APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE BIO-TELEMETRIA NA … · aplicaÇÃo de tÉcnicas de bio-telemetria na...

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APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE BIO-TELEMETRIA NA MONITORIZAÇÃO DE PASSAGENS PARA PEIXES: REABILITAÇÃO DA CONTINUIDADE LONGITUDINAL DO RIO MONDEGO Esmeralda, PEREIRA 1 ; Bernardo Ruivo, QUINTELLA 1,2 ; Catarina Sofia, MATEUS 1 ; Carlos Manuel, ALEXANDRE 1 , Gabriela, CARDOSO 1 , Ana Filipa, BELO 1 , Ana, TELHADO 3 ; Maria Felisbina, QUADRADO 3 ; Pedro, RAPOSO DE ALMEIDA 1,4 1 MARE Centro de Ciências do Mar e do Ambiente; 2 Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa; 3 Departamento de Recursos Hídricos, Agência Portuguesa do Ambiente, I.P.,Portugal; 4 Departamento de Biologia, Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora;. Objetivos Métodos e Resultados A PPPeixes construida no Açude-Ponte de Coimbra apresentou um valor de eficiência de passagem na ordem dos 30% para a lampreia-marinha e boga-comum. No caso do barbo do Norte, este valor foi próximo de 36%. Os dois primeiros métodos utilizados, isto é radiotelemetria convencional e telemetria PIT, apontam para o mesmo valor de eficiência. Este resultado revela que uma amostra relativamente pequena de animais marcados com radiotelemetria (n=20) pode ser representativa da eficiência total de um dispositivo de transposição piscícola para a lampreia-marinha. No caso da lampreia, aentrada na passagem é fortemente dependente do caudal efluente do Açude-Ponte de Coimbra. Na presença de caudais superiores a 50 m 3 /s, os animais permanecem junto às comportas do açude onde desenvolvem um esforço muscular elevado. Por outro lado, a transposição da PPPeixes é realizada num curto espaço de tempo (3 horas), e o esforço realizado, aparentemente, não terá impactos consideráveis ao nível dos custos energéticos. Por estas razões, a configuração da passagem parece ser adequada à transposição da lampreia-marinha e o esforço desenvolvido não compromete a migração reprodutora. A montante da PPPeixes, verificou-se que em condições hidrológicas normais, a existência de outros açudes bloqueia o acesso ou atrasa a migração destes animais para as áreas propícias à reprodução. AGRADECIMENTOS: O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito do programa de Monitorização da Passagem para Peixes do Açude-ponte de Coimbra, financiado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Eficiência da passagem para peixes (PPPeixes) do Açude-Ponte de Coimbra para a lampreia-marinha, o barbo do Norte e a boga-comum. Comportamento da lampreia-marinha a jusante e a montante do Açude- Ponte de Coimbra com radio-telemetria convencional. Comportamento de fina-escala e atividade muscular da lampreia- marinha durante a transposição da PPPeixes com telemetria de eletromiograma (EMG). Abordagem integrada, composta por diferentes estratégias metodológicas complementares b) Conclusão b) Com vista a estimar a eficiência da PPPeixes do Açude-Ponte de Coimbra para as espécies-alvo, foi instalado um sistema de deteção automático de marcas PIT. Em 2014, durante o pico de migração de cada espécie-alvo, foram implantadas marcas PIT (BIOMARK, USA) em 225 lampreias, 250 barbos do Norte e 47 bogas-comum (Fig. 1). Em 2015, 110 lampreias foram marcadas ao longo de quatro meses durante época de migração. A eficiência foi calculada como a proporção de animais marcados (total ou mensal) detetada na última bacia da PPPeixes. No caso da lampreia-marinha, durante o ano de 2014, verificou-se que a eficiência total de passagem foi de 30% (Fig. 2) e que a entrada na PPPeixes ocorreu maioritariamente (88% das lampreias marcadas) em situações de caudal inferior a 50 m 3 s -1 e particularmente, durante o início do período noturno (20-23h; 49% de deteções). Em 2015, verificou-se que a eficiência de transposição é máxima entre março- abril. Fig. 1 - a) Antena de deteção do sistema PIT; b)-procedimento de marcação e c) leitura e registo do código da marca PIT. a) c) b) Fig. 2 - Eficiência de passagem para as espécies-alvo durante o ano de 2014. Para a estudar o comportamento da lampreia-marinha a jusante e a montante do Açude-Ponte de Coimbra, durante a época de migração de 2013, um total de 20 lampreias capturadas no Rio Mondego foram marcadas externamente com radiotransmissores (Fig. 3). Os animais foram libertados 13 km a jusante do açude e a sua localização foi identificada semanalmente. 30% (n=6) das lampreias negociou com sucesso o Açude-Ponte de Coimbra num período de tempo que variou entre 10 a 22 dias (tempo mediano de 11 dias). Destas, 15% (n=3) continuou a sua migração no troço principal do Rio Mondego. A outra metade seguiu a sua migração pelo Rio Ceira (primeiro afluente após o Açude-Ponte de Coimbra). Os açudes de Palheiros e Louredo, no Rio Mondego, e da Boiça, no Rio Ceira, revelaram-se obstáculos de difícil ou mesmo impossível transposição para a lampreia-marinha (Fig. 4). b) Fig. 3 Pormenores do procedimento de marcação e monitorização das lampreias-marinhas: a) colocação do radiotransmissor; b) identificação da localização das lampreias marcadas Fig. 4. Padrão de dispersão das 20 lampreias marcadas e libertadas no Rio Mondego. A proporção de animais que negociou cada obstáculo é apresentada a amarelo. Radiotelemetria Convencional a) Programa de Monitorização (2011-2015) Passagem para peixes obsoleta 2011- Novo dispositivo Açude-Ponte de Coimbra 1981 PPPeixes- Bacias Sucessivas e Fendas verticais Entrada Saida Com o objetivo de avaliar o comportamento de fina escala e o esforço muscular desenvolvido durante a transposição da PPPeixes, durante a época de migração de 2014, três lampreias foram marcadas com transmissores CEMG-R11-25. Estes transmissores têm dois eletrodos que são inseridos no músculo do peixe e registam a sua atividade. 24h após o procedimento cirúrgico (Fig. 5), as lampreias foram libertadas na primeira bacia da PPPeixes. Duas das lampreias marcadas negociaram com sucesso a PPPeixes, ambas em cerca de 3 horas. Durante este período, esforços musculares mais intensos foram apenas registados durante a transposição, ou tentativa de passagem, das fendas verticais que separam as diferentes bacias da PPPeixes (Fig. 6). a) c) Fig. 6 a) Perfil longitudinal da PPPeixes do Açude-Ponte de Coimbra e b) Comportamento (i.e. nível de atividade) de uma das lampreias que negociou com sucesso a PPPeixes (Pm2). A laranja é apresentado o valor de EMG correspondente ao repouso (EMG rep ). No topo é identificada a localização da lampreia nas respetivas bacias. Fig. 5 Procedimento de marcação com transmissores EMG: a) colocação do transmissor na cavidade peritonial; b) implantação dos elétrodos na musculatura axial vermelha; d) sutura e desinfecção. Telemetria EMG b) a) b) Marcas PIT

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  • APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE BIO-TELEMETRIA NA MONITORIZAÇÃO DE PASSAGENS PARA PEIXES: REABILITAÇÃO

    DA CONTINUIDADE LONGITUDINAL DO RIO MONDEGO Esmeralda, PEREIRA1; Bernardo Ruivo, QUINTELLA1,2; Catarina Sofia, MATEUS1; Carlos Manuel, ALEXANDRE1, Gabriela, CARDOSO1, Ana Filipa,

    BELO1, Ana, TELHADO3 ; Maria Felisbina, QUADRADO3; Pedro, RAPOSO DE ALMEIDA1,4

    1MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente; 2Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa; 3Departamento de Recursos Hídricos, Agência Portuguesa do Ambiente, I.P.,Portugal; 4Departamento de Biologia, Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora;.

    Objetivos

    Métodos e Resultados

    A PPPeixes construida no Açude-Ponte de Coimbra apresentou um valor de eficiência de passagem na ordem dos 30% para a lampreia-marinha e boga-comum. No caso do barbo do Norte, este valor foi próximo de36%. Os dois primeiros métodos utilizados, isto é radiotelemetria convencional e telemetria PIT, apontam para o mesmo valor de eficiência. Este resultado revela que uma amostra relativamente pequena de animaismarcados com radiotelemetria (n=20) pode ser representativa da eficiência total de um dispositivo de transposição piscícola para a lampreia-marinha.

    No caso da lampreia, a entrada na passagem é fortemente dependente do caudal efluente do Açude-Ponte de Coimbra. Na presença de caudais superiores a 50 m3/s, os animais permanecem junto às comportas doaçude onde desenvolvem um esforço muscular elevado. Por outro lado, a transposição da PPPeixes é realizada num curto espaço de tempo (3 horas), e o esforço realizado, aparentemente, não terá impactosconsideráveis ao nível dos custos energéticos. Por estas razões, a configuração da passagem parece ser adequada à transposição da lampreia-marinha e o esforço desenvolvido não compromete a migração reprodutora.

    A montante da PPPeixes, verificou-se que em condições hidrológicas normais, a existência de outros açudes bloqueia o acesso ou atrasa a migração destes animais para as áreas propícias à reprodução.

    AGRADECIMENTOS: O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito do programa de Monitorização da Passagem para Peixes do Açude-ponte de Coimbra, financiado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

    Eficiência da passagem para peixes(PPPeixes) do Açude-Ponte de Coimbrapara a lampreia-marinha, o barbo doNorte e a boga-comum.

    Comportamento da lampreia-marinhaa jusante e a montante do Açude-Ponte de Coimbra com radio-telemetriaconvencional.

    Comportamento de fina-escala eatividade muscular da lampreia-marinha durante a transposição daPPPeixes com telemetria deeletromiograma (EMG).

    Abordagem integrada, composta por diferentes estratégias metodológicas complementares

    b)

    Conclusão

    b)

    Com vista a estimar a eficiência da PPPeixes do Açude-Ponte deCoimbra para as espécies-alvo, foi instalado um sistema de deteçãoautomático de marcas PIT. Em 2014, durante o pico de migração decada espécie-alvo, foram implantadas marcas PIT (BIOMARK, USA) em225 lampreias, 250 barbos do Norte e 47 bogas-comum (Fig. 1). Em2015, 110 lampreias foram marcadas ao longo de quatro mesesdurante época de migração. A eficiência foi calculada como aproporção de animais marcados (total ou mensal) detetada na últimabacia da PPPeixes.

    No caso da lampreia-marinha, durante o ano de 2014, verificou-seque a eficiência total de passagem foi de 30% (Fig. 2) e que a entradana PPPeixes ocorreu maioritariamente (88% das lampreias marcadas)em situações de caudal inferior a 50 m3 s-1 e particularmente, duranteo início do período noturno (20-23h; 49% de deteções). Em 2015,verificou-se que a eficiência de transposição é máxima entre março-abril.

    Fig. 1 - a) Antena de deteção do sistema PIT; b)-procedimento de marcação e c)leitura e registo do código da marca PIT.

    a) c)b)

    Fig. 2 - Eficiência de passagem para as espécies-alvo durante o ano de 2014.

    Para a estudar o comportamento da lampreia-marinha a jusante e amontante do Açude-Ponte de Coimbra, durante a época de migraçãode 2013, um total de 20 lampreias capturadas no Rio Mondego forammarcadas externamente com radiotransmissores (Fig. 3). Os animaisforam libertados 13 km a jusante do açude e a sua localização foiidentificada semanalmente.

    30% (n=6) das lampreias negociou com sucesso o Açude-Ponte deCoimbra num período de tempo que variou entre 10 a 22 dias (tempomediano de 11 dias). Destas, 15% (n=3) continuou a sua migração notroço principal do Rio Mondego. A outra metade seguiu a suamigração pelo Rio Ceira (primeiro afluente após o Açude-Ponte deCoimbra). Os açudes de Palheiros e Louredo, no Rio Mondego, e daBoiça, no Rio Ceira, revelaram-se obstáculos de difícil ou mesmoimpossível transposição para a lampreia-marinha (Fig. 4).

    b)

    Fig. 3 – Pormenores do procedimento de marcação e monitorização daslampreias-marinhas: a) colocação do radiotransmissor; b) identificaçãoda localização das lampreias marcadas

    Fig. 4. Padrão de dispersão das 20 lampreias marcadas e libertadas no Rio Mondego. Aproporção de animais que negociou cada obstáculo é apresentada a amarelo.

    R a d i o t e l e m e t r i a C o n v e n c i o n a l

    a)

    Programa de Monitorização

    (2011-2015)

    Passagem para peixes obsoleta

    2011- Novo dispositivo

    Açude-Ponte de Coimbra1981

    PPPeixes- Bacias Sucessivas e Fendas verticais

    Entrada

    Saida

    Com o objetivo de avaliar o comportamento de fina escala e oesforço muscular desenvolvido durante a transposição da PPPeixes,durante a época de migração de 2014, três lampreias foram marcadascom transmissores CEMG-R11-25. Estes transmissores têm doiseletrodos que são inseridos no músculo do peixe e registam a suaatividade. 24h após o procedimento cirúrgico (Fig. 5), as lampreiasforam libertadas na primeira bacia da PPPeixes.

    Duas das lampreias marcadas negociaram com sucesso a PPPeixes,ambas em cerca de 3 horas. Durante este período, esforçosmusculares mais intensos foram apenas registados durante atransposição, ou tentativa de passagem, das fendas verticais queseparam as diferentes bacias da PPPeixes (Fig. 6).

    a) c)

    Fig. 6 – a) Perfil longitudinal da PPPeixes do Açude-Ponte de Coimbra e b)Comportamento (i.e. nível de atividade) de uma das lampreias que negociou comsucesso a PPPeixes (Pm2). A laranja é apresentado o valor de EMG correspondente aorepouso (EMGrep). No topo é identificada a localização da lampreia nas respetivasbacias.

    Fig. 5 – Procedimento de marcação com transmissores EMG: a) colocação dotransmissor na cavidade peritonial; b) implantação dos elétrodos na musculatura axialvermelha; d) sutura e desinfecção.

    T e l e m e t r i a E M G

    b)

    a)

    b)

    M a r c a s P I T