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ANO XXIX - N.11- 2011 R$ 15,00 - 5 www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X Natal: uma grata dependência de Cristo A mensagem de Rowan Williams, primaz da Comunhão Anglicana, para os leitores de 30Dias In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie nella Chiesa e nel mondo nella Chiesa e nel mondo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo

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ANO XXIX - N.11 - 2011 R$ 15,00 - € 5

www.30giorni.itMENSILE SPED. IN ABB. POST.

Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma.

ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L.

ISSN 1827-627X

Natal: uma gratadependênciade Cristo

A mensagem

de Rowan Williams,

primaz da

Comunhão Anglicana,

para os leitores de 30Dias

In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito.

If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy.

En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie

nella Chiesa e nel mondo nella Chiesa e nel mondo

Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo

EDITORIAL

Fechar as contas é por si uma das mais

importantes operações políticas

— por Giulio Andreotti 4

CAPA

CRISTIANISMO

Natal: uma grata dependência de Cristo

— pelo arcebispo de Canterbury, Rowan Williams 20

NESTE NÚMERO

REPORTAGEM

“Não somos maiores que nossos pais”

— por G. Ricciardi, fotos de M. Quatrucci 27

TRADIÇÃO E MOVIMENTOS

O risco dos movimentos messiânicos

Entrevista com Riccardo Di Segni — por G. Cubeddu 42

ARTE CRISTÃ

No silêncio das nossas igrejas

Entrevista com Paolo Portoghesi — por P. Mattei 54

PRIMEIRO MILÊNIO

Perseguidos em tempos recentíssimos

— pelo cardeal Walter Brandmüller 62

SEÇÕES

CARTAS DO MUNDO TODO 8

30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 48

330DIAS Nº 11 - 2011

O risco dos movimentosmessiânicosEncontro com Riccardo Di Segni,rabino-chefe da comunidade judaicade Roma

Em Le Barroux, perto de Avinhão, na França, há quarenta anos uma comunidade beneditina crescemarcada pela estreita observância da Regra e pelo amor à antigatradição litúrgica da Igreja

Perseguidosem tempos

recentíssimos.Um artigo do cardeal

Brandmüller

Reportagem

Primeiro Milênio

Na capa: A Árvore de Jessé, miniatura extraída da Bíblia deLambeth, século XII, Lambeth Palace Library; na foto, o arcebispoRowan Williams

N. 11 ano 2011an

o X

XIX Sumário

p. 42

p. 27

p. 62

Não podemos colocar em dúvidaque a União Europeia esteja atra-vessando um momento difícil.

Mas justamente por isso creio que agora seja ahora certa para deter-se em uma reflexão: par-tindo da constatação de que, apesar das dificul-dades, o caminho tomado foi e continua sendoo caminho certo. Ninguém pensava que o per-curso rumo à União fosse um caminho dissemi-nado de flores e de fáceis metas. Em 54 anos te-ve-se um desenvolvimento supe-rior às previsões mais otimistas,apesar das não raras parênteses dochamado europessimismo e daação dos aglomerados autárquicosmuito poderosos no sistema de ca-da um dos países.

A cúpula de Bruxelas de 9 dedezembro de 2011 concluiu-secom um acordo que deve ser com-pletado em março com um trata-do intergovernamental sobre aUnião orçamentária ao qual so-mente a Grã-Bretanha não deuadesão. Esse compromisso foi co-mentado por muitos como umacoerção às finanças de cada país,como a abertura de um períodode ainda mais sacrifícios e impos-tos que poderiam agravar a atualcrise econômica.

Como em outras vezes no passado – e pensopor exemplo, nos anos anteriores à entrada namoeda única – o equívoco de fundo é a difusaconvicção de que a exigência de uma forte dimi-nuição da dívida pública dependa apenas das soli-citações e das obrigações impostas pela UniãoEuropeia, como se fosse possível escapar a umsaneamento fisiologicamente indispensável.

Além disso, o fato de combinar um aumentotributário às exigências de estabilidade europeia

por Giulio Andreotti

Editorial

4 30DIAS Nº 11 - 2011

Fechar as contas é por si uma das mais importantesoperações políticas

Manifestantes com suas barracas diante da sede do Banco Central Europeu

em Frankfurt em outubro de 2011

certamente não causa simpatias para com aUnião, originando hipóteses de saídas inovado-ras e extravagantes. Porque a Europa é um fatounitário mas composto por muitos fatores. Se umdos fatores é separado dos outros não há muito oque fazer, senão partir para a liquidação.

Ao contrário, se refletirmos compreendere-mos que o saneamento da dívida pública de umpaís deve ser sempre um objetivo, mas saindo daEuropa, tanto a Itália, como também os outrospaíses, não teriam nenhuma compensação emtermos de desenvolvimento e bem-estar.

Por exemplo é irrealista propor uma alternati-va entre progresso da União e luta ao desempre-go. Não sei se a União possa realizar o seu propó-

sito de aumentar as vagas de trabalho, mas o queé certo é que os Estados por si teriam muito me-nos possibilidades.

O mesmo vale para o euro; temos muitos pro-blemas com a moeda única, mas saindo do euroteríamos um a mais: a nossa própria existência.

É verdade que o conceito de simultaneidade dodesenvolvimento monetário e do desenvolvimen-to institucional diminuiu e que isso pode levar aconsequências graves, mas contrapor, como foifeito, a Europa dos contabilistas e dos banqueirosà Europa da política é um engano, porque fecharas contas é por si uma das mais importantes ope-rações políticas. Recordo que um dos artífices doacordo de Maastricht foi o “banqueiro” GuidoCarli. E também na época houve quem colocasseem dúvida que a Itália tivesse a possibilidade de al-cançar os parâmetros solicitados.

Talvez tenha ocorrido um excesso de velocida-de, seja na passagem de Comunidade a União,seja no alargamento para 25 e depois para 27membros. E também a estipulação do TratadoConstitucional, ocorrida, também em Roma, em29 de outubro de 2004, não foi completamentenatural, mas não podemos deixar passar este mo-mento sem reforçar convencimentos supranacio-nais. Lamentar-se por temidos acordos especiaisentre Paris e Berlim também é uma estrada erra-da e danosa, porque não devemos criar maniasde perseguição anti-italiana e porque os governospassam, mas a grande política exterior permane-ce. Os eixos preferenciais entre países nunca de-ram bons frutos e tanto a França como a Alema-nha certamente não teriam vantagem com a Itáliarebaixada. Também a Comunidade do Carvão edo Aço nasceu como solidariedade entre a Ale-manha e a França, dois Estados historicamenteinimigos, e foi uma solidariedade participada jun-to com a Itália e com os três países do Beneluxcom suas características de conexão norte-euro-peia. Como italianos, temos o orgulho de estarentre os seis povos da corajosa Missão de

530DIAS Nº 11 - 2011

A chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês

Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro italiano Mario Monti

no final do encontro a três em Estrasburgo, 24 de novembro de 2011

O equívoco de fundo é a difusa

convicção de que a exigência

de uma forte diminuição

da dívida pública dependa

apenas das solicitações

e das obrigações impostas

pela União Europeia,

como se fosse possível escapar

a um saneamento

fisiologicamente indispensável

¬

Editorial

1957. Talvez isso nos dê algum direito, mas cer-tamente muitos deveres.

Concluindo, creio que uma pausa de reflexãoseja necessária, sem deflagar bandeiras ou exas-perar aspectos críticos. Nós, mais idosos, que tive-mos a possibilidade de participar ao entusiasmo

do início, enfrentando contrariedades e ceticis-mos muito difusos, devemos exortar a continuar acrer na positividade de uma Europa unida. Mes-mo em um período de dificuldade como este. De-pois do Calvário vem a ressurreição, mesmo quenão seja um fato automático. q

Contrapor a Europa dos

contabilistas e dos banqueiros

à Europa da política é um

engano, porque fechar as

contas é por si uma das mais

importantes operações políticas.

Recordo que um dos artífices

do acordo de Maastricht

foi o “banqueiro” Guido Carli

REDAÇÃO

Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected]

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Pierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet,Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale,Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, Gianni Cardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi

Colaboraram neste número

Cardeal Walter BrandmüllerCardeal de Canterbury Rowan Williams

Escritório Legal

Davide Ramazzotti - [email protected] de redação

[email protected]

3OGIORNI nella Chiesa e nel mondoé uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250

SOCIEDADE EDITORA

Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma

Conselho de Administração

Giampaolo Frezza (presidente),Massimo Quattrucci (vice-presidente), Giovanni Cubeddu, Paolo Mattei,Roberto Rotondo, Michele Sancioni, Gianni Valente

Diretor responsável

Roberto Rotondo

Tipografia

Arti Grafiche La ModernaVia di Tor Cervara, 171 - Roma

ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃO

Via Vincenzo Manzini, 45 - 00173 RomaTel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95E-mail: [email protected] segunda a sexta-feira das 9h às 18he-mail: [email protected]

Este número foi concluído na redação

dia 30 de novembro de 2011. O editorial foi concluído

na tipografia em 10 de dezembro de 2011

Impressão concluída no mês de janeiro de 2012

3OGIORNInella Chiesa e nel mondo

Diretor Giulio Andreotti

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS

Lambeth Palace Library: Capa; pp.21,23; Associated Press/LaPresse: pp.4,5,44,48,49,50,52; Ansa: p.6; Mario De Renzis: pp.8-9; Archivio ETS Milano: pp.11,12-13,18-19; Reuters/Contrasto:pp.13,18,50; Osservatore Romano: pp.20,25; Tim Ashley: p.22; The Dean and Chapter of Westminster: p.24; Massimo Quattrucci: pp.27-41; Agenzia Contrasto: pp.42-43,44; Corbis: p.43; Romano Siciliani: pp.46,53; por gentil concessão da sala de imprensa Opus Dei: p.51; Foto Scala, Firenze: pp.54,64; Giovanna Massobrio: p.54; por gentil concessão do Professor Paolo Portoghesi:pp.55,56,57,58,59; Paolo Galosi: p.63; Veneranda Fabbrica di San Pietro: p.65; Museus Vaticanos: p.65.

Guido Carli, à direita, com Mario Draghi

em uma foto da década de 1980

La Foresteria

L’Aquila - Pescara

Pomezia

Frascati

Borgorose

FiuggiAnagni

Alatri

Guarcino

Cassino

PontecorvoFondi

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GaetaTerracina

SoraVelletri Anagni

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Subiaco

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ROMA

O patrimônio artístico e cultural desta região é fascinante. Os Mosteiros são jóias de inestimávelvalor pelas suas elaboradas arquiteturas,seus raros afrescos e o exclusivo patrimônio bibliográfico e de museus.

Um patrimônio que une arte, cultura e espiritualidade na maravilhosa

paisagem natu ral dos Montes “Simbruini”

Aabadia de Santa Escolástica,

situada a poucos passos de Subiaco, foi fundada

por S. Bento no século VI. São de particular interesse

histórico o campanárioromânico, construído no

século XI, os três claustros(renascentista, gótico e

cosmatesco) e a bela igreja

neoclássica de Quarenghi.

Principais distâncias:

60 km de Roma,

30 km de Tívoli,

18 km de Fiuggi

MOSTEIRO DE Sta. ESCOLÁSTICAHospedagem do Mosteiro - Para reservas:Tel. 0774.85569 Fax 0774.822862 E-Mail: [email protected] • www.benedettini-subiaco.it

A ESTRUTURA OFERECEHOSPITALIDADEINDIVIDUALMENTE E PARA GRUPOS E DISPÕE DE:

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coligadas com áudio-vídeo.

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TODOS OS AMBIENTES SÃO ACESSÍVEIS A DEFICIENTES FÍSICOS

Como chegarno Mosteiro

ARGENTINA

Rezo por vocês: não posso me empenhar de outro modo

Florencio Varela, 30 de agosto de 2011

Com toda minha estima, à Associação Piccola Via onlus.

Sou pai de uma freira que vive em um mosteiro declarissas. Tenho 76 anos e minha filha quase 45, dosquais 25 de clausura. Gosto muito dos monumentos edas obras de arte da Igreja no mundo e sou grandeapreciador do trabalho da revista 30Giorni. Mas nãotenho condições financeiras para a assinatura. Peço acaridade de poder recebê-la grátis. Rezo pela missãoque vocês levam adiante e não posso me empenharde outro modo. Se não for pedir demais, gostariamuito de receber também gratuitamente 20 exempla-res de Quien reza se salva para dá-los a pessoas quetêm necessidades.

Fico imensamente agradecido.

Máximo Lezcano

FILIPINASCARMELO THE HEARTS OF JESUS AND MARY

Trezentos exemplares de Who prays is saved

Malaybalay City, 28 de setembro de 2011

Caro diretor Giulio Andreotti,seja louvado Jesus Cristo!Agradecemos-lhe muitíssimo pela generosidade egentileza demonstrada pelo senhor ao nos enviar,

8 30DIAS Nº 11 - 2011

Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca

930DIAS Nº 11 - 2011

todos os meses, um exemplar gratuito da revista30Days. Pelo bom trabalho que faz, Deus o recom-pense com a abundância de todas as graças e bên-çãos necessárias para levar adiante a sua missão.

Permito-me humildemente pedir-lhe ao menos300 exemplares do pequeno livro Who prays is sa-ved. Seriam distribuídos aos presentes por ocasião domeu vigésimo quinto aniversário da profissão solene,dia 6 de dezembro de 2011.

Nós rezamos incessantemente pelo senhor e pelasua família, pela redação e por todos os colaborado-res. Que a graça de Deus esteja sempre convosco.Muito confiante em uma sua resposta positiva, devo-tamente sua em Jesus, Maria e José,

irmã Mary Catherine, OCD

NIGÉRIAABADIA BENEDITINA DE SANTA ESCOLÁSTICA

Imensa gratidão pelo CD de cantos gregorianos

Umuoji (Anambra), 5 de outubro de 2011

Caro diretor Giulio Andreotti,gostaríamos de manifestar-lhe a nossa imensa grati-dão pelo CD de cantos gregorianos que nos foramenviados e também pelos exemplares da revista30Days in the Church and in the world que rece-bemos pontualmente. Deus onipotente os recom-pense pela sua generosidade e pela importanteobra de evangelização que vocês realizam com estarevista.

Sinceramente sua em Cristo,

abadessa, madre Margaret Mary Ngobidi, OSB

A Basílica da Anunciação

em Nazaré

artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo •

NICARÁGUAIRMÃS DE NOSSA SENHORA DO REFÚGIO NO MONTE

CALVÁRIO DO CONVENTO SANTA VIRGÍNIA

Um obrigada da Nicarágua

San Jorge, 8 de outubro de 2011

A paz e a alegria de Nosso Senhor Jesus Cristo estejaconvosco!

Agradecemos-lhes de coração pelo generoso gestode ter enviado as revistas para nós irmãs e para o nos-so pároco Sérgio.

Fazemos votos e pedimos a Deus que esta revistapossa chegar por todos os lugares e continuar a fazero bem. Para nós que estamos longe coloca-nos perti-nho da Igreja de Roma e faz-nos sentir unidas a todosos irmãos na fé e na oração.

Continuem a fazer tanto bem!Obrigada!

Irmãs de Nossa Senhora do Refúgio no Monte Calvário

FILIPINASCARMELO SAINT JOHN OF THE CROSS

Em 2012 festejaremos os 50 anos de fundaçãodo nosso Carmelo

Ozamiz City, 10 de outubro de 2011

Gentil senador,sejam louvados Jesus e Maria, e bênçãos para o se-nhor e seus familiares!

Mais uma vez, agradeço infinitamente pela edi-ção inglesa de 30Days que vocês nos enviam há vá-rios anos.

Dessa vez queremos pedir-lhes o pequeno livro deorações Who prays is saved. No próximo ano, dia 3de outubro de 2012, agradecendo o Senhor, festeja-remos os 50 anos de fundação do nosso carmelo.

Achamos que o livrinho de vocês seria o “brinde”perfeito para os que virão aqui por ocasião dos feste-jos. Ozamiz, na província de Misamis Ocidental, ondese encontra o nosso carmelo, foi por muito tempo ter-ra de missão: muitos aqui professavam o “aglipayan”,a religião criada por um bispo durante a revolução fili-pina contra os espanhóis. Ozamiz foi por muitos anosterra de evangelização dos nossos missionários. Onosso carmelo foi fundado em 1962, do carmelo deBacolod na província de Negros Ocidental, por inicia-tiva do bispo Patrick Cronin.

Pretendemos convidar os bispos reunidos no Dopim– diocese de Dipolog, Ozamiz, Pagadian, Iligan, Mara-wi – e por isso auspiciamos que no dia 3 de outubro de2012 tenhamos aqui conosco uma grande participa-ção. Seria demais solicitar-lhes para a nossa festa 2 milexemplares de Who prays is saved? Pretendemos tam-bém, se possível, traduzir o livrinho de orações em ce-buano, pois entre nossa gente muitos não falam inglês.

Construímos a nossa capela e o nosso mosteiro anoapós ano, pouco a pouco, dependendo dos meios dis-poníveis. E fizemos tudo isso utilizando um materialconsiderado mais durável, mas também o menos carono mercado: o amianto. Infelizmente, cerca de 45anos depois, muitas de nós começaram a ficar doentese os médicos disseram que talvez fosse devido aoamianto usado para as obras; mas não tínhamos meiospara reconstruir a nossa casa. Então nós “bombardea-mos” o Céu com as nossas orações, pedindo ao Se-nhor para que nos ajudasse a reconstruir a Casa de SuaMãe, Nossa Senhora do Carmelo. Dois anos atrás, ummembro de uma família de construtores, depois de tervisto a nossa casa, decidiu reconstruir o nosso dormitó-rio, e depois o refeitório, a cozinha, a biblioteca e a salacomum. No início éramos 26, mas dia 10 de agostouma das nossas irmãs deixou-nos, depois do faleci-mento da madre fundadora já em 2004. Além disso,neste momento a madre priora está lutando contra ocâncer e está fazendo quimioterapia em Manila. Aindadevem ser reconstruídas e reformadas algumas partesdo mosteiro e a capela, mas os ambientes principais jáestão reformados com ótimos materiais em condiçõesde resistir aos cupins, uma verdadeira praga para as es-truturas de madeira da nossa casa.

10 30DIAS Nº 11 - 2011

¬

Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca

artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo •

O pequeno altar na Gruta da Anunciação, na Basílica da Anunciação, em Nazaré,

com a inscrição

VERBUM CARO HIC FACTUM EST

(AQUI O VERBO SE FEZ CARNE)

Podemos pedir-lhe um outro favor,gentil senador? Precisamos de um sinoadequado para chamar a nossa comu-nidade à oração e para tocar o Ange-lus, além de chamar as pessoas à mis-sa. Gostaríamos de pedir-lhe o favorde nos ajudar a encontrar para o nossomosteiro um sino, talvez graças a algu-ma das sociedades que fazem publici-dade em 30Days? Na nossa pobrezanão temos inibição para pedir estes fa-vores, porque vemos o seu grandeamor pelo Senhor e Sua Mãe, e tudo oque vocês fazem pelos mosteiros, con-ventos e as pessoas consagradas aoSenhor. E rendemos louvores e graçasa Deus por tudo o que vocês fazem pela Igreja.

Agradecemos-lhes profundamente por tudo o quevocês poderão fazer para nos ajudar, dirigindo o nossoolhar ao Senhor para que seja ele mesmo o nosso me-lhor “obrigado”.

Garantindo a nossa devota oração pelo senhor epelos seus caros, pelos colaboradores de 30Days, te-

mos o senhor conosco no nosso afeto e nas nossasorações.

Em Jesus e Maria,

as irmãs do Carmelo de Ozamiz.Em nome da reverenda madre e da comunidade,

irmã Mary Therese, OCD

12 30DIAS Nº 11 - 2011

Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca

A estrela que indica o lugar onde nasceu Jesus na Gruta da Natividade,

na Basílica da Natividade, em Belém, com a inscrição

HIC DE VERGINE MARIA

IESUS CHRISTUS NATUS EST

(AQUI DA VIRGEM MARIA

NASCEU JESUS CRISTO)

ARGENTINASEMINÁRIO DIOCESANO SAN JOSÉ DA DIOCESE DE SANTO TOMÉ

Los cantos de la Tradiciónpara os seminaristas

Santo Tomé, 13 de outubro de 2011

Senhor diretor,sou o reitor do seminário diocesano San José da dio-cese de Santo Tomé, na República Argentina.

Recebi, junto com a revista, o suplemento Loscantos de la Tradición. Considero uma publicaçãode grande riqueza pelo conteúdo que contribui paramanter viva a nossa Tradição. Agradeço-lhe porqueao ouvir o CD vieram-me recordações dos meus anosde seminário.

Escrevo-lhe para obter informações sobre a dis-ponibilidade do suplemento e o custo. E para saberse é possível adquiri-lo diretamente aqui, na Argen-tina. Gostaria de dar um disco para cada um dos dezseminaristas da nossa diocese. Assim que for possí-vel, o senhor me mande o preço do suplemento pa-ra então eu decidir sobre a compra para os nossosjovens.

Cordiais saudações,

padre Juan Carlos Fernández-Benítez

artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo •

continua na p. 16

Crianças na Gruta

da Natividade

14 30DIAS Nº 11 - 2011

Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo •

Confiança!

É a mão de Jesus que

tudo conduz...

Santa Teresa do Menino Jesus

Não nos cansemos

de rezar. A confiança

faz milagres.

Santa Teresa do Menino Jesus

Convite à oraçãoA redação de 30Dias convida a todos, em particular às pessoas consagradas dosmosteiros de clausura, a rezarem por padre Giacomo Tantardini. Há alguns mesesele vem-se tratando de um câncer no pulmão. Que o Senhor nos conceda pedircom confiança o milagre da cura. Aos sacerdotes que estimam e querem bem a30Giorni pedimos que celebrem a santa missa segundo essa intenção. Aos paispedimos a caridade de fazerem seus filhos rezar.

• Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo •

“Estou muito contente com o fato de 30Giorni fazer uma nova edição deste

pequeno livro que contém as orações fundamentais dos cristãos, amadurecidas

ao longo dos séculos. Faço votos de que este pequeno livro possa se tornar um

companheiro de viagem para muitos cristãos”.

da apresentação do cardeal Joseph Ratzinger de 18 de fevereiro de 2005

(eleito Papa em 19 de abril de 2005 com o nome de Bento XVI)

QUEM REZA SE SALVA

É possível solicitar exemplares de todas as línguas (a edição italiana apresenta-se em dois formatos, grande e pequeno), escrevendo para 30GIORNI via Vincenzo Manzini,45 - 00173 Roma

ou para o e-mail: [email protected]

AS EDIÇÕES SÃO

EM LÍNGUA ALEMÃ, ESPANHOLA

FRANCESA, INGLESA, ITALIANA,

PORTUGUESA E CHINESA

O livrinho, do qual 30Dias já distribuiu centen as de milhares de exemplares, contém as orações mais simples da vida cristã,

como as da manhã e da noite, e tudo o que ajuda para uma boa confissão

APENAS 1€

por exemplar, mais despesas de expedição

MÉXICOFRADES MÍNIMOS DO CONVENTO

NUESTRA SEÑORA DE LA SOLEDAD

Quinhentos exemplares de Quien reza se salva para a festa de Nossa Senhora de Guadalupe

Saltillo (Coahuila), 16 de outubro de 2011

Estimadíssimo senador Giulio Andreottié com imensa gratidão que quero agradecer-lhe pes-soalmente pela revista 30Giorni que há alguns meseschega à nossa missão mexicana, onde, como frades daOrdem dos Mínimos, testemunhamos o carisma dacaridade, da conversão e da reconciliação do nossofundador, São Francisco de Paula, colocando-nos aoserviço dos mais pobres e necessitados do lugar.

Graças à sua generosidade e de toda a redação, es-tamos recebendo gratuitamente este precioso instru-mento de informação que é de vital importância paranós, religiosos, pois nos mantém em comunhão comtodas a Igreja e com o mundo atual, e é uma fonte se-gura de atualização.

Gostaria de apresentar à sua sensibilidade religiosa omeu desejo de dispor de 500 livrinhos Quien reza sesalva para oferecê-los às famílias por ocasião da minhapróxima visita em preparação à festa de Nossa Senho-ra de Guadalupe, que acontece dia 12 de dezembro.

Considero uma publicação particularmente útil pa-ra minha gente, que na maior parte é humilde e sim-ples, porque contém tudo aquilo que é verdadeiramen-te necessário saber e utilizar para viver uma vida cristãautêntica e profunda.

Agradecendo-lhe antecipadamente pela grande dádi-va que tenho certeza de receber, asseguro-lhe as oraçõesda minha comunidade religiosa e de toda minha gente.

Com gratidão e estima, em Cristo,

padre Omar Javier Solís Rosales, OM,superior da comunidade dos frades mínimos

SUÍÇAMOSTEIRO DA PAIXÃO DE CRISTO

30Tage mantém-nos unidas ao coração da nossa realidade católica

Jakobsbad, 18 de outubro de 2011

Estimado senador Giulio Andreotti,aqui no mosteiro das Capuchinhas da Paixão de Cris-to recebemos há muito tempo a sua revista 30Tage,muito bem feita e interessante.

Mantém-nos unidas ao coração da nossa realidadecatólica e oferece-nos uma ampla visão sobre o pen-samento da nossa Igreja.

Gostaríamos de agradecer-lhe por esta sua gentile-za: cada vez traz também a nós um pouco de alegriapor toda a Igreja.

Garantindo que a nossa comunidade recorda nasorações o seu trabalho e o de seus colaboradores ejornalistas, envio com gratidão as minhas mais since-ras saudações.

Madre superiora Ir. Mirjam Huber e comunidade

CUBA

Quien reza se salva para as crianças e os camponeses cubanos

Havana, 19 de outubro de 2011

Senhor Giulio Andreotti, ilustre irmão em Cristo, paz e saúde!

Chegou às nossas mãos o número 4/5 da sua re-vista 30Días e compartilhamos plenamente os crité-rios e as preocupações: a sua revista é uma profundae maravilhosa catequese.

Somos missionários camponeses católicos, faze-mos parte de um ramo da Congregação da Missão deSão Vicente de Paulo e de Santa Luísa de Marillac etrabalhamos em comunidades isoladas e rurais, nanossa amada Cuba. Tomamos conta também de algu-mas crianças tetraplégicas e de suas famílias, anun-ciando a Palavra de Deus e partilhando com eles tudoo que podemos. Vimos na sua revista o livrinho de

16 30DIAS Nº 11 - 2011

Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca

segue da p. 13

orações Quien reza se salva e escrevemos-lhe parapedir alguns exemplares, já que os nossos campone-ses gostam muito de rezar. Seria-nos muito útil tam-bém alguns catecismos simples e alguns terços.

Quem sabe se há alguma pessoa generosa quequeira ajudar essas crianças. Acreditamos firmemen-te na comunhão dos santos. Junto aos nossos pedi-dos e aos nossos agradecimentos, garantimos-lhe asnossas simples e humildes orações.

Que Jesus, Maria e José o guardem e o aben-çoem.

Seu em Cristo,

Sergio León Mendiboure

1730DIAS Nº 11 - 2011

artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo •

ARGENTINAEPISCOPADO DE NEUQUÉN

Aprecio 30Giornie agradeço-lhes de coração

Neuquén, 21 de outubro de 2011

Prezado diretor,sou monsenhor Virginio Domingo Bressanelli, SCI,bispo de Neuquén, na Patagônia, Argentina. Todos osmeses recebo a revista 30Giorni, que aprecio e agra-deço de coração porque me permite ter em mãos te-mas de atualidade e de aprofundamento cristão, alémdo amplo horizonte teológico, espiritual, histórico ecultural mostrados por muitos artigos.

Recebo esta revista em italiano. Gostaria muito derecebê-la em espanhol, como quando eu era bispo dadiocese de Comodoro Rivadavia. Recebê-la em espa-nhol será de proveito para outras pessoas que poderãoassim, ler com maior facilidade e melhor compreensão.

Agradeço-lhes e saúdo cordialmente, garantindo-lhes uma viva lembrança na oração.

Em Cristo e Maria,

monsenhor Virginio D. Bressanelli,bispo de Neuquén

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À direita, uma

vista do interior

da Basílica

da Natividade

À esquerda,

devoção

na Basílica

da Natividade

Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Ca

IRLANDACARMELO SAINT JOSEPH

Obrigada pela maravilhosa reportagemsobre a Turquia

Dublim, 24 de outubro de 2011

A paz de Cristo!Caro senhor Andreotti,todos os meses recebemos com gratidão 30Days egostamos muito dos artigos e das lindas imagens. Gos-taríamos de agradecer-lhe de modo particular pelo nú-

mero 6 de 2011. A entrevista com o cardeal Wuerl so-bre os meios de evangelização na sua diocese de Was-hington, nos Estados Unidos, e os artigos sobre a his-tória dos católicos afro-americanos e sobre o desenvol-vimento da Igreja latino-americana eram excepcio-nais, assim como o perfil sobre o padre Jules Lebretonque estava muito bem escrito. Mas foi a maravilhosareportagem sobre a Turquia que levou a nossa priora aencorajar-me para que lhe escrevesse. Para mim foiuma alegria ver uma foto da igreja de Santo Antôniode Pádua, onde fui batizada em 7 de março de 1926pelo padre René Alexandre, CM, pois eu tinha nasci-do na então Constantinopla em janeiro daquele ano.

Anos depois, entrei para o carmelo na Inglaterra,passei quarenta anos em um convento galês, depoisoutros vinte anos em um convento perto de Johannes-burg, na África do Sul, e agora estou aqui em Dublim.

Gostaria muito de poder receber uma cópia daque-la foto da igreja de Santo Antônio publicada em30Days e também outras fotos, sempre da mesmaigreja, caso vocês tenham.

Com meus sentidos agradecimentos pela sua gen-tileza em doar 30Days a tanta gente e com os votosde divinas bênçãos , sua em Cristo,

ir. Anne

PERUSEMINÁRIO NUESTRA SEÑORA DE QUILCA

30Giorni ajuda os seminaristas a amar a Igreja

Camaná, 26 de outubro de 2011

Senhor diretor,receba uma cordial saudação por parte dos padres for-madores e dos seminaristas do seminário Nuestra Se-ñora de Quilca de Camaná, com a esperança que Deuslhe proteja na realização das suas atividades cotidianas.

Escrevo-lhe para exprimir o meu mais profundoagradecimento pelo envio mensal da revista30Giorni, que é de grande ajuda e é um instrumentode informação para os jovens que se formam nonosso seminário e também para nós sacerdotes quevivemos aqui com eles.

Cada exemplar da revista 30Giorni é um impulsoà unidade e universalidade da Igreja, que promove nosnossos seminaristas o apego a esta e um seu conheci-mento mais profundo, ensinando a amá-la com umafeto sempre maior.

Agradecendo-lhe pelo seu apoio e a sua atenção,cumprimento-lhe, garantindo-lhe que temos grandeconsideração pelo senhor e o recordamos sempre nasnossas orações e na santa missa cotidiana que cele-bramos aqui, no nosso seminário. Que Deus continuea abençoá-lo e doe abundantes bênçãos a todos osque trabalham com o senhor.

Vice-reitor, padre Percy Saavedra Ramírez

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artas do mundo todo • Cartas do mundo todo • Cartas do mundo todo •

F ala-se muito hoje daqueles que preferem“espiritualidade” a “religião”. E a maiorparte de nós entende alguma coisa do

que significa essa posição. Representa uma re-volta contra a ideia de que nós, seres huma-nos, somos salvos ou transfigurados apenaspela adesão à vida de uma instituição e a umconjunto de afirmações ou de teorias.

30DIAS Nº 11 - 201120

A mensagem para os leitores de 30Dias

de sua graça Rowan Williams, arcebispo de Canterbury

Natal: uma grata dependênciade Cristo

CAPA

Falar com verdade da Igreja é,nesse sentido, ir além tanto da religião quanto da espiritualidade. A Igreja é a condição de ser um com Jesus Cristo. E nós celebramos o Natalporque essa nova condição de vida depende absoluta e unicamente do fato de que um menino nasceu hádois mil anos no Oriente Médio

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O arcebispo Rowan Williams mostra a Bento XVI a miniatura da Árvore de Jessé, na Bíblia de Lambeth, ao final de seu encontro no Lambeth Palace,em Londres, em 17 de setembro de 2010

2130DIAS Nº 11 - 2011

A Árvore de Jessé, miniatura extraída da Bíblia de Lambeth, século XII, Lambeth Palace Library, Londres

30DIAS Nº 11 - 201122

Mas dessa forma existe o perigo de reduzira fé a uma série de experiências que nos fa-zem sentir melhor, com a consequência deque não haveria nenhuma verdade universal,nenhuma revolução na vida dos homens quesalve de uma vez por todas, só uma sucessãode experimentos “espirituais”, que amplia anossa sensibilidade, mas não nos leva paradentro de um mundo novo. De certa forma,precisamos de uma linguagem que nos possaconduzir para além da inútil polarização en-tre esses dois termos, uma linguagem de no-va criação e uma prática de vida nova comnovas relações.

Falar com verdade da Igreja é, nesse senti-do, ir além tanto da religião quanto da espiri-tualidade. A Igreja não existe para providen-ciar experiências fantásticas (de modo quevocê possa abandoná-la quando essas expe-riências se esgotam); a Igreja não é tampou-co uma instituição com regras e convicçõescompartilhadas.

A Igreja é a condição de ser um com JesusCristo, ou seja, o dom de sermos livres para

rezar a Sua oração e para compartilhar a Suavida, para respirar o Seu respiro.

E nós celebramos o Natal porque essa no-va condição de vida depende absoluta e uni-camente do fato de que um menino nasceuhá dois mil anos no Oriente Médio. Não de-pende do desenvolvimento positivo de novastécnicas que nos ajudem a nos sentir melhor;não depende tampouco da revelação de umconjunto de teoremas. Começa com umacriança indefesa que ainda não fala; porque éem relação a essa frágil vida de homem quetodo ser humano encontrará em última análi-se o seu verdadeiro destino.

Em comparação tanto com o fascínio deexperiências emocionantes quanto com a se-gurança de convicções inabaláveis, por si sóisso pode parecer um tanto frágil. No entan-to, na medida em que põe a verdadeira fonteda vida e da esperança completamente forado âmbito do esforço e da organização huma-nos, nos desafia a confiar num fundamentoincomparavelmente mais estável e menosmutável: a ação e a promessa de Deus, o ¬

“Não era ainda bastantehumilde para reconhecer o humilde Jesus Cristo como meu Mestre”, diz SantoAgostinho. E, numa dasimagens mais grandiosas de toda a sua obra, ele fala de como Cristo, vindo a nós na carne, nos impede de dar passos presunçosospara a descoberta da verdade com base apenas em nossos esforços

Rowan Williams

CAPA

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A Natividade, miniatura extraída do Livro das Horas 1488.5, século XV, Lambeth Palace Library, Londres

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Rowan Williams na igreja de Saint Margaret, Westminster Abbey, Londres

CAPA

2530DIAS Nº 11 - 2011

Cristianismo

Verbo de Deus que faz que a vida divina vivana vida da criação e sobretudo na vida dessemenino recém-nascido.

O conflito entre uma vida de relação na co-munhão do Corpo de Cristo e o âmbito tantoda “espiritualidade” quanto da “religião” foiresolvido já mil e setecentos anos atrás porSanto Agostinho, quando escreveu as Con-fissões. Ele descreve suas aventuras “espiri-tuais”, primeiramente dentro de uma organi-zação herética com dogmas bem definidosque não aceitava nenhuma verificação inte-lectual, depois como especialista em medita-ção e numa espécie de misticismo. E ele nosfala de modo comovente da frustração pro-funda que sentiu, ao vislumbrar de longe oreino da verdade e da paz eterna.

Mas diz que o problema subjacente era queem tudo isso ele nunca se libertara da obses-são de seu eu, de seu orgulho. “Não era aindabastante humilde para reconhecer o humildeJesus Cristo como meu Mestre”, diz. E, nu-ma das imagens mais grandiosas de toda asua obra, ele fala de como Cristo, vindo a nósna carne, nos impede de dar passos presun-

çosos para a descoberta da verdade com baseapenas em nossos esforços. Nós paramos derepente em nosso percurso, “por vermos aosnossos pés uma divindade frágil, tornada frá-gil pela comparticipação ‘da túnica de pele’que vestimos. Exaustos jogamo-nos sobre es-ta frágil vida divina de modo que quando essase erguer também nós nos ergueremos”(Confissões VII, 18, 24).

Esquecendo aspirações espirituais e cor-reção religiosa, somos convidados peloevangelho do Natal simplesmente a fazer is-to: a nos deixar cair, em nosso humano can-saço, na terra do amor divino, amor divinoque se fez indefeso e frágil de modo a poderpôr em crise a nossa vã confiança em nósmesmos. Assim renovados, contra toda pre-sumível expectativa, nos elevamos para a vi-da da grata dependência de Cristo e de umem relação ao outro, para a comunhão domútuo dom sem fim.

+ Rowan CanterburyLambeth Palace, Londres

Natal de 2011

Esquecendo aspiraçõesespirituais e correçãoreligiosa, somos convidadospelo evangelho do Natalsimplesmente a fazer isto: a nos deixar cair, em nossohumano cansaço, na terra do amor divino, amor divinoque se fez indefeso e frágil de modo a poder pôr em crisea nossa vã confiança em nós mesmos

Bento XVI e Rowan Williams de joelhos diante do altar do túmulo de São Francisco, Assis, 27 de outubro de 2011

“Não somos maiores que os nossos pais”

“A liturgia tradicional é mais rica em sinais que nos lembram de onde vem a fé,

e nos ensina que nós não somos maiores que os nossos pais, mas transmitimos apenas

o que recebemos”

REPORTAGEM

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Acima,

a imagem de Nossa Senhora

no claustro do mosteiro;

à direita, a igreja de Le Barroux

ao alvorecer, durante o canto

das Matinas

D as janelas do mosteiro de Le Barroux, o céu de Pro-vença é uma bandeira celeste estendida ao vento. Omistral o agita às vezes com violência: em certos dias

de inverno pode soprar a até trezentos quilômetros por horanas montanhas próximas. As oliveiras e as vinhas não parecemsofrer com isso, mas a maior parte da vegetação é baixa, é omaquis mediterrâneo, como se diz, com exceção dos ciprestes,cuidadosamente inseridos ali para lembrar que a partir destesmuros se olha para o alto. Sob o céu, como um cone regular,ergue-se a massa escura do Mont Ventoux. Foi aqui que naSexta-Feira Santa de 1336 Francesco Petrarca fez, com seu ir-mão Gherardo, sua famosa “ascensão”, descrita numa cartaao amigo agostiniano Dionigi di Borgo San Sepolcro, que oiniciara na leitura das Confissões. Ao final da escalada, o poe-ta leu ao acaso ao irmão uma passagem do livro X, em queAgostinho escreve: “Os homens vão admirar os píncaros dosmontes, as ondas alterosas do mar, as largas correntes dosrios, a amplidão do oceano, as órbitas dos astros: e nem pen-sam em si mesmos”.

Petrarca, em sua luta constante entre o amor pelas coisasterrenas e a nostalgia pelas do céu, invejava em Gherardo,que era frade, o desapego, a liberdade que lhe havia permiti-do subir o monte rápido e ligeiro, sem o peso que segurava opoeta embaixo.

texto de Giovanni Ricciardifotos de Massimo Quattrucci

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REPORTAGEM

Em Le Barroux, perto de Avinhão,na França, há quarenta anos a comunidade beneditinafundada por dom Gérard Calvetcresce marcada pela estreitaobservância da Regra e pelo amor à antiga tradiçãolitúrgica da Igreja

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REPORTAGEM

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Os monges cantam

o Ofício das Laudes

às seis da manhã

O crucifixo sobre o altar,

obra de um monge escultor,

salienta a realeza e a vitória

de Cristo na cruz

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REPORTAGEM

Depois das Laudes, às seis e

quarenta da manhã, cada monge

sacerdote celebra a missa “lida”

em latim nos altares laterais,

auxiliado por um noviço.

Nas páginas seguintes,

a missa ferial das nove e meia,

celebrada no altar central,

da qual participam também

os fiéis da cidade

e amigos do mosteiro

Uma história de fidelidade à TradiçãoFoi bem aqui, há quarenta anos, em 22 de agosto de 1970,que outro Gherardo, para sermos exatos Gérard Calvet, be-neditino francês, chegou dirigindo uma motoneta, com suasroupas no bagageiro e a bênção do abade do mosteiro deque provinha, e se estabeleceu na pequena capela de Bé-doin, consagrada a Santa Maria Madalena. Nos anos turbu-lentos do pós-concílio, desejava unicamente continuar suavida monástica sem ter de submeter-se àqueles “experimen-tos” de renovação doutrinal ou litúrgica que lhe pareciammuito mais pobres que a riqueza “antiga e sempre nova” da

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tradição: oração, silêncio, trabalho manual, ofícios em la-tim, liturgia tradicional.

Uma opção pela solidão que durou pouquíssimo. Três diasdepois da sua chegada, apresentou-se em Bédoin um jovempara pedir que o acolhesse como noviço. Dom Gérard, sur-preso e inseguro a respeito do que fazer, respondeu que nãosaberia como acolhê-lo, mas a insistência do outro levou amelhor. Depois de oito anos, constitui-se uma comunidade de11 monges: a capelinha, com seu pequeno priorado em ruí-nas, prontamente restaurado, tornou-se assim estreita de-mais para o novo cenóbio. Mas o crescimento da nova comu-nidade, apoiado pelo abade de dom Gérard, seguia adiante.

O apego à liturgia tradicional naqueles anos se conjugoucom uma natural simpatia pelas posições de dom Lefebvre,que em julho de 1974 celebrou as ordenações dos primeirosmonges da comunidade. Esse fato suscitou a reação do aba-de, que, se inicialmente tinha apoiado a opção de dom Gé-rard, naquele momento ordenou-lhe que encerrasse a sua ex-periência monástica. A comunidade foi excluída por isso daCongregação dos Beneditinos de Subiaco.

Diante desse impasse, dom Gérard escolheu o caminho es-pinhoso de continuar a comunidade que iniciara, sentindo dorpela ruptura, mas convencido em seu coração de que o amor àtradição litúrgica secular da Igreja não poderia estar em confli-to com o âmago da fé, com a fidelidade ao Papa, e que Deusencontraria um caminho para resolver uma situação canônicaque se tornara irregular. Em 1980, deram adeus a Bédoin e de-positaram a primeira pedra do novo mosteiro, no municípiode Le Barroux, entre o Mont Ventoux e as “Dentelles” deMontmirail, uma construção em estilo neorromânico, nua eessencial, que foi completada em pouco mais de uma década.

Nesse meio-tempo, a ruptura entre Lefebvre e a Igreja seaprofundava, embora dom Gérard continuasse a esperar nu-ma reconciliação. Assim, quando em 1988 João Paulo II,com o motu proprio Ecclesia Dei veio ao encontro das solici-tações dos católicos “tradicionalistas”, concedendo a eles,embora sob certas condições, que celebrassem segundo o ritopré-conciliar, foi um dia de festa para o mosteiro de Le Bar-roux. Dom Gérard sempre tinha dito a seus monges que, senão sofressem pela situação canonicamente indefinida domosteiro, isso significava que não amavam realmente a Igre-ja. Como dom Lefebvre, não confiando nas ofertas de Roma,ordenou naquele mesmo ano alguns bispos sem o consenti-mento do Papa, inaugurando o cisma de fato, o mosteiro es-colheu sem titubear a fidelidade a Roma e a ruptura com omovimento do arcebispo francês. Dom Gérard pagou esseapego à Igreja vendo-se rejeitado pela comunidade monás-

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tica que nesse meio-tempo Le Barroux tinha fundado no Bra-sil, a qual preferiu continuar fiel à “linha dura” de Lefebvre.

No ano seguinte, em 2 de outubro de 1989, o cardeal Gag-non, acompanhado pelo bispo de Avinhão, consagrou sole-nemente a igreja do mosteiro recém-construída. Com essegesto público, tornava-se visível a plena unidade da experiên-cia de Le Barroux com a Igreja católica.

A vida cotidianaEm meio à luz do campo provençal, o mosteiro parece hojeviver uma vida distante do barulho das lutas eclesiais e do no-ticiário daqueles anos. Seus sinos acompanham a vida deuma cidadezinha que nos primeiros tempos recebeu comdesconfiança e suspeita os recém-chegados. Os monges selevantam no coração da noite para rezar em coro as Matinas,antecedem a aurora em suas celas para meditar a Escritura eos textos dos Padres, se reencontram às seis na igreja domosteiro para o canto das Laudes e depois aqueles entre elesque receberam a sagrada ordem celebram nos altares lateraisa missa “lida” em latim segundo o Missal Romano promulga-do em 1962 por João XXIII. Alguns fiéis também entram,desafiando o frio da manhã, e se ajoelham para acompanhara celebração no mais absoluto silêncio. Depois, todos iniciamos trabalhos do dia.

O mosteiro é praticamente autossuficiente. Os 52 monges(alguns muito jovens, com idade média de 46 anos) que hojeconstituem a comunidade (mais 13 outros que fundaram umanova no sudoeste da França) vivem unicamente de seu traba-lho, segundo a tradição beneditina. A terra do mosteiro pro-duz óleo e vinho, uma padaria garante a satisfação das neces-sidades da comunidade, com a venda de biscoitos, baguetes edoces ao povo da cidade ou aos turistas. Há alguns anos omosteiro abriu também um moinho, que oferece à comunida-de rural o serviço de trituração de azeitonas, usando duasmoendas de pedra especialmente encomendadas da Toscanae movidas por máquinas modernas. A tipografia também tra-balha a todo o vapor, não apenas para imprimir os missaiscom o rito romano tradicional, mas também para satisfazer àsexigências da pequena editora fundada por dom Gérard. Aoração do Benedicite abre as refeições, vegetarianas e consu-midas em silêncio, com os hóspedes no centro do refeitório,recebidos solenemente pelo abade, que os cumprimenta la-vando suas mãos em sinal de acolhida. Uma acolhida que pre-vê também abrigo noturno para quem não tiver um teto sob oqual dormir por ali. Durante o tempo do almoço ou do jantar,um monge lê uma leitura espiritual ou às vezes até um texto dehistória ou de caráter mais genericamente cultural.

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REPORTAGEM

Não somos maiores que os nossos pais“A liturgia tradicional é mais rica em sinais que nos lembramde onde vem a fé, e nos ensina que nós não somos maioresque os nossos pais, mas transmitimos apenas o que recebe-mos”. Não existe polêmica nas palavras do abade Louis-Ma-rie, amigo e discípulo de dom Gérard, que lhe deixou o pasto-ral da comunidade em 2003, demitindo-se cinco anos antesde morrer. Além do mais, a experiência da beleza que provémdessa liturgia não é privilégio exclusivo desse mosteiro. Ou-tras comunidades de monges adotam hoje na França essa for-ma de oração. Explica ainda o abade: “Na França seculariza-da, como me disse uma vez um bispo ucraniano, parece quevemos um grande deserto espiritual, mas nesse deserto há oá-sis muito bonitos”. Não apenas em Le Barroux. Algo se mo-ve, já sem a rigidez dos esquemas de vinte anos atrás. A rela-ção entre o mosteiro e a diocese de Avinhão, em que se en-contra a comunidade de dom Gérard, já não é tensa como an-tigamente. O padre abade vai todos os anos concelebrar como bispo a missa crismal da Quinta-Feira Santa, e muitos sacer-dotes da diocese se abriram a essa experiência monástica,promovendo pontos de comunicação com a Igreja francesa.De modo geral, diz-nos padre Louis-Marie, “as pessoas pare-cem atraídas para cá não apenas e exclusivamente porque ce-lebramos segundo o rito romano anterior ao Concílio, mas

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A vida dos monges é dividida entre oração e trabalho.

Nesta página, no alto, a tipografia; no centro,

um camponês espera a abertura do moinho

do mosteiro para a trituração das azeitonas; na foto grande,

o campo de Provença, ao redor do mosteiro

30DIAS Nº 11 - 2011

REPORTAGEM

simplesmente pela beleza da oração monástica, pelo cantogregoriano que aqui é executado, pois aqui a oração é vivida esentida na profundidade do silêncio, voltados para Deus”.

Todo ano uma centena de sacerdotes provenientes em suamaioria da França, da Itália, da Alemanha, da Grã-Bretanha eda Holanda passam em Le Barroux alguns dias de retiro, paraconversar com os monges ou para aprender a celebrar a mis-sa segundo o antigo ritual. O mosteiro conta com cerca de tre-zentos oblatos, entre sacerdotes, leigos e famílias que têm aespiritualidade beneditina como referência.

As vocações que chegam a Le Barroux, hoje no ritmo deduas ou três por ano, têm as mais diversas origens. Há um jo-vem monge que provém da carreira militar, outro que era en-genheiro na China e conheceu Le Barroux pelo site do mos-teiro, um terceiro que pediu o batismo aos vinte anos a um pa-dre de Marselha e depois tentou o caminho da vocação numaordem religiosa, que, porém, lhe pareceu pouco “exigente”.

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À esquerda,

um momento da produção

de óleo no moinho

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REPORTAGEM

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E então esse mesmo padre o trouxe para cá “porque um dosaspectos que atraem as pessoas para um lugar como este”,explica o abade, “é uma escolha livre de radicalidade evangéli-ca”. Livre e radical são os dois adjetivos que mais ressoam en-tre estas paredes. Alguns lefebvrianos, não muitos na verda-de, se aproximam da experiência de Le Barroux vendo-a co-mo uma ponte para um retorno à plena comunhão com aIgreja, mas também porque, observa o abade, “na Fraternida-de São Pio X sentem que respiram às vezes um ar pesado, ca-racterizado por aquilo que segundo eles se poderia chamarum certo autoritarismo clerical”.

É como se aqui se estabelecesse um equilíbrio diferente, nãobaseado no compromisso, nem na contraposição a outras rea-lidades eclesiais, mas simplesmente no retorno à Regra de SãoBento como caminho para aproximar o coração da vida cristã.“Nestes anos”, acrescenta o padre abade, “pudemos constatarque os mosteiros que resolveram renovar e revolucionar as for-mas da vida religiosa são hoje os que têm menos vocações naFrança. Creio que, além do dinamismo e da vitalidade queveem nesta comunidade jovem, um dom que herdamos donosso fundador, os jovens são atraídos a Le Barroux justamen-te pela radicalidade da opção por Deus, independentementeda beleza da liturgia que celebramos aqui. Mas isso não é tudo;no fundo, não é isso o essencial. Eu mesmo quando chegueiaqui, e me apaixonei por este lugar, desde o som dos sinos atéo cuidado com que é celebrado o Ofício Divino, logo me deiconta de que a vida monástica nada mais é que um holocausto,uma oferta total de si a Deus”. ¬

A missa solene do primeiro domingo de Advento em Le Barroux;

na foto pequena, o abade asperge os fiéis com água benta. Por ocasião do Natal,

os monges presentearam os fiéis com exemplares do livro Qui prie sauve son âme

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3930DIAS Nº 11 - 2011

O mosteiro à luz da tarde

REPORTAGEM

À noite, o som dos sinos chama a todos para as Vésperas,o momento talvez mais íntimo e ao mesmo tempo solene daliturgia comunitária. Enquanto o rumor da oração se espa-lha na hora do crepúsculo, a sombra do crucifixo sobre o al-tar se alonga sobre a parede de pedra nua da abside, e tudoparece de repente mais claro. Então é possível entender aspalavras com que o abade conclui sua reflexão sobre o fascí-nio que exerce este lugar: “As coisas que eu disse são reais,mas secundárias. A atração última de uma vocação é sim-plesmente o bom Deus. É por isso que a vocação, toda voca-ção continua a ser fundamentalmente um mistério”. q

Para informações sobre a comunidade beneditina de Le Barroux,

podem ser consultados estes sites: www.barroux.org ou www.jeconstruisunmonastere.com

À direita, o toque dos sinos às

dezessete e trinta chama os monges a deixar suasocupações para o canto

das Vésperas, a que seseguirão o jantar,

as Completas e o silêncio,prescrito para

as vinte e trinta

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42 30DIAS Nº 11 - 2011

Um traço distintivo da pe-quena mas relevante co-munidade judaica italiana

é sua capacidade de acolhida. Be-neficiaram-se dela, através dos sé-culos, às vezes ciclicamente, ju-deus alemães, espanhóis, portu-gueses e, mais recentemente, osprovenientes dos países árabes e

islâmicos. Para os judeus italianosé normal serem ortodoxos e parti-cipar da liturgia em hebraico, e aidentidade coletiva nunca foi aba-lada pelo fato de serem um portode destino. No máximo, as ques-tões hoje à mesa estão ligadas àassimilação e, ultimamente, à op-ção de alguns dos recém-chega-

dos de realizarem uma reaçãocontra a secularização, por meioda “ultraortodoxia” militante. Olíder da diáspora judaica mais an-tiga, a de Roma, é hoje o rabinoRiccardo Di Segni, com quemmais uma vez nos encontramosde bom grado para conversar so-bre o que vem acontecendo.

O risco dos movimentosmessiânicos

Tradição e movimentos

Encontro com rav Riccardo Di Segni, rabino-chefe da comunidade judaica de Roma

por Giovanni Cubeddu

Rav Di Segni, já se nota tam-bém em Roma a presença de no-vas identidades do judaísmo.

RICCARDO DI SEGNI: Fiqueisabendo que uma vez João Paulo IIperguntou por que os judeus roma-nos não se distinguiam por suas ves-timentas, como os judeus poloneses.O Papa, que na juventude viveradentro de um judaísmo completa-mente diferente do italiano – o ju-daísmo polonês que se destacava,principalmente, pela quantidade –,estava acostumado a ver “judeus quese vestiam como judeus”. Há muitasmaneiras de vestir-se de modo judai-co, e o judeu definitivamente se dife-renciava muito do resto da popula-ção. Na Itália, essa distância exteriornão existe e talvez nunca tenha exis-tido, a não ser pelos sinais impostosna época das normas antijudaicas.Os judeus italianos sempre se vesti-ram como os outros, é uma caracte-

rística cultural nossa não irrelevante.Nos países ocidentais, os judeus sevestem como os outros, com exce-ção daqueles que pertencem a al-guns grupos mais ortodoxos, queostentam alguns uniformes.

Mas é preciso fazer algumasbreves premissas sobre isso.

É verdade. O mundo judaico orto-doxo tem suas variedades. Existe omodelo chamado modern orthodox,característico da pessoa de concep-ção e observância ortodoxa, que emsua vestimenta não tem sinais distinti-vos, a não ser pelo fato de que, sendohomem, cobre a cabeça, e, sendomulher, se veste de maneira “modes-ta”, evitando expor seu corpo. Háainda modelos impropriamente defi-nidos ultraortodoxos, de pessoasque se vestem de preto (alguns acres-centam ao preto uma simples camisabranca e um chapéu borsalino, outrosusam outras especificidades). Essepanorama de códigos de vestuário éestranho à tradição italiana, e foi im-portado recentemente, pois há ummovimento de pessoas – provenien-tes em sua maioria de núcleos ortodo-xos dos Estados Unidos, de Israel e ouda França – que se distinguem pelasvestes; e muito frequentemente nãosão judeus comuns, mas rabinos. E is-so nos leva, por outro lado, à discus-são sobre como os rabinos devem-sevestir, o que varia entre épocas e luga-res: em alguns, eram exigidas espe-ciais solenidade e austeridade e cha-péus específicos, em outros, bastavaa simples austeridade; temos todas asvariantes...

Se hoje, portanto, vemos plurali-dade de vestimentas também na Itá-lia e em Roma, não é por uma muta-ção do judaísmo local, mas porqueforam acrescentadas essas novas ex-periências. ¬

À esquerda, jovens judeusromanos na sinagogadurante uma cerimônia;abaixo, uma reuniãode Chabad-Lubavitchno Brooklyn,em Nova York

4330DIAS Nº 11 - 2011

Uma vez João Paulo II perguntou por que os judeus romanos não sedistinguiam por suas vestimentas, como os judeus poloneses. O Papa na juventude viveu dentro de um judaísmo completamentediferente do italiano. Na Itália, essa distância exterior não existe e talveznunca tenha existido, a não ser pelos sinais impostos na época das normasantijudaicas. Os judeus italianos sempre se vestiram como os outros, é uma característica cultural nossa não irrelevante

Uma mudança com efeitosque podem vir a ser profundos?

A primeira coisa que aparece é oelemento da mobilidade. O judaís-mo italiano, por composição, é ho-je radicalmente diferente do que an-tecedeu a Segunda Guerra Mun-dial, quando os judeus residenteseram em grande parte autóctones.O judaísmo italiano saiu do conflitoreduzido à metade, empobrecidoem seu componente local; em se-guida foi reforçado por uma afluên-cia de judeus provenientes do norteda África – particularmente judeuslíbios, mas também em menor nú-mero egípcios, tunisianos e marro-quinos; judeus sírios e libaneses,que se estabeleceram na Itália se-tentrional; e judeus asquenazitas,que vieram da Europa Central. As-sim, o judaísmo italiano se revigo-rou mas também se fragmentou. Apropósito da vestimenta exterior,nota-se uma forte influência cultu-ral do mundo asquenazita, que setornou, ou está tentando se tornar,líder cultural do mundo religioso.

Esse é um fenômeno que foiparticularmente percebido emIsrael...

... até que os sefarditas se revolta-ram contra essa hegemonia – ou se-ja, contra a ocupação dos postos deliderança por determinado grupo,como ocorreu nas escolas –, che-gando até à criação de um partidopolítico, o Shas. Mas, na tentativa derecuperar o poder, há de qualquerforma a imitação dos sinais exterio-res, pelos quais o rabino sefardita is-raelense se veste como o asquenazi-

ta da Europa Central. E isso é muitoestranho; por que os rabinos sefardi-tas africanos ou do Iraque teriam dese cobrir de preto, com roupas pesa-das mesmo no verão...? Hoje nosparece que o look do rabino tem deser um só.

Esses novos movimentos es-tão presentes também na Itália.

Eles se apresentam como umanovidade para o universo judaico,têm uma finalidade de missão inter-na. O judaísmo não faz nenhumamissão religiosa para o exterior, e aconservação das nossas tradiçõesacontece por meio de mecanismosexperimentados e antigos: as esco-las, as sinagogas, a família. Uma no-vidade destes últimos cinquentaanos é que foram promovidos movi-mentos de outreach, como os cha-mam nos Estados Unidos, que pro-

curam levar a mensagem religiosa afaixas mais extensas do mundo ju-daico, combatendo a tendência,muito presente, de se fechar no in-vólucro do pequeno grupo obser-vante e isolar-se. Os movimentos,em vez disso, procuram levar a men-sagem o mais para fora possível.São uma fórmula inédita.

Novos movimentos, arraiga-dos, porém, em algumas ex-pressões do judaísmo dos sécu-los passados.

Uma carga fortíssima desses mo-vimentos é a tradição chassídica. O

chassidismo nasceu em meados doséculo XVIII, como corrente em queexiste um líder carismático que re-descobre no judaísmo a dimensãoemotiva e espiritual, em contraposi-ção, ou pelo menos em acréscimo,ao componente intelectual que setornou dominante no decorrer dosséculos. E esse movimento teve umgrande impacto popular e se orga-nizou em torno dos líderes – que setornam dinásticos – de grupos liga-dos a seu mestre, o rebbe. Porém,com o passar do tempo esses gru-pos, embora tivessem um notávelimpacto sobre as pessoas, perma-neciam sempre fechados em si mes-mos, promoviam a espiritualidadeem seu interior. Uma das invençõesrecentes foi usar a forte carga de ca-risma que emana da autoridade pa-ra enviar pessoas pelo mundo a di-

30DIAS Nº 11 - 2011

Tradição e movimentos

À esquerda,ultraortodoxospoloneses em oração nasinagoga ChabadShul, em Varsóvia;abaixo, o rabinoRiccardo Di Segni

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fundir o judaísmo. É uma forma demissão rara no judaísmo dos sécu-los passados: talvez não houvessenecessidade disso, pois os judeusconheciam outros modos de se or-ganizar, ao passo que hoje querem-se organizar para fazer frente à dis-persão da fé judaica...

Essa missão é realmenteapenas para uso interno?

Creio que sim; essas iniciativasnão são institucionalmente abertasao mundo exterior. A missão é inter-na ao povo judaico. Mesmo os movi-mentos, tendencialmente, respei-tam muito a antiga atitude judaica denão proselitismo. Se alguém exter-no se interessa, pode de algum mo-do participar. Ou talvez, se procurar-mos, encontremos alguém que esta-va completamente perdido, que nãosabia nem que tinha origens judai-cas, e assim vem a redescobrir suasraízes... Nesse sentido, nos dirigi-mos a um público mas amplo.

O movimento Chabad [mais co-nhecido como Chabad-Lubavitch,fundado no século XVIII pelo rabino

de origem polonês-lituana ShneurZalman, de Liadi, cidade da Rússiaimperial, ndr], a respeito desse temado “não judeu”, de modo particular,vem-se dedicando a uma temáticasobre a qual o resto do judaísmo con-tinua bastante imobilizado. Segundoa tradição religiosa judaica, os judeustêm uma disciplina sacerdotal espe-cífica a observar, que compreendeuma quantidade abundante de nor-mas. Na tradição judaica, existemcontudo também normas funda-mentais que dizem respeito a toda ahumanidade, os noachidi, ou seja,descendentes de Noé, como nós oschamamos. Ora, nenhum judeu fazquase nunca missão perante os noa-chidi, indo lembrar a eles que exis-tem essas normas a serem respeita-das: esses grupos chassídicos, aocontrário, fazem alguma coisa.

Pode ser um instrumento dediálogo. Por outro lado, porém,esses movimentos são dirigidospor um líder carismático, comnoções e práticas peculiares docarisma.

Neles há uma abordagem da tra-dição que é rígida, no sentido deque o que o mestre afirma não sediscute. Em outras expressões,mesmo pertencendo ao mesmo ju-daísmo ortodoxo, há nisso sempreuma pluralidade, uma dinâmica, oconfronto das possíveis soluções.Aqui age, ao contrário, uma espé-cie de dureza doutrinal. E além dis-so o carisma é pessoal, no sentidode que pertence ao líder.

Trata-se também de movi-mentos messiânicos. O que im-pressiona é que em alguns des-ses ambientes a espera do mes-sias não é a espera de uma pes-soa, mas de um princípio.

Há uma grande discussão. No ju-daísmo ortodoxo, tende-se a deixarum pouco de lado a espera do princí-pio em prol da espera da pessoa. Odebate não terminou. Mas dizer queo messianismo é uma época e nãouma pessoa é realmente algo que es-tá à margem da ortodoxia. Foi umadas formas de racionalização – omessianismo como época e não co-mo pessoa – em que se banhou tam-bém um pouco o judaísmo italiano.

Definitivamente, como de-ve ser julgado o messianismodesses novos movimentos ju-daicos?

O messianismo mais importantepertence ao cristianismo. O cristãodiz que Cristo é o messias, o cristia-nismo é messianismo por defini-ção. Para o judaísmo, a ideia mes-siânica é uma das muitas. É umapropensão, uma espera, o judaís-mo teoricamente poderia existir –como de fato existe – sem o mes-sianismo realizado. Porém, entre asmaneiras como é visto e vivido o ju-daísmo existem grupos em que aespera messiânica se torna forte. Eisso se pode traduzir tanto numa in-tensa religiosidade como tambémnuma intensa política.

Qual é o risco disso? O messianis-mo é uma ideia que impele vigorosa-mente a humanidade ao longo desua história, mas para onde a leva?Também o marxismo, e os movi-mentos seguintes dele originados,são experiências políticas com umacarga religiosa de messianismo.

Se o messianismo dá uma cargaà religião, tem um impacto positivo,mas, quando se torna uma chave

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ENCONTRO COM O RABINO-CHEFE RICCARDO DI SEGNI

Acima, Sabbatai Zevi; à direita, Jacob Frank

O judaísmo está cheio de episódios de pseudomessias, que a história seencarregou de demonstrar enganadores, mas que continuam até hoje a ter seguidoressubterrâneos

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de interpretação e até existe em al-guns a consciência de um messianis-mo realizado, estamos numa situa-ção de risco.

Algumas situações vividaspelo judaísmo asquenazita sãosintomáticas. 30Dias já escre-veu a respeito de Sabbatai Zevie Jacob Frank.

O judaísmo está cheio de epi-sódios de pseudomessias, que ahistória se encarregou de de-monstrar enganadores, mas quecontinuam até hoje a ter seguido-res subterrâneos.

É um tema implícito mas realna vida do judaísmo hoje?

A história impõe constantemen-te ao povo judeu desafios difíceis,diante dos quais nos interrogamospara entender seu sentido. Aconte-ceu várias vezes, e em relação àsgrandes perguntas houve grandesrespostas ou, ao contrário, grandesfugas da realidade, ilusões, interpre-tações ou... movimentos. O queaconteceu ao povo judeu no séculopassado talvez esteja entre as maio-res coisas de sua história e nos impôsperguntas, às quais é difícil respon-der. Aqui certamente a chave de in-terpretação de resposta messiânicalança toda a sua força. Mas a inter-pretação messiânica se oferece co-mo interpretação da história nãoapenas no momento de infortúnio,mas também quando uma ordemmundial muda. E um dos momentosem que a ordem mundial mudou foi1989, a queda do Muro de Berlim.Foi um divisor de épocas tão claroque levou a trilhos diferentes o cursoda história, e em relação a isso hou-ve perguntas, respostas impulsivas,e também a reflexão.

Também hoje estamos nummomento de mudança.

Mas talvez aconteça sem o custode milhões de mortos... Hoje hágrande incerteza: armas sempreapontadas, massas enormes de po-bres, desequilíbrios econômicos,sociedades ocidentais atormenta-

das por problemas que põem emdiscussão sua identidade. De umcerto ponto de vista, esperamosque possa acontecer de tudo. E en-tão reaparece a ideia de que a histó-ria esteja para se completar.

Enfim, no cotidiano, o queacontece com o judaísmo tra-dicional italiano posto em con-fronto com essas novas/velhascorrentes?

Há uma troca contínua, nãoentre grandes ideias messiânicas

– absolutamente não –, mas entremodelos de judaísmo vivido inten-sa ou marginalmente na própriavida. Há um confronto: algunsacolhem o que eles têm de bom,ou seja, a importância de umareaproximação das tradições, ou-tros os vivem de maneira proble-mática. E há ainda um pouco dechoque de tradições, pois aquelesque chegam de fora não se pare-cem necessariamente com os or-todoxos locais... q

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Tradição e movimentos

A interpretação messiânica se oferece como interpretação da histórianão apenas no momento de infortúnio, mas também quando umaordem mundial muda. E um dos momentos em que a ordem mundialmudou foi 1989, a queda do Muro de Berlim

O Templo-Mor de Roma

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Durante a visita pastoralao Benim (18-20 de no-vembro), o Papa teve umencontro com as crianças.Deste encontro, ocorridoem Cotonou, na igreja pa-roquial de Santa Rita, pu-blicamos amplos trechos:“Deus, nosso Pai, reuniu-nos ao redor do seu Filho enosso Irmão, Jesus Cristo,presente na Hóstia consa-grada durante a Missa. Éum grande mistério diantedo qual se adora e se crê.Jesus, que tanto nos ama,está verdadeiramente pre-sente nos sacrários de to-das as igrejas do mundo, nos sacrários dasigrejas dos vossos bairros e das vossas paró-quias. Convido-vos a visitá-Lo muitas vezes,para Lhe exprimirdes o vosso amor.

Alguns de vós já fizeram a Primeira Comu-nhão; outros estão a preparar-se. O dia daminha Primeira Comunhão foi um dos maisbelos da minha vida. Porventura não se pas-sou o mesmo convosco? E por quê? Não foitanto por causa das roupas lindas, nem dospresentes, nem sequer da refeição de festa;mas sobretudo porque, naquele dia, recebe-mos pela primeira vez Jesus Cristo. Quandorecebo a comunhão, Jesus vem habitar emmim; devo acolhê-Lo com amor e escutá-Locom atenção. No íntimo do meu coração,posso dizer-Lhe por exemplo: ‘Jesus, eu seique me amais. Dai-me o vosso amor para queeu Vos ame e ame os outros com o vossoamor. Confio-Vos as minhas alegrias, as mi-

nhas penas e o meu futuro’. Não hesiteis,queridas crianças, em falar de Jesus aos ou-tros. Ele é um tesouro que é preciso saberpartilhar com generosidade. Na história daIgreja, o amor de Jesus encheu de coragem eforça muitos cristãos, incluindo crianças co-mo vós. Assim São Kizito, um rapaz ugandês,foi morto porque queria viver segundo o Ba-tismo que tinha recebido. Kizito rezava; com-preendera que Deus não é apenas importan-te, mas que Ele é tudo.

E o que é a oração? É um grito de amor lan-çado para Deus, nosso Pai, com a vontade deimitar Jesus nosso Irmão. Jesus retirava-Sesozinho para rezar. Como Jesus, posso tam-bém eu encontrar cada dia um lugar calmo on-de me recolho diante duma cruz ou duma ima-gem sagrada para falar a Jesus e escutá-Lo.[...]. Que a Virgem Maria, sua Mãe, vos ensinea amá-Lo cada vez mais através da oração, do

O Papa às crianças: a comunhão, a oração, o terço

Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

PAPA/1A fonte mais secretada oração de Jesus

“Nas últimas catequeses re-fletimos sobre alguns exem-plos de oração no AntigoTestamento, e hoje gostariade começar a olhar para Je-sus, para a sua oração, queatravessa toda a sua vida,como um canal secreto queirriga a existência, as rela-ções e os gestos, e que Oguia, com firmeza progres-siva, rumo ao dom total deSi mesmo, segundo o desíg-nio de amor de Deus Pai. Je-sus é o Mestre também dasnossas orações, aliás, Ele éo nosso sustento concreto efraterno, cada vez que nosdirigimos ao Pai. Verdadei-ramente, como resume umtítulo do Compêndio do Ca-tecismo da Igreja Católica,‘a oração é plenamente re-velada e realizada em Je-sus’. [...] O ensinamento deJesus sobre a oração deriva,sem dúvida, do seu modo derezar, adquirido em família,

mas tem a sua origem pro-funda e essencial no seu sero Filho de Deus, na sua rela-ção singular com Deus Pai.À pergunta: De quemaprendeu Jesus a rezar?, oCompêndio do Catecismoda Igreja Católica assimresponde: ‘Jesus, segundo oseu coração de homem, foiensinado a rezar por suaMãe e pela tradição judaica.Mas a sua oração brota deuma fonte mais secreta,porque Ele é o Filho eternode Deus que, na sua santahumanidade, dirige a seuPai a oração filial perfeita’”.Palavras do papa Bento XVIdurante a audiência geral de30 de novembro.

PAPA/2Como se a fé fosse um dadoadquirido de uma vez por todas

No dia 25 de novembro,durante a plenária do Ponti-fício Conselho para os ¬

perdão e da caridade. Confio-vos todos aEla, bem como os vossos familiares e educa-dores. Olhai! Tiro um terço do meu bolso. Oterço é uma espécie de instrumento que sepode usar para rezar. Rezar o terço é sim-ples. Talvez já o saibais fazer, senão pedi aosvossos pais que vos ensinem. Aliás, no fimdo nosso encontro, cada um de vós receberáum terço. Com ele na mão, podereis rezarpelo Papa – fazei-o, por favor –, pela Igreja epor todas as intenções importantes. E ago-ra, antes de vos abençoar a todos com gran-de afeto, rezemos juntos uma Ave Maria pe-las crianças do mundo inteiro, especialmen-te por aquelas que sofrem por causa dadoença, da fome e da guerra. Rezemos en-tão: Ave Maria…”.

Papa Bento XVI na igreja de Santa Rita, Cotonou,Benim, domingo, 20 de novembro

Afresco de um crucifixo, Basílica dos santos Cosme e Damião, Roma

urtas Curtas Curtas CurtasNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

Leigos, Bento XVI afirmou:“Algumas vezes trabalha-mos para que a presençados cristãos no campo so-cial, na política ou na eco-nomia fosse mais incisiva, etalvez não nos preocupás-semos em igual medida pe-la firmeza da sua fé, comose se tratasse de um dadoadquirido de uma vez portodas. Na realidade, os cris-tãos não habitam um plane-ta distante, imune das ‘en-fermidades’ do mundo”.

SAGRADO COLÉGIOOs oitenta anos do cardeal SimonisNo dia 26 de novembro ocardeal Adrianus Johan-nes Simonis, arcebispo deUtrecht de 1983 a 2007,completou 80 anos. O car-deal holandês, sacerdotedesde 1957, e bispo deRotterdam de 1970 a1983, recebeu o barretede João Paulo II em 1985.Portanto no final de no-vembro os componentesdo colégio cardinalício são193, dos quais 111 eleito-res. No dia 7 de dezembroum outro purpurado com-pleta 80 anos, o coreanoNicholas Cheong Jin-Suk,arcebispo de Seul desde1998.

IGREJA/1O apelo do patriarcade Antioquia dos Maronitas à Igrejaortodoxa russa para a defesa das minoriascristãs no Oriente Médio

“O patriarca maronita Bé-chara Boutros Raï lançouum apelo ao patriarca daIgreja ortodoxa russa, Ci-rillo, para uma maior cola-boração para salvaguardara presença de cristãos nos

países do Oriente Médio.O encontro ocorreu naterça-feira 15, na residên-cia de Bkerké, cidade liba-nesa onde se realizou aXX Sessão do Conselhodos Patriarcas Católicosdo Oriente”. Este foi o in-cipit de um artigo do L’Os-servatore Romano de 19de novembro, que prosse-gue explicando que o pa-triarca maronita, “dirigin-do-se diretamente ao pa-tr iarca Cir i l lo, fez umaproposta de ‘colaboraçãocom a Igreja russa parasalvaguardar a presençacristã nos países do Orien-te Médio e para ajudar oscr i s tãos a não emigra-rem’. Também, ‘para ad-ministrar os conflitos polí-ticos na região, os ataquescontra os fiéis e o temorde ver a primavera árabelevar ao poder grupos quepossam ameaçar a estabi-lidade e a convivência naregião’”.

IGREJA/2A relíquia do SantoCinto de NossaSenhora do MonteAthos pela primeiravez em Moscou

“A fila é constante da ma-nhã até a noite desafiandoas gélidas temperaturas do

outono moscovita para en-trar na Catedral de CristoSalvador, no centro de Mos-cou, e beijar um estojo quecontém uma das relíquiasmais importantes para aIgreja Ortodoxa: o cinto deNossa Senhora. As pessoascaminham com dificuldadepelas ruas cobertas de geloe com paciência esperamem média 26 horas em umcongestionamento humanode mais de 5 quilômetrosque há uma semana estáparalisando o já confusotrânsito da capital [...]. Se-gundo os fiéis, a relíquia aju-daria a curar qualquer doen-ça e a engravidar. Ninguémsabe qual graça teria pedidoo poderoso premiê Vladi-mir Putin à Nossa Senhoraquando, no mês passado,beijou por primeiro o ambi-cionado objeto que tinhaacabado de chegar a SãoPetersburgo vindo do mos-teiro de Monte Athos, ondeestá guardado”. Este é o iní-cio de uma breve reporta-gem publicada no FattoQuotidiano de 26 de no-vembro passado. É a pri-meira vez que a veneradarelíquia sai da Grécia.

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Kirill em Beirute,

dia 15 de novembro

Fiéis que beijam a relíquia do Santo Cinto de Nossa Senhora em Moscou

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Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

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“‘Na Igreja de Jesus os mais úteis não são oschamados homens práticos e nem mesmoos puros propagadores de teorias, mas simos verdadeiros contemplativos’, escrevia noL’Osservatore Romano de 23 de junho de1985, nos dias do 10º aniversário da mortede Josemaría Escrivá, monsenhor Álvarodel Portillo, seu primeiro sucessor. O temada contemplação – da chamada ‘frequenta-

ção’ com Deus que segundosão Josemaría leva a ‘conhe-cê-Lo e a conhecer-se’ – foitambém o tema central dahomilia de monsenhor JavierEchevarría, terceiro preladodo Opus Dei, pronunciada al-guns dias atrás na Basílica deSanto Eugênio em Roma porocasião da ordenação diaco-nal de 35 futuros sacerdo-tes”. Este é o início de umamatéria publicada no L’Os-servatore Romano de 16 denovembro que se conclui des-te modo: “Seria um grave er-ro, ainda mais no atual mo-mento histórico, transcurareste ensinamento. Diante deum ativismo frenético e desu-mano que está longe deDeus, a verdadeira propostacristã sempre foi desconcer-tante: o primado da oraçãosobre a ação. Madre Teresade Calcutá fornece-nos achave para entender melhoreste primado: tudo aquiloque fazia ‘bem no meio do ca-

minho’, como diria são Josemaría, tinha ummotor secreto, aceso silenciosamente no co-ração da noite; a oração diante do seu Jesuseucaristia. Quem sabe se também a nossanoite, empregada deste modo, não nos leveao alvorecer de um dia realmente novo e tal-vez inesperado”. Título do artigo: É neces-sário falar com Deus. O primado da ora-ção sobre a ação.

OPUS DEIO primado da oração sobre a ação

São Josemaría Escrivá de Balaguer na Gruta de Lourdes

urtas Curtas Curtas CurtasNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

30DIAS Nº 11 - 201152

Um recente relatório da Agência Internacio-nal para a Energia Atômica lançou novamentea hipótese de que o Irã esteja preparando umabomba nuclear. Em um comentário publicadono Corriere della Sera de 16 de novembro,Sergio Romano nota que, mesmo que se con-sidere necessário ‘impedir’ ao Irã de apro-priar-se de tal arma, um ataque do Irã contraIsrael “parece muito improvável”. ProssegueRomano: “Por outro lado ain-da me pergunto se os pro-gressos feitos nestes últimostempos permitem realmentea Teerã possuir uma bombaem alguns anos. Na última dé-cada fomos bombardeadospor uma longa série de previ-sões baseadas em calendáriosmuito diferentes. Depois, emdezembro de 2007, o Natio-nal Intelligence Estimate(um relatório preparado peloorganismo que reúne os Ser-viços de Espionagem e deContra-Espionagem dos Es-tados Unidos) informou, comgrande surpresa para todos osobservadores internacionais,que o Irã tinha renunciado desde 2003 ao seuprograma nuclear militar. Devemos acreditarneste relatório ou no mais recente da AgênciaInternacional de Energia Atômica? Alguns co-meçam a pensar que esta imprevista reapari-ção do fantasma iraniano no cenário interna-cional responda a intenções e estratégias polí-ticas. Depois da explosão das revoluções ára-bes, o Estado de Israel está mais isolado, e por-tanto mais inseguro, e teme que os próximosgovernos da região se dediquem à questão pa-

lestina muito mais do que não tenham feitoseus antecessores. O debate sobre a possibili-dade de um ataque preventivo contra as insta-lações iranianas serviria portanto para criaruma maior atenção pelos seus temores. Os Es-tados Unidos consideram isso muito arriscadoe já se manifestaram publicamente sobre o as-sunto com as declarações do seu Secretário daDefesa. [...]. Uma última observação. Comba-

te-se no Irã, já há muitos meses, uma batalhapolítica entre o presidente Ahmadinejad e oguia supremo, o aiatolá Khamenei, apoiadopela poderosa organização dos Guardiões daRevolução. Enquanto o primeiro parece hojemais disponível a um acordo com o Ociden-te, os pasdaran pensam que uma maior ten-são internacional ajudaria à sua batalha polí-tica. Um ataque israelense contra o Irã é pro-vavelmente o fator que mais contribuiria àsua vitória”.

IRÃSergio Romano e o programa nuclear iraniano

A central nuclear em Isfahan, Irã

Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

BASÍLICAS PAPAISNovo arcipreste em Santa Maria Maior

No dia 21 de novembro oarcebispo espanhol San-tos Abril y Castelló foi no-meado novo arcipreste daBasílica papal de SantaMaria Maior em Roma.Substitui o cardeal ameri-cano Bernard F. Law, 80anos completados em 4de novembro passado eque tinha sido nomeadopara este cargo por JoãoPaulo II em 2004. O novoarcipreste tem 76 anos efoi ordenado sacerdoteem 1960. Formado emCiências Sociais na Uni-versidade Angelicum e emDireito Canônico na Gre-goriana, em 1967 entrouna diplomacia vaticana,trabalhando no Paquistão,Turquia e Secretaria deEstado. Em 1985 foi no-meado arcebispo e núnciona Bolívia, onde ficou até1989 quando se tornourepresentante pontifícioem Camarões. Nomeadonúncio na Iugoslávia em1996, no ano 2000 che-gou à Argentina onde per-maneceu até 2003, quan-do se tornou núncio na Es-lovênia. Desde 22 de ja-neiro é vice-camerlengoda Santa Igreja Romana edesde abr i l é tambémmembro da Congregaçãopara os Bispos.

CÚRIANomeado delegadono Pontifício Conselho para a Cultura

No dia 11 de novembro obispo português Carlos Al-berto de Pinho MoreiraAzevedo, 58 anos, foi no-meado delegado do Ponti-fício Conselho para a Cul-tura. Era bispo auxiliar deLisboa desde 2005. O bis-

po, ordenado sacerdoteem 1977 para a diocese dePorto, foi vice-reitor daUniversidade Católica por-tuguesa. Agora participada direção do dicastério va-ticano com o presidente,cardeal Gianfranco Ravasie o secretário, bispo Bart-hélemy Adoukonou.

ITÁLIANovos bispos de Aosta, Carpi,Taranto, Novara,Teggiano-Policastro

No dia 9 de novembromonsenhor Franco Lovig-nana, 54 anos, foi nomea-do bispo de Aosta. Nascidona cidade, ordenado sacer-dote em 1981, desde2004 era vigário geral damesma diocese.

No dia 14 de novembromonsenhor Francesco Ca-vina, 56 anos, foi nomea-do bispo de Carpi. Nascidoem Faenza, ordenado sa-cerdote em 1980 para adiocese de Ímola, desde1996 era oficial junto à se-ção para as Relações comos Estados da Secretaria deEstado.

No dia 21 de novembroo bispo Filippo Santoro,63 anos, foi promovido ar-

cebispo metropolita de Ta-ranto. Nascido em Carbo-nara, Bari, ordenado sa-cerdote em 1972 na arqui-diocese de Bari-Bitonto,em 1984 foi enviado sa-cerdote fidei donum aoBrasil. Responsável pelaComunhão e Libertaçãono Rio de Janeiro, no Bra-sil e na América Latina, em1996 foi nomeado auxiliarda arquidiocese de São Se-bastião do Rio de Janeiro;desde 2004 era bispo dePetrópolis.

No dia 24 de novem-bro, o bispo Franco GiulioBrambilla, 62 anos, foi no-meado bispo de Novara.Nascido em Missaglia, naLombardia, em 1975 foiordenado sacerdote na ar-quidiocese de Milão. Des-de 2006 era presidente daFaculdade de Teologia daItália Setentrional e desde2007 auxiliar de Milão.

No dia 26 de novembroo padre redentorista Anto-nio De Luca, 55 anos, foinomeado bispo de Teggia-no-Policastro. Nascido emTorre del Greco, na provín-cia de Nápoles, foi ordena-do sacerdote em 1981 edesde 2007 era pró-vigá-rio episcopal para a vidaconsagrada da arquidioce-se de Nápoles.

DIPLOMACIANovos núncios na Tanzânia, Itália,Irlanda, Geórgia

No dia 10 de novembro o ar-cebispo filipino FranciscoMontecillo Padilla, 58 anos,foi nomeado núncio na Tan-zânia; desde 2006 era repre-sentante pontifício em PapuaNova Guiné e Ilhas Salomão.

No dia 15 de novembroo arcebispo Adriano Bernar-dini, 69 anos, foi nomeadonúncio na Itália e San Mari-no; desde 2003 era repre-sentante pontifício na Ar-gentina.

No dia 26 de novembromonsenhor Charles JohnBrown, 52 anos, foi nomea-do núncio na Irlanda e eleva-do à dignidade de arcebispotitular de Aquileia. Nascidoem Nova York, onde foi orde-nado sacerdote em 1989,desde 1994 era oficial daCongregação para a Doutri-na da Fé.

Ainda no dia 26 de no-vembro monsenhor MarekSolczynski, 50 anos, foi no-meado núncio na Geórgia eelevado à dignidade de arce-

bispo titular de Cesarea deMauritânia. Ordenado sacer-dote em 1987, na arquidioce-se de Varsóvia, em 1993 en-trou para o serviço diplomáti-co vaticano, prestando servi-ço nas nunciaturas do Para-guai, Rússia, sede da ONU deNova York, Estados Unidos,Turquia, República Tcheca e,por último, Espanha. q

30DIAS Nº 11 - 2011 53

urtas Curtas Curtas CurtasNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

A basílica de Santa Maria Maior

“T alvez tenha sido justa-mente o fato de ter nas-cido e vivido em Roma

que amadureceu em mim a con-vicção de que na arquitetura, enão apenas nesse ramo, a tradi-ção é uma condição vital, e de quepode haver continuidade na mu-dança. Roma mudou radicalmen-te muitas vezes, mas manteve essasua profunda unidade e continui-dade. Minhas ideias são sem dúvi-da influenciadas pela experiênciada cidade”.

Paolo Portoghesi começa da-qui, de Roma, para dar conta desua posição histórica no debate

“As igrejas são domus Dei. Sempre considerei fundamental que numa grande cidade haja a possibilidade de abrir uma porta e ver aquela luzinha acesa que indica a presença do Senhorna Eucaristia”. Entrevista com Paolo Portoghesi, por ocasião de seu octogésimo aniversário

Arte cristã

No silêncio das nossas igrejas

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por Paolo Mattei

Paolo Portoghesi

A cúpula de Santo Ivo na Sapienza, de Francesco Borromini,no bairro romano de Santo Eustáquio

sobre a cultura arquitetônica,que, a partir da década de 1960,teve nele, como representantemáximo da corrente pós-moder-nista italiana, um adversário dasposturas mais extremistas deuma parte do racionalismo, se-gundo as quais seria precisoromper radicalmente com o pas-sado e com a tradição em favorde um funcionalismo exaspera-do e abstrato. Segundo o arqui-teto romano, entre o antigo e onovo, entre a tradição e a mo-dernidade, não existe contrapo-sição dialética, mas convergên-cia e continuidade.

“Professor aposentado” naSapienza de Roma, onde lecio-nava Geoarquitetura – um cursoque ele mesmo criou para ensi-nar aos alunos a arte de construirrespeitando a história e as pecu-liaridades dos lugares em que sedá a intervenção –, um dos maio-res especialistas em barroco ro-mano e na obra de Borromini,crítico e arquiteto criador (entresuas obras mais famosas, deve-mos lembrar a Casa Baldi , aMesquita de Roma e a igreja daSagrada Família, em Salerno),Portoghesi completou oitentaanos há pouco tempo. Seu ani-

versário foi festejado no início denovembro no Vaticano, no SalãoSistino da Biblioteca, redecora-do pelo arquiteto para a sua rea-bertura como sala de leitura paraos estudiosos, que ocorrerá embreve. Na ocasião, Portoghesiapresentou um modelo de igrejaintitulada a São Bento, que eleprojetou como presente para opapa Ratzinger.

Fomos encontrá-lo em Calca-ta, na província de Viterbo, umaesplêndida cidadezinha que domi-na o vale de Treja do alto de umamontanha de pedras calcárias.Aqui, a menos de cinquenta quilô-metros de Roma, Portoghesi diri-ge seu escritório e toca seus proje-tos, que são muitos e variados. Da-qui a alguns meses, será inaugura-da em Estrasburgo sua segundamesquita: a primeira foi a de Ro-ma, aberta em 1995. ¬

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O teto com o ideograma estelar de Nossa Senhora da Paz,

de Paolo Portoghesi, em Terni; abaixo,uma vista do interior da igreja

Fizemos a ele algumas pergun-tas sobre sua vida e suas ideias arespeito da arquitetura das igrejas.

Professor, comecemos porRoma.

PAOLO PORTOGHESI: Nascilá e até os dezoito anos nunca ti-nha saído da cidade. Sempre aamei e nunca deixei de estudá-la.Sou um fruto da condição humanaque se vive em Roma, à qual dedi-quei muitos livros e muitas pesqui-sas e da qual ainda hoje continuo aaprender coisas novas. A capaci-dade que essa cidade tem de falaràqueles que nasceram lá, como eu,mas também a quem a visita porqualquer motivo, é inesgotável.

Que lugares da cidade o se-nhor mais frequentava eapreciava quando era jovem?

Nasci no coração da cidade,em via Monterone, num velho edi-fício que pertencia a um príncipe.Meu pai, que também era arquite-to, tinha reaberto o portão origi-nal do edifício, que fora fechadoséculos antes, depois do assassi-nato de um cardeal. Assim, eu vi-via a dois passos de Santo Ivo daSapienza, que via todos os diasquando ia para a escola, no vicoloValdina: esse foi o meu primeiro“itinerário forte”, que tinha aindaa praça do Panteão e a via dellaMaddalena. Era “forte”, também,o percurso que me conduzia à casados meus avós, em via della Chie-sa Nuova, 14, uma casa famosa,por ser sede da “Comunidade doLeitão”, lugar de encontro de al-guns protagonistas da época daConstituinte, como Lazzati, Dos-setti e La Pira.

Qual era sua relação com afé, quando menino?

Minha família era católica. Fiz aprimeira comunhão com as Irmãsdo Cenáculo, num belíssimo par-que em Gianicolo. Mas vivi o epi-sódio da guerra num momentoparticular da minha vida, entre ofinal da infância e o início da ado-lescência, e por uma série de ques-tões familiares fiquei muito isoladonaquele período. Passava muitasvezes dias inteiros sem sair de ca-sa. Lembro-me de que durante o“inverno dos alemães”, entre1943 e 1944, quase nunca fui à

escola. Na minha primeira forma-ção religiosa, portanto, faltoucompletamente o aspecto, que naépoca era comum, da participa-ção da vida paroquial. Meu itinerá-rio foi bastante mais complexoque o dos jovens da minha idade.Eu invejava muito, por exemplo, omeu irmão que estudava no Colé-gio Romano, dos jesuítas, e estavainserido numa realidade juvenilmuito viva. Sempre cultivei minharelação com a fé como algo a serescavado no “foro íntimo”, maisque como partilha com os outros.Nessa solidão eu lia muitos livros,também de conteúdo religioso.

Que tipo de livros?Eu tinha predileção especial pelo

catolicismo francês: Charles Péguy,Jacques Rivière, Georges Berna-nos, por exemplo. Gostava, natu-ralmente, também de Pascal. E, umpouco rebelde como todos os jo-vens, me apaixonei por Rimbaud.Vivia minha relação pessoal – sofri-da, nada pacífica – com a Igrejatambém passando pela mediação

desses grandes personagens. De-pois tive um período de afastamen-to, e em 1959 me inscrevi no Parti-do Socialista, com o desejo de en-contrar nesse filão de pensamento apossibilidade de uma continuidadecom o que tinha sido a minha expe-riência cristã até então. Reaproxi-mei-me da Igreja na década de1980, e depois vivi com particularintensidade a experiência de proje-tar e construir igrejas.

No debate sobre a arquite-tura das igrejas, o senhor cri-tica a ideologia da tábula ra-sa, da ruptura com o passadoe com a tradição.

O que eu penso sobre isso estámuito bem sintetizado na Sacro-sanctum Concilium, a primeiradas quatro constituições do Concí-lio Vaticano II, promulgada em 4de dezembro de 1963, em que serecomenda, a propósito da inova-ção litúrgica, que “as novas for-mas de um certo modo brotem co-mo que organicamente daquelasque já existiam”. Essas palavras

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Arte cristã

A maquete da igreja intitulada a São Bento, projetada por Portoghesi como presente para o papa Ratzinger; à direita, elaboração gráfica do interior do edifício

valem também para a inovaçãodas formas e das tipologias arqui-tetônicas das igrejas. Com grandefrequência isso não foi levado emconta, nestas últimas décadas.

Por que, na sua opinião?Porque nos debates entre os ar-

quitetos, a partir dos anos de1960, ficaram em contraposiçãoradical os conceitos de Igreja espi-ritual e igreja construída, noçõesque a tradição indica como com-plementares. Puseram em dúvidatambém a sacralidade do edifíciocristão. Hoje há quem teorize umcristianismo sem templo. Isso éum erro enorme. Basta pensar naEucaristia, presença real do Se-nhor celebrada e conservada nasigrejas, para entender que elas sãodomus Dei, casas de Deus. Nessesentido, é sugestiva a provável eti-mologia das palavras Church eKirche, “igreja” em inglês e ale-mão: kyriakón, que significa “oque é próprio do Senhor”. Sem-pre considerei fundamental, porexemplo, que numa grande cidade

haja a possibilidade de abrir umaporta e ver aquela luzinha acesaque indica a presença do Senhorna Eucaristia.

Quais foram os efeitos des-sas interpretações na arquite-tura das igrejas?

Confusão e indistinção, em pri-meiro lugar. O posicionamentodos polos litúrgicos tradicionais –altar, tabernáculo, batistério, am-bão – foi completamente rediscu-tida, e chegaram a soluções para-doxais, como a adotada na igrejade Jesus Redentor em Módena,onde o altar e o ambão se encon-tram nos dois extremos de um cor-redor central, dos lados do qual osfiéis, divididos em filas contrapos-tas, olham-se de frente, movendoos olhos, de vez em quando, orapara a direita, ora para a esquer-da, para acompanhar com dificul-dade os deslocamentos do cele-brante entre os dois polos. Infeliz-mente esse modelo de igreja – naAlemanha definido “communio” –é um dos mais seguidos no plano

internacional. A propósito disso,é muito bonito o que diz Ratzingerem seu livro Introdução ao espíri-to da liturgia, em que, citando Jo-sef Andreas Jungmann, um dospais da Sacrosanctum Conci-lium, explica a antiga conforma-ção da assembleia litúrgica: “Sa-cerdote e povo sabiam que cami-nhavam juntos para o Senhor.Eles não se fecham em círculo,não olham uns para os outros,mas, como povo de Deus em ca-minho, estão de partida para oOriente, para Cristo, que avança evem ao nosso encontro”. Muitasigrejas recentes, como a de Móde-na, refletem essa perda da “di-mensão cósmica” da liturgia...

O que o senhor entendepor “dimensão cósmica”?

Era a razão profunda pela qualantigamente todos, fiéis e cele-brante, durante a oração eucarísti-ca, se voltavam para o Oriente, di-reção que “se encontrava em es-treita relação com o ‘sinal do Filhodo homem’, com a cruz, que

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NO SILÊNCIO DAS NOSSAS IGREJAS

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anuncia o retorno do Senhor”, dizainda Ratzinger, que explica queesse ato não era, portanto, a “ce-lebração para a parede”, não sig-nificava que o sacerdote “voltavaas costas ao povo”: o sacerdote,observa Ratzinger, “não se consi-derava, pois, tão importante”. Aperda do sentimento dessa dimen-são, de fato, gerou de um lado umcerto tipo de retórica definida co-mo “clericalização” da liturgia – adinâmica em que o sacerdote setorna o centro da celebração, oprotagonista do evento; de outrolado, quase por reação, deu ori-gem à “criatividade” dos gruposque preparam a liturgia, que que-rem em primeiro lugar “mostrar asi mesmos”. “A atenção”, conti-nua Ratzinger em seu livro, “estácada vez menos voltada paraDeus, e é cada vez mais importan-te o que fazem as pessoas que alise encontram”. Tudo isso condu-ziu a considerar a igreja como lu-gar de entretenimento, um lugarfechado, levando a esquecer asduas constantes que caracteriza-ram o desenvolvimento tipológicorealizado desde a era paleocristãaté o barroco.

Que constantes?Em primeiro lugar, a profundi-

dade de perspectiva obtida com aestrutura longitudinal, que expres-sa o caminho do povo de Deus pa-ra a salvação e para Cristo quevem, o êxodo “dos nossos peque-nos grupos para entrar na grandecomunidade que abraça o céu e aterra”, comenta ainda Ratzinger;

e, em segundo lugar, o movimentovertiginoso para o alto, visto nascúpulas e nos cibórios: a Igreja, le-mos em Povo e casa de Deus emSanto Agostinho, “não tem seufundamento sob si, mas acima desi, e seu fundamento portanto étambém a sua cabeça”. Enfim, oque quero dizer é que os homensnão vão à igreja como vão a um cír-culo recreativo, para trocar umaperto de mão, mas vão até lá por-que ali acontece essa aproximaçãocom o Senhor. A arquitetura dasigrejas deve chamar a atenção pa-ra essa dimensão de encontro comDeus. Não pode limitar-se a cele-brar a presença da comunidadeentendida como algo fechado.Uma igreja não é a sede de deter-minados grupos ou movimentos,ou um lugar de reunião. É um pe-queno fragmento da Igreja univer-sal. Essa tendência para a univer-salidade deve-se manifestar na ar-quitetura, não certamente pormeio da ostentação e da complexi-dade. Aliás, hoje eu diria que a sim-plicidade é um elemento profundopelo qual podemos atingir essauniversalidade.

Na sua opinião, há exem-plos modernos positivos dearquitetura de igrejas?

Sim, penso em Antoni Gaudí,Alvar Aalto, Rudolf Schwarz, Gio-vanni Michelucci... São exemplosde como é possível que a criativida-de não se contraponha de modoalgum a uma atenta consideraçãoda tradição, que é a transmissão deuma herança que deve dar frutos.

Quando o senhor começoua projetar igrejas?

No final da década de 1960,quando construí a Sagrada Famíliaem Salerno. Mas aquela é umaigreja “assinada”...

Em que sentido?É a que é mais apreciada pelos

críticos, porque é um esforço delinguagem, o típico edifício que,por seu estilo reconhecível dentrode um debate, pode encontrar seulugar numa história da arquitetura.A partir da década de 1990 come-cei a projetar outras igrejas, pondoentre parênteses a problemáticaexpressiva pessoal – a linguagem –para dar mais ouvidos às exigên-cias de quem as encomendava epara tentar realizar seus desejos.

O senhor lembra com espe-cial satisfação de alguma dasigrejas que projetou?

Bem, Nossa Senhora da Paz,em Terni, me envolveu e emocio-nou muito. Depois da aventura daMesquita de Roma, que durou vin-te anos, eu voltava a pensar numaigreja, cujo projeto me foi propos-to em 1998 pelo então bispo dadiocese, Franco Gualdrini. Fui to-mado por um fluxo de sentimen-tos, ideias e imagens que brota-vam dos títulos escolhidos para aigreja: a Santíssima Trindade e aVirgem portadora da paz. Mergu-lhei na leitura de textos sobre Ma-ria e me confirmei na identificaçãosimbólica de Nossa Senhora coma estrela e a luz, imagens paramim estreitamente ligadas à lem-brança das ladainhas de Loreto,

Acima, a Mesquita de Estrasburgo; à direita, o teto da Mesquita de Roma

Arte cristã

que eu ouvia depois da oração dorosário em casa, com meus avós,durante a guerra. Fui conquistadopelos versos do hino Akathistos –“Estrela anunciadora do Sol...” –;pelo hino medieval das Vésperasde Maria, o Ave maris stella; pe-los tercetos de Dante no Paraíso –“Aqui és para nós a transparente/face da caridade...” –; e pelas pa-lavras de Péguy na Apresentaçãoda Beauce a Nossa Senhora deChartres – “Estrela do mar... Es-trela da manhã.../ eis-nos emmarcha para a vossa ilustre cor-te,/ e eis a travessa do nosso po-bre amor,/ e eis o oceano da nos-sa pena imensa...”. Esses versoscristãos me fizeram lembrar dapoesia Na foz, à noite, de Capro-ni, não propriamente um defensorda fé em sentido tradicional, maspoeta de que gosto muito: “Eu avia elevada sobre o mar. Altíssi-ma./ Bela.// Infinitamente bela,/mais que qualquer outra estrela[...]. Ignorava o seu nome./ Omar/ me sugeria Maria./ Era já aminha/ única estrela./ Na incerte-za// da noite, eu, disperso,/ mesurpreendia a rezar.// Era a estre-la do Mar”. Eu me sentia muitocontente: tinha encontrado o nú-cleo formador do edifício, o ideo-grama estelar, cujas primeirasaplicações à planta das igrejas re-metem ao Barroco, embora seus

prenúncios possam ser encontra-dos já na Idade Média.

Que características o se-nhor desejava que tivesse anova igreja?

Queria que representasse o re-colhimento: o silêncio nas igrejasé importante, o silêncio é a condi-ção de acesso ao sagrado. Depois,desejava privilegiar a “pobreza”,mais que a riqueza. Por isso tive de

fazer a cobertura em madeira, co-mo nas igrejas medievais.

A maquete da igreja dedi-cada a São Bento que o se-nhor deu ao Papa vai viraruma igreja de verdade?

Não sei... Aquilo é sobretudoum presente para o papa Ratzin-ger. E são também os votos de queSão Bento proteja a sua Europanestes momentos difíceis. q

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NO SILÊNCIO DAS NOSSAS IGREJAS

À direita, vista em perspectiva do teto da nave central da Sagrada Família,

de Antoni Gaudí, em Barcelona

E ntre os testemunhos escritos da Igreja primitivaque chegaram até nós, a Primeira Carta deClemente é o mais próximo cronologicamente

dos textos neotestamentários. Não nos devemos sur-preender, portanto, se há tempos chama particular-mente a atenção dos estudiosos. Mas esse texto foi, eé, debatido em cada mínimo detalhe sobretudo por-que a tradição católica vê nele o primeiríssimo teste-munho extrabíblico em favor do primado da Igreja ro-mana no seio da cristandade. Sendo assim, a questãoda data de composição se reveste de especial interes-se. É geralmente aceito que a Primeira Carta de Cle-mente tenha sido composta no final do século I da eracristã. Partindo da referência à perseguição dos cris-tãos, hipotiza-se portanto que pertença à época doimperador Domiciano, que reinou de 81 a 96.

No entanto, surgiram há algum tempo dúvidas so-bre essa datação e estudos mais cuidadosos demons-traram que sob Domiciano não houve nenhuma per-seguição aos cristãos.

Nos capítulos 3 a 5 da Carta, que é um apelo à uni-dade e ao amor no seio da Igreja, fala-se das funestasconsequências do ciúme para a comunidade dos cris-tãos. O autor traz sobre isso uma série de exemplosextraídos do Antigo Testamento, para depois prosse-guir: “Todavia, deixando os exemplos antigos, exami-nemos os atletas que viveram em tempos recentíssi-

mos. [...] Foi por causa do ciúme e da inveja que as co-lunas mais altas e justas foram perseguidas e lutaramaté a morte. Consideremos os bons apóstolos. Pedro,pela inveja injusta, suportou, não uma ou duas, masmuitas fadigas [...]. Diante da inveja e da discórdia,Paulo mostrou o prêmio reservado à perseverança.[...] Deixou o mundo e se foi para o lugar santo, comoexcelso modelo de perseverança”.

Logo depois, a Carta fala também dos mártires daperseguição realizada por Nero e lembra – como maistarde faria também Tácito († 117) – a maneira comomorreram, dizendo ainda de forma explícita que tudoisso aconteceu “entre nós” (em Roma) – •n ämîn – e,mais precisamente, ≤ggista, ou seja, “em tempos re-centíssimos”.

Mas isso significa que a perseguição de Nero per-tence à experiência direta do autor. A Carta não podeportanto ter sido escrita muito tempo depois da mortede Nero (68), uma vez que o ano do massacre de cris-tãos ainda é incerto (64/65).

A propósito disso, surge também a questão: nainveja e no ciúme de que fala Clemente, e dos quaisos apóstolos Pedro e Paulo foram vítimas, devem serreconhecidos os conflitos dentro da comunidadecristã de Roma? Os claros conflitos em torno deMarcião, Valentino e Cerdão são todos de uma gera-ção depois.

A Primeira Carta de Clemente aos Coríntios, que fala das perseguiçõessofridas pelos cristãos “por inveja e ciúme”, foi redigida não muito tempo

depois da morte de Nero, e portanto pouquíssimos anos após o martírio dos santos Pedro e Paulo, em Roma.

Um artigo do presidente emérito do Pontifício Comitê de Ciências Históricas

Perseguidos em tempos recentíssimos

do cardeal Walter Brandmüller

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PRIMEIRO MILÊNIO

É muito mais verossímil pensar nas tensões entrecristãos e judeus. Não deve de fato ser esquecido quenaquelas décadas estava em pleno andamento a sepa-ração entre judeus e cristãos, uma situação mais quefavorável a invejas e ciúmes.

Sabemos, além disso, por Flávio Josefo, que a es-posa de Nero, Popeia, era uma prosélita, ou seja, umaconvertida ao judaísmo, e deve portanto ter tido es-treitos laços com os ambientes judaicos de Roma.

Portanto, seria realmente impensável que na buscapor bodes expiatórios para o incêndio da Roma nero-niana tenha sido ela quem desviou a atenção para oscristãos, tão malvistos pelos judeus?

Seja como for, em todas essas abordagens inter-pretativas é necessário ter cautela, dada a ausência deprovas seguras nas fontes.

Mas este é o momento de enfrentar a questão doautor. É evidente que o nosso texto – que se apre- ¬

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Os santos Pedro e Clemente, detalhe do mosaico absidal do século XII da Basílica de São Clemente, em Roma

senta como um tratado em forma epistolar – não éobra de uma coletividade: dizer que a “Igreja de Deusque vive como estrangeira em Roma” escreve à Igrejade Corinto é apenas um expediente formal. Conside-ra-se que quem a escreveu foi “Clemente”, nome que– pelo que sabemos – é citado pela primeira vez numacarta de resposta do bispo Dionísio de Corinto ao pa-pa Sotero (166-174 c.). Escreve Dionísio: “Hoje cele-bramos o dia santo do Senhor e neste mesmo dia le-mos a vossa carta, a qual, tal como o precedente escri-to a nós enviado por Clemente, sempre leremos comoadmoestação”.

Se esse Clemente é nomeado ao lado do bispo deRoma Sotero e a sua carta é lida como a carta de umpapa durante a liturgia, pode-se considerar que comesse Clemente se faça referência a um outro bispode Roma. Como sugere também o Clemente Roma-no lembrado no Pastor de Hermas, escrito na pri-meira metade do século II, uma vez que pelo contex-to deduzimos que esse Clemente era pessoa de altaautoridade.

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Moeda com a efígie de Nero,Museu Arqueológico Nacional,Nápoles; abaixo, cabeça de Nero,64 aprox., Museu Palatino, Roma

PRIMEIRO MILÊNIO

Não devemos esquecer que até o século IV, en-tão como no passado, a Carta de Clemente era deuso público em grande parte das Igrejas. No Egito ena Síria, de modo particular, era-lhe atribuída umaautoridade quase canônica.

No Codex Alexandrinus, famoso manuscrito daBíblia do século V hoje conservado em Londres, aPrimeira Carta de Clemente aparece ao lado doNovo Testamento.

Ora, como dissemos, todos esses debates, oumelhor, controvérsias, têm um precedente: pode aPrimeira Carta de Clemente ser considerada a pri-meira prova pós-bíblica em favor do primado dobispo de Roma como guia da Igreja universal? Hádiferentes respostas, dependendo do diferente pon-to de vista confessional.

Deveria estar claro o evidente anacronismo querepresentaria perguntarmo-nos se o primado deRoma, tal como formulado pelos dois Concílios Va-ticanos, é testemunhado pela Primeira Carta deClemente. É justo, porém, que nos perguntemosse nessa carta fica clara a responsabilidade da Ec-clesia Romana sobre toda a Igreja.

Pensando nisso, convém em primeiro lugar daruma olhada no motivo e no conteúdo da Carta. Porque, afinal, foi necessário escrevê-la?

Pelo texto, compreendemos que na comunidadede Corinto se verificara uma ruptura, uma vez queos jovens se haviam rebelado contra os presbíterosda comunidade e os haviam removido de seu posto.

A intervenção de Roma, nessa situação queameaçava a vida da Igreja de Corinto, é um fato no-tável. Ignoramos totalmente se ocorreu em respos-ta a um pedido de ajuda dos chefes da Igreja desti-tuídos ou se Roma tomou a iniciativa motu pro-prio. Para a nossa questão, no entanto, isso é to-talmente irrelevante, pois, no primeiro caso, se fo-ram os presbíteros que recorreram a Roma, issosignifica que reconheciam sua autoridade e sua fa-culdade de tutelar seus direitos; no segundo, a in-tervenção de Roma testemunharia que a EcclesiaRomana exercia de modo óbvio a autoridade sobretoda a Igreja.

O fato parece ainda mais notável se considerar-mos que na época do envio da Carta a Corinto –pouco importa se a data é anterior ou se deu só porvolta do final do século I – ainda vivia, em Éfeso, umdos Doze, João. Afinal, por terra Corinto distava deÉfeso cerca de 1.300 quilômetros – menos da me-tade por mar –, enquanto, também por terra, Romaestava a 2.500 quilômetros. Deveria haver, portan-to, um motivo para que não tenha sido o último dosDoze, mas o Bispo de Roma, a pessoa interpelada eque interveio nessa situação.

A suposição, portanto, de que tenha-se recorri-do ao Sucessor de Pedro como instância última po-deria não ser de modo algum equivocada. q

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Acima, o “muro dos grafitos”, com a abertura que dá acesso ao lóculo em que se conservam as relíquias de Pedro, necrópole sob a Basílica de São Pedro, Cidade do Vaticano;abaixo, placa de mármore com a epígrafe: “A Paulo apóstolo e mártir”, Basílica de São Paulo Fora dos Muros, Roma

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