,

recebemos uma missão específica. O envio assume diferentes formas. Em cada sacra-mento recebemos uma missão específica. No Baptismo e Confirmação, por exemplo, somos instituídos como apóstolos, enviados para continuar a missão de Cristo e para trazer todas as realidades sob a sua bandeira. Ao aprovar o estilo de vida apostólico das CVX, a Igreja aceita e assume como seus os compromissos específicos da CVX. Mais ainda, a hierarquia pode confiar uma missão específica à CVX, quer por pedido da Igreja, quer por iniciativa da CVX.

101 A CVX é caracterizada pelo discernimento apostólico porque os seus membros são

encorajados a cultivar uma atitude de escuta, iniciativa e criatividade pela qual se tor-nam sensíveis aos sinais de Deus que são em si um apelo através das necessidades de outras pessoas e através dos apelos daqueles que têm uma função de direcção na CVX. (PG 6, 8, 13 (b), 14).

102 A CVX está marcada pela contemplação do chamamento de Cristo que conduz a uma

profunda relação e a uma nova atitude para com Ele, uma comunhão com Cristo Mis-sionário, acreditando no seu amor e poder salvífico, estando aberto ao Espírito Santo, demonstrando interesse pelos problemas dos outros, caridade apostólica, compreen-são, ternura, compaixão, fortaleza na adversidade, e uma prontidão para ultrapassar todas as barreiras de classe e ideologia.

103 O campo de missão das CVX não está limitado a pessoas ou actividades particulares,

mas estende-se a todos os sectores nos quais Deus nos chama para trabalhar: a Igre-ja e o mundo, pessoas das nossas relações e fora delas, a família, o local de trabalho, associações de natureza social e cultural, empresas, política, cultura.

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104 Ao procurar estabelecer prioridades, a CVX demonstra uma clara preferência pelos

apelos mais urgentes e universais, tais como a necessidade de pôr termo à discrimina-ção entre ricos e pobres, promover a evangelização das culturas e a unidade dos Cris-tãos. (PG 8d)

105 Para aqueles que se sentem chamados a ser agentes da mudança social e cultural com

vista à construção do Reino de Deus neste mundo, o estar alerta para a manutenção de uma tensão entre a vida humana e vida cristã e entre projectos pessoais e de gru-po torna-se uma segunda natureza. Para isto necessitamos discernimento, disponibili-dade e um correcto equilíbrio.

Características da Etapa do Discernimento Apostólico

A experiência que é efectuada: 106 Tornar Cristo e o Seu poder salvífico realmente presente nas nossas vidas; o apos-

tolado pessoal (na família, entre os amigos, paróquia, trabalho e lazer) é não só indispensável como insubstituível, e para muitos torna-se a forma mais profunda e duradoura de apostolado nas suas vidas;

desenvolver uma atitude de contemplação na acção, procurando fortalecer as rela-ções com Deus e com os outros através de acção de graças, oração e doação de si próprio no amor e no serviço;

prática regular de discernimento pessoal e comunitário, no que respeita as decisões pessoais e apostólicas;

uma maior integração da fé e vida , da fé e justiça;

o desenvolvimento de um sentido mais profundo de universalidade, ecumenismo, e sensibilidade para as maiores carências e maior serviço, e a capacidade de lhes dar resposta;

a assimilação de uma boa metodologia para planear, implementar e avaliar projec-tos apostólicos e sociais.

Apoio oferecido pela CVX

107 a comunidade apoia o encontro pessoal com Jesus na oração, nos sacramentos e na

vida diária;

a prática de uma oração com características apostólicas que nos permite encon-trarmo-nos com Deus e unirmo-nos a Ele nas actividades apostólicas;

realizar sessões para o discernimento em relação a decisões vitais para as nossas vidas: casamento, profissão, participação na vida social e política, etc.

criar condições para a organização de serviço apostólico (por ex. grupos de interes-ses profissionais comuns)

Contribuição da CVX para esta etapa

108 Nas reuniões do grupo, a vida quotidiana, os projectos e planos pessoais e apostóli-

cos tornam-se assuntos mais vitais. Estes são os assuntos para o grupo partilhar, escutar e discernir. As reuniões ajudam o discernimento pessoal e comunitário e também ajudam a lidar com a dor e morte encontradas no decurso da missão;

a extensão e diversidade do apostolado na CVX torna o discernimento apostólico absolutamente essencial quer ao nível pessoal, quer ao nível comunitário. É usado a todos os níveis de acção, iniciando com todos os membros a rever os aconteci-

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mentos do seu dia no Exame Diário, e avaliando os apelos do Senhor para o serviço aos outros. (GP 12(a))

a revisão de vida pode tomar aqui a forma de discernimento comunitário e apostóli-co;

deverá existir uma acompanhamento espiritual personalizado e o papel do guia é de testemunha e ajuda ao discernimento. Ocasionalmente, um casal poderá partilhar a sua experiência de direcção espiritual como casal;

os Exercícios Espirituais na forma de um retiro de cinco ou oito dias, constituem uma repetição Inaciana da experiência completa dos exercícios espirituais;

deverá ser criada alguma forma de bolsa comum ou fundo de solidariedade.

As comunidades locais e nacionais deverão oferecer meios para uma formação permanente.

109 Alguns dos cursos mais importantes para os membros adultos CVX são ética fami-

liar, profissional e social, aprofundamento da Escritura, Maria no mistério da Igreja, etc.

Outros cursos terão diferente relevância em diferentes países: diálogo inter-religioso, diálogo intercultural, etc. Estes assuntos podem ser abordados no âmbito das reuniões de grupo, de acordo com bibliografia proposta pelas equipas nacionais.

110 Terminamos este texto com as palavras de Santo Inácio da última anotação dos Exer-

cícios espirituais:

Devemos valorizar acima de tudo o maior serviço a Deus

por puro Amor.

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A Nossa Missão Comum

CVX: Uma carta de Cristo escrita pelo Espírito enviada ao mundo de hoje

XIII Assembleia Geral Mundial, Itaici, Julho 1998

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Índice I. Cristo e a Realidade Social....................................................................................................................... 87

1. Por um mundo mais justo........................................................................................................................ 87 2. Testemunhando o nosso estilo de vida......................................................................................... 87 3. Sendo profetas no nosso mundo......................................................................................................... 88 4. Formados pela experiência e pela acção ....................................................................................... 88 5. Trabalhando em redes e colaborando............................................................................................. 88

II. Cristo e a Cultura ............................................................................................................................................. 89

1. Trabalhando - pela palavra e pela acção - como profetas que ajudam a crescer tudo o que é bom e a transformar tudo o que é negativo nas cul-turas no mundo em que vivemos....................................................................................................... 89

2. Encarnando os valores do Evangelho em todas s situações particulares, para que cada cultura possa realizar o seu potencial de dar a vida plena à humanidade .......................................................................................................................................................... 89

3. Comprometemo-nos a envolver-nos na busca de uma nova maneira de ser Igreja universal, que atraia ao seu seio tudo o que torna a realidade de hoje tão rica na sua diversidade.................................................................................................... 90

III. Cristo na Vida Quotidiana ................................................................................................................ 91

1. Desejamos reforçar o valor absoluto de cada pessoa e das relações pes-soais autênticas na comunidade humana .................................................................................... 91

2. Queremos promover a vida de família como unidade básica da constru-ção do mundo como Reino de Deus................................................................................................. 91

3. Desejamos acompanhar os jovens no seu caminho para uma vida cheia de sentido, e convidá-los a entrar em contacto com o Senhor que lhes oferece a plenitude da vida ...................................................................................................................... 91

4. Desejamos integrar as actividades profissionais e laborais numa vida verdadeiramente humana e na nossa fé cristã ........................................................................ 92

IV. Meios para a Missão................................................................................................................................... 93

1. Exercícios Espirituais................................................................................................................................... 93 2. Formação................................................................................................................................................................. 93 3. Colaboração na Missão............................................................................................................................... 93 4. Finanças................................................................................................................................................................... 93

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Este documento é o resultado da XIII Assembleia Geral da Comunidade de Vida Cristã reali-zada em Itaici em 1998. Apresenta uma missão comum tal como foi discernida pelos delega-dos, redigida por uma comissão mandatada e emendada e recebida pela assembleia inteira. É oferecido agora a todas as comunidades nacionais e locais, e a todos os membros indivi-duais e assistentes eclesiásticos em todo o mundo.

Esta XIII Assembleia insere-se na linha do conjunto das Assembleias Mundiais - em especial das quatro últimas. Em Loyola 86, ficou claro que, enquanto Comunidade Mundial, éramos uma comunidade para a missão. Em Guadalajara 90, sentimo-nos enviados a dar fruto como corpo apostólico. Em Hong Kong 94, fizemos o reconhecimento do contexto em que e para o qual somos enviados. Em Itaici 98, definimos a nossa missão comum no contexto do mundo de hoje.

A missão da CVX vem do próprio Cristo que nos convida a unirmo-nos a Ele na preparação do mundo para se tornar plenamente o Reino de Deus. Ele chama-nos a situarmo-nos no coração da experiência do mundo e a recebermos o dom de Deus na sua plenitude.

Ao revermos as graças recebidas durante os últimos quatro anos, encontramos a mão de Cristo e o seu amor e, em atitude de gratidão por todo o bem recebido, nas nossas vidas e na CVX, oferecemo-nos para O seguir como peregrinos e no trabalho, como fez Inácio.

Fizemos o nosso discernimento sobre as necessidades mais urgentes do nosso mundo de hoje e procurámos, a partir delas, dar corpo e vida ao desejo que o Senhor tem para nós, aqui e agora.

Ao fazermos a revisão dessas necessidades, confrontámo-nos também com as nossas limita-ções e debilidades, com as nossas luzes e sombras, com o nosso pecado. Apesar disso, no entanto, encontrámos muitas coisas boas e sábias, em especial esse poderoso e generalizado esforço para prosseguir na luta pela missão. Assim, assumimos a nossa missão com a con-fiança em que o Senhor nos aceita, como fez com Inácio, não porque somos fortes mas por-que “nos bastam o Seu amor e a Sua graça”.

Neste processo de discernimento, que começou nas nossas comunidades nacionais, reflecti-mos sobre quatro áreas da nossa vida, a partir do nosso carisma inaciano: Cristo e o cresci-mento na vida cristã, Cristo e a cultura, Cristo e a realidade social, Cristo e a vida quotidia-na.

O processo acabou por nos fazer descobrir três áreas de missão e um conjunto de meios necessários para a sua realização.

Primeiro, queremos trazer o poder libertador de Jesus Cristo à nossa realidade social.

Segundo, queremos encontrar Jesus Cristo em toda a variedade de culturas, e dei-xar que a Sua graça ilumine tudo o que necessita de ser transformado.

Terceiro, queremos viver em união com Jesus Cristo, para que Ele possa penetrar todos os aspectos da nossa vida quotidiana no mundo.

Estas três áreas de missão foram iluminadas pela fonte espiritual que nos alimenta e torna aptos para a missão: os Exercícios Espirituais, que nos ajudam a crescer na vida cristã.

Além disso, temos que atender à nossa formação para a missão, para que a nossa comuni-dade possa tornar-se cada vez mais um instrumento eficaz para o serviço.

Sugerimos a todos quantos recebam esta declaração sobre a nossa missão que não o leiam apenas de um ponto de vista intelectual, procurando informação, mas como a formulação de um grande desejo da Comunidade de Vida Cristã, reunida em Assembleia.

Convidamos o leitor a unir-se à nossa peregrinação para que Jesus Cristo possa alcançar a Sua plena dimensão. É isso que apaixonadamente desejamos e a que nos comprometemos de todo o coração.

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I. Cristo e a Realidade Social

Ao lado dos pobres. A nossa relação pessoal com Deus, que surge dos Exercícios Espirituais de S. Inácio, é a inspiração que nos anima a participar na luta por um mundo mais justo. Atribuímos muita importância à postura profética da Igreja contra a pobreza e contra as cau-sas da pobreza. Alicerçados em Cristo e no Seu amor por nós, queremos fazer a nossa opção pelos pobres, não apenas como ideia, mas através de uma análise séria e da adopção de uma atitude responsável e eficaz em relação à pobreza e às suas causas. Somos chamados, na nossa vida comunitária, a encorajarmo-nos uns aos outros a olhar o mundo e a trabalhar nele na perspectiva dos pobres e a crescer na nossa capacidade de nos encontrarmos com eles, ficando a saber onde eles estão nas nossas sociedades e quais são as melhores formas de participar nas suas lutas. Somos ainda chamados a examinar as nossas próprias vidas a partir dessa perspectiva.

1. Por um mundo mais justo Precisamos de trabalhar contra a ganância e o abuso do poder para o mal nas estruturas políticas e económicas, com frequência exercido tão eficientemente pelas multinacionais.

Assim como as causas da pobreza e da injustiça estão enlaçadas entre si e se apoiam umas às outras para lá das fronteiras nacionais, também nós como CVX somos chamados a dar testemunho de uma comunidade mundial que torna os seus membros aptos para serem pro-fetas da justiça e da esperança, capazes de assumirem posições corajosas para trazerem mais justiça a este mundo. Estamos preparados para estabelecer redes de colaboração, para desencadear acção social: queremos tornar-nos empreendedores sociais com a mesma intensidade dos empreendedores do mundo dos negócios.

Queremos participar nos diferentes foros nacionais e internacionais, para aí fazer chegar a voz dos mais pobres em assuntos tais como o problema da dívida internacional. De formas diversas, todos somos chamados a uma participação activa nas estruturas económicas, polí-ticas e sociais, não apenas de um ponto de vista crítico mas propondo também soluções. Nisto, a comunidade transmite-nos o poder de que precisamos para acreditarmos verdadei-ramente que podemos trabalhar na mudança das estruturas de pecado.

Preocupamo-nos com a integridade da criação de Deus em todas as suas diversas bênçãos. Damos muito valor a relações sãs em todas as áreas da vida humana – família, trabalho, vida pública e Igreja – e temos uma profunda estima por uma cultura do diálogo na família humana.

2. Testemunhando o nosso estilo de vida Reconhecemos que a nossa principal contribuição para o nosso mundo é vivermos plenamen-te a nossa vocação, tal como ela é expressa nos nossos Princípios Gerais, como indivíduos e como comunidade.

Sentimo-nos particularmente chamados a viver em solidariedade com todos, num estilo de vida simples, buscando diariamente a nossa própria conversão a Deus e partilhando a expe-riência dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio e a sua pedagogia.

Acreditamos que um dos grandes contributos que podemos dar ao mundo de hoje, especial-mente na resolução de conflitos e na tomada de boas decisões a todos os níveis da vida, é o processo de discernimento e a capacidade de escuta e de diálogo que aprendemos na nossa comunidade.

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3. Sendo profetas no nosso mundo Sentimos que a CVX é chamada a resistir ao consumismo e individualismo crescentes e à erosão cultural que eles produzem. A nossa espiritualidade forma-nos para sermos pró-activos, e isso dar-nos-á a confiança que precisamos para sermos contra-culturais, quando for necessário.

Não queremos ser uns profetas gastos e exaustos no mundo. Pelo contrário, queremos ale-grar-nos pela presença de Cristo no mundo e a Ele retornar frequentemente para alimentar-mos a nossa relação essencial com o Senhor. Precisamos também de aprender a servir como fermento de uma forma silenciosa e profunda, promovendo e vivendo relações justas na família, no local de trabalho, na vida pública e na Igreja.

4. Formados pela experiência e pela acção A CVX precisa de agir. Necessita de um programa de formação e capacitação que a ajude a ser activa no mundo. Praticamente todas as necessidades sociais que desejamos enfrentar exigem formação mas a acção não pode esperar até estarmos completamente formados. Precisamos, logo desde o princípio, de aprender a ser contemplativos na acção, a promover experiências de inserção em situações de opressão e privação e a fomentar um modelo de experiência-reflexão-acção nos nossos programas de formação.

Queremos desenvolver uma formação activa, progressiva, contínua e adaptável nos Exercí-cios Espirituais, e encontrar formas concretas através das quais a riqueza destes possa ser partilhada com pessoas em todas as circunstâncias da vida.

5. Trabalhando em redes e colaborando Sentimos que há hoje uma grande oportunidade de colaborar com outros e de encontrar estruturas flexíveis e dinâmicas que assegurem eficiência no serviço que desejamos prestar ao mundo. Queremos colaborar, dentro da CVX e para além dela, unindo-nos humildemente a outros e ajudando nas suas iniciativas. Reconhecemos um particular chamamento a fazer isto com a Companhia de Jesus em muitos e diferentes sectores, de acordo com as realida-des locais e as capacidades pessoais: educação, refugiados, preocupação social, ONG’s, etc.

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II. Cristo e a Cultura Encontrámos a Jesus Cristo nos Evangelhos e escolhemos segui-Lo. Uma das grandes bên-çãos das nossas vidas é o enriquecimento que vamos buscar não só à nossa cultura, que dá tanto para a identidade única de cada um, como ao que recebemos através das culturas uns dos outros. No entanto, detestamos os malefícios que o pecado próprio de cada cultura pode causar ao destruir pessoas e dividir comunidades. Mais ainda, na sua tendência para a uni-formidade, a emergente cultura mundial parece estar a ter o efeito negativo de destruir o específico de cada cultura, mais do que o efeito desejável de integração positiva de povos de diferentes culturas num mundo uno que respeita a contribuição singular de cada uma. É a partir destas perspectivas que nos comprometemos a favorecer a presença plena de Cristo em todas as culturas, dos seguintes modos:

1. Trabalhando – pela palavra e pela acção – como profetas que ajudam a crescer tudo o que é bom e a transformar tudo o que é negativo nas culturas no mundo em que vivemos.

Os diversos meios de comunicação social, em especial os de massas, têm um enorme poder para fazer tanto o bem como o mal. Comprometemo-nos a aprender a utilizá-los eficazmente e a sermos críticos perante o que apresentam ao consumidor. Devemos empregá-los amplamente ao serviço do nosso desejo de comunicar a nossa fé cristã e os valores que defendemos.

Em relação à cultura mundial dominante:

Opomo-nos ao seu individualismo com a preocupação pelo diálogo que também encontramos nela a um nível mais profundo; à marginalização que faz dos pobres com a sua preocupação pelos direitos humanos e pela dignidade de todos; ao seu consumismo com a sua mais fun-damental afirmação da vida.

Reafirmamos um estilo de vida simples que nunca põe o acento nas coisas mas naquilo que somos, no que podemos partilhar e no que pode servir a pessoa humana.

Comprometemo-nos a viver como testemunhas a partir da nossa forma de vida comunitária em CVX, focalizada na experiência do dar e do receber, e o nosso esforço será atrair outros para este estilo de vida.

Em relação às culturas locais e regionais:

Apoiamos tudo o que é único, porque estamos convencidos de que finalmente a humanidade se enriquece com cada particularidade; a preocupação com a comunidade que precisa, fre-quentemente, de se expandir para lá de horizontes limitados; e a rica vida simbólica que nos torna capazes de sonhar e de criar, mesmo reconhecendo que o simbólico também pode ser usados para degradar e destruir.

2. Encarnando os valores do Evangelho em todas as situações particulares, para que cada cultura possa realizar o seu potencial de dar vida plena à humanidade

Encarnaremos nas nossas culturas próprias, mantendo, ao mesmo tempo, a força para ser-mos contra-culturais através da nossa capacidade crítica e do nosso testemunho.

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Preocupamo-nos especialmente com os que andam em busca de sentido, para que possam encontrá-lo, e com os que vivem sem esperança, para que encontrem um caminho.

Procuramos melhores formas de educação, para que os verdadeiros valores possam ser assi-milados e vividos. Reconhecemos que todas as etapas da vida têm as suas crises e os seus desafios e apoiamos a todos no seu caminhar, muito especialmente os jovens que podem ter especiais dificuldades ante a relatividade dos valores que lhes são apresentados.

Aportamos competências para o diálogo e empenhamento pela reconciliação em qualquer situação.

3. Comprometemo-nos a envolver-nos na busca de uma nova maneira de ser Igreja universal, que atraia ao seu seio tudo o que torna a realidade de hoje tão rica na sua diversidade.

Promovemos o diálogo, tanto no seio da Igreja Católica como entre esta e outras denomina-ções cristãs, outras religiões, pessoas em busca e todos os de boa vontade.

Trabalhamos para uma autêntica inculturação nas Igrejas locais, ajudando a Igreja ao pro-mover tudo o que é positivo nas comunidades locais e desafiando os seus aspectos negati-vos. Aplicamos isto ao serviço pastoral, à catequese, à liturgia e à teologia.

Trabalhamos para integrarmos com a nossa fé todos os aspectos da nossa realidade, incluin-do a família, o casamento e o trabalho.

Promovemos os valores das relações humanas autênticas na Igreja, o que implica atenção para sarar as feridas e trabalhar pela transformação das estruturas de pecado.

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III. Cristo na Vida Quotidiana Como desejamos que a nossa pertença à CVX atravesse tudo o que fazemos na vida diária, desejamos viver plenamente de acordo com o que dizemos ser como comunidade de fé, lai-cal e inaciana, em missão. Este desejo tem claramente dois aspectos importantes, que podem ser ambos ligados ao nosso compromisso de buscar e encontrar a Deus em todas as coisas. Por um lado, podemos perder Deus no quotidiano e, assim, perder tanto a riqueza da Sua presença como muitas oportunidades para servir. Por outro, podemos tornar-nos cegos à presença de Deus nalgum aspecto da nossa vida, desaproveitando um desafio para crescer e o potencial de servir neste aspecto da nossa vida. No nosso discernimento, detectámos quatro fortes desejos e fazemos deles as prioridades na nossa missão hoje de fazer Cristo presente na nossa vida diária.

1. Desejamos reforçar o valor absoluto de cada pessoa e das relações pessoais autênti-cas na comunidade humana.

Por todo o mundo, as forças de morte trabalham com força e têm impacto em todas as nos-sas actividades quotidianas. Queremos afirmar sempre a pessoa humana, criada à imagem de Deus.

Desejamos viver vidas sem medo de ser afectivos nas nossas relações e a apreciar este mundo como dom de Deus.

Pela certeza na fé de que ninguém é descartável, queremos ter um cuidado especial pelo pobre e incluir esta perspectiva nas decisões que tomamos em todos os aspectos da nossa vida diária.

Na nossa interpretação do mundo, incluímos um entendimento cristão crítico da globalização, dos problemas do meio ambiente e da militarização.

2. Queremos promover a vida de família como unidade básica da construção do mun-do como Reino de Deus.

Move-nos fortemente a preocupação pela família na variedade das suas manifestações, uma vez que está hoje tão ameaçada, e até ao ponto do declínio.

Desejamos cultivar e promover a afectividade e relações autênticas nos casais, entre pais e filhos e entre gerações.

Comprometemo-nos a viver o casamento e a vida de família em discernimento, para os inte-grarmos com a nossa fé, de modo a viver plenamente estas dimensões como uma vocação do Senhor na Igreja.

Queremos cuidar especialmente das famílias que sofrem qualquer tipo de ruptura ou desâ-nimo.

3. Desejamos acompanhar os jovens no seu caminho para uma vida cheia de sentido, e convidá-los a entrar em contacto com o Senhor que lhes oferece a plenitude da vida.

Os jovens são especialmente vulneráveis ao consumismo e a outros anti-valores. Cada jovem encontra-se frente à encruzilhada a escolha do seu estilo de vida, e nós esforçamo-nos por que o estilo de Cristo seja atractivo e desafiador. Queremos escutar os jovens nas

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suas esperanças, nos seus desejos e na sua generosidade e promover o seu crescimento de todas as formas possíveis.

Desejamos oferecer aos jovens uma iniciação inculturada à fé, indo ao seu encontro onde eles estão e fazendo juntos o caminho para um encontro mais profundo com Cristo, com o auxílio eficaz da pedagogia inaciana.

4. Desejamos integrar as actividades profissionais e laborais numa vida verdadeira-mente humana e na nossa fé cristã.

A pressão duma omnipresente preocupação com o lucro deve ser combatida em todas as áreas da vida profissional.

Afirmando que o trabalho não é um fim em si mesmo, queremos valorizar o trabalho e a dignidade do trabalhador.

Queremos superar a distância frequentemente presente entre o nosso compromisso de fé e as nossas actividades profissionais e laborais, para vivermos essas actividades como parte da nossa vocação pessoal.

Queremos também encontrar formas de fazer face ao desemprego e ao subemprego, mesmo em circunstâncias em que não podemos resolver este problema.

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IV. Meios para a Missão 1. Exercícios Espirituais Como Comunidade Mundial, a CVX deve apoiar activamente todos os seus membros, pro-vendo-os de meios e recursos para experimentarem plenamente a graça dos Exercícios Espi-rituais de Santo Inácio, oferecendo-os de maneira dinâmica, progressiva e contínua. Uma vez que todas as fontes inacianas são integrais à nossa espiritualidade, desejamos lê-las a todas com uma perspectiva laical. Neste espírito, apoiamos os esforços para adaptar os Exercícios Espirituais.

2. Formação A CVX criará equipas de formação a nível regional e mundial para proporem e desenvolve-rem programas de formação que, intelectual e afectivamente, integrem as dimensões espiri-tual, comunitária e apostólica da vida em CVX. Dar-se-á especial apoio ao desenvolvimento de programas que capacitem os membros da comunidade a serem pró-activos e contra-culturais quando tal for necessário.

A CVX oferecerá a sua experiência no desenvolvimento da pessoa, integrando fé e vida, cobrindo todas as dimensões do quotidiano, com uma especial sensibilidade para com os pobres e marginalizados. Desejamos desenvolver programas de formação e educação que tornem as pessoas e/ou a comunidade mais capazes para uma escuta activa, para o mane-jamento da resolução de conflitos e para a promoção de um aberto e sincero diálogo entre os nossos membros e com outras pessoas da sociedade.

A CVX assistirá os seus membros na aprendizagem dos processos de discernimento pessoal e comunitário, que conduzirá a actividades apostólicas pessoais e comunitárias mais eficazes. Para tal, proporcionaremos programas adequados e treinamento para líderes, guias e anima-dores, segundo o espírito e método da pedagogia inaciana. Desejamos também proporcionar meios e recursos a todos os nossos membros, em todas as etapas do desenvolvimento humano, para tomarem consciência da vocação pessoal e serem afirmados na sua identidade na comunidade.

3. Colaboração na missão A CVX sente um particular chamamento a colaborar na missão com a Companhia de Jesus e com outros membros da família inaciana. Está especialmente interessada em criar e apoiar activamente redes de trabalho apostólico na Igreja e com outros grupos internacionais.

4. Finanças A CVX está especialmente preocupada com o apoio económico que é dado pelas comunida-des nacionais para fazer face às suas despesas a nível mundial. A responsabilidade financeira deveria ser sempre discernida por cada membro na sua pequena comunidade e é um sinal de compromisso maturo com a Comunidade Mundial.

tradução revista por Hermínio Rico sj., Agosto 2005

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Plano de Formação da CVX-P

Apresentado à VIII Assembleia Nacional CVX-P

Fátima, Outubro 2004

Introdução ......................................................................................................................................................... 97 Etapa 0: Acolhimento ......................................................................................................................... 98 Etapa 1: Iniciação....................................................................................................................................... 100 Etapa 2: Identificação .......................................................................................................................... 101 Etapa 3: Missão............................................................................................................................................ 102

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Introdução

A fim de preparar os nossos membros para um testemunho e um compro-misso apostólico mais eficazes, especialmente no nosso ambiente diário, reu-nimos em Comunidade pessoas que sentem uma necessidade mais urgente de unificar a vida humana, em todas as suas dimensões, com a plenitude da fé cristã de acordo com o nosso carisma (PG. 4).

A formação dos membros CVX deverá desenrolar-se segundo um processo de crescimento contínuo e gradual que passa pela conversão pessoal, pela crescente intimidade/identificação com Jesus Cristo que, segundo a metodologia dos EE., permitirá ir interiorizar critérios e atitudes que possibilitem um compromisso apostólico universal, vivido em Igreja, no seio de uma comunidade local (grupo). Para tanto, muito ajuda a assimilação dos nossos Princípios e Normas Gerais, do documento O Nosso Carisma, bem como os documentos emana-dos das Assembleias Gerais Mundiais.

O presente documento pretende ser uma apresentação sintética e objectiva da caminhada CVX. Pretende oferecer, nomeadamente aos animadores e guias, objectivos, critérios, meios e sinais que possam ajudar a orientar a caminhada e crescimento das diferentes comunidades locais. Ajudará também a que cada comunidade se vá situando e a que cada membro possa colher alguma ajuda para a elaboração do seu Plano Individual de Formação.

Desde o início que os que se sentem atraídos para a CVX devem ser ajudados pela comuni-dade, sobretudo através dos animadores e guias e estes através das Equipas Nacional e Regionais, a assimilar o estilo de vida CVX e a verificar a presença ou não de uma chama-mento específico (vocação) para este estilo de vida.

A comunidade tem como função pedagógica a ajuda mútua para o crescimento espiritual e apostólico dos seus membros, tendo sempre presente que “ser CVX é estar em Missão” e é esta que dá à comunidade, e à formação, todo o seu sentido (cf. PG 4 e 8).

As últimas Assembleias Gerais Mundiais (nomeadamente a de Itaici e a de Nairobi) recomen-dam um salto qualitativo na atitude e estilo de vida de cada membro e de cada comunidade CVX, convidando-os a passar de “uma comunidade de apóstolos a uma comunidade apostóli-ca”. E é para aqui que, de uma forma contínua e progressiva, toda a formação deve apontar.

A formação CVX, sendo um processo contínuo não é facilmente fraccionável em etapas ou fases, sobretudo porque tem ritmos, graus, acentos variados quer a nível pessoal quer, sobretudo, a nível comunitário. Não há comunidades com pessoas a caminhar todas ao mesmo ritmo e não é importante que tal aconteça. A diversidade foi, é e sempre será um desafio e fonte inesgotável de riqueza e criatividade (de dificuldades também!).

Apesar disso, e por uma questão pragmática, destinada a facilitar a orientação dos animado-res e guias, apresentamos o Plano de Formação agora revisto, com 4 etapas que deverão ser apresentadas e percorridas com a exigência que uma formação séria exige e com a flexibili-dade que as dinâmicas pessoais sempre implicam.

Etapa 0:Acolhimento; etapa I – Iniciação; etapa II – Identificação; etapa III - Missão.

A presente formulação resulta da avaliação que foi sendo feita ao plano de Formação de 1999 por numerosas comunidades que fizeram chegar as suas observações à Equipa de Formação. Continua, no entanto, aberta a todas as sugestões e enriquecimentos que a expe-riência e o Espírito Santo forem aconselhando.

Fátima, Outubro de 2004

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Etapa O – Acolhimento “Onde moras ?”

Objectivos: • Conhecer-se, aceitar-se e amar-se a si mesmo como Deus conhece, aceita e ama.

• Conhecer o Deus revelado por e em Jesus Cristo – purificar a imagem de Deus.

• Personalizar a relação de Fé com Jesus Cristo.

• Conhecer e amar “o outro” como Deus o conhece e ama.

• Conhecer a CVX e os seus caminhos de crescimento, como resposta possível para os seus desejos e aspirações

• Olhar o mundo circundante, nas suas dimensões humana, social, cultural e cristã, com sentimentos positivos e um grande desejo de melhorar as coisas.

• Sensibilizar para os problemas da Justiça.

Meios:

Noções básicas de antropologia cristã: Quem é o Homem? Sentido da vida humana...

Noções básicas de psicologia: Integração dos afectos, desejos, medos, mecanis-mos de defesa...

Curso de Relações Humanas (RH)

Dinâmicas de grupo: Aprender a escutar e respeitar as opiniões dos outros; partilhar as próprias experiências e senti-mentos...

Curso de Relações Humanas (RH) Reuniões de grupo

Catequese básica. Formação Eclesial e bíblica

CIF ou similar; grupos de questões. Formação bíblica adaptada aos des-tinatários;

Iniciação à oração pessoal e comunitária.

Encontros de oração; curso sobre oração; experiências de vários tipos de oração, dentro e fora da reunião.

Introduzir a revisão de vida e avaliação como formas de iniciação ao discernimento

Reuniões de escuta e partilha da Fé e da vida. Utilizar diversos modelos de avaliação das reuniões.

Dar a conhecer o essencial do carisma CVX, nomeadamente através dos PG 4 e 8.

Curso de Iniciação à CVX

Alertar para as questões sócio-culturais que nos rodeiam.

Curso, ou introdução nas reuniões, de temáticas sobre justiça social.

Nota: é importante introduzir cada assunto lenta e progressivamente e atendendo sempre às experiências dos participantes e fazendo a ponte com elas, de forma a que vão descobrin-do, pouco a pouco, o que Deus lhes comunica.

Uma entrevista prévia com o animador ou o guia é recomendada a fim de amadurecer expe-riências anteriores e motivações.

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Sinais de fim de etapa: • Opção cristã básica.

• Visão positiva de si, dos outros, do mundo que nos rodeia.

• Sensibilidade aos problemas da injustiça e exclusão social e desejo de ajudar na sua resolução.

• Assiduidade às reuniões e vida sacramental.

• Desejo fundamentado de passar à etapa seguinte para uma verdadeira iniciação ao estilo de vida CVX ou de abandonar o caminho iniciado por este não corres-ponder aos seus desejos. A CVX é um entre muitos outros caminhos na Igreja!

• Os que desejam e estão prontos a empreender a “caminhada CVX” passam a integrar uma comunidade de modo comprometido e regular.

Durante a etapa de acolhimento ou a iniciar a etapa seguinte é importante a realização do Curso de Iniciação à CVX.

Temas que não poderão deixar de ser tratados no Curso de Iniciação:

⎯ EE e espiritualidade inaciana;

⎯ Carisma e estilo de vida CVX – Os Princípios Gerais e O Carisma CVX;

⎯ Integração Fé/Vida; Comunidade Apostólica.

⎯ Organização geral da CVX e implicações comunitárias.

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Etapa I – Iniciação “Vinde e vede”

Objectivos • Conceber a Fé Cristã como uma resposta a uma proposta pessoal de Deus em

Jesus Cristo;

• Conhecer os traços fundamentais da espiritualidade inaciana, nomeadamente os EE como fonte e instrumento espiritualidade CVX;

• Conhecer o itinerário pessoal de Inácio de Loyola;

• Conhecer claramente o caminho CVX e ver se corresponde ao que se procura e deseja profundamente (identidade, estilo de vida, espiritualidade, missão, organi-zação e meios de crescimento);

• Tomar parte activa na comunidade, assumir algumas responsabilidades, contribuir economicamente;

• Aprender a olhar o mundo como Deus o olha, com uma visão positiva e carregada de esperança e procurar ajudar os outros como o próprio Deus faz.

• Partilhar experiências e sentimentos pessoais em ordem à revisão de vida comu-nitária e apostólica.

Meios: • Mini Exercícios Espirituais.

• Oportunidades e meios diversificados para aprofundar Os Princípios Gerais e algumas partes do documento O Carisma CVX.

• Encontros, cursos sobre a vida de S. Inácio. Leitura da Autobiografia.

• Regras de discernimento dos espíritos (2ª semana).

• Iniciação à oração inaciana e diversos modos de orar (EE 238-260) e Adições ina-cianas (EE 73-90).

• Iniciação à análise crítica da realidade (oferta de algum curso específico).

• Participação em experiências diversificadas de serviço, acompanhadas em comu-nidade.

• Iniciação ao exame inaciano, discernimento e acompanhamento pessoal.

• Participação em actividades CVX e da Igreja.

Sinais que indicam o fim da etapa • Convicção de se ter crescido no encontro pessoal e comunitário com Deus;

• Assiduidade em relação à vida sacramental, nomeadamente à Eucaristia.

• Prática de oração pessoal regular, incluindo o exame.

• Valorização positiva do vivido em comunidade e confiança nas potencialidades da vida comunitária;

• Fortalecimento da sensibilidade em relação aos problemas da injustiça e margina-lização social e respectivo compromisso social/serviço apostólico;

• Desejo de assumir de forma mais consciente o estilo de vida CVX. Expressão des-se desejo será a decisão de fazer o Compromisso Temporário.

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Etapa II – Identificação “Que fazer por Cristo?”

O Compromisso Temporário manifestado na comunidade e assumido por ela é a expressão, por parte da pessoa, do seu desejo de viver segundo o estilo de vida CVX no momento presente e da determinação de procurar a vontade de Deus na sua vida, utilizando os meios inacianos: por parte da comunidade que o acolhe, a oferta desinteressada da pedagogia inaciana própria da CVX. (O Carisma CVX – 2ª parte, nº 85)

Objectivos: • Escutar o chamamento de Cristo para o seguir mais de perto.

• Conceber a fé cristã como “vocação-missão” e eleger o estado e/ou estilo de vida; familiarizar-se com o método inaciano de eleição.

• Descobrir mais claramente a realidade das desordens sociais, os valores e normas reinantes e a sua influência nos costumes e estruturas para “agir contra”…

• Crescer no amor à Igreja e no compromisso de anunciar o Reino de Deus.

• Aprofundar as condições de seguimento de Jesus Cristo e da fecundidade do sen-tido apostólico.

• Aprofundar o carisma CVX e as exigências do seu estilo de vida.

Meios: • EE de semana.

• Aprofundamento do discernimento pessoal e iniciação ao discernimento comunitá-rio e apostólico.

• Regras do “sentir com a Igreja”.

• Prática regular do exame inaciano.

• Curso de formação CVX.

• Aprofundamento do documento “O Nosso Carisma” na sua totalidade.

• Aprofundamento dos documentos/decisões das Assembleias Nacionais e Mundiais.

• Fazer a experiência completa dos EE: em retiro, na vida corrente ou em retiro por etapas.

Sinais de fim de etapa: • Escolha do estado de vida e/ou reforma de vida.

• Identificação com o carisma e estilo de vida CVX.

• Opção definitiva pela CVX, expressa publicamente no Compromisso Permanente.

• Aquisição, por parte do grupo, de identidade e coesão. É o lugar privilegiado para a experiência do discernimento comunitário e apostólico.

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Etapa III – Missão “Em tudo amar e servir”

A meta de todo o processo de formação CVX é a formação de um Corpo Apostólico efectiva-mente comprometido na Missão de Jesus e da Igreja. Por isso, esta não é apenas mais uma etapa, mas o fruto de um longo caminhar. Mantém os objectivos gerais das etapas anterio-res mas põe o acento no compromisso apostólico abarcante e permanente que envolve a vida toda.

Pela formulação concreta do “compromisso permanente”, como ponto alto do discernimento cristão da vocação, expressamos o nosso desejo eficaz de pro-curar realizar a vontade de Deus na nossa vida apostólica, de responder aos Seus apelos particulares e de sermos enviados em missão. (O Carisma CVX – 1ª parte, nº 192).

Objectivos: • Dar sentido apostólico a todas as dimensões da vida – família, trabalho, lazer,

sociedade, Igreja, doença, morte...

• Desenvolver uma permanente atitude de contemplativos na acção.

• Viver uma mais plena integração Fé/Vida e Fé/Justiça.

• Constituir a CVX como corpo apostólico de leigos que partilha a responsabilidade pela Missão.

• Viver a Espiritualidade Inaciana como um dom que é preciso pôr ao serviço da Igreja.

• Disponibilizar-se para o serviço na Comunidade CVX.

Meios: • Discernimento como meio habitual para chegar às decisões pessoais e comunitá-

rias

• Viver no grupo a experiência de: discernir – enviar – apoiar – avaliar na missão.

• Cursos de ética familiar, profissional e social.

• Análise crítica da realidade

• Aprofundar e integrar o documento “A nossa Missão Comum”

• Participar na Escola de Exercícios.

• Servir na Comunidade, nomeadamente como animador ou guia de novas comuni-dades, ou participando nas diferentes estruturas comunitárias.

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Caderno compilado para o Curso de Animadores CVX Coimbra, 4-5, 18-19 Novembro 2006

a.m.d.g.