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i v ANNODOMIJNTG-O, 20 DE MARÇO DE 1904 N 140
S E M A N A R IO N O T I C I O S O , L IT T E R À R IO E A G R ÍC O L A
.iss igna tiira UAnno, 1S000 réis; semestre, 5oo réis. Pagamento adeantado Para o Brazil, anno. aSioo réis Imoeda fortej. ’Avulso, no dia da publicação, 20 réis. p
EDITOR— José Augusto Saloio fj 19, i.° — RUA DIREITA —A L U K Í i A L L K G A .
19, I.
| Publicações < -i í Annuncios— i.» publicação, 40 réis a lin h a , nas s e g u in te s, (S 20 réis. Annuncios na 4 .“ pagina, contracto especial. Os a u to - L graphos não se restituem quer sejam ou náo publicados.
f | P R O P R I E T Á R I O — José Augusto Saloio
EXPEDIENTE■togamos] aos 1 nossos
estim áveis assignantes s fineza de nos partic ipa rem qu a lquer falta na re uicssaído jo rna l, para «le p ro m p to ] p rov idencia i mos.
Aeceitam-se eom g ra t idão quaesquer noticias que sejaiti dc in te resse publico.
ALDEGALLEGAComo os meus trabalhos
nie reteem sempre preso em Lisboa, poucas vezes posso dar-me ao prazer de visitar a ridente villa de Aldegallega do Ribatejo, onde os seus habitantes são de uma cordealidade e delicadeza encantadoras. Mas mesmo essas poucas vezes que ahi me tenho encontrado teem-me feito crear amor a essa terra onde, além de negociantes honestíssimos, ha homens intelli- gentes e muito illustrados.
Assisti ahi no passado domingo a um espectáculo no Circo Amado. Concordo que esse divertimento proporcione algumas horas de distracção ao espirito canç.ado do labutar quotidiano, mas tenho de mim para mim que tal espectáculo serve mais para creanças do que para pessoas que precisam educar o in- tellecto.
Penalisou-me que havendo nessa terra tantos e tão valiosos elementos para se darem espectáculos thea- traes, não se construísse ainda ahi um theatro, embora de pequenas dimensões. Ahi sim, ahi reside a instrucção e a escola para 0 povo que deseja aprender e illustrar o espirito. O theatro, com a escolha de boas peças, educa e mora- lisa, conduz-nos ao amor do Bello e do Bem, faz-nos homens com os seus exemplos beneficos e salutares.
Já o dissemos, ha nessa terra muitos rapazes de incontestável habilidade para a scena e pena é que não
possam expandir-se por falta de uma casa de espectáculo onde mostrem os seus merecimentos.
Porque não se abalan çam a essa empreza as pessoas mais influentes da vil la? Era prestar um grande serviço num a terra onde escasseiam os divertimentos, porque o pão do espirito é tão preciso como o do corpo.
Mettam hombros a esse commettimento e terão feito uma obra valiosa e de incontestável utilidade. '
JOAQUIM DOS ANJOS.
--------- «O— —-----------P ro c issão de Passos
Constando que este anno a commissão transacta deliberara não fazer a antiga procissão ao Senhor dos Passos, resolveu decididamente fazel-a no proximo domingo, 27 do corrente, uma nova commissão composta dos srs. José Cândido Rodrigues d’Annuncia- cão, José Maria Ferreira e José Maria Relogio. A procissão é feita com o produeto de esmolas obtidas n esta terra.
A G R I C U L T U R AOs vinlios com gòsto a
bo lo r ou a pòdre
O sabor a bolor ou a pô- dre nos vinhos é muito frequente entre nós, devido ao pouco cuidado do pre- Daro das massas na vindima e á imperfeita conservação do vasilhame. Em geral o vasilhame, quando vazio, está em cuidados durante o anno, e, na occasião de se lhe deitar o vinho, recebe, quando muito, um rapida lavagem dagua ria, em occasiões em que
os meios heroicos, como as avagens de acido sulfurico racamente diluído, já não
seriam de per si bastantes :>ara os pôr em perfeitas condições de não damnifi- carem o vinho.
Tem sido aconselhados muitos tratamentos variados para fazer desapparecer o gôsto do bolor e de pòdre do vinho. Em França
os lavradores usam muito mergulhar no vinho um sac co de panno fino cheio de trigo torrado, uma mão cheia delle para cada 225 litros. O trigo torrado dei xa-se estar immerso no liquido durante oito a quinze dias, segundo a intensidade do sabor. Este processo, dá, porém, resultados contradkorios, conforme o grão está mais ou menos torrado.
Em geral recorre-se, com êxito, ao tratamento por meio do azeite. Este tratamento faz-se trasfegando o vinho para uma vasilha sã
bem méchada, e addicio- nando-lhe azeite bem purificado, ou, na sua falta, um oleo neutro em cheiro e sabor, sobretudo oleo de semente de algodão. Addi- ciona-se o azeite na proporção de um quarto a meio itro d : azeite por hectoli
tro deVinho commum, conforme a maior ou menor intensidade de sabor, e 25o grammas para os vinhos finos.
Depois do azeite ter sido deitado no vinho, agita-se este fortemente, e durante Dastante tempo, para que o oleo se misture com o liquido. Deixa-se descançar um 30UC0 e torna-se a agitar,
repete-se a operação umas poucas de vezes.
Depois de quarenta e oito horas de repouso o azeite sóbe á superfície do vinho e extrae-se então, fa- zendo-o sahir pelo batoque, pela addição de mais vinho deitado na vasilha por um tubo de vidro, de borracha, ou um funil de cano fino e comprido, quer trasfegan- do-o de novo e parando a trasféga a tempo do resto do vinho com o azeite ficar na vasilha onde se fez a operação.
Um conhecidissimo oeno- logo francez, o professor Roos, aconselha o emprego do azeite ou oleo de um modo diverso.
Para cada vasilha de 220 a 225 litros dissolve-se 5o grammas de gomma ara- bica, em um litro dagua, addiciona-se-lhe depois o oleo ou azeite, que se emulsiona na agua, batendo vi
gorosamente a mistura com uma pequena vara. Em es tando misturado junta-se á emulsão quatro a cinco vezes o seu volume de vi nho, e, a seguir, deita-se na vasilha como se fosse uma colla usual.
Rólha-se bem a vasilha e deixa-se em repouso.
Este processo, dividindo o oleo em uma infinidade de globulos que apresentam uma grande superfície tem o inconveniente de deixar bastantes partículas em suspensão, pelo que convém collar o vinho após o tratamento, sem o que elle fica com um sabor a oleo
Ha alguns annos passados o professor Roos pre- conisou para o tratamento dos vinhos com sabor a bo lor ou ou a pòdre, o emprego da farinha de mostarda que contém uma grande quantidade (28 a 3o por cento do seu peso) de um oleo sem sabor disseminado nascéllulasdo grão de mostarda, e podendo, portanto, representar o mesmo papel que uma emulsão doleo.
Somente a farinha de mostarda-contém uma di- ástase que, em contacto com o vinho, transforma uma substancia, o myrona- to de potassa em myrosine que, como é sabido, é a essência da mostarda, a qual communica ao vinho um cheiro e sabor desagrada- veis.
Mathieu, o sabio director da Estação oenologica de Beaune, aconselha, para evitar este inconveniente, matar a diástase fazendo estar a farinha de mostarda durante uma hora em uma estufa aquecida a i 5o graus. Na falta da estufa obtem-se o mesmo resultado tratando a mostarda com agua quente. Deita-se1 100 grammas de farinha de mostarda moída de fresco, e sem sabor de ranço nem de myrosine, em meio litro de água a ferver, e continua-se a fazer ferver durante trinta minutos.
Deixa-se repousar, ex- trae-se-lhe a agua e emprega-se a farinha depois de ter dissolvido em vinho,
como se faz ás collas usu- aes.
E ’ conveniente agitar frequentemente o liquido para manter a farinha em suspensão.
Deixa-se depois repousar uma noite e trasfega-se o vinho.
A quantidade de farinha de mostarda varia, segundo a intensidade do sabor de bolor, entre i 5 a 60 grammas por hectolitro de vinho a tratar.
Este tratamento é barato, e, seguindo rigorosamente o modo de operar indicado por Mathieu, e havendo, sobretudo, o cuidado de usar farinha fresca de mostarda não tendo ainda o sabor e o cheiro característico da mostarda, obtem-se, após a destruição da diástase, excellentes resultados.
(Da Gaveta das Aldeias).
QueixasJosé Caetano Ervedoso,
proprietário, residente no logar do Samouco, freguezia de S. Braz, concelho de Alcochete e José Bernardo, cazeiro da Quinta da Póvoa, pertencente a este concelho, queixaram-se na administração do concelho de que no dia i 5 pelas 6 horas da tarde e na referida Quinta da Póvoa, foram aggredidos por Feliciano Joaquim Soares, trabalha-, dor, o primeiro, com uma acada no pescoço e o se
gundo, com uma facada tambem no pescoço e uma mancada com um forcado num a perna que resultou um outro ferimento.
— Tambem se queixou na administração do con- elho Manuel Marques da
Silveira, trabalhador, residente no sitio da Lançada, deste concelho, de que no dia i 5 pela 7 horas da manhã, no pinhal pertencente ao visconde da Lançada, Manuel Mosca, (O Talhadas) trabalhador, residente no sitio do Brejo dos M a- :acos, aggredira sua filha VIaria da Silva com soccos e bofetadas, puxando de um revolver e ameaçando-a
2 O DOMINGO
de morte. Deu occasião a este incidente a rapariga não acceitar as declarações amorosas do «Talhadas».
I»or com er e não pagar
No dia 17 do corrente pelas 7 horas da noite, entrou na casa de pasto de Silverio Pereira um indivíduo que diz chamar-se Sebastião Henriques, canas- treiro, natural de Santo André de Poyares, residente no sitio da Lançada, deste concelho, o qual, depois de ter comido e bebido alar- vemente se recusou a pagar dizendo que não tinha dinheiro, pelo que foi preso.
Pelo regedor de parochia da freguezia de Canha foi participado ao administrador d’este concelho que o agulheiro Antonio Correia, empregado da estação dos caminhos de ferro de Pegões, havia ficado debaixo do comboio, mor- rendoestantaneamente. Pelo juiz de paz se está procedendo ao auto da autopsia afim de opportuna- mente ser remettido ao meritissimo agente do ministério publico.
Separação dolorosa
Assim se chama a primorosa composição musical, que o nosso amigo, sr. Balthazar Manuel Valente, habil regente da distincta phylarmonica «1° de Dezembro», desta villa, acaba de pôr na estante, afim de ser executada pela referida pl lylarmonica na procissão de Passos, que, como adeante dizemos, tem logar no dia 27 do corrente.
A Separação dolorosa é original do nosso amigo Balthazar que, como todas as suas mais composições, é um verdadeiro primor.
nes verdes, renda da casa do talho e produeto do matadouro municipal.
Acham-se publicados edi- taes intimando a apresen- tarem-se os mancebos, cujo paradeiro se ignora. •
la itiiosa
Falleceu no dia 14 pelas3 horas da manhã, victima de uma lesão cardiaca Manuel José Victorino, casado, trabalhador, de 53 annos de edade, natural desta villa.
Tambem no dia 15 pelas 12 horas, falleceu victima da tuberculose pulmonar Silverio Borges, moço de padeiro, de 5o annos de edade.
Vae ámanhã novamente á praça para ser arrematado a quem maior lanço offerecer o imposto nas car
Tivémos occasião no domingo passado de visitar o importante Armazém de Moveis, na rua do Conde, 48, de que é proprietário o nosso amigo José Ramos Cardeira e ficámos maravilhados por vêr alli moveis do mais aprimorado bom gosto e por preços realmente modicos. Além disto o nosso amigo transmit- tiu-nos que ia brevemente augmentar o seu estabelecimento com mais algumas secções de outros artigos.
A tm lversario
Fez annos no dia 16 do corrente a ex.ma sr.a D. Al- da Adelina Nunes Sequeira, esposa do nosso bom amigo Joaquim Nunes Sequeira, conceituado industrial de Leiria. Daqui lhe enviámos as nossas felicita- cões.
VOH 1
0 ’ mocidade esplendente,De formosura sem p a r!Senle-se 0 sangue mais quente Nas veias a latejar!
à lu \ da magica aurora D ’essa risonha manhã,Passa a guitarra sonora D o sedudor D. Juan.
E em seus balcões rendilhados,N 'aquella delicia immensa, Soltam cabellos dourados As virgens da Renascença.
«Gosemos em liberdade»D i\ o gentil trovador.«Gosemos! A mocidade E ' longo canto d am or!
«Vem, óformosa, a meus braços, Dd-me os teus labios de mel! Vamos correr os espaços N o meu fogoso corcel!
«Fruindo esses beijos quentes, Quero, encostado ao teu collo, C orrer dos plainos ardentes Até aos gelos do pólo!»
JOAQ UIM DOS ANJOS.
PENSAMENTOS
A limpeza esld, quanto ao corpo, na ra\ão da decen- cia, quanto aos costumes; com ella damos testemunho do respeito que temos d sociedade e a nós mesmos.— Bacon.
— Occupae-vos muito das virtudes do povo, alguma coisa das suas necessidades e interesses, pouco pelos seus divertimentos.— De Boxald.
-— A innocencia da alegria sincera não é senão do povo.— Massiílon.
A N E Ç D O T A S
Consta-nos que brevemente abre ao publico na rua do Hospital um estabelecimento de compra e venda de moveis usados, e no mesmo se empalha cadeiras, etc., montado pelo sr. Manuel dos Santos Amaro.
■FJ’ demais, M aria , outro cabello hoje na sopa.■A culpa não é minha, é do padeiro.Como? é do p ã o !. . .
■Não quero di\er isso, minha senhora. E que o padeiro trai agora a barba toda.
Dois estudantes, querendo divertir-se, agarram pelos braços a um rústico e perguntam-lhe:
— Quem és lu? um burro ou um estúpido?— E u lhes digo, meus senhores, estou entre um e ou
tro.H V W W ! *liit.tl.lM
N a caserna:— Qual é a condição essencial para ser enterrado com
honras militares?— A condicão essencial é. . . estar morto.
LITTERATURAS. Christovão
Christovão era da terra de Chanaan, e de estatura elevadíssima. Dizem que tinha dôze côvados de altura: talvez quizessem dizer dôze pés, ou dôze palmos, e ainda assim temos gigante. Não era abastado em bens de fortuna, e um dia veiu-lhe ao espirito a idéa de servir, mas não serviria senão a quem fôs- se muito poderoso.
Inculcaram-lhe um rei que não tinha superior no mundo; procurou-o, pois, e foi muito bem acolhido. Certo dia veiu um tocador, não sei de que instrumento, tocar e cantar um ri- mance deante do rei, e este que era christão, sempre que elle falava no diabo, 0 que foi mais de uma vez, benzia-se. Viu isto Christovão e perguntou-lhe 0 motivo.
— Cada vez que oiço pronunciar o nome do diabo faço o signal da cruz, para que elle me não prejudique, respondeu o rei.
— Se temeis1 o diabo, voltou-lhe Christovão, é porque elle é mais poderoso que vós. Vou pois procurar o diabo e elle será meu amo.
E despediu-se do rei, indo em busca de Satanaz.
Nesta diligencia atravessava o deserto, quando viu uma chusma de soldados, e deante um homem de horrenda catadura, que lhe perguntou onde ia. Christovão pela sua corpulência dava nos olhos de- todos, quanto mais do diabo.
— Vou procurar o diabo para me pôr ao seu serviço, respondeu Christovão.
— Eu s o u quem procuras.
Ficou elle muito contente, e poz-se ao serviço de Satanaz, tomando-o por amo.
Puzeram-se ambos a caminho, e deram com uma cruz n’ma encruzilhada.
FOLHETIM
Traducção de J. DOS ANJOS
D E P O I S D 0 ~ P E C C A D OL ivro Segundo
11
Foi a parte mais amarga das revelações do tabellião, uma ferida cruel para o coração da Magdalena, mais cruel que todas as outras. Cobriu a testa com as mãos, as lagrimas que lhe enchiam o peito sahiram com im- peto e prorompeu em soluços.
— Entáo, minha filha, animo! disse a sr.a Telemaco, procurando intervir.
— Ah! deixa-me chorar! excliimou
impetuosamente a Mrgdalena; nunca chorarei bastante, e se não compre- hendes o meu arrependimento e a minha magua, é porque a tua consciência está morta. Mas a minha vive, fala me, escuta-me, e é por isso que choro.
A sr.° Telemaco náo tentou justificar-se. C.alou-se; mas olhando para o tabelião, sorriu-se ironicamente, encolhendo os hombros com um leve movimento que foi elle o unico a vêr.
Riballier não se quiz associar áquelle motejo e figiu até que o não com prehendia; ficou com o rosto frio e insensível.
Tinha visto o bastrnte para a.iivi- nhar a situação, e como tinha musto bons motivos para desejar consolidar- se cr.da vez mai; na; boa.; gr. ças da Mag Viena, não queria fazer n>-Ja que
pudesse tirar-lhe a confiança da sua cliente.
Voltou-se para ella e disse com doçura:
— Deve ter animo, minha senhora e esperar. Uma pessoa de sua amizade, amigo fiel, se bem comprehendi, tem estado ao pé de seu pae a pleitear a sua causa e a dispôl-o, apesar de tudo. para a receber.
— Um amigo fiel! disse a Magdalena com surpreza. Quem.é?
— 0 professor d'Antraigues.— O padre Rouzeau?— O padre Rouzeau morreu ha dois
annos; falo do seu successor. o Pedro Guillemale.
— 0 Pedro! entáo não se esqueceu elle de mim!
—-Temos falado muitrs vezes a seu re.;peito. rnnha senhora; pode crer q'-e lhe-d sinceraniente-alíeiçoado.
— Pobre Pedro! suspirou a Magdalena.
E desde esse momento agarrou-se, como á sua ultima esperança, áquella amizade que tornava a encontrar.
— Não deu então seguimento aos seus primeiros projectos, disse el’a; quando sahi da minha pabre aldeia, ha cinco annos. ia elle para Aubenas aprender um officio.
— E ’ verdade, mas comprehendeu que não tinha vocação prrn isso. T o rnou para Antraigues algumas semanas depois da senhor;- se ir embora; o que soube encheu-o de desespero e. durante um mez. o seu estado inspirou serios cu dados, ao abbade Rou- v.ère. Emfim, quando se restabeleceu, resolveu-se, pelos conselhos do seu protector, a deitar-se ao trabalho c decidiu defini tharr.ent: ser professor. Con seguia- ser adaiittido na escola
normal primaria de Nimes e como, quando acabou os estudos, estivesse vago o logar em Antraigues, pela morte do padre Rouzeau, o abbade Rouvière obteve-o para elle.
— Ignorava tudo isso! V o u pois tornar a vêl-o! E o senhor diz que elle tem falado algumas vezes em mim.
— Discretamente, minha senhora, mas em termos bastante claros para eu comprehender que não se tinha esquecido de si.
— Por que não me escreveu?— Quando elle soube que eu estava
encarregado dos seus negocios, fez- me prometter, sob palavra de honra, que numa lhe falai ia n’e!le.
(Continuaj.
Assim que o diabo a viu, fugiu delia sobresaltado, e foí dar uma grande volta para a evitar.
— Porque déste tu esta volta desviando-te do verdadeiro caminho? perguntou Christovão.
O diabo não respondeu.— Dize, porque déste
esta volta, e se m ’o não dizes, deixo-te.
— Foi sobre uma cruz que morreu Jesus Christo, e quando as vejo tenho medo delias e fujo.
— Ah! Então esse Jesus Christo, cuja cruz te causa tanto medo, é mais poderoso do que tu, e eu vivia enganado! Vou, pois, procurar Jesus Christo.
E começou por uma e outra parte a procurar Jesus, até que encontrou um eremita que o instruiu diligentemente nas doutrinas da fé, e que depois lhe disse:
— Esse rei que tu andas a procurar, e que é o maior de todos, impor-te-ha obrigações que te forçarão muitas vezes ao jejum.
Christovão replicou:— Que elle me ordene
outra coisa, porque para essa não me acho muito disposto.
— E quererá tambem que te entregues com frequencia á oração.
— Não sei o que isso é, nem sirvo para similhante serviço, respondeu Christovão.
Disse-lhe depois o eremita :
— Não conheces tu o rio em cujas aguas morrem muitos dos que tentam atravessal-o?
— Conheço.— Pois se conheces, co
mo és de grande estatura e muito robusto, vae, col- loca-te na margem, e passando os viajantes para o lado opposto farás uma coisa muito do agrado de Jesus Christo a quem buscas servir. Talvez mesmo que elle se te manifeste para que o conheças.
— Eis um serviço a que eu me posso consagrar, e farei o que me dizes.
Foi em seguida para a margem do rio, construiu uma cabana para viver, e havendo-se munido de um pau, para se sustentar nas aguas, começou a passar para a margem opposta a quantos buscavam o seu auxilio.
Tinham já corrido bastantes dias deste exercicio, quando, achando-se a des- cançar dentro da sua cabana, ouviu a voz de uma creança que o chamava, dizendo-lhe:
— Christovão, vem dahi e passa-me.
— Christovãs, saiu, lan
çou os olhos em torno e não viu ninguém.
Tornou a entrar e ouviu a mesma voz.
Sahiu e aconteceu-lhe o mesmo.
A terceira vez foi mais feliz, porque encontrou á borda do rio um menino, que lhe pediu para o passar para o outro lado.
Christovão péga na creança põe-n’a ao hombro, mune-se do seu cajado e entra na agua.
E o rio começa a crescer pouco a pouco; o menino pezava sobre o seu hombro dum modo excessivo; e este pêzo au- gmentava cada vez mais, de modo que Christovão começou a ter medo. Pou- de finalmente alcançar a margem opposta, e quando pouzava o menino no chão, disse-lhe:
— Puzeste-me num grande perigo, e pezavas de modo que me parecia ter o mundo inteiro sobre os hombros.
E o menino respondeu- lhe:
— Não te admires, Cris- tovão. Não tiveste só o mundo inteiro sobre os teus hombros, tiveste tambem aquelle que o creou, porque sou Christo, aquelle por quem emprehendes- te as boas obras que estás praticando. Enterra o teu bordão na areia e tu verás ámanhã como elle está coberto de folhas e flores.
E desappareceu.Christovão assim fez; e
na manhã seguinte ao despertar, lembrou-se do que lhe succedera na vespera.
Correu pressuroso ao sitio onde enterrára o bordão, e viu-o florido como palmeira, pendendo-lhe dos ramos verdejantes os cachos de maduras tama- ras.
— - « » — — £ - O S S > € - — « » - - - - - -
Ifiilhete postal
Recebemos e agradecemos um primoroso «bilhete postal» commemorativo da exposição da «Real O f- ficina de S. José», do Porto, ao publico, no dia do seu Padroeiro e representando a Familia Sagrada, copia de um soberbo quadro do auetor F. Deffre- ger, de Munich.
Este Bilhete Postal foi editado por um bemfeitor da mesma officina que destina parte do produeto da venda em favor da mesma.
Preço 20 réis. Franco de porte de 5 bilhetes para cima. Desconto desde 5o bilhetes.
Pedido á Livraria Novaes Junior, rua do Almada, 192 e á Papelaria Araújo & Sobrinho, Successo-
• O DOMINGO
res, largo de S. Domingos— Porto.
Circo iniiido
Já é bem conhecido do publico que quando se quer divertir não tem mais que ir ao bello Circo Amado. Vem-lhe esse convencimento, por saber que é alli o unico logar onde pode dar largas ao seu temperamento, admirando trabalhos sensacionaes, e rindo a bandeiras despregadas com os graciosíssimos palhaços A rthur Bimbo e Julio Paterna. Hoje figuram no pro- gramma: a sr.a Thereza Dominguez, difficeis trabalhos aereos, Os acrobatas fim de seculo, a transformação de fato pela senhorita Emilia Paterna, a batu- da americana, o Homem sem Ossos, o cavallinho aeronauta, e muitos outros trabalhos, que tão grande successo tem obtido entre nós.
— — — <co— -£<38S>S-— -------- -
Tem passado estes últimos dias incommodado de saude o nosso amigo, sr. Sebastião Leal da Gama, honrado commerciante de esta praça. Que em breve se restabeleça é o que do coração lhe desejamos.
AVISOA viuva do fallecido João
Deus Costa, estabelecido que foi na villa de Canha, concelho de Aldegallega, convida por este meio todos os crédores que tenham fornecido fazendas parado dito estabelecimento, cujos créditos estejam por liquidar, para apresentarem as suas contas no praso de oito dias contados da data deste, em Lisboa, na rua dos Fanqueiros, 251, afim de serem attendidas como de direito for.
ARTE C U L IN A R IA
T o r ta «le fru etas
Depois de preparada a fructa, põe-se a coser em agua até á prova do palito; tira-se e põe-se a escorrer sobre sedaço: esmaga- se ou retalha-se em bocadinhos, pesa-se e, tomando-se egual peso de assucar em ponto de pasta, põe-se, indo misturando, a ferver até ao ponto de fio; deita-se-lhe canella em pó ou qualquer essencia e tira-se do fogo.
Vasa-se para caixa de pasta a quente, que deve estar moldada sêcca e s?e ao forno frouxo.
A N N U N C I O S
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Este sensacional romance historico do laureado dramaturgo e distincto escriptor portuguez Marcel- lino Mesquita, será publicado ainda no corrente mez de março, em cadernetas e tomos, pela «A* E D IT O RA», Lisboa — Largo do Conde Barão, 5o.
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OS DRAMAS DA CORTE
(Chronica do reinado de Luiz X V )
Romance historico porE. L A D O U C E T TE
Os amores trágicos cie Manon Les taut com o celebre cavallèiro de Grieux. formam o entrecho cTeste romance, rigorosamente historico, a que Ladoucette imprimiu um cunho de originalidade devéras encantador.
A corte de Luiz xv, com todos os seus esplendores e misérias, é escri- pta magistralmente pelo auctor d '0 Bastardo dr. Rainha nas paginas do seu novo livro, destinado sem duvida a alcançar entre nós exito egual aquelle com que foi recebido em Pa ris, onde se conta am por milhares os exemplares vendidos.
A edição .portugueza do popular e rornmovente romance, será feita em fasciculos semanaes de 16 paginas, de grande formato, illustrados com soberbas gravuras de pagina, e constará apenas de 2 volumes.
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DIARIO DE NOTICIASA GUERRA ANGLO-BOER
Impressões do Transvaal
Interessantíssima narração das luctas entre inglezes e boers, «illústrada» com numerosas zini o-gravun.s de «homens celebres» do Transvaal e do Orange. incidentes notáveis, «cercos e batalhas mais cruentas da
G U E R R A A N G L O -B O E R Por um funccionario da Cruz Verm elha ao serviço
do Transvaal.Fasciculos semanaes de 16 paginas.................. 3 o réisTomo de 5 fasciculos ........................................... i 5o »A G U ER R A AN G LO BO ER é a obra de mais palpitante actualidade.
N'ella são descriptas, «por uma teítemunha presencial», as differentes phases e acontecimentos emocionantes da terrivel guerra que tem espantado o mundo inteiro.
A G U ER R A AN G LO -’ O ER faz passar ante os olhos do leitor todas as «grandes bat; lhas, combates» e «escaramuças» d'esta prolongada e acérrima lucta entre inglezes, tra svaalianos e oranginos, verdadeiros prodígios de heroismo e tenacidade, em que sáo egu; Imente admiraveis a coragem e dedicação p triotica de venc dos e vencedores.
Os incidentes variadíssimos d’esta contenda e.itre a poderosa Inglater ra e as duas pequ nas republicas sul-africanas, decorrem atravez de verdadeiras peripecias, por tal maneira dramaticas e pittorescas, que dáo á G U E R RA A N G LO -B O ER, conjunctamente com o irresistível attractivo dum a nar= rativa h storica dos nossos d as, o encanto da leitura romantisada.
A Bibliotheca do D IA R IO DE N O T IC IA Sapresentando ao publico e-ta obra em «esme-ada edição,» e por um preço diminuto, julga prestar um serviço aos nmnerosos leitores que ao mesmo tempo desejam deleitar-se e adquirir perfeito conhecimento dos successos que mais interessam o mundo culto na actualidade.
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COMMERCIO DO POVOTendo continuado a augmentar o movimento desta
já bem conhecida casa commercial pela seriedade de transacções e já tambem pela modicidade de precos porque são vendidos todos os artigos, vem de novo recommendarao publico em geral que nesta casa se encontra um esplendido sortido de fazendas tanto em fanqueiro como em modas, retrozeiro, mercador, chapelaria, sapataria, rouparia, etc., etc., prompto a satisfazer os mais exigentes e
AO A L C A N C E DE T O D A S A S B O L S A SDevido á sahida do antigo socio d’esta casa, o ill.mo
sr. João Bento Maria, motivada pelo cansaço das lides commerciaes, os actuaes proprietários resolveram am- plear mais o actual commercio da casa dotando-a com uns melhoramentos que se tornam indispensáveis a melhorar e a augmentar as várias secções que já existem. Tomam, pois, a liberdade de convidar os seus estimáveis freguezes e amigos, a que, quando qualquer compra tenham de fazer, se inteirem primeiro das qualidades, sortido e preços porque são vendidos os artigos porque decerto acharão vantagosos.
A divisa d ’es ta casa é sempre ganhar pouco para vender muito e vender a todos pelos mesmos preços, pois que todos os preços são fixos.
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Encarrega-se de todos os trabalhos concernentes á sua arte.
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