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Seminario “Índice glicémico en salud y alimentación humana”. INCIENSA: Costa Rica, 12 de setiembre 2002
INDICE GLICÊMICO: CRITÉRIO DE SELEÇÃO DE ALIMENTOS
Elizabete Wenzel de Menezes y Franco Lajolo,
Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental,
Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Os guias de alimentação orientam que pelo menos 55 % da energia total da dieta
deva ser proveniente dos carboidratos de variadas fontes e recomendam o
consumo de cereais, raízes, leguminosas, frutas e vegetais. Lembrando que os
alimentos devem ser consumidos na forma integral, pois contém outros nutrientes
além dos carboidratos (NRC, 1989; Vannucchi, 1990; FAO/ WHO, 1998; Lajolo etal, 2001). A composição química dos alimentos é um importante fator na escolha
dos alimentos (USP, 1998). Entretanto, o simples conhecimento da composição
química, da natureza química dos carboidratos, por exemplo, não reflete
completamente seus efeitos fisiológicos.
Nos últimos 20 anos, verificou-se mudanças significativas nos estudos referentes a
digestão e absorção dos carboidratos. Atualmente, é de conhecimento científico,
que algumas formas de amido são muito pouco digeridas pelo organismo humano,
inclusive, algumas não são digeridas e utilizadas, ao menos no intestino delgado
(amido resistente). O amido que não é digerido no intestino delgado, passa para o
intestino grosso e sofre uma série de processos. Um deles, a fermentação, resulta
em produção de vários compostos, como os ácidos graxos de cadeia curta. Estes
compostos não são simples agentes neutros, como se acreditava a algum tempo.
Eles não fornecem apenas energia, mas apresentam efeitos fisiológicos
importantes na prevenção de câncer e na redução dos níveis séricos de colesterol.
Os carboidratos presentes na dieta são digeridos e absorvidos ao longo do
intestino delgado humano em diferentes velocidades, resultando na produção de
diferenciadas respostas glicêmicas. Por exemplo, ensaio realizado com humanos
mostra a resposta glicêmica produzida por alimentos de consumo habitual da
população brasileira (Menezes et al, 1996). O feijão, uma leguminosa, apresenta
http://../TABLA%20DE%20CONTENIDO.pdf
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reduzida resposta glicêmica e o arroz e polenta elevadas respostas glicêmicas,
quando o feijão é ingerido com o arroz a resposta glicêmica aumenta.
Índice Glicêmico
Durante as décadas de 80 e 90 inúmeros ensaios foram realizados para avaliar a
resposta glicêmica produzida pelas diferentes fontes de amido, em diversos países.
Para auxiliar a seleção de alimentos e possibilitar a comparação de resultados
obtidos com diferentes alimentos e por diferentes pesquisadores foi criado o índice
glicêmico (IG). O IG classifica os alimentos com base no potencial aumento da
glicose sangüínea em relação a um alimento padrão (Jenkins et al, 1981).
O IG é definido como o percentual de aumento da área abaixo da curva glicêmica
produzida por um alimento em relação à área correspondente produzida pelaingestão da mesma quantidade de um alimento referência (pão branco ou glicose -
50g de carboidrato glicêmico). Este índice mostra, indiretamente, como cada
alimento comporta-se em termos de velocidade de digestão e absorção. Dessa
forma, é possível comparar os índices glicêmicos produzidos pelos alimentos
quando consumidos após diferentes tipos de preparo, processamento e
armazenamento.
Jenkins et al (1981), ao publicarem a primeira lista com valores de índice glicêmico
de 62 alimentos, evidenciaram diferentes IGs produzidos pelos alimentos, e
propuseram que os mesmos eram necessários para suplementar as tabelas de
composição dos alimentos utilizadas nos cálculos de dietas para indivíduos
diabéticos, considerando que os carboidratos dos alimentos apresentavam
diferentes respostas glicêmicas quando testados em condições padronizadas.
A importância dos estudos sobre índice glicêmico está vinculada aos possíveis
efeitos fisiológicos e terapêuticos de dietas com baixos índices glicêmicos para
indivíduos saudáveis, obesos, diabéticos e hiperlipidêmicos (FAO/WHO, 1998)
(Danone Vitapole/FAO, 2001). Podendo ser observado aumento no controle da
diabetes, aumento do nível plasmático de HDL-colesterol, diminuição dos níveis
plasmáticos de triglicérides, melhoria na performance física e aumento da
sensação de saciedade. A partir destes estudos foram criadas tabelas com o IG
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produzido por alimentos de diferentes partes do mundo e em diversas condições
fisiológicas (Foster-Powell & Brand-Miller, 1995; FAO/WHO, 1998; Brand-Miller &
Wolewer, 1999; Sydney University Glycemic Index Research Service, 2001; Foster-
Powell, Holt & Brand-Miller, 2002).
As diferentes respostas glicêmicas produzidas pelos alimentos são decorrentes da
presença de determinados fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos que
interferem na digestão e absorção do amido. Estes fatores nos permitem
compreender os valores variados contidos nas tabelas internacionais de IG. O
conhecimento da presença destes fatores é de importância para a manutenção de
reduzidos IG produzidos por certos alimentos. Por exemplo, um determinado tipo
de processamento pode resultar em aumento do IG ou mesmo o armazenamento,
sob condições específicas, pode reduzir seu IG (Björck, 1996; FAO/WHO,1998;Menezes et al, 2000; Danone Vitapole/ FAO, 2001).
Metodologia do IG
Diversos aspectos metodológicos devem ser considerados na determinação do IG
de alimentos, a seguir estão assinalados alguns destes aspectos de acordo com a
FAO/ WHO (1998).
Quadro 1. Alguns aspectos metodológicos do IG
Quantidade de alimento: quantidade fixa de carboidrato glicêmico (50g)
Horário: período da manhã (jejum 10-12hs)
Acompanhamento: utilizar sempre mesmo (água, chá)
Número de indivíduos: mínimo=6, ideal=10
Padrão: glicose (glicose=100%) ou pão (Wolever et al ., 1985) (pão=100%), realizar 3x/
indivíduo
Intervalos e tempo total: saudáveis:15-15 min (1
a
h), 30-30 min (2
a
h), até 120 min;diabéticos:30-30 min, até 180 min
Tipo de sangue: capilar (fácil, < variabilidade ) x venoso
Cálculo: regra trapezoidal, excluindo área abaixo do jejum
IG= (áárea sob curva glicêmica alimento/áárea sob curva glicêmica padrão) x 100
FAO/ WHO (1998)
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Reconhecimento do uso do IG
Com relação as recomendações sobre a utilização do IG, por órgãos mundiais da
área de Saúde, a situação é a seguinte.
A American Diabetes Association tem, ao longo destes anos, questionado a
utilidade clínica do índice glicêmico e recomenda que a prioridade nas
recomendações nutricionais seja dada à quantidade e não ao tipo de carboidrato
(American Diabetes Association, 1994). Desta forma pode-se erroneamente
interpretar que todos os carboidratos têm o mesmo impacto sobre a resposta
glicêmica, levando à rejeição do uso do índice glicêmico. As razões para ela não
recomendar o uso do índice glicêmico são: dificuldade para a pessoa diabética
fazer a sua escolha alimentar devido às “severas” limitações advindas do seu uso;
dúvidas sobre a sua utilidade clínica baseadas apenas em conclusões depequenos estudos feitos com resposta glicêmica de apenas uma ou duas refeições;
desconsideração de estudos bem delineados que mostram a aplicação do índice
glicêmico em refeições mistas; variabilidade das respostas glicêmicas encontradas
entre os diversos grupos que trabalham com índice glicêmico. Na revisão de 2001,
não houve modificação nas recomendações (American Diabetes Association,
2001). Também, a American Heart Association (Krauss et al, 2000) e American
Dietetic Association (1999) não reconhecem o uso do IG na prevenção e
tratamento de doenças.
Entretanto, segundo Wolever (1997) a variabilidade dos resultados pode ser pode
ser decorrente da falta de padronização da metodologia empregada. Nem todos os
autores adotam a mesma metodologia para obtenção do IG. Além disso, o tipo de
tratamento a que o alimento foi submetido deve ser amplamente descrito (tipo e
tempo de cocção, trituração, entre outros) para os fatores presentes nos alimentos
e que interferem no aproveitamento do amido sejam considerados.
O ideal é que os usuários tenham conhecimento da maior parte das possíveis
interferências metodológicas que envolvem a obtenção do IG, para que possam
interpretar adequadamente as informações e utilizá-las com segurança. Os estudos
de Truswell (1992) e Wolever (1997) abordam o tema de forma bastante
apropriada. Paralelamente, a publicação da FAO/WHO (1998) contém informações
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detalhadas sobre a metodologia a ser empregada nos experimentos para avaliação
do IG de alimentos. Dessa forma, na determinação do IG, é importante que todas
as condições experimentais sejam consideradas e que a metodologia adotada seja
criteriosamente seguida, a fim de garantir a reprodutibilidade e aplicabilidade dos
resultados.
Por outro lado, com relação a aplicação do IG no tratamento do diabetes, a
European Association for the Study of Diabetes (1995) recomenda que a
porcentagem do valor energético total de carboidratos e ácidos graxos
monoinsaturados cis estejam de acordo com a tolerância individual do paciente, e
que os lipídios totais não devem ultrapassar 30% da energia. Com relação aos
carboidratos, dá preferência aos alimentos com baixo índice glicêmico ou ricos em
fibras solúveis.The National Health and Medical Research Counc il (1999) recomenda a utilização
de alimentos com baixo IG no Dietary Guidelines for Older Australians. A Austrália
é o país mais avançado em termos de conhecimento sobre o IG dos alimentos e
programas educacionais voltados ao consumidor. As autoridades de Saúde Pública
da Austrália sancionaram um programa para auxiliar os consumidores sobre a
seleção de alimentos fontes de carboidratos (Glyceminc Index Symbol Program).
Este programa envolve a inclusão do IG no rótulo dos alimentos visando ampliar
sua divulgação junto ao consumidor (Sydney University Glycemic Index Research
Service, 2001).
A FAO/WHO (1998) também reconhece, na seleção de alimentos, a validade da
aplicação clínica do IG em diabéticos e indivíduos com intolerância à glicose.
O Workshop Glycemic index and health: the quality of the evidence, realizado pela
FAO e Danone Vitapole, 21-23 fevereiro, Bandol, France (Danone Vitapole/ FAO,
2001), reuniu cerca de 48 pesquisadores de mais de 20 países e discutiu
amplamente as evidências para a utilização do índice glicêmico. As conclusões
deste Workshop foram as seguintes: IG provê bases fisiológicas para classificar os
alimentos de acordo com sua glicemia pós prandial. Os diferentes IGs dos
alimentos tem implicações na saúde pública. IG tem utilidade prática. Mais estudos
básicos e epidemiológicos são necessários em algumas áreas (controle de peso,
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prevenção e controle de doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, e função
cognitiva). Para atingir as metas propostas é necessário considerar três aspectos
básicos: sistemática revisão da literatura, padronização de metodologia e
compreensão da qualidade do processamento do alimento. Grupo reconhece que a
aplicação clínica do IG tem sido questionada por alguns pesquisadores e órgãos,
sendo necessária a realização de pesquisas conjuntas. Iniciativas internacionais
são preferidas para se atingir as metas (participação da indústria de alimentos,
profissionais de saúde e consumidores). Inclusão do IG nos rótulos dos produtos
(divulgação junto aos profissionais e consumidores).
Em função da existência de controvérsia entre clínicos e pesquisadores,
especialmente dos EUA, que questionam a relevância e a praticidade do IG, foi
realizado o Simpósio Is the Glycemic index important in human nutrition?, emOrlando, abril, 2001 (Ludwig & Eckel, 2002). As controvérsias persistem e em um
ponto os participantes concordam. Este ponto relaciona-se com a necessidade de
realização de estudos prospectivos, clinícos de longa duração com alimentos de
baixo IG e de baixa carga glicêmica (Glycemic Load ) para avaliar seus efeitos na
prevenção e tratamento de diversas doenças.
O conceito de carga glicêmica (CG) foi introduzido em 1997, por pesquisadores da
Harvard University (Salmeron et al., 1997). A CG visa quantificar o efeito glicêmico
de uma porção de alimento (produto entre a quantidade de carboidrato glicêmico e
o IG do alimento), portanto representa o efeito da qualidade e quantidade de um
determinado carboidrato, enquanto o IG representa somente a qualidade do
carboidrato (Foster-Powell, Holt & Brand-Miller, 2002).
Aplicação prática do IG
Com relação a alegação da American Diabetes Association de que o IG é de difícil
aplicação na prática, outros grupos que utilizam o IG não concordam com essa
afirmação (Danone Vitapole/ FAO, 2001). Na última década, os nutricionistas
australianos aceitaram os princípios básicos do IG e incorporaram o IG no
planejamento de refeições. Brand-Miller & Gilbertson (2001), em estudo com mais
de 100 crianças com diabetes tipo1, demonstraram a simplicidade e o sucesso
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para incorporar o IG nas recomendações nutricionais. Esta publicação inclui um
resumo dos aspectos práticos para a utilização de alimentos com baixo IG.
As dietas com baixo IG são de fácil aplicação na prática, não restringem a
variedade de alimentos e não aumentam a ingestão de lipídios. Baseiam-se,
principalmente, na substituição de um alimento por outro, considerando o IG de
cada alimento. Deve-se dar mais importância para os alimentos com elevado teor
de carboidratos como pães, arroz e não se preocupar com alimentos de reduzido
teor de carboidratos, como a cenoura, por exemplo, e não se preocupar com
pequenas diferenças entre os valores de IG (de 30 ou 40%).
Três princípios básicos devem ser seguidos para a utilização do IG em dietas: 1. A
dieta deve conter baixo teor de lipídios saturados; 2. A dieta deve conter de
moderado para alto teor de carboidratos; 3. A cada refeição, escolher um alimentode baixo IG contra um alimento de alto IG. Por exemplo, massas de abaixo IG
contra mandioca, batata de alto IG; aveia contra cereal matinal; maçã, laranja
contra manga, banana madura de alto IG. Lembrar que as leguminosas (feijões,
lentilha, grão de bico) são alimentos de baixo IG.
A substituição, em uma refeição, de metade dos carboidratos totais com alimentos
de baixo IG resulta na redução de 15 unidades no IG total da dieta.
O cálculo do IG em refeições mistas é simples quando se tem o valor do IG e o
conteúdo de carboidrato dos alimentos. Assim, precisamos das tabelas de
composição de alimentos para fornecerem as informações sobre o teor dos
carboidratos e o IG de cada alimento. Esta estimativa por cálculo é mais precisa
quando a refeição não é rica em lipídios, o elevado conteúdo de lipídios tende a
reduzir o impacto dos carboidratos nos níveis de glicose plasmática.
Resumidamente, segundo a FAO/WHO (1998), o cálculo do IG de uma refeição
mista é constituído das seguintes fases: determinar a porcentagem que cada
alimento fornece em relação ao total de carboidratos da refeição, multiplicar este
valor pelo IG de cada alimento e somar os valores obtidos para predizer o IG da
refeição.
Os estudos sobre o aproveitamento biológico de carboidratos tem tido significativa
evolução. Não só evidenciando os benefícios dos alimentos de baixo IG, mas
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demonstrando que seus carboidratos quando chegam ao intestino grosso, para
serem fermentados, produzem outros compostos com inúmeros efeitos positivos na
prevenção de doenças crônico não transmissíveis. Ao mesmo tempo, a indústria de
alimentos está voltada para a produção de alimentos funcionais, como alimentos
de baixo IG e ingredientes prebióticos, mostrando que os carboidratos, além de
importante participação no setor saúde, também, participam no setor econômico.
Conclusões: Os carboidratos presentes nos alimentos são digeridos e absorvidos
ao longo do intestino delgado humano em diferentes velocidades, resultando na
produção de variadas respostas glicêmicas. O Índice Glicêmico (IG) visa classificar
os alimentos de acordo com a resposta glicêmica produzida em condições
padronizadas. Alimentos de baixo IG proporcionam benefícios para indivíduossaudáveis, obesos, diabéticos e hiperlipidêmicos. Diversas entidades mundiais tem
recomendado a utilização do IG como ferramenta auxiliar na escolha dos
alimentos, pois o IG é um sensível indicador do impacto que os alimentos causam
na resposta glicêmica e é fácil aplicação prática. A utilização do IG, na seleção de
alimentos deve sempre considerar a metodologia empregada na sua obtenção, não
devendo ser empregado de forma isolada e sim como um parâmetro complementar
da composição do alimento.
Agradecimentos
Os autores agradecem o suporte financeiro da Fundação Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico” (CNPq), Curso de Pós-Graduação em
Ciências dos Alimentos, FCF-USP e PRONUT-FCF/FEA/FSP-USP.
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