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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Luiza Fernandes Mineli Concepções de Ensino e Aprendizagem de Professores Supervisores do PIBID da Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo 2015

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Luiza Fernandes Mineli

Concepções de Ensino e Aprendizagem de Professores Supervisores do PIBID da Universidade Presbiteriana

Mackenzie

São Paulo 2015

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Luiza Fernandes Mineli

Concepções de Ensino e Aprendizagem de Professores Supervisores do PIBID da Universidade Presbiteriana

Mackenzie

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para a obtenção do grau de Licenciada em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Fraga da Silva

São Paulo

2015

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“Nunca é tarde demais para começar tudo de novo”

(Raul Seixas)

Homenagem a minha vozinha Maria †

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus familiares, especialmente ao meu namorado pelo

apoio e paciência nos momentos difíceis de incertezas. Ao meu pai, por ter

oferecido oportunidade para a minha formação, me ajudando tanto

financeiramente quanto com suas palavras que me fizeram rever minhas

ações. A minha mãe pelo carinho incondicional e pelo seu capricho que eu

tanto me inspirei.

Aos meus professores das diversas disciplinas cursadas até o momento,

cada um contribuiu de uma forma com meu aprendizado.

Agradeço também o meu orientador por aceitar me orientar e utilizar seu

tempo para rever meu trabalho com atenção.

Aos professores que aceitaram participar da banca examinadora.

Aos professores que aceitaram ser entrevistados. Sem a contribuição de

vocês este trabalho não seria possível.

À Instituição pela disponibilização da estrutura bibliotecária e informática,

muito utilizadas por mim neste trabalho.

Obrigada a todos

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RESUMO

O presente trabalho foi realizado com o objetivo de conhecer as

concepções, sobre ensino-aprendizagem, de professores supervisores do

Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID), de uma universidade

particular de São Paulo. Esses dados foram levantados por meio de entrevistas

semiestruturadas e analisadas com base em algumas abordagens pedagógicas

encontradas na literatura.

A partir da análise interpretativa de entrevistas realizadas com os

participantes, verificou-se que os professores supervisores apresentam uma

complexidade de ideias a respeito de ensino-aprendizagem. Foi possível

identificar várias abordagens pedagógicas nas falas de cada um dos

participantes, sendo a abordagem tradicional a mais comum entre elas.

Conclui-se com a análise, que deve haver leituras, discussões e

reflexões por parte dos professores a respeito das distintas abordagens do

processo de ensino-aprendizagem, suas características e possíveis aplicações.

Também tornar estas reflexões hábitos, entre professores supervisores e

iniciantes a docência para que diminua o distanciamento entre a teoria e a

prática docente.

Palavras chaves: concepções, ensino-aprendizagem, PIBID, formação de

professores.

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ABSTRACT

This work was carried out in order to know the views on teaching and

learning, teacher’s supervisors of the Institutional Program of Initiation to

Teaching (PIBID), in private university in São Paulo. These data were collected

through semi-structured interviews and analyzed based on some pedagogical

approaches in the literature.

From the interpretative analysis of interviews conducted with the

participants, it was found that supervisor’s teachers have a complexity of

teaching and learning about the ideas. It was possible to identify various

pedagogical approaches in the statements of each of the participants, the

traditional approach the most common among them.

It concludes with an analysis, which must be readings, discussions and

reflections from teachers about the different approaches of teaching-learning

process, its characteristics and possible applications. Also make these habits

reflections, between supervisors and teachers teaching beginners to decrease

the gap between theory and teaching practice.

Key words: conceptions, teaching and learning, PIBID, teacher training.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8

2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................. 9

2.1 Ensino-aprendizagem: algumas abordagens do processo............................9

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................... 16

3.1 Participantes da pesquisa ......................................................................... 16

3.2 Instrumento da pesquisa ............................................................................ 16

3.3 Contato com os participantes ..................................................................... 17

3.4 Entrevistas .................................................................................................. 18

3.5 Análise dos resultados ............................................................................... 18

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 20

4.1 Primeiro Entrevistado...................................................................................20

4.2 Segundo Entrevistado..................................................................................24

4.2 Terceiro Entrevistado...................................................................................27

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 38

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 39

7. APÊNDICES ................................................................................................. 40

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1. INTRODUÇÃO

Durante a formação da presente discente, foram apresentadas questões

sobre a influência que o processo de ensino-aprendizagem tem sobre a

formação pessoal, social, cultural e intelectual dos alunos e professores de

diferentes níveis de formação. Além disso, a discente apresentou grande

interesse sobre a formação de professores após iniciar no Programa

Institucional de Iniciação a Docência, pois neste programa conseguiu vivenciar

na prática, aquilo que antes era apenas teorizado e conseguiu estabelecer

relações entre as situações escolares e os diferentes modelos pedagógicos.

O Programa Institucional de Iniciação à Docência, vinculado a Fundação

CAPES tem como principal objetivo o incentivo à formação de docentes para a

educação básica, inserindo os licenciandos no cotidiano escolar, tornando

possível a participação do graduando na elaboração de atividades junto aos

professores supervisores, docentes da escola. Estes professores supervisores

auxiliam na formação de futuros professores. Além da trajetória que realizaram

na licenciatura, as suas concepções referentes ao ensino-aprendizagem estão

presentes em suas práticas e são relevantes, uma vez que podem influenciar

na construção do conhecimento dos pibidianos com relação à prática docente

(BRASIL, 2015).

Os modelos pedagógicos, anteriormente citados, são representações

sistemáticas das diversas situações pedagógicas. Envolve a epistemologia do

ensino na visão do professor e que reflete na forma em que ocorrem as

interações com os alunos, as avaliações, o formato da aula e a forma em que

se dá o aprendizado em si. Os modelos sistematizados podem auxiliar

professores e futuros professores em suas práticas, por tanto, devem ser lidos,

discutidos e até mesmo confrontados (MIZUKAMI, 2014).

Diante destas questões o presente trabalho teve como objetivo analisar

as concepções sobre ensino-aprendizagem, de professores supervisores do

PIBID de uma Universidade particular em São Paulo. Em função disso, o

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objetivo específico contou com a análise interpretativa de concepções

apresentadas em entrevistas semiestruturadas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Ensino-aprendizagem: algumas abordagens do processo.

Na prática docente há certas ações que podem ser classificadas em seu

caráter epistemológico e pedagógico. Modelos pedagógicos são teorias que

servem como base para a ação de professores no processo ensino-

aprendizagem. As abordagens epistemológicas são fundamentos que se

referem ao estudo da origem do conhecimento, que explicam as ações e

objetivos dos professores em cada modelo pedagógico (BECKER, 1994).

Becker (1994) divide os modelos pedagógicos em três, a Pedagogia

diretiva, a Pedagogia não diretiva e a Pedagogia relacional. Além disso,

apresenta três modelos epistemológicos, o empirismo, o inatismo e o

construtivismo. Mizukami (2014) divide as abordagens pedagógicas do ensino

em cinco: a abordagem tradicional, comportamentalista, humanista, cognitivista

e sócio cultural. Pozo e Echeverría (2001) apresentam três teorias implícitas, a

teoria direta, interpretativa e a construtivista. Mauri (2006) apresenta três

concepções da aprendizagem e ensino escolar, a primeira é que a

aprendizagem escolar consiste em conhecer as respostas certas para

perguntas elaboradas pelo professor, a segunda é que a aprendizagem escolar

consiste em adquirir conhecimentos relevantes de uma cultura e a terceira e

última é que a aprendizagem escolar consiste em construir os conhecimentos.

A primeira abordagem do texto de Mauri (2006) é que uma

aprendizagem escolar consiste em conhecer as respostas certas para

perguntas elaboradas pelo professor. O professor tem função de transmitir o

conhecimento, de formular perguntas para que os alunos respondam e

reproduzam o conteúdo. Também tem função de avaliar estes alunos

atribuindo notas conforme o quanto estes alunos conseguiram responder

corretamente. Esta avaliação tem caráter de atribuição de prêmios e castigos,

quando o aluno consegue resolver as perguntas ele ganha um prêmio que

pode ser simbólico por via das notas azuis. Quando o aluno não consegue

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resolver é atribuído o castigo, notas vermelhas, por exemplo. Não há um

desenvolvimento de um trabalho que ajude os alunos que são considerados

“ruins”, estes repetem o ano até que consigam por repetição, responder de

forma correta. Nesta abordagem a aprendizagem é reconhecida como

aquisição de respostas adequadas, o aluno é um receptor passivo e aprende

quando consegue responder adequadamente as perguntas. A preocupação em

planejar maneiras para que o aprendizado seja potencializado é ausente, são

proporcionados reforços positivos e negativos necessários para que os alunos

consigam reproduzir fielmente as respostas de perguntas formuladas pelo

professor.

Esta abordagem pode ser relacionada à abordagem tradicional

apresentada por Mizukami (2014) em que o ensino-aprendizagem é baseado

na acumulação de conteúdos escolares. O professor também é responsável

pela transmissão de conteúdos e o aluno é receptor passivo do conhecimento.

Nesta abordagem o foco está no produto final da educação, ou seja, quando o

aluno conseguiu armazenar as informações a ponto de repeti-las. Não há

ênfase no processo de ensino-aprendizagem.

Outras abordagens que podem ser relacionadas às anteriores seriam a

abordagem Direta e a abordagem Interpretativa, apresentadas por Pozo e

Echeverría (2001). A abordagem Diretiva ocorre da mesma forma que a

tradicional de Mizukami, professores e alunos não interagem, os alunos são

“páginas em branco”, conforme o professor transmite as informações de forma

ativa, os discentes adquirem estas informações de forma passiva. Os

conhecimentos prévios dos alunos não são considerados, pois é considerado

que os alunos não saibam do conteúdo anteriormente as aulas. Já na

abordagem Interpretativa, apesar do aprendizado do sujeito depender do seu

próprio esforço, o objetivo da aprendizagem é também a cópia da realidade, ou

seja, os alunos têm característica ativa sobre seu desenvolvimento, porém o

aprendizado é na forma da reprodução de conteúdos assim como ocorre na

forma tradicional do ensino.

Segundo Freire (2011) esta questão das aulas transmitidas, com base

na memorização, na cópia e na fragmentação das ideias, se dá pela concepção

“bancária” da educação, na qual os professores narram para os alunos, sem

diálogo interacional, em que um é provido de conhecimento e o outro é

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desprovido e deve armazenar todo conhecimento transmitido. Diferente da

concepção libertadora da educação, em que professores e alunos dialogam, e

aprendem um com o outro, com base na problematização, ou seja, refletem

sobe um dado problema e podem criar soluções. Neste tipo de educação, não

há respostas pré-planejadas, os alunos não repetem o que lhe é ensinado, eles

trabalham junto ao professor mediador, aprendem ensinando e vive-versa.

A abordagem comportamentalista apresentada por Mizukami (2014)

também se relaciona ao primeiro modelo pedagógico de Mauri, por também

trabalhar com reforços positivos e negativos, que no modelo

comportamentalista será chamado de contingências de reforços. Estas

contingências são utilizadas para modificar o comportamento dos alunos, a fim

de estabelecer um ambiente mais propicio ao aprendizado. O professor tem a

função de planejar e controlar estes reforços para garantir a aquisição do

conhecimento pelos alunos. Os alunos também são sujeitos passivos no

processo e bastam reproduzir os conteúdos e comportamentos transmitidos.

Becker (1994) apresenta a abordagem Diretiva que também se relaciona

as anteriores. Esta abordagem se dá pelo pressuposto epistemológico

Empirista, em que o sujeito terá formações estruturais de conhecimento a partir

de experiências sensoriais do meio. O conhecimento vem do meio externo, e

os alunos aprendem quando o professor transfere seus conhecimentos já

adquiridos do meio, também aprendem com seus familiares que trazem uma

cultura, que é passada entre as gerações.

Semelhante à abordagem comportamentalista, há a segunda abordagem

que Mauri (2006) apresenta em que a aprendizagem escolar consiste em

adquirir conhecimentos relevantes de uma cultura. Nesta abordagem há

preocupação sobre o que acontece na mente do aluno. A forma como que o

aluno pensa, é considerada importante no ensino, pois, influencia diretamente

no seu aprendizado e na maneira em que memorizam informações. Os alunos

são considerados processadores de informações proporcionadas pelos

professores e devem reproduzir mecanicamente estas informações, referentes

a técnicas, métodos e estratégias. Esta reprodução é feita a partir de

repetições do que se deve aprender, porém mesmo decorando a forma como

se faz os alunos não conseguem relacionar as informações com seus

comportamentos, seja com o cotidiano, seja com outros conteúdos, não há

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reflexão do que está sendo feito apenas a memorização de como se faz. O

professor é capacitado em termos de conteúdos e tem como objetivo informar e

proporcionar aos alunos situações em que possam obter conhecimento, por

tanto, são facilitadores da aprendizagem. Estes conteúdos são organizados em

temas considerados culturamente relevantes, são divididas em disciplinas

específicas como matemática, português entre todas as outras. A

aprendizagem acontece nesta abordagem quando o aluno consegue reproduzir

as informações, quando consegue fazer o que se pede de forma mais

semelhante o possível. Quando há dificuldades, acredita-se que por meio de

repetições e esforço para memorizar é que se consiga ir bem. Tal como a

abordagem tradicional, a ênfase do ensino-aprendizagem se encontra no

produto e não no processo.

Diferente das ideias apresentadas até o momento existe o modelo

epistemológico inatista ou apriorismo apresentada por Becker (1994) em que

há o reconhecimento de certas habilidades inatas nas pessoas e que estas

habilidades são desenvolvidas com esforço pessoal e experiências. A

abordagem Humanista de Mizukami (2014) compartilha deste modelo

epistemológico Inatista. Nesta abordagem o sujeito é autônomo e tem liberdade

para criar e se desenvolver. O ensino-aprendizagem é focado no aluno que

nasce com certas habilidades que são lapidadas com o tempo e com os

conhecimentos que são adquiridos das suas experiências. O professor nesta

abordagem é um sujeito facilitador, ou seja, quando o aluno quer e o procura

este professor o ajuda, porém não interfere no processo do autoconhecer dos

alunos. Nesta abordagem o autoconhecimento e autoavaliação são processos

relevantes no ensino-aprendizagem. A motivação para querer estudar

determinado assunto parte do próprio aluno, que quando motivado procura seu

facilitador da aprendizagem. O facilitador mostra caminhos e instrumentos para

os alunos com o objetivo de orientá-los, mas não interfere no querer do aluno

em buscar informações. Por tanto, a autonomia do aluno é bastante

desenvolvida, uma vez que não há comandas e nenhum tipo de reforço para

que ele se interesse por algum assunto, o aluno desenvolve sua autonomia ao

refletir sozinho o que gostaria de aprender, na realidade nesta abordagem, as

pessoas já nascem com certas habilidades e gostos, mas precisam ser

orientados em um grande período da vida até que então consigam se tornam

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sujeitos autônomos do seu próprio aprendizado e autoconhecimento

(MIZUKAMI, 2014).

Semelhante a esta abordagem há a Pedagogia não Diretiva, em que o

aluno é responsável pela sua aprendizagem, o professor é também um

facilitador que interfere o mínimo possível no processo de autoconhecer do

aluno. O professor não é educador, nesta abordagem considera-se que o aluno

aprenda por si só. Este tipo de educação é centrado no aluno, diferente do viés

empirista, em que se encontram abordagens centradas no professor.

Becker (1994) também apresenta seu terceiro e último modelo

epistemológico, o construtivismo, em que a inteligência humana se dá com

interação de indivíduos e o meio. Neste modelo o sujeito não nasce com

conhecimentos, mas estabelece ativamente interação com o meio e outros

sujeitos. A inteligência se constrói com suas ações, e não há um produto final e

sim um processo de aprendizagem, o sujeito é um eterno inacabado.

Mauri (2006) traz em seu texto esta visão construtivista, em que a

interação é fundamental, e é por meio dela em que o aprendizado acontece. A

abordagem pedagógica é a de que a aprendizagem escolar consiste em

construir os conhecimentos. Os alunos quando se deparam a um conteúdo,

elaboram uma representação pessoal e aprendem, pois constroem o

conhecimento de forma processual. Esta construção é possível pelas

atividades desenvolvidas pela escola, em que o aluno atribui significados aos

conteúdos. O professor é um sujeito ativo e se interessa com o

desenvolvimento dos alunos e não só na matéria por si só, mas sim pelo fazer,

o compreender, o relacionar dos indivíduos. Estas ações são mais valorizadas,

pois é por meio destas que os alunos se comunicarão que expressarão sua

representação pessoal sobre determinado assunto. Um papel importante do

professor também é a de ensinar a aprender, o que possibilita a autonomia

para o aluno desenvolver suas habilidades.

Nesta abordagem são levados em conta os conhecimentos prévios dos

alunos, a partir destes conhecimentos é que o professor consegue planejar

suas aulas com base nas necessidades dos alunos. A interação entre

professor-aluno é importante na construção do conhecimento, a mediação é

um método que possibilita esta interação e pode potencializar o aprendizado

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uma vez que o professor ajuda o aluno a elaborar uma representação pessoal

mais correta dos conteúdos.

Esta visão construtivista de Mauri (2006) tem relações com as

abordagens Cognitivista e Sociocultural de Mizukami (2014). Na abordagem

Cognitivista apresentada por Mizukami (2014) os indivíduos são ativos com

relação ao ensino-aprendizagem e esta aprendizagem não ocorre por meio da

imitação da realidade e sim por meio da interação entre pessoas e também

entre pessoas e o mundo. Porém esta abordagem Cognitivista leva em

consideração as fases do desenvolvimento humano, que por ser um

organismo, se modifica com o meio, por exemplo, uma pessoa quando criança

não tem a mesma operacionalidade que terá quando adulta. Já na abordagem

Sociocultural os alunos e professores caminham juntos com objetivo de

mudança, juntos constroem o conhecimento. Nesta abordagem o aprendizado

não se encontra no objeto, nem no sujeito e sim na interação entre eles, o

objetivo desta aprendizagem não é reproduzir a realidade e sim construir um

sujeito que seja capaz de refletir e planejar mudanças nesta realidade

(MIZUKAMI, 2014).

Paulo Freire é o principal representante da abordagem sociocultural de

Mizukami (2014). O objetivo da aprendizagem para Paulo Freire citado no texto

da autora é a de transformação do mundo, o sujeito em seu contexto histórico é

elaborador e criador do conhecimento, para ser considerado sujeito o homem

deve refletir sobre a realidade, refletindo e a questionando-a o homem pode

intervir e fazer mudanças na realidade.

Outra abordagem que relaciona ao modelo epistemológico construtivista

é a Pedagogia Relacional de Becker (1994). Nesta abordagem a

problematização é um fator importante, pois por meio dela que os alunos

construirão seus conhecimentos. O professor é um sujeito ativo e se encarrega

de trazer conteúdos significativos para os alunos, que por sua vez vão

conhecer estes conteúdos problematizando-os. Para que o aluno aprenda, há

duas possibilidades, primeiro estes conteúdos devem ter algum significado

para o aluno, deve ser interessante para que façam associações com este

conteúdo. Segundo os alunos devem responder aos questionamentos que

surgiram para si mesmos a respeito deste conteúdo. Diferente da abordagem

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tradicional, o foco não está no resultado que é limitado a reprodução da

realidade, mas sim no processo de criação e mudança desta realidade.

Com relação a mudanças, Rosa (2003) explica sobre as resistências de

mudanças gerais e da realidade da educação atual. Uma das dificuldades de

mudança é o medo do novo, pois este traz desconforto. É muito mais cômodo

continuar a fazer o que se faz, do que mudar como se faz, pois a mudança em

si demanda esforço pessoal em admitir erros, entretanto é inevitável. . A

reflexão é importante no processo de mudança da realidade. Freire (2011) e

Rosa (2003) trazem a ideia da reflexão crítica da realidade como forma de

transformação do mundo.

Por fim é possível reconhecer que há diversidade de diferentes

concepções de, o que é, e como acontece o ensino e aprendizagem, de que

forma se dá o conhecimento e as diferentes formas da relação que ocorrem

entre professores e alunos. Com base nas características de cada abordagem

é que a ação de professores e alunos pode ser interpretada e possivelmente

utilizada como instrumento de planejamento curricular. As tendências

pedagógicas sustentam a prática docente e influenciam na relação professor-

aluno e consequentemente no ensino-aprendizagem, por tanto, para que a

aprendizagem seja realmente significativa é essencial o conhecimento das

concepções pedagógicas.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O projeto da referente pesquisa passou pela Comissão Interna de Ética e

Pesquisa do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade

Presbiteriana Mackenzie e foi aprovado, sob o processo CIEP nº L007/05/15.

3.1. Participantes da pesquisa

Foram entrevistados professores supervisores do Programa Institucional de

Iniciação a Docência (PIBID) do Mackenzie, ao todo são 15 professores

supervisores. Estes professores estão vinculados ao PIBID pelos cursos de

Educação Física, Biologia, Filosofia, Letras-Português, Matemática, Pedagogia

e Química. A intenção inicial era entrevistar pelo menos cinco professores,

porém apenas três se submeteram a pesquisa, porém a mudança do número

de participantes não alterou os resultados do trabalho. No PIBID Mackenzie,

além dos professores supervisores, há um coordenador por área, um

coordenador de gestão, um coordenador institucional e 129 iniciantes a

docência.

No decorrer do trabalho, o primeiro entrevistado, o segundo entrevistado e o

terceiro entrevistado serão apresentados por E1, E2 e E3.

3.2. Instrumento de pesquisa

O instrumento de coleta de dados utilizado foi entrevista semiestruturada.

Este método foi escolhido pela vantagem de permitir interação entre

pesquisador e entrevistado e também para que as informações fossem

coletadas de forma direta sem que haja formulação de raciocínio, assim como

observada em questionários fechados. O pesquisador no momento da

entrevista tem possibilidade de fazer alterações nas perguntas conforme seja

necessário para obter informações relevantes. Este tipo de entrevista também

permite que temas de natureza complexa como a educação, sejam tratados

informalmente e melhor interpretados. (LÜDKE E ANDRÉ, 2008).

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3.3. Contato com os participantes

Foi enviado um e-mail para todos os coordenadores do PIBID Mackenzie

com o objetivo de obter informações dos professores supervisores. Email

utilizado:

“Olá Coordenadores (as), tudo bem? Sou aluna de Licenciatura

e bolsista do Pibid de Biologia e estou entrando em contato para

pedir o e-mail dos Professores Supervisores do Pibid, pois estou

elaborando um Trabalho de conclusão de curso em que

pretendo entrevistar Supervisores de alguns cursos participantes

do Pibid do Mackenzie, o nome do meu trabalho é Concepções

de Ensino e Aprendizagem de Professores Supervisores do

PIBID da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Por gentileza

poderiam me passar o e-mail deles para que eu possa entrar em

contato? Desde já, Obrigada, aguardo resposta.”

Após o retorno de três coordenadores com as informações dos

professores supervisores foi enviado um segundo e-mail para estes

professores:

“Olá Professores (as), tudo bem? Sou aluna de Licenciatura e

bolsista do Pibid de Biologia e estou entrando em contato com

Supervisores do Pibid Mackenzie, pois estou elaborando um

Trabalho de conclusão de curso cujo nome é Concepções de

Ensino e Aprendizagem de Professores Supervisores do PIBID

da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Entrei em contato

com os Coordenadores dos Projetos e os mesmos me passaram

seus contatos. Se for do interesse dos senhores contribuir com

este trabalho que certamente dará continuidade a todos nossos

projetos e objetivos do Programa de Iniciação marcaremos o

melhor lugar e horário para uma entrevista semiestruturada.

Desde já, Muito Obrigada, aguardo resposta.”

Três professores supervisores aceitaram contribuir com este trabalho.

Foram combinados locais e horários das entrevistas conforme a disponibilidade

de cada um. Os professores que concordaram em participar desta pesquisa

receberam a Carta de Informação ao Sujeito e a Carta de Consentimento

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(Apêndice A), nas quais estão detalhadas as informações sobre a pesquisa,

possíveis riscos e benefícios. Nos mesmos documentos, há o telefone do

pesquisador, para que os participantes possam entrar em contato em caso de

dúvidas ou esclarecimentos. As cartas foram lidas e assinadas.

3.4 Entrevistas

No momento das entrevistas, os registros das informações foram feitos com

um gravador de áudio e posteriormente foram transcritos em forma de texto

literal e estão apresentados nos apêndices C, D e E. A gravação de entrevista

permite que todas as falas sejam armazenadas e que o pesquisador tenha

mais atenção e reflexão aos demais detalhes da entrevista, como por exemplo,

expressões de raiva, de hesitações entre outras manifestações. (LÜDKE E

ANDRÉ, 2008). Para manutenção da privacidade dos participantes qualquer

informação que pudesse caracterizá-los foi alterada para substantivos

genéricos, como por exemplo, o nome de professores e coordenadores. O

modelo das questões da entrevista então em apêndice B.

3.5 Análise dos resultados

Para a análise dos dados, as entrevistas foram lidas diversas vezes e

divididas em três tópicos, referentes aos três entrevistados. A coleta de dados

foi organizada nas seguintes tendências: abordagem Tradicional, abordagem

Humanista, abordagem Sociocultural, abordagem Comportamentalista e

abordagem Cognitivista. Estas tendências foram escolhidas a partir de

Mizukami (2014) por apresentar os modelos pedagógicos sistematizados em

capítulos, em maior número de abordagens, pela qualidade dos detalhes de

cada abordagem, por trazer em cada um dos capítulos discussões suficientes

para a análise e também por possibilitar relações com outros modelos

pedagógicos apresentados por outros autores como apresentado no Quadro 1.

Os resultados foram apresentados em descrições de cada entrevistado

seguidas de análise interpretativa sobre trechos literais relevantes. Também

foram apresentadas por um quadro para melhor visualização das análises e por

um gráfico com a representação em porcentagem da frequência das

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abordagens pedagógicas contidas nas falas relevantes de todos os

participantes.

Quadro 1- Relação entre as diferentes abordagens do referencial teórico desta

pesquisa.

Mizukami (2014)

Pozo e

Echeverría

(2001)

Becker (1994) Mauri (2006)

Abordagem

Tradicional

Teoria direta Pedagogia

Diretiva

Conhecer as

respostas corretas

Abordagem

Comportamentalista

Teoria

Interpretativa X

Adquirir os

conhecimentos

relevantes

Abordagem

Humanista

X Pedagogia Não

Diretiva X

Abordagem

Cognitivista

Teoria

Construtivista

Pedagogia

Relacional

Construir

conhecimentos Abordagem

Sóciocultural

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Primeiro entrevistado

O primeiro entrevistado (E1) é do gênero masculino, tem 50 anos, é

professor de Ensino Médio há 27 anos e participa do PIBID há um ano.

O E1 comenta sobre a dificuldade de observar a aprendizagem dos

alunos em um pequeno período de tempo, afirma que a aprendizagem não é

um fenômeno imediato, dando a ideia que para o aprendizado realmente

acontecer leva tempo por ser processual, esta concepção se evidencia na

seguinte fala:

[...] Aprender é quando a gente muda de atitude, mas não são imediatas e ai que está o problema, por que agente quer ver o resultado, mas não tem como ver o resultado imediato. Ai a única coisa que a gente consegue ver é quando ele consegue repetir o que você diz. (Entrevistado 1).

Para Piaget, o conhecimento progride conforme as estruturas cognitivas

dos indivíduos se desenvolvem. As pessoas em situação escolar devem ter

experiências e trocas com outras pessoas para que o conhecimento seja

construído. Esta ideia se dá pelo modelo cognitivista da educação (MIZUKAMI,

2014). Muito se assemelha a ideia do professor sobre processo e as ideias de

Piaget.

Ainda na fala anterior, pode-se notar que o E1 acredita que os alunos

não aprendem ao repetir, mas que é a única forma de perceber algum

resultado do ensino, a partir da repetição. Por tanto, parece que o E1 entra em

conflito com relação a como o aluno aprende e como se avalia este

aprendizado, levando-o a entrar em contradição.

No modelo tradicional da educação, a avaliação consiste na reprodução

dos conteúdos. Mede-se a qualidade das informações que o aluno consegue

reproduzir, quanto mais semelhante ao conteúdo transmitido, mais o aluno

demonstrará seu aprendizado, os discentes devem então provar que

aprenderam o conteúdo, por isso o instrumento mais comum de avaliação

nesta abordagem é por meio de exames e provas (MIZUKAMI, 2014).

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Ainda com relação à abordagem tradicional do ensino, os alunos são

passivos e não participam do planejamento das atividades. Já o professor é o

indivíduo ativo e deve ter o conhecimento necessário que será depositado em

seus alunos, que por sua vez não sabem nada inicialmente, cabe ao professor

fazer com que as informações sejam transmitidas (MIZUKAMI, 2014). Na fala

seguinte o professor parece expressar a crença em que o professor,

especialista em sua área, tem maior conhecimento do que os alunos assim, os

alunos não deveriam participar do processo de escolha das atividades

escolares.

Eu discordo que aluno tem que escolher. Aluno não tem que escolher nada. Não tem que escolher por que eles não sabem mais do que a gente, os especialistas somos nós. (Entrevistado 1)

O E1 afirma que o ensino é voltado apenas para os que querem

aprender, pois é necessário desejar aprender, na seguinte fala:

Eu sempre acho que ensinar é para os escolhidos. Eu não posso ensinar algo para o aprendiz que não quer aprender. [...] É necessário desejar, ou que você crie o desejo. [...] Nada acontece quando o aluno não quer ser alcançado. (Entrevistado 1).

Esta ideia se assemelha a abordagem humanista apresentada por

Mizukami (2014), pois, o ensino-aprendizado é visto como um ato intencional,

uma vez que aprender é escolhido pelos indivíduos e não imposto. Os alunos

nesta abordagem escolhem o que querem aprender a partir de suas

experiências e do seu autoconhecimento, o professor neste caso auxilia no

direcionamento para que este aprendizado seja facilitado, mas não influencia

nas escolhas dos alunos. A motivação do aprender parte sempre do próprio

aluno.

Porém, em outro momento da entrevista expressa ideia oposta a anterior

como esta a seguir, em que demonstra contradição em sua concepção do

papel do aluno em sala de aula que se assemelha a abordagem tradicional:

O papel do aluno é trabalhar pedagogicamente, ele tem esse dever, se eu tenho a obrigação de planejar as atividades, ele tem a obrigação de realizá-las. Não tem escolha, não tem esse papo “Eu não quero”. (Entrevistado 1).

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Nesta fala o professor parece acreditar que o aluno não tem escolhas

sobre o seu próprio processo de ensino. O professor planeja as atividades e os

alunos devem fazê-las, semelhante à abordagem tradicional, em que o aluno

não tem controle sobre o próprio processo, cabe a ele receber as atividades

propostas pelo professor (MIZUKAMI, 2014; MAURI, 2006).

E1 também afirma que o docente seja um facilitador da aprendizagem,

mas que os alunos não precisam de um professor para aprender, pois, bastaria

fazer a busca destas informações individualmente, como se pode observar na

seguinte fala:

Eu entendo ensinar como facilitar, como orientar, como coordenar conhecimentos e principalmente na época que nós estamos vivendo, para conseguir informação não precisa de um professor. Fazer listas infindáveis de exercícios? Para quê? Vocês têm todas as respostas, todas as resoluções, em qualquer lugar da internet, por que os livros didáticos trazem os mesmos exercícios, com raríssimas exceções. (Entrevistado 1).

Para Mizukami (2014) o docente na abordagem humanista também é um

facilitador da aprendizagem, pois seu papel é criar condições favoráveis para

que os alunos aprendam. O objetivo do ensino é que os indivíduos em situação

escolar desenvolvam sua capacidade de autoaprendizagem. Porém, em

nenhum momento há explicitação da não necessidade de um professor no

processo de aprendizagem, o que de certa forma se distingue neste aspecto

das ideias do E1.

Na fala a seguir o professor comenta sobre em que em situações de

avaliação, ele deve apontar as dificuldades dos alunos e não trabalhar com o

que ele considera bom. Para isso, diz trabalhar com mecanismos para que

anular ou diminuir estas dificuldades.

[...] É o meu papel descobrir suas dificuldades, não suas fortalezas, o que você sabe, já sabe, eu preciso saber o que você não sabe, para eu criar mecanismos para diminuir esta dificuldade ou cancelar esta dificuldade, por- tanto eu estou aqui para mostrar o ruim mesmo, o que você não sabe, não adianta [...]. (Entrevistado 1).

Segundo a abordagem comportamentalista, o professor deve ter o

controle sobre o aprendizado dos seus alunos, deve criar mecanismos, ou

trabalhar com novos instrumentos para que o aprendizado ocorra com a

maioria dos alunos, os erros são trabalhos desta forma, anulando-as ou

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modulando-as para que se aproxime cada vez mais ao ideal. (MIZUKAMI,

2014; BECKER, 1994).

E1 também demonstra sua opinião sobre a relação professor-aluno,

como por exemplo, a fala a seguir:

Os dois têm o mesmo papel, os dois têm exatamente os mesmos deveres, que é aprender e ensinar. Por que quando você é aluno e faz um trabalho em grupo, você também ensina. (Entrevistado 1).

Nesta fala E1 parece expressar a ideia de que professor e alunos

caminham juntos, ambos com os mesmos objetivos (aprender e ensinar),

também cita a possibilidade dos alunos trabalhando juntos, aprenderem. Por

tanto, estas ideias se assemelham a abordagem cognitivista que tem um

caráter mais interacionista, o que significa que as pessoas durante suas

interações com outras pessoas e com o meio em que vivem, aprendem por

meio destas interações, estabelecem novas conexões cognitivas. Nesta

abordagem o “aprender sozinho” não é descartada, mas o foco está na

interação das pessoas. Tanto alunos, quanto professores podem aprender e

ensinar uns aos outros (MIZUKAMI, 2014; BECKER, 1994). Esta ideia se

complementa com a fala seguinte que também remete à abordagem

cognitivista:

[...] Nós aprendemos com o outro. Com certeza você vai aprender com o seu supervisor, como você vai aprender com o seu colega que está na mesma sala. (Entrevistado 1).

Já em outro momento da entrevista, E1 revela uma concepção que

alunos e professores não caminham juntos, são distintos um do outro e não

devem estabelecer relação de amizade, contrariando as ideias anteriores a

respeito da relação professor-aluno:

Eu não sou amigo de aluno, não confundir, amizade com afetividade, eu não quero aproximação física com aluno, sabe, está tudo fora do lugar, aluno é aluno e professor é professor, a gente não pode ser amigos. (Entrevistado 1).

Neste caso, suas ideias parecem mais com a abordagem tradicional, em

que a relação professor-aluno é divergente, cada um tem um papel dentro do

processo de ensino-aprendizagem e não estabelecem vinculo de trabalho

coletivo (MIKUZAMI, 2014).

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Foi possível perceber que nos argumentos de E1 há incoerências, pois

em alguns momentos em sua fala trazem ideias que são conflituosas, por tanto

se contradizem. Talvez isso ocorra, pois a entrevista semi-estruturada pode

trazer reflexões momentâneas e pode levar o professor a mudar de ideia em

pouco tempo. Outra possibilidade é que E1 pode não ter clareza da sua própria

prática docente, neste caso deve-se estabelecer momentos de reflexão com os

objetivos de ensino-aprendizagem que este professor deseja alcançar em suas

aulas.

4.2 Segundo entrevistado

O segundo entrevistado (E2) é do gênero masculino, tem 43 anos, é

professor de Ensino Médio há 15 anos e participa do PIBID há dois anos.

E2 argumenta que a aprendizagem pode ocorrer sem o professor, pois o

professor não ensina, ele facilita a aprendizagem para o aluno.

Ensino é um processo que se faz com o professor, que é o educador, o facilitador e o aluno que é o educando, então é um processo na verdade de ensino e aprendizagem, na verdade você não ensina ninguém, você facilita este processo de aprender. (Entrevistado 2).

Este argumento se assemelha com a abordagem humanista, pois a

concepção do papel do professor é a de facilitador da aprendizagem, acredita-

se que o aluno nasce com um propósito de aprendizagem e que enquanto esta

em situação escolar, o professor deve guia-lo mais próximo deste propósito,

mas não interfere na aprendizagem, o aluno sabe o que quer aprender, mas

não sabe buscar estas informações. O objetivo deste ensino é fazer com que o

aluno adquira a autonomia de aprender o que quer sozinho e com isso adquirir

autoconhecimento (MIZUKAMI, 2014; BECKER, 1994).

Na fala a seguir, E2 continua com a ideia de o professor ajudar o aluno,

porém com um tom diferente da fala analisada anteriormente, pois desta vez o

professor tem o caráter mais próximo de um mediador do aprendizado:

[...] Ensino e aprendizagem, um não está desconectado do outro, então neste processo, o que é? É um crescimento da construção dos próprios conhecimentos com a ajuda do professor, então o aluno ele vai aprender como ele pode crescer e desenvolver seus conhecimentos. (Entrevistado 2).

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E2 argumenta que o aluno vai aprender a crescer e desenvolver-se com

a ajuda do professor, que neste caso parece assumir o papel de professor

mediador, que se difere do professor facilitador. O professor facilitador vai

mostrar as oportunidades, vai “abrir portas”, para que o aluno sozinho aprenda

e busque informações de seu interesse pessoal. Já o professor mediador ele

vai ajudar o aluno em seu aprendizado, não só guiá-lo, vai orienta-lo, propor

questionamentos, para que o aluno desenvolva sua estrutura cognitiva, este

processo de mediação ocorre na interação professor-aluno. Já o facilitador não

vai interagir com o aluno. (MIZUKAMI, 2014; POZO e ECHEVERRÍA, 2001;

BECKER, 1994). Por tanto, esta fala se parece com as ideias apresentadas na

abordagem sociocultural e é complementada na fala a seguir, que adota a

mesma linha de raciocínio.

A meu ver o processo de ensino e aprendizagem é um processo de mão dupla, porque têm que ter a colaboração tanto do professor quanto do aluno, os dois devem estar motivados e interessados em crescer e aprender. O professor também aprende com o aluno, não é só o aluno que aprende com o professor. Os dois caminham juntos na construção do conhecimento. (Entrevistado 2).

Nesta passagem, E2 comenta que, tanto professor quanto aluno

aprendem, caminham juntos no processo de ensino-aprendizagem, crescem e

desenvolvem-se, constroem seus conhecimentos. Parecido com a abordagem

sociocultural, citada logo a cima. Nesta abordagem a relação docente-discente

é de interação, nesta interação ambos aprendem e ensinam. A aprendizagem

nesta abordagem ocorre com a construção de conhecimento, ou seja, as

pessoas desenvolvem seus conhecimentos sobre determinado conteúdo,

fazem relações com outros conteúdos, com problemáticas. Não reproduzem a

realidade, mas estudam para mudar a realidade. Esta passagem se enquadra

melhor na abordagem sociocultural, mesmo sendo muito semelhante à

abordagem cognitivista, por conta do contexto em que esta passagem se

encontra, fica mais claro com a fala a seguir:

Também é importante destacar que o aluno ele precisa desenvolver a questão da cidadania, promover a cidadania do mundo como sujeito. (Entrevistado 2).

Com esta passagem, é possível perceber que E2 se preocupa com a

questão social, então aprender não se limita a adquirir conhecimentos, mas sim

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em promover a cidadania. Por isso, a abordagem sociocultural se assemelha

mais a passagem anterior a esta. Percebe-se também que E2 utiliza a palavra

“sujeito”. Segundo Paulo Freire (2011) o objetivo da educação é o

reconhecimento das pessoas como sujeitos ativos de uma sociedade. As

pessoas tornam-se sujeitos quando refletem sobre a própria condição no

mundo e a partir deste momento estudam para fazer mudanças nesta realidade

que conhecem.

Já na abordagem cognitivista o papel do professor em sala de aula é

criar condições para que a aprendizagem ocorra. Por isso, a docente presta

muita atenção nas particularidades de cada aluno (MIZUKAMI, 2014). Na fala a

seguir, E2 demonstra sua concepção com o papel do professor, que muito se

assemelha a abordagem cognitivista citada.

O professor ele vai criar condições favoráveis à aprendizagem, então ele vai estimular. Então, primeiro ele vai sensibilizar o aluno a determinadas questões importantes e facilitar a construção deste conhecimento. (Entrevistado 2).

E2 também demonstra sua concepção a favor da interação professor-

aluno, na passagem a seguir ele explica que procura facilitar a interação entre

ele e os alunos, tentando se aproximar, trocando informações e experiências:

Eu sou uma pessoa que tento primeiramente facilitar a aproximação deste aluno comigo, criando uma empatia, tentando entender melhor a realidade deste aluno, conhecendo melhor ele, dialogando, facilitando esta interação, onde ele não me vê como alguém muito distante dele, onde nós podemos trocar informações, experiências. (Entrevistado 2).

Na abordagem sociocultural o papel do professor é estabelecer

interação com o aluno e entre os alunos, também a de trabalhar em cima das

experiências reais, para que a construção do conhecimento esteja mais

próxima da realidade dos sujeitos de determinada comunidade (MIZAKAMI,

2014).

O trecho a seguir, complementa as ideias abordadas na análise anterior:

A aula ela é planejada, mas ela não pode ser previsível, então vão aparecer componentes da vida dos alunos, questões voltadas para a realidade e que vão tornar a aula enriquecedora.

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Nesta fala, E2 traz a ideia de as aulas são imprevisíveis mesmo que

planejadas, pois os alunos trazem experiências e informações que podem ser

trabalhadas durante aula, por fazer parte da realidade deles. Segundo a

abordagem sociocultural, temas sobre a realidade de uma comunidade são

discutidos, pois é isso que torna o processo de ensino-aprendizagem

enriquecedor, estes temas geradores são considerados significativos e

problematizadores, por fazer parte da realidade dos sujeitos ali presente na

aula (MIZUKAMI, 2014; FREIRE, 2011).

E2 também argumenta a repeito da relação professor-aluno apresentada

na fala a passagem a seguir:

O aluno ele é importante neste processo porque é ele quem vai trazer também as suas motivações, as suas experiências de vida, toda sua bagagem. Vai partir disso para a construção do conhecimento, então o aluno é fundamental porque é para ele que se destina todo este processo, então a educação ela é voltada para o crescimento do aluno, então ele é o sujeito fundamental do processo, sem ele não vai existir educação. (Entrevistado 2).

Apesar da ideia de que a construção do conhecimento ocorre, a relação

professor-aluno nesta fala se mostra de forma unidirecional, uma vez que

apenas o aluno é visto como sujeito do processo de ensino-aprendizagem,

semelhante à abordagem comportamentalista por dar ênfase na aprendizagem

do aluno. Segundo Mizukami (2014) nesta abordagem o aluno é o objeto de

aprendizagem e a função primordial do professor é estabelecer formas para o

aprendizado do aluno seja maximizado, como por exemplo, as contingências

de reforços positivos e negativos.

4.3 Terceiro entrevistado

O terceiro entrevistado (E3) é do gênero masculino, tem 40 anos, é

professor de Ensino Médio há 17 anos e participa do PIBID há dois anos.

E3 traz ideias de transmissão de conhecimentos na seguinte frase:

Ensino é o processo de adaptação do saber acumulado entre as novas gerações. É a transmissão de conhecimento acumulado pelas gerações. (Entrevistado 3).

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Estas ideias podem ser relacionadas à abordagem tradicional, pois nesta

abordagem o conhecimento é acumulado entre as gerações. Os alunos

adquirem o conhecimento que é passado pelos professores que já adquiriram

este conhecimento em algum momento da sua formação (MIZUKAMI, 2014).

Complementando esta ideia o E3 argumenta que o aluno aprende quando

consegue conduzir as informações adquiridas pela transmissão de

conhecimento:

Aprendizagem é justamente quando o sujeito deste processo de ensino consegue administrar as informações transmitidas. (Entrevistado 3).

No modelo tradicional de ensino, os alunos aprendem a reproduzir a

realidade, fazer a leitura desta realidade. O professor tem o papel de procurar

evidencias que provem que o aluno consegue reproduzir e conduzir as

informações transmitidas (MIZUKAMI, 2014; MAURI, 2006). As falas a seguir

parecem exemplificar estas ideias:

Um código é justamente o que o educando deve aprender a decifrar para poder fazer uma leitura da realidade. E para esta leitura ele tem que saber dialogar com este saber que é acumulado. (Entrevistado 3).

Transmissão de conhecimento não é algo que se deposita nas caixinhas mentais dos alunos é uma missão que cada professor tem de ter o compromisso com uma herança cultural e tornar esta herança cultural acessível aos educandos de modo que o aluno tenha ferramentas (...) ferramentas conceituais. (Entrevistado 3).

Nesta última fala, E3 parece acreditar que a transmissão do

conhecimento é um papel cultural, para que as informações de uma

determinada realidade chegue a outras gerações, uma herança a ser

transmitida.

Também é levantado por E3 o papel do professor em aula dizendo que

ele é um sujeito ativo e não dispensável, pois é ele quem vai passar as

informações aos alunos.

O professor é apenas o mediador deste processo de ensino e aprendizagem. Principalmente hoje na era mais virtual que nós vivemos o professor não é descartável, porque no mundo virtual você tem muita informação e os instrumentos virtuais, os mecanismos que se usam na propagação de informação, não dá para o aluno a

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capacidade de ele entender o que ele vai fazer com aquela informação, só o professor. (Entrevistado 3).

Ainda na linha da abordagem tradicional, o foco está no professor, é ele

que contém as informações corretas e apenas ele pode passá-las para os

alunos, nunca o contrário. (MIZUKAMI, 2014; POZO E ECHEVERRÍA, 2001;

MAURI, 2006). Por tanto, esta fala a cima, pode ser relacionada com a

abordagem tradicional.

Já o trecho a seguir, entra em uma linha um pouco semelhante por

continuar a tratar da transmissão de conhecimentos e acúmulo de informações,

mas se diferencia por entrar no âmbito dos mecanismos para a aprendizagem

ocorrer:

Acredito que o ensino também deva ser comprometido, agora como transmitir este saber acumulado, também tem que saber a ciência no caso a pedagogia, a psicopedagogia para a gente poder utilizar mecanismos mais adequados ao que se tem sobre o conhecimento do processo de cognição e transmissão de conhecimento. (Entrevistado 3).

A abordagem comportamentalista é relativamente semelhante a

tradicional, pois também trabalha com a reprodução da realidade e transmissão

de conhecimentos. Porém, nesta abordagem, diferente da tradicional, o

professor tem a responsabilidade de encontrar mecanismos para os

conhecimentos serem adquiridos, então há certa importância em como a

aprendizagem pode ocorrer (MIZUKAMI, 2014). O trecho citado acima, se

assemelha-se às ideias da abordagem comportamentalista, o professor

demonstra se importar em encontrar mecanismos, no caso das ciências, da

pedagogia e psicopedagogia, para continuar com o processo de transmissão

de conhecimento de forma mais satisfatória para todos os envolvidos.

Em outro momento da entrevista, E3 se posiciona diretamente com a

relação entre ensino-aprendizagem:

Como podemos relacionar o ensino e a aprendizagem? Quando a aprendizagem consegue por um processo de administração do conteúdo, consegue fazer com que o educando se aproprie dos principais conceitos que vão fazê-lo entender qual o sentido do ensino, daquilo que se propões ensinar para ele. (Entrevistado 3).

Na abordagem cognitivista, é importante que o conteúdo (foco da

aprendizagem), seja significativo para o aluno, só assim ele poderá fazer

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relações com o que já está presente em sua estrutura cognitiva. Fazer com que

o aluno entenda os objetivos de ensino é uma forma de dar significa aos

conteúdos estudados (MIZUKAMI, 2014). Por tanto, o trecho anterior se

assemelha a abordagem cognitivista, pois o E3 comenta que o educando

passará a aprender certo conteúdo, quando conseguir administra-lo e entender

o sentido de ensino que está sendo proposto para ele. Outra fala que pode ser

relacionado a esta abordagem e as ideias da fala anterior é:

Eu procuro às vezes trazer algumas questões de vestibulares, mas sempre tentando mostrar para eles que existe um significado ali, para eles poderem decodificar aquelas informações, não apenas decorar as coisas, nem guardar as coisas por guardar, mas saber acessar aquilo. (Entrevistado 3).

Nesta fala, E3 também fala da importância de atribuir significado aos

conteúdos apresentados. As questões de vestibulares poderiam ser

trabalhadas de uma forma tradicional, o professor pede para os alunos resolve-

las e os alunos devem resolvê-las, mas não há uma motivação, não há

questionamento para a demanda da atividade. Na fala de E3 fica claro, que ele

tentou mostrar para os alunos um significado em resolver os exercícios, por

isso este trecho também se relaciona a abordagem cognitivista. Também pelo

fato de explicar que as informações podem ser guardadas e acessadas, assim

como ocorre no processo de cognição desta mesma abordagem.

Em outro momento da entrevista E3 fala sobre o processo de mediação

e construção, também traz a ideia de que o aluno e professor aprendem ao

buscarem informações, ambos são ativos no processo:

O professor é o mediador deste processo de construção, sendo o mediador ele vai dar um substrato seguro intelectual para o aluno, onde ele possa assentar-se e buscar informações seguras e destas informações tanto professor quanto o educando aprendem. (Entrevistado 3).

Esta argumentação se assemelha com as ideias da abordagem

sociocultural, em que professores e alunos aprendem juntos, procuram

informações referentes a algum tema gerador. O professor faz o papel de

mediador deste processo, assim como o E3 diz, o professor vai dar um

substrato seguro intelectual para que os alunos possam construir-se.

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Ainda sobre a abordagem sociocultural, Paulo Freire explica que os

sujeitos são inacabados, por tanto sempre estão aptos a aprenderem.

(MIZUKAMI, 2014). E3 apresenta uma ideia semelhante na fala a seguir:

Eu acredito muito que o professor principalmente hoje na época que nós vivemos ele tem que ser o mediador e tem que ter a humildade de saber que ele também precisa aprender mais. (Entrevistado 3).

É possível perceber que E3 acredita que o professor também pode

aprender assim como os alunos, e que por isso é importante que ele mantenha

a humildade para assumir que precisa continuar estudando. Esta ideia parece

às ideias da abordagem sociocultural, em que os sujeitos devem ter

consciência do seu inacabamento e tanto aluno quanto mediadores estudam e

aprendem ao buscar soluções juntos para as problemáticas atuais de sua

comunidade (MIZUKAMI, 2014).

Em outros momentos da entrevista, E3 apresenta opiniões diferentes

das anteriores. Dá a ideia de que o aluno é o principal foco do ensino e que

este aluno deva procurar sempre o autoconhecimento, estas opiniões podem

ser observadas nas seguintes falas:

O papel do aluno é ao mesmo tempo de aprendiz, aquele que está procurando elementos mais sólidos para poder entender a realidade e a si mesmo. E neste processo ele poder aprender a fazer, a ser, entender sua existência. (Entrevistado 3).

Porque na realidade o aluno a princípio não é um narrador de si mesmo e quando ele consegue narrar, ele consegue se perceber um agente, consegue fazer uma leitura e escrever sobre si mesmo, ler sobre si mesmo, ele mesmo vai perceber o valor do conhecimento da vida dele. (Entrevistado 3).

Nesta fala, E3 parece acreditar que o entendimento da própria existência

seja um fator importante para o desenvolvimento dos alunos, o seu papel seria

a de procurar elementos sólidos para que este autoconhecimento ocorra, pois

este processo de conhecimento da própria vida não se dá de forma

espontânea.

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Agora a competência do aluno virá conforme o professor conseguir mediar e fazer com que o aluno encontre a verdadeira causa da existência dele. (Entrevistado 3).

Já nesta fala E3 argumenta que a competência do aluno depende de um

direcionamento por parte do professor, para que este aluno consiga encontrar

sua função.

Segundo a abordagem Humanista, o objetivo do ensino é o

autoconhecimento e aprimoramento das habilidades inatas. Acredita-se que os

alunos nasçam com habilidades próprias e que ao longo do período da

educação escolar, estes alunos sejam guiados a chegarem em seus destinos

pelos facilitadores de conhecimento, que não interferem nas escolhas dos

alunos. Neste tipo de ensino, a avaliação se dá por autoavaliações, os alunos

são estimulados a obterem certa autonomia para fazer suas escolhas e

refletirem sobre sua própria educação.

Será apresentado a seguir um quadro (Quadro 2) elaborado a partir da

análise interpretativa contendo a relação entre trechos relevantes da

transcrição das entrevistas e suas tendências com base no referencial de

Mizukami (2014).

Quadro 2- Relação entre trechos relevantes das entrevistas realizadas e suas

tendências a partir da análise interpretativa do pesquisador.

Trechos relevantes Tendência Entrevistado

Aprender é quando a gente muda de atitude, mas não são imediatas e ai que

está o problema, por que agente quer ver o resultado, mas não tem como ver o

resultado imediato.1 Ai a única coisa que a gente consegue ver é quando ele consegue

repetir o que você diz.2

Abordagem

Cognitivista1

E1

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Abordagem

Tradicional2

“[...] Eu discordo que aluno tem que escolher. Aluno não tem que escolher nada. Não tem que escolher, por que eles não sabem mais do que a gente, os especialistas somos nós”.

Abordagem

Tradicional E1

“Eu sempre acho que ensinar é para os escolhidos. Eu não posso ensinar algo para o aprendiz que não quer aprender. [...] É necessário desejar, ou que você crie o desejo”.

Abordagem

Humanista

E1

“O papel do aluno é trabalhar pedagogicamente, ele tem esse dever, se eu tenho a obrigação de planejar as atividades, ele tem a obrigação de realiza-las. Não tem escolha, não tem esse papo Não querer.”

Abordagem

Tradicional E1

“[...] Então a aprendizagem se dá pela repetição, em níveis diferentes, em dificuldades diferentes, com perspectivas diferentes. E tem que repetir, não tem o que fazer”.

Abordagem

Tradicional

E1

“Eu entendo ensinar como facilitar, como orientar, como coordenar conhecimentos e principalmente na época que nós estamos vivendo, para conseguir informação não precisa de um professor. Fazer listas infindáveis de exercícios? Para quê? Vocês têm todas as respostas, todas as resoluções, em qualquer lugar da internet, por que os livros didáticos trazem os mesmos exercícios, com raríssimas exceções.”

Abordagem

Humanista

E1

Os dois tem o mesmo papel, os dois têm exatamente os mesmos deveres, que é aprender e ensinar. Por que quando você é aluno e faz um trabalho em grupo, você também ensina.

Abordagem

Sociocultural E1

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[...] É o meu papel descobrir suas dificuldades, não suas fortalezas, o que você sabe, já sabe, eu preciso saber o que você não sabe, para eu criar mecanismos para diminuir esta dificuldade ou cancelar esta dificuldade, por tanto eu estou aqui para mostrar o ruim mesmo, o que você não sabe, não adianta [...].

Abordagem

comportamentalista E1

[...] Nós aprendemos com o outro. Com certeza você vai aprender com o seu supervisor, como você vai aprender com o seu colega que está na mesma sala.

Abordagem

Cognitivista E1

Eu não sou amigo de aluno, não confundir, amizade com afetividade, eu não quero aproximação física com aluno, sabe, está tudo fora do lugar, aluno é aluno e professor é professor, a gente não pode ser amigos.

Abordagem

Tradicional E1

Ensino é um processo que se faz com o professor, que é o educador, o facilitador e o aluno que é o educando, então é um processo na verdade de ensino e aprendizagem, na verdade você não ensina ninguém, você facilita este processo de aprender.

Abordagem

Humanista E2

Ensino e aprendizagem, um não está desconectado do outro, então neste processo, o que é? É um crescimento da construção dos próprios conhecimentos com a ajuda do professor, então o aluno ele vai aprender como ele pode crescer e desenvolver seus conhecimentos.

Abordagem

Sociocultural E2

A meu ver o processo de ensino e aprendizagem é um processo de mão dupla, porque têm que ter a colaboração tanto do professor quanto do aluno, os dois devem estar motivados e interessados em crescer e em aprender. O professor também aprende com o aluno, não é só o aluno que aprende com o professor. Os dois caminham juntos na construção do conhecimento

Abordagem

Sociocultural E2

[...] O professor ele vai criar condições favoráveis a aprendizagem, então ele vai estimular. Então, primeiro ele vai sensibilizar o aluno a determinadas questões importantes e facilitar a construção deste conhecimento.

Abordagem

cognitivista E2

[...] Também é importante destacar que o aluno ele precisa desenvolver a questão da cidadania, promover a cidadania do mundo como sujeito.

Abordagem

Sociocultural E2

O aluno ele é importante neste processo porque é ele quem vai trazer também as

Abordagem E2

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suas motivações, as suas experiências de vida, toda sua bagagem. Vai partir disso para a construção do conhecimento, então o aluno é fundamental porque é para ele que se destina todo este processo, então a educação ela é voltada para o crescimento do aluno, então ele é o sujeito fundamental do processo, sem ele não vai existir educação.

Comportamentalista

Eu sou uma pessoa que tento primeiramente facilitar a aproximação deste aluno comigo, criando uma empatia, tentando entender melhor a realidade deste aluno, conhecendo melhor ele, dialogando, facilitando esta interação, onde ele não me vê como alguém muito distante dele, onde nós podemos trocar informações, experiências.

Abordagem

Sociocultural E2

A aula ela é planejada, mas ela não pode ser previsível, então vão aparecer componentes da vida dos alunos, questões voltadas para a realidade e que vão tornar a aula enriquecedora.

Abordagem

Sociocultural E2

Ensino é o processo de adaptação do saber acumulado entre as novas gerações. É a transmissão de conhecimento acumulado pelas gerações.

Abordagem

Tradicional E3

Acredito que o ensino também deva ser comprometido, agora como transmitir este saber acumulado, também tem que saber a ciência no caso a pedagogia, a psicopedagogia para a gente poder utilizar mecanismos mais adequados ao que se tem sobre o conhecimento do processo de cognição e transmissão de conhecimento.

Abordagem

Comportamentalista E3

Aprendizagem é justamente quando o sujeito deste processo de ensino consegue administrar as informações transmitidas

Abordagem

Tradicional E3

Como podemos relacionar o ensino e a aprendizagem? Quando a aprendizagem consegue por um processo de administração do conteúdo, consegue fazer com que o educando se aproprie dos principais conceitos que vão fazê-lo entender qual o sentido do ensino, daquilo que se propões ensinar para ele

Abordagem

Cognitivista E3

Um código é justamente o que o educando deve aprender a decifrar para poder fazer uma leitura da realidade. E para esta leitura ele tem que saber dialogar com este saber que é acumulado

Abordagem

Tradicional E3

O professor é apenas o mediador deste processo de ensino e aprendizagem. Principalmente hoje na era mais virtual que

Abordagem

Tradicional E3

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nós vivemos o professor não é descartável, porque no mundo virtual você tem muita informação e os instrumentos virtuais, os mecanismos que se usam na propagação de informação, não dá para o aluno a capacidade de ele entender o que ele vai fazer com aquela informação, só o professor.

O professor é o mediador deste processo de construção, sendo o mediador ele vai dar um substrato seguro intelectual para o aluno, onde ele possa assentar-se e buscar informações seguras e destas informações tanto professor quanto o educando aprendem.

Abordagem

Sociocultural E3

Eu acredito muito que o professor principalmente hoje na época que nós vivemos ele tem que ser o mediador e tem que ter a humildade de saber que ele também precisa aprender mais

Abordagem

Sociocultural E3

O papel do aluno é ao mesmo tempo de aprendiz, aquele que está procurando elementos mais sólidos para poder entender a realidade e a si mesmo. E neste processo ele poder aprender a fazer, a ser, entender sua existência.

Abordagem

Humanista E3

Agora a competência do aluno virá conforme o professor conseguir mediar e fazer com que o aluno encontre a verdadeira causa da existência dele.

Abordagem

Humanista E3

Eu procuro às vezes trazer algumas questões de vestibulares, mas sempre tentando mostrar para eles que existe um significado ali, para eles poderem decodificar aquelas informações, não apenas decorar as coisas, nem guardar as coisas por guardar, mas saber acessar aquilo.

Abordagem

Cognitivista E3

Transmissão de conhecimento não é algo que se deposita nas caixinhas mentais dos alunos é uma missão que cada professor tem de ter o compromisso com uma herança cultural e tornar esta herança cultural acessível aos educandos de modo que o aluno tenha ferramentas (...) ferramentas conceituais.

Abordagem

Tradicional E3

Porque na realidade o aluno a princípio não é um narrador de si mesmo e quando ele consegue narrar, ele consegue se perceber um agente, consegue fazer uma leitura e escrever sobre si mesmo, ler sobre si mesmo, ele mesmo vai perceber o valor do conhecimento da vida dele.

Abordagem humanista E3

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A seguir é apresentado um gráfico (Gráfico 1) com a representação em

porcentagem da frequência das abordagens pedagógicas contidas nas falas

relevantes de todos os participantes (E1, E2 e E3).

Conclui-se que a abordagem tradicional está presente com maior

frequência nas falas relevantes e interpretadas dos professores supervisores.

Os dados coletados sobre os participantes como o da idade, tempo de carreira

como professor de Ensino Médio e tempo de participação no projeto de

iniciação à docência, não foram fatores determinantes das concepções

encontradas, pois se diferem em termos de concepções de ensino-

aprendizagem. Apesar de E1, E2 e E3, serem do mesmo gênero,

apresentarem de 1 a 2 anos de participação de PIBID e estarem na faixa de 40

a 50 anos de idade. E1 tem aproximadamente 10 anos de carreira a mais de

diferença dois outros dois participantes. Porém, apresenta concepções

semelhantes a abordagem tradicional tanto quanto o E3. Já o E2, por sua vez,

apresenta maior número de falas semelhantes a abordagem sociocultural.

31%

19% 9%

25%

16%

Abordagens Pedagógicas

Tradicional

Humanista

Comportamentalista

Sociocultural

Cognitivista

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Sugere-se que por tanto, as concepções sobre ensino-aprendizagem se

diferem por conta das suas respectivas formações docentes.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho foi realizado com o objetivo de analisar as

concepções de professores supervisores do PIBID sobre ensino-aprendizagem.

Apesar da limitação da redução do número de participantes do estudo, foi

possível estabelecer um novo olhar para as questões do ensino e

aprendizagem dentro da perspectiva do projeto de iniciação a docência de uma

universidade particular.

Os resultados aqui apresentados ajudam a concluir que as concepções

de professores supervisores de um projeto de iniciação a docência apresentam

uma diversidade de ideias, porém a linha tradicional do ensino se mostrou a

mais comum entre todas as outras, atingindo as expectativas desta pesquisa.

Cabe destacar que a ação docente é uma experiência relacional, ou

seja, é calcada na relação com o outro, no caso, do educador com o educando,

trazendo a complexidade de tal experiência. A pretensão de identificar e

analisar concepções de ensino e aprendizagem mostrou-se um

empreendimento complexo, observado nos argumentos com certos conflitos e

incoerências. Por outro lado, a experiência em identificar predominantemente

certas concepções não invalida a riqueza desta experiência investigativa.

Tendo isso em vista, é importante ressaltar a importância do

conhecimento e reflexão sobre as diversas abordagens do ensino-aprendizado,

pois os professores supervisores têm influências não só no aprendizado dos

seus alunos, mas também sobre a formação de professores. É importante que

o futuro professor não apenas leia e discuta propostas às alternativas de

ensino, mas também que vivencie.

Seria de grande contribuição uma futura continuidade deste trabalho,

com observações de aulas, para conhecer a prática docente e enriquecer a

interpretação dos resultados.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECKER, Fernando. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. In: Educação e Realidade. Porto Alegre, 19 (1), jan/jun.1994.p. 89-96.

BRASIL. Pibid - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Disponível em:<http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>. Acesso em: 28 mar. 2015.

COLL, C e SOLÉ, I. Os professores e a concepção construtivista. In: COLL, C, MARTÍN, E, MAURI, T, MIRAS, M, ONRUBIA, J, SOLÉ, I, ZABALA, A. O construtivismo em sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 2006. p. 09-28.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 55. ed. Ver. E atual. -- Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

LÜDKE,M. E ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.São Paulo: EPU. Temas básicos de educação e ensino. 2008

MAURI, T, O que faz com que o aluno e a aluna aprendam os conteúdos escolares? In: COLL, C, MARTÍN, E, MAURI, T, MIRAS, M, ONRUBIA, J, SOLÉ, I, ZABALA, A. O construtivismo em sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 2006, p.79-121.

MIZUKAMI, Maria das G.N. Ensino: As abordagens do processo. Temas básicos de Educação e Ensino. São Paulo. EPU. 2014.

POZO, Juan. I. e ECHEVERRÍA, Maria del P.P. As concepções dos professores sobre a aprendizagem. Rumo a uma nova cultura educacional. Pátio Revista Pedagógica. Artmed. nº. 6, fev./abril 2001. p 19-23.

ROSA, S. Mudar ou não mudar: Eis a questão. In: ROSA, S., Construtivismo e Mudança, 10ª Ed., São Paulo, Cortez Editora, 2003, p. 21-39.

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7. APÊNDICES

Apêndice A- Carta de Apresentação e Termo de Consentimento para o

Sujeito

CARTA DE INFORMAÇÃO AO SUJEITO/ AO RESPONSÁVEL PELO

SUJEITO

Esta pesquisa tem como intuito analisar as concepções de professores

supervisores do PIBID de uma Universidade particular em São Paulo sobre

Ensino e Aprendizagem. Para tanto, realizaremos uma entrevista semi

estruturada que será gravada e posteriormente analisa mantendo o sigilo das

informações dos participantes. Os participantes da presente pesquisa são os

professores supervisores do Programa Institucional de Iniciação a Docência

(PIBID) do Mackenzie, no total serão 15 entrevistados. Estes professores estão

vinculados ao PIBID pelos cursos de Educação Física, Biologia, Filosofia,

Letras-Português, Matemática, Pedagogia e Químicas. Serão entrevistados 2

professores supervisores por curso, com exceção de Educação Física que

apresenta 3 supervisores homologados ao programa. Para tal solicitamos sua

autorização para a realização dos procedimentos previstos. O contato

interpessoal e a realização dos procedimentos oferecem riscos físicos e/ou

psicológicos mínimos aos participantes. As pessoas não serão obrigadas a

participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento. Em eventual

situação de desconforto, os participantes poderão cessar sua colaboração sem

consequências negativas. Todos os assuntos abordados serão utilizados sem a

identificação dos participantes e instituições envolvidas. Quaisquer dúvidas que

existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas, bastando

entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. Ressaltamos que se trata

de pesquisa com finalidade acadêmica, referida à TCC, que os resultados da

mesma serão divulgados em trabalho acadêmico obedecendo ao sigilo, sendo

alterados quaisquer dados que possibilitem a identificação de participantes,

instituições ou locais que permitam identificação. De acordo com estes termos,

favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com o participante da

pesquisa e outra com o(s) pesquisador (es). Obrigado.

São Paulo,....... de ..............................de..................

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a)

____________________________________, após a leitura da Carta de

Informação ao sujeito, ciente dos procedimentos propostos, não restando

quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à

realização da pesquisa. Fica claro que o(a) senhor(a), a qualquer momento,

poderá retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de

participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado

torna-se informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.

São Paulo,....... de ..............................de..................

_________________________________________

Assinatura do sujeito OU seu representante legal

Apêndice B- Roteiro de entrevista semiestruturada

1) O que você entende por ensino?

2) O que você entende por aprendizagem?

3) Como podemos relacionar ensino e aprendizagem?

4) Qual o papel do professor no processo de ensino aprendizagem?

5) E do aluno?

6) Como você acha que contribui com a aprendizagem de seus alunos?

7) O que você entende por transmissão de conhecimento?

8) O que você entende por construção de conhecimento?

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Apêndice C- Transcrição: Entrevistado 1

P: Pesquisadora E1: entrevistado 1

P: O que você entende por ensino?

E1: Eu entendo como aprendiz, não como ensino. Eu sempre acho que ensinar

é para os escolhidos. Eu não posso ensinar algo para o aprendiz que não quer

aprender. Então para eu ensinar está na relação de desejo assim... É

necessário desejar, ou que você crie o desejo. Se ela existe, maravilha, mas se

você pensa que se você entra em um curso de biologia no Mackenzie, você

não tem o que discutir se você quer aquela aula, se não quer aquela aula, você

tem que já chegar querendo e ai facilita horrores o trabalho do professor. Este

papo que a gente tem que motivar o aluno a aprender eu sou radicalmente

opositor. Eu não sou motivador de coisa alguma... Então voltando um pouco à

palavra, eu entendo ensinar como facilitar, como orientar, como coordenar

conhecimentos e principalmente na época que nós estamos vivendo, para

conseguir informação não precisa de um professor. Fazer listas infindáveis de

exercícios? Para quê? Vocês têm todas as respostas, todas as resoluções, em

qualquer lugar da internet, por que os livros didáticos trazem os mesmos

exercícios, com raríssimas exceções.

P: Então o aluno que deve buscar informações?

E1: Sim, e a gente entra aonde? Na dificuldade, óbvio. Nós somos melhores do

que eles, você tem que ser melhor que um aluno do ensino médio, você só não

é melhor ainda do que seu professor da faculdade, pois se não, não faz

sentido, aprendiz e professor. E não é para te dizer nada, para te ensinar nada,

eu acho que é para orientar o teu caminho. É como seu orientador do TCC ele

não vai fazer por você, é você que tem que construir isto. “Não estou sabendo

como analisar estas respostas” Ai ele sabe mais do que você, porque ele está

habituado a fazer este tipo de coisa e vai te orientar. Então voltando à

pergunta, o que é ensino? Ensino é facilitar, é orientar, é coordenar algo de

interesse do aprendiz.

P: Pensando em tudo o que você falou até agora, o que você entende por

aprendizagem?

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E1: Com os alunos não acontece, hoje não acontece. Eu tenho alunos deis do

primeiro ano de magistério, estão no terceiro e é como se eu nunca tivesse

trabalhado nada, mas eu acho que aprendizagem... Isto é cientifico né? Como

é que se da à aprendizagem?... É quando ela muda comportamento, eu acho.

A aprendizagem só acontece, quando ela muda comportamento, com relação a

tudo, também não é repetir o conceito aprendido, a gente aprende quando a

gente muda. Isto é muito amplo, mas especificamente na disciplina isto é

complicado, por que, como é que você aprende alguma coisa? Quando a gente

sabe repetir? A gente repete, mas não está aprendido. Então eu acho que é

isso, aprender é quando a gente muda de atitude, mas não são imediatas e ai

que está o problema, por que agente quer ver o resultado, mas não tem como

ver o resultado imediato. Ai a única coisa que a gente consegue ver é quando

ele consegue repetir o que você diz.

P: Seria forma de avaliação na forma que é feita hoje, né?

E1: Isso... É repetição. Como se aprende? Eu aprendo estudando, eu. Eu

aprendo repetindo, as repetições são... Pensa no curso de língua, você não

passa por uma lição e deixa para lá, para nunca voltar, você retoma, o

vocabulário você retoma, os verbos você retoma. Eu acho que se aprender, se

repetindo e se utilizando as coisas em diversas situações, em diversos

momentos. Hoje mesmo eu estava revisando a prova da Fatec, não

resolvendo, mas aproveitando o tema para fazer a revisão e estava fazendo a

revisão de mudança do estado físico. Então estava lá, ponto de fusão do zinco

e eu perguntava o que é ponto de fusão? O que é fusão? Então vamos lá, qual

estado físico que a matéria acontece, e estava falando, olha... isso é dito a

você no Ensino fundamental I, repetido no Ensino fundamental II na oitava

série e é repetido na primeira aula do ensino médio e você no terceiro não

saber repetir nem os nomes das mudanças, ai se diz, isto é importante? É né,

porque a água... Sei lá se é importante, mas você não lê o mundo se você não

souber minimamente o que significa estas coisas, eles não sabem ler mundo,

nem com conceito cotidiano nem com o conceito científico. Pergunta para um

aluno de terceiro ano: Explique por que quê chove e da todos os nomes

científicos destas mudanças que é básico, é simples, pergunta para o terceiro

ano: Qual a função da água no teu corpo? No seu, não é do mundo não, do

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marciano... No seu, porque existe, no seu corpo. Pergunta se tem água, para

ver, primeira pergunta. Então assim... Como é que se aprende, eu acho que

aprende se repetindo em situações diversas, e é por isso que vocês de biologia

são mais felizes e nem por isso não muda nada no Ensino Médio. Porque as

biológicas são repetição, alias todas as disciplinas do ensino com exceção da

Química e da Física, elas são repetição dos conteúdos, com a verticalização.

Por que Biologia, você estuda deis da Primeira série, deis do Pré primário, só

muda de nome lá na frente. Agora química não, os básicos de Química só

entram na oitava série de fato, por que eles carregam esta dificuldade. Então a

aprendizagem se dá pela repetição, em níveis diferentes, em dificuldades

diferentes, com perspectivas diferentes. E tem que repetir, não tem o que fazer

e você quando terminar seu curso e entrar para dar aula vai parecer que eles

não sabem nada de Biologia, parecem que eles nunca ouviram ou viram esta

ciência na vida, é algo assustador. Ai a pergunta fica: Como se aprende? Se

não é o aprendiz que faz isso, não tem que fazer isso, este discurso das

faculdades da educação, tudo mentira, não adianta, porque ele não consegue

fazer, se ele não fizer... Eu falo muito, se um dia um terapeuta for

responsabilizado pela morte de quem ele está tratando, ai eu vou me

responsabilizar por que o aluno não aprendeu. Por que o terapeuta não vai tirar

você da depressão, ele vai te ajudar, vai te orientar e facilitar caminhos para

sair, mas quem vai sair mesmo é você. Quem está nas drogas, seja qual for só

sai... Não adianta ir ao budista, igreja católica, candomblé, todas as energias

são validas, acho que tudo é valido, até na escola, tudo é valido: O material

didático, a aula expositiva... Esse papo também de “Vamos passear, aula de

laboratório... mentira, tudo mentira” Nada acontece quando o aluno não quer

ser alcançado. Esse papo de que professor tem que ser contemporâneo, não.

As vezes uma aula de quadro e giz, ou um livro didático e ele lendo ou lista de

exercícios, você fazendo... Eu não faço, mas são caminhos e todos são

validos. Têm aluno que vai preferir uma aula expositiva, você entrar e falar tem

aluno que quer copiar, á está altura do universo que ele vive... Copiar do

quadro... Eu digo para eles: Vocês moram em uma das maiores cidades do

mundo e você não conseguem dizer o que é uma pilha, parem e pensem nisso.

Eu só sei assim, só aprende aquele que quer aprender ou constrói e se

inventa, “eu quero isso, não quero muito não, mas vou fazer”.

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P: E o professor facilita no momento que este aluno tiver dúvidas?

E1: Sim, quando tiver dúvidas. E outras, acabar com a história do ensino

utilitário, com este papo do estado de que “você vai escolher o que quer”,

ninguém sabe o futuro. Você sabe que ia fazer Biologia deis de quando?

P: Pouco antes de eu entrar

E1: Gostou do curso?

P: Gostei

E1: Sorte sua, porque você poderia ter se decepcionado por algum motivo. O

PIBID te ajudou a esclarecer que você quer licenciatura?

P: Ajudou sim...

E1: Eu digo muito para a minha coordenadora do PIBID quando ela me conta:

“O aluno desistiu da licenciatura” e eu digo: “Coloca isto no relatório, por que

isto é bárbaro, é mais importante do que saber o que quer.” Você entrar no

PIBID e descobrir que não quer estar em uma sala de aula, todo mundo ganha.

Por que normalmente o que todo mundo vê, são alunos como vocês que

terminam o curso, fazem concurso público, passam, vem para escola e em

uma semana vão embora. Porque não aguenta, não é qualquer um que

aguenta.

P: Antes de eu entrar na licenciatura eu não queria ser professora, depois que

eu entrei, foi que eu percebi que eu gostava e que brilhava meus olhos.

E1: Então voltando... A pergunta foi exatamente “Como se aprende?” não?

P: É... O que você entende por aprendizagem?

E1: Para mim aprendizagem é tornar todas as informações conhecimentos e

isto também não é palpável é filosófico... Quando muda atitude, quando você

muda o olhar para as coisas...

P: Transformação?

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E1: Transformação, mas formação no sentido social, não é também no sentido

político, “eu vou mudar o mundo”, mas mudar a tua vida, olhar diferente, olhar a

poluição da cidade de um jeito diferente e não é apenas dizer “Ah, está

poluído” e repetir o que todo mundo fala “Está poluído”. É um meio de... É o

que chamam ai de aprendizagem significativa, que de alguma maneira é muito

poético, muito bonito, mas é tudo mentira.

P: Na prática não é bem assim?

E1: Deveria ser assim, deve ser assim, mas agora você querer que tudo que

você ensine seja usado, é um pouco demais.

P: Como você pode relacionar o ensino e a aprendizagem?

E1: Mão dupla, como matéria e energia, não dá para separar. E este papo, este

discurso ridículo que o professor também aprende é lógico, isto é um saco, não

precisa dizer isso. É natural quando você está estudando... E outra, por mais

que você vai entender isso para frente quando você for dar aula, você dá aula

26 anos sobre a fotossíntese, processo de produção de energia da célula, por

mais que você repita esta mesma aula, ano após anos, ainda sim existe um

lugar que você aprende, por um aluno, raramente acontece, mas acontece de

alguém te perguntar uma coisa que você precisa refletir para responder, claro...

Está dentro de um universo que você se acomoda, é como ator que já sabe o

que sabe fazer e vai lá e já faz o que sempre faz, nunca tem um lugar de risco,

por que é natural, principalmente as pessoas famosas, elas não se põem em

risco, você não vai por em risco, você faz o que já é sabido e que todo mundo

já considerou bom, então você não vai sair deste lugar, você pode perder um

lugar ali... É a mesma coisa o professor, não se põem em risco, por isso que eu

acho também que tem professor, que não permite a aula caminhar, eu discordo

que aluno tem que escolher, aluno não tem que escolher nada. Não tem que

escolher por que eles não sabem mais do que a gente, os especialistas somos

nós. Agora eles podem lecionar a aula de um jeito, você pode começar a aula

por eles assim, é o discurso do construtivismo, mas tem que tirar todas essas

coisas chatas ridículas, que fica tudo em uma forma que é um saco, mas você

pode... Ai você entra em um desconforto, pode vir coisas que você não está

preparado para responder, ou não lembra, ou sei lá... Mas isto amplia o teu

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aprender, aprender até a responder. Pode ter certeza, você que passou pelo

PIBID, quando assumir uma, você vai fazer diferente de um colega seu que

nunca entrou em uma sala de aula, é lógico... E só vendo os supervisores,

você diz assim: “A ta, isto eu vou fazer, isto eu não vou fazer, eu não quero dar

uma aula assim” e sair dali de outro jeito. Então este olhar também do não

exemplo, do negativo é também aprendizagem. Eu digo sempre para eles,

porque eles dizem que eu humilho, quando eu digo “você não está sabendo

isso”, eu falo “é o meu papel descobrir suas dificuldades, não suas fortalezas”,

“o que você sabe, já sabe, eu preciso saber o que você não sabe, para eu criar

mecanismos para diminuir esta dificuldade ou cancelar esta dificuldade, por

tanto eu estou aqui para mostrar o ruim mesmo, o que você não sabe, não

adianta...”. O papel do aprendiz... O seu orientador vai olhar para o seu

material e vai dizer “isto aqui você errou, não está muito bom”. Ele não vai olhar

para você e dizer “isto aqui está ótimo, olha que bacana”.

P: Os erros vão ser apontados

E1: Deve, é o papel dele, não é outro, ele não vai lá parar te parabenizar por

tudo de bom que você fez, é o seu dever fazer o que é correto, eu não entendo

porque a escola fica neste papo de que o menino não pode usar isso e dizer

aquilo. Eu trabalho com erro, não trabalho com acerto. Eu não trabalho com

elogio.

P: Você trabalha com o erro na sala de aula?

E1: O tempo inteiro, só me interessa o que não se sabe, não me interessa o

que o aluno já sabe. Eu devolvo a prova, ponho sublinhado, eu circulo, coloco

interrogação, ai eu digo “Olha... olha a prova” eles só olham a nota e dobram.

Eu pergunto “ninguém tem uma pergunta”. Ai um ou outro vem e diz “eu não

entendi porque você sublinhou isto aqui” “é porque está certo?” e eu digo “opa,

este já está compreendendo”. Eles não têm o hábito de olhar a prova, ele tem o

hábito de olhar a nota. E óbvio, no meu caso ele já entregaram para Deus,

porque normalmente como eu leio tudo, as notas nunca são tão boas, por que

eles copiam muito e copiam errado do outro, da internet. Toda a atividade seja

qual for eu saiu da sala. Eles têm que ter um entendimento que eu não sou

vigilante, se copiar... Não se copia raciocínio, se pode copiar qualquer coisa,

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mas não se copia raciocínio, por tanto, quem vai perder são eles, eu não tenho

nada a ver com isso. Então esta ideia de ensino e aprendizagem, sendo bem

bonito, bem bacana, como todo mundo repete que o professor também

aprende isto é tão natural.

Um médico consciente está sempre se atualizando e aprendendo e o professor

também, ai é Vigotski... A gente aprende com o outro, com certeza você vai

aprender com o seu supervisor, como você vai aprender com o seu colega que

está na mesma sala. Só que a distancia entre o que vocês vão aprender juntos,

é diferente do que vocês vão aprender junto com o seu supervisor do PIBID.

Por isso, os trabalhos em grupo são importantes, mas eles não sabem fazer

trabalhos em grupo, eles deixam alguém fazer e o resto colocam o nome e ai

não há troca, em hipótese alguma. É ótimo para a gente que corrige menos,

porém o trabalho tem um objetivo... Eles têm muito medo de mim e isto

atrapalha um pouco, mas por outro lado é muito bom, por que eu consigo

trabalhar. Por que tem professor que sai da sala, atualmente, semana passada,

atualmente, neste exato momento, por que não conseguiu trabalhar. Eu

consigo, mas nada acontece também, eles ficam múmias na sala, não me

perguntam nada, não acontece nada, às vezes eu digo assim “ou alguém fala,

ou a aula encerrou” por que não rola, eles têm medo de falar, dizendo que eu

vou xingar, que eu falo muito palavrão na sala, então eles têm medo de mim,

isto atrapalha o processo, mas por outro lado eu consigo da aula, que também

não muda muito a vida deles. Dando ou não dando aula, da no mesmo lugar. A

pena de tudo isso, que as pessoas que poderiam, eles perdem que a grande

maioria não quer nada, o professor cansa... Cansa, a gente cansa. Cansa de

tentar trabalhar, cansa de pedir para trabalhar, iai você abandona e aqueles

que poderiam crescer, não vão. Bom então está coisa de ensino

aprendizagem, ela se dá como matéria e energia, pensa nisso, que a gente

divide, mas é impossível dividir isto. É igual à matéria, tem como separar

matéria de energia? Não tem. É muito chateação estas coisas das faculdades

de educação são muito pé no saco.

P: Qual o papel do professor e do aluno?

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E1: Os dois tem o mesmo papel, os dois têm exatamente os mesmos deveres,

que é aprender e ensinar. Por que quando você é aluno e faz um trabalho em

grupo, você também ensina. E para o professor também... O papel da gente é

trabalhar, os dois, não é diferente. Eu tenho dever de propor atividades e o

aluno tem o dever de realiza-las. Eu tenho o dever de acompanhar o processo,

que é “porque ele não consegue fazer isso?” e o aluno tem o dever de me

mostrar. Por isso que eu estou dizendo que é igual, claro, guardados em seus

lugares, eu sei mais da minha matéria e os alunos estão caminhando para isto.

Então o dever da gente é o mesmo, eu tenho que te mostrar como aluno, o que

eu não sei e até onde eu fui e você tem que mostrar como professor, o que eu

preciso fazer para avançar. Então para mim... É que fica de novo, enche o saco

as faculdades de educação, que o professor tem que... Você já viu algum curso

que o aluno tem que? Não tem, é raríssimo. A pergunta é boa, qual o papel de

um aluno, dentro de uma escola. Nenhum? Receber? Colocar a bunda na

cadeira e receber? Ou “Vai lá ao laboratório, faz lá, volta lá, agora você vai

para o Parque da Luz, ver as plantinhas que tem lá”. Não é só isso, este é o

dever do professor, tem organizar atividades pedagógicas e você como aluno,

tem que realizar. O aluno não tem nem que querer é obrigação, você pode não

querer fazer e tem este direito, mas tem que arcar com as consequências. É

igual professor, seu professor lá na faculdade pode não propor nada para

vocês, mas ele vai arcar com isto, por que ele tem que fechar uma nota uma

hora. Como ele vai fazer isso, vai jogar a nota para vocês? Pode, mas pode

querer ganhar a nota de graça, calar. Mas pode ser que não “Tá errado isso,

ele não deu uma aula, não se meche, eu vou lá reclamar”. De algum jeito

agente arca com as coisas da gente. Mas eu acho assim, qual o papel do

professor, trabalhar pedagogicamente, qual o papel do aluno trabalhar

pedagogicamente. Isto significa o que o professor tem que propor atividades

pedagógicas, para atingir o que a gente quer, dentro do conteúdo da gente,

porque a escola é conteudista, tem que parar com este papo chato que a

escola não pode ser conteudista, ela é. Se professor da universidade está lá, é

porque alguma coisa ele mostrou em algum momento, deve ter feito algum

teste, eu não sei como é que entra nesta universidade, mas não deve entrar

pelo apadrinhamento e se for paciência, ele vai ter que mostra no trabalho que

ele tem competência e não é habilidade com o aluno, não é simpatia, não é

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afetividade, outra coisa importante, eu não sou amigo de aluno, não confundir,

amizade com afetividade, eu não quero aproximação física com aluno, sabe,

está tudo fora do lugar, aluno é aluno e professor é professor, a gente não

pode ser amigos. Ele não pode me tratar “Iai, cara” até pode, mas sabendo a

distância que é necessária entre a gente. Igual ao seu orientador, pode até ser

seu amigo, mas tem um limite, ele não é seu amiguinho, seu colega de sala.

Então assim, esta distancia, elas sumiram na escola. Me perdi na pergunta...

P: Qual o papel do aluno?

E1: É isto então, o aluno tem que saber que ele tem deveres, é que se

esqueceu disto na escola, parece que só o professor tem dever, isto está

errado, ele tem tanto dever de ensinar conteúdos. Os alunos tem o dever de

fazer os exercícios, fazer as leituras, participar das atividades, tem que fazer os

trabalhos em grupo, que assim também com o outro, ele troca, ele ensina como

aprende, igualzinho a mim. Na relação com as turmas eu faço a mesma coisa,

claro que o ensino ai é de outro jeito. Às vezes até... Pode ser de conteúdo, o

cara pode lembrar-se de um conteúdo que eu sei que posso usar em uma aula,

que posso fazer o link com alguma coisa, é assim que funciona. Acho que o

papel do professor é trabalhar e o do aluno também. O papel do aluno é

trabalhar pedagogicamente, ele tem esse dever, se eu tenho a obrigação de

realizar as atividades, ele tem a obrigação de realiza-las. Não tem escolha, não

tem esse papo “Eu não quero”. É igual uma aluna semestre passado: Por favor,

Aline, leia. Ela disse: eu não quero. E eu disse: Ou você lê ou você desse

comigo para a coordenação é sua única escolha, leia agora. E ela leu, mas na

outra semana disse a mãe dela que não queria mais vir à escola, pois eu a

humilhei na sala. Mas eu resolvi com ela até pelo telefone mesmo. Ela não

sabe o papel dela na sala, ela queria não fazer nada, ela queria só conversar.

Então se perdeu um pouco o papel do aluno na sala de aula. Eu como

professor, sou muito rígido, eu trabalho muito e o aluno tem que trabalhar

também, eu não vou trabalhar para ele. Eu digo para eles, eu não trabalho para

vocês, eu trabalho com vocês e vocês precisam me dar retorno, caso contrário

o trabalho não caminha, por tanto, ou quer e se não quer vai inventar querer.

Mas também isso não ajuda na aprendizagem, pois eles não sabem nada, eu

não sei o que fazer. Onde está a raiz da questão? Neles. Temos aqui três

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professores radicalmente diferentes nesta matéria e eles são os mesmo, eles

não mudam com quem eles estão fazendo. A maioria detesta meu trabalho,

não consegue acompanhar, porque eu não copio em quadro, não dito, não

passo lista de exercícios. É mais trabalhoso, pois eles têm que criar e eles

odeiam aulas investigativas. Quando pedi para eles me entregarem relatórios

das atividades, ninguém me entregou 29 alunos, nenhum me entregou nenhum

dos relatórios. Era para nota, era de 10 a zero, não era de zero a 10, pois todo

trabalho é 10, você que faz cair para zero, não é o professor. Se eu digo para

você que você deve fazer isto e isto e isto no trabalho e você não faz o que

está sendo pedido, objetivado, você não fez o trabalho, mas você sabe como o

trabalho é 10. Este discurso de que têm que colocar nota para eles fazerem é

mentira, eles não estão mais preocupados com nota, então assim, o aluno ele

tem que entender que ele tem obrigação. Então eu acho que são obrigações

idênticas, guardadas em seus lugares, tanto ensina, quanto aprender são

propriedades e características e dever de ambos.

P: Como você acha que contribui para a aprendizagem dos alunos?

E1: Com autonomia e responsabilidade, com minha matéria em nada. Eu tento,

mas eu não consigo, eu não consigo realizar trabalho nenhum aqui, claro que

nós alcançamos 1 ou 2, mas deveria ser ao contrário. Nós deveríamos perder

dois alunos em 30, e não ganhar 2 em 30. Então assim, eu contribuo mais com

a autonomia mesmo, a única coisa que eu posso deixar de legado para eles,

porque em química nada.

P: mas como você trabalha com a autonomia e responsabilidade com eles?

E1: Por exemplo, se tem um trabalho para entregar, se eles não me

entregarem tudo bem, mas se eles perguntarem que podem entregar depois eu

falo que não. E a autonomia é assim, quer entrar na sala é para trabalhar, se

não quer sai, e não é para sair e ficar andando pelos corredores é para ir direto

para a direção. A autonomia no sentido do aluno pode escolher o que ele quer

o que não quer e saber das consequências de cada ação deles. Ficar na sala

tem um resultado, sair da sala tem outro, todos podem ser bons, todos eu acho

que chegam a algum lugar. Informação tem ai, a rodo, não precisa de

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professor, se o aluno tem o mínimo, ele vai sozinho, procura as informações.

Enfim, pode ir para a próxima pergunta.

P: O que você entende por transmissão de conhecimento?

E1: Essa palavra não existe na educação, educação não é doença infecto

contagiosa, eu digo sempre isso também, se fosse transmissão bastava eu

soprar o conteúdo e os alunos poderia respirar profundamente, ai pronto ai

estava todo mundo aprendido, todo mundo sabido, mas não.

P: E construção do conhecimento?

E1: De novo, ai precisa de autores. Professor que diz que quer que o aluno

reproduza o que ele diz é perder tempo. Por isso não ajuda muita coisa, eu

estou com um prova do Fatec com eles que tem cinco questões ridículas, é só

decoreba, que não serve para nada. Então esta ideia da transmissão é uma

ideia péssima. E a ideia de construção é chateação, porque isto é fato, o

professor não deve ser construtivista, o ensino e a aprendizagem são

construtivistas, é construção do indivíduo. Cada um tem um limite do que seria

o melhor, e vai ser sempre bom. O papel da gente como professor não é

carregar os alunos é estar junto deles.

Apêndice D- Transcrição: Entrevistado 2

P: Pesquisadora E2: Entrevistado 2

P: O que você entende por ensino?

E2: Ensino é um processo que se faz com o professor, que é o educador, o

facilitador e o aluno que é o educando, então é um processo na verdade de

ensino e aprendizagem, na verdade você não ensina ninguém, você facilita

este processo de aprender, então essa coisa de transmissão de conhecimento,

a meu ver não é desta forma que se processa a educação.

P: O que você entende por aprendizagem?

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E2: Ambos os processos estão ligados, ensino e aprendizagem, um não está

desconectado do outro, então neste processo, o que é? É um crescimento da

construção dos próprios conhecimentos com a ajuda do professor, então o

aluno ele vai aprender como ele pode crescer e desenvolver seus

conhecimentos, então ele aprende com a ajuda do professor a desenvolver e

conhecer melhor, entender melhor os processos e os fenômenos biológicos por

exemplo.

P: Como podemos relacionar ensino e aprendizagem?

E2: A meu ver o processo de ensino e aprendizagem é um processo de mão

dupla, porque têm que ter a colaboração tanto do professor quanto do aluno, os

dois devem estar motivados e interessados em crescer e em aprender. O

professor também aprende com o aluno, não é só o aluno que aprende com o

professor. Os dois caminham juntos na construção do conhecimento, então

estes processos eles estão interligados completamente, por isso eu nem

separei, ensino e aprendizagem estão sempre conectados, não existe ensino

sem aprendizagem e nem aprendizagem sem ensino e é um processo, onde o

professor é um facilitador.

P: Qual o papel do professor neste processo de ensino e aprendizagem?

E2: No processo de ensino e aprendizagem, o professor ele vai criar condições

favoráveis a aprendizagem, então ele vai estimular. Então, primeiro ele vai

sensibilizar o aluno a determinadas questões importantes e facilitar a

construção deste conhecimento, buscando formas de fazer com que este

provesse se dê na melhor forma possível para o aluno. Buscando ferramentas,

metodologias, estratégias educativas e que sejam metodologias educativas do

ensino e aprendizagem que possibilitem a construção do conhecimento e a

visão crítica do mundo, porque também é importante destacar que o aluno ele

precisa desenvolver a questão da cidadania, promover a cidadania do mundo

como sujeito.

P: E qual seria o papel do aluno?

E2: O aluno ele é importante neste processo porque é ele quem vai trazer

também as suas motivações, as suas experiências de vida, toda sua bagagem.

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Vai partir disso para a construção do conhecimento, então o aluno é

fundamental porque é para ele que se destina todo este processo, então a

educação ela é voltada para o crescimento do aluno, então ele é o sujeito

fundamental do processo, sem ele não vai existir educação.

P: Como você acha que contribui para a aprendizagem dos alunos?

E2: Eu acho que no meu caso, eu sou uma pessoa que tento primeiramente

facilitar a aproximação deste aluno comigo, criando uma empatia, tentando

entender melhor a realidade deste aluno, conhecendo melhor ele, dialogando,

facilitando esta interação, onde ele não me vê como alguém muito distante

dele, onde nós podemos trocar informações, experiências, então eu acho que

isto facilita muito. Estabelecer uma relação de confiança ao longo das aulas

para que o aluno possa colocar suas dúvidas, suas questões, questões

inclusive da vida pessoal também. Eu tento enxergar o aluno nas suas três

dimensões, biológica, sociológica e psicológica.

P: E quando você esta planejando suas aulas, você leva em consideração

estas informações e experiências que eles trazem?

E2: Fundamental, por isso que a aula ela é planejada, mas ela não pode ser

previsível, então vão aparecer componentes da vida dos alunos, questões

voltadas para a realidade e que vão tornar a aula enriquecedora que são as

experiências deles, então isso é superimportante, tem que ser valorizada a

subjetividade do aluno, no meu ponto de vista, então as questões

principalmente agente que é professor da biologia, temos que valorizar os

aspectos subjetivos também e psicológicos e sociais dos nossos alunos.

P: O que você entende por conhecimento?

E2: Transmissão do conhecimento é aquela metodologia bancária, onde o

professor simplesmente vomita a matéria na lousa, é uma palestra, por

exemplo, é uma transmissão de conhecimento, ela é pobre no ponto de vista

metodológico, porque ela não dialoga com o aluno, não oferece feedback , não

permite o aluno se posicionar criticamente com relação ao conteúdo, então é

pobre. É como se você estivesse assistindo um professor na internet, em um

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vídeo, então isto é a transmissão de conhecimento. Um fala e o outro ouve, um

é o sujeito ativo e o outro é o sujeito passivo do processo.

P: E o que você entende por construção de conhecimento?

E2: Então, a construção de conhecimento é um processo onde ambos, tanto o

facilitador quanto o educando trabalham conjuntamente, então se estabelecem

questionamentos, buscas de informações, dúvidas aparecem, entenderam?...

Então é uma construção onde parte das duvidas do aluno também, não é o

conhecimento simplesmente dado para o aluno e sim indo atrás da informação,

criando respostas, hipóteses e problematizando. A problematização é uma

forma de construção de conhecimento.

Apêndice E- transcrição: Entrevistado 3

P: pesquisadora E3: Entrevistado 3

P: O que você entende por ensino?

E3: Ensino é o processo de adaptação do saber acumulado entre as novas

gerações. Por isso eu entendo o ensino como adaptado á um tempo e a

maneira que utilizamos para passar este ensino é adaptado conforme as

exigências e conforme as ciências nos demonstra que o processo cognitivo

acontece de tal forma. Então o ensino para mim é a transmissão de

conhecimento acumulado pelas gerações.

P: Essas exigências seriam da sociedade?

E3: Isso, da sociedade em quanto, não só enquanto profissão, em que o aluno

vá sair com uma técnica do ensino, mas exigências da sociedade enquanto o

que estudar para poder melhorar o planeta, as condições de vida. Acredito que

o ensino também deva ser comprometido, agora como transmitir este saber

acumulado, também tem que saber a ciência no caso a pedagogia, a

psicopedagogia para a gente poder utilizar mecanismos mais adequados ao

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que se tem sobre o conhecimento do processo de cognição e transmissão de

conhecimento.

P: O que você entende por aprendizagem?

E3: Aprendizagem é justamente quando o sujeito deste processo de ensino

consegue administrar as informações transmitidas e consegue estabelecer uma

conexão com a realidade na qual ele vive. Acredito que a aprendizagem não é

aquilo que o Freire chamava de aprendizagem bancária, você não tem que

depositar só conceitos no aluno, mas ele tem que saber administrar estes

conceitos. O aprendizado ele acontece quando o aluno consegue se apropriar

dos conceitos, estabelecer relações com o a realidade e assim chegar ao

mundo no qual ele vive.

P: Então é relacionar o que ele vive com estes conteúdos que estão sendo

passados para ele?

E3: Perfeito, tem que ter significado.

P: Como podemos relacionar o ensino e a aprendizagem?

E3: Quando a aprendizagem consegue por um processo de administração do

conteúdo, consegue fazer com que o educando se aproprie dos principais

conceitos que vão fazê-lo entender qual o sentido do ensino, daquilo que se

propões ensinar para ele. Acredito que uma coisa muito séria hoje é a questão

dos códigos que se utilizam as linguagens. Um código é justamente o que o

educando deve aprender a decifrar para poder fazer uma leitura da realidade. E

para esta leitura ele tem que saber dialogar com este saber que é acumulado,

dialogar com o saber já acumulativo da humanidade e ver o que realmente dá

para ir se levando e o que realmente dá para se descartar. Entender os

paradigmas educacionais, os paradigmas conceituais, os modelos de

conhecimento.

P: Qual o papel do professor no processo de aprendizagem?

E3: O professor é apenas o mediador deste processo de ensino e

aprendizagem. Principalmente hoje na era mais virtual que nós vivemos o

professor não é descartável, porque no mundo virtual você tem muita

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informação e os instrumentos virtuais, os mecanismos que se usam na

propagação de informação, não dá para o aluno a capacidade de ele entender

o que ele vai fazer com aquela informação, só o professor. Por isso o professor

é o mediador deste processo de construção, sendo o mediador ele vai dar um

substrato seguro intelectual para o aluno, onde ele possa assentar-se e buscar

informações seguras e destas informações tanto professor quanto o educando

aprendem. Eu acredito muito que o professor principalmente hoje na época que

nós vivemos ele tem que ser o mediador e tem que ter a humildade de saber

que ele também precisa aprender mais, ai que o aluno entra com as

informações às vezes não muito sólidas, mas que pode ajudar o professor

também com algo que o professor não acesso, devido a este leque que é a

internet, ai ajudar o aluno selecionar e ajudar o professor com fontes que talvez

o professor não tivesse até então.

P: E o papel do aluno?

E3: O papel do aluno é ao mesmo tempo de aprendiz, aquele que está

procurando elementos mais sólidos para poder entender a realidade e a si

mesmo. E neste processo ele poder aprender a fazer, a ser, entender sua

existência.

P: Você acredita que é possível motivar este aluno a querer e procurar?

E3: Claro, o mediador ele tem esta função também, tem que a função de não

deixar os alunos perderem o gosto pelo conhecimento. Por isso eu acredito que

o professor ele tem uma função primordial neste processo, que é do espanto. É

aquilo que os gregos diziam é espantar de modo que com o espanto a pessoa

possa ir aos poucos, trilhando um caminho que ela encontre uma satisfação.

Agora a competência do aluno virá conforme o professor conseguir mediar e

fazer com que o aluno encontre a verdadeira causa da existência dele. Por isso

este conhecimento hoje (...) acredito mais do que nunca, é complicado focar só

nos conceitos sedimentados, cada conceito no seu compartimento. É um pouco

aquilo que a obra de Dali chama a atenção né, as gavetas, o conhecimento não

deve ser posto em gavetas nas pessoas, mas o conhecimento que o professor

vai mediando, tem que fazer com que o aluno estabeleça relações entre estas

gavetas, relações conceituais, para que ele além de tudo se encante com

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aquilo que ele está aprendendo e que ele veja um sentido um significado para

a vida dele, para a busca e para a sua existência.

P: Como você acha que contribui com a aprendizagem dos alunos?

E3: Procurando utilizar os diversos mecanismos pedagógicos no qual eu na

minha trajetória vou me apropriando, procuro trabalhar com leitura de texto, de

forma que eles consigam desenvolver a capacidade de leitura, também procuro

trabalhar muito com imagens para tentar despertar a semiótica neles né, a

interpretação... Este mundo nosso que é repreto de símbolos, de forma que

eles tentam acesso aos signos, à representação e o conteúdo. Então que eles

possam fazer esta analogia entre a representação e o conteúdo. Por isso eu

utilizo também de figuras, utilizo muito historias em quadrinhos, charges, filmes,

vídeos. Os alunos que nós temos em sala, eles são plurais, cada um possui

sua especificidade neste processo, é claro que na realidade da escola

estadual, que nós temos salas super carregadas, carregadas de alunos e

carregadas de conteúdos devido à sociedade que nós vivemos, o professor

tem que ter muito cuidado, porque às vezes o aluno é mais visual ou

discursivo, auditivo (...) então há alunos que aprendem muito mais assistindo,

outros ouvindo, outros copiando, então eu procuro sempre colocar a sinopse na

lousa, construo com eles um quadro sinóptico, neste quadro nós fazemos uma

interpretação, para quando ele precise estudar para um trabalho ou um projeto

que nós iremos desenvolver; gosto muito de trabalhar com projetos, ai que eu

acho a importância do PIBID também, porque o PIBID ele estimula os alunos a

trabalharem em uma comunidade cientifica com projetos e que a gente possa

não deixar de dar os conteúdos de base que os alunos devam ter, mas não na

visão bancária, o conteúdo básico que ele possa fazer a interpretação com a

realidade na qual ele vive. Um conteúdo que tenha significado para eles e este

processo de mediação, no meu caso como professor possa atingir o êxito se eu

conseguir o mínimo das habilidades propostas. Apesar de que até este termo

habilidade eu acho meio complicado porque nem tudo é mensurado, mas nós

temos que ter um mínimo que podemos atingir porque se não, não podemos

fazer em competência, não dá para mensurar se houve ou não o aprendizado

por parte do aluno, como eu faço a mensuração. Procuro medir o que foi

passado e se o aluno conseguir retribuir com o interesse que ele teve, com as

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pesquisas que ele desenvolveu, pelos argumentos que ele expos na reflexão,

principalmente pelo o que ele produziu durante o bimestre, mas produzir no

sentido de significado, o que teve de significado para ele. Apesar de que a

sociedade cobra isso, eu procuro às vezes trazer algumas questões de

vestibulares, mas sempre tentando mostrar para eles que existe um significado

ali, para eles poderem decodificar aquelas informações, não apenas decorar as

coisas, nem guardar as coisas por guardar, mas saber acessar aquilo.

P: O que você entende por transmissão de conhecimento?

E3: Transmissão de conhecimento não é algo que se deposita nas caixinhas

mentais dos alunos é uma missão que cada professor tem de ter o

compromisso com uma herança cultural e tornar esta herança cultural

acessível aos educandos de modo que o aluno tenha ferramentas (...)

ferramentas conceituais, para que ele possa fazer uma análise daquilo que nós

trabalhamos como existência, fazer uma análise do mundo, agora tem que ter

cuidado também de não ver a transmissão do conhecimento como algo

descompromissado. O professor acha que transmissão do conhecimento seja

passar o conteúdo no planejamento (...) tem que segui um conteúdo sim,

básico, mas às vezes pela necessidade da turma o professor tem que fazer um

replanejamento e adequar o conteúdo que ele achar mais juntos da sala, claro

deve identificar e fazer um diagnóstico para que ele possa adequar às

necessidades da sala e dos alunos que estão na sala individual, isto é difícil

não é um trabalho fácil, transmissão de conhecimento é isso, fazer com que o

aluno se interessa pela herança cultural que nós temos.

P: E o que você entende por construção do conhecimento?

E3: É adequar esta herança cultural na realidade completa no qual o indivíduo

está inserido, dando outro significado à leitura de mundo, leitura de si. Porque

na realidade o aluno a princípio não é um narrador de si mesmo e quando ele

consegue narrar, ele consegue se perceber um agente, consegue fazer uma

leitura e escrever sobre si mesmo, ler sobre si mesmo, ele mesmo vai perceber

o valor do conhecimento da vida dele.

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