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MENSILE SPED. ABB. POST. 45% D.L. 353/2003 (CONV. IN L. 27/02/04 N.46) ART.1, COMMA 1 DCB - ROMA. In caso di mancato recapito rinviare a Ufficio Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. ISSN 0390-4539 Palavras de Dom Luigi Giussani a João Paulo II no início da década de 1990 www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X “Não é o agnosticismo; o gnosticismo, este sim, é que é o perigo para a fé cristã” Carl Gustav Jung Georg Wilhelm Friedrich Hegel Johann Wolfgang von Goethe ANO XXIX - N.4/5 - 2011 R$ 15,00 - 5 Suplemento OS CANTOS DA TRADIÇÃO In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à Ufficio Poste Roma Romanina, Italie nella Chiesa e nel mondo nella Chiesa e nel mondo nella Chiesa e nel mondo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo

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MENSILE SPED. ABB. POST. 45% D.L. 353/2003 (CONV. IN L. 27/02/04 N.46) ART.1, COMMA 1 DCB - ROMA.In caso di mancato recapito rinviare a Ufficio Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. ISSN 0390-4539

Palavras de Dom Luigi Giussania João Paulo II no início

da década de 1990

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ANO XXIX - N.4/5 - 2011 R$ 15,00 - € 5

Suplemento OS CANTOS DA TRADIÇÃO

In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy.

En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à Ufficio Poste Roma Romanina, Italie

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Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo

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EDITORIAL

João Paulo II beato

— por Giulio Andreotti 4

NESTE NÚMERO

VIDA CONSAGRADA

As pretensões dos homens

e a paciência de Deus

Entrevista com João Braz de Aviz — por G. Valente 24

Uma prorrogação ad personam — por G. Valente 27

ORIENTE MÉDIO

Do Líbano, uma mensagem de convivência

Entrevista com Béchara Raï — por D. Malacaria 30

PÁSCOA 2011

A ressurreição de Cristo é um acontecimento

Mensagem Urbi et orbi do Papa Bento XVI 38

COLÉGIOS ECLESIÁSTICOS DE ROMA

Uma ponte entre Oriente e Ocidente

— por P. Baglioni 46

Forja de patriarcas, de orientalistas

e de futuros santos

— por P. Baglioni 47

O arquipélago maronita

— por P. Baglioni 53

NOVA ET VETERA

Introdução — por L. Cappelletti 58

O pacto com a Serpente — por M. Borghesi 60

SEÇÕES

CARTAS DOS MOSTEIROS 6

LEITURA ESPIRITUAL 10

CARTAS DAS MISSÕES 20

CARTAS DOS SEMINÁRIOS 22

30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 42

330DIAS Nº 4/5 - 2011

OrienteMédio

Do Líbano, uma mensagem de convivência.Entrevista com Sua Beatitude Béchara Raï

novo patriarca de Antioquia dos Maronitas

REDAÇÃOVia Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected]

Vice-Diretores Roberto Rotondo - [email protected] Cubeddu - [email protected]

RedaçãoAlessandra Francioni - [email protected] Malacaria - [email protected] Mattei - [email protected] Quattrucci [email protected] Valente - [email protected]

GráficaMarco Pigliapoco - [email protected] Scicolone - [email protected] Viola - [email protected]

ImagensPaolo Galosi - [email protected]

ColaboradoresPierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet,Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale,Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, Gianni Cardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi

Escritório LegalDavide Ramazzotti - [email protected]

Secretaria de redaçã[email protected]

3OGIORNI nella Chiesa e nel mondoé uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250

SOCIEDADE EDITORA Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma

Conselho de AdministraçãoGiampaolo Frezza (presidente),Massimo Quattrucci (vice-presidente), Giovanni Cubeddu, Paolo Mattei,Roberto Rotondo, Michele Sancioni, Gianni Valente

Diretor responsávelRoberto Rotondo

TipografiaArti Grafiche La ModernaVia di Tor Cervara, 171 - Roma

ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃOVia Vincenzo Manzini, 45 - 00173 RomaTel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95E-mail: [email protected] segunda a sexta-feira das 9h às 18he-mail: [email protected]

Este número foi concluído na redação dia 31 de maio de 2011

Impressão concluída no mês de junho de 2011

3OGIORNInella Chiesa e nel mondo

Diretor Giulio Andreotti

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS: Paolo Galosi: pp.4,6,7,8,9,16,,17,18,19,22,46,47,48,49,50,52,53,54,55,56; Associated Press/LaPresse: pp.5,24,29,34,35,36,42,43,45; por gentil concessão de monsenhorSamir Nassar: pp.20-21; Romano Siciliani: pp.25,27; por gentil concessão de padre Sergio Durigon:p.26; STR New/Reuters/Contrasto: p.30; Epa/Ansa: pp.30-31; Osservatore Romano: pp.31,39,48,51;Patriarcato maronita: p.32; Epa/Corbis: p.33; Afp/Getty Images: p.34; por gentil concessão doDepartamento de Patrimônio IPAB, Vicenza: p.41; por gentil concessão da Sala de Imprensa daPresidência da República italiana: pp.43,44; LaPresse: p.44; por gentil concessão da Sala deImprensa da Cúria dos Jesuítas: p.49; Arquivo do Pontifício Colégio Maronita: pp.51,52; por gentilconcessão da Ordem Antoniana Marianita de SantʼIsaia: p.57.

p. 30

Na capa: “Não é o agnosticismo; o gnosticismo, este sim, é que éo perigo para a fé cristã”. Palavras de Dom Luigi Giussani a JoãoPaulo II no início da década de 1990

N. 4/5 ANO 2011an

o X

XIX Sumário

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4 30DIAS Nº 4/5 - 2011

Da grande multidão de fiéis – ro-manos e não romanos – que nodia da beatificação de João Pau-

lo II lotava a Praça de São Pedro e as ruas adja-centes nos resta o sentimento, a veneração, aalegria de toda aquela gente. E é uma recorda-ção que não podemos deixar apagar dentro denós. Mas também ouvir a ritual proclamaçãoatravés da voz daquele que João Paulo II decla-rou “seu amigo de confiança” foi particular-

mente tocante, porque me veio à lembrança aspalavras de Paulo VI quando disse que o segre-do para ser um bom Pastor é a novidade nacontinuidade. E a primeira característica co-mum entre João Paulo II e Bento XVI (mas nãosempre entre todos os papas) é a facilidadecom que chegam ao coração das pessoas comdiscursos imediatos e simples, a ponto de se-rem compreensíveis tanto para gente comumquanto para os intelectuais.

por Giulio Andreotti

João Paulo II beato

Editorial

A multidão na praça de São Pedro durante a cerimônia de beatificação de João Paulo II, 1º de maio de 2011

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530DIAS Nº 4/5 - 2011

Tenho lembranças memoráveis de JoãoPaulo II e no passado tive a oportunidade de fa-lar várias vezes disso em congressos e entrevis-tas, mas desta vez quero mantê-las no coração,porque na ocasião da sua beatificação corre-seo risco de fazer apologia de si mesmo e não dobeato Wojtyla e isso seria grave.

O dia 1º de maio de 2011 levou-nos ideal-mente ao dia do funeral de papa Wojtyla, dia8 de abril de 2005: a sua agonia tinha sidoacompanhada por todo o mundo com umaparticipação extraordinária e ergueu-se damultidão, em particular dos jovens, o grito de“santo já”, que nos dias passados da beatifi-cação foi novamente evocado com muita in-tensidade.

A Igreja tem os seus tempos e é absoluta-mente autônoma, os procedimentos da Con-gregação são muito rigorosos e se forem cria-

das pressões mediáticas acaba-se provocan-do o efeito contrário, porém há um capítuloespecífico, que me parece importante: a veri-ficação se a santidade é percebida pelos fiéis.E quanto a isso não há dúvidas, a ponto demuitos fiéis rezarem há tempo por João Pau-lo II não menos do que fariam se fosse já san-to. O importante é a substância, se em uma fi-gura de cristão reconhece-se a santidade e re-za-se, o documento selado terá todo o tempopara chegar. Pertenço a uma antiga escola decatólicos que ensina que se deve querer bemao papa e não a um papa. Mas não creio sairdesta linha se me associo aos que esperamuma conclusão rápida do processo rumo aosaltares que segue à beatificação, como foi pa-ra Madre Teresa e Padre Pio, para mim asduas canonizações mais tocantes do pontifi-cado de João Paulo II. q

João Paulo II durante a cerimônia de canonização de Padre Pio em 16 de junho de 2002

Pertenço a uma antiga escolade católicos que ensina que sedeve querer bem ao papa e não a um papa. Mas nãocreio sair desta linha se meassocio aos que esperam umaconclusão rápida do processorumo aos altares que segue à beatificação, como foi paraMadre Teresa e Padre Pio, para mim as duas canonizaçõesmais tocantes do pontificadode João Paulo II

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ADORADORAS PERPÉTUAS DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO

MOSTEIRO DE LA ASUNCIÓN DE MARÍA

Rosarito, Baja California, México

Gostaríamos de receber Quien reza se salva

Rosarito, 24 de fevereiro de 2011

Estimado senhor Andreotti,louvado seja o Santíssimo Sacramento!Receba a nossa gratidão por sua grande caridade aonos enviar a bela revista 30Días, que alimenta grande-mente a nossa vida espiri-tual, por nos informar enos fazer sentir a Igrejaunida. Nós a lemos comgrande interesse e amor.Gostaríamos muito de re-ceber alguns exemplaresdaquele livrinho tão útil,Quien reza se salva, paradá-lo a algumas pessoasmuito necessitadas.

Que a nossa Mãe San-tíssima de Guadalupe car-regue-o sempre em seuseio como filho predileto eencha de graças e bênçãostoda a sua família e os seuscolaboradores.

Receba os afetuosos cumprimentos de nossa reve-renda madre superiora e da comunidade.

Irmã Rosa María Amezcua, O.A.P.

Rosarito, 27 de abril de 2011

Estimado senhor Andreotti,louvado seja o Santíssimo Sacramento!

Na plenitude da alegria pascoal, desejamos ao se-nhor e a sua ilustre família uma feliz Páscoa de Ressur-reição.

Muitíssimo obrigada, senhor Andreotti, por noster enviado os livrinhos Quien reza se salva. Nossareverenda madre superiora e a comunidade lheagradecem por sua grande bondade e generosida-de. Estamos certas de que esses livrinhos farão um

6 30DIAS Nº 4/5 - 2011

Nas ruas estreitas do centro de Roma, quecortam os antigos bairros populares, em ca-da rua, em cada praça, quase em cada can-to se encontram oratórios muitas vezes cer-cados por baldaquinos e lâmpadas. São oque os romanos chamam “le Madonnelle”(as pequenas Nossas Senhoras).

Os oratórios marianos de Roma

Nossa Senhora com o Menino Jesus, afresco de 1756,

praça do Relógio, esquina com a via del Governo Vecchio,

bairro Parione

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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grande bem aos nossos irmãos mais necessitados deinstrução.

Os livrinhos chegaram da Itália à porta do nosso mos-teiro! Que maravilha! Não é fácil, pois estamos numapequena colina cercada por precipícios, mas temos umabela vista do céu e do mar e muitos pássaros canoros quenos convidam a louvar o nosso Deus sacramentado.

Que prazer foi para nós, vendo o vídeo da celebra-ção, constatar que o senhor assistiu à beatificação denossa madre fundadora, María Magdalena de la En-carnación, ocorrida em São João de Latrão no dia 3de maio de 2008. Obrigada por sua presença.

Nós sempre o recordamos, gratas e em união deoração. Que Deus continue a abençoá-lo e a dar-lheforça em todos os seus apostolados.

Irmã Rosa María Amezcua, O.A.P.

P.S. Perdoe-nos o atraso, que se deveu à SantaQuaresma.

CLARISSAS DO MOSTEIRO DE NOSSA SENHORA DAS MERCÊS

São Miguel, Açores, Portugal

Vinte exemplares de Quem reza se salva

São Miguel, 21 de março de 2011

Caríssimo senhor Andreotti,na presença consoladora do Espírito Santo, vimossaudá-lo cordialmente, desejando-lhe todo o bem noSenhor.

Vimos, muito reconhecidas, agradecer o envioda vossa singular revista

30Dias.É de fato uma re-

vista notável e ex-traordinária pelo seuconteúdo que nospõe a par dos aconte-cimentos mais impor-tantes na vida da Igre-ja e do mundo. Bemhaja! Que o divino Es-pírito Santo sempre vosassista.

Pedimos o favor denos enviarem 20 exem-

plares de Quem reza se salva. Desde já o nosso sin-cero agradecimento.

Formulamos votos de uma Santa Quaresma e san-tas e alegres festas pascais com fecundas bênçãos deCristo Ressuscitado.

Oremos uns pelos outros.Sempre unidos pelo mesmo Corpo e Sangue do

Senhor Jesus.

Irmã Maria Verónica, O.S.C., e as irmãs clarissas

730DIAS Nº 4/5 - 2011

Nossa Senhora com o Menino Jesus, alto-relevo em cerâmica

do século XIX, via Sistina, esquina com a via Francesco Crispi,

bairro Campo Marzio

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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VISITANDINAS DO MOSTEIRO DE LA VISITACIÓN DE PANAMÁ

Las Cumbres, Panamá

Quem reza se salvapara a comunidade chinesa no Panamá

Las Cumbres, 3 de abril de 2011

Estimado senhor Giulio Andreotti,receba as nossas saudações e gratidão por todo o tra-balho de evangelização que têm feito por meio da re-vista.

Gostaríamos de lhes pedir cem exemplares deQuem reza se salva, em espanhol, para a nossa Se-gunda Jornada Vocacional, que realizaremos nos dias13, 14 e 15 de maio, no Panamá.

Fazemos também um pedido especial: que nos en-viem duzentos exemplares de Quem reza se salva emchinês. Estamos em contato com padre Pablo Liu,

S.V.D., que foi solicitado à China por nosso arcebispo,para cuidar da comunidade chinesa no Panamá. Elevem fazendo esse trabalho há cerca de dois anos emnossa diocese. Conta-nos que tem visitado a escola chi-no-panamenha, onde há muitas crianças chinesas, egostaria de lhes dar o livrinho.

Vocês podem enviá-los ao nosso endereço, e nósos entregaremos a ele, pois sua casa fica muito pertoda nossa.

Agradecemos de todo o coração e rezamos por to-dos vocês. Pedimos à Virgem Santíssima que lhesconceda muitas bênçãos com a sua Secreta Visita.

Que Deus os recompense.

Irmã Margarita María, V.S.M.

Las Cumbres, 12 de abril de 2011

Caríssimo senhor GiulioAndreotti,

somos muito gratas pe-los livros Quem reza se sal-va, que recebemos ontemde manhã.

Vocês precisavam ver aalegria de padre Pablo Liudiante dos livros em sua lín-gua! Pôs-se a lê-los e me dis-se: “Esta é uma apresenta-ção do bispo Aloysius JinLuxian”. Creio que sua ale-gria aumentará quando co-meçar a distribuí-los entreos chineses que vivem noPanamá e sobretudo àscrianças da escola chino-panamenha.

Que Nosso Senhor continue a animá-los no exce-lente trabalho que fazem ao distribuir esse livro e a re-vista 30Dias, que é muito interessante.

Pedimos ao nosso santo fundador Francisco de Sa-les que lhes conceda abundantes bênçãos neste apos-tolado.

Irmã Margarita María, V.S.M.

8 30DIAS Nº 4/5 - 2011

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

Nossa Senhora com o Menino Jesus, alto-relevo em cerâmica do

século XIX, via del Buon Consiglio, bairro Monti

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930DIAS Nº 4/5 - 2011

CLARISSAS CAPUCHINHAS DO CONVENTO

DE SANTO APOLINÁRIO DE VECLO

Ravena, Itália

Obrigada pela meditação sobre a santa Páscoa

Ravena, 14 de abril de 2011

“O Senhor ressuscitou, como ha-via previsto, alegremo-nos todos eexultemos, pois Ele reina eterna-mente. Aleluia”.

Prezado senador Andreotti,enquanto desejamos comunicar-lhenossos votos fraternais de uma santaPáscoa cheia de paz e de amor, agradecemos imensa-mente pelo livro que acaba de chegar, “Il Figlio da sestesso non può fare nulla”. Este também será um ins-trumento útil para viver mais intensamente estes poucosdias que nos separam do grande dia da Ressurreição doSenhor. Nós lhe garantimos nossa oração, rogando queDeus lhe seja guia, conforto e o encha de seus dons.

Com muita gratidão pelo bem que realiza,

as irmãs clarissas capuchinhas

CARMELITAS DO CONVENTO NOSSA SENHORA DO MONTE CARMELO

Haifa, Israel

Pedido de ajuda à Piccola Via

Haifa, 20 de abril de 2011

Somos muito gratas pelo envio de 30Dias em italianoe em francês.

É um sopro da vida da Igreja e do mundo que chegaaté nós para fazermos dele objeto de oração. Nossaatenção foi atraída para a iniciativa Piccola Via.

Nestes meses em que Santa Teresinha peregrinapela Terra Santa, nós lhe pedimos que os inspire adar-nos um presente.

Rogamos que sejam muitos os que oferecem, pa-ra que a caridade de vocês possa alcançar tamanhapobreza.

Fazemos votos de uma santa Páscoa rica em luz,em conversão, em fé operante.

Neste tempo de Quaresma, to-mamos a liberdade de expor umanecessidade premente, que surgiuquando menos esperávamos.

O pavimento de nossa grandecozinha (cerca de cem metros qua-drados) elevou-se repentinamenteem vários pontos, em razão das in-filtrações de água durante os seten-ta e cinco anos de existência domosteiro.

Depois de consultas e de muitaespera, decidimos refazer o pavi-mento completamente, pois umareforma parcial corria o risco deser inútil, embora menos cara.

A despesa soma mais de cincomil euros, e é por isso que vimos pedir uma contribui-ção, com muita confiança.

Agradecemos pela atenção e asseguramos nossaoração pelas intenções dos oferentes.

Irmã Angela da Eucaristia e comunidade

Regina Apostolorum, baixo-relevo do século XIX,

via dell’Umiltà, esquina com a via di San Marcello, bairro Trevi

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

continua na p. 16

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Leitura espiritual/42

3. Se alguém afirma que este peca-do de Adão, que é um só quanto à ori-gem e, a todos transmitido por propa-gação não por imitação, pertence a to-dos e a cada um como próprio, podeser tirado com as forças da naturezahumana ou com outro remédio quenão os méritos do único mediador,nosso Senhor Jesus Cristo, que nos re-conciliou com Deus no seu sangue,“tornado por nós justiça, santificaçãoe redenção” (1Cor 1, 30); ou nega queeste mérito de Jesus Cristo seja aplica-do tanto aos adultos quanto às criançascom o sacramento do batismo, devida-mente administrado segundo a manei-ra da Igreja, seja anátema. Porque“não há outro nome dado aos homensdebaixo do céu pelo qual devemos sersalvos” (At 4, 12). Daí esta palavra:“Eis o cordeiro de Deus, eis o que tira opecado do mundo” (Jo 1, 29); e a ou-tra: “Todos vós que fostes batizadosem Cristo, vos revestistes de Cristo”(Gl 3, 27).

3. Si quis hoc Adae peccatum, quodorigine unum est et propagatione, nonimitatione transfusum omnibus inestunicuique proprium, vel per humanaenaturae vires, vel per aliud remediumasserit tolli, quam per meritum uniusmediatoris Domini nostri Iesu Christi,qui nos Deo reconciliavit in sanguinesuo, «factus nobis iustitia, sanctificatioet redemptio» (1Cor 1, 30); aut negat,ipsum Christi Iesu meritum per bapti-smi sacramentum, in forma Ecclesiaerite collatum, tam adultis quam parvu-lis applicari: anathema sit. Quia «nonest aliud nomen sub caelo datum homi-nibus, in quo oporteat nos salvos fieri»(At 4, 12). Unde illa vox: «Ecce agnusDei, ecce qui tollit peccata mundi» (Gv1, 29). Et illa: «Quicumque baptizatiestis, Christum induistis» (Gal 3, 27).

* Denzinger 1513.

Decreto sobre o pecado originalDecretum de peccato originali*

30DIAS Nº 4/5 - 201110

Leitura espiritual Leitura espiritual

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11

A expulsão do Paraíso na terra, ao fundo da Anunciação, Beato Angélico, Museu do Prado, Madri

30DIAS Nº 4/5 - 2011

Leitura espiritual Leitura espiritual

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12 30DIAS Nº 4/5 - 2011

O terceiro cânon do Decreto sobre o pecado original do Concílio de Trento que propomos como lei-tura espiritual para este número sugeriu-nos publicar, como comentário, dois trechos do papa Paulo VI.

O primeiro trecho é extraído do discurso de abertura da segunda sessão do Concílio Ecumênico Vati-cano II, a 29 de setembro de 1963, no qual Paulo VI indica o objetivo de tal vigésimo primeiro Concílioecumênico.

“Donde parte o nosso caminho, Irmãos?”; “Qual é o caminhoque desejais percorrer?”; “E que fim, Irmãos, propor ao nosso iti-nerário?”.

“Estas três perguntas simplicíssimas e capitais, têm, bem o sabe-mos, uma só resposta, que neste lugar e nesta hora devemos procla-mar a nós mesmos e anunciar ao mundo que nos rodeia: Cristo!Cristo, nosso princípio; Cristo, nosso caminho e nosso guia; Cristo,nossa esperança e nosso fim.

Que este Concílio tome plena consciência desta relação entre nóse Jesus abençoado, múltipla e singular, firme e estimulante, miste-riosa e claríssima, premente e beatificante; entre esta Igreja santa eviva que somos nós, e Cristo, de quem vimos, por quem vivemos epara o qual caminhamos. Nenhuma outra luz se veja sobre esta reu-nião que não seja Cristo, luz do mundo; nenhuma outra verdade in-teresse as nossas almas, que não sejam as palavras do Senhor, nossoúnico Mestre; nenhuma outra aspiração nos guie, que não seja o de-sejo de Lhe sermos absolutamente fiéis; nenhuma outra confiançanos mantenha, senão a que, através da sua palavra, sustenta a nossafraqueza desoladora: ‘Et ecce Ego vobiscum sum omnibus diebus us-que ad consummationem saeculi’: [‘Eu estou sempre convosco até aconsumação dos séculos’] (Mt 28, 20).

Oxalá fôssemos nós nesta hora capazes de elevar a Nosso SenhorJesus Cristo uma voz digna d’Ele! Diremos com a sagrada Liturgia:“Te, Christe, solum novimus; – te mente pura et simplici – flendo etcanendo quaesumus – intende nostris sensibus!”: [‘Só a Ti, Cristo,conhecemos; a Ti pedimos, com o coração puro e simples, no pran-to e na alegria; atende os nossos desejos!’]”.

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1330DIAS Nº 4/5 - 2011

Jesus e Pedro, detalhe da Vocação de Pedro e André, predela da Majestade,

Duccio di Buoninsegna, National Gallery of Art, Washington; à direita,

Paulo VI durante os trabalhos do Concílio ecumênico Vaticano II

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O segundo trecho é extraído do Credo do povo de Deus de 30 de junho de 1968, no qual Paulo VI ci-ta literalmente o terceiro cânon do Decreto sobre o pecado original do Concílio de Trento.

“Cremos que todos pecaram em Adão: isto significa que a culpaoriginal, cometida por ele, fez com que a natureza, comum a todosos homens, caísse num estado no qual padece as consequênciasdessa culpa. Tal estado já não é aquele em que no princípio se en-contrava a natureza humana nos nossos primeiros pais, uma vezque se achavam constituídos em santidade e justiça, e o homem es-tava isento do mal e da morte. Portanto, é esta natureza humana as-sim decaída, despojada de dom da graça que antes a adornava, feri-da em suas próprias forças naturais e submetida ao domínio da mor-te, é esta que é transmitida a todos os homens. Exatamente nestesentido, todo homem nasce em pecado. Professamos pois, segundoo Concílio de Trento, que o pecado original é transmitido juntamen-te com a natureza humana, ‘pela propagação e não por imitação’, eque ele é, portanto, ‘próprio a cada um’.

Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Sacrifício da Cruz,nos remiu do pecado original e de todos os pecados pessoais come-tidos por cada um de nós; de sorte que se impõe como verdadeira asentença do Apóstolo: ‘onde abundou o delito, superabundou a gra-ça’ [cf. Rm 5, 20]”.

De 29 de setembro de 1963 a 30 de junho de 1968 não transcorreram nem mesmo cinco anos. Ain-da assim, nos seus dois discursos, parece-nos entrever como a experiência de Paulo VI naqueles anosfosse a mesma vivida pelo primeiro dos apóstolos, Pedro, no modo em que o Evangelho nos documen-ta. Um caminho que, partindo do entusiasmo muito humano pelo reconhecimento de Jesus – que édom do Pai (“Feliz és tu, Simão, [...] porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Paique está no céu”, Mt 16, 17), no qual se coloca em jogo toda a iniciativa de Pedro –, chega à experiênciareal da nossa “desoladora fraqueza”, assim que toda a iniciativa é deixada ao Senhor e Pedro humilde-mente ensina “apenas o que foi transmitido” (Dei Verbum, n. 10).

Sem equivalentes é, a este propósito, o comentário de Santo Agostinho às palavras dirigidas por Jesus aPedro, depois que, em Cesareia de Filipe, o apóstolo tinha-O reconhecido (cfr. Mc 8, 27-33): “DominusChristus ait: ‘Vade post me, satanas’ / E Jesus disse: ‘Vai para trás de mim, satanás!’. Quare satanas? /Por que satanás? / Quia vis ire ante me / Porque queres ir na minha frente” (Sermones 330, 4).

Pedro e o seu sucessor assim aprenderam a deixar toda a iniciativa ao agir do Senhor. Aprenderamque a nós cabe somente reconhecer e seguir o que o Senhor opera.

14 30DIAS Nº 4/5 - 2011

Leitura espiritual Leitura espiritual

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Jesus e Pedro, detalhe do encontro entre Jesus ressuscitado e os apóstolos no lago

de Tiberíades, Majestade, Duccio di Buoninsegna, Museu dell’Opera del Duomo, Sena;

à direita, Paulo VI ao pronunciar o Credo do povo de Deus, 30 de junho de 1968

30DIAS Nº 4/5 - 2011 15

Leitura espiritual Leitura espiritual

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Haifa, 25 de maio de 2011

Agradecimentos infinitos à associação Piccola Viaonlus!Ontem, 24 de maio, chegou o dinheiro para refa-zer o pavimento da nossa cozinha.

Todas as bênçãos celestes por todo o seu aposto-lado,

irmã Angela da Eucaristia

CLARISSAS DO CONVENTO SAINT CLARE

Yangyang, Coreia do Sul

A meditação sobre a santa Páscoa pareceinfundida de graças

Yangyang, 28 de abril de 2011

Prezado diretor Andreott i e amigos todos de30Giorni,com a minha sincera saudação de paz, declaro-lhesmeus votos de que recebam abundantes bênçãos doSenhor Jesus ressuscitado neste tempo de Páscoa! Ob-rigada mais uma vez por terem continuado a enviar30Days in the Church and in the World à nossa co-munidade, como assinatura de cortesia. Que o Senhoros abençoe a todos por essa obra de verdadeira evan-gelização e pela difusão de artigos tão sugestivos e deimportantes informações do mundo inteiro.

O endereço para a nossa assinatura foi corrigido;assim, agora recebemos dois exemplares da revista,podendo dessa forma compartilhá-la com os sacer-dotes ou os missionários que celebram a missa paranós, e que podem tirar grande benefício dos artigos.

Nós lhe agradecemos, ainda, pelo envio dos dezexemplares do suplemento Quem reza se salva emchinês: pensamos em dá-los a alguns missionários co-reanos que atuam no momento na China. Além disso,padre Francis Mun Ju Lee, diretor da clínica Saint Jo-seph para os pobres e marginalizados de Seul, que feztambém apostolado no Vietnã, recebeu a assinatura decortesia que eu lhes pedi e lhes é extremamente grato.

Que o seu trabalho continue a receber toda asbênçãos com abundância de graças e a inspiração doEspírito Santo!

Com gratidão, sua em Cristo,

irmã Mary Diane Ackerman, O.S.C.

P.S. Anexo ao último número de 30Days, recebe-mos com imensa gratidão também o suplementopascal da meditação de padre Giacomo Tantardini.A meditação é um verdadeiro alimento para o espíri-to, parece infundida de graças! Muitíssimo obrigadapor esse tesouro. Sabemos que é um grande pedido,mas seria possível nos enviarem cinco exemplaresem inglês e dois em italiano desse suplemento? Se is-so não for um problema para vocês, nosso endereçosegue anexo.

Mais uma vez, obrigada!

Yangyang, 11 de maio de 2011

Caros amigos de 30Giorni,não sei como expressar minha profunda gratidãopelo envio tão veloz, em resposta ao meu pedido,dos cinco exemplares em inglês e dos dois em italia-no da meditação de padre Giacomo Tantardini,

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Imaculada Conceição, afresco do século XVIII, praça da Rotonda,

bairro Colonna

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

segue da p. 9

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1730DIAS Nº 4/5 - 2011

“The Son cannot do anyt-hing on his own”. Essa be-la meditação é algo quedeve ser ponderado lenta-mente e permite mergu-lhar profundamente naoração; eu gostaria de en-viar o suplemento a al-guns padres e a algumaspessoas que podem apre-ciá-lo e beneficiar-se pro-fundamente dele.

Sou muito grata por re-ceber 30Days de presente,espero-a todos os meses.Compartilhei alguns arti-

gos e algumas notícias com minhas irmãs coreanas ecom outras pessoas – por exemplo, recentemente, oartigo sobre o humilde frade capuchinho LeopoldoMandic, que gastou muitos de seus dias no confessio-nário. Não sabíamos muito sobre ele, e amanhã, 12de maio, celebraremos seu aniversário; conhecê-lomelhor torna a nossa memória mais significativa! Denovo, muito obrigada!

Peço-lhes, por favor, que comuniquem minha es-pecial gratidão a padre Giacomo, cujas leituras e me-ditações tocam o meu coração e a minha alma profun-damente e me ajudam a abandonar-me mais à maravi-lhosa graça e ao amor de nosso Deus misericordioso!Desejando ao senhor, caro diretor, e a todos os seuscolaboradores o amor e a paz de nosso Senhor ressus-citado, permaneço sinceramente em Cristo Jesus,

irmã Mary Diane Ackerman, O.S.C.

CLARISSAS DO CONVENTO SAINT CLARE

Mission, British Columbia, Canadá

A meditação sobre a santa Páscoa ajuda a entrar neste grande mistério da nossa fé

Mission, 1º de maio de 2011

Caro senhor Andreotti,o Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia! Neste jubi-loso tempo de Páscoa desejamos agradecer-lhe pelo domque é a sua revista 30Days. Nós a apreciamos muito.

O exemplar do suplemento “The Son cannot doanything on his own” ajuda a entrar neste grandemistério da nossa fé.

Rogamos ao Senhor ressuscitado que continue ainspirá-lo a compartilhar a Boa Nova.

Com devotada gratidão e oração,

irmã Marie-Céline Campeau, O.S.C.

MONJAS MÍNIMAS DE SÃO FRANCISCO DE PAULA

Saltillo, Coahuila, México

30Dias nos mantém em comunhão com toda a Igreja

Saltillo, 4 de maio de 2011

Estimado senador Giulio Andreotti,quero agradecer-lhe imensamente pela revista mensal30Dias, que este ano mais uma vez chega até o Méxi-co, onde, com a providência de Deus, fundamos

Nossa Senhora do Rosário, afresco do século XVII,

via dell’Umiltà, esquina com a via dell’Archetto, bairro Trevi

¬

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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uma nova comunidade de Monjas Mínimas de SãoFrancisco de Paula.

Graças a sua generosidade e de toda a redação, es-tamos recebendo gratuitamente este precioso instru-mento de informação que, para nós, claustrais, é devital importância, pois nos mantém em comunhãocom toda a Igreja e com o mundo atual.

De fato, frequentemente recebemos motivações eestímulos para oferecer com mais entusiasmo a nossavida a Deus, como sacrifício de odor suave, pelas ne-cessidades mais urgentes da Igreja e do mundo, se-gundo o nosso carisma de orantes e penitentes.

Conscientes do grande presente que recebemos,gostaríamos que também nossos irmãos, os frades daOrdem dos Mínimos, presentes em nossa cidade de Sal-tillo, no México, pudessem usufruir dele, já que apre-ciam muito a sua revista, admirando a profundidade deseus conteúdos e a objetividade das informações.

Eles também vieram da Itália para fundar uma co-munidade para testemunhar no México o carisma decaridade, de conversão e de reconciliação do nossofundador, São Francisco de Paula, pondo-se a servi-ço das pessoas mais pobres e necessitadas do lugar.

Por isso têm um grande desejo de ter à sua disposi-ção a revista 30Giorni em italiano, como subsídio deinformação segura e constante atualização.

Agradecendo-lhe antecipadamente por sua sensi-bilidade e compreensão, eu lhe asseguro as oraçõesde toda a minha comunidade.

Com gratidão e estima, em Cristo,

madre Maria Margherita Bichi,responsável pela comunidade de Saltillo

CLARISSAS DO CONVENTO SANTA CLARA

Bolinao, Filipinas

Nós lhes somos gratas pela meditaçãosobre a santa Páscoa

Bolinao, 4 de maio de 2011

Caro senhor Andreotti e equipe de 30Dias,nós lhes enviamos nossas saudações orantes por estetempo de Páscoa e lhes manifestamos a nossa grati-dão pela assinatura de 30Dias... e pelo exemplar es-pecial com a meditação sobre a santa Páscoa de padreGiacomo Tantardini. É certamente um belo texto paraa leitura espiritual deste tempo.

Que Deus recompense todos vocês por sua gene-rosidade na difusão da obra da Igreja. Estejam certosdas nossas orações pelo sucesso de seu ministério.Deus os abençoe.

Boa Páscoa! Aleluia!

as clarissas

P.S.: Estamos também felizes por lhes informarque a nossa Ordem de Santa Clara festeja os oitocen-tos anos de sua fundação. As celebrações começaramno último Domingo de Ramos (17 de abril de 2011) ese concluirão no ano que vem, por ocasião da festa dasanta madre Santa Clara (11 de agosto de 2012). Nósrezaremos por vocês durante este ano jubilar. Rezemtambém por nós. Obrigada.

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Imaculada Conceição, mosaico do século XX, via dei Serpenti,

bairro Monti

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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CARMELITAS DO CONVENTO DO CORAZÓN

DE JESÚS

Ibarra, Equador

A meditação sobre a santa Páscoa para o nosso retiro mensal

Ibarra, 4 de maio de 2011

Louvado seja Jesus Cristo ressuscitado!Senhor diretor Giulio Andreotti,Jesus ressuscitado, que vive e cami-nha perto de nós, lhe conceda emabundância os dons e os frutos doEspírito Santo.

Obrigada pelo envio da revista 30Días. Nós a le-mos com interesse porque ajuda-nos a rezar commaior intensidade pela Igreja e pelo mundo inteiro.

Nós lhe somos gratas pelo livrinho “El Hijo no pue-de hacer nada por su cuenta”, muito útil para o nossoretiro mensal. O Senhor o recompensará.

Rezamos por suas intenções e, neste mês de maio,o recomendamos à Santa Virgem; que lhe concedasaúde, amor e alegria no Senhor.

Saudações,a comunidade das carmelitas descalças

IRMÃS DO MOSTEIRO DA VISITAÇÃO

Washington, D.C., Estados Unidos

Um exemplar em italiano da meditação sobre a santa Páscoa

Washington, 4 de maio de 2011

Caríssimos senhores,escrevo para pedir-lhes um exem-plar em italiano de sua publicação in-titulada em inglês “The Son cannotdo anything on his own”, de padreGiacomo Tantardini. Se puderemmandá-la, ficaremos gratas.

Muito obrigada! Boa Páscoa!Em Cristo ressuscitado,

irmã Maria Roberta Viano

CLARISSAS DO CONVENTO SAINT CLARE

Duncan, British Columbia, Canadá

“The Son cannot do anything on his own”é muito útil

Duncan, 12 de maio de 2011

Respeitável redação de 30Dias,somos extremamente gratas pelo fato de 30Days che-gar ao nosso convento há muitos anos.

Na última edição havia um suplemento, “The Soncannot do anything on his own”, que achamos muitoútil. Gostaríamos de encomendar dez exemplares egostaríamos de saber quanto custa.

Obrigada, e que Deus os abençoe pelo seu minis-tério.

Irmã Wylie Aaron

1930DIAS Nº 4/5 - 2011

Nossa Senhora em cerâmica do século XIX,

praça Nossa Senhora dos Montes,

esquina com a via dei Serpenti, bairro Monti

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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20 30DIAS Nº 4/5 - 2011

ARCEBISPADO MARONITA

Damasco, Síria

Um obrigado aos refugiados iraquianos

Damasco, 30 de março de 2011

Senhor Giulio Andreotti,submeto a 30Giorni o testemunho de um po-vo perseguido, exilado, que prega a Esperan-ça e conta com a oração da numerosa famíliade 30Giorni.

A Síria facilitou a acolhida dos refugiadosiraquianos. Vieram aos milhares, sobretudo aDamasco, e continuam a chegar, às dezenas ecentenas, para escapar da morte e da violên-cia de que são vítimas desde 2003.

O pessoal das Nações Unidas organiza seuêxodo para outros lugares mais clementes...À espera de obter um visto, esses refugiadosiraquianos ficam em Damasco geralmentedois ou três anos, às vezes até mais.

Esses cristãos bem formados, caridosos epraticantes se refugiam na fé e na esperançacristãs. Enchem as nossas igrejas, animam asnossas paróquias, levando a elas um “vento”novo que reforça a fé cristã na Síria.

– Praticantes cotidianos, os refugiados doIraque participam assiduamente da missa to-dos os dias, vindo até de longe, a pé ou portransporte público.

– Pedem a confissão antes da comunhão:contribuíram para o retorno ao confessioná-rio, que volta a ter filas de espera.

– Sua devoção pelos santos e a veneraçãoda Virgem deram impulso à fabricação de ve-las, que hoje iluminam noite e dia as capelasdos santos, dentro e fora das igrejas.

– Seus filhos pequenos enchem as aulas decatecismo da primeira comunhão. Já os ado-lescentes atuam nos corais das diversas igre-jas e nas liturgias.

– A guerra espalhou rapidamente a infor-mática pelo Iraque. Os refugiados que vêmpara Damasco geralmente sabem usar bem ainternet. Puseram seus conhecimentos gene-rosamente a serviço das paróquias e das co-munidades. Assim, graças a eles nossas paró-quias muniram-se de sites, instrumentos devanguarda a serviço da evangelização em es-cala universal.

Cartas das missões Cartas das missões

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2130DIAS Nº 4/5 - 2011

– Impelidos por uma grande caridade, de-zenas deles se empenham, duas ou três vezespor semana, nas grandes faxinas da catedrale da praça da igreja. Quando obtêm o visto,antes de partir se asseguram de que outroscontinuem essas obras.

– Estão presentes nas noites de oração, naadoração Eucarística, nas peregrinações enas procissões pelas ruas de Damasco duran-te a Semana Santa e sobretudo no mês demaio. Seu dinamismo espiritual atrai as ou-tras comunidades; um dos nossos sacerdotesajuda na paróquia caldeia.

– Apesar da sua pobreza e das suas con-dições de vida precária, são generosos evivem a partilha. É preciso vê-los, na saídada missa, oferecer e dar com alegria, sorri-sos e lágrimas...

– Vivem os momentos mais íntimosem silêncio diante do Santíssimo Sacra-mento, face a face com o Senhor. Porhoras... Pranteiam seus entes queridosfalecidos e se interrogam sobre o futuro;procuram entender o porquê de tudo oque acontece.

– Toda semana o arcebispado recebemuitos deles, que vêm despedir-se antesde partir para o desconhecido, às vezesde modo disperso: os pais para a Austrá-lia, os filhos para o Canadá. Nem mesmoem terra de exílio, podem mais viver co-mo uma família... Uma ruptura aindamais dolorosa.

Esses refugiados iraquianos que passamsempre por Damasco são missionáriosambulantes que marcaram a Igreja na Sí-ria, que os vê de passagem e se questiona

sobre seu próprio futuro...O Sínodo dos Cristãos do Oriente represen-

tou uma oportunidade e uma esperança, semtodavia conter a hemorragia e o êxodo. Essesrefugiados missionários dispersos pelos quatrocantos do mundo estão ligados entre si apenaspela oração e pela internet. Privados de suasraízes e diante do crepúsculo de sua Igreja, nãopoderiam, estes refugiados iraquianos, com asua vitalidade religiosa, levar um sopro novo àsIgrejas do Ocidente que os acolhem?

Samir Nassararcebispo maronita de Damasco

Refugiados iraquianos em oração numa igreja

de Damasco, na Síria

Cartas das missões Cartas das missões

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22 30DIAS Nº 4/5 - 2011

SEMINÁRIO SÃO CAMILO

Iomerê, Santa Catarina, Brasil

30Dias simplesmente “excelente”

Iomerê, 28 de março de 2011

Prezados senhores, recebemos regularmente a excelente revista 30Diasem português. Simplesmente “excelente”!

Que Deus os abençoe sempre pelo muito bem quefazem.

Pedimos suas orações, precisamos muito. Não nosesqueçam.

Respeitosamente,padre Carlos Alberto Pigatto

SEMINÁRIO MAIOR CATÓLICO DE SAINT JOSEPH

Yangon, Mianmar (de Lampang, Tailândia)

Para o nosso seminário maior católico de Saint Joseph, em Yangon, em Mianmar

Lampang, 22 de abril de 2011

Caro diretor,receba os cumprimentos de Lampang. Sou o padreClement Angelo, de Mianmar. Encontro-me agoraaqui na Tailândia por um breve período com os sacer-dotes do Pime que trabalham com a população quepertence às tribos das colinas.

Durante esta minha breve permanência, conheci asua revista 30Days e pessoalmente considerei inte-ressante e de valor.

Se possível, contando com a sua generosidade,gostaria de receber um exemplar para mim e um parao nosso seminário maior católico de Saint Joseph, emYangon (Mianmar), onde desenvolvo o meu ministé-rio como professor.

Creio que possa ser uma boa inspiração para os se-minaristas maiores, que poderão tomar conhecimen-to dos acontecimentos religiosos no mundo.

Boa Páscoa,padre Clement

PARÓQUIA DʼADIDOGOMÉ

Lomé, Togo

Qui prie sauve son âmepara noventa catecúmenos

Lomé, 2 de maio de 2011

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!Sou um seminarista do Togo. Gostei muito do livrinhoQui prie sauve son âme. Durante as próximas fériasde verão, no mês de julho, a minha paróquia organi-zará um acampamento para os catecúmenos (cercade noventa). Meu pároco me encarregou de organizare dirigir esse acampamento para crianças. Gostariade lhes pedir, como ajuda para a oração naquelesdias, o livrinho Qui prie sauve son âme, para que fi-que à disposição dos catecúmenos que participarem.Seria também uma santa e bela lembrança que essascrianças poderão levar consigo quando o acampa-mento se concluir, e que poderão utilizar para a suaoração pessoal.

Na esperança de uma resposta favorável, recebama garantia de minhas orações, e a expressão de minhagratidão.

Em união de oração.Fraternalmente,

Romain Semenou

Nossa Senhora com o Menino Jesus, afresco do século XVII, via del Gesù, bairro Pigna

Cartas dos seminários

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La Foresteria

L’Aquila - Pescara

Pomezia

Frascati

Borgorose

FiuggiAnagni

Alatri

Guarcino

Cassino

PontecorvoFondi

Formia

GaetaTerracina

SoraVelletri Anagni

Fiuggi

Subiaco

VicovaroMandela

Napoli

FirenzeRIETI

FROSINONE

LATINA

ROMA

O patrimônio artístico e cultural desta região é fascinante. Os Mosteiros são jóias de inestimávelvalor pelas suas elaboradas arquiteturas,seus raros afrescos e o exclusivo patrimônio bibliográfico e de museus.

Um patrimônio que une arte, cultura e espiritualidade na maravilhosa

paisagem natu ral dos Montes “Simbruini”

Aabadia de Santa Escolástica,

situada a poucos passos de Subiaco, foi fundada

por S. Bento no século VI. São de particular interesse

histórico o campanárioromânico, construído no

século XI, os três claustros(renascentista, gótico e

cosmatesco) e a bela igreja

neoclássica de Quarenghi.

Principais distâncias:

60 km de Roma,

30 km de Tívoli,

18 km de Fiuggi

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Como chegarno Mosteiro

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24 30DIAS Nº 4/5 - 2011

Dos edifícios futuristas deBrasíl ia aos repletos dehistória do Além-Tibre, a

viagem é longa. Dom João Brazde Aviz, 64 anos, arcebispo emé-rito da capital brasileira, deu essesalto há poucas semanas. Em 4 dejaneiro passado, o Papa o cha-mou a Roma para presidir a Con-gregação para os Institutos de Vi-da Consagrada e as Sociedadesde Vida Apostólica e para abriruma nova etapa nas relações –sempre vivas e às vezes agitadas –entre a Santa Sé apostólica e a ga-láxia das congregações e ordensreligiosas.

Dom João, como mudou asua vida desde que chegou aRoma?

JOÃO BRAZ DE AVIZ: É claroque a mudança foi grande. EmBrasília, havia pouco mais de doismilhões e meio de fiéis, com 380sacerdotes e 128 paróquias, que

eu visitava com frequência. Aqui,não existe o povo, eu só o vejoquando acontecem as grandesreuniões na praça de São Pedro...

E algumas vezes, nos pri-meiros dias, deve ter feito asrefeições sozinho...

Em Brasília, em casa, semprehavia companhia. Eu tinha comosecretárias duas mães de família,havia a cozinheira, éramos umapequena comunidade. Mas aqui oraio de amigos também vai-se am-pliando com o tempo.

O senhor, mesmo quandopequeno, em sua família, es-tava acostumado às mesasnumerosas.

Meus pais eram do sul, eu nas-ci no estado de Santa Catarina.Mas quando tinha dois anos mi-nha família se transferiu para oParaná, para uma região que, co-mo diziam naquele tempo, come-çava a ser “colonizada”. Meu paicomeçou a trabalhar lá como

açougueiro. Tenho um irmãomais velho, também sacerdote, edepois nasceram outros seis. Aotodo somos cinco homens e trêsmulheres. A mais nova, que temsíndrome de Down, hoje tem 47anos. Eu me lembro de que quan-do nasceu – na época, moráva-mos em Borrazópolis –, meuspais, para levá-la para batizar,percorreram de carroça mais dequarenta quilômetros, pois nãoqueriam esperar.

Uma bela viagem, naquelaépoca.

Onde vivíamos, no início, nãohavia sacerdotes. O padre passa-va de vez em quando, uma vez pormês. Eram os líderes leigos popu-lares que guiavam a comunidade,davam o catecismo e promoviamas práticas da vida de fé, como oSanto Rosário e a devoção ao Sa-grado Coração de Jesus. Naqueletempo, a Igreja local se baseavamuito em grupos como o aposto-

por Gianni Valente

Irmãs Missionárias da Caridade de Madre Teresa de Calcutá, na Basílica da Imaculada Conceição, em Washington

Vida consagrada

As pretensões dos homense a paciência de Deus

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2530DIAS Nº 4/5 - 2011

lado da oração, ou os filhos deMaria... Papai e mamãe mesmoajudavam a manter as capelasabertas.

E como o senhor se tornoupadre?

Embora ainda fosse criança naépoca da primeira comunhão,aos sete anos, já percebi a voca-ção, que depois foi cultivada pelasfreiras de Santa Catarina, paraonde fui mandado, a fim de conti-nuar os estudos. Quando eu tinhaonze anos, entrei para o seminá-rio menor de Assis, no estado deSão Paulo, a quatrocentos quilô-metros da capital. Tinha sidoaberto pelos missionários do Pi-me. Alguns deles tinham sido mis-sionários na China, de onde fo-ram expulsos depois do adventodo poder de Mao. Contavam-nossuas histórias. Lembro-me de queeram pessoas profundíssimas; erabonito crescer vendo-os. E de-pois, quando adolescente, encon-

trei também a espiritualidade dosFocolares.

Como isso aconteceu?Conheci um pintor ateu que de-

pois de ter-se convertido falava deDeus de maneira viva e concreta.Eu era um menino, e aquilo me im-pressionou. Eu pensava: veja só es-se ateu que agora conta com tanta

força o amor de Deus, e como esseamor é descoberto amando o ir-mão... Para mim eram coisas no-vas. Eu até aquele momento só pen-sava na educação, que era precisoser gentil com os outros por umaquestão de boas maneiras. Nuncaimaginei que o outro pudesse serservido como o próprio Jesus.

Depois, o seu bispo o man-dou estudar teologia em Ro-ma. Era o ano de 1967, o Con-cílio tinha terminado haviapouco tempo... Como o senhorlembra aqueles anos?

Estudei na Gregoriana e depoisum ano no Ateneu Salesiano, pa-

ra fazer os cursos de psicopedago-gia. Recebi o diaconato em Roma,e voltei ao Brasi l apenas em1972. Era uma época marcadapor muitos estímulos e por muitasdificuldades. Tudo parecia em mo-vimento. Começavam o trabalhotrazido pelo Concílio. Eram atuali-zados os velhos regulamentos, ¬

“Eu dizia em Brasília: se vocês, dos carismas maiores, mortificam e anulam os carismas menores porque têm comoúnico critério o de crescerem e tomar mais espaço, isso não é de Deus”. Encontro como novo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica

Entrevista com o arcebispo João Braz de Aviz

À esquerda,fradesdominicanosno claustro daBasílica de SantaSabina, em Roma.

Abaixo, fradesfranciscanos em Assis

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os cursos eram reestruturados,mas havia também a incerteza quemarca todas as fases de passageme de revisão.

E na América Latina vocêsse encontravam também dian-te do surgimento da Teologiada Libertação.

Éramos idealistas, queríamosdar a vida por algo grande. A op-ção de olhar para os pobres nosdava uma enorme esperança, so-bretudo para nós, que vínhamosde famílias pobres. Estávamosprontos a desistir de tudo, até doseminário, se aquele ímpeto nãofosse acolhido e abraçado na reali-dade eclesial em que vivíamos.

O senhor já explicou quenessa passagem a experiênciados Focolares o ajudou a su-perar o perigo de que tudo sedissipasse.

Deus me preservou assim. Aexperiência espiritual dos Focola-res é forte e simples. Já no final dadécada de 1960, Chiara Lubichnos convidava a rever o nosso mo-do de viver, à luz do amor de Deus.Às vezes eu até pensava que ela su-

bestimasse a exigência da transfor-mação social. Foi uma passagemdifícil para muita gente. Mas assimpermanecia a confiança de que ha-via um caminho, era preciso terpaciência, mas caminhávamosjuntos e não nos perdíamos. Tor-namo-nos sacerdotes com essagrande luz interior, acompanhadadesse sentimento de inquietude, desuspensão. Eu nunca quis escon-der de mim mesmo a presença si-

multânea desses dois fatores. Pen-sava: esta é a condição em que mecoube viver. Com o tempo, isso meajudou a ver que ser sacerdote nãosignifica exercer um “domínio” re-ligioso sobre a própria vida e sobrea vida dos outros.

Passado todo este tempo,que balanço o senhor faz daépoca da Igreja que esteve li-gada à Teologia da Liberta-ção?

Podemos dizer diversas coisas.No Brasil, alguns dos grupos pas-torais daquela época mais impeli-dos naquela linha hoje se transfor-maram em ONGs com muito di-nheiro, saindo da Igreja. Diziamquerer mudar a Igreja, depois per-deram a fé e ficou só a sociologia.Isso não pode deixar de suscitartristeza. No entanto, continuo con-

victo de que de qualquer forma na-quele episódio se deu algo grandepara toda a Igreja. Como a consta-tação de que o pecado dos homenscria estruturas de pecado. E de quea predileção pelos pobres é umaescolha de Deus, como vemos noEvangelho. Nas primeiras comuni-dades as quatro colunas eram a fi-delidade à doutrina dos apóstolos,a eucaristia, a oração e depois acomunhão fraterna, que não era

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No Brasil, desde a independência, sempre foi forte um poder que euchamaria “o poder do dinheiro”. É aquele poder que,por exemplo, continua a resistir a uma verdadeira reforma agrária. E que nunca teve uma grande relação de proximidade com a Igreja, e nem com a hierarquia eclesiástica

Vida consagrada

Acima, dom João Braz de Aviz comum grupo de religiosos brasileirosno Pontifício Colégio Pio Brasileiro,Roma; abaixo, na Catedral deBrasília

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um sentimentalismo, mas uma coi-sa prática, que significava ajudar asviúvas e os órfãos, pôr os bens emcomum. A partir disso as pessoasviam que a comunidade vivia dian-te de seu Senhor. Hoje, nós escon-demos os bens, fechando-os a setechaves, mesmo nas comunidadesreligiosas.

Dentro da geração dos pa-dres “liberacionistas”, um dospontos de diferenciação era apostura diante da devoção aopovo.

Naquele tempo alguns pensa-vam que a devoção popular fossealienação. Diziam que a pureza dafé tinha-se corrompido com as de-

voções. Uma ideia que pode serconfutada mesmo do ponto de vis-ta simplesmente histórico. No Bra-sil, a crise veio com a abolição dascongregações religiosas por vonta-de do Marquês de Pombal, que foium desastre e comprometeu tam-bém toda a experiência pastoraliniciada com os índios. Até hojenão dá para entender como 75%dos brasileiros são católicos, em-bora só 10% frequentem os sacra-mentos diariamente. A razão his-tórica é esta: a devoção popular,justamente, foi um instrumentopara transmitir e manter a fé, emmuitas comunidades guiadas portanto tempo por leigos.

Às vezes, há quem aindaaponte a Teologia da Libertaçãocomo um “perigo” iminente.

Sim, algumas vezes a Teologiada Libertação parece um fantasmaque pode ser evocado. Muitas coi-sas mudaram. Em muitos paísesaqueles que eram contra o poder,como Lula, ou que até eram guerri-lheiros, hoje governam. Houve to-do um caminho, e é tempo de quetambém na Igreja todos se deemconta disso.

No Brasil, desde a independên-cia, sempre foi forte um poder queeu chamaria “o poder do dinhei-ro”. É aquele poder que, porexemplo, continua a resistir a uma

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Ao menos um primado ninguém tira de dom JoãoBraz de Aviz. O atual prefeito do dicastério vatica-

no para os religiosos é o único bispo que vive há qua-se trinta anos carregando 130 fragmentos de chumboespalhadas pelo corpo.

João, na época, era um jovem padre de 36 anos, enaquele dia estava viajando de sua paróquia para a deuma cidadezinha próxima para ajudar o pároco que ce-lebrava seus vinte e cinco anos de sacerdócio. No meiodo caminho, numa pequena ponte, viu um carro para-do. Aproximou-se para ver se podia dar uma ajuda. Epercebeu que não eram pessoas do campo cujo carroquebrara. No velho fusca estavam dois rapazes que lheapontaram suas armas pesadas, tomaram a chave deseu carro e o obrigaram a segui-los para o outro lado doriacho, sem dizer uma palavra. Depois de meia hora,aparecia na curva o carro blindado do banco. Era tardede sexta-feira, eles estavam esperando o carro que ti-nha recolhido os depósitos, e João entendeu então queestava no lugar errado na hora errada.

Depois a situação piorou. Os assaltantes logo ati-raram nos pneus do carro. Mas os guardas do carroblindado também estavam armados, e responderamao fogo. Dom João lembra: “A certa altura, visto que asituação chegou a um impasse, os dois rapazes apon-taram de novo as armas para a minha cara: vá vocêfalar com os policiais, ou nós o matamos. O que eu po-dia fazer? Dei apenas alguns passos e logo os guar-das atiraram em mim”. João sentiu o corpo todo quei-mar com as balas do fuzil de cano curto. Um dos olhosestava perfurado, sentia o sangue lhe jorrando no ros-to. Estava estendido no chão. Não conseguia se le-vantar. Uma imobilidade impotente que salvaria a suavida: “Depois me confirmaram que, se tivesse me me-xido, acabariam comigo”. Nesse meio-tempo os doisbandidos fugiram. João percebeu que a respiração iaficando difícil, sentia o sangue subindo dos pulmõespara a boca. “Eu dizia no íntimo: Jesus, por que tenho

de morrer aos trinta e seisanos? Eu tinha tanto quefazer... A resposta de-sembocou dentro de mimassim: ʻEu morri aos 33.Você já teve três anos amais que eu...ʼ”. João in-tuiu então que mesmo asua generosidade, o seuimpulso a fazer coisasboas podia cair no vazio,se não houvesse umabandono nos braços deJesus. “Então me sentiem paz. Disse minhas últimas orações, fiz minhasofertas, pedi perdão, mas depois acrescentei tam-bém: Senhor, dá-me dez anos mais. Não sei por quepedi dez anos”.

De fato, dom João escapou naquela vez. As balasficaram nos pulmões e no intestino, sem provocar in-fecções. Até o olho se salvou e os médicos se pergun-tavam como aquilo era possível.

Depois daquela experiência, hoje dom João selembra de que chegou a entrar num período de de-pressão: “Eu nem conseguia sair de casa. Só conse-gui depois de um ano, aos poucos, começando por fa-zer pequenas coisas, por exemplo pequenos pas-seios, até onde conseguia. Essa espécie de paralisiada vontade também foi para mim uma experiência im-portante, para abraçar o meu limite e a minha fragili-dade”. Quando estavam para acabar os dez anos de“prorrogação” solicitados, veio a nomeação para bis-po. “É como se o Senhor me tivesse querido dizer: atéaqui você me pediu a vida, de agora em diante eu pe-ço que o que vier você doe a mim...”. Dom João diz is-so rindo. Mas, ao mesmo tempo, o sobressalto daslembranças umedece seus olhos.

G.V.

Escapou da morte por milagre

Uma prorrogação ad personam

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verdadeira reforma agrária. E quenunca teve uma grande relação deproximidade com a Igreja, e nemcom a hierarquia eclesiástica. AIgreja não tem apoio financeiro doEstado, e as próprias igrejas sãoconstruídas com o dinheiro do po-vo, geralmente, inclusive, com aajuda maior dos mais pobres.

O que o senhor pensa dacausa de beatificação de Ós-car Romero?

Nos processos de beatificaçãohá detalhes que são avaliados comcuidado, como os científicos, im-plicados no reconhecimento domilagre exigido. Mas creio que co-mo vida de santidade Romero te-nha sido um grande exemplo. Umbispo que com o episcopado rece-be de maneira manifesta também agraça de se tornar pastor de seupovo, naquela situação tão pertur-bada pela violência. O mesmoaconteceu no Brasil com dom Hél-der Câmara. Quando o ouvíamos,durante o regime militar, ele nosfazia tremer de emoção. Era umapessoa que nos encantava. Um ho-mem de oração. Creio que existammuitas figuras que aos poucos,com o tempo, entenderemos me-lhor. E veremos que toda a sua vidaera impregnada por isso. Do con-trário, não teriam oferecido sua vi-da assim. Câmara sempre viveutendo diante de si a possibilidadede ser assassinado. Só não o mata-ram porque o povo reagiria muitomal. E então mandavam advertên-cias bastante claras: em vez dosbispos, assassinavam os secretá-rios dos bispos, como aconteceuao secretário de dom Hélder.

O senhor citou Lula. Comoarcebispo de Brasília, deve tertido de lidar com ele. Que ba-lanço faz de sua passagem àfrente do País?

Em sete anos em Brasília, nuncao vi na Catedral... [ri] E às vezes fa-zia afirmações um pouco surpreen-dentes, como quando dizia que ti-nha uma moral como pessoa priva-da e outra como presidente... Mascertamente a percepção de suacontribuição é muito positiva, ecompartilhada pela maioria dosbrasileiros. Amou o seu povo e, ten-do sido um operário, entendeu acondição dos brasileiros como esta

é na realidade concreta. Com ele oBrasil teve um crescimento impres-sionante, e houve também uma cer-ta redistribuição da renda. Comba-teu a corrupção, sem se aproveitarda posição de presidente para de-fender os corruptos que estavamtambém dentro de seu partido.

E Dilma, a nova presidenta?Dilma é muito diferente. Lula é

um operário, a sua força é o sindi-calismo. Ele é um sindicalista hu-manista, um fortíssimo lutador.

Dilma é uma intelectual, e de ou-tros pontos de vista é mais prag-mática. Mas dizem que tenha ain-da mais apoio popular que Lula.Esse dado é interessante.

Como começou o seu tra-balho na Congregação paraos Religiosos?

Tivemos de enfrentar muitas di-ficuldades. Havia muita descon-fiança por parte dos religiosos emrazão de algumas posições toma-das anteriormente. Hoje, o pontofocal do trabalho é justamente re-construir uma relação de confian-ça. Com o secretário da Congrega-ção, Joseph William Tobin, traba-lhamos juntos, conversamos mui-to, de modo que as decisões sejamtomadas em comum.

Como vai indo a questãodas inspeções às congrega-ções religiosas femininas dosEstados Unidos?

Essa questão também não é fá-cil. Havia desconfiança, conflitos.Falamos com eles, seus represen-tantes chegaram a vir a Roma. Co-

meçamos a escutar novamente.Não é uma questão de dizer que osproblemas não existem. Mas po-demos enfrentá-los de um outromodo. Sem condenações prévias.Ouvindo as motivações. Hoje te-mos muitos relatórios de investi-gações sobre os quais temos detrabalhar. Depois há o relatório deirmã Clare Millea [a religiosa de-signada pelo Vaticano como visi-tadora apostólica, ndr], que seráimportante.

São legítimas e úteis ascomparações entre as ordensreligiosas mais antigas e osnovos movimentos? Às vezeseles são vistos por alguns co-mo concorrentes, ou até emconflito.

Os carismas que florescem notempo presente são doados à Igre-ja de hoje. Talvez daqui a vinteanos não tenham a mesma rele-vância. E isso não deveria chocar-se com os carismas mais antigos.Se vivem em fidelidade ao carismainicial doado a eles pelo fundador,encontrarão também a maneira deoferecer algo neste tempo. O peri-go é quando perdem o espírito dosfundadores.

Nesse sentido, o que repre-sentou para o senhor o casodo fundador dos Legionáriosde Cristo?

É claro que é uma dor quandovemos a expansão de uma reali-dade que se apresenta como ca-rismática e depois descobrimos aindignidade de seu fundador. Co-

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Vida consagrada

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mo isso é possível continua a serum mistério. O caso dos Legioná-rios não é o único. No Brasil, tive-mos o caso da Toca de Assis. Umacomunidade que vestia um hábitotípico franciscano que chamava aatenção, e que se inseriu no filãoda Canção Nova [comunidade-network que nasceu no Brasil eestá ligada ao movimento caris-mático, ndr]. Davam uma ima-gem forte de si, com frades que di-ziam dar glória a Deus cantando edançando. Envolveram cerca deseiscentos jovens. Até que foi des-coberto que o fundador tinha tam-bém comportamentos moralmen-te indignos com seus seguidores.Quanto aos Legionários, já nãome convencia desde antes, emsua estrutura, a falta de confiançana liberdade das pessoas. Um au-toritarismo que procurava domi-nar tudo com a disciplina. Eu já ti-nha tirado os seminaristas de Bra-sília de seus seminários, pois via

que assim as coisas não podiam irpara a frente.

O senhor não acha que nopassado tenha havido muitaênfase nos novos movimen-tos, que às vezes escondeu as-pectos problemáticos?

Nas novas comunidades e nosnovos movimentos nem tudo é beloe justo a priori. Em algumas realida-des vemos que existem aspectosrealmente desequilibrados. É claroque não podemos negar que emmuitas dessas realidades foram vis-tas coisas enormes. Em muitos lu-gares, trouxeram frescor, alegria,novidade, juventude. Creio que dequalquer forma o tempo atual não émais o tempo em que cada um fazpor si, em que todos estão separa-

dos até entrar em conflito uns comos outros e são unidos apenas na re-ferência comum ao Papa. Eu diziaem Brasília: se vocês, dos carismasmaiores, mortificam e anulam oscarismas menores porque têm co-

mo único critério o de crescerem etomar mais espaço, isso não é deDeus. Se existe um “carisminha”pequenino, por exemplo numa pa-róquia, ajudem-no a crescer, em vezde entrar em conflito com ele.

Além da sua ligação com osFocolares, é conhecida tam-bém a sua amizade com a Co-munidade de Santo Egídio.

Sim. Tenho grande estima porAndrea Ricciardi. Espero poderencontrá-lo logo.

Nos últimos tempos, um fe-nômeno disseminado é o denovos institutos de vida con-sagrada que por vezes vivemsituações de conflito com osbispos e com as próprias Igre-jas nacionais.

Eu tenho sempre um pouco demedo quando um grupo começa apensar e a dizer: nós somos os úni-cos que defendem a verdadeiraIgreja e a Tradição. Nós possuímosa luz de Deus, e os outros não. NaIgreja não é assim que funciona. EDeus não trabalha desse jeito. Eledistribui seus dons, nunca deu todaa sua graça a uma só pessoa. Sepensarmos na experiência deDeus com seu povo, mesmo na Bí-blia o que ressalta não é o exclusi-vismo elitista, mas a paciência e amisericórdia perante aquele povocheio de limites, que se perdia aolongo do caminho. Como espe-rou, quantas vezes foi decepciona-do... E se olharmos ainda para ossantos, veremos que os verdadei-ros santos são sempre amigos unsdos outros. São diferentes, talvezàs vezes até briguem, mas depoispedem perdão e trabalham juntos.Mesmo os de hoje, como DomGiussani e Chiara Lubich. q

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Entrevista com o arcebispo João Braz de Aviz

O ex-presidente Luiz Inácio Lula daSilva ergue o braço da recém-empossada presidente DilmaRousseff, no Palácio do Planalto,Brasília, em 1º de janeiro de 2011

Quando o ouvíamos dom Hélder Câmara, durante o regime militar, ele nos fazia tremer de emoção. Só não o mataram porque o povoreagiria muito mal. E então mandavam advertências bastante claras: em vez dos bispos, assassinavam os secretários dos bispos, como aconteceu ao secretário de dom Hélder

Dom Hélder Câmara durante umavisita pastoral a Morro da Conceição,Recife, em 1968; à esquerda, ÓscarRomero com os seminaristas em Playael Majahual, em 1978

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No dia 15 de março os bis-pos maronitas, reunidosem Bkerké (perto de Bei-

rute), na sede do Patriarcado, ele-geram Béchara Raï, bispo deJbeil, Byblos dos Maronitas, novopatriarca de Antioquia dos Maro-nitas. Sua Beatitude BécharaBroutos Raï, 71 anos, ordenado

sacerdote em 1967 e nomeadobispo em 1986, conhece muitobem Roma e o Vaticano; porqueaqui estudou, no Pontifício Colé-gio Maronita, e aqui, por muitosanos, também como membro doPontifício Conselho para as Co-municações Sociais foi o respon-sável pelo programa árabe da Rá-

por Davide Malacaria

Oriente Médio

Do Líbano, uma mensagem deconvivênciaO diálogo com o islã, um novo confronto com os políticos cristãos, a necessidade de uma relação com o Hezbollah, a tragédia do conflitopalestino-israelense: entrevista com Sua Beatitude Béchara Raï, novo patriarca de Antioquia dos Maronitas

Acima, Béchara Raï logo depois da sua eleição

a patriarca de Antioquia dos Maronitas,

dia 15 de março de 2011; à direita, a multidão de fiéis

que foram ao Patriarcado de Bkerké para saudar

o novo patriarca

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dio Vaticano. Sua Beatitude Bé-chara Raï é o sucessor de Nasral-lah Pierre Sfeir, que pediu sua de-missão em fevereiro passado, aosnoventa anos. Dia 14 de abril, aoreceber em audiência o novo pa-triarca, Bento XVI concedeu a ec-clesiastica communio.

Há alguns anos no Líbano,país crucial para a estabilidade doOriente Médio, a solenidade daAnunciação foi declarada festanacional, para a alegria dos cris-tãos, obviamente, e dos islâmicos,que veneram Maria a mãe do pro-feta Jesus. Uma festa nascida coma marca daquela convivência en-tre cristãos e islâmicos que, mes-mo com alternados e às vezes do-lorosos acontecimentos da histó-ria, foi a característica deste país.Béchara em árabe quer dizer“Anunciação”. Um bom auspício.

O que o senhor pensou nomomento da eleição?

BÉCHARA RAÏ: Durante o Sí-nodo, os outros possíveis candi-datos ao patriarcado, a um certomomento deram um passo atráspara que se chegasse a uma elei-ção unânime. Foi naquele mo-mento que me veio a ideia do le-ma para o meu mandato: “Co-munhão e amor”, que depois es-crevi na ficha eleitoral. Assim,durante a apuração dos votos,

enquanto era repetido o meu no-me, num certo momento foi lidotambém este lema. Era um modode dizer que aceitava o que fossedecidido no Sínodo, mas com amarca, justamente, da comu-nhão e do amor.

A Igreja maronita, de ritooriental e desde sempre emcomunhão com Roma, temum papel de ponte entre acristandade ocidental e a or-todoxa?

Historicamente, os maronitastêm relações fecundas tanto comas Igrejas de tradição grega e síriaquanto com a Santa Sé. Justa-mente por isso tiveram um papelmuito importante quando se de-ram uniões entre Igrejas de ritooriental e Roma – refiro-me àsIgrejas chamadas uniatas. Por his-

tória e tradição o nosso papel é ode ser ponte entre a Igreja Católi-ca e a Igreja Ortodoxa. Uma mis-são ecumênica muito preciosa pa-ra a cristandade.

Também a propósito dasrelações com a Ortodoxia, ocardeal Levada, prefeito daCongregação para a Doutri-na da Fé, no seu discurso noSínodo para as Igrejas Orien-tais disse que gostaria de in-terpelar os patriarcas doOriente para reunir parece-res para uma possível refor-ma do ministério petrino...

Um análogo trabalho já tinhasido realizado no tempo de JoãoPaulo II. Eu era membro da Co-missão que devia recolher as res-postas dos patriarcas e referir aoSanto Padre. Na época reunimos

contribuições de vários patriarcase bispos orientais, mas depois es-te trabalho não foi completado.

Entre as várias propostasque chegaram à Comissãohouve alguma que chamoumais a sua atenção?

Entre outras, havia a propostade que os patriarcados orientaispudessem estender as suas juridi-ções aos fiéis da diáspora, portan-to fora do território tradicional-mente chamado território patriar-cal. Essa proposta, infelizmente,não foi acolhida. Recordo que sefalou disso em 2000, por ocasiãodo congresso no 10º aniversárioda promulgação do Código de Di-rei to Canônico das Igrejas

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Entrevista com o patriarca de Antioquia dos Maronitas

À direita, Bento XVI recebe em audiência Sua Beatitude Béchara Raï,

dia 14 de abril de 2011

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Orientais, e na época, o Secretá-rio de Estado Vaticano, falandoem nome do Santo Padre, expli-cou como não seria possível esten-der a jurisdição dos patriarcadospor dois tipos de motivos. O pri-meiro refere-se ao princípio daterritorialidade: por tradição o ter-ritório patriarcal tem um limitegeográfico limitado ao âmbitooriental, nem o princípio de terri-torialidade pode-se tornar princí-pio de subjetividade. O segundomotivo, foi-nos referido, é que opatriarcado é uma instituição ecle-siástica e, como tal, pode também

desaparecer, enquanto o episcopa-do e o papado são, ao contrário,instituições divinas e não passagei-ras. Como o Papa é bispo de todosos católicos e como há bispos lo-cais com poder pastoral jurisdicio-nal também sobre os fiéis da diás-pora oriental, não há necessidadede estender a jurisdição do patriar-ca. Esta foi, com extrema síntese, aresposta que foi dada.

Quanto é importante a re-lação entre o Patriarcado deAntioquia dos Maronitas e osfiéis da diáspora espalhadospelo mundo?

Para o patriarca de Antioquiados Maronitas é importante daratenção também a estes fiéis. Éum trabalho que tem sido feito pe-las várias dioceses maronitas es-palhadas no mundo; em outras lo-calidades, ao invés, tal atenção édada pelas comunidades organi-zadas, ou seja, paróquias maroni-tas que dependem do ordinário lo-cal, que é o latino, enfim há comu-nidades sem sacerdotes. Portantoé nosso dever prover a contribui-ção pastoral: o envio de sacerdo-tes, religiosos e religiosas e, ondehá comunidades organizadas,prover às dioceses. Mas a ligaçãoentre os imigrantes e a terra natalé mantida também no plano ecle-sial e de sociedade civil, atravésdas várias organizações que con-servam vitais tais relações. Um as-pecto relevante dessa ligação é amanutenção da cidadania libane-sa por parte dos descendentes defamílias maronitas. É importanteporque, em um sistema políticocomo o libanês, baseado na de-mografia, consente aos cristãosde manterem inalterado o seu nú-mero e, consequentemente, o seupeso político. É preciso lembrarque o nosso sistema político temuma participação paritária na ad-ministração dos bens públicos doscristãos e muçulmanos, pois a po-pulação é formada por metadecristãos e metade muçulmanos: seo número de cristãos ou muçul-manos se alterar muito, mudariatal equilíbrio. Mas a ligação comos nossos imigrantes é importan-te também porque o Líbano re-presenta para os maronitas a suapátria espiritual, as suas tradições,a sua história. Além disso essa li-gação permite aos imigrantes sus-tentar economicamente as famí-lias que ficaram na pátria e tam-bém a “causa” libanesa. Enfim adiáspora pode fazer muito no pla-no de projetos de desenvolvimen-to e de projetos sociais.

Depois da sua eleição, osenhor quis encontrar osquatro líderes mais impor-tantes dos partidos cristãospresentes no Líbano...

Atualmente no Líbano há umagrande divisão entre o chamado“Bloco de 14 de março”, que contacom partidos cristãos aliados com

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Oriente Médio

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Os vários líderes cristãos falaram de suasdiversas opções políticas e, mesmoconfirmando suas próprias posições,chegaram à conclusão que suas visões políticassão complementares e não em conflito. A multiplicidade de opções políticas, mais do que causar contrastes, pode ao invés,ser uma riqueza e garantia de democracia

O patriarca Béchara Raï, no centro da foto, e a partir da esquerda: Amin Gemayel, líder das Falanges Libanesas; Samir Geagea, líder do partido ForçasLibanesas; o ex-general e ex-primeiro-ministro libanês Michel Aoun, líder do LivreMovimento Patriótico Libanês, a formação política maronita aliada ao Hezbollah; Suleiman Franjieh, filho do primeiro-ministro assassinado em 1978, hoje parlamentar e líder do movimento Marada, por ocasião de um encontro junto ao Patriarcado entre os chefes históricos dos principais partidos políticos cristãos, a 19 de abril de 2011

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os muçulmanos sunitas (que têm re-lações com a Arábia Saudita, Egitoe Estados Unidos), e o “Bloco de 8de março”, com os outros cristãosaliados com os xiitas e os Hezbollah,os quais por sua vez, mantêm rela-ções com o Irã e a Síria. Isso criamuitas tensões, mesmo porque en-tre xiitas e sunitas há grande confli-tualidade. Essa situação criou dis-tâncias entre os cristãos, a ponto deos líderes políticos cristãos não con-seguirem se encontrar. Por isso or-ganizei este encontro no Patriarca-do na esperança de favorecer umadistensão nas relações entre cristãose, consequentemente, também nanação. E foi o que aconteceu.

Os vários líderes cristãos fala-ram de suas diversas opções políti-cas e, mesmo confirmando suaspróprias posições, chegaram àconclusão que suas visões políticassão complementares e não em con-flito. A multiplicidade de opçõespolíticas, mais do que causar con-trastes, pode ao invés, ser uma ri-queza e garantia de democracia. Oencontro foi marcado por uma fra-terno acordo, que criou distensãotambém no plano público. Agora,depois que o gelo foi quebrado, oencontro entre os políticos cristãosprosseguirão, porém mais alarga-dos, para ampliar as bases do diálo-

go. Além deste encontro, foi reali-zado no Patriarcado uma cúpulaentre vários chefes religiosos, mu-çulmanos e cristãos, que deu ori-gem a uma declaração comum so-bre os princípios e os fundamentosda nação nos quais todos os libane-ses, além da sua religião, se reco-nhecem, e sobre o fato de que a po-lítica, como tal, deve ser deixadaaos políticos. Creio que tudo issopossa dar um novo impulso à uni-dade do país. Espero, enfim, quelogo se possam realizar encontrosentre os políticos muçulmanos ecristãos, no âmbito dos quais sepossam confrontar sobre temasmais delicados da vida social e polí-tica do país.

Então o problema não étanto criar um único partidopolítico dos cristãos, masprocurar um acordo entre osvários partidos.

O Líbano é um país democráti-co e pluralista, portanto são bem-vindas as diversidades de opiniõese de pontos de vista. Porém háduas coisas que nos unem: os fun-damentos da nação e os objetivoscomuns. O Líbano se fundamentaem alguns princípios políticosque, desde o nascimento do Esta-do, constituem uma constanteinalterada, ou seja, que o Líbano é

um país democrático, parlamen-tar, baseado na convivência entremuçulmanos e cristãos, nos direi-tos do homem, na liberdade, nopacto nacional segundo o qualcristãos e muçulmanos partici-pam de maneira igualitária à ad-ministração dos bens públicos. Es-tes são os fundamentos do nossopaís, indispensáveis justamentepela natureza da nossa nação:porque no Líbano, considerandoa presença histórica de cristãos eislâmicos, existem duas tradiçõesdiversas, duas culturas diversas eassim por diante. No que se refereaos objetivos comuns, pretende-se: como conservar o Líbano co-mo entidade estatal, como con-servar a sua identidade e comoagir pelo bem comum e, particu-larmente em relação aos cristãos,como conservar a sua presençano nosso país. Para preservar osprincípios fundamentais do nossoEstado e para alcançar todos osobjetivos não se trata de unificaras várias opções políticas, aocontrário. Dizem que “todos oscaminhos levam a Roma”: sãobem aceitas todas as diversidadesde opiniões, de escolhas políti-cas, de alianças porque não háuma facção política que possapretender ser aquela “verdadei-

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Entrevista com o patriarca de Antioquia dos Maronitas

A partir da esquerda, o mufti sunita Mohammed Rashid Qabbani, o patriarca Béchara Raï, o mufti xiita Abdel Amir Kabalan e o mufti druso Naim Hassan por ocasião da cúpula entre os chefes religiosos cristãos e muçulmanos organizada pelo patriarcado em Bkerké, a 12 de maio de 2011

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ra”, todas trazem consigo um as-pecto de verdade. A nossa tarefaé a de favorecer essa abordagemconstrutiva e não conflitual.

Como serão as relações dopatriarca com Hezbollah?

No passado existia uma Co-missão na qual o Patriarcado eHezbollah dialogavam sobre osproblemas do país, mas este con-fronto profícuo não existe mais.Depois da minha eleição, quandouma delegação do Hezbollah veioprestar homenagem ao novo pa-triarca, disse-lhes que se devia vol-tar ao diálogo, em particular atra-vés da retomada desta Comissão,porque não podemos perder essaoportunidade. Os conflitos entrehomens, entre grupos nascem deincompreensões ou de preconcei-tos. Não é que devemos dialogarsobre todas as escolhas políticas,porém pode-se tentar esclarecermuitos pontos. No passado, comrelação ao Hezbollah, houve oproblema da natureza deste parti-do porque, em particular, algunsnão aceitavam que eles possuís-sem armas. Mas, hoje, essa dis-cussão não existe mais, pois é es-téril. Agora se fala de estratégiacomum de defesa, ou seja, comoo Líbano deve organizar a posse eo uso de armas. Não é aceitável ofato de que o Hezbollah possausar armas quando quiser, possadeclarar guerra ou negociar a paz

com Israel sem relação com o go-verno do país. Fala-se então deuma estratégia de defesa que serefere conjuntamente ao Estado,a Hezbollah, ao exército regular,às milícias de Hezbollah e assimpor diante. Ainda não chegamosa um esclarecimento sobre o pon-to, porém o conceito foi aceitomais ou menos por todos. Entre-tanto, foi recusada integralmentea tese segundo a qual Hezbollahdeveria entregar as armas. É umpedido que não pode ser aceito e,entre outras coisas, torna crítica arelação com o Hezbollah. Tam-bém devemos nos confrontar pa-ra obter garantias sobre o fato queo Hezbollah não use armas noplano interno, por rivalidadescom seus próprios adversáriospolíticos nem declare guerra a Is-rael prescindido de qualquer refe-rência ao legítimo poder libanês.Não é aceitável um Estado dentrodo Estado. São temas que se sin-tetizam com a expressão “estraté-gia comum de defesa”.

Falou-se muitas vezes daimportância da convivênciaentre cristãos e muçulmanosno Líbano...

No nosso país a convivência foisancionada com o Pacto nacionalde 1943, quando muçulmanos ecristãos expressaram duas nega-ções: não ao Oriente e não aoOcidente. Quer dizer que os mu-

çulmanos libaneses não podemtrabalhar em um processo de inte-gração com a Síria ou com qual-quer outro país árabe de regimeislâmico, nem os cristãos com oOcidente e especificamente coma França. Ao mesmo tempo osmuçulmanos renunciaram a qual-quer pretensão com relação àpossibilidade de instaurar umateocracia islâmica enquanto oscristãos, por sua vez, renuncia-ram ao laicismo de modelo oci-dental. Deste modo construiu-seno Líbano um Estado que é a me-tade do caminho entre a teocra-cia oriental e os regimes seculari-zados ocidentais. É um país civil,que respeita a dimensão religiosade todos os cidadãos; não podeser imposto um sistema teocráti-co, nem uma religião de Estado.A convivência entre cristãos emuçulmanos é estabelecida pelaConstituição, a qual afirma, noartigo 9, que o Líbano é umagrande homenagem a Deus, res-peita todas as religiões, reconhe-ce seus estatutos, garante a liber-dade religiosa e a prática religiosade todos. O Estado libanês não le-gisla em matérias que se referemà religião, em matéria de matri-mônio ou outras coisas, comoacontece em vez no Ocidente on-de se fazem leis em contraste coma lei natural como, por exemplo,a lei sobre matrimônios entre

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À esquerda, um jovem diante da estátua da Virgem Maria no Santuário de Harissa; à direita, fiéis durante a Santa Missa dominicalna igreja de São Jorge no vilarejo de Qoleia

Oriente Médio

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pessoas do mesmo sexo. Nestasmatérias as diversas comunida-des religiosas têm uma sua auto-nomia legislativa.

O senhor considera que oLíbano seja um exemplo vir-tuoso de convivência tambémno plano internacional?

Certamente. Vemos que no Oci-dente a religião é colocada de lado eisso o islã não pode aceitar. Por ou-tro lado vemos como no mundooriental tenham-se instaurado siste-mas políticos nos quais a religiãotem uma importância fundamental,mas são fechados. E isso acontecetanto em países islâmicos como emIsrael. No Líbano, ao invés, há umEstado democrático, pluralista, querespeita a dimensão religiosa de to-dos os cidadãos e os direitos do ho-mem. É a beleza do nosso país quefez com que João Paulo II afirmasseque o Líbano mais do que uma na-

ção é uma mensagem e um exem-plo, um exemplo virtuoso para oOriente em relação aos regimesfundamentados na religião, e para oOcidente em relação aos sistemaspolíticos baseados na secularização.

Qual é a sua opinião sobre osmovimentos de revolta que es-tão se propagando nos paísesárabes que, entre outros, afe-tam um país como a Síria, muitoimportante para o Líbano?

O problema é complexo. Na Sí-ria governa uma minoria alawitaenquanto a grande maioria dos mu-çulmanos sírios são sunitas. Os su-nitas, que não são absolutamentefundamentalistas, governavam opaís antes que chegassem os Assade agora pedem reformas... No Egi-to, ao invés, há a Irmandade Muçul-mana que pode levar o novo cursopolítico a um fundamentalismo. Épreciso considerar que o islã está

sofrendo vários conflitos: entre xii-tas e sunitas no Iraque e em outroslugares, entre alawitas e sunitas naSíria e em outros países. Não seionde tudo isso vai acabar, mas épreocupante: há o perigo de queem algum destes Estados se instau-re um regime islâmico fundamenta-lista ou um regime ditatorial piorque os anteriores; ou mesmo que sechegue a uma divisão desta regiãoem pequenos Estados confessio-nais, segundo o que alguns obser-vadores internacionais chamam“projeto para um novo Oriente Mé-dio”. O futuro é incerto. Nós espe-ramos que estes países encontrema paz no respeito dos direitos hu-manos dos povos, porque sabemosque os regimes contestados são osditatoriais, nos quais regem um sis-tema político-religioso fechado ecom partido único. São países comgrandes recursos, mas cujas ri-

No passado, com relação ao Hezbollah, houve o problema da naturezadeste partido porque, em particular, alguns não aceitavam que elespossuíssem armas. Mas, hoje, essa discussão não existe mais, pois é estéril. Agora se fala de estratégia comum de defesa, ou seja, como o Líbano deve organizar a posse e o uso de armas

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Os partidários do Hezbollah manifestam em Beirute em 19 de março de 2011a favor das revoltas populares contra os regimes noEgito, Tunísia, Yêmen, Líbia e Bahrein

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quezas não são distribuídas e o po-vo é muito pobre. Todas essas re-voltas e manifestações de massa fo-ram conduzidas, geralmente, semarmas usando apenas o Facebook:é gente que reclama seus própriosdireitos e liberdade. Alguns paísesfizeram reformas, outros não fize-ram isso. Onde não se encontrouuma resposta positiva às esperan-ças do povo, a situação está pioran-

do e isso nos preocupa cada vezmais, mesmo porque esta crise temrepercussões muito negativas so-bre as comunidades cristãs, comoaconteceu no Iraque, porque infe-lizmente quem sofre as consequên-cias de certas situações são os cris-tãos. Estamos muito preocupadostambém pelo Líbano, que se en-contra no âmbito dessas manifesta-ções e é afetado por todas essas cri-ses. Nós nos dirigimos à comunida-

de internacional para que ajude es-tes povos.

A última pergunta refere-seà paz entre Israel e Palestina...

Na origem de todas as crises ede todos os problemas do OrienteMédio há o conflito entre Israel ePalestina. É o “pecado original”, amatriz que nutre todas as crises danossa região. Infelizmente a co-munidade internacional não está

agindo como deveria: é precisoaplicar a resolução do Conselhode Segurança, começando com aque prevê a volta dos refugiados àprópria terra. A ONU foi criadapara favorecer a paz no mundo e,ao invés, não faz nada, porque, in-felizmente, é refém das grandespotências. Os palestinos devemter seu Estado e os refugiados de-vem voltar às suas próprias terras.O Líbano hospeda 500 mil refu-

giados em um total de quatro mi-lhões de habitantes, um númeroexorbitante... Uma presença queconstitui um problema para a se-gurança, considerando que elespossuem armas e as usam semqualquer controle, mas tambémum drama político e social. Osconflitos que aconteceram no Lí-bano, desde 1975 até hoje, foramcausados pela presença destes re-

fugiados, que pressionam paravoltar às próprias terras. Se esteconflito fosse resolvido até o Hez-bollah perderia a sua razão de exis-tir... É que as grande potências jo-gam com o destino dos povos. Ésuficiente ver o que aconteceu noIraque, onde intervieram, foi dito,para instaurar a democracia e, de-pois de uma década, foram mortasmais pessoas que tenha matadoSaddam Hussein. q

36 30DIAS Nº 4/5 - 2011

Oriente Médio

Na origem de todas as crises e de todos os problemas do Oriente Médiohá o conflito entre Israel e Palestina. É o “pecado original”,a matriz que nutre todas as crises da nossa região. Infelizmente a comunidade internacional não está agindo como deveria: é precisoaplicar a resolução do Conselho de Segurança, começando com a queprevê a volta dos refugiados à própria terra

Palestinos no campo de refugiados de Ein el-Hilweh, na periferia da cidade de Sidone, no Líbano

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Via Vincenzo Manzini, 45 - 00173 RomaTel. 06 72 64 041 Fax 06 72 63 33 [email protected] • www.30giorni.it

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Mensagem Urbi et orbi do Papa Bento XVI

“In resurrectione tua, Christe, coeli etterra laetentur / Na vossa ressurreição, óCristo, alegrem-se os céus e a terra” (Liturgiadas Horas).

Amados irmãos e irmãs de Roma e domundo inteiro!

A manhã de Páscoa trouxe-nos este anún-cio antigo e sempre novo: Cristo ressuscitou!O eco deste acontecimento, que partiu deJerusalém há vinte séculos, continua a res-soar na Igreja, que traz viva no coração a févibrante de Maria, a Mãe de Jesus, a fé deMadalena e das primeiras mulheres que vi-

PÁSCOA 2011

A incredulidade de São Tomé, Giovan Francesco Barbieri, dito o Guercino, Pinacoteca dos Museus do Vaticano

A ressurreição de Cristo é um acontecimento

38 30DIAS Nº 4/5 - 2011

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ram o sepulcro vazio, a fé de Pedro e dos ou-tros Apóstolos.

Até hoje – mesmo na nossa era de comu-nicações supertecnológicas – a fé dos cris-tãos assenta naquele anúncio, no testemu-nho daquelas irmãs e daqueles irmãos que vi-ram, primeiro, a pedra removida e o túmulovazio e, depois, os misteriosos mensageirosque atestavam que Jesus, o Crucificado, res-suscitara; em seguida, o Mestre e Senhor empessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria deMagdala, aos dois discípulos de Emaús e, fi-nalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo(cf. Mc 16, 9-14).

A ressurreição de Cristo não é fruto deuma especulação, de uma experiência místi-ca: é um acontecimento, que ultrapassa cer-tamente a história, mas se verifica num mo-mento concreto da história e deixa nela umamarca indelével. A luz, que encandeou osguardas de sentinela ao sepulcro de Jesus,atravessou o tempo e o espaço. É uma luz di-ferente, divina, que fendeu as trevas da mor-te e trouxe ao mundo o esplendor de Deus, oesplendor da Verdade e do Bem.

Tal como os raios do sol, na primavera, fa-zem brotar e desabrochar os rebentos nos ra-mos das árvores, assim também a irradiaçãoque dimana da Ressurreição de Cristo dá for-ça e significado a cada esperança humana, acada expectativa, desejo, projeto. Por isso,hoje, o universo inteiro se alegra, implicadona primavera da humanidade, que se faz in-térprete do tácito hino de louvor da criação.O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregri-na no mundo, exprime a exultação silenciosa

do universo e sobretudo o anseio de cada al-ma humana aberta sinceramente a Deus,mais ainda, agradecida pela sua infinita bon-dade, beleza e verdade.

“Na vossa ressurreição, ó Cristo, ale-grem-se os céus e a terra”. A este convite aolouvor, que hoje se eleva do coração da Igre-ja, os “céus” respondem plenamente: asmultidões dos anjos, dos santos e dos bea-tos unem-se unânimes à nossa exultação.

Bento XVI

3930DIAS Nº 4/5 - 2011

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A ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística:

é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas se verifica num momento concreto da história

e deixa nela uma marca indelével

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No Céu, tudo é paz e alegria. Mas, infeliz-mente, não é assim sobre a terra! Aqui, nes-te nosso mundo, o aleluia pascal contrastaainda com os lamentos e gritos que provêmde tantas situações dolorosas: miséria, fo-

me, doenças, guerras, violências. E todaviafoi por isto mesmo que Cristo morreu e res-suscitou! Ele morreu também por causa dosnossos pecados de hoje, e também para aredenção da nossa história de hoje Ele res-suscitou. Por isso, esta minha mensagemquer chegar a todos e, como anúncio profé-tico, sobretudo aos povos e às comunidadesque estão a sofrer uma hora de paixão, paraque Cristo ressuscitado lhes abra o caminhoda liberdade, da justiça e da paz.

Possa alegrar-se aquela Terra que, pri-meiro, foi inundada pela luz do Ressuscita-do. O fulgor de Cristo chegue também aospovos do Médio Oriente para que a luz dapaz e da dignidade humana vença as trevasda divisão, do ódio e das violências. Na Lí-bia, que as armas cedam o lugar à diploma-cia e ao diálogo e se favoreça, na situaçãoatual de conflito, o acesso das ajudas huma-nitárias a quantos sofrem as consequênciasda luta. Nos países da África do Norte e doMédio Oriente, que todos os cidadãos – e demodo particular os jovens – se esforcem porpromover o bem comum e construir umasociedade, onde a pobreza seja vencida ecada decisão política seja inspirada pelorespeito da pessoa humana. A tantos prófu-gos e aos refugiados, que provêm de diver-sos países africanos e se veem forçados adeixar os seus entes mais queridos, chegue

30DIAS Nº 4/5 - 201140

Até hoje – mesmo na nossa era de comunicações supertecnológicas – a fé dos cristãos assenta naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs edaqueles irmãos que viram, primeiro,a pedra removida e o túmulo vazioe, depois, os misteriosos mensageiros que atestavam que Jesus, oCrucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em pessoa, vivoe palpável, apareceu a Maria de Magdala, aos dois discípulos de Emaús e,finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo (cf. Mc 16, 9-14)

PÁSCOA 2011

Noli me tangere, Federico Barocci, Galleria degli Uffizi, Florença

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4130DIAS Nº 4/5 - 2011

a solidariedade de todos; oshomens de boa vontade sin-tam-se inspirados a abrir ocoração ao acolhimento, pa-ra se torne possível, de ma-neira solidária e concorde,acudir às necessidades pre-mentes de tantos irmãos; aquantos se prodigal izamcom generosos esforços edão exemplares testemu-nhos nesta linha chegue onosso conforto e apreço.

Possa recompor-se a con-vivência civil entre as populações da Costado Marfim, onde é urgente empreender umcaminho de reconciliação e perdão, paracurar as feridas profundas causadas pelasrecentes violências. Possam encontrar con-solação e esperança a terra do Japão, en-quanto enfrenta as dramáticas consequên-cias do recente terremoto, e demais paísesque, nos meses passados, foram provadospor calamidades naturais que semearam so-frimento e angústia.

Alegrem-se os céus e a terra pelo testemu-nho de quantos sofrem contrariedades oumesmo perseguições pela sua fé no SenhorJesus. O anúncio da sua ressurreição vitorio-sa neles infunda coragem e confiança.

Queridos irmãos e irmãs! Cristo ressus-citado caminha à nossa frente para os no-vos céus e a nova terra (cf. Ap 21, 1), ondefinalmente viveremos todos como umaúnica família, filhos do mesmo Pai. Ele es-tá conosco até ao fim dos tempos. Siga-mos as suas pegadas, neste mundo ferido,cantando o aleluia. No nosso coração, háalegria e sofrimento; na nossa face, sorri-sos e lágrimas. A nossa realidade terrena éassim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo ecaminha conosco. Por isso, cantamos ecaminhamos, fiéis ao nosso compromissoneste mundo, com o olhar voltado para oCéu.

Boa Páscoa a todos!

A ressurreição de Cristo é um acontecimento

Sigamos as suas pegadas, neste mundo ferido, cantando o aleluia.No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade terrena é assim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha conosco. Por isso, cantamos e caminhamos, fiéis ao nosso compromisso neste mundo, com o olhar voltado para o Céu

Encontro no caminho de Emaús,

Domenico Tintoretto,

Hospício Proti-Vajenti-Malacarne,

Vicenza

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Curtas Curtas Curtas CuIGREJA/1Etchegaray, PapaBento XVI e os novosinícios do cristianismo

“Algumas vezes tem-se asensação de que se sabe tu-do de Bento XVI, conside-rando a sua enorme e den-sa produção teológica. Masna real idade começa-seapenas a descobri-lo, ouantes, a descobrir o que éum Papa no exercício dasua função pastoral, nosentido que é um pastorque guia seu rebanho prin-cipalmente nas tempesta-des. Ao ser e le i to PapaBento tornou-se pároco; aIgreja descobriu um pastore não apenas um teólogo, eo mundo um seu irrenun-ciável ponto de referência[...]. Sim, é isso mesmo.Não começou por acasodefinindo-se um ‘operáriona vinha do Senhor’? A suahomilia do Domingo de Ra-mos fo i , neste sent ido,exemplar: falou da humil-dade de Deus, que esco-lheu o caminho da Cruz pa-ra manifestar de forma ex-trema o seu amor. O ponti-ficado do Papa Bento se-

gue por esses caminhos”.Palavras do cardeal RogerEtchegaray no jornal Avve-nire de 19 de abril. Prosse-gue o purpurado: “Na con-versa com Peter Seewald,há uma passagem funda-mental: ‘Hoje o Papa querque a sua Igreja se submetaa uma espécie de purifica-ção... Trata-se de revelarDeus aos homens, de dizer-lhes a verdade. A verdadedos mistérios da Criação. Averdade da existência hu-mana. E a verdade da nos-sa esperança, que está paraalém do puramente mortal’[...]. Tudo poderia se sinte-tizar neste pensamento: ‘ocristianismo é um pereneestado de novo início’”.

IGREJA/2Bartolomeu I, as calamidadesnaturais e asperversidadesespirituais

“A destruição natural cau-sada por tremores sísmicose ondas marítimas, juntocom a ameaça de devasta-ção provocada por possí-

veis explosões nucleares,bem como os sacrifícioshumanos resultantes deconflitos militares e açõesterroristas, revelam que onosso mundo está emgrande tormento e angús-tia por pressão das forçasnaturais e espirituais domal [...]. Contudo, a Res-surreição de Cristo é de fa-to real e confere aos cris-tãos fiéis a certeza – e a to-da a humanidade a possibi-lidade – de transcender asconsequências adversas dacalamidade natural e daperversidade espiritual”. Éuma passagem da homiliada noite de Páscoa de SuaSantidade Bartolomeu I,Patriarca Ecumênico deConstantinopla, publicadano Avvenire de 26 de abrilpassado.

SAGRADO COLÉGIOA morte dos cardeaisSaldarini e García-Gasco

No dia 18 de abril, aos 86anos, faleceu o cardealGiovanni Saldarini, arce-bispo de Turim de 1989 a1999. E no dia 1° de maiofaleceu o cardeal espanholVicente Agustín García-Gasco, 80 anos, de 1992a 2009 arcebispo de Va-lência. No dia 31 de maio– depois de completarem80 anos os cardeais Ber-nard Panafieu (26 de janei-ro), Ricardo J. Vidal (6 defevereiro), Camillo Ruini(19 de fevereiro), WilliamH. Keeler (4 de março) eSergio Sebastiani (11 deabril) – o Sagrado Colégioresulta composto por 198cardeais dos quais 115eleitores.

SANTA SÉFiloni Prefeito dePropaganda Fide eBecciu substituto naSecretaria de Estado

No dia 10 de maio o arcebis-po Fernando Filoni, de 65anos, originário da Apúlia,foi nomeado prefeito daCongregação para a Evan-gelização dos Povos substi-tuindo o cardeal indiano IvanDias que completou 75anos. Sacerdote desde 1970na diocese de Nardò, entroupara o serviço diplomáticovaticano em 1981 e em2001 foi eleito arcebispo enúncio apostólico na Jordâ-nia e Iraque. Foi nomeado

3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

42 30DIAS Nº 4/5 - 2011

Bartolomeu I

Fernando Filoni

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urtas Curtas Curtas Curtasnúncio nas Filipinas em2006, e desde 2007 erasubstituto para os AssuntosGerais da Secretaria de Esta-do. Para este último cargo,ainda no dia 10 de maio, foinomeado o arcebispo Gio-vanni Angelo Becciu, da Sar-denha, 63 anos, desde 1972sacerdote na diocese deOzieri. Tendo entrado para oserviço diplomático vaticanoem 1984, em 2001 Becciufoi eleito arcebispo e núncioapostólico em Angola. Des-de 2009 era representantepontifício em Cuba.

ORIENTE MÉDIO/1Peres, o acordo entreHamas e Fatah e a paz entre israelensese palestinos

Para Shimon Peres negociarcom o Hamas é possível. Emuma série de entrevistas con-cedidas à imprensa israelen-se, o chefe de Estado comen-tou o acordo assinado em 4de maio passado no Cairoentre os dois principais parti-dos palestinos: Hamas, quegoverna Gaza e é indicadopelos israelenses como umaorganização terrorista, e Fa-tah, no poder na Cisjordânia.“Se eles quiserem se unir,

que se unam. Quando come-cei a negociar com Arafat”,recordou Peres, “todos mediziam: ‘Não há esperança’.Hoje vale o mesmo para oHamas. O nome não me in-teressa, o que contam são osconteúdos. Tudo pode acon-tecer”. Porém é melhor queas negociações aconteçamlonge dos refletores: “Em pú-blico cada parte deve de-monstrar à sua gente que éforte e agressiva, mas no seucoração os líderes sabem que

não há alternativa à paz. Porisso devemos manter distin-tas as aparências do poten-cial oculto”.

ORIENTE MÉDIO/2O fim do embargo a Gaza e a política dos Estados Unidos

“Gaza, a faixa palestina dossem-terra, desde ontem nãoé mais uma prisão. Depoisde quatro anos a passagemde Rafah, na fronteira como Egito, foi reaberta. O Cai-ro de Hosni Mubarak tinhafechado como represália àrevolta dos fundamentalis-tas de Hamas contra a ANPdo presidente leigo Abu Ma-zen. Ontem a junta militaregípcia, nascida da chama-da “primavera árabe” deci-diu cancelar a proibição”.Este o início de um artigopublicado no Corriere dellaSera de 29 de maio, que as-sim se concluía: “É tambémclaro que o sinal de Gazaconjuga-se com aquele in-centivo internacional, guia-do por Obama, para chegaraos dois Estados, Israel e

Palestina, para que vivamem paz e segurança”.

MEDITERRÂNEO/1Enzo Bettiza e a guerra neocolonialna Líbia

“Qualquer que seja a con-clusão, a história não pode-rá deixar de recordar dopéssimo resultado da inter-venção neocolonial na Lí-bia, revestida pela fraseolo-gia do Tigellino ‘buonista’do Eliseu, Bernard-HenriLévy, grande incentivadorem todos os sentidos de‘bombas humanitárias’. Jána intervenção franco-bri-tânica anterior em Suez em1956 tinha sido contrapro-ducente, reforçando o pan-arabista Nasser e dando aKrutchev um ótimo álibi pa-ra destruir paralelamentecom armas a revoluçãohúngara e favorecendosubstancialmente o estabe-lecimento soviético noOriente Médio”. Trecho doeditorial do La Stampa de11 de abril escrito por EnzoBettiza.

NDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

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30DIAS Nº 4/5 - 2011 43

Shimon Peres e Giorgio Napolitano em Jerusalém a 15 de maio

de 2011. O presidente da República Italiana recebeu o prêmio

Dan David

“A morte de Osama Bin Laden,em alguns aspectos, leva a me-mória a 60 anos atrás, a um ho-mem entrincheirado em umbunker entre as ruínas de umaBerlim destruída. Adolf Hitleracabou com sua própria vida dia30 de abril de 1945 e o anúncioda sua morte foi dado no dia 1ºde maio. Também a morte deBin Laden foi anunciada em umprimeiro de maio”. Publicada noLa Stampa de 3 de maio.

MUNDOA morte de Bin Laden e a de Hitler

continua na p. 45

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Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

“A Europa deve olhar de frente às novas realidades e aosnovos desafios e deve demonstrar que é capaz de enfrentaras próprias responsabilidades em um mundo globalizado.

Entre tais responsabilidades, há as que surgem dos aconte-cimentos de grandeza revolucionária que ocorreram noNorte da África e no Oriente Médio. E a este propósito estí-mulos importantes e sérias interrogações foram colocadaspelo recente discurso do presidente Obama ‘A Moment ofOpportunity’, e pelo seu discurso realizado aqui esta noite.É essencial que como europeus nós também vejamos nasmudanças na África e no Oriente Médio ‘um momento deoportunidade’ não simplesmente uma fonte de incertezas ede preocupações”. São palavras do presidente da Repúbli-ca italiana Giorgio Napolitano referindo-se ao encontrocom o presidente dos Estados Unidos Barack Obama,ocorrido durante a cúpula dos chefes de Estado da EuropaCentral que se realizou em Varsóvia. As palavras do presi-dente Napolitano foram publicadas no Corriere della Serade 28 de maio.

Pisapia quando estudante, fascinado por Dom Gius-sani. É o título de um pequeno artigo publicado no dia14 de maio no Corriere della Sera de Milão. No arti-go, o novo prefeito de Milão conta da sua relação comDom Giussani, seu professor de religião no Liceu Ber-chet, e particularmente dos almoços em casa com o sa-cerdote ambrosiano, nos tempos de estudante, todos àmesa com sua mãe, seu pai e os outros (seis) irmãos“falando de Deus, do mundo, do papel que cada um denós teria tido”.

Sobre a relação com Dom Giussani, Pisapia já tinhacomentado também em uma outra entrevista, concedidaa Giuseppe Frangi para a revista Vita, de 28 de fevereirode 2005, começando pelo primeiro, surpreendente, en-contro: “Entrou na sala de aula e perguntou-nos se consi-derávamos correto que um pai católico educasse seuspróprios filhos segundo aqueles princípios. Um de nós re-propôs-lhe a pergunta: o senhor considera correto queum pai comunista eduque o próprio filho segundo osprincípios aos quais crê? Dom Giussani não teve um se-gundo de hesitação. E respondeu sim”. Desde então,

prossegue Pisapia na entrevista a Vita, começou a fre-quentar o sacerdote e o grupo de jovens que lhe estavamao redor. “Todos os domingos íamos à “Bassa milanese”,uma região periférica mais pobre. Nas casas rurais com-partilhávamos as atividades, fazíamos as refeições e sebrincava. Também falávamos de fé, mas sem qualquerpretensão de doutrinação [...]. Dom Giussani tinha umacarga humana enorme. E abolia todas as formalidades. Asua força era o diálogo. Queria que fôssemos nós mes-mos, que tivéssemos a coragem de defender o nosso pen-samento, mesmo se fosse contrário ao seu. Nunca come-çava com os dogmas, como faziam os outros padres.Queria-nos livres. Por isso com ele falávamos de tudo,mesmo de questões nossas que não eram ligadas à fé”.Mais tarde a estrada do jovem tomou outras direções:veio 1968, a luta política, em particular na esquerda ita-liana. Mesmo assim Pisapia dá àquele encontro juveniluma importância fundamental, como reconhece na en-trevista a Giuseppe Frangi: “Sem Giussani não sei se teriaentendido o sentido de estar ao lado dos mais fracos.Também ensinou-me que a experiência conta mais doque qualquer leitura. É um valor que reencontrei na es-querda. Mas a pr i -meira vez que me foiclara foi nos pátiosna “Bassa milanese”.

Dom Luigi Giussani

Giorgio Napolitano e Barack Obama em Varsóvia,

a 27 de maio de 2011

ITÁLIA/1Pisapia e Dom Giussani

Giuliano Pisapia

enquanto vota

no Liceu Berchet,

para as recentes

eleições municipais,

Milão, 29 de maio

de 2011

ITÁLIA/2Giorgio Napolitano, Barack Obama e “o momento de oportunidade”

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urtas Curtas Curtas CurtasNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

30DIAS Nº 4/5 - 2011 45

MEDITERRÂNEO/2Todorov: a guerra naLíbia, o messianismopolítico e o pecadooriginal

“Infelizmente, creio que aguerra tenha uma sua lógi-ca interna, que a torna im-possível ser tão circunscritae cirúrgica como sustentamseus promotores. Antes de19 de março as tropas deKadafi estavam para reali-zar um massacre em Ben-gasi, repetiu-nos o presi-dente Sarkozy para con-vencer o Ocidente a inter-vir. Então foram legítimosos primeiros bombardeios,os que bloquearam o avan-ço das tropas do regime.Mas depois, a intervençãopseudo-humanitária trans-formou-se em outra coisa”.São palavras do fi lósofoTzvetan Todorov no Cor-riere della Sera de 12 deabril, que acrescenta: “Esta-mos diante de uma nova fa-se de messianismo político.A primeira é, justamente, anapoleônica pintada porGoya. A segunda ondamessiânica foi a do comu-nismo [...]. E agora assisti-mos a um terceiro desper-tar do messianismo políti-co: a primeira guerra doGolfo foi um treinamento, aintervenção no Kosovo,sem mandato da ONU, oensaio geral, e eis depois oAfeganistão, Iraque”. E, àpergunta se é possível umnão absoluto à guerra, res-ponde: “Não, e não creioque seria um bem. A ambi-ção de extirpar totalmenteo Mal seria ainda mais da-nosa: é a função do pecadooriginal a nos recordar, co-mo dizia Romain Gary, queexiste uma ‘parte inumanada humanidade’. Porém,devemos tentar limitar aomáximo as guerras não ine-vitáveis. Como a da Líbia,por exemplo”.

EUROPAPatten, a crise da União Europeia e a Turquia

No dia 5 de abril o jornal LaStampa publicou uma lúcidaanálise sobre a situação daUnião Europeia, escrita porChris Patten, ex-governadorbritânico de Hong Kong, ex-comissário europeu para asRelações Exteriores e reitorda Universidade de Oxford.O tema central era a fragili-dade da União Europeia nocontexto político internacio-nal. Como responder a talcrise? Pergunta-se Patten.“Para mim, a resposta”, lê-se no artigo, “ encontra-sena Turquia. Uma Europacom a Turquia como mem-bro teria naturalmente uma

economia mais dinâmica. ATurquia é uma referênciaenergética regional. Tem pe-so e respeito na própria re-gião graças a formidáveisforças de combate. E, princi-palmente, hoje a Turquia éum modelo para outras so-ciedades islâmicas, que ten-tam fazer as contas com ademocracia, as liberdades ci-vis, o Estado de direito, umaeconomia aberta, o pluralis-mo e a religião. Na qualidadede membro da União Euro-peia, a Turquia deveriaacrescentar uma nova di-mensão de enorme impor-tância histórica. Os euro-peus demonstrariam que épossível abraçar uma demo-cracia islâmica e construiruma sólida ponte entre a Eu-ropa e a Ásia Ocidental. Isso,

por sua vez, poderia criaruma nova identidade e ima-gem europeia, dar à UniãoEuropeia um novo motivopara existir neste século, ummodo de recusar a política dedivisão do antigo modelo”.

RÚSSIAPutin cita SãoFrancisco

Em um discurso público, oprimeiro-ministro VladimirPutin declarou que aindanão chegou o momento decandidatar-se às próximasele ições pres idencia is ,nem para ele nem para oatual presidente da Federa-ção Russa Dmitrij Medve-dev, porque, explicou, “seagora lançarmos sinais er-rados, metade da adminis-tração e mais da metade dogoverno deixarão de traba-lhar na espera de mudan-ças”. “Ao invés disso”,acrescentou, “todos nosseus próprios lugares de-vem fazer como São Fran-cisco, capinar todos os diasna sua própria horta”. Asdeclarações de Putin forampublicadas no Avvenire de14 de abril. q

As bandeiras da Turquia e da União Europeia diante da Mesquita Nur-u Osmaniye em Istambul

Vladimir Putin

segue da p. 43

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H á um belo vaivém no núme-ro 18 da via de Porta Pin-ciana, sede do Pontifício

Colégio Maronita, em Roma: sãoperegrinos carregados de bandei-

ras, provenientes do Líbano e daseparquias maronitas do OrienteMédio. Mas oriundos também dadiáspora presente nos quatro can-tos do mundo – sobretudo nos Esta-

46 30DIAS Nº 4/5 - 2011

Colégios eclesiásticos de Roma

Fundado em 1584 por Gregório XIII parapromover as relações entre a Santa Sé e a IgrejaMaronita, hoje o Pontifício Colégio Maronitapropõe-se como lugar de diálogo entre diversasculturas e religiões

No alto, o afresco no átrio do ColégioMaronita que representa a Coroação de Nossa Senhora, inspirado na figurado santuário de Qannoubine; aqui, acima, a entrada do colégio, na via de Porta Pinciana

por Pina Baglioni

Uma ponte entreOriente e Ocidente

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dos Unidos e no Canadá –, que re-presenta dois terços dos três mi-lhões e meio dos herdeiros de SãoMaron. No domingo de manhã,por volta das 10h30, é fácil encon-trar os maronitas residentes na Ci-dade Eterna encaminhando-se, se-guidos por pencas de crianças, pa-ra a igreja de São Maron, contíguaao Colégio, na via Aurora – rua quepassa pelo lado leste do edifício –,onde é celebrada a missa em rito sí-rio-antioqueno, frequentada tam-bém por muitas famílias muçulma-nas. Depois da missa, ficam con-versando em volta do único bancode praça do lado de fora da igreja,ou no jardim interno, enquanto ou-tros preferem frequentar os cursosde língua árabe organizados paraas crianças nascidas na Itália.

Tudo isso acontece ao redor doelegante edifício do bairro Ludovi-si, encaixado entre grandes hotéissuperluxuosos, bancos e lojas paraturistas ricos.

O Colégio Maronita, do qual ossacerdotes estudantes ali residen-tes, todas as manhãs, voam comoum enxame para as PontifíciasUniversidades, representa o eloentre a Santa Sé e a Igreja Maroni-ta, antiquíssima Igreja sui iuris derito sírio-antioqueno, a única entretodas as Igrejas cristãs do OrienteMédio a ostentar desde sempre

plena comunhão com o sucessorde Pedro. Suas origens são estabe-lecidas pela tradição histórica en-tre os séculos IV e V, quando, apósa morte do anacoreta sírio Maron,seus seguidores começaram a edi-ficar mosteiros ao lado de seu tú-mulo, em Apameia, na Síria, àsmargens do rio Oronte.

Mas na via de Porta Pinciananão se encontra apenas o Pontifí-cio Colégio Maronita para sacer-dotes estudantes; essa é tambéma sede da pastoral que se dedicaaos frequentadores da igreja con-tígua de São Maron e da Procura-

doria do Patriarcado Maronita deAntioquia junto à Santa Sé. Insti-tuições que, nos últimos meses,viram-se no centro de um turbi-lhão de acontecimentos: em2010, as celebrações dos mil eseiscentos anos da morte de SãoMaron; depois, a chegada a Ro-ma das relíquias dos grandes san-tos maronitas do século XIX: SãoCharbel Makhlouf, Santa RafkaRayes e São Nimatullah Al-Hardi-ni, cuja devoção vem-se difundin-do amplamente; enfim, em 23 defevereiro passado, a instalação daimagem de São Maron num ni- ¬

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Na sala de ingresso da Cúria Generalícia dos Jesuí-tas, em Roma, é possível admirar um mapa antigo

em que aparecem os primeiros cinco colégios nacio-nais, edificados, ao longo do século XVI, todos nas pro-ximidades do Colégio Romano (a Universidade Grego-riana, na época). Assim, os seminaristas poderiam che-gar rapidamente às aulas: eram o inglês, o alemão-hún-garo, o armênio, o grego e o maronita. Este último, dife-rentemente de todos os outros, era o colégio de umaIgreja sui iuris difundida sobretudo no Líbano e na Síria,com ritos e liturgia derivados da tradição sírio-antioque-na. E que ostentava plena comunhão com Roma, ape-sar da extrema dificuldade de comunicação entre a San-ta Sé e o Oriente Médio.

O contato entre a Santa Sé e a Igreja Maronita foraconsolidado durante as Cruzadas, durante as quais os

exércitos cristãos receberam grande ajuda dos maroni-tas. E uma das consequências do reatamento de rela-ções foi a viagem a Roma do patriarca Jeremias deAmshit, para o Concílio Lateranense IV, em 1215. Nosséculos seguintes, os pontífices enviaram missionáriose visitadores apostólicos ao Líbano para verificar aseventuais problemáticas doutrinais entre os fiéis de SãoMaron. A Igreja Maronita era na época uma Igreja defronteira, fechada entre as montanhas do Líbano e iso-lada não apenas de Roma, mas também do resto domundo, pela necessidade de proteger-se da pressãodos Otomanos.

Um dos resultados mais brilhantes das embaixadaspontifícias no Líbano entre 1578 e 1580 foi justamente afundação do Colégio Maronita em Roma, em 1584, poriniciativa do papa Gregório XIII, que o instituiu com a

Forja de patriarcas, de orientalistas e de futuros santos

A missa dominical em rito sírio-antioqueno na igreja de São Maron, contígua ao colégio

História do Pontifício Colégio Maronita

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cho externo da Basílica de São Pe-dro, na presença de Bento XVI. Is-so sem contar que entre 28 de feve-reiro e 15 de março deu-se tambémo pedido de demissão de sua beati-tude, o cardeal Nasrallah PierreSfeir, depois de vinte e cinco anos àfrente do Patriarcado, e a eleiçãode seu sucessor, Béchara BoutrosRaï, bispo de Jbeil, Byblos dos Ma-ronitas, septuagésimo sétimo pa-triarca maronita de Antioquia. Lo-go após sua eleição, o novo patriar-ca esteve em Roma duas vezes empoucos dias: em 14 de abril, para a

audiência particular com o Papa, eem 1º de maio, para a beatificaçãode João Paulo II.

O Colégio Maronita: um go-mo de cristianismo médio-oriental na Cidade Eterna

“Vivemos um período com umariqueza de acontecimentos como nãonos lembrávamos de ter tido há tem-pos. Estamos todos um pouco confu-sos, mas muito, muito contentes.”Monsenhor Antoine Gebran é procu-rador do Patriarcado há dois anos, ehá alguns meses reitor do Colégio e

capelão dos migrantes adeptos daIgreja sírio-antioquena maronita resi-dentes na diocese de Roma. Compouco mais de quarenta anos, pro-vém, como a maior parte dos sacer-dotes libaneses, do vale de Qadisha,no norte do país, também chamadoVale Santo, pela miríade de mostei-ros encastrados sob os cimos dosmontes. Foi lá, entre os séculos VIII eIX, que encontraram refúgio os segui-dores de São Maron que fugiram daSíria em consequência das constan-tes perseguições por parte de bizanti-nos, monofisistas e muçulmanos.

bula Humana sic ferunt. O objetivo era formar em Romaaspirantes sacerdotes que, de volta a seu país, pode-riam imprimir uma virada decisiva no âmbito das rela-ções entre o papa e o patriarca maronita de Antioquia.Este, por sua vez, deveria promover as relações com to-das as outras Igrejas orientais.

A primeira sede romana, cuja direçãofoi entregue aos jesuítas, foi uma casajunto à igreja de São João de Ficozza, apoucos metros da atual UniversidadeGregoriana e de Fontana de Trevi. Numarua que, depois, assumiria o nome de “viados Maronitas”. Aos quatro primeiros es-tudantes, já em Roma, se juntaram, em31 de janeiro de 1584, outros seis prove-nientes de Alepo, na Síria.

Começaram a chegar a Roma jovensde oito ou nove anos para frequentar osestudos primários, depois os cursos deFilosofia e Teologia. Tendo já aprendidona pátria a gramática das línguas semíti-

cas, esses jovens assimilaram com extrema facilidade olatim, o italiano, o francês e o espanhol. Tanto que se di-fundiu, logo, o ditado “culto como um maronita”. Con-cluídos os estudos, muitos eram chamados às cortesdos soberanos europeus como tradutores e embaixado-

res. Aqueles que voltavam ao Líbano,por sua vez, abriam escolas em todo opaís. Assim, os maronitas que tinham es-tudado em Roma difundiram por toda aEuropa as línguas, a história, as institui-ções e as religiões do Oriente Médio.Ainda graças a eles foram impressos osprimeiros livros litúrgicos em siríaco. Oprimeiro, em Roma, em 1585.

Em 1662, o patriarca Youhanna Mah-louf pediu ao Papa que afastasse os je-suítas da direção do Colégio Maronita,em razão da má gestão financeira e dadispersão das vocações. Daquele mo-mento em diante, o Colégio só teria reito-res maronitas.

Colégios eclesiásticos de Roma

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Acima, Bento XVI com o presidente libanês Michel Suleiman e o cardealNasrallah Pierre Sfeir, por ocasião da inauguração da imagem de São Maroninstalada num nicho externo da Basílica de São Pedro, em 23 de fevereiro de 2011; à direita, a imagem de São Maron no dia da inauguração

O patriarca Estêvão El Douaihy

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O jovem monsenhor, antes deassumir o triplo encargo, foi ecôno-mo do Colégio e trabalhou durantesete anos no Pontifício Instituto pa-ra a Família: “Aqui”, explica, “rece-bemos sacerdotes enviados pelosbispos de todas as eparquias maro-nitas. Mas também aqueles quepertencem a todas as outras Igrejascristãs do Oriente Médio, tanto asque estão em comunhão com Ro-ma quanto as que não estão. Omesmo acontece no Líbano, ondeos maronitas sempre conviveramcom os armênios apostólicos e osarmênios católicos, os greco-orto-doxos e os melquitas, os sírio-orto-doxos e os sírio-católicos, os assí-rios, os coptas, os caldeus e os ca-tólicos de rito latino. Além dos xii-tas, dos sunitas, dos drusos, dos ju-deus e dos protestantes”.

Os sacerdotes chegam a Romajá tendo terminado o primeiro ciclode estudos de Filosofia e Teologianos mais de noventa semináriosdiocesanos e interdiocesanos espa-lhados pelo Líbano. “Graças aDeus temos ainda muitas voca-ções, até mesmo adultas. Tanto as-sim, que foi necessário instituir noLíbano casas de formação especia-lizadas nas vocações maduras”,acrescenta monsenhor Gebran.“Aqui no Colégio hospedamos sa-cerdotes de 26 a 40 anos. São dozelibaneses, dos quais dez maronitase dois greco-católicos. Os outros

nos foram indicados pela Congre-gação para as Igrejas Orientais, quelhes concede bolsas de estudo parase sustentarem em Roma. Atual-mente hospedamos um ortodoxodo Patriarcado de Jerusalém, umassírio e três sírio-católicos do Ira-que e quatro coreanos de rito lati-no. Temos também dois leigos, umfrancês e um italiano. Nos anos an-teriores recebíamos também mui-tos caldeus. Dizemos que os consi-deramos ausentes justificados...”Os momentos em comum são amissa da terça-feira celebrada naigreja de São Maron – oficiada emlíngua italiana, mas de acordo como rito do celebrante da vez – e, dia-riamente, o café da manhã às7h30, o almoço à 13 e o jantar às19. Enquanto o grupo de maroni-tas, nos outros dias, se reúne paraas vésperas e a missa das 18h45numa capela interna do segundoandar do Colégio, todos os outrosse organizam por conta própria.“Na realidade, alguns vêm assistirtambém à nossa missa, com a litur-gia escrita em siríaco, variante doaramaico, e pronunciada em ára-be.” Como muitos de seus colegasdos outros colégios de Roma, os sa-cerdotes do Maronita também sãosolicitados pelas paróquias paraajudar nos fins de semana, no Natale na Páscoa. “Já temos relaciona-mentos estabelecidos com algumasparóquias de Roma, de Milão, de

Parma e de Como, para onde nos-sos sacerdotes vão também duran-te as férias de verão”, explica padreJoseph Sfeir, o ecônomo do Colé-gio Maronita.

Charbel Ghoussoub é sacerdo-te há nove anos e vem da arqui-eparquia de Antélias, pouco dis-tante de Beirute. Está para obter omestrado em Ciências da Forma-ção na Universidade Salesiana.“Vou voltar para o Líbano, pois omeu bispo me chamou de volta; lá,já fui pároco por cinco anos. Pro-vavelmente voltarei a Roma parao doutorado”, conta-nos. “Em Ro-ma respiramos o ar da universa-

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Entre os personagens que deram prestígio ao Ponti-fício Colégio Maronita de Roma destaca-se o patriarcaStefano El Douaihy, hoje encaminhado para a beatifica-ção. No final do século XVII, ele redigiu os Anais, a pri-meira história das origens da Igreja Maronita. Apoiou,ainda, o renascimento das grandes ordens religiosasmaronitas, reinserindo nelas as regras monásticas, ni-veladas aos ordenamentos vigentes no mundo latino,segundo o ensinamento de Santo Antão, o protótipo davida monástica. A ação de El Douaihy foi determinantetambém para a reaproximação entre comunidades cris-tãs orientais ortodoxas e a Santa Sé. Entre outras coi-sas, o primeiro patriarca da Igreja sírio-católica, InácioMiguel III Jarweh, foi aluno do Colégio Maronita.

Um outro gigante do colégio foi José Simão Asse-mani, que, com outros membros de sua família, todauma dinastia de orientalistas, fez a fortuna da Bibliote-ca Apostólica Vaticana. José Simão ali entrou em 1710como escritor. Enviado em 1715 por Clemente XI para oOriente em busca de manuscritos, viajou à Síria e aoEgito, onde conseguiu adquirir quase inteiramente a bi-

blioteca do mosteiro copta de São Macário e parte dado mosteiro dos sírios, na Nitria; levou ainda à Europaos primeiros fragmentos coptas do mosteiro Branco.Em 1717, todos esses manuscritos – conservados hojena Biblioteca Vaticana – foram por ele levados a Roma,onde se dedicou ao estudo dos siríacos, publicando de-pois seus resultados na Bibliotheca Orientalis Clemen-tino-Vaticana. Primeiro guardião da Biblioteca Vatica-na, em 1739, deu início, em colaboração com o sobri-nho, Estêvão Evódio Assemani, à preparação de umcatálogo geral dos manuscritos vaticanos, do qual saí-ram apenas os três primeiros volumes, dedicados aoscódigos hebraicos e siríacos. José Simão Assemani foiprotagonista, como legado pontifício, do Sínodo doMonte Líbano, de 1736, cuja presidência assumiu. Foiainda ele o redator de uma “Carta Constitucional” da

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São Maron no mosaico da igrejacontígua ao colégio

e a ele dedicada

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lidade da Igreja, muitos ritos, mui-ta riqueza. Só aqui entendemos oquanto a Igreja é grande. E leva-mos essa consciência para o Líba-no, onde o espaço físico e mentalem que atuamos normalmente éseminário e paróquia, paróquia eseminário, dentro de uma proble-mática toda libanesa. É importan-te estudar em Roma também paradar a entender aos outros o que é aIgreja Maronita. Vários colegas,na Universidade, me perguntaramse meus pais ainda eram muçul-manos e quando foi que eu meconverti ao cristianismo...” Temosainda Autoun Charbel, doutoran-do em Direito Canônico, já mestreem Teologia e com experiênciamissionária na Nigéria, onde tra-balhou por anos numa paróquiapessoal. Perguntamos a ele se en-

tre os sacerdotes maronitas maisjovens há esperança de que o Lí-bano ultrapasse o sistema do “co-munitarismo” religioso, julgadopor muitos historiadores libanesescomo o maior obstáculo ao plenodesenvolvimento e à plena demo-cracia do País dos Cedros. “Porora é só um ideal um tanto distan-te, complicado de alcançar: vive-mos ainda o tempo das comunida-des religiosas, porque, por ora,não temos outro sistema além des-se. Basta pensar que não existeuma só história do Líbano, mastantas histórias quanto são as co-munidades religiosas, ou seja, de-zessete. Mas neste momento esta-mos muito otimistas com a nomea-ção do novo patriarca: ele certa-mente será capaz ao menos de pa-cificar os ânimos em nosso país”.

“Seria bom que o Colégio Ma-ronita pudesse, de maneira cadavez mais evidente, fazer sua partenum momento tão delicado para oOriente Médio: ou seja, recuperaro papel de intercâmbio cultural,religioso e político que teve a par-tir do século XVI”, diz ainda o rei-tor, monsenhor Gebran. “Esteano festejamos também os onzeanos da reabertura do Colégio,ocorrida em 2001, depois da lon-ga interrupção iniciada com a Se-gunda Guerra Mundial. Nos lon-gos, terríveis anos da guerra civilno Líbano, os nossos sacerdotescontinuaram a vir a Roma, alojan-do-se aqui e ali, sobretudo em Pro-paganda Fide e no Colégio Capra-nica. Graças ao trabalho intenso einteligente de meu antecessor,monsenhor Hanna Alwan, o Co-

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Igreja Maronita. O documento, fortemente impregnadode normas latinizantes e no início um tanto contestado,por ter sido julgado danoso para a antiga disciplina anti-oquena, foi ao final aprovado: a Igreja Maronita viveriadessa legislação até a promulgação do Código de Di-reito Canônico Oriental, em 1991.

A vida do Colégio Maronita se interrompeu em 1º de mar-ço de 1798, quando as tropas francesas quehaviam ocupado Roma requisitaram o edifí-cio, obrigando os estudantes a refugiarem-se na Congregação de Propaganda Fide.

Em 1891, papa Leão XIII, com a bulaOlim sapienter, decidiu reabrir o colégio,doando aos maronitas metade da somanecessária para a aquisição de um edifí-cio na via de Porta Pinciana. Alguns anosdepois, em 3 de julho de 1895, foi adquiri-do um terreno entre a via de Porta Pincia-na e a via Aurora, para ali construir o colé-gio definitivo e a igreja de São Maron. Oprotagonista da reabertura foi o bispo

Elias Boutros Hoyek, que se tornou patriarca em 1899.Para reativar a casa de formação sacerdotal de Roma,ele pediu ajuda aos franceses, ao sultão turco e ao impe-rador da Áustria, Francisco José. Este último negou-lhesomas em dinheiro, mas em troca concedeu aos semi-naristas maronitas a hospitalidade na Villa dʼEste, em Tí-voli, perto de Roma, para as férias de verão. Depois de

ter obtido a permissão de Roma, o bispomaronita abriu outro colégio em Paris. Foi,entre outras coisas, também o fundadorda congregação das Irmãs da SagradaFamília, e conseguiu criar uma eparquiano Egito. Morreu em 1931 em odor desantidade e atualmente está em anda-mento a causa de sua beatificação.

Infelizmente, por falta de estudantes,em 1906 o colégio voltou a fechar as por-tas. E só foi reabri-las em 1920. A tranqui-lidade durou até 1939, quando, em vistado início iminente do segundo conflitomundial, ocorreu mais um fechamento.

Acima, um altar da igreja do colégio com alguns relicários; à esquerda, uma pintura representando Charbel Makhlouf, Rafka Rayes e Nimatullah Al-Hardini, os três grandes santos maronitas do século XIX, conservada na igreja do colégio

José Simão Assemani

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légio, logo depois do Jubileu de2000, pôde finalmente retomarseu caminho”. Transparece, naspalavras de monsenhor Gebran,também um pouco de lamento pe-los muitos tesouros perdidos aolongo dos anos: “Centenas de li-vros preciosíssimos já não estãoaqui. Muitos tomaram o caminhoda biblioteca do Pontifício Institu-to Oriental. Para mim foi um gol-pe no coração, quando eu estuda-va para o doutorado em CiênciasEclesiásticas Orientais no Institu-to, ver em minhas mãos um livrocom o carimbo do Pontifício Colé-gio Maronita. Mas por muito tem-po tivemos reitores jesuítas...”.

Na arcada da entrada do edifí-cio, um afresco de cores muito vi-vas representa a Coroação de Nos-sa Senhora, aos pés da qual estádisposta uma inscrição em siríacoem louvor à Virgem. “A Coroaçãonão corresponde à nossa iconogra-fia tradicional”, explica-nos padreJoseph Sfeir. “Essa imagem se ins-pira na do santuário de Qannoubi-ne, no vale de Qadisha, sede dospatriarcas do século XV ao XIX,um dos santuários mais veneradosdo Líbano e o mais antigo do ValeSanto”. Bem debaixo do afrescofoi posta, sobre um balcão, umapequena reprodução da imagemde São Maron instalada em 23 defevereiro passado num nicho exter-no da Basílica de São Pedro. “O

justo florescerá, crescerá como ocedro do Líbano”, reza, em aramai-co, o salmo inscrito na estola do paida Igreja Maronita. Seguindo na di-reção de um amplo salão, vemos,ao fundo, o trono do patriarca, on-de evidentemente Sua Beatitudesentou-se por ocasião de suas visi-tas à Cidade Eterna.

Nas paredes desfilam os retra-tos dos patriarcas e dos persona-gens mais significativos da históriamaronita, todos ex-alunos do Co-légio: o servo de Deus sua beatitu-

de Estêvão El Douaihy, pai da his-toriografia maronita e promotor epatrocinador das grandes ordensreligiosas, já encaminhado para abeatificação; José Simão Assema-ni, que viveu entre os séculos XVIIe XVIII, o mais prestigioso repre-sentante da dinastia de orientalis-tas Assemani que formaram o te-souro da Biblioteca Apostólica Va-ticana, com os milhares de volu-mes da patrística oriental levadosa Roma; e ainda Nasrallah PierreSfeir, líder da Igreja Maronita

Apesar dos problemas do colégio, a Procuradoria doPatriarcado de Antioquia continuou ativa; o procuradorcontinuou a morar na primeira casa adquirida na via dePorta Pinciana, em 1891.

De 1939 a 1980, o edifício foi alugado e foi transfor-mado em hotel. Voltou definitivamente à atividade em15 de setembro de 2001, logo depois do Jubileu, gra-ças principalmente ao bispo Emilio Eid, procurador ge-ral do Patriarcado dos Maronitas de 1958 a 2003. Quedevido a sua perseveraça e grande força de caráter,fez com que o glorioso Colégio Maronita retomasse asua atividade. Nos dez anos que seguiram, foi elequem cuidou da restauração do Colégio, conseguindosuperar não poucas dificuldades burocráticas e legais.É considerado um dos personagens mais significativosda Igreja Maronita do século XX graças tanto à sua ca-pacidade de manter sempre viva e fecunda as relaçõesentre a Igreja Maronita a Santa Sé; quanto pela sua

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O procurador, monsenhor Elias Boutros Hoyek, futuro patriarcade Antioquia dos Maronitas, no centro na foto na primeira fila,e o reitor do Colégio, padre Gabriel Moubarak, o terceiro a partir da direita na primeira fila, com alguns estudantes do colégio, numa foto de 1893

Bento XVI e o novo patriarca de Antioquia dos Maronitas, sua beatitude BécharaBoutros Raï, com a delegação de bispos e fiéis que o acompanharam a Roma depoisda concessão da ecclesiastica communio (dada em 24 de março de 2011), Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, em 14 de abril de 2011

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durante vinte e cinco anos – al-guns dos anos politicamente maisdramáticos para o País dos Cedros–, e Béchara Boutros Raï, o novopatriarca. “Um grande pastor, quejá demonstrou com ações concre-tas que quer pacificar os ânimosno país”, diz o reitor. “Ele, porexemplo, logo depois da eleição,fez questão de reunir todos os re-presentantes das forças políticaslibanesas. Inclusive o Hezbollah,um partido composto de libanesescomo nós, que, certamente, nãovieram de fora para nos ocupar,mas foram capazes de defender oterritório na última guerra com Is-rael, em 2006.”

A propósito do papel de ligaçãoentre Igreja de Roma e Igreja Maro-nita, perguntamos se o Colégio fa-voreceu, paradoxalmente, a latini-zação do antigo rito sírio-antioque-no, considerando que nos séculoXVII e XVIII foram enviadas ordensreligiosas ocidentais para controlara doutrina e a liturgia dos discípulosde São Maron. “É claro que, sendoa única Igreja do Oriente Médiosempre em comunhão com Roma,tivemos logo uma certa assimila-ção”, explica o reitor; “isso ocorreu,porém, mais no plano externo, co-mo, por exemplo, nos paramentoslitúrgicos, que no plano da substân-cia. Adotamos a casula e a planeta.

Mas preservamos a nossa liturgia sí-rio-antioquena”. Padre JosephSfeir tem uma opinião ligeiramentediferente: “Não devemos crucificarninguém, pelo amor de Deus, masos legados papais revisaram um porum os nossos textos litúrgicos. E tu-do o que, na opinião deles, não es-tava bastante em linha com a litur-gia latina foi queimado, destruído”.

Voltando ao presente, pedimosao reitor, enfim, um juízo sobreuma questão que muitos maroni-tas consideram o problema dosproblemas: a emigração dos ma-ronitas do Líbano em consequên-cia da instabilidade política e daexplosão demográfica dos muçul-manos. “Negar que isso estejaacontecendo seria tolo”, respon-de. “Mas devemos dizer tambémque muitos maronitas estão vol-tando. E que também muitos mu-çulmanos estão indo embora. Maso destino da Igreja Maronita estánas mãos de Nosso Senhor: elenos conservou por mil e seiscen-tos anos. Se ainda nos quiser lá, fi-caremos. O que mais posso dizer?Seja feita a Sua vontade.” q

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enorme cultura teológica. Além de monsenhor Eid, a res-tauração do colégio, foi também obra de monsenhorHanna Alwan, reitor por dez anos. Alwan é juiz do Tribu-nal da Rota Romana, docente in utroque iure nas Univer-sidades Pontifícias e responsável europeu da Congre-gação dos Missionários Libaneses, uma ordem de direi-

to patriarcal. Enfim, é postulador para a beatificação dopatriarca Elias Boutros Hoyek. Com o apoio da Congre-gação para as Igrejas Orientais, monsenhor Alwan fezvoltarem ao colégio de via de Porta Pinciana todos os es-tudantes maronitas espalhados por outros estabeleci-mentos eclesiásticos, hospedando também os sacerdo-tes pertencentesàs outras Igrejasorientais.

P. B.

Acima, monsenhorAntoine Gebran, atualreitor do colégio; à esquerda, o salão do colégio, com o trono do patriarca

Papa Pio X com o patriarca Elias Boutros Hoyek, o quinto a partir da esquerda, em 23 de julho de 1905 Papa Pio XI recebe

em audiência o patriarca sírio

de Antioquia InácioGabriel I Tappouni,

sentado à direita do Pontífice, em 15de agosto de 1929

Colégios eclesiásticos de Roma

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A lém do Colégio Pontifício,Roma hospeda um conjun-to de procuradorias e colé-

gios sacerdotais das ordens maro-nitas mais significativas.

A Ordem Libanesa Maronitaocupa um pequeno convento pou-co distante da Pirâmide de Céstio,ao lado da paróquia dedicada aSanta Marcela, uma nobre romanaque, por uma curiosa analogiacom os monges maronitas, seguiu,no século IV, a regra de Santo An-tão com seus amigos.

Na Colina Ópio, diante da Ba-sílica de São Pedro in Vincoli, adois passos do Coliseu, fica oconvento de Santo Antão, a sede

dos Maronitas Mariamitas daBem-Aventurada Virgem Maria.Estão lá deste 1753, depois deter deixado a casa e a igreja dosSantos Marcelino e Pedro, na viaLabicana. E, ainda, entre a viaPortuense e o bairro do Trullo, es-tá o colégio sacerdotal da OrdemAntoniana Maronita, de SantoIsaías. Por último, os padres daOrdem Missionária Libanesa Ma-ronita que estudam e trabalhamem Roma se hospedam em váriosinstitutos eclesiásticos. Por ser dedireito patriarcal e não pontifício,como as outras, a Ordem Missio-nária não tem uma casa generalí-cia em Roma.

No final do século XVII, a OrdemLibanesa Maronita e a Maronita daBem-Aventurada Virgem Mariaconstituíam uma única realidade, aOrdem Alepina Libanesa, fundadaem 10 de novembro de 1695 portrês jovens sírios de Alepo, GabrielHawwa, Abdallah Qara’li e JosephEl-Betn, que estabeleceram sua mo-rada no mosteiro de Nossa Senhorade Qannoubine, no vale de Qadis-ha, norte do Líbano.

Em Roma, a Ordem Alepina, jáem 1707, obteve de Clemente XI aigreja dos Santos Marcelino e Pe-dro, na via Labicana, também gra-ças ao bom êxito de uma missãoconfiada pelo Papa a Gabriel

Resenha das casas religiosas maronitas em Roma. Algumas hospedamseminaristas, outras, sacerdotes estudantes, e há, ainda, quem tenhatransformado seu convento em santuário dedicado aos grandes santosmaronitas

por Pina Baglioni

O arquipélago maronita

Panorâmica dos tetos e das cúpulas de Roma vistos do terraço do convento de Santo Antão, na Colina Ópio; à direita, a fachada do convento na praça deSan Pietro in Vincoli

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Hawwa, que reconduziu à obe-diência a Roma um bispo copta.Enquanto isso, no Líbano, houvetamanha afluência de jovens pro-venientes de Damasco, Jerusalém,Sídon e de muitas cidades do Egi-to, que se fez necessária a mudan-ça para o mosteiro mais amplo deSaint Elysées, em Becharre, e afundação de outros mosteiros mes-mo fora do País dos Cedros.

Quem se dedicou de modo deci-sivo à redação das regras, que to-mavam vagamente por base as deSanto Antão mas eram demasia-damente niveladas às das ordenslatinas, foi o patriarca Estêvão ElDouaihy, grande promotor da or-dem. Essas regras seriam definiti-vamente aprovadas em 31 de mar-ço de 1732, por Clemente XII.

Profundamente ligados à vidacamponesa, esses monges com-partilhavam a dureza dessa exis-tência. Fora do Líbano, esses mon-

ges sempre receberam do patriar-ca a responsabilidade pela diáspo-ra libanesa no Egito, na Europa eno Novo Mundo. A Igreja maroni-ta, toda concentrada entre as mon-tanhas do Líbano, deve a eles oinabalável apego do povo ao cris-tianismo, à terra e ao papado. Esobretudo a instrução dos campo-neses e dos mais pobres: as escolasdos vilarejos geralmente surgiamem torno dos conventos e das igre-jas paroquiais.

Com o passar do tempo, po-rém, apareceram dentro da ordemsérios conflitos que determinaramo nascimento de duas correntes:

uma afirmava que o cargo de supe-rior geral deveria ser vitalício e quea ordem tinha de assumir carátermissionário; a outra defendia que ocargo tivesse duração limitada eque a ordem mantivesse integral-mente a vida contemplativa.

As divergências não foram sa-nadas. Tanto que, em 19 de julhode 1770, levaram ao nascimentode dois ramos distintos: a OrdemAntoniana Alepina dos Maronitas,de caráter missionário, e a OrdemLibanesa Maronita, de vocaçãocontemplativa. Cada uma comseus membros, seus conventos esuas posses. Em 1969, a Alepinatomou o nome de Ordem Maroni-ta Mariamita da Bem-AventuradaMaria Virgem.

Em Roma, a divisão da ordemlevou os alepinos a ficarem nosSantos Marcelino e Pedro, paradepois mudar-se para a sede dapraça San Pietro in Vincoli; já a or-dem Libanesa Maronita mudou-separa Chipre, para assistir espiri-tualmente os maronitas que viviamna ilha. A presença dos maronitasem Chipre vinha do século XI,quando, depois da fuga da Síria emrazão das perseguições, uma pe-quena parte dos maronitas se refu-giara ali, enquanto a maior partedos fugitivos encontrou abrigo nasmontanhas do Líbano.

A ordem do Patriarca:os Maronitas da Bem-Aventurada Maria VirgemA dois passos do Coliseu fica oconvento de Santo Antão, sede da

À esquerda, os antigostextos conservados na ricabiblioteca do convento;acima, o servo de Deuspadre Antonios Tarabay:está em andamento suacausa de beatificação

Acima, a capela do convento de Santo Antão, sede da Ordem Maronita Mariamita da Bem-Aventurada Maria Virgem; à direita, um retrato de Santa Teresinha do Menino Jesus no salão de entrada

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Procuradoria da Ordem MaronitaMariamita da Bem-AventuradaMaria Virgem e do colégio de for-mação sacerdotal. Quando fomosencontrá-los, encontramos os pa-dres mariamitas num estado degrande euforia: sua beatitude Bé-chara Boutros Raï, o patriarca re-cém-eleito, pertence a sua or-dem. “A escolha, na minha opi-nião, vem do Espírito Santo. É elea pessoa certa para cada libanês,cristão ou não, e para a IgrejaMaronita, graças à sua inteligên-cia, ao seu carisma e à capacida-de de dialogar com todos”, dizpadre François Nasr, ecônomo epostulador da Ordem, que nesteperíodo vem-se ocupando doprocesso do servo de Deus padreAntonios Tarabay. “Em sua vidasacerdotal, esse religioso esteveencarregado da orientação espi-ritual das Irmãs de São João Ba-tista no Líbano. Grande devotodo Santíssimo Sacramento, prati-cou a ascese e a contemplação.Enviado, depois, ao mosteiro deQannoubine, no Vale Santo, vi-veu em perfeita e completa uniãocom Jesus Cristo. Contraiu emseguida uma grave doença, quedurou vinte e sete anos; suportouheroicamente a sua condição: eleencarna o carisma da nossa or-dem, ou seja, uma síntese perfei-ta entre vida missionária mergu-lhada na realidade de todos osdias e vida mística feita de renún-cia, oração e contemplação”.

Um caso quase mais único queraro, o colégio ainda hospeda se-minaristas que vão para Roma de-pois de já ter frequentado o biêniode Filosofia no Líbano: “Até al-gum tempo atrás, os nossos estu-dantes também podiam frequen-tar o biênio em Roma. Acolhe-mos, além disso, bispos e peregri-nos de todas as partes do mun-do”. Em Roma, eles fazem o triê-nio de Teologia e depois os estu-dos especializados, como Teolo-gia Espiritual, Direito Canônico,Ciências Humanas. E Mariologia,“também pela nossa denomina-

ção, adotada durante o ConcílioVaticano II, graças à insistência depadre Genadios Mourani (nossoconfrade conhecido por sua grandeespiritualidade, morto num atenta-do terrorista no Líbano em 1959),que desejava mais do que qualquercoisa pôr a nossa ordem sob a pro-teção de Nossa Senhora”.

No Líbano, esses estudantes se-rão reitores dos vários campus uni-versitários da ordem, que hoje con-tam seis mil inscritos. Ou diretoresdas escolas, frequentadas por setemil estudantes. Ou, ainda, reitoresdos seminários, ou párocos. “Nos-so colégio de Roma sempre foi lu-gar de acolhida dos libaneses ma-ronitas, de estudantes de outrasIgrejas cristãs. No domingo de ma-nhã, muitos vêm assistir à missaem nossa capela, atraídos pela an-tiga liturgia sírio-antioquena”.

O convento-colégio ostentauma biblioteca rica em textos sa-cros do século XIII. Entre estes,muitos livros de literatura árabe.No salão de entrada, padre Fran-çois aponta para um retrato deSanta Teresinha do Menino Je-sus. “No Líbano, é imensa a devo-ção a ela: o primeiro mosteiro quelhe foi dedicado, depois da cano-nização, foi um mosteiro masculi-no mariamita, pois o superior ge-ral da ordem, que tinha assistido àcerimônia no Vaticano, ficara im-pressionado com sua vida exem-plar. Neste momento suas relí-quias estão visitando a Palestina.E Santa Teresinha, pelo que medizem, está fazendo grandes coi-sas por aqueles lados”.

A Ordem Libanesa Maronita,forja de santosA Ordem Libanesa Maronita,mesmo dependendo da Santa Sé,teve muito tarde uma Procurado-ria em Roma. “Nós sempre tive-mos um grande desejo de vir a Ro-ma. Mas adiávamos sempre, por-que estávamos convencidos deque a presença dos mariamitas naCidade Eterna era suficiente”, ex-plica padre Elias Al Jamhoury,postulador das causas dos santosda ordem e procurador-geral emRoma. Quem “levou” a Roma es-ses monges foi a causa de beatifi-cação de São Charbel Makhlouf,canonizado por Paulo VI em 9 deoutubro de 1977. Aconteceu hásessenta anos, quando se fez ne-cessária a presença de um postu-lador que pudesse acompanhar acausa de Charbel, nascido emBkaakafra, no norte do Líbano,em 1828 e falecido em 1898. To-do o Líbano e os maronitas domundo inteiro são imensamentedevotos desse monge, graças àabundância de milagres concedi-dos por sua intercessão.

“São Charbel é como o cedrono Líbano: já faz parte do nossopaís. Todo maronita, por uma coi-sa ou outra, tem ligação com ele.Mas seus devotos já se espalhampelo mundo todo. É um pouco co-mo o seu Padre Pio”, confirmamdois jovens monges do convento.Ambos, por coincidência, se cha-mam Charbel. Um é doutorandoem Arqueologia Cristã, o outro emCiências Bíblicas. Moram estavel-mente no Colégio da Universida-

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A entrada do convento da Ordem Libanesa Maronita, com a

imagem de São Charbel Makhlouf,canonizado em 1977 por Paulo VI

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de Santo Anselmo com os outrosquatro membros da ordem pre-sentes em Roma para os estudosde especialização. Quando os es-tudos permitem, os dois Charbeldão uma ajuda a padre Elias. Atéporque o convento recebe, há al-gum tempo, telefonemas, cartas evisitas de toda a Itália para pedirgraças a São Charbel e aos outrosdois santos da ordem: Santa Raf-ka Rayes, uma monja canonizadaem 2001, e Nimatullah Al-Hardi-ni, grande teólogo, feito santo em2004. A eles, logo, poderá seracrescentado um quarto: o fradeEstephan Nehmé, beatificado em27 de junho de 2010.

A capelinha adjacente ao con-vento situado perto da Pirâmidede Céstio hospeda as relíquias dos

três santos, e tornou-se a meta deum grande número de pessoas deRoma e de fora que vêm para visi-tar esse lugar e pedir graças.“Uma coisa impensável! Nossa in-tenção – obviamente se a Congre-gação para as Igrejas Orientaispermitir – é transformar este lugarnum verdadeiro santuário dedica-do a São Charbel: o fluxo de pere-grinos não para nunca”, acrescen-ta padre Elias. “São Charbel co-meçou a fazer milagres no dia se-guinte a sua morte. A causa, as-sim, se iniciou já em 1926. NoAno Santo de 1950, foram trintamil milagres. Ele fazia um par espi-ritual com os milagres de NossaSenhora de Lourdes. Naquela al-tura, em 1951, decidimos que jánão era o caso de esperar, e final-mente viemos para Roma”.

Os Antonianos de Santo Isaías e a amizade com o povo drusoA Ordem Antoniana Maronita deSanto Isaías possui, entre suas an-tigas vocações, uma que se está re-velando extremamente atual, dadaa época que vivemos: o diálogo e aacolhida das outras religiões.

“Tudo começou com o bispoGebraël Blouzani, futuro patriarcada Igreja maronita, que, em 1673,decidiu fundar o mosteiro de Nos-sa Senhora em Tamiche, no nortedo Líbano, tornando-o sede de seuepiscopado”, conta padre MagedMaroun. “Depois de ter educadomuitos jovens às regras da vidamonástica oriental, ele os envioupara edificar o mosteiro de SantoIsaías em Broumana, no topo de

uma colina conhecida como‘Aramta’. Lá, no dia da festa da As-sunção de 1700, foi celebrada aprimeira missa. A região era habi-tada principalmente por drusos,um povo que fugiu do Egito e se-guia uma religião de derivação mu-çulmana, nem xiita nem sunita.Haviam-se estabelecido nas mon-tanhas libanesas em 1300 – cercade quinhentos anos depois dos ma-ronitas – para escapar das perse-guições dos sunitas. O emir Abdul-lah Abillamah, chefe dos drusos daregião, acolheu de tão bom gradoa chegada dos monges, que deci-diu, com outros emires da região,manter seus filhos estudando comos monges antonianos. Muitos de-les pediram o batismo. Tambémpor tudo isso, papa Clemente XIIaprovou a nossa ordem com a bula

Misericordiarum Pater, em 17 dejaneiro de 1740”.

Voltando aos dias de hoje, os jo-vens aspirantes ao sacerdócio fa-zem o noviciado no famoso mostei-ro de Santo Isaías, no Líbano, con-siderado casa-mãe da Ordem Anto-niana Maronita. A chegada a Romadeu-se em 1906, com um primeiroseminário no Gianicolo. Depois,em 1958, na via Boccea. E, enfim,em 1998, na via Affogalasino, en-tre os bairros Portuense e Trullo.

“Hoje são sete os sacerdotes queestudam em Roma, especializando-se em Música Sacra e Direito Canô-nico”, explica padre Maged. “Massobretudo em Ciências EclesiásticasOrientais e no Diálogo Islâmico-Cristão no Pontifício Instituto Orien-tal e no Pontifício Instituto de Estu-

dos Árabes e de Islamística. Além doestudo, vão trabalhar nas paróquiasda região, visitar os doentes. Duran-te a Páscoa, por exemplo, foramabençoar as casas dos moradores dobairro”. De volta ao Líbano, serãofuturos educadores nas escolas e nostrês campus universitários da or-dem. Ou párocos no Líbano e entreos maronitas da diáspora. “Fiéis àvocação das origens, deverão ser ca-da vez mais um canal de comunica-ção com todos, cristãos e não cris-tãos. Como indicam também osnossos novos estatutos e a nossa his-tória”, conclui o religioso.

Os Missionários do PatriarcaEspalhados por vários institutoseclesiásticos de Roma, os sacerdo-

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Colégios eclesiásticos de Roma

À esquerda, a entrada do conventodos padres da OrdemLibanesa Maronita,com uma urna que contém algunsrelicários; à direita, a pequenacapela adjacente ao convento em que são veneradas as relíquias dos santos libaneses

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tes da Congregação dos Missioná-rios Libaneses constituem um ins-tituto religioso masculino de direi-to patriarcal. São também chama-dos Kreimistas, pois sua fundaçãoaconteceu em 22 de maio de1884 no mosteiro de Kreim, emGhosta, no Monte Líbano, porobra de Youhanna Habib, um sa-cerdote da eparquia de Baalbek,com a finalidade de educar a ju-ventude maronita e anunciar oEvangelho também aos não cren-tes. Uma das características deseus membros é jurar não ambi-cionar os graus eclesiásticos.Além do Líbano, os MissionáriosLibaneses são ativos nas comuni-dades maronitas do Brasil, da Ar-gentina, da África do Sul, dos Es-tados Unidos e da Austrália.

“Nós mandamos os nossos sa-cerdotes para estudar diretamentenas terras de missão. Assim, aomesmo tempo, começam a assistiros maronitas na diáspora. Vêm aRoma apenas aqueles que têm de seespecializar em disciplinas que sósão estudadas aqui, como TeologiaDogmática, Direito Canônico e osestudos bíblicos”. Monsenhor Han-na Alwan, que já encontramos nopapel de reitor emérito do Pontifí-cio Colégio Maronita, é também,entre muitas outras coisas, o res-ponsável europeu da Congregaçãodos Missionários Libaneses Maroni-tas. Ele também vem do norte do Lí-bano, o berço da Igreja de São Ma-ron. E entrou para a Congregaçãoaos dezesseis anos, com o irmãogêmeo. “Os maronitas se estabele-ceram ao norte, depois de ter saído

da Síria, para fugir dos bizantinos,primeiro, e dos muçulmanos, de-pois. E a escolha foi no mínimo sá-bia: quando chegaram ao Líbano,os turcos pararam na costa e nas ci-dades do sul, pois temiam tremen-damente as montanhas. Portanto,os maronitas ficaram a salvo.”

O fundador da Congregaçãodos Missionários Libaneses Maro-nitas, Youhanna Habib, foi, no fi-nal do século XIX, um juiz do impé-rio turco. Seus funcionários, quan-do perceberam que fazer os maro-nitas seguirem as leis islâmicas eraum tanto difícil, dispuseram um tri-bunal para eles e outro para os mu-çulmanos, de modo que as causasnão fossem acabar todas no tribu-nal de Istambul. Habib foi escolhi-do como juiz dos maronitas. Mas,

tendo caído em desgraça perante oemir, deixou o tribunal para fazer-se jesuíta. O patriarca não permi-tiu. Ordenou-o sacerdote, convo-cou outros padres e mandou-osem missão. Eram tempos de emi-gração para os maronitas. Eles iampara as Américas. E o patriarca te-mia fortemente que, chegando nanova terra, perdessem a fé.

Depois Youhanna Habib foi no-meado bispo. E, morto o patriar-ca, o Sínodo o escolheu como su-cessor. Mas ele recusou, e em seulugar, em 1899, foi escolhido, porsua proposta, um amigo: EliasBoutros Hoyek, um bispo que, em1890, tinha ido para Roma adqui-rir o terreno para construir o Ponti-fício Colégio Maronita.

Além de tudo isso, Hoyek fun-dou também a Congregação da

Sagrada Família, religiosas quetêm como missão principal a fa-mília, por meio da educação dascrianças e da assistência aos páro-cos na pastoral familiar. A Con-gregação da Sagrada Família é es-piritualmente guiada pela Con-gregação dos Missionários Liba-neses Maronitas.

“Uma característica dos missio-nários libaneses é a grande aplica-ção ao estudo. Um pouco comoos jesuítas”, acrescenta, com cer-to orgulho, monsenhor Alwan.No final, lhe perguntamos se seusmissionários terão, no futuro, umtrabalho cada vez mais pesado,considerando a emigração cons-tante dos maronitas. E o que deve-ria fazer a Santa Sé: “O interessede Roma aumentou quando per-

ceberam que a onda de assalto dosmuçulmanos estava-se tornandoforte demais, tanto no Líbano co-mo nas outras Igrejas do OrienteMédio. Enfim, quando estudaramos números, se deram conta. O Sí-nodo das Igrejas Orientais celebra-do em outubro passado foi impor-tante. Se não por outros motivos,pelo menos porque a imprensa domundo inteiro falou do estado dascoisas. Estamos todos à espera daexortação de Bento XVI. Não éimpossível que o que está aconte-cendo no Oriente Médio e no Nor-te da África traga boas consequên-cias. Estou convicto de que essesjovens que vimos nas praças que-rem liberdade e trabalho. E é justo.E estou certo de que esse anseiopela democracia possa favorecertambém os cristãos”. q

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À esquerda, uma missa na capela da comunidade da Ordem Antoniana Maronita de Santo Isaías; acima, a comunidade, com o patriarca Sfeir; à direita, MonsenhorHanna Alwan, responsável europeu pela Congregação dos Missionários Libaneses

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por Lorenzo Cappelletti

Republicamos um belo artigo de Massimo Borghesi de fevereiro de 2003,“O pacto com a Serpente”, na trilha de acontecimentos de repercussãonacional e internacional em que o que impressiona não é só a perversi-

dade das ações, mas também o fato de quase parecerem exceder a liberdadehumana e de haver aí uma odiosa ligação com a religião cristã. Como ensina ahistória da Igreja antiga e recente, o ódio à fé cristã, dentro e fora da Igreja,sempre foi produzido por um anseio e um frenesi alimentados de símbolos ecrenças religiosas.

Pensando nisso, relembramos uma das últimas audiências particulares queDom Giussani teve com o papa João Paulo II, no início da década de 1990, eque ele mesmo contou assim: quando o Papa lhe dizia que o agnosticismo, sin-tetizado na fórmula “Deus, se existe, não tem que ver com a vida”, era o maiorde todos os perigos que a fé pode correr – coisa que o próprio Dom Giussani ti-nha ensinado diversas vezes –, Giussani respondia com a liberdade dos filhosde Deus (que é uma das expressões humanamente mais fascinantes da fé):“Não, Santidade, não é o agnosticismo; o gnosticismo, este sim, é que é o peri-go para a fé cristã!”.

Passados vinte anos, podemos nos dar conta do quanto foi antecipadoraessa guinada de Dom Giussani. Guinada que pode ser exemplificada tambémpor uma entrevista, concedida em abril de 1992, em que o mesmo Giussani fa-la da perseguição àqueles “que se movem na simplicidade da Tradição”.Quando o entrevistador lhe pergunta se ele se referia a uma perseguição defato, Dom Giussani responde: “Isso mesmo. A ira do mundo, hoje, não se er-gue diante da palavra Igreja, fica quieta até diante da ideia de alguém se dizercatólico, ou diante da figura do Papa como autoridade moral. Aliás, existeuma reverência formal e até sincera. O ódio explode – mal se contém, e logotransbordará – diante de católicos que se apresentam como tais, católicos

Introdução

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que se movem na simplicidade da Tradição” (Giussani,Luigi. Un avvenimento di vita, cioè una storia – introdu-ção do cardeal Joseph Ratzinger. Ed. Il Sabato, Roma,1993, p. 104).

Numa de suas últimas publicações antes de ser elei-to sucessor de Pedro (Fé, verdade, tolerância.O cristianismo e as grandes religiões domundo, coletânea elaborada em junhode 2003, reunindo artigos do cardeal Rat-zinger sobre o tema), Joseph Ratzingerobservava nas páginas de interlúdio acres-centadas especialmente para a edição: “Omal não é um lado do todo, do qual carece-mos – como queria Hegel, e como Goethequis mostrar no Fausto – mas a destruição doser. O mal não se pode apresentar, assim co-mo o Mefistófeles do Fausto, com as palavras:sou ‘uma parte daquela força que sempre quero mal e sempre cria o bem’” (Trad. SivarHoeppner Ferreira. São Paulo: Instituto Brasi-leiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio”[Ramon Llull], 2007, p. 48).

Mesmo sendo muito erudito e rico emcitações, o artigo de Borghesi pode ser li-do de um só fôlego. Possui uma estruturamuito simples, evidenciada pelos títulos das se-ções, que mostram, primeiro, o crescimento do fascí-nio do mal na era contemporânea, cada vez mais vistocomo a energia libertadora do homem; depois, a suaoposição prometeica ao Deus bom e misericordioso; e,enfim, o fato de ser concebido não em oposição, mas co-mo princípio interno ao próprio Deus, exatamente comoquerem as mais sutis e perversas fábulas gnósticas.

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Novavetera

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Così don Luigi Giussani a Giovanni Paolo II

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«Non l’agnosticismo, ma lo gnosticismo

è il pericolo per la fede cristiana»

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ANNO XXIX N.4/5 - 2011 - €5

In allegato I CANTI DELLA TRADIZIONE

nella Chiesa e nel mondo Diretto da Giulio Andreotti

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A Serpente, o tentador, aparece nas vestes do libertador, daqueleque eleva o homem para além do bem e do mal, para além da “lei”,para além do Deus antigo, inimigo da liberdade. Os últimosduzentos anos vêm redescobrindo o princípio libertador do mundo afirmado pela seita dos Ofitas, princípio vislumbradopela concepção sabatiana, com seu Messias entregue às serpentes

por Massimo Borghesi

O pacto com a SerpenteWilliam Blake (1757-1827), Eloim cria Adão, detalhe, aquarela e encáustica, Londres, Tate Gallery

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Os Ofitas: a Serpente como libertadorHá mais de dois séculos a cultura ocidental se comprazdo mal, abranda-o, justifica-o. O negativo é fonte devertigens, do delírio da onipotência, de emoções in-confessáveis; ilumina com clarões avermelhados as ve-redas proibidas, os abismos da noite, os picos congela-dos. Suas cores tingem o peculiar titanismo moderno,o desafio provocador que este lança ao Eterno. Se oFausto antigo, o de Marlowe, se arrepende na hora damorte, o posterior vive do ultraje, anseia pela dissolu-ção. O pacto com a Serpente, título dado por MarioPraz a um de seus últimos livros1, hoje se torna estável.A Serpente, o tentador, aparece nas vestes do liberta-dor, daquele que eleva o homem para além do bem edo mal, para além da “lei”, para além do Deus antigo,inimigo da liberdade. Os últimos duzentos anos vem re-descobrindo “o princípio libertador do mundo [afirma-do] pela seita dos Ofitas”2, princípio vislumbrado, se-gundo Gershom Scholem, pela concepção sabatiana,com seu Messias entregue às “serpentes”3. Princípioreafirmado por Ernst Bloch em seu Ateísmo no cris-tianismo, onde o Cristo-Serpente liberta o mundo datirania de Yahweh4. Goethe, segundo Vittorio Mat-hieu, também “ouvira falar da seita dos Ofitas”5. Emseu Goethe e seu diabo da guarda, Mathieu observacomo em Fausto Mefistófeles é a “força que, das tre-vas, faz vir à tona o positivo do homem”6. Como afir-ma Deus, dirigindo-se a Mefistófeles no Prólogo noCéu, “Não deves senão mostrar-te, livremente, comoo que és; nunca odiei os teus pares; de todos os espíri-tos que negam, o zombeteiro é o que menos me abor-rece. A atividade do homem se enfraquece muito facil-mente, e ele se deitaria com prazer num repouso abso-luto. Por isso ponho de bom grado a seu lado um com-panheiro que o estimule, e aja, e que tem, como Diabo,de criar”7. O Diabo é posto de bom grado (“gern”) porDeus como colaborador do homem. Como notavaMircea Eliade, “se poderia falar de uma simpatia orgâ-nica entre o Criador e Mefistófeles”8. Goethe faz deMefistófeles, do mal, a mola que leva à ação (“Tat”),àquilo que é positivo. Trata-se da idéia, destinada a terampla difusão, segundo a qual o caminho para o Céupassa pelo inferno. O homem só se torna homem, vi-vo, inteligente, livre, só saboreando até o fundo o sabor

amargo da vida. Ao contrário, a inocência da “almaboa” é inércia, estase, morte. Hegel, com sua dialéticado negativo, dará uma suntuosa veste teórica a essaidéia. O homem deve pecar, deve sair da inocência na-tural para se tornar Deus. Ele deve realizar a promessada Serpente: deve conhecer, como Deus, o bem e omal. Esse conhecimento “é a origem da doença, mastambém a fonte da saúde, é o cálice envenenado noqual o homem bebe a morte e a putrefação, e ao mes-mo tempo o ponto em que nasce a reconciliação, umavez que pôr-se como mau é em si a superação domal”9. Nessa perspectiva, a figura do Anjo rebelde, da-quele que, provocando o homem, o alçaria à sua liber-dade, ga nha um novo esplendor. Passo a passo, Mefis-tófeles se torna o herói, o Prometeu moderno, o liber-tador. “Sem buscar aqui as suas causas profundas”, es-crevia Roger Caillois em 1937, “é preciso constatar oquanto um dos fenômenos psicológicos mais cheios deconseqüências do início do século XIX te nha sido onascimento e a difusão do satanismo poético, o fato deo escritor assumir de bom grado o papel do Anjo doMal e com este sentir afinidades precisas. Sob essa luz,o romantismo parece em parte uma transmutação devalor”10. De Byron a Vigny, a “mitologia satânica” ela-bora a figura de um “Anjo do Mal”, rebelde e vingador,cujas premissas remetem ao passado.

Satanás contra DeusCom razão, Mario Praz, em seu A carne, a morte, e odiabo na literatura romântica, até hoje a obra maisinteressante sobre o fascínio exercido sobre a literaturado século XIX por tudo o que é demoníaco, indica o iní-cio desse processo na caracterização peculiar de Sata-nás oferecida por Milton em seu Paraíso perdido. “FoiMilton quem conferiu à figura de Satanás todo o fascí-nio do rebelde indômito que já pertencia às figuras doPrometeu de Ésquilo e do Capaneu de Dante”11. O Ad-versário “se torna estranhamente belo”12. Como escre-via Baudelaire: “Le plus parfait type de Beauté virile estSatan – à la manière de Milton”13. Em contraposição,observa Harold Bloom, “o Deus de Milton é uma catás-trofe”, tal como o Cristo, que “é um desastre poéticono Paraíso perdido”14. Para Blake, “Milton não se sen-tia livre ao escrever de Deus e dos Anjos, e à vontade ¬

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Hegel, com sua dialética do negativo, dará uma suntuosa vesteteórica a essa idéia. O homem deve pecar, deve sair da inocêncianatural para se tornar Deus. Ele deve realizar a promessa daSerpente: deve conhecer, como Deus, o bem e o mal. Esseconhecimento “é a origem da doença, mas também a fonte da saúde,é o cálice envenenado no qual o homem bebe a morte e a putrefação,e, ao mesmo tempo, o ponto em que nasce a reconciliação, uma vezque pôr-se como mau é em si a superação do mal”

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quando escrevia dos Demônios e do inferno, pois eraum verdadeiro Poeta, e da parte do Demônio sem o sa-ber”15. Um juízo que é perfeitamente compartilhadopor Shelley, para o qual “nada pode superar a energiae o esplendor do caráter de Satanás se encontram ex-pressos no Paraíso perdido [...]. O demônio de Milton,enquanto ser moral, é muito superior ao seu Deus”16.

Impávido, indômito, o príncipe das trevas aparececomo incansável lutador contra a tirania divina. Sata-nás é Prometeu, toma o lugar do mítico titã acorrenta-do por Zeus à rocha que a imaginação de Ésquilo imor-talizou. O Prometeu moderno se opõe ao deus hostil,malvado. O luciferino Satanás parece melhor que oCriador: “Milton confere claramente uma posturagnóstica a Satanás, segundo a qual Deus e Cristo sãosomente versões do Demiurgo”17. O verdadeiro afir-mativo é o demônio. É ele, e não o anjo obediente, queparece, ética e esteticamente, dotado de um fascíniomaior. Como afirma Hegel: “Quando se apresenta, oDiabo precisa demonstrar que nele há um afirmativo;sua força de caráter, sua energia, seu espírito conse-qüencial, parecem muito melhores, mais afirmativosque os de alguns anjos [...]. É o que ocorre em Milton”,acrescenta Hegel, “onde o Diabo, com sua energiacheia de caráter, é melhor que alguns anjos”18.

Assim, graças a Milton, à sua reelaboração mítica,Satanás ingressa no imaginário moderno. Tem-secom isso o que Praz chama, num capítulo de sua obra,a “metamorfose de Satanás”, sua passagem de figuranegativa a herói positivo: o rebelde triste, privado dasua felicidade paradisíaca, como o homem, por umdeus tirano. Em seu estudo, Praz documenta, comgrande perícia, autores e correntes que assumem a mi-tologia satânica. Se no século XVIII “o Satanás de Mil-ton passou seu fascínio sinistro para o tipo tradicionaldo bandido generoso, do sublime delinqüente”19, é noséculo XIX, na tempérie romântica, que ele se tornarebelde, a expressão da revolta metafísica, do “não” à

criação. Foi Byron “quem levou à perfeição o tipo dorebelde, descendente distante do Satanás de Milton”20.Com Byron o rebelde se torna o “estrangeiro”, o ho-mem impenetrável que transcende a maneira ordiná-ria de sentir, que transcende seus próprios crimes. É oalém-do-homem que está mais acima e ao mesmotempo mais abaixo dos outros homens. É o infeliz quese alimenta de ressentimento para com um deus crueldo qual imita a crueldade. A teologia de Byron é, se-gundo Praz, a mesma de Sade, cuja obra, segundo oautor, tem uma influência fundamental na literatura ro-mântica. No centro está o ódio para com a criação eseu autor, a exaltação do prazer e do crime como es-cárnio, profanação, ultraje. Para Praz, estamos aquidiante de um “satanismo cósmico”21. Sua influência éenorme. Se a natureza cria apenas para destruir, se-guir a natureza é repetir seu ritmo, o prazer pela des-truição, o gosto (sádico) que faz surgir o prazer pelador, o delírio do aniquilamento, o divino a partir do dia-bólico. É a pintura de Delacroix: “Esse pintor ‘canibal’,‘moloquista’, ‘dolorista’ que foi Delacroix, com umacuriosidade incansável por massacres, incêndios, sa-ques, pelos putrideros, ilustrador das cenas mais som-brias do Fausto e dos poemas mais satânicos de seuidolatrado Byron; esse apaixonado pela felinidade [...]e pelos países violentos e calorosos”22. É a poesia deBaudelaire, alimentada por Poe e Sade, cujo pessimis-mo cósmico é mais semelhante à heresia maniqueístaque à religião cristã: “Absolu! Résultante des contrai-res! Ormuz et Arimane, vous ètes le même!”23. É a nar-rativa de Flaubert, para o qual “Néron vivra aussi long-temps que Vespasien, Satan que Jésus-Christ”24. É ados Cantos de Maldoror de Lautréamont, o qual con-fessa ter “cantado o mal como fizeram Mickiewicz, By-ron, Milton, Southey, A. de Musset, Baudelaire”25. É ade Swinburne, que, fascinado pela teologia gnósticade Sade, declama seu homem em revolta: “... se pu-déssemos deter a natureza, então sim o crime se tor-

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Böhme, segundo Hegel, “lutou para entender em Deus e de Deus o negativo, o mal, o Diabo”. Deus é a unidade dos contrários, da ira e do amor, do mal e do bem, do Diabo e do seu oposto, o Filho.Nessa posição, Cristo e Satanás se tornam de algum modo irmãos,filhos de um único Pai, partes dEle, momentos da sua natureza polar.É o que afirmará Carl Gustav Jung em seu esotérico SeptemSermones ad Mortuos, escrito em 1916, que seus amigos fizeramcircular como opúsculo mas nunca chegou às livrarias. O texto, que idealmente segue o gnóstico Basilide, afirma a natureza de “pleroma” de Deus, composto por duplas de opostos das quais“Deus e o demônio são as primeiras manifestações”

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naria perfeito e o pecado uma realidade. Se o homempudesse fazer isso, se pudesse parar o curso das estre-las e alterar o tempo das marés; se pudesse mudar osmovimentos do mundo e encontrar a fonte da vida edestruí-la; se pudesse entrar no céu e contaminá-lo, noinferno e libertá-lo da sujeição; se pudesse erguer o sole consumir a terra, e ordenar à lua que derramasse ve-neno ou fogo no ar; se pudesse matar o fruto na se-mente e corroer a boca do bebê com o leite de suamãe; então o homem poderia dizer ter pecado e terfeito mal contra a natureza”26.

Destruição e profanação: esse é o prazer maior!Um filão consistente da literatura, a partir do romancelibertino do século XVIII, goza da profanação. A viola-ção apaixona enquanto transgressão, ultraje. O corpo,o da mulher, será tanto mais objeto do desejo quantomais for indefeso (a criança, a virgem, a freira). Profa-ná-lo é tirar a transcendência, reconduzir à terra, reve-lar o rosto obscuro de Eva, o eterno feminino para

sempre ligado ao poder de Satanás. O demoníacomescla o puro e o impuro, precisa da inocência paraexcitar as paixões, para despertar a força explosiva donegativo. Com Sade o eros se torna parte de uma teo-logia gnóstica. Depois dele o conúbio entre Eros e Ta-natos, amor e morte, passa a ser o elemento dominan-te de um niilismo luciferino que encontra no Decaden-tismo, primeiramente, e no Surrealismo, depois, suaplena realização.

Satanás em DeusSatanás não está só em Prometeu, dublê do Anjo caí-do de Milton. Satanás está também em Deus. A teolo-gia gnóstica que está no centro do ateísmo rebelde dosúltimos dois séculos distingue entre Lúcifer (o liberta-dor) e Satanás (o opressor). Ela encontra sua formaexemplar no pensamento de Ernst Bloch. Para Bloch,há, “de um lado, o Deus do mundo que se identificacada vez mais claramente com Satanás, o Inimigo, oestagnado; de outro, o Deus da futura ascensão aocéu, o Deus que nos impulsiona para frente com Jesuse com Lúcifer”27. O deus do mundo, criador, é o maudemiurgo contra o qual, no Éden, se ergueu a Serpen-te, verdadeira amiga do homem. É Lúcifer, com seudesejo de ser como Deus, que revela ao homem a suadestinação. “Só em Lúcifer, mantido secreto em Jesuspara ser manifestado mais tarde, no final, nos temposem que esse rosto poderá se revelar; só em Lúcifer, in-quieto desde quando foi abandonado pela segundavez, desde quando, da cruz, ergueu-se o grito que fi-cou sem resposta, desde quando, pela segunda vez,foi esmagada a cabeça da Serpente do paraíso presana cruz: só nEle, portanto, no Escondido em Cristo,enquanto anti-demiúrgico absoluto, está compreen-dido também o autêntico elemento teúrgico de quemse revolta porque é filho do homem”28.

Como para a seita dos Ofitas lembrada por Blochem Ateísmo no cristianismo, a Serpente é, portanto,o libertador. Duas vezes subjugada, no Éden e no Cris-to levantado na cruz como a Serpente de bronze deMoisés, ela espera por sua vingança, por sua vitória

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A vida, afirmava Jung no Ensaio de interpretação psicológica do dogma da Trindade, “enquanto processo energético, precisa dos contrastes, sem os quais a energia é notoriamente impossível.Bem e mal nada mais são que os aspectos éticos dessas antítesesnaturais”. É por isso que, para Deus, Lúcifer é necessário. “Sem este último não haveria criação, e muito menos teria havidoalguma história de redenção. A sombra e o contraste são ascondições necessárias de qualquer realização”

William Blake, A casa da Morte, inciso em cores, coleção particular

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sobre o Demiurgo que abre a “era do Espírito”. Unin-do Marcião e Joaquim de Fiore, Bloch é a encruzilha-da de toda a gnose moderna. Jesus, antecipação dodeus que virá, do deus “humano”, é o redentor desdeo deus “satânico”, desde o deus do cosmo, da ordem eda lei. A revolução, como dissolução da velha ordem,torna-se aqui a obra luciferina por excelência.

Como ilustre precedente de suas reflexões, Blochchama a atenção, em Ateísmo no cristianismo, para afigura de William Blake. O poeta inglês, fascinado pelarevolução americana e pela francesa, teve, além da Bí-blia, quatro mestres: Milton, Shakespeare, Paracelso,Böhme. Ao primeiro dedicou um breve poema épico,Milton, composto provavelmente entre 1800 e 1803.Nele Urizen, o Príncipe da Luz, parece idêntico a Sata-nás. O que é peculiar em Blake é o seu The Marriage ofHeaven and Hell (O matrimônio do Céu e do Inferno),escrito em 1790. Aqui a santificação dos impulsos e dosdesejos, in primis o sexual, for everything that lives isHoly (sendo que todas as coisas vivas são Sacras!), ob-tém a sua consagração teórica. Para ela não há mais omal que nega o bem: mal e bem são ambos necessários.“Sem Contrários não há progresso. Atração e Repulsa,Razão e Energia, Amor e Ódio são necessários para aexistência Humana. Desses contrários brota o que o ho-mem religioso chama Bem e Mal. Bem é a passividadeque obedece à Razão. Mal é a atividade que brota daEnergia. Bem é o Céu, Mal é o Inferno”29.

O mal, como no Fausto de Goethe, é o que dá ener-gia, o que desperta o bem adormecido. O Diabo é a for-ça de Deus. Nessa sua concepção, Blake era devedor

daquele que, em primeiro lugar, no arco do pensamen-to moderno, ousara afirmar o mal em Deus: JacobBöhme. O philosophus teutonicus, que, segundo He-gel, “foi o primeiro a fazer surgir na Alemanha uma filo-sofia com características próprias”30, estimado porLeibniz, Hegel, Schelling, Von Baader e todo o filãoteosófico do pensamento moderno, é aquele para oqual, “segundo o primeiro princípio, Deus não sechama Deus, mas Cólera, Furor, fonte amarga, e vêmdaqui o mal, a dor, o tremor e o fogo devorador”31. Aira de Deus é superada no amor; apesar disso, ela per-manece o Urgrund, o princípio originário de tudo.Böhme, segundo Hegel, “lutou para entender em Deuse de Deus o negativo, o mal, o Diabo”32. Deus é a unida-de dos contrários, da ira e do amor, do mal e do bem, doDiabo e do seu oposto, o Filho. Nessa posição, Cristo eSatanás se tornam de algum modo irmãos, filhos de umúnico Pai, partes dEle, momentos da sua natureza po-lar. É o que afirmará Carl Gustav Jung em seu esotéricoSeptem Sermones ad Mortuos, escrito em 1916, queseus amigos fizeram circular como opúsculo mas nuncachegou às livrarias. O texto, que idealmente segue ognóstico Basilide, afirma a natureza de “pleroma” deDeus, composto por duplas de opostos das quais “Deuse o demônio são as primeiras manifestações”33. Eles sedistinguem como geração e corrupção, vida e morte.Todavia, “a efetividade é comum a ambos. A efetivida-de os une. Portanto, a efetividade está acima deles e éum Deus acima de Deus, já que seu efeito une plenitudee vazio”34. Esse Deus que une Deus e o Diabo é chama-do, por Jung, Abraxas. Ele é a força originária, que vemantes de qualquer distinção. “Abraxas gera verdade ementira, bem e mal, luz e trevas, na mesma palavra eno mesmo ato. Por isso Abraxas é terrível”35. Ele é “oamor e o seu assassino”, “o santo e o seu traidor”, é “omundo, o seu devir e o seu passar. Sobre todo dom doDeus sol o demônio lança a sua maldição”36. A mensa-gem esotérica dos Septem Sermones levava, comoem Blake, à santificação da natureza, à inocência dodevir. Isso implicava, por si mesmo, a justificação domal, do Diabo, a sua inserção, como em Böhme, numsistema polar. Não por acaso Martin Buber, tomandoconhecimento do opúsculo, falará nesse caso de gno-se. “Ela – e não o ateísmo, que anula Deus porque temde refutar as imagens que dele foram feitas até agora –é a verdadeira antagonista da realidade da fé”37. ParaBuber, a psicologia de Jung nada mais constituía senão“a retomada do mote carpocratiano, ensinado agoracomo psicoterapia, que diviniza misticamente os instin-tos em vez de santificá-los na fé”38.

O aspecto destacado por Buber não era puramenteconjectural. Fora o próprio Jung que, em Psicologia ereligião, chamara a atenção para a atualidade do gnós-tico Carpócrates, o qual afirmava que “bem e mal sãoapenas opiniões humanas, e que as almas, antes de suapartida, teriam de viver até a última todas as experiên-cias humanas, se quisessem evitar voltar à prisão docorpo. Somente o completo cumprimento de todas asexigências da vida pode resgatar a alma prisioneira nomundo somático do Demiurgo”39. A vida, afirmava noEnsaio de interpretação psicológica do dogma da

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Imortais que caem no abismo , do Il libro di Urizen, William Blake, 1794

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Trindade, “enquanto processo energético, precisa doscontrastes, sem os quais a energia é notoriamente im-possível. Bem e mal nada mais são que os aspectos éti-cos dessas antíteses naturais”40. É por isso que, paraDeus, Lúcifer é necessário. “Sem este último não have-ria criação, e muito menos teria havido alguma históriade redenção. A sombra e o contraste são as condiçõesnecessárias de qualquer realização”41. Essa sombra es-tá antes de mais nada em Deus, no Deus primigênio,no Inconsciente que, para Jung, é a verdadeira potên-cia que dirige a vida, a qual deve ser “humanizada” peloeu consciente. Só no Deus humano, Cristo, o juízo se-para o que no pleroma (o inconsciente) está unido: aluz e a sua sombra. Ora, os “dois filhos de Deus, Sata-nás, o mais velho, e Cristo, o mais novo”42, a mão es-querda e a mão direita de Deus, se separam. “Essa antí-tese representa um conflito levado ao extremo, e comisso também uma tarefa secular para a humanidade,até o ponto ou a circunstância do tempo em que bem emal começarem a relativizar-se, a pôr-se em dúvida, ese elevar o grito por algo além do bem e do mal. Mas,na era cristã, ou seja, no reino do pensamento trinitá-rio, semelhante reflexão é simplesmente excluída, poiso conflito é violento demais para que se possa conce-der ao mal alguma outra relação lógica com a Trindadeque não seja o contraste absoluto”43. É preciso que aTrindade divina, espiritual, se concilie com um “quar-to” princípio: a matéria, o corpo, o feminino, o eros, omal, para que o idealismo cristão, conciliado com omundo, chegue a uma unidade superior. “Pois, mesmono tempo da fé absoluta na Trindade, houve sempreuma busca do quarto perdido, desde os neopitagóri-cos gregos até o Fausto de Goethe. Ainda que essesbuscadores se considerassem cristãos, eles eram toda-via uma espécie de cristãos a latere, uma vez que con-sagravam sua vida ao opus, que tinha como meta a re-denção do serpens quadricornutus, da anima mundienredada na matéria, do Lúcifer decaído... Nossa fór-mula da quaternidade dá razão à sua pretensão, pois oEspírito Santo, como síntese daquele que foi origina-

riamente Uno e depois cindido, flui de uma fonte lumi-nosa e de uma obscura”44. A “era do Espírito”, na pe-culiar interpretação que Jung dá de Joaquim de Fiore,é a era que se segue ao eone cristão, o tempo de Abra-xas em que paixões e razão, inconsciente e consciente,mal e bem, Lúcifer e Cristo, se tornarão um.

Em 1919, Hermann Hesse, que em 1920 se sub-meteria a análise com Jung, publicou um romance,Demian, sob o pseudônimo de Emil Sinclair. Nele, oprotagonista, um jovem inexperiente, é instruído sobreo sentido da vida por um espírito “livre” que carregaem si o sinal de Caim: Demian. Para Demian, “o Deusdo Antigo e do Novo Testamento é uma figura excelen-te, mas não é a que deveria ser. É o bem, a nobreza, opai, o alto, o belo, o sentimental: todas coisas boas,mas o mundo é feito também de outras coisas. E isso éatribuído simplesmente ao Diabo, e toda essa parte domundo, essa metade é suprimida e morta com o silên-cio”45. A ela pertence, segundo Demian, a esfera se-xual. Por isso não se pode apenas venerar a Deus, “de-vemos venerar tudo e considerar sagrado o mundo in-teiro, não apenas essa metade oficial, separada artifi-cialmente. Ao lado do serviço para Deus deveríamoster também um serviço para o Diabo. A mim pareceriajusto. Ou então deveríamos procurar um Deus quereúna também o demônio”46. Como em Jung, esse“Deus se chama Abraxas e é Deus e Satanás e abraçaem si o mundo luminoso e o mundo escuro”47. É oamor sagrado e o amor profano, “a imagem angélica eSatanás, homem e mulher ao mesmo tempo, homeme fera, supremo bem e mal extremo”48.

A visão do divino como coincidentia oppositorum,versão que sela de forma indissolúvel o “pacto com aSerpente”, atravessa, dessa forma, uma parte conspí-cua do mundo cultural do século XX. Lembramos, en-tre outras, a reflexão de Mircea Eliade, que em dois es-critos, O mito da reintegração (1942) e Mefistófelese o Andrógino (1962), expõe, a partir das sugestõesde Jung, sua visão da “polaridade divina”. Nessa visão,toda divindade parece polar, benéfica e maléfica ao

“Encontra-se por toda parte”, escrevia Romano Guardini em 1964, “a idéia gnóstica fundamental de que as contradições sãopolaridades: Goethe, Gide, C. G. Jung, T. Mann, H. Hesse... Todosvêem o mal, o negativo [...] como elementos dialéticos na totalidadeda vida, da natureza”. Essa atitude, para Guardini, “já se manifesta em tudo o que se chama gnose, na alquimia, na teosofia. Apresenta-sede forma programática com Goethe, para o qual o satânico entra atémesmo em Deus, o mal é força originária do universo tão necessáriaquanto o bem, a morte apenas outro elemento nesse todo, cujo pólooposto se chama vida. Essa opinião foi proclamada de todas as formase concretizada no campo terapêutico por C. G. Jung”

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mesmo tempo. A Serpente é irmã do Sol, tal como, se-gundo um mito gnóstico, seriam irmãos Cristo e Sata-nás. Essa bi-unidade divina prepara, no homem, a rein-tegração de sagrado e profano, de bem e mal numaunidade superior que encontra, para Eliade, sua metasimbólica na figura do andrógino.

ConclusãoA moderna teosofia dos opostos, baseada na doutrinahermética da coincidentia oppositorum, leva a umconúbio, inquietante, entre divino e diabólico, leva àidéia do Diabo em Deus. “Encontra-se por toda par-te”, escrevia Romano Guardini em 1964, “a idéiagnóstica fundamental de que as contradições são po-laridades: Goethe, Gide, C. G. Jung, T. Mann, H.Hesse... Todos vêem o mal, o negativo [...] como ele-mentos dialéticos na totalidade da vida, da nature-za”49. Essa atitude, para Guardini, “já se manifesta emtudo o que se chama gnose, na alquimia, na teosofia.Apresenta-se de forma programática com Goethe,para o qual o satânico entra até mesmo em Deus, omal é força originária do universo tão necessáriaquanto o bem, a morte apenas outro elemento nesse

todo, cujo pólo oposto se chama vida. Essa opinião foiproclamada de todas as formas e concretizada nocampo terapêutico por C. G. Jung”50.

A idéia de fundo é que a redenção passa pela degra-dação, a graça pelo pecado, a vida pela morte, o pra-zer pela dor, o êxtase pela obra da perversão, o divinopelo diabólico. O fascínio que o negativo – metáfora dodemoníaco – exerce sobre a cultura contemporâneaderiva dessa idéia singular: que os caminhos do paraísopassam pelo inferno, que “Descida ao Ades e ressur-reição” são uma coisa só51.

Entregar-se ao demônio é abrir-se a Deus, numa sin-gular transposição gnóstica da idéia segundo a qual per-der-se é encontrar-se. Nesse “sagrado” conúbio, Sata-nás e Deus se unem no homem. É a “identidade de Sadee dos místicos”52 desejada por Georges Bataille. Segun-do ela, o caminho para baixo coincide com o caminhopara cima. Fausto, agora, não pode mais se arrepender,nem na hora da morte. O Adversário tornou-se cúmpli-ce, “parte” de Deus. É o caminho para se tornar deus.A emoção do nada, da descida aos Infernos, acompa-nha a descoberta do Ser, de Abraxas, o pleroma semrosto que permanece, imóvel, no devir do mundo. q

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Notas

1 M. Praz. Il patto col serpente. Milão,1972 (reeditado em 1995).

2 Op. cit., p. 12.3 G. Scholem. Le grandi correnti della

mistica ebraica. Turim, 1993, p. 307. Ediçãobrasileira: As grandes correntes da místicajudaica. São Paulo, Perspectiva, 1995.

4 E. Bloch. Ateismo nel cristianesimo.Milão, 1971, pp. 220-226.

5 V. Mathieu. Goethe e il suo diavolocustode. Milão, 2002, p. 192.

6 Op. cit., p. 65.7 W. Goethe. Faust e Urfaust, 2 vol.

Milão, 1976, vol. I, vv. 340-343, p. 19. Edi-ção brasileira: Fausto. Belo Horizonte, Ita-tiaia, 2002.

8 M. Eliade. Il mito della reintegrazione.Milão, Jaca Book, 2002, p. 4.

9 G. W. F. Hegel. Lezioni sulla filosofiadella religione, 2 vol. Milão, 1974, vol. II, p.317.

10 R. Caillois. Nascita di Lucifero. Milão,2002, p. 31.

11 M. Praz. La carne, la morte e il diavolonella letteratura romantica. Florença, 1999,p. 58. Edição brasileira: A carne, a morte e odiabo na literatura romântica. Campinas,Editora da Unicamp, 1996.

12 Id., ibid.13 C. Baudelaire. Journaux intimes. Cit.

in: M. Praz. La carne, la morte e il diavolonella letteratura romantica. Op. cit., p. 55.

14 H. Bloom. Rovinare le sacre verità.Poesia e fede dalla Bibbia a oggi. Milão,1992, p. 106.

15 W. Blake. “Il matrimonio del Cielo edellʼInferno”. In: Selected Poems diWilliam Blake. Turim, 1999, pp. 24-25. Edi-

ção brasileira: O matrimonio do céu e doinferno. O livro de Thel. São Paulo, Ilumi-nuras, 2000.

16 P. B. Shelley. Difesa della Poesia. Cit.in: M. Praz. La carne, la morte e il diavolonella letteratura romantica. Op. cit., p. 59.

17 H. Bloom. Rovinare... Op. cit., p. 105.18 G. W. F. Hegel. Lezioni sulla filosofia

della religione. Op. cit., vol. II, p. 315-316 e324, nota.

19 M. Praz. La carne...Op. cit., pp. 59-60.20 Id., ibid., p. 64.21 Id., ibid., p. 96.22 Id., ibid., p. 135.23 Cit. in: Id., ibid., p. 147.24 Cit. in: Id., ibid., p. 161.25 Lautréamont. “Lettere”. In: Lautréa-

mont. I canti de Maldoror. Turim, 1989, p.531.

26 Cit. in: M. Praz. La carne... Op. cit., p.199.

27 E. Bloch. Spirito dellʼutopia. Florença,1980, p. 314.

28 Id., ibid., p. 252.29 W. Blake. Il matrimonio... Op. cit., pp.

19-20.30 G. W. F. Hegel. Lezioni sulla storia del-

la filosofia, 4 vol. Florença, 1973, vol. III (2),p. 35.

31 Cit. in: F. Cuniberto. Jacob Böhme.Brescia, 2000, p. 119.

32 G. W. F. Hegel. Lezioni sulla storia del-la filosofia. Op. cit., vol. III (2), p. 42.

33 C. G. Jung. “Septem Sermones adMortuos”. In: Ricordi, sogni, riflessioni di C.G. Jung. Milão, 1990, p. 454. Edição brasi-leira: Memórias, sonhos e reflexões. Rio deJaneiro, Nova Fronteira, 2000.

34 Id., ibid., pp. 454-455.35 Id., ibid., p. 456.

36 Id., ibid.37 M. Buber. Lʼeclissi di Dio. Milão, 1983,

p. 139.38 Id., ibid.39 C. G. Jung. Psicologia e religione. In:

C. G. Jung. Opere, vol. 11. Milão, 1984, p.83. Edição brasileira: Psicologia e religião.Petrópolis, Vozes, 1995.

40 C. G. Jung. Saggio dʼinterpretazionepsicologica del dogma della Trinità. In: C. G.Jung. Opere, vol. 11. Op. cit., p. 191. Ediçãobrasileira: Interpretação psicologica dodogma da Trindade. Petrópolis, Vozes,1994.

41 Id., ibid., p. 190.42 C. G. Jung. Prefazione a Z. Weblows-

ky, “Lucifero e Prometeo”. In: C. G. Jung.Opere, vol. 11. Op. cit., p. 299.

43 C. G. Jung. Saggio dʼinterpretazionepsicologica del dogma della Trinità. Op. cit.,p. 171.

44 Id., ibid., p. 174.45 H. Hesse. Demian. Storia della giovi-

nezza di Emil Sinclair. In: H. Hesse. PeterCamenzind - Demian. Due romanzi dellagiovinezza. Roma, 1993, p. 185. Edição bra-sileira: Demian. Rio de Janeiro, Record,1997.

46 Id., ibid., p. 185. Itálicos nossos.47 Id., ibid., p. 216.48 Id., ibid., p. 207.49 R. Guardini. Diario. Appunti e testi dal

1942 al 1964. Brescia, 1983, p. 245.50 R. Guardini. Lettere teologiche ad un

amico. Milão, 1979, p. 63.51 E. Zolla. Discesa allʼAde e resurrezio-

ne. Milão, 2002.52 G. Bataille. “Frammenti su William

Blake”. In: Selected Poems di William Bla-ke. Op. cit., p. 163.

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é a revista mensal internacional maisinformada sobre a vida da Igreja. Nas suas páginas estão presentes os acontecimentos políticos e eclesiásticosmais importantes comentados pelos protagonistas. Em cada número, reconstruções históricas, reportagense serviços especiais de todo o mundo, eventos literários e artísticos, inéditos.

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