15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

77
8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 1/77 Guerra de Guerra de  Amor Amor For Adults Only Charlotte Lamb Charlotte Lamb Sabrina 392 Suzanna mal conteve um grito de revolta. Com que direito aquele homem invadia seu apartamento, sem nenhuma autorização, vasculhai ido tudo com o olhar cínico de quem a julgava culpada de alguma coisa? Ela o achou odioso, importuno, mal-educado... mas também atraente, charmoso, devastador. E foi impossível lutar contra a estranha força que a empurrava para aqueles braços dominadores, ameaçando escravizá-la a um homem tão arrogante. Copyright: Charlotte Lamb  Título original: "For Adults Only" Publicado originalmente em 1984 pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra Copyright para a língua portuguesa: 1986 Nova Cultural Digitalização: Joelma Monteiro Revisão: Cris Bailey

Transcript of 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

Page 1: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 1/77

Guerra deGuerra de 

AmorAmorFor Adults Only 

Charlotte LambCharlotte LambSabrina 392

Suzanna mal conteve um grito de revolta. Com que direito aquelehomem invadia seu apartamento, sem nenhuma autorização, vasculhaiido tudo com o olhar cínico de quem a julgava culpada de alguma coisa?

Ela o achou odioso, importuno, mal-educado... mas tambématraente, charmoso, devastador. E foi impossível lutar contra a estranhaforça que a empurrava para aqueles braços dominadores, ameaçandoescravizá-la a um homem tão arrogante.

Copyright: Charlotte Lamb Título original: "For Adults Only"

Publicado originalmente em 1984 pela Mills & Boon Ltd., Londres, InglaterraCopyright para a língua portuguesa: 1986

Nova Cultural

Digitalização: Joelma MonteiroRevisão: Cris Bailey

Page 2: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 2/77

Formatação: m_nolasco73

C APÍTULO I

Um ruído irritante despertou Suzanna do sono profundo em queestava mergulhada. Alguns segundos se passaram antes que ela sedesse conta de que fora a campainha, chamando-a com insistência, que,sem remorsos, a arrancara do mundo colorido dos sonhos. Tateou nocriado-mudo à procura do despertador. O mostrador marcava novehoras: mais uma vez ela dormira demais!

 — Já vou — resmungou. — Só um minuto!Quem diabos poderia ser? Não acreditava que fosse Johnny. Era

cedo demais para ele aparecer.

Deu uma parada em frente ao espelho do corredor e fez uma careta, — Que figura! — gemeu, pesarosa.Seu rosto estava marcado pelo travesseiro, os olhos inchados de

sono, os cabelos emaranhados. Ajeitou-os rapidamente com os dedos,lamentando não ter tempo para melhorar a aparência. A malditacampainha não parava de tocar.

Quando finalmente atendeu a porta, deparou-se com um homemque não devia estar num de seus melhores dias. O rosto tenso, a bocaapertada num traço fino mostravam claramente uma expressãocarrancuda e zangada. Além disso, os ombros largos e o corpo atléticomal pareciam caber no espaço da porta. Eram francamente

ameaçadores. — Suzanna Howard? — Sim. Quer fazer o favor de tirar o dedo do botão da campainha?

Estou ficando com dor de cabeça.O homem obedeceu, embora parecesse não ter nenhuma pressa em

fazê-lo.Suzanna nunca o tinha visto, mas já estava ciente de três coisas:

ele era grande demais, era um mal-educado e ela não ia nem um poucocom a cara dele.

 — O senhor deseja alguma coisa? — perguntou, apertando a gola

do robe, ao perceber que os olhos verdes a percorriam de alto a baixo.Nesse momento, lembrou-se de sua imagem no espelho e não seespantou ao notar que as sobrancelhas do homem estavam erguidas,demonstrando surpresa. Porém, o sorriso desdenhoso no canto da bocaa irritou.

 — Sou Neil Ardrey — limitou-se ele a dizer, como se isso explicassetudo.

 — E daí? — retrucou ela, malcriada. — Não vá dizer que não sabe quem sou! — Não sei mesmo. Nunca ouvi o seu nome antes. Posso ajudá-lo em

alguma coisa, sr. Ard...

 — Ardrey.O homem pronunciou o próprio nome bem devagar, como se

Page 3: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 3/77

estivesse sentindo dificuldade em controlar a raiva, e Suzanna searrependeu por haver escancarado a porta. Deveria, pelo menos, terdeixado o trinco fechado. No entanto, pensava, como poderia adivinharque, ao abrir a porta numa ensolarada manhã de domingo, iria sedeparar com o "Incrível Hulk"?

 — Vim por causa de minha irmã. Sei que está aqui e não vouembora sem ela — explicou ele.

Mas não parecia estar se dirigindo a Suzanna. Falava um tanto altodemais, tentando projetar a voz para dentro do apartamento.

 — Não sei do que o senhor está falando!Suzanna começava a se afligir. Aquele homem poderia se tornar

perigoso. Ele parecia bastante ágil, apesar da largura dos ombros e docorpo cheio de músculos, e ela intuía que não adiantaria pedir ajuda aninguém, caso resolvesse atacá-la.

  — Não tente me fazer de bobo, srta. Howard! — disse eleimpaciente, franzindo as sobrancelhas negras e espessas.

  — Não tenho a intenção de enganá-lo, sr. Ardrey — replicouSuzanna, num tom que demonstrava toda a irritação que sentia. — Seráque não está no endereço errado? Qual é o nome de sua irmã?

 — Sian, Sian Ardrey — respondeu ele entre dentes. — Não queroperder mais tempo com essa conversa inútil. Sei que ela está aqui e émelhor ir chamá-la imediatamente. Ou então serei obrigado a vasculharo seu apartamento!

 — Isso é que não! — reagiu Suzanna, fechando a entrada com ocorpo, pois o homem já dera o primeiro passo em direção à sala. — Eununca ouvi falar de sua irmã. Pode me explicar o que significa isso?

 — Oh, a senhora não sabe? — exclamou ele com ironia, a bocalevemente torcida. — Não está se saindo nada mal representando adonzela inocente com esses olhos arregalados, srta. Howard. Mas nãovai funcionar. Não comigo. Deixei de acreditar em fadas quando tinhacinco anos de idade.

 — Tenho certeza de que deve ter sido uma criança muito precoce,sr. Ardrey — retrucou ela, sarcástica. — Mas asseguro-lhe que nãoestou representando. O senhor cometeu um erro lamentável e eu oaconselho a procurar sua irmã em outro lugar, porque aqui ela não está.Não sei de onde tirou a idéia de que eu á conheço e de que ela estariahospedada em minha casa, mas...

 — O rapaz que mora com seu irmão me contou.O rosto de Suzanna se transformou subitamente e seus olhos

ficaram alertas. — Ian? — Isso mesmo. Estou vendo que está começando a me levar a sério,

afinal! — Ardrey falou exibindo um sorriso cínico. — No início, o rapaznão queria me dizer nada, mas, felizmente, consegui persuadi-lo acontar a verdade.

 — Oh, você o  persuadiu...!  — repetiu ela devagar. Mas a mente deSuzanna trabalhava depressa.

  Talvez o irmão tivesse arrumado uma bela encrenca! Olhou oestranho da cabeça aos pés: os cabelos eram abundantes e negros, as

Page 4: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 4/77

pernas longas, fortes, e os olhos eram verdes e duros. Ela podiafacilmente calcular a que tipo de persuasão ele se referira!

 — Pobre Ian... Em qual hospital ele foi parar? — Muito engraçadinha... Agora, vai me deixar ver Sian ou terei que

tomar uma atitude mais drástica?

 — Eu já lhe disse: nem sequer conheço sua irmã. Estou sozinha.Imediatamente, Suzanna ficou apreensiva com o que acabara de

dizer. "Que idiota!", pensou. "Por que fui admitir que estou só?" Numímpeto, resolveu fechar a porta, mas Ardrey impediu, empurrando-acom força no sentido contrário. Suzanna foi arremessada para trás ecambaleou de encontro à parede. Em seguida, ele entrou noapartamento com passos largos e decididos.

 — O que pensa que está fazendo?! Saia já daqui! Como se atreve ainvadir a minha casa? — gritou ela atrás dele, indignada.

Não podia acreditar que aquilo estivesse realmente acontecendo.O homem já se encontrava em seu quarto! Quando conseguiu

alcançá-lo, mal pôde conter a raiva, ao vê-lo contemplar a camadesarrumada, onde, obviamente, ela estivera dormindo. Mas Neil Ardreyignorou seus gritos de protesto e pôs-se a vasculhar o armário,empurrando os cabides para olhar atrás. Quando ele se agachou paraespiar embaixo da cama, Suzanna quase subiu pelas paredes de ódio, epor pouco não chutou-lhe as canelas.

 — Se não sair do meu apartamento agora mesmo, vou chamar apolícia! — berrou, furiosa.

Neil Ardrey saiu do quarto, mas não foi embora. Suzanna ouviunitidamente quando ele abriu o box do chuveiro.

Então, não teve mais dúvidas: correu para a sala, pegou o telefonee começou a discar, com dedos trêmulos. Porém, a mão vigorosa dohomem tomou-lhe o fone e recolocou-o no gancho, antes que elapudesse reagir.

Segurando a gola do robe a fim de impedir que ele percebesse seusseios arfantes, Suzanna virou-se e o encarou.

 — Onde está a minha irmã? — perguntou ele. — Droga! Eu já lhe disse que não conheço a sua irmã! Como posso

saber onde ela está? Aliás, nunca o vi mais gordo também. Você não temo direito de forçar a entrada no meu apartamento, e muito menos devasculhá-lo!

Suzanna gritava, descontrolada, com a voz muito acima do tomnormal. Ela tremia, embora o queixo permanecesse erguido, desafiante,enquanto seus olhos procuravam algum objeto que pudesse servir dearma. Avistou o candelabro de bronze em cima da lareira e o consideroupesado o suficiente. Se conseguisse se aproximar da lareira...

Mas o que Suzanna não sabia era que Neil Ardrey seguira seuolhar, percebendo de imediato o que ela tinha em mente.

 — Ah, não, você não vai fazer isso! — ouviu-o dizer, e sentiu oimpacto de duas mãos fortes que agarravam seus ombros.

Ficou paralisada, com a respiração em suspenso. Mas, quando Neil

a levantou do chão, quase sem esforço, reagiu debatendo-se e socando opeito largo freneticamente, com os punhos cerrados. Ignorando as

Page 5: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 5/77

pancadas, ele a carregou até o sofá, largou-a sobre as almofadas e ficoudiante dela com os pés separados, numa postura ameaçadora. Suzannaergueu os olhos, nervosa, e fitou-o, ciente de que estavam sozinhosdentro do apartamento e que seus trajes não eram lá muito apropriados.

O robe de seda agarrava-se a suas formas esculturais e, sendo

quase transparente, revelava os belos contornos de seu corpo esguio.Consciente disso, ela estremeceu, sob o olhar avaliador de Ardrey. O queele estaria pensando?

Apertou ainda mais a gola do robe e encolheu-se no fundo dasalmofadas, empenhada em colocar a cabeça para funcionar. Imaginavacomo deveria agir, caso fosse atacada. Sentiu vontade de gritar, mas seconteve. Não queria fazer papel de boba.

Neil Ardrey começou a dizer numa voz ponderada e racional,interrompendo-lhe os pensamentos:

 — Srta. Howard, minha irmã tem apenas dezessete anos. Terminouo colégio há cinco semanas e, no outono, ingressará numa universidade.Não vou permitir que ninguém prejudique o futuro dela. Sian não vai secasar com seu irmão e...

  — Casar?! — Suzanna o interrompeu, com uma voz aguda,custando a acreditar no que ouvia.

Neil Ardrey encarou-a desconfiado e perguntou: — Eles não lhe contaram? — Sua irmã quer se casar com Alex?Ardrey se mostrou irritado com a pergunta, franzindo as

sobrancelhas. — Não foi isso o que eu disse. Seu irmão planeja fugir com minha

irmã para se casar com ela. É um rapaz muito astuto e ambicioso, masnão vai conseguir. Meus planos para Sian não incluem um casamentodesastroso com um tipo como Alex.

Os olhos de Suzanna faiscaram de ódio e ela perguntou: — O senhor conhece o meu irmão, por acaso?  — Sei tudo sobre Alex Howard. Ontem desperdicei o dia todo

analisando cada detalhe do passado dele... e do presente. Meu detetiveparticular fez um ótimo trabalho. E posso lhe assegurar que o que eledescobriu não foi nada tranqüilizador. Além de não ter dinheiro, nosúltimos dois anos seu irmão abandonou três empregos. E estaráprocurando o quarto brevemente, já que não quero que trabalhe maispara mim.

 — Trabalhar para você? Como assim? Eu conheço o patrão de Alex.É um homem chamado Houghton e você não se parece nada com ele!

Suzanna estava começando a achar que o homem a sua frentetinha um parafuso a menos, pois aquela conversa não fazia nenhumsentido!

 — Sei muito bem onde seu irmão trabalha — retorquiu Ardrey comum gesto de impaciência. — "Houghton, Elks & Wilmer" — acrescentou,antes que Suzanna o interrompesse para perguntar onde ele pensavaque Alex trabalhava.

Ela o encarou, com uma ruga na testa; o homem estava a par detudo, realmente.

Page 6: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 6/77

Pensou em Alex. Ficara muito aliviada ao saber que o irmão tinhaconseguido um emprego naquela grande agência de publicidade daalameda Bond. Alex vivia pulando de um emprego para outro, desdeque, terminara o colégio. Estava sempre insatisfeito e pedia demissãopor qualquer motivo: às vezes achava o serviço maçante, outras vezes

não simpatizava com o chefe ou algum colega, às vezes, ainda,simplesmente ficava "cheio". A sorte dele era que nunca encontraradificuldade para conseguir novos empregos. Mesmo assim, Suzannaestava sempre receosa, pois sabia que um dia essa sorte poderia mudar.Afinal, o desemprego era um dos problemas mais sérios do momento,não só na Inglaterra como em praticamente todos os países do mundo.

Quando Alex finalmente havia conseguido se estabelecer no únicotrabalho que o entusiasmara de verdade, a agência de propaganda,Suzanna ficara realmente feliz... e aliviada. Fora como se um grandepeso houvesse saído de seus ombros.

Não que ela se importasse em mandar dinheiro para o irmão, nasocasiões em que ele se encontrava nas "entressafras" dos empregos. Narealidade, fazia isso de bom grado. Além do mais, Ian, o rapaz com quemAlex dividia o apartamento, também parecia sempre disposto a arcarcom as despesas, até que o amigo pudesse rachá-las meio a meionovamente.

Por outro lado, Alex não era extravagante com seus gastos e, naverdade, odiava ter que pedir ajuda financeira, fazendo questão absolutade devolver o dinheiro emprestado, tanto à irmã quanto ao amigo. Seperdesse aquele emprego, com certeza cairia em depressão. E eraexatamente isso o que Suzanna queria evitar.

 — Quer dizer então que trabalha na agência? O que o senhor fazlá? — perguntou ela.Neil Ardrey contraiu os lábios num sorriso cínico, ao mesmo tempo

em que arqueava as sobrancelhas, e disse bem devagar: — Ah, é mesmo... você, não sabe quem eu sou... — Estou ficando farta dessa história! Já disse e repito: nunca ouvi

o seu nome antes! — E eu estou farto de continuar fingindo que acredito nas suas

mentiras! — rebateu ele. — Mas já que insiste em continuar com essabrincadeira ridícula, gostaria de informá-la de que não trabalho na"Houghton, Eiks & Wilmer". No momento não tenho tempo para explicartodas as ramificações do meu negócio, mas posso adiantar que encabeçoa sociedade que controla a "Houghton, Elks & Wilmer". É lógico que asenhora não sabia disso, assim como não sabe que minha irmã é herdei-ra de uma considerável fortuna e será muito rica algum dia.

Suzanna olhou para ele ofendida, notando pela primeira vez o ternosóbrio feito sob medida. O paletó aberto mostrava um colete muitoalinhado, que cobria a camisa clara e uma parte da gravata cor devinho. Neil Ardrey, porém, estava longe de ser um modelo de elegância,com aquele corpo enorme e musculoso demais. Mas, analisando-o maisdetidamente, ela pôde perceber que ele devia ser, sem sombra de

dúvida, um homem muito rico.Quando Suzanna falou novamente, estava mais do que exasperada:

Page 7: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 7/77

 — Se conhecesse realmente o meu irmão, saberia que dinheiro nãosignifica nada para ele. Alex não é um caçador de fortunas!

 — Não? — provocou Ardrey, sorrindo com ar de ironia. — Não tenteme enganar, srta. Howard. Mulheres muito mais talentosas já tentarame falharam. Mas vamos parar com esta discussão. No momento, eu só

quero minha irmã de volta, sã e salva. — Sã e salva?! O que quer dizer com isso? — repetiu ela,

empalidecendo. — Sabe muito bem o que eu quero dizer. Sian passou os últimos

oito anos num respeitável internato e seus únicos contatos com rapazesaconteceram nas festas que o colégio promovia anualmente. Assimmesmo, os jovens convidados eram da escola vizinha e sempre haviasupervisores para vigiá-los. Tenho certeza de que nunca deixaram Siansozinha com nenhum dos garotos. Portanto, ela é completamenteinexperiente!

Suzanna ficou realmente zangada ao perceber o que Ardrey estavainsinuando.

 — Sua irmãzinha não corre nenhum perigo com meu irmão. Alex éum ótimo rapaz. Não teve mais que uma ou duas namoradas. Ele não édo tipo sedutor de fala macia, que espera a primeira oportunidade paradar o bote. Mas é isso o que o senhor está pensando, não é? Que Alexestá com sua irmã por causa do dinheiro que ela vai herdar!

 — É o que esperava que eu pensasse? — retrucou ele friamente. — Seu irmão fugiu com Sian, e ela me escreveu contando que vão se casar.Suponho que eles pensassem que eu não receberia a carta a tempo deimpedi-los, pois Sian sabia que eu estaria em Nova Iorque. Mas,

felizmente, precisei voltar ontem a Londres por causa de um imprevistoe recebi a carta. Fui direto ao apartamento onde deveria estar, mas, aochegar lá, descobri que a família com a qual eu a havia deixado tinhaido viajar e ela ficara sozinha em Londres. Consegui entrar em contatocom a dona da casa por telefone, mas ela não estava a par de nada. — As linhas do rosto anguloso se endureceram. — Eu jamais imaginei queuma coisa dessas pudesse acontecer. Confiei naquela família, contandocom que cuidassem bem da minha irmã.

Suzanna sentiu pena da tal família, ao imaginar quantos desaforosdeviam ter ouvido de Neil Ardrey.

  — Tem certeza que Alex fugiu com sua irmã? Onde eles seconheceram?

 — Na agência, é óbvio — respondeu Ardrey impaciente. — Sianqueria trabalhar durante as férias de verão e eu aprovei a idéia.

Suzanna olhou-o com ar de espanto. — Por que está me olhando desse jeito? — perguntou ele.Ela fingiu um sorriso gentil. — Oh, nada — respondeu. — É que eu me surpreendi ao saber que

você aprova alguma coisa. — Não acho nem um pouco engraçado, srta. Howard! Consegui um

emprego remunerado para Sian na agência e deixei-a com esses

parentes. Eles têm uma filha da mesma idade e eu achei que seria bompara minha irmã ter uma amiga, alguém que lhe fizesse companhia. Em

Page 8: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 8/77

seguida, viajei para Nova Iorque a negócios e fiquei lá somente trêssemanas. Seu irmão trabalhou rápido...

 — Ou sua irmã trabalhou rápido — Suzanna emendou calmamente. — Sian é apenas uma criança! — E o que pensa que Alex é? Ele só tem vinte e dois anos de idade,

sr. Ardrey! Eu o conheço melhor que qualquer pessoa no mundo. Não hárazão para que fique tão apavorado. Se sua irmã estiver com ele, tenhocerteza de que está muito bem. Mas ainda não estou convencida deque... Posso ver a carta, por favor?

Suzanna não esperava pela negativa, sem rodeios, de Neil Ardrey. — Não, não pode — disse ele. — É uma carta pessoal. Mas eu lhe

garanto, dou minha palavra de honra, que ela afirma ter ido emboracom seu irmão e que pretende realmente se casar com ele!

  — Alex é o primeiro namorado dela? — perguntou Suzannadevagar, tentando raciocinar. — Claro, deve ser... Mas, não lhe pareceum pouco estranho uma moça fugir com o primeiro rapaz que encontra,falando em casamento apesar de conhecê-lo há apenas algumassemanas? Por que Sian não apresentaria Alex a você? Será que os doisnão se conhecem há mais tempo? Talvez se encontrassem àsescondidas. Não entendo por que todo esse mistério.

 — Sem dúvida ela seguiu os conselhos do seu irmão — sugeriuArdrey. — O tal Ian admitiu que estavam juntos e que tinham ido para asua casa — completou, fitando-a com os olhos verdes frios como gelo. — Ele me deu seu endereço e vim o mais rápido que pude. Portanto, émelhor me dizer logo onde eles estão, ou vai se arrepender! Se Sian nãoestiver em casa comigo, ainda esta noite, chamarei a polícia! Fique

sabendo que faltam muitos meses para ela completar dezoito anos e, porisso, precisaria de minha autorização para se casar. — Acontece que eu não sei onde eles estão! — insistiu Suzanna,

sentindo-se tensa com a proximidade do homem.Ele olhou para baixo e encarou-a, calado, por alguns segundos. — Está bem; como você quiser — disse finalmente. — Mas se for

sensata, dará meu recado a seu irmão: ou Sian volta para casa até hojeà noite, ou entro em contato com a polícia. Tem um detalhe que seuirmão deve ter esquecido: Sian não receberá a herança antes decompletar vinte e cinco anos. De acordo com o testamento do meu avô,até lá, três pessoas deveriam se encarregar de tomar conta do dinheiro.Eu sou uma dessas pessoas. E sei que as outras duas concordarão comtodas as decisões que eu tomar. Portanto, posso impedir que Sianreceba o dinheiro.

Em seguida, Ardrey girou nos calcanhares e andou em direção àporta de saída, sem esperar pela reação de Suzanna. Ela fervia de raiva.

Ao ouvir o ruído da porta batendo, levantou-se e caminhou para obanheiro, completamente confusa. Tomou uma ducha, vestiu umacamisa de seda amarela e calça jeans, depois fez um pouco de café eenfiou duas fatias de pão na torradeira.

Quando terminou o rápido desjejum, foi até o telefone: precisava

falar com Johnny, pois haviam combinado passar o domingo juntos. Johnny ficou alegre ao ouvi-la.

Page 9: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 9/77

 — Aposto que você se esqueceu do que combinamos e não ajustouo despertador — brincou ele. — Já esperava por isso, é típico de você.

 — Não foi nada disso, Johnny! — defendeu-se Suzanna, sentindo-se relaxar ao ouvir a voz divertida do namorado.

Ele sempre tinha esse efeito sobre ela, pois era alegre, jovial e

costumava não levar as coisas muito a sério. Quando os amigos deSuzanna souberam que ela estava saindo com Johnny, logo apreveniram: "Cuidado com ele, nunca teve uma relação séria comninguém. Você pode se machucar". Mas ela não dera ouvidos. Afinal,não estava procurando um marido, pois vivia ocupada demais com seutrabalho. Queria apenas ter um companheiro, um amigo especial comquem pudesse contar. E Johnny era isso: muito mais um amigo do queum namorado.

 — Acho que não poderei sair hoje com você. Tenho que ir ao chalé,ver Alex. E tenho que ir logo. Sinto muito. Nos veremos amanhã, estábem?

 — Espere, Suzanna, não desligue! Por que tem que ir ao chalé verAlex? Há alguma coisa errada?

 — Ainda não sei. Preciso ir até lá para descobrir.  — Você está muito misteriosa... Alex se meteu em alguma

enrascada? — Espero que não. — Posso ir junto? Ou será que vou atrapalhar?Suzanna hesitou, mordendo o lábio inferior. — Acho melhor não — disse, finalmente. — Alex vai preferir que eu

esteja sozinha. São uns probleminhas de família que tentarei resolver.

 — Meu Deus! Pobre Alex... Ele vai apanhar muito? — exclamou Johnny, brincando. — Não seja bobo. Vou desligar, agora. Tenha um bom-dia!Suzanna colocou o fone no gancho e foi para o banheiro pentear os

cabelos e fazer a maquiagem... Era uma mulher bonita, atraente obastante para provocar olhares de admiração. Seus cabelos castanhoseram brilhantes e sedosos, naturalmente encaracolados, os olhosgrandes e expressivos. Certa vez, haviam-na comparado a uma gazela eela simplesmente rira. Suzanna não era do tipo sonhador; eraessencialmente prática e realista, mas tinha vivacidade e um ótimosenso de humor, encarando a vida com muita alegria e otimismo. Talvezpor isso se desse tão bem com Johnny. Os dois se divertiam bastantenos momentos em que estavam juntos, mas nenhum deles seconsiderava apaixonado.

Suzanna nem sequer entendia quando as pessoas falavam depaixão ou de amor. Ela nunca experimentara tais sentimentos. Jamaisperdera uma noite de sono pensando nos rapazes com quem saíra noperíodo da adolescência. Sentia prazer quando era beijada, entendia oque era o sexo e até pensava em se casar um dia, quando encontrasse ohomem certo. Mas não tinha ilusões quanto a ver estrelas cada vez queo marido a beijasse.

Alex era totalmente o seu oposto. Sempre fora um meninosuscetível, idealista e sonhador. Se estivesse realmente apaixonado pela

Page 10: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 10/77

irmã de Neil Ardrey, Suzanna sabia que aquele assunto ia se tornar umbocado complicado.

Pensando nisso, vestiu um suéter de lã e saiu do apartamento. Seupequeno Ford azul encontrava-se, como sempre, estacionado nagaragem do edifício. Não era um carro novo, mas ela o adorava, pois

nunca lhe dera amolação.Suzanna ganhava razoavelmente bem, desenhando roupas para

revistas de moda. Algumas vezes ilustrava os livros também, pois oaluguel do apartamento era bem alto. Mas ganhava razoavelmente beme não havia do que se queixar.

A estrada que rumava para Sussex estava completamentecongestionada. Suzanna calculou, desgostosa, que levaria pelo menos odobro do tempo habitual para chegar ao chalé.

O calor era intenso e ela se esforçava para se concentrar naestrada. Porém, seus pensamentos estavam longe dali.

Aonde mais Alex poderia ter levado Sian Ardrey a não ser ao chalé?Ian dissera a Neil Ardrey que eles haviam ido à casa de Suzanna e,portanto, essa parecia ser a única explicação. Afinal, o chalé era dela,embora sempre se esquecesse disso, pois ainda via aquela casinhaadorável como seu velho lar, a casa de seus pais, onde havia nascido ecrescido com o irmão.

Quando sua mãe morrera, deixara o chalé para Suzanna epraticamente todo o dinheiro que possuía para Alex, na época umgarotinho de quinze anos. O dinheiro ficara sob os cuidados de umadvogado e só poderia ser entregue ao rapaz quando ele se casasse. Nãodevia ser uma grande soma, mas seria o suficiente para pagar a entrada

de um apartamento modesto, onde Alex passaria a viver com a esposa.Quando o advogado da família lera o testamento, Suzanna levaraum susto.

 — Por que mamãe deixou a casa de campo para mim e não paraAlex? Ou para ambos? Não parece justo. O chalé deve valer bem mais doque o dinheiro que ela tinha guardado — dissera, aflita. — Acho que vouvender a casa e dividir o dinheiro com Alex. É a única coisa sensata afazer.

  — Não quero que faça isso, Suzanna! — protestara Alex comveemência.

O advogado apressara-se em concordar: — De fato, sua mãe deixou muito claro que não desejava que o

chalé fosse vendido. Queria que continuasse sendo o lar de vocês e que,um dia, se tornasse o lar dos netos dela.

O velho advogado sorria fraternalmente, balançando a cabeçabranca, deixando claro que deviam seguir o desejo da falecida.

  — Eu concordo plenamente com mamãe — dissera Alex comfirmeza. — Sei que não poderemos morar no chalé, mas será ótimo irpara lá, quando nos der na veneta. Não consigo me imaginar passando oNatal em outro lugar e, além do mais, seria horrível ver a casa da nossainfância nas mãos de gente estranha, não concorda? Estamos

trabalhando em Londres agora, mas... quem sabe do futuro?Sinceramente, Susie, não gostaria que você o vendesse.

Page 11: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 11/77

Ela acabara desistindo de vender a casa, especialmente após aconversa que tivera a sós com o advogado.

 — A sra. Howard tinha um motivo decisivo para não querer deixar acasa para vocês dois: sabia que, se fosse assim, teriam que vendê-lamais cedo ou mais tarde para dividir o dinheiro. Era justamente isso o

que ela pretendia evitar, pois não considerava Alex responsável obastante para ter em seu poder uma quantia tão elevada. Tinha medo deque ele gastasse todo o dinheiro de um dia para outro. Acredito que asra. Howard conhecia o filho muito bem. Ela achava que, se o chaléfosse conservado, pelo menos Alex sempre teria um lar.

Suzanna finalmente concordara, pensando que, na verdade, a mãeagira da maneira mais certa. Se algum dia surgisse uma emergência,algum imprevisto, aí, sim, faria sentido desistir do chalé. Por enquanto,podia se dar ao luxo de ficar com seu velho e querido lar...

 Já fazia alguns anos que a sra. Howard falecera, e tanto Suzannaquanto Alex costumavam freqüentar o chalé. Iam juntos, sozinhos oucom amigos. Ocasionalmente, alugavam a casa para pessoasconhecidas. Suzanna insistia para que o irmão dividisse com ela odinheiro recebido, mas ele recusava sempre:

 — Pague as contas, a faxineira, o que você precisar. Não querodinheiro — dizia.

Mas Suzanna sempre dava um jeitinho de gastar a parte quecaberia ao irmão em benefício dele, tomando cuidado para não ferir-lheo orgulho. Alex aceitava que a irmã chegasse ao apartamento delelevando, por exemplo, um par de meias novas, uma gravata ou umagarrafa de vinho alemão... Mas, se fosse um convite para um cinema ou

teatro, não deixava que ela pagasse o ingresso. E se saíssem para jantarfora, fazia questão absoluta de, pelo menos, arcar com a parte dele naconta.

Embora acabasse recorrendo à irmã quando não tinha outra saída,Alex odiava ter que pedir ajuda quando estava "duro". Suzannaemprestava o dinheiro, sabendo que o irmão daria qualquer coisa paraser o doador ao invés do receptor. Ela era três anos mais velha e tinhasempre a impressão de que ele se ressentia disso, que odiava ser oirmãozinho caçula.

 Já devia ser meio-dia quando ela saiu da autopista e pegou umaestradinha menor. Os campos gramados ao redor estavam muito verdes,cheios de vida, com uma enorme variedade de flores coloridas. Suzannalembrou-se da cerca viva que rodeava o chalé, cujas florzinhas brancasexalavam um perfume delicioso. Nessa época, muitos passarinhoscostumavam construir seus ninhos na cerca, enchendo as manhãs comseus cantos alegres.

Mas aquele agradável clima de nostalgia foi quebrado de repente,quando percebeu que um carro vermelho vinha atrás dela, já hábastante tempo.

No início, ela achara que era imaginação, mas agora não tinha maisdúvidas: alguém a estava seguindo!

Convencida de que não se tratava de mera coincidência, chegou auma terrível conclusão: o motorista daquele carro estava atrás dela

Page 12: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 12/77

porque esperava ser levado a algum lugar. Portanto... só podia ser umapessoa: Neil Ardrey!

Ficou furiosa e receosa ao mesmo tempo. Aumentou a velocidade,pois o chalé estava muito próximo e precisava despistar o homem antesde chegar lá. Depois de passar uma curva muito fechada, afundou o pé

no freio, fazendo com que os pneus deixassem duas listras pretas noasfalto. Ficou esperando alguns segundos até que seu perseguidorsurgisse, fazendo a curva em alta velocidade. Satisfeita e rindo pordentro, Suzanna viu quando ele desviou do Ford azul, girando a direçãocom dificuldade. Mas, ao passar por ela, encarou-a de uma maneira tãopenetrante que Suzanna sentiu um calafrio.

CAPÍTULO II

Ela havia imaginado coisas. Aquele não era Neil Ardrey; era apenasum senhor de meia-idade, de cabelos grisalhos... e estava furioso.Quando o homem abriu a janela e colocou a cabeça para fora,praguejando, parecia um demônio, de tão zangado. Suzanna nãoconseguiu ouvir muito bem as palavras, mas entendeu o bastante paraficar completamente sem graça, sentindo-se uma perfeita idiota.

Depois que se deu por satisfeito, o homem foi embora. Então,aliviada, ela seguiu seu caminho.

O chalé ficava no final da pequena estrada, bem na esquina docruzamento com uma ruazinha ainda menor. Suzanna estacionou o

carro perto da entrada, constatando, em seguida, que Alex estava lá.Sons de vozes animadas, entrecortadas por muitas risadas, chegavamclaramente até ela.

Sentiu um aperto no coração: estava pronta para acabar comaquela alegria.

Vislumbrou duas silhuetas no jardim, brincando e correndo comocrianças entre as árvores, completamente alheias a sua presença. Ocasal parecia tão feliz que ela sentiu uma pontinha de inveja. Então,imaginou a cara de Neil Ardrey vendo a cena e riu baixinho. No mínimo,ele ficaria apoplético.

A lembrança de Ardrey fez com que ficasse na dúvida se tinhadireito ou não de se intrometer no namoro do irmão. Afinal, Alex já eraum homem feito, dono do próprio nariz e, além disso, o fato de nãohaver contado nada a respeito de Sian parecia sugerir que não desejavao envolvimento de ninguém naquele assunto. Mas, por outro lado, haviaa ameaça de Ardrey. E o breve encontro daquela manhã fora suficientepara lhe mostrar que o homem era capaz de qualquer coisa para atingirseus objetivos.

De repente, enquanto Suzanna ainda hesitava em entrar, o portãodo jardim se abriu e alguém passou por ela correndo.

Era uma garota de cabelos longos e negros, revoltos pelo vento,

vestindo jeans branco e camiseta cor-de-rosa. Estava rindo e olhandopara trás, por isso não percebeu a presença de Suzanna. Alex

Page 13: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 13/77

atravessou o portão logo em seguida, mas, assim que viu á irmã, paroubruscamente.

 — Olá, Alex — Suzanna cumprimentou da maneira mais calma enatural possível.

Ficou meio desapontada ao notar que o sorriso alegre do irmão

desaparecera como que por encanto, dando lugar a uma expressão sériae aborrecida.

 — O que está fazendo aqui, Susie? Pensei que ficaria com Johnnyeste fim de semana. Ele está com você?

 — Não, eu vim sozinha.Suzanna concentrou sua atenção na garota parada ao lado de Alex.

Era dona de um corpo delgado, frágil, e parecia assustada como umcoelhinho. Alex chegou mais perto dela e colocou um braço em volta dacintura fina da jovem, como se quisesse protegê-la. Depois, encarou airmã novamente.

 — Sian, esta é minha irmã, Suzanna — apresentou num tom quaseagressivo.

A mocinha ergueu os olhos timidamente. Suzanna sorriu,estendendo-lhe a mão.

 — Olá, Sian.A garota respondeu ao cumprimento, um tanto hesitante. — Vocês já almoçaram? Estou morta de fome — disse Suzanna,

esforçando-se para parecer natural e animada.  — Trouxemos frango assado e salada. Se você quiser nos

acompanhar...Dizendo isso, Alex caminhou em direção à casa, de mãos dadas

com Sian. Suzanna os seguiu.O jardim estava lindo: a grama aparada, as rosas brancas evermelhas, misturando seu perfume com o das outras flores, deixavam oar deliciosamente perfumado. Aquele era o cenário perfeito para acasinha pintada de verde e branco.

Suzanna entrou na cozinha e olhou em volta. Estava tudoexatamente como na época em que seus pais eram vivos: o fogão, ageladeira, a mesa de pinho ao lado da janela, os armários de madeiraclara em cima da pia.

 — Antes de almoçarmos, preciso falar com vocês — anunciou,procurando esconder a preocupação.

Odiava ter que dizer tudo a eles. Mas achava que precisavam sabero que acontecera.

 — O que é? — indagou Alex com ar apreensivo.Suzanna demorou para continuar. A sombra ameaçadora de Neil

Ardrey parecia estar pairando no ar subitamente pesado e silencioso dacozinha. Sian e Alex se abraçaram, esperando que ela falasse. Então,Suzanna tomou fôlego e contou;

  — Uma pessoa foi me visitar esta manhã: Neil Ardrey. Sianempalideceu violentamente e, nervoso, Alex passou as mãos peloscabelos.

 — Impossível! — exclamou. — Ele está em Nova Iorque e deve ficarpor lá mais algumas semanas!

Page 14: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 14/77

 — Houve um imprevisto. Ele voltou antes do que esperava e...recebeu a carta de Sian.

Suzanna olhou para a garota e pensou que ela não se parecia emnada com o irmão. Era pequena, delicada, frágil; os olhosprofundamente azuis eram cobertos por pálpebras adornadas por longos

cílios negros, no momento, estavam úmidos de lágrimas. — Ele lhe contou tudo? — quis saber Alex. — Sim — respondeu Suzanna. — No começo, não pude acreditar no

que ele estava falando. Você nunca me disse nada a respeito de Sian!Encarou o irmão com ar de censura e ele ficou embaraçado. — Não pude contar, maninha. Sinto muito, mas eu não consegui

contar a ninguém, entende? — Ian sabia! — retrucou Suzanna num tom mais áspero. — Sabia um pouco! Por acaso, ele encontrou Sian lá no meu

apartamento. Então contei que vínhamos para cá. Não disse queplanejamos nos casar.

Alex fez uma pausa e, franzindo a testa, perguntou: — Como Ardrey foi parar na sua casa? Foi Ian quem lhe deu o

endereço? — Sim, mas não o culpe por isso. Tenho certeza de que Neil Ardrey

se esforçou bastante para conseguir o meu nome e endereço. — Sem dúvida! — concordou Alex. — Ele é um brutamontes. E só

pensa em dinheiro! Trancou Sian num colégio interno durante anos. Nasférias, ela ficava o tempo todo com a avó. Raramente vê o irmão. Mas,assim mesmo, ele se acha no direito de determinar o que ela deve fazer eonde pode ir!

Suzanna hesitou por alguns instantes e, então, disse muitodelicadamente: — Sian é muito jovem, Alex. — Ora, não me venha com essa! Algumas pessoas com trinta anos

nas costas são mais imaturas que outras de quinze! Não se podedeterminar que as pessoas são imaturas ou não só porque têm esta ouaquela idade. Não se pode generalizar os seres humanos!

 — Mas a lei generaliza, Alex. — As leis são uma tremenda estupidez. E as pessoas que as

decretam são um bando de idiotas!Suzanna não pôde deixar de rir. — Talvez, mas eu duvido que esse argumento vá impressionar a

polícia!Em seguida, voltando a ficar séria, olhou para os dois e falou: — Neil Ardrey chamará a polícia caso Sian não volte para casa até

hoje à noite. — A polícia?! — repetiu a garota alarmada, agarrando-se ao braço

do namorado. — Oh, Alex! — Não se preocupe, meu amor. O que a polícia pode fazer? Logo

você vai completar dezoito anos! — Alex... — começou a falar Suzanna, um pouco impaciente.

 — O que é?Ele encarou a irmã desafiadoramente, ao mesmo tempo em que

Page 15: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 15/77

trazia Sian para mais perto de si. Por trás daquele olhar agressivo, noentanto, Suzanna enxergava, penalizada, a insegurança, o medo e aansiedade que Alex tentava esconder.

 — Mesmo que a polícia não possa fazer nada, exceto impedir quevocês se casem agora, você sabe muito bem que qualquer que seja a sua

ou minha opinião sobre Neil Ardrey, não se pode escapar de um fato: eleé irmão e tutor de Sian. Sabia que ele contratou um detetive parainvestigar a sua vida, Alex? Está a par da sua instabilidade, dosempregos que você já teve, de tudo! Sou obrigada a admitir que tambémestaria preocupada se a minha irmãzinha de dezessete anos quisesse secasar com um rapaz pobre, que tem dificuldade em se manter noemprego!

Alex estava indignado e tentava interromper a irmã a todo oinstante. Quando, finalmente, ela acabou de falar, ele explodiu furioso:

 — Sei que tive muitos empregos, mas agora é diferente! Estou indomuito bem na agência e pretendo progredir lá dentro. Não ganho umafortuna, mas Sian também quer trabalhar e, juntos, poderemosconstruir um lar!

 — Mas... ela não vai para a universidade? — perguntou Suzanna,surpresa.

 — Ela não quer ir. Aliás, nunca quis! Isso não passa de mais umaimposição do irmãozinho. Sian não é do tipo estudioso, mas, assimmesmo, foi obrigada a ficar naquele maldito internato. Agora, a simplesidéia de ter que agüentar mais quatro anos dentro de uma faculdade adeixa doente!

Suzanna virou-se para Sian com uma expressão interrogativa no

rosto e a garota desviou os olhos para Alex. — Diga a ela — o rapaz encorajou a namorada. — É verdade. Eu não quero ir para a universidade! — confirmou

ela. — Já disse isso a Neil um milhão de vezes, mas ele nem liga. Dizque estou sendo tola. Quer que eu tire um diploma, custe o que custar.Ele...

De repente a garota parou de falar e saiu correndo da cozinha.Disparou escada acima e bateu a porta do quarto. Alex olhou paraSuzanna, com o rosto cheio de raiva.

 — Está vendo o que foi arrumar? Por que tinha de estragar tudo? — Não tive outra saída, Alex. Eu não sou nenhuma idiota. Como

acha que eu me senti quando Ardrey apareceu com essa história? Eleentrou no meu apartamento sem ao menos pedir licença! Revistou tudo,olhou até embaixo da minha cama!

 — O quê?! Por que o deixou entrar? — perguntou Alex, furioso. — Acha que tive escolha? Ele empurrou a porta e, quando vi, já

estava lá dentro, vasculhando tudo. — Quem ele pensa que é?Alex estava lívido de raiva. Andava de um lado para outro com as

mãos enterradas nos bolsos, os olhos brilhando de indignação. — Ardrey sabe muito bem quem é: o irmão mais velho de Sian. E

um homem muito rico, pelo que eu pude perceber! — respondeuSuzanna, encarando o irmão. Depois perguntou: — Você sabia que ele é

Page 16: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 16/77

o dono da agência? — Sim — respondeu Alex, sem sé dar conta das implicações, de sua

resposta. — Não lhe ocorreu que aquele homem pode despedi-lo, se quiser?

 — indagou Suzanna cautelosamente.

Os olhos do rapaz se arregalaram. — Ele disse que faria isso?Suzanna fez um gesto afirmativo com a cabeça, enquanto observava

o rosto tenso do irmão. — Bem, eu já esperava por isso — disse ele. — Mas não tem

importância, posso arrumar outro emprego. — Você não está sendo sensato, Alex. Como é que vocês dois vão

sobreviver? Onde vão morar? — Recebo a herança quando me casar, não é? Deve bastar para

comprarmos um pequeno apartamento. Caso isso não seja possível,pensei que poderíamos viver aqui, no chalé. Afinal de contas, você quasenão vem para cá e...

 — Claro que poderiam — concordou Suzanna, sabendo que esseera o menor dos problemas. — Mas seria uma rotina exaustiva. Vocêteria que ir a Londres todos os dias. Sairia de casa de manhã muito cedoe só voltaria de noite.

 — Já pensei nisso e estou disposto a fazer um esforço. Amo Sian enão quero me separar dela. É a primeira pessoa com quem sinto quepoderei ser feliz! Você não a conhece; ela é tão meiga e sensível! Precisade alguém que se importe com ela. Eu seria capaz de fazer qualquercoisa para ficar com ela. Trabalharia numa fazenda, num açougue, até

numa construção. E sei que Sian faria o mesmo por mim.Sem ter o que dizer, Suzanna permaneceu em silêncio por algunsinstantes. Então, achou melhor mudar de assunto:

 — Toda essa emoção está me deixando mais faminta do que antes!Vou arrumar a mesa para o almoço. Suba e fale com Sian. Estará tudopronto em dez minutos.

Alex já estava na porta, mas hesitou por um momento. Depois,pareceu criar coragem e perguntou:

 — Susie, você disse ao Ardrey que poderíamos estar aqui? — Não, claro que não!O rapaz abraçou a irmã, aliviado, depois saiu da cozinha e subiu a

escada.Alex era tão infantil! Mesmo com vinte e dois anos, ainda agia como

um adolescente. Talvez fosse porque, ao ficar viúva, sua mãe,desconsolada e carente, acabara por mimá-lo demais, apegando-se aomenino de uma maneira que chegava a ser doentia.

Desde pequena, Suzanna sabia da preferência da mãe pelo irmão,mas nunca se ressentira com isso; sempre fora inteligente e conseguiracompreender que Alex se tornara, de certa forma, um prolongamento domarido que a senhora Howard amava tanto. Por isso era tão dedicada aogarotinho.

Mas essa dedicação, o apego exagerado terminaram por sufocá-lo,tornando-o nervoso e inquieto. Suzanna se lembrava da mãe forçando

Page 17: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 17/77

Alex a se agasalhar, mesmo quando ele não sentia frio, proibindo-o de jogar futebol ou ficar com os amigos no clube até mais tarde.

O resultado fora que Alex se tornara um adulto sem nenhum sensode responsabilidade, um homem indeciso, fraco.

Agora, impulsivamente, resolvera se casar com uma garota, outra

criança, sem ao menos pensar nas conseqüências!"Alex precisa de uma mãe, não de uma esposa", pensou Suzanna

consigo mesma. Suspirou profundamente, procurando pensar em outracoisa e foi até a geladeira pegar a salada.

A mesa já estava pronta quando ouviu os dois descendo a escada.Decidiu mostrar-se o mais amigável possível.

 — Está na mesa! — anunciou, sorridente. — Você não se importaem comer na cozinha, não é, Sian? Daria um trabalhão levar tudo paraa sala!

 — Claro que não — respondeu a jovem sentando-se ao lado de Alex.Era óbvio que estivera chorando, pois tinha os olhos vermelhos e

inchados. Suzanna, porém, achou melhor fingir que não notara nada epassou-lhe a travessa com o frango assado.

 — O tempo está esplêndido, não acham? — comentou. — Repareique você aparou a grama, Alex. Estava muito alta?

 — Bastante — respondeu ele secamente. — Há quanto tempo vocês estão aqui? — indagou Suzanna. — Chegamos ontem — disse ele, sem esconder a irritação com a

pergunta. — Não estamos dormindo no mesmo quarto, se é isso o queestá querendo saber.

 — Ora, Alex, eu nem havia pensado nisso — mentiu Suzanna.

Percebia que devia tomar cuidado, pois o irmão estava disposto abrigar. Teria que acalmá-lo, antes de ir direto ao assunto.  — Preciso mandar pintar o chalé antes do inverno. Está em

péssimo estado, não é?Alex concordou com um gesto de cabeça.Durante todo o almoço, Suzanna se esforçou para manter uma

conversa agradável. Mas não teve sucesso. Sian ficou calada o tempotodo e Alex limitou-se a dar respostas monossilábicas.

  — Você me ajuda a lavar a louça, Sian? — pediu, depois detomarem o café. — Alex, leve os pratos para a pia, sim?

Ele obedeceu, mal-humorado. — Mais alguma ordem, madame? — perguntou.Suzanna abriu a torneira e começou o trabalho. — Não, obrigada. Por que não vai ao jardim tomar ar fresco? — Acho que vou fazer isso mesmo.Depois que ele saiu batendo a porta, Sian pegou um pano de prato

e procurou se desculpar pela atitude do namorado. — Ele está muito chateado — disse timidamente. — Eu sei. Faz tempo que vocês se conhecem? — Nós nos conhecemos há uns dois meses.A garota corou ao ver a expressão da futura cunhada.

 — Dois meses é tempo suficiente para saber que queremos noscasar — apressou-se em acrescentar.

Page 18: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 18/77

 — Sabe, eu tenho um namorado há muito mais tempo, mas nãoarriscaria um casamento antes de conhecê-lo melhor.

 — Às vezes, essas coisas acontecem de repente — defendeu-se a jovem.

Em seguida, pegou um prato e começou a secá-lo em silêncio.

Depois de algum tempo, perguntou: — Neil estava muito zangado? — Muito.Suzanna olhou atentamente o rosto da garota, curiosa por saber

sua reação.  — Por que escreveu aquela carta? — perguntou. Nervosa, Sian

começou a gaguejar. — Bem, eu... eu achei que deveria contar a ele... achei que.Sem saber o que dizer, fez um gesto vago com a mão. — O que esperava que ele fizesse? E o que você e Alex pretendiam

fazer? Ficar escondidos até o seu aniversário?Sian enrubesceu. — Oh, não! Viemos para cá só para passar o fim de semana. Alex

tem que trabalhar amanhã de manhã. — É verdade — concordou Suzanna, encarando-a. — E o que você

pretendia fazer, então? Voltar para casa?Sian baixou os olhos e mordeu o lábio inferior. — Eu... Bem, Alex pensou que talvez eu pudesse ficar aqui por

algum tempo. Mas, na verdade, não chegamos a decidir nada.Ergueu a cabeça, os olhos enormes e assustados.  — Não sabia que o chalé era seu, pensei que fosse de Alex,

também. Sinto muito... — Ora, não precisa se desculpar! Esta casa pertence a ele, sim.Meu irmão tem todo o direito de trazer para cá quem ele quiser. Não sepreocupe com isso.

Suzanna estava apreensiva. Sian parecia ser, realmente, muitoimatura. Aquela carta poderia ter sido uma forma de protestoinconsciente contra o irmão. Talvez ela quisesse chamar a atenção dele,mostrar que não era uma criança, ou um fantoche sem vontade própria.De acordo com o que Alex dissera, Ardrey não se preocupara emprovidenciar um lar para ela. Portanto, tudo indicava que Sian era umagarota carente de afeto e atenção.

 — Você gosta do seu irmão? — perguntou Suzanna, ao terminar delavar a louça. — Ele é meio bruto e arrogante, eu sei; um perfeitotroglodita — comentou, rindo. — Mas é seu irmão!

Sian olhou para o lado, confusa. De repente, ao levantar os olhos,soltou uma exclamação e deixou cair ó prato que tinha nas mãos. Apeça de louça espatifou-se no chão.

Antes de se recobrar do susto, Suzanna viu que a jovem já não seencontrava mais na cozinha. Então, quase no mesmo instante, alguémabriu a porta da frente.

 — Agora entendo por que Sian fez aquela cara de quem viu um

fantasma! — disse ela, lançando um olhar irônico a Ardrey.Ele entrou na cozinha. Era tão alto que dava a impressão de que ia

Page 19: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 19/77

bater com a cabeça no batente da porta. — Não posso dizer que fiquei lisonjeado com a descrição que fez de

mim, srta. Howard. Mas gostaria de ter ouvido a resposta de Sian. Foiuma pena ela ter me visto.

 — Você ouviu o que dizíamos?

Ele apontou a janela, a guisa de explicação. — Oh! Estava escutando às escondidas? Muito educado, não acha?

Suponho que queira pedir desculpas... — Sinceramente, não — retrucou ele, indiferente. Os dois trocaram

olhares hostis. — Como chegou até aqui? Esteve me seguindo? — Meu detetive esteve. Telefonou assim que conseguiu o endereço. — Então eu estava certa quando desconfiei daquele homem! Antes

tivesse batido no carro dele, jogando-o no precipício!Neil Ardrey ergueu uma sobrancelha e sorriu com ironia. — Parece que sua família está fadada a se tornar grande conhecida

da polícia...Suzanna abaixou-se para recolher os cacos do prato quebrado,

ignorando o comentário de Neil. Mas estava tensa, irritada, e acabou porcortar o dedo. Ao ver o sangue correr, levou o dedo instintivamente àboca.

Ardrey se aproximou. — Veja só o que foi fazer! — exclamou.Suzanna não lhe deu atenção. Levou para o lixo os pedaços que

havia recolhido, chegou até a pia e deixou que a água corresse sobre ocorte. No entanto, o pequeno ferimento continuou a sangrar sem parar.

 — Deixe-me ver! — disse Neil Ardrey, agarrando-lhe o pulso epuxando-o para si a fim de examinar o corte de perto. — Talvez um cacominúsculo tenha ficado alojado aí, é melhor verificar. Tem uma lupa emalgum lugar?

 — Não foi nada!Suzanna puxou o braço. Não lhe agradara o tom autoritário nem a

maneira como Neil segurava seu pulso. Secou o dedo com cuidado,pegou um curativo na gaveta e aplicou-o sobre o corte. Estavaperturbada por saber que Ardrey observava cada movimento que fazia.

Dentro da cozinha, ele parecia ainda maior. Aliás, devia parecerenorme em qualquer dependência com quatro paredes, por mais amplaque fosse... Ele era tão grande que sua simples presença dominariaqualquer espaço!

 — Seu irmão não está aqui? — Ele foi dar uma volta, mas deve voltar logo.A expectativa da chegada de Alex a deixou um tanto abalada. Qual

seria a reação do rapaz ao dar de cara com Neil Ardrey ali? Na certa,ficaria furioso! Podia até imaginar a cena: Alex exaltado, gritando emdefesa de seu direito de conservar a namorada perto de si, e Ardrey,inabalável como uma rocha, fitando-o com aqueles olhos frios e cruéis!No final, Ardrey acabaria levando Sian embora, quaisquer que fossem os

argumentos de Alex.  — Já era tempo de Sian ter descido — comentou ele com

Page 20: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 20/77

impaciência, consultando o relógio.O punho da camisa, fechado por uma abotoadura de ouro com as

iniciais gravadas, apareceu sob a manga do paletó cinza-escuro. Sob apele da mão, Suzanne viu as veias azuis e, como que surpresa, lembrou-se de que aquele homem era de carne e osso, não feito de pedra como

podia parecer.Mas que tipo de ser humano trataria a própria irmã daquela

maneira repressora e egoísta? Se o que Sian e Alex haviam dito eraverdade, tudo indicava que Neil encarava a irmã da mesma forma queencarava seu dinheiro, ações, apólices e coisas do gênero: mantinha-abem protegida e trancada onde não pudessem alcançá-la. No entanto,não se importava realmente com ela, com seus sentimentos, seusdesejos.

 — Vou subir e falar com Sian — anunciou ele, dirigindo-se para aporta.

Suzanna bloqueou-lhe a passagem. — Não. Deixe-a em paz. Ela ainda está desnorteada e... — Ela é minha irmã, srta. Howard! — cortou ele rispidamente. — 

Vim até aqui para levá-la para casa, e é isso o que farei! — Pois esta é a minha casa, e o senhor não foi convidado a entrar!

Peço-lhe, por favor, que se retire!Ardrey soltou uma gargalhada tão forte que Suzanna ficou sem

fala, encarando-o furiosa. Em troca, recebeu um sorriso que, se viessede qualquer outro homem, ela definiria como um flerte ridículo.

 — Faça-me sair, se for capaz! — desafiou ele, enrijecendo o corpoalto e poderoso.

Suzanna cruzou os braços com desdém. — Disso você entende, não? Ameaças, força, poder: essas palavrasdevem ser bastante familiares para você! No seu mundo, apenas o forteconta; o fraco simplesmente é passado para trás. Sian não teve tempo dedizer se gosta ou não de você. Mas, na verdade, não era realmentenecessário que respondesse à minha pergunta. Está claro que você nãoé um homem digno de estima!

 — Terminou? — perguntou ele entre dentes, os olhos cheios deódio.

 — Não, não terminei! Será que não percebeu que Sian já é umamulher? Não, claro que não! Parece que não lhe ocorreu sequer que ela éuma pessoa! Você pensa que está lidando com uma boneca inanimada esem vontade própria! Primeiro a trancou num colégio, mantendo-aafastada de tudo e de todos. Agora que ela está livre do internato, vocêdecide que vai mandá-la para uma universidade, mesmo sabendo queela não quer ir! Você não ama sua irmã, e por isso acredita que ninguémmais pode amá-la! Obviamente, julga os outros por si! Mas Alex édiferente! Ele não pensa só em dinheiro. Não é frio e calculista comovocê! Ele ama Sian!

Suzanna fez uma pausa para tomar fôlego, mas, vendo-o prestes ainterrompê-la, foi mais rápida:

 — E não pense que este sorrisinho de pouco caso me intimida!Amor pode não significar nada para você, mas significa muito para Alex!

Page 21: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 21/77

Ainda que não acredite nisso, ele está mesmo apaixonado e eu não vouimpedi-lo de ser feliz! Também não vou ficar parada, vendo-o semachucar por sua causa. Você não é um ser humano, Neil Ardrey, é umcomputador, um cérebro eletrônico programado para tratar apenas deassuntos financeiros!

 — Com quem você pensa que está falando?!Com uma fúria imensa estampada no rosto, Neil Ardrey deu um

passo, agarrou Suzanna pelos ombros e começou a sacudi-la comviolência. De repente, parou, mas a manteve imóvel entre as mãosfortes. Completamente atordoada, ela não conseguia reagir. Não porcausa da violência física, mas pela intensidade daquele olharobscurecido pela cólera!

 — Você não sabe nada sobre mim ou sobre Sian — murmurou ele,com os dentes cerrados.

Os dedos dele a apertavam com tanta força que Suzannaestremeceu. Mesmo assim, não ousou desgrudar os olhos dos dele.

 — Sr. Ardrey, se não... — Você fala demais! — cortou ele fitando os olhos amedrontados e

brilhantes de Suzanna. Depois, examinou-lhe o rosto perfeito, detendo-se no nariz delicado, na boca cheia e sensual...

 — Só conheço um jeito seguro de calar uma mulher — acrescentou,num tom de voz bem diferente.

Suzanna sentiu-se puxada pelos ombros. — Não... — tentou protestar.A palavra seguinte foi abafada pelos lábios quentes de Neil Ardrey.

Ela se debateu, jogou a cabeça para trás, mas ele a enlaçou com força.

Suzanna estremeceu ao sentir o corpo duro e 

másculo apertado contra oseu, embora soubesse que não havia nenhuma paixão naquele beijo.Então, com os punhos cerrados, golpeou desesperadamente o peitolargo.

Quando, finalmente, Neil a soltou, ela recuou tremendodescontroladamente e limpou a boca com as costas das mãos,demonstrando todo o seu nojo.

Ardrey observou-a em silêncio por algum tempo, depois deu meia-volta, saiu da cozinha e subiu a escada. Abalada, Suzanna sentou-senuma cadeira, tentando se recuperar. Apesar de tudo, sabia que seucorpo correspondera ao contato com Neil. Ela se sentira derreter sob aforça daquele homem.

Aguçou o ouvido, procurando captar qualquer som proveniente dopavimento superior. Pelo menos aparentemente, Neil e Sian Ardreyconversavam amigavelmente. Olhou para o relógio preocupada. Por queAlex não chegava? Onde teria se metido?

Sentindo-se forte novamente, resolveu fazer um chá. Saboreou olíquido quente junto à janela, observando o céu límpido e sem nuvens.

Consultou novamente o relógio e calculou que já fazia uma horaque Alex havia saído. Então, resolveu procurá-lo.

Encontrou-o bem longe do chalé, além do pasto, junto com um

velho colega de escola que ainda morava no povoado. Ambos estavamdebruçados sobre o motor aberto de um carro. Chamou o irmão com um

Page 22: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 22/77

Page 23: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 23/77

Suzanna voltou para Londres uma hora mais tarde. Decidiutelefonar para Alex assim que chegasse em casa. Ele não estava nadabem e era capaz de fazer uma loucura. Será que tinha ido atrás de NeilArdrey?

Sentiu o rosto vermelho ao se lembrar do beijo na cozinha. Nunca

havia passado por uma experiência tão desagradável quanto aquela. Aboca de Neil apertara a sua com tanta força que ferira seus lábios. Eratípico de um homem arrogante e autoritário como ele utilizar o sexocomo uma arma.

Levou um susto ao notar o motorista do automóvel que parou a seulado, num sinal vermelho. O homem olhava espantado a cara zangadaque ela estava fazendo.

O sinal ficou verde. Ela seguiu em frente, lembrando-se dosofrimento de Alex por ter perdido Sian. Sabia que ele acabariasuperando aquela desilusão, mas isso ia demorar um bom tempo, pois oamor que sentia pela namorada era profundo.

Mas Suzanna não estava tão segura a respeito dos sentimentos deSian. Ela parecia confusa e indecisa. Se quisesse realmente ir até o fimcom os planos de casamento, não teria escrito ao irmão antes de fugir.

De qualquer forma, Suzanna estava quase certa de que ela nãosentia o mesmo que Alex. "Bem que meu irmão poderia ter escolhidouma pessoa mais madura para sé apaixonar. Decididamente, Sian não éa pessoa certa para ele", pensou. Mas logo riu de seu pensamentoabsurdo. Os seres humanos jamais são práticos ou sensatos em setratando de amor.

A tarde quase chegava ao fim quando Suzanna entrou na garagem

de seu edifício. Sentia-se muito cansada.Ao chegar ao apartamento, livrou-se do casaco e dos sapatos e foidireto para a cozinha, louca por uma xícara de chá. Enquanto esperavaa água ferver, lavou o rosto e as mãos.

Preparou o chá e levou a xícara para a sala. Em seguida, discou onúmero do telefone do irmão. Mas, em vez de Alex, atendeu uma vozrouca e sonolenta.

 — Humm? — Ian? O Alex está aí? — Olá, Suzanna. Não, o Alex saiu. — Quando ele chegar, peça-lhe que me ligue imediatamente, sim? — Bem... — disse Ian um pouco vacilante — acho que sei onde ele

está.Suzanna sorriu ao compreender porque ele estava tão embaraçado. — Eu estive no chalé. — Ah, é?  — Mas não fui a única visita — continuou ela. — Neil Ardrey

também apareceu por lá. — Aquele cara? Que sujeito mais arrogante! Pensei que fosse me

esganar, hoje de manhã.Ian não costumava se irritar à toa. Geralmente era calmo e bem-

humorado; não era de seu feitio falar naquele tom exasperado. — Puxa, lamento muito, Suzanna! O que aconteceu no chalé?

Page 24: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 24/77

Ela contou. Ian deu um assobio. — Que "barra"! — exclamou. — Pobre Alex, ele deve estar numa

tremenda "fossa" agora! — Está, sim. Saiu com o carro feito um louco. Não tenho a mínima

idéia de onde possa ter ido.

 — Logo vi que ele estava mesmo vidrado na garota.Depois de se despedirem, Suzanna desligou e afundou no sofá,

bebericando o chá. Mas a campainha do telefone tocou logo em seguida. — Alex? — Não, querida, sou eu — disse uma voz conhecida.Ela sorriu. — Olá, Johnny. — Estou tentando falar com você há um tempão! Como é? Resolveu

o tal probleminha de família?Suzanna demorou um pouco a responder. — Acho que, de certa forma, sim. — Você não está me parecendo muito satisfeita. — É, não estou mesmo. — Então, que tal jantar comigo para esquecer os problemas? Por

favor, não recuse! Passei o dia mais entediante da minha existência: litodos os jornais por pura falta de coisa melhor para fazer.

Ela riu.  — Só que eu não posso sair. Estou esperando um telefonema

importante de Alex. — Ora. .. Tenho a leve impressão de que você está tentando me dar

um fora!

 — Seu bobo! Claro que não.  — Então, que tal se eu encomendar uma comidinha exóticanaquele restaurante chinês e levar para comermos aí?

  — A idéia é boa, Johnny. Mas acho que serei uma péssimacompanhia esta noite; estou muito preocupada com Alex.

 — Você prefere ficar só? — Sim, é melhor. Mas obrigada por se preocupar comigo, Johnny.

Você não está magoado comigo, não é?  — Claro que não. Bem, se precisar de mim, sabe onde me

encontrar. Um beijo.Depois de recolocar o fone no gancho, Suzanna foi até a janela e

ficou assistindo o sol poente, que descia vagarosamente, como seestivesse dando tempo para que a lua pudesse tomar seu lugar no céu.Londres estava mergulhada numa penumbra mágica que transformavatodos os edifícios em silhuetas escuras.

 — Pobre Alex — murmurou pesarosa. — Deus queira que ele nãotenha feito nenhuma bobagem.

Afastou-se da janela, tentando espantar os pensamentos sombriose caminhou para o quarto.

 Tirou o jeans, a camisa de seda e vestiu uma saia pregueada verde-escura com uma blusa estampada. Penteou os cabelos com movimentos

vigorosos e, por último, passou um batom cor-de-rosa para realçar a cordos lábios. Ao se olhar no espelho, ficou surpresa: sua imagem revelava

Page 25: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 25/77

calma e descontração. Deu um pulo, quando a campainha tocou. Correupara abrir a porta: tinha de ser Alex!

Suspirou, aliviada, ao ver o irmão. — Alex, onde diabos se meteu? Estava tão preocupada! Por que

saiu daquele jeito? — desabafou de um só fôlego.

Mas logo se arrependeu. Se já estava com muitos problemas parater que agüentar, uma irmã reclamona e rabugenta, ainda por cima.

 — Queria espairecer — justificou-se ele, entrando cabisbaixo. — Fiquei rodando por aí.

Apesar dos ombros caídos e das olheiras no rosto abatido, Suzannase sentia aliviada. Pelo menos a raiva desaparecera, dando lugar a umatristeza resignada. Aquilo era, de certa forma, um bom sinal.

 — Já comeu? — perguntou. — Quer que lhe prepare algo? Euestava justamente pensando em fazer o jantar.

 — Não estou com fome — respondeu Alex. — Obrigado.Enfiou a mão no bolso do casaco e tirou um objeto que Suzanna

não identificou. — Encontrei isto no carro. É de Sian. Ela deve ter deixado cair.

Você poderia devolver a ela?Suzanna pegou o objeto e viu que se tratava de um bonito estojinho

de ouro, com as iniciais S. A, escritas com safiras na tampa. Deu umassobio e comentou:

 — Deve ser muito valioso! — É sim. Valioso demais para ser mandado pelo correio. Por isso é

melhor levá-lo pessoalmente. O problema é que não quero ver Sian. Nãoagüentaria encará-la, agora.

Ele olhou para a irmã, ansioso. — Você faria isso por mim?Embora não estivesse com a mínima disposição, Suzanna fez um

gesto afirmativo com a cabeça. — Claro. Amanhã eu levo. É só você me dar o endereço. — Amanhã não! Quero que o leve ainda hoje. Tenho medo de perdê-

lo ou de que seja roubado. Você sabe, aquele sujo do Ardrey é bemcapaz de chamar a polícia e dizer que o roubei.

Suzanna tinha que reconhecer: aquele era um bom motivo. Maisuma vez, suspirou, resignada, concordando com um gesto de cabeça.

 — Está bem. Dê-me o endereço. — Não creio que Sian tenha voltado para a casa daquela família.

Deve ter ido para a casa do irmão. Mas não se preocupe, é muito raroArdrey estar em casa.

 — Vou pegar o casaco — disse Suzanna, encaminhando-se para oquarto.

Ao retornar, encontrou Alex parado no mesmo lugar em que o haviadeixado. Estava tremendamente abatido, o olhar fixo em um pontoqualquer, os ombros caídos. "Ele precisa de uma dose de uísque",pensou. "E de uma boa noite de sono!"

 — Espere aqui em casa — pediu, tocando o braço do irmão como

que para despertá-lo. — Quando eu voltar, conversaremos. Não fiquepensando bobagens.

Page 26: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 26/77

 — Está bem — murmurou ele. — Algum recado para Sian? — Não!O pior era que Alex havia se fechado como uma concha. Talvez não

quisesse que a irmã sentisse pena, pois era muito orgulhoso. Portanto,

ela não tinha outra opção senão aceitar a atitude reservada dele.Alex continuava a ocupar a mente de Suzanna enquanto ela dirigia

seu carro em direção ao elegante bairro de Mayfair.Quando entrou na rua em que Ardrey vivia, diminuiu a velocidade

para poder enxergar os números. Em segundos parou em frente à casaque procurava e se inclinou sobre a direção para analisar a imponentefachada. Era, sem dúvida, uma casa linda. As janelas enormes, comsacadas cheias de flores, eram dispostas simetricamente ao lado dagrande porta de entrada, e o jardim era magnífico.

Uma estranha sensação de hostilidade a incomodava. Em outracircunstância, estaria excitada com a perspectiva de conhecer o interiordaquela casa, no entanto não conseguia se impressionar por qualquercoisa que pertencesse a Neil Ardrey. A simples idéia de que podiaencontrá-lo causava-lhe horror. Também não estava muito animada porreencontrar Sian. Mas, agora, não podia voltar atrás.

Reuniu as forças e, num impulso, abriu a porta do carro e desceu.Subiu a escada que levava à porta de entrada e tocou a campainha.

Momentos depois, uma senhora elegante, de cabelos grisalhos,vestindo um uniforme cinza-chumbo, apareceu.

 — Sim? — Gostaria de ver a srta. Ardrey, por favor — falou Suzanna com

certa cerimônia. — A srta. Ardrey?A mulher franziu a testa, tentando olhar discretamente para trás.

Suzanna dirigiu os olhos na mesma direção e notou, deslumbrada, oespaçoso hall. A maior parte do piso de mármore branco estava cobertopor tapetes persas; as paredes altíssimas, pintadas de branco, exibiamquadros de diversos tamanhos.

Mas, apesar de ter notado todos esses detalhes, fora sobre ohomem que se encontrava ali, de pé, que o olhar de Suzanna se fixara.

 — Tudo bem, sra. West — disse Neil Ardrey, aproximando-se.A mulher assentiu, e se retirou.Suzanna permaneceu parada, sentindo as mãos subitamente

geladas. Aquele homem tinha o poder de deixá-la perturbada, apesar deterem se encontrado apenas duas vezes.

 — Entre — convidou ele.Suzanna negou com um gesto de cabeça. — Vim apenas devolver isto à sua irmã. Tirou o estojo de ouro da bolsa. — Meu irmão o encontrou no carro dele — explicou. Ardrey pegou o

objeto e Suzanna não pôde deixar de reparar que, apesar de másculos evigorosos, os dedos dele seguravam a caixinha com incrível delicadeza.

 — Receio que não possa entregá-lo pessoalmente a Sian. Ela já foipara o quarto — informou Neil, guardando a jóia no bolso.

Page 27: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 27/77

Suzanna fitou-o com desdém: — Foi trancada no quarto, é o que você quer dizer, não? — Ora, não seja infantil, srta. Howard!Mas ela não lhe deu trégua: — Vai despedir meu irmão da agência?

As feições de Ardrey endureceram. — Recuso-me a ficar discutindo assuntos particulares parado na

porta. Entre!Ele a agarrou pelo braço e forçou-a a entrar.Suzanna conseguiu se soltar, mas já estava dentro da casa. — Quer parar de me forçar a fazer o que não quero? — protestou,

furiosa. — Você está mal acostumado porque manda e desmanda na suafamília, mas eu não sou sua parenta!

Ele a fitou de modo estranho, penetrante, e arqueou assobrancelhas.

 — De fato, não é mesmo — murmurou. Em seguida sugeriu: — Quetal irmos para o escritório, srta. Howard? Lá poderemos conversar commais privacidade.

Suzanna estava a ponto de recusar, quando viu um movimentofurtivo no topo da escada. Era Sian, numa camisola branca, o rostopálido. Mas a garota desapareceu tão de repente quanto haviaaparecido.

Suzanna reconsiderou e resolveu aceitar o convite de Ardrey.Seguiu-o através do hall, intrigada. Como ele teria persuadido a irmã avoltar para casa?

 — Gostaria de um drinque? — perguntou ele, fechando a porta do

escritório. — Prefiro café. Não suporto bebidas alcoólicas. — Então pedirei à sra. West para fazer um café para nós. Com

licença, volto já.Suzanna seguiu-o com o olhar até que desapareceu pela porta.

Então aproximou-se da escada e, como havia previsto, Sian estavaespiando, escondida. A garota se assustou e ia fugir, mas Suzanna foimais rápida. Deu dois passos em direção à escada e disse, baixinho:

 — Alô, Sian. Como está? — Bem... Alex está muito zangado comigo? — A jovem falava tão

baixo que era quase impossível escutá-la. — Ele está magoado. É natural, não? — Por favor, diga-lhe... Oh, eu não sei o que dizer a ele. Tive que ir

embora, não podia continuar; sei que depois não agüentaria. Mas nãoqueria feri-lo.

Suzanna franziu a testa. — Por que o deixou, então? — Neil tem razão, sabe? Eu teria arruinado a vida de Alex. — Não estou entendendo. Foi isso que ele lhe disse? — Foi. Sou mesmo muito jovem. No fundo, desde o início eu sabia

que não daria certo. Não devia ter deixado as coisas chegarem até onde

chegaram, fui muito egoísta. Alex, ao contrário, foi tão maravilhoso! Euo amo muito, mas sei que não conseguiria fazê-lo feliz. Não estou

Page 28: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 28/77

preparada para assumir uma casa, um lar, filhos... Mas quando ele diziaque desejava que eu fosse sua mulher, era tão maravilhoso que meesquecia de todo o resto; ninguém jamais me amou e...

Sian parou de falar, ao ouvir o ruído de uma porta se abrindo.Dirigiu um último olhar de despedida para Suzanna e desapareceu.

Neil Ardrey sentiu algo no ar. Olhou para Suzanna e depois para oalto da escada. Mas lá não havia mais nada para ele ver.

Voltaram à biblioteca. Suzanna tentava não demonstrar o quantoNeil a perturbava. Pôs-se a observar um grande quadro a óleo, queficava sobre a lareira.

 — É minha avó — Ardrey murmurou, muito próximo. — Era muito bonita! Sian é um pouco parecida com ela.A garota do quadro tinha os mesmos profundos olhos azuis. Mas o

sorriso doce e gentil possuía uma ponta de travessura, e a postura damodelo sugeriam que ela fora uma menina mais segura e determinadado que a neta.

A sra. West entrou carregando uma bandeja de prata. Depois decolocá-la sobre uma mesinha baixa ao lado da lareira, olhou paraSuzanna com um sorriso polido.

 — Puro ou com leite, senhorita? — Puro, por favor.A empregada entregou a xícara a Suzanna, depois serviu o dono da

casa.Suzanna resistia à tentação de olhar para Neil mantendo os olhos

fixos na decoração. O carpete era verde-garrafa, combinando com acortina de veludo que cobria a enorme janela. Duas paredes inteiras

eram tomadas por prateleiras repletas de livros, dando ao ambiente umtoque de sobriedade. Havia alguns abajures sobre mesinhas de madeiraescura, mas somente o que ficava sobre a escrivaninha estava aceso,indicando que Ardrey estivera trabalhando.

O escritório era grande e espaçoso, mas, ainda assim, o homemparecia tomar conta do lugar, dominando-o totalmente.

 — Voltando à sua pergunta... Alex não precisa se preocupar quantoao emprego — disse ele com frieza, depositando a xícara vazia sobre amesinha. — Eu estava muito irritado quando fiz aquela ameaça.

 — E agora que conseguiu o que queria, pode se dar ao luxo de sergeneroso! — observou Suzanna com ironia.

  — Você tem um probleminha que é muito comum entre asmulheres, srta. Howard: não sabe segurar a língua!

 — O que está querendo dizer é que, se eu não tomar cuidado, meuirmão vai sofrer as conseqüências, não é? Você se acha no direito deditar as regras do jogo porque Alex precisa do emprego. Essa sensaçãode poder lhe dá muito prazer, não é? Afinal, o poder é um ótimosubstituto para o sexo!

 — Meu Deus! Será que você nunca para de falar? Substituto parasexo! Acha, realmente, que necessito de algum?

A proximidade de Neil fez Suzanna, mais uma vez, sentir-se

insegura e vulnerável. O corpo dele possuía um magnetismo sensual,profundamente perturbador.

Page 29: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 29/77

Ela sentia cada nervo seu reagindo intensamente à presença dele.O rosto bonito, o olhar penetrante e decidido, a voz grave, a boca bemdesenhada e sensual, tudo isso fazia de Neil Ardrey um homemextremamente atraente.

Mas Suzanna não podia se deixar envolver por ele. Aquela atração

era um absurdo! Além disso, ela prezava demais sua independência, eestava claro que Neil tinha instintos de tirano.

Fazendo um esforço para se dominar, Suzanna pôs a xícara quetinha nas mãos na bandeja e disse com firmeza:

 — Não estou nem um pouco interessada na sua vida sexual, sr.Ardrey! E, agora que me tranqüilizou quanto ao emprego de meu irmão,vou embora.

Ao vê-la levantar-se, Neil postou-se em frente a ela. — Eu estou interessado na sua vida sexual — disse, malicioso. — 

Será que tem alguma? Que tipo de homem lhe agrada? O tipo gentil,submisso, que humildemente obedece às suas ordens e faz todas assuas vontades?

 — Pelo visto, você acha que envolvimentos amorosos são merasbatalhas. Talvez os seus sejam assim; os meus, não.

Ela tentou desviar para o lado, mas Ardrey deu um passo,bloqueando-a novamente.

 — Quer dizer que já teve muitos "envolvimentos"? — perguntoucom um brilho de divertimento nos olhos.

 — Quer que lhe faça uma lista? — É muito longa?  — Chega! Esta discussão é completamente estúpida! Preciso ir

embora. Vim apenas devolver o estojo a Sian. Meu irmão estava commedo de que você o acusasse de tê-lo roubado...O ar divertido e zombateiro de Neil desapareceu. — Essa foi a única razão de vir até aqui? — Claro que sim! O que está pensando?Ele voltou a sorrir, mais irônico do que antes.Suzanna ficou furiosa. Aquilo era o cúmulo! Achar que ela

aproveitaria uma desculpa idiota para vê-lo de novo era presunçãodemais!

  — Você deve estar brincando! — exclamou, muito vermelha,tremendo de raiva. — Acha que me daria ao trabalho de sair da minhacasa e atravessar a cidade de Londres só para vê-lo? Na verdade, euseria capaz de atravessar o mundo inteiro, só para evitá-lo! 

 — Você é bem esquentadinha, não? — Pode acreditar nisso! — E é muito tagarela, também. — Oh, Deus! — Suzanna gemeu sem saber mais o que dizer. — Mas é bem bonita — acrescentou ele, parecendo se divertir com

a crescente exasperação dela. — Muito obrigada! Mais alguma coisa? Vamos, vá em frente, diga

tudo!

 — Sim... — começou ele a dizer, analisando-a pensativo. — Temuma coisa bem interessante em você: seus olhos são espantosamente

Page 30: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 30/77

eloqüentes! Mesmo quando está calada, posso ler seus pensamentosneles.

Suzanna fuzilou-o com o olhar. — Como agora, por exemplo? — Como agora — concordou ele, curvando os lábios num sorrisinho

provocante. — E, além dos olhos, tem essa boca...A partir daí, Suzanna começou a ficar realmente alarmada. A

lembrança do beijo no chalé provocou-lhe um arrepio de excitação e elase censurou, dizendo a si mesma que Ardrey usava o sexo como umaarma. Seria uma idiota se esquecesse disso agora!

Neil chegou mais perto e ela temeu que pudesse ouvir as batidasdescontroladas de seu coração.

 — Você tem mais energia do que qualquer mulher que já conheci — continuou ele, sem desgrudar os olhos dos lábios dela. — É como umfogo queimando dentro de você.

A boca de Neil quase tocava a de Suzanna, mas ela o empurroucom toda a força e conseguiu fazê-lo recuar alguns passos. Então, antesque ele se recuperasse, saiu correndo, tremendo de raiva da cabeça aospés.

Atravessou o hall em direção à porta de saída e nem precisou olharpara trás para saber que Neil a seguira, furioso.

Mal tocou na maçaneta, sentiu as mãos dele se fecharem sobreseus braços como garras de aço.

 — Sua pestinha — sibilou ele entre dentes. Forçou-a a se virar epuxou-a com violência contra si. Nesse instante, a campainha tocou.Um segundo depois a sra. West entrou no hall com passos ligeiros e

silenciosos. Trêmula e envergonhada, Suzanna não conseguia olharpara ela. — Pode deixar que eu atendo, sra. West — falou Ardrey com uma

voz rouca e um tanto abafada.Em seguida, ele abriu a porta e esboçou um sorriso alegre e jovial

para um grupo de pessoas, paradas diante da entrada. — Olá, Oliver! — exclamou animado. — Esmé... Jill... vocês estão

lindas! Entrem por favor. Pedirei à sra. West que nos sirva algunsdrinques.

A mais velha das mulheres, uma senhora de meia-idade, de cabelosmechados impecavelmente arrumados, usava um vestido de noitebastante ousado, com um decote profundo. O tecido era de uma coralaranjada bem berrante.

O homem que a acompanhava tinha o rosto rosado e vestia umsmoking preto e tradicional. Era bastante calvo, o que lhe imprimia umar nobre e distinto, embora sua expressão revelasse um certo embaraçobem-humorado, como se ele não soubesse direito por que estava ali. Osolhos do homem pousaram sobre Suzanna. Ele a cumprimentou comum gesto de cabeça e ela retribuiu, esboçando um sorriso amarelo e semgraça.

 — Como está Sian? — perguntou a jovem, que parecia ser filha do

casal. — Está se sentindo melhor? Resfriados de verão são sempreterríveis!

Page 31: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 31/77

  — Jill, querida, entregue seu casaco à sra. West — sugeriu asenhora à filha.

A moça deu um sorriso luminoso para Neil e virou-lhe as costas. — Quer me ajudar, querido?Suzanna aproveitou aquele momento e precipitou-se porta afora,

descendo a escada o mais rápido que suas pernas permitiam.Em instantes, estava atrás da direção de seu carro. Neil Ardrey

apareceu na porta da casa, mas ela o ignorou. Deu a partida no Fordazul e acelerou tudo o que podia, louca para se ver longe dali.

CAPÍTULO IV

  — Que diabos está havendo com Alex? — perguntou Johnny,

acomodando-se na poltrona de veludo e abrindo o programa da peça.O teatro já estava lotado, pois dentro de um minuto as cortinas seabririam.

Como Suzanna não respondeu, o rapaz insistiu: — Ele parece tão deprimido... Quando o encontrei há alguns dias,

ele quase não abriu a boca para falar. — É verdade. Alex está muito deprimido — admitiu Suzanna com

tristeza.Duas semanas haviam se passado desde que Sian fora embora do

chalé e os sonhos de Alex haviam sido destruídos. Ele voltara aotrabalho depois disso, e Suzanna não tivera muitas oportunidades de

ver o irmão.  Tinha ido ao apartamento dele alguns dias antes, mas não o

encontrara. Conversara com Ian, que lhe dissera estar tentando animaro amigo de várias maneiras. Convidara gente jovem e interessante para jantar no apartamento um monte de vezes; dera várias reuniões quehaviam sido muito animadas, mas tudo fora em vão: Alex continuavatristonho, calado, pensativo...

 — O que houve, afinal? O negócio é sério? — quis saber Johnny,sinceramente preocupado.

 — Um caso de amor que não deu certo. — Sei como é. Mas não se preocupe: Alex sairá dessa, mais cedo ou

mais tarde. É horrível quando essas coisas acontecem, mas o tempo fazmilagres!

Suzanna riu e olhou para o amigo com ar travesso. — Nunca pensei que levasse o amor tão a sério, Johnny! — De fato, agora não levo mesmo. Afinal, uma criança queimada

tem medo de fogo, não é? Mas já levei. Foi há tanto tempo... Eu era bemmais jovem do que Alex, naquela época. Vivi amargurado por um bomtempo! Depois dessa, nunca mais me envolvi profundamente comninguém.

Suzanna examinou o rosto dele imaginando se, por trás daquelas

palavras ditas de modo tão casual, não estava escondida uma certamágoa.

Page 32: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 32/77

As luzes do teatro começaram a diminuir de intensidade, até que aplatéia ficou totalmente às escuras e silenciosa. Johnny deu um suspiroe se acomodou melhor na poltrona.

 — O grande momento — murmurou.A apresentação da peça Major Bárbara, de George Bernard Shaw,

prendeu a atenção de Suzanna de tal forma que, quando as luzes seacenderam para o intervalo, ela levou um susto ao ver que estava naplatéia de um teatro e que Johnny estivera a seu lado o tempo todo.

Ele estava sorrindo: — Muito bom, não é mesmo? — É mesmo. Estou achando maravilhoso. Já havia assistido essa

peça há alguns anos, mas não me lembrava de ter gostado tanto! — Eu também não. E agora, que tal bebermos alguma coisa?O bar do teatro estava apinhado. Era preciso forçar a passagem

entre os grupos de pessoas que conversavam animadamente. Johnny olhou para Suzanna e estendeu a mão para ela. — Segure a minha mão, ou vai se perder no meio dessa multidão! — Será que vamos conseguir beber alguma coisa antes do segundo

ato? O bar está cheio demais!  — Não se preocupe, eu tomei minhas providências! Antes de

entrarmos para o primeiro ato encomendei dois drinques. Devem estaresperando por nós naquele balcão ali. Pedi uma limonada gelada paravocê e uma cerveja para mim.

 — Você é incrível, Johnny!Ele riu, puxando-a pela mão, para passar entre dois grupos de

pessoas. Uma delas se virou distraidamente para olhá-los e Suzanna

prendeu a respiração. Neil Ardrey parecia tão surpreso quanto ela;apertou os olhos e arqueou as sobrancelhas num cumprimentosilencioso.

Ela não teve tempo de decidir se deveria ou não responder aocumprimento, pois, antes que pudesse fazer ou dizer qualquer coisa, foipuxada por Johnny.

Sentia o rosto em brasa e o sangue fluir mais rápido em suas veias.Quando alcançou o balcão, Johnny lhe entregou um copo com limonadae começou a beber a cerveja.

 — Hum... eu estava precisando disso! — murmurou, tomando umgole da bebida gelada e espumante. — Não vai experimentar o suco?Daqui a pouco teremos que voltar aos nossos lugares.

Suzanna sorveu um gole da limonada. Estava deliciosa."Meu coração está batendo muito rápido", pensava angustiada.

"Que diabos está acontecendo comigo? Acho que o ódio tem um efeitomuito forte sobre mim. Raiva e medo são sentimentos semelhantes, eNeil Ardrey passou a significar uma ameaça para mim, desde queinvadiu meu apartamento", convenceu-se.

 Johnny falava entusiasmado sobre a peça, mas ela não o ouviadireito. Era ridículo que alguém como Neil Ardrey pudesse perturbá-latanto. Mas não pretendia deixar que ele estragasse sua noite. Estivera se

divertindo até o momento em que o vira e pretendia continuar assim. — Você está muito calada — observou Johnny com uma ruga de

Page 33: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 33/77

preocupação na testa.Embora ele não fosse precisamente bonito, possuía um rosto

anguloso e bem delineado, de traços marcantes, que era bem agradável.Seu sorriso, franco e afetuoso, fazia com que as pessoas logosimpatizassem com ele.

 — Desculpe — disse Suzanna sorrindo. — Acho que o calor e obarulho estão me deixando tonta. Odeio lugares cheios de gente. Nuncame sinto segura neles. Mesmo quando tudo parece bem, a gente nuncapode saber o que as pessoas seriam capazes de fazer se entrassem empânico, não é?

  — É mesmo. Eu já presenciei pessoalmente uma multidãototalmente descontrolada. Foi na India... — começou a contar Johnny.

Suzanna o escutava, sem ouvi-lo realmente. Quando o sinal para osegundo ato soou, as pessoas começaram a sair do bar.

 — Tenho a impressão de que você está preocupada demais comAlex — comentou Johnny, enquanto voltavam para suas poltronas. — Acho que deveria deixar que, pelo menos uma vez, Alex resolvesse seusproblemas sozinho. Tenho certeza de que isso só faria bem a ele. Desdeque a conheci, tenho visto você emprestando dinheiro, cozinhando,lavando roupas para ele. Ora, você é irmã, não mãe. Desse jeito, elenunca vai conseguir crescer!

Suzanna mantinha os olhos baixos, temerosa de dar novamente decara com Neil Ardrey. Não fazia idéia de onde ele poderia estar sentado,mas, até que chegasse a seu próprio lugar, não se sentiria segura. Malouvia o que Johnny estava dizendo e, como não fizesse nenhumcomentário sobre o que ele dissera, o rapaz suspirou, dizendo:

 — Tudo bem, chega de sermão. A vida é sua. Eu não devia meintrometer. Esqueça o que eu disse, está bem?Suzanna se afundou na poltrona com uma sensação de alívio e só

então virou-se para Johnny. — Acho que você tem razão, mas Alex é meu irmão. — Claro, eu entendo.Ele colocou a mão sobre a dela e beijou-lhe a testa. Então começou

a dizer, num tom brincalhão: — Mas você entende meu ponto de vista, não é? Tenho duas irmãs

mais velhas e me mantenho bem afastado delas; são muito mandonas,estão sempre pegando no meu pé: "Faça isso, não faça aquilo; isso ébom para você, aquilo não é"...

Suzanna finalmente estava rindo, mas Johnny não pôde continuar;o espetáculo ia recomeçar. Ele se ajeitou na poltrona e voltou a atençãopara o palco. Suzanna o observava atentamente, lembrando-se daconfissão sobre o caso de amor mal-sucedido. Agora começava aentender melhor o amigo. Aquela desilusão da adolescência fora omotivo pelo qual ele nunca mais se entregara a nenhuma mulher.

Ela, por sua vez, jamais havia se envolvido seriamente comninguém. Tivera alguns namorados, claro, no entanto nunca osassumira como "grandes amores". Não pretendia alterar seu modo de

vida por causa de um homem. Havia visto muitas colegas de faculdadedesistirem de suas carreiras só para se casarem e terem filhos! Não era

Page 34: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 34/77

com isso que ela sonhava. Embora adorasse crianças, não conseguia seimaginar como mãe. Pelo menos, não por enquanto. Pensava em secasar e ter filhos um dia, mas não pretendia parar de trabalhar por isso.

Fazia os serviços domésticos em seu apartamento sem esforço. Também cozinhava e gostava de cuidar do jardim do chalé. Mas a idéia

de passar o tempo todo dentro de uma casa apenas cozinhando,passando, lavando, limpando e cuidando de um monte de filhos não lheparecia nada agradável.

"Ficaria sufocada", pensou, olhando vagamente para o palco. Maslogo afastou esses pensamentos e voltou a atenção para os atores.Divertiu-se até o final do espetáculo, esquecendo-se de todo o resto.

Ao saírem do teatro, Suzanna e Johnny atravessaram a rua eentraram num restaurante.

 — O senhor reservou uma mesa? — perguntou o maitre. — Sim, o nome é Hendrix.O maitre levou-os até uma mesinha de dois lugares localizada num

canto do restaurante e afastou-se para atender outros clientes queacabavam de chegar.

 — Está com fome? — perguntou Johnny.Suzanna meneou a cabeça. — Mais ou menos. Acho que melão com presunto de entrada e,

depois, uma omelete e salada seria perfeito.O maitre retornou e anotou o pedido de Suzanna. Depois voltou-se

para Johnny, que deu um sorriso animado. — Vou começar com um delicioso coquetel de camarões, depois vou

saborear um filé mal-passado com batatas sauté.

Em seguida, Johnny pediu uma garrafa de vinho. Quando o maitre se afastou, Suzanna o repreendeu:

 — Acho exagero pedir uma garrafa inteira. Você sabe que ou nãobebo e...

 — Está me vigiando? — observou ele, com uma voz que não soaramuito brincalhona.

Suzanna fez um trejeito. — Desculpe. — Você nunca me viu bêbado — insistiu ele, agressivo. — Eu sei, já pedi desculpas, Johnny. — Quanto tinha vinte anos costumava me embebedar. Sentia-me

um homem de verdade, cambaleando pelas ruas e falando alto. Certavez, ao acordar de manhã com uma ressaca daquelas, olhei-me noespelho e descobri que estava sentindo pena de mim mesmo. Então,decidi que jamais ficaria bêbado novamente. Agora, sei exatamentequanto posso beber. Nunca excedo meus limites.

Ele parou de falar subitamente e fez uma careta. — Meu Deus! — exclamou. — Já estou começando de novo... — O quê? — Estou repreendendo você outra vez. Já é o segundo sermão esta

noite. Creio que estou ficando velho... Ou talvez a causa disso seja o

maldito script  que estou fazendo para aquela série na TV, cheio dediálogos conflitantes. Acho que estou começando a falar como os meus

Page 35: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 35/77

personagens.A voz de Johnny sumiu de repente para os ouvidos de Suzanna.

Neil Ardrey acabava de entrar no restaurante, com a mesma garota queestivera na casa dele, na noite em que Suzanna fora devolver o estojo deSian.

A moça estava simplesmente deslumbrante, com as costas pro-tegidas por um magnífico xale de seda preta.

Neil estava vestido a rigor e o terno preto fazia com que parecesseainda mais alto e elegante. A pele bronzeada contrastava com abrancura da camisa.

 — Os atores pensam que têm o rei na barriga — continuava Johnnyempolgado, inconsciente de que Suzanna nem prestava mais atenção aoque ele dizia.

Ela continuava observando Neil Ardrey e sua acompanhante, queagora estavam sentados no bar, provavelmente esperando uma mesa.

O vestido da garota era bem curto, de uma cor vermelho brilhante.O decote em "V" revelava a parte superior dos seios alvos e, entre eles,um diamante em forma de coração pendia de uma correntinha de ouro.Os cabelos negros e lisos da moça caíam até a cintura, dando-lhe um arde espanhola.

 — Então eu disse a eles... — prosseguia Johnny. Suzanna fingiaouvir, brincando com um pedacinho de miolo de pão.

O garçom trouxe as entradas e serviu o vinho. — Não parece delicioso? — disse Johnny olhando com satisfação

seu coquetel de camarão. — Pois eu ainda prefiro o meu melão com presunto!

 — Meu Deus! ela fala! — brincou ele. — Estava começando a acharque você tinha perdido a língua! Vamos, esqueça-se de Alex e divirta-se! — Desculpe, eu estava a quilômetros daqui.Não era verdade. Suzanna sabia muito bem que sua mente estava

concentrada em algo muito mais próximo. Mas era melhor que Johnnynão soubesse disso.

 — É minha culpa, eu falo demais. Tento tomar cuidado para nãoser chato, mas acabo sempre me entusiasmando.

 — Pois eu acho ótimo que você seja assim, espontâneo. Você põepara fora tudo o que pensa.

 — Isso é verdade. — Eu também sou assim — disse ela um tanto incerta. — Nem sempre — discordou ele. — Você não põe tudo para fora,

realmente. Às vezes até me pergunto se a conheço de verdade... Não merefiro às coisas do dia-a-dia, como o seu prato predileto, ou qual é o seuhobby. Refiro-me a coisas mais importantes e profundas. Seuspensamentos misteriosos, por exemplo. Onde diabos estava agora hápouco? Voando por um lugar desconhecido? Você sorria e balançava acabeça, olhando-me com esses olhos incríveis, mas não estava meenxergando nem me escutando direito.

Ele levou o garfo com um pedaço de camarão à boca, parecendo

despreocupado e indiferente. Mas Suzanna sentia-se desconfortável,pois Johnny não costumava fazer comentários daquele tipo. Geralmente

Page 36: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 36/77

mantinha conversas leves e triviais, exceto quando começava a sequeixar das condições de seu trabalho.

 — Consegui finalmente terminar de fazer as ilustrações para o livroinfantil — disse ela, mudando de assunto. — Adorei fazer esse trabalho.

 — E o que vai fazer agora?

 — Alguns desenhos em nanquim para uma nova edição de Hardy. Terei que passar alguns dias em Dorset a fim de colher material einformações para poder fazer um bom trabalho. O Museu Dorchestertem uma coleção de instrumentos, máquinas e ferramentas que eramusados nas fazendas antigamente. Dorset não mudou quase nada, agente ainda encontra ruas que continuam iguaizinhas à época em queHardy vivia lá.

 Johnny balançou a cabeça e disse: — Pessoalmente não aprecio muito os livros de Hardy. Acho a

leitura maçante e pouco fluente. — Mas as descrições que ele faz são maravilhosas, quase mágicas!

Alguns romances são simplesmente lindos, Johnny!O garçom chegou com os pratos principais e, enquanto comiam,

continuaram a conversar sobre o escritor, fazendo comentários arespeito dos filmes baseados em seus livros.

Suzanna esforçava-se em se manter ocupada com a discussão. Nãose atrevia a olhar para qualquer lado, com medo de avistar Neil Ardrey ea namorada.

Após terminarem a refeição, o garçom trouxe o café e Johnny selevantou, dizendo que precisava fazer um telefonema.

Suzanna ficou bebericando seu café e relanceou os olhos

distraidamente pelo restaurante. Viu Neil quase que imediatamente. Eleestava sentado duas mesas além e não estava olhando para ela naquelemomento, mas, ao levar a taça de vinho à boca, seus olhos se erguerame encontraram os dela.

A distância não impediu que Suzanna sentisse o impacto daqueleolhar. Virou o rosto, transtornada, tentando acalmar as batidas docoração.

Ao conhecê-lo, havia pensado que ele não passava de um ser feitode pedra, desumano e implacável, capaz de passar por cima de qualquerpessoa para atingir seus objetivos.

Agora sabia que ele era muito mais perigoso do que pensava.Ardrey era, inegavelmente, muito atraente! Ele irradiava ondas de calor,impregnadas de pura sensualidade... e não era necessário estar pertodele para senti-las. Neil possuía um magnetismo que atraía o olhar deoutras pessoas como um ímã, mesmo que elas não quisessem fitá-lo.

Mas, para Suzanna, era muito embaraçoso e perturbadorexperimentar aquela estranha excitação toda vez que o via! Sentia-setrêmula, insegura diante dele, e se odiava por isso.

 — Longe de novo? — perguntou Johnny, sentando-se à mesa.Só então Suzanna voltou à terra. — Desculpe — disse, enrubescendo. — Vamos embora, Johnny?

Não estou sendo uma boa companhia, não é? Acho que é o cansaço. Trabalhei demais, hoje!

Page 37: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 37/77

 — Deixe-me apenas tomar o café, então pedirei a conta.Suzanna sorriu agradecida. Johnny estava sempre disposto a fazer

o que ela pedia. Ele era quinze anos mais velho do que ela, embora nãoparecesse; não havia rugas em seu rosto tranqüilo e bem-humorado,exceto algumas linhas quase imperceptíveis em volta da boca. Qualquer

um podia apostar que, mesmo com o passar dos anos, Johnnycontinuaria atraente.

Logo depois, a conta já estava paga e eles se dirigiram para a saída.Suzanna sabia que Ardrey os observava, mas fez de conta que não

o vira. Ao passar pela mesa dele, notou que a acompanhante estavafalando com uma voz afetada:

 — Papai disse que não era muito bom, então eles tiveram quedevolver o dinheiro todo. Não consigo entender como algo tão caro podeser tão ruim. Papai estava furioso. Acho que qualquer pessoa no lugardele também estaria, não acha?

Suzanna não entendeu direito a resposta de Neil, mas ouviu muitobem a voz grave e profunda.

Depois que o maître a ajudou a vestir o casaco, saiu do restaurante,seguida de Johnny, sem olhar para trás.

Foi uma noite terrível. Ela não conseguiu dormir direito. Suacabeça e seu corpo estavam muito agitados e, mesmo coberta somentepor um lençol, sentia um calor insuportável. A lua cheia iluminava oquarto e Suzanna se convenceu de que aquela era a explicação para suaansiedade, pois, afinal, todo mundo sabe que as noites de lua cheia sãomuito perigosas...

No dia seguinte levantou tarde e, dominada por um mau humor

que não lhe era normal, teve dificuldades para se concentrar notrabalho. Depois de várias tentativas frustradas, resolveu fazer umapausa para uma xícara de café. Sentou-se à mesa da cozinha e tomou abebida escura, aos poucos, com os olhos fechados.

Quando a campainha soou, deu um pulo, e o café espirrou paratodos os lados. Praguejando, depositou a xícara sobre a mesa e foiatender a porta, ao mesmo tempo em que limpava a blusa e a calça como pano de prato.

 — Alex! — exclamou, surpresa. — O que está fazendo aqui a estahora? Por que não foi trabalhar?

  — Estou com uma enxaqueca insuportável — explicou ele aoentrar, sorridente demais para estar sentindo alguma dor.

 — Enxaqueca? Não sabia que você tem esse tipo de problema. Estádoendo muito?

 — Na verdade inventei essa dor de cabeça para poder ir a umaentrevista.

Ele se deixou cair no sofá e trançou as mãos atrás da nuca. — Explique-se melhor: que entrevista foi essa? — Para um novo emprego, claro!Suzanna sentou-se ao lado do irmão, examinando o rosto dele com

curiosidade e expectativa.

 — E conseguiu?Ele colocou os dois pés sobre a mesinha de centro, fazendo um

Page 38: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 38/77

pouco de suspense. Mas Suzanna tinha certeza de que ele haviaconseguido, pois não o via tão alegre há muito tempo. Era como se o solhouvesse nascido de novo para ele, iluminando-lhe o rosto e o espírito.

  — Consegui! — disse, exultante. — Agora não preciso maistrabalhar para o idiota do Ardrey! E tem mais: trata-se de um cargo

melhor; ganharei mais e terei mais responsabilidade também.Alex tirou a gravata e abriu o colarinho da camisa. — Não é maravilhoso?  — Sim. Estou muito contente por você! Que tal celebrarmos?

Podemos almoçar em algum lugar especial. Vou comprar uma garrafa dechampanhe, também, para brindarmos depois. Vou trocar de roupa,mas não demoro!

Suzanna caminhou para o quarto mas, depois de alguns passos,parou e acrescentou com fingida severidade:

 — E tire os pés de cima da minha mesinha!

CAPÍTULO V

Suzanna precisou modificar seus planos de trabalho para aquelemês, pois o autor do livro sobre Hardy ainda não havia terminado deescrevê-lo. Ele estava, segundo o editor admitira, apenas na metade dotexto. E, até que ficasse totalmente pronto, ela não poderia fazer asilustrações.

  — Eu já fiz uma reserva no hotel de Dorset — reclamou ela,

desanimada. — Serei obrigada a cancelar tudo. Que droga! Acabeigastando dinheiro à toa.

 — Sinto muito, eu também não contava com isso. Mas prometo quevou apressar o homem. Quanto ao dinheiro, que gastou até agora... façauma lista de suas despesas, nós pagaremos.

 — Não sei se vou poder arcar com a responsabilidade de fazer otrabalho mais tarde — disse ela. — Já organizei minha agenda para ospróximos meses e será difícil modificar tudo agora. Talvez seja melhorvocê arranjar outra pessoa para fazer as ilustrações, quando o escritorentregar o texto.

 — Não, não! — apressou-se o homem em protestar, levantando-seda cadeira. — Nós não queremos outra pessoa.

Ele era muito alto, magro e tinha uma pele branca, meio descorada.Os cabelos ruivos, sempre desarrumados sobre a cabeça pequena epontuda, ornavam-lhe o rosto chupado, quase cadavérico. Os olhosfundos quase nunca piscavam. Talvez fosse porque ele quisesse mantê-los bem abertos para tomar conta dos negócios, pensou Suzanna.

Não obstante, era um editor extraordinário. Já havia publicadouma lista enorme de livros de alto gabarito, a maioria muito incomuns.E era exatamente isso que fazia com que Suzanna e muitos outrosapreciassem trabalhar com ele.

 — Este é um livro especial — continuou o editor. — Trata-se de umestudo sério a respeito da sociedade que originou Hardy. Por isso

Page 39: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 39/77

queremos um ilustrador que esteja à altura. Seus desenhos seriam oideal para essa edição.

 — Eu sei, você já me disse isso. Está bem, não se preocupe, farei otrabalho.

 — Ótimo! Como já disse, tentarei apressar o escritor. Mas ele é um

homem muito desagradável! Não responde cartas, não atende otelefone...

Suzanna caminhou em direção à porta. O editor a acompanhoumostrando o sorriso mais convincente e simpático que possuía.

 — Entro em contato com você assim que receber o texto — disse, àguisa de despedida.

Era fim de verão e Londres estava luminosa, brilhante. O céu tinhapoucas nuvens e o sol irradiava um calor agradável, mas não exagerado.O dia estava perfeito para se relaxar numa praia, ou tomar sol num jardim.

Alex devia estar fazendo algo parecido, naquele momento. Depois deter pedido demissão na agência, ele resolvera viajar para a Espanha.Quando voltasse, começaria no novo emprego. Suzanna o havia levadoao aeroporto há quatro dias e prometera buscá-lo, quando retornasse.

Enquanto se dirigia para casa, pensou que ela própria estavatemporariamente desempregada. Mas não tinha nenhuma vontade deviajar para o exterior.

De repente, pensou no chalé. Não seria má idéia ir para lá e fazer,finalmente, as reformas que a casa precisava. Poderia fazer tudosozinha, pois tinha tempo de sobra até começar a trabalhar novamente.Assim, economizaria bastante, dispensando os serviços de um

profissional. Pintaria a fachada e trocaria o papel de parede pela manhã,quando o sol não estivesse ainda muito quente, e passaria as tardesdescansando ou fazendo qualquer outra coisa.

Naquela noite, Suzanna foi jantar na casa de uma velha amiga,lsobel, que havia se casado há alguns anos.

Elas se conheciam desde que ambas tinham cinco anos de idade enão precisavam se preocupar com cerimônias, mesmo que agora nãotivessem muitas coisas em comum, exceto o passado.

A razão principal da visita era Emily, a filhinha de lsobel, afilhadade Suzanna. Era uma garotinha linda, de três anos, a miniatura perfeitada mãe. Suzanna simplesmente a adorava.

 — Então, Alex mudou de emprego novamente, hein? — comentouGeorge, o marido de lsobel, em tom desaprovador, enquanto jantavam. — Qual é o problema com ele? Desse jeito, nunca vai conseguir nada.Não estava trabalhando para a "Houghton, Elks & Wílmer"? Grandefirma, aquela; poderia progredir muito lá dentro.

George possuía uma mente fechada, doentiamente organizada emeticulosa. Para ele, havia um lugar certo para cada coisa e cada coisadevia estar em seu lugar... incluindo a mulher.

 — Alex conseguiu um emprego melhor — explicou Suzanna. — É mesmo? — disse ele, incrédulo, olhando com desagrado o

peixe que estava comendo. — lsobel, este peixe está cheio de espinhas!Embaraçada, a esposa examinou seu próprio peixe.

Page 40: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 40/77

 — O peixeiro garantiu... — "O peixeiro garantiu"... Ele diria qualquer coisa para conseguir

vender isto!George arrumou as pequenas espinhas na borda do prato e,

voltando-se para Suzanna, continuou:

 — Onde é que eu havia parado? Oh, sim, "Houghton, Elks &Wilmer"... É uma das companhias de Neil Ardrey, não? Cara espertoaquele. Estou curioso para saber se é verdade que vai se casar com JillHardwick. Ela não é a primeira que tem esperanças de conquistá-lo,muitas moças já tentaram, mas Ardrey sempre acaba tirando o corpofora. Os Hardwick são milionários. Contudo, desconfio que isso não é osuficiente para que Ardrey fique realmente interessado na garota....Acho que desta vez, está um pouco entusiasmado pelo fato de a moçaser de uma família de ótima reputação. Pode ser que, agora, ele vá até ofim.

Inexplicavelmente desgostosa com a notícia, Suzanna levantou-seda mesa e foi para a cozinha ajudar Isobel com a louça,

 — Sinto muito pela rabugice de George — desculpou-se a dona dacasa. — Ele é muito sensível, odeia quando as coisas não estão deacordo com o que ele espera.

Suzanna olhou para a amiga. Seria possível que ela acreditasserealmente naquilo? Os homens eram todos, sem exceção, daquele jeito,pensava. Isso aumentava ainda mais sua relutância em se casar.Achava impossível encontrar alguém com quem pudesse viver para oresto da vida, pois jamais toleraria um marido como George. Aquelareclamação durante o jantar já teria sido suficiente para deixá-la fora de

si!  — Não é aborrecido viver sozinha em Londres? — perguntou Isobel,enquanto lavava a louça. — Eu morreria de medo.

 — E quem lhe disse que estou só? — rebateu Suzanna com umsorriso travesso.

Os olhos de Isobel se arregalaram de espanto e ela segurou a amigapelo braço.

 — Você... quer dizer que...Suzanna apenas sorriu, recusando-se a fazer qualquer comentário.

Para Isobel, o casamento era a grande solução. Agarrara-se ao primeirohomem que pedira sua mão, sem titubear, e parecia estar satisfeita comsua vidinha doméstica, os filhos e o marido. Suzanna não apreciava omodo de vida da amiga, mas, mesmo assim, continuava a gostar delacomo antigamente.

Alguns dias mais tarde, a caminho de Sussex, ela se lembrou doepisódio e um brilho divertido surgiu-lhe nos olhos. A pobre Isobel ficaramorrendo de curiosidade quanto ao suposto "casamento". O suspenseperdurara por grande parte da noite e, só um pouco antes de ir embora,Suzanna contara a verdade. Sabia que fora maldade sua torturar aamiga com aquela história. Mas não resistira à tentação de pregar umapeça em Isobel.

O Ford azul estava carregado com o material que havia compradopara a reforma do chalé: baldes, rolos para pintar, pincéis, tinta, papel

Page 41: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 41/77

de parede, cola.Apreciando a paisagem enquanto dirigia, Suzanna lembrou-se de

que faltavam apenas alguns dias para a chegada do outono. Dava paranotar que as folhas das árvores já adquiriam uma cor avermelhada,perdendo o verde do verão.

Encantada, ela absorvia não somente as cores do outono, mastambém as linhas, formatos, estruturas, pois há muito tempo haviaaprendido a ver as coisas além da superfície, da aparência exterior.

Na faculdade de artes, por exemplo, sempre ficara fascinada com aperfeição do corpo humano. Durante as aulas de anatomia, porém, àsvezes se chocava ao pensar que aqueles esqueletos que estudava haviamsido seres humanos, pessoas que andavam e falavam, choravam esofriam, amavam e sorriam... Não pôde deixar de pensar em uma certapessoa. A altura de Neil Ardrey, seus ombros largos e as pernas longas efortes faziam dele um homem e tanto. "Sua estrutura óssea deve sersuper-forte", pensou, sorrindo consigo mesma. "Embora imenso, asproporções dele são perfeitas; os quadris são estreitos e o tórax é bemmusculoso. Sem dúvida, Neil Ardrey é um espécime humano exemplar."

Franziu a testa, ao se pilhar pensando nele. Toda vez que seesquecia de fechar as portas de sua mente, era inevitável que Ardreypenetrasse, povoando seus pensamentos.

Durante todo o dia seguinte, lixou as paredes, tirou os papéis deparede velhos e lavou o sótão. Começara o trabalho bem cedo e nãoparara até o crepúsculo. Na hora do almoço, fizera apenas uma brevepausa para engolir uma maçã, duas fatias de queijo e uma xícara decafé.

No fim do dia, um pouco dolorida, subiu a escada em direção aobanheiro.A água morna do banho fez com que se sentisse bem mais leve e

relaxada. Estava satisfeita por ter feito tanta coisa no primeiro dia.  Tivera dificuldade para arrancar o papel de parede, mas, ao ver oresultado, sentia-se como se tivesse terminado de pintar um quadrodifícil.

Voltou para baixo, ainda com os cabelos úmidos, vestindo umroupão amplo e confortável que havia comprado em Constantinopla hávários anos. Era feito de um tecido brilhante muito macio e tinhabordados prateados na gola e na bainha.

Faminta e exausta, preparou uma sopa de tomates de pacotinho efez umas torradas. Cozinhar algo mais elaborado àquela altura docampeonato seria uma tortura!

Assim que terminou de comer, ouviu passos fora da casa e ficou emsilêncio, um pouco assustada. Quem poderia ser? Algum ladrão?

A resposta veio em seguida: alguém bateu firmemente na porta. Elaconsultou o relógio. Eram nove horas da noite. Talvez fosse alguém dopovoado que, ao ver as luzes acesas, resolvera investigar, pois o chalécostumava ficar vazio durante a semana.

Entreabriu a porta cautelosamente, pronta para fechá-la de novo se

não gostasse da cara de quem quer que estivesse ali. E ao se depararcom Neil Ardrey quase fez isso realmente. Porém, ficou como que

Page 42: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 42/77

paralisada de espanto. — O... que você... está fazendo aqui? — gaguejou. — Desculpe se assustei você.Suzanna olhou-o desconfiada, achando que a voz dele soara polida

demais. Manteve a porta meio fechada, tentando se esconder, pois

estava vestindo apenas o velho roupão. Droga! Por que Ardrey sempre apegava de surpresa?

 — Sabe que horas são?Ele levantou o pulso. — Dez para as nove — respondeu, encarando-a com um sorriso

zombeteiro nos lábios. — Você não vai para a cama tão cedo, vai? — Não estava esperando visitas. O que você quer?Ele arqueou as sobrancelhas. — Falar com você. — Como soube que eu estava aqui? — Fui ao seu apartamento esta tarde. Uma de suas vizinhas me

disse que você havia viajado para o campo.Suzanna deu um suspiro, resignada. Era impossível manter algo

em segredo, morando num prédio cheio de apartamentos e de gentecuriosa.

 — Você vai me deixar aqui do lado de fora? Não está vestidaadequadamente?

Ele esticou o pescoço para verificar e Suzanna se escondeu aindamais atrás da porta.

Mas por que deveria se esconder? Sempre se orgulhara tanto desua segurança e habilidade para lidar com situações como aquela! Por

que diabos se sentia encabulada com a idéia de ser vista de roupão porNeil Ardrey? Se fosse outro o homem parado ali, tinha certeza de quenão se importaria.

Resolveu abrir mais a porta e se mostrar. — Muito oriental — observou ele, percorrendo o roupão lentamente

com os olhos.Suzanna teve a sensação absurda de que não havia nada cobrindo

seu corpo, do pescoço ao tornozelo. — Onde o comprou? — perguntou ele. — Em Londres? — Na Turquia — murmurou ela. — É mesmo? Em qual cidade? — Constantinopla."Céus, o que ele quer afinal?", pensava Suzanna desconfiada.

Ardrey não parecia mais se importar por estar parado na porta.Mostrava-se até mesmo animado com a conversa!

 — Você gostou? Já estive na Turquia um monte de vezes. É umpaís maravilhoso, não? Eu o adoro.

 — Deve adorar, mesmo. Os homens turcos são bem parecidos comvocê — comentou ela irônica. — Mas as mesquitas são lindas,especialmente a Mesquita Azul: nunca vi nada parecido com aquelailuminação. Dá uma impressão estranha, irreal, deixando o templo

completamente azul. É quase mágica.De repente, ela corou. Estava falando do mesmo modo como falaria

Page 43: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 43/77

com Johnny ou qualquer um de seus amigos. Costumava conversarassim com eles. Mas Ardrey não era seu amigo; ele não fazia parte deseu mundo. No mínimo, devia estar rindo por dentro, vendo-a falardaquele jeito.

Mas surpreendeu-se ao notar que ele continuava atento, parecendo

realmente interessado. E olhava-a com um sorriso lindo! — Gosto desse desenho — disse ele, passando o dedo indicador

sobre o bordado prateado no punho do robe de Suzanna.Ela se encolheu numa reação involuntária. Um segundo depois,

Ardrey estava dentro da sala.  — Seu irmão está aí? — perguntou, antes que Suzanna pro-

testasse. — Não, está na Espanha. Quando voltar, começará a trabalhar

num outro emprego.Ela o encarou com firmeza.  — Alex deixou a agência. Pediu demissão antes que fosse

despedido. E não teve dificuldade em encontrar o outro emprego. Ele émuito inteligente e talentoso, por isso tenho certeza de que terá sucesso.

Para o espanto de Suzanna, Ardrey deu um sorriso simpático eafetuoso. Talvez fosse puro sarcasmo...

 — Você tem mesmo muita fé no seu irmão, não? Só espero que elereconheça isso.

Em seguida, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Neil sevirou e foi até a cozinha. Passou os olhos pelo resto da rápida refeiçãoque Suzanna fizera, depois pegou o livro que ela estivera lendo e oexaminou.

 — Hardy? Você gosta dele? — Sim.A resposta de Suzanna fora dada num tom de desafio e Ardrey

levantou os olhos do livro para encará-la. — Por que você sempre toma minhas perguntas como uma ofensa?

 — perguntou. — Vindas de você, sempre são. Afinal, o que está fazendo aqui, sr.

Ardrey?  — Neil — corrigiu ele. — Eu também gosto muito de Hardy.

Especialmente deste livro. Viu o filme? Achei um pouco monótono,apesar da fotografia maravilhosa.

Suzanna tirou o prato de sopa e a colher da mesa e colocou-osdentro da pia.

  — Estou muito cansada, sr. Ardrey. Trabalhei o dia inteiropintando a casa. Pode ir direto ao assunto?

Ele recolocou o livro sobre a mesa e olhou-a entortando a bocalevemente.

 — Você não se preocupa muito com formalidades habituais, não é?Suzanna sentiu um arrepio. — O que você quer dizer com isso? — perguntou, cautelosa. — Que você nem se preocupa em ser bem educada — retrucou ele.

Então acrescentou, malicioso: — Gostaria de saber o que foi que você pensou.

Page 44: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 44/77

Ela baixou os olhos, sem graça. Não queria enfrentar o olhar de Neilcom medo de que ele pudesse perceber os pensamentos que estavalutando para afastar da cabeça. Não queria gostar dele, não queria nemmesmo se importar com o fato de ele estar ali, vestindo aquela calça  jeans que lhe assentava tão maravilhosamente, e um suéter de

cashmere  justo sobre a blusa branca, realçando o peito forte.Suzanna mantinha os olhos afastados de Neil mas, assim mesmo,

assimilava cada detalhe da aparência dele. Devia estar ficando louca,censurou-se. Como podia ser tão idiota, tão ridícula, tão...

 — Está redecorando a casa? — indagou ele, olhando ao redor.Foi até a porta è inspecionou a sala, cujas paredes estavam sem

papel. As cortinas das janelas balançavam suavemente com a brisa danoite.

 — Fez tudo isso sozinha? — Sim — respondeu ela, parada logo atrás dele, apertando os

lábios com impaciência.Sentia-se ameaçada, indefesa, e desejava que ele fosse embora logo.

Não conseguia encontrar um bom motivo para ele estar ali e já estavaentrando em pânico.

 — Suzanna? — a voz dele a chamou.Ao perceber que Neil havia pronunciado seu nome pela primeira

vez, um arrepio percorreu-lhe o corpo. — Você não está me ouvindo! — acusou ele.Estava tão próximo que Suzanna se sentia um pouco atordoada.  — Seus cabelos têm a cor mais extraordinária que já vi — 

continuou ele. — Não são castanhos, não são ruivos... — segurou uma

mecha entre os dedos. — São brilhantes...Suzanna engoliu em seco. — Você ainda não disse o que veio fazer aqui — falou, tentando

controlar o tremor dos lábios.Neil inclinou a cabeça e, atônita, ela sentiu o rosto dele tocando

seus cabelos carinhosamente.  — Minha avó deseja conhecê-la. Pediu-me para convidá-la a

almoçar com ela qualquer dia. Parece que Sian não para de falar emvocê.

  — Lamento... — murmurou Suzanna com a voz rouca,desvencilhando-se e voltando para dentro da cozinha. — Como vocêpôde ver, estou muito ocupada com a decoração e não voltarei a Londrestão cedo. Pretendo permanecer aqui por mais algumas semanas. Receionão poder aceitar o convite de sua avó.

 — Mas ela mora em Brighton, não em Londres. São poucas milhasde distância daqui. Não pode dispor de algumas horas? Por favor... Siannão tem muitos amigos, está muito sozinha.

 — Ora, você não acha que eu sou um pouco velha demais para seramiga da sua irmã? Sian devia ter amigas da idade dela. Ou será quevocê não a deixa fazer amizades também?

Ardrey passou a mão pelos cabelos, impaciente.

 — Meu Deus! Será possível que você me acusa por isso também?!Nunca impedi Sian de fazer amigos. Fui obrigado  a mandá-la para o

Page 45: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 45/77

colégio interno. O que mais poderia fazer? Ela tinha apenas oito anosquando mamãe morreu e eu não podia tomar conta dela, pois nuncaestava em casa. Às vezes precisava ficar fora por mais de uma semana.Que tipo de lar poderia oferecer a ela? Minha avó teve um choque com amorte da filha e, uma semana após o funeral, teve um enfarte. Pensei

que ela fosse morrer também e, mesmo depois que recebeu alta dohospital, eu não pude deixar Sian sob os cuidados dela. Vovó estavamuito velha, não estava em condições de se responsabilizar pela neta.Eu não tive escolha; fui obrigado a internar Sian no colégio. Mas elasempre passa as férias em Brighton, ou na casa de campo que era deminha mãe.

 — Mas não com você — observou Suzanna secamente.Ele franziu as sobrancelhas. — Já lhe disse... — Eu sei: você está sempre muito ocupado com coisas importantes

demais para perder tempo com sua irmãzinha. Entendo perfeitamente,sr. Ardrey.

Diante da ironia, Neil ficou exasperado. — É lógico que vejo Sian sempre que posso. No ano retrasado, por

exemplo, levei-a comigo para a Grécia, por três semanas; no anopassado fomos para a Escócia. Além disso, sempre passamos o Natal juntos, com minha avó. Costumava visitá-la no internato quase todos osfins de semana. Eu não sei que impressão Sian lhe passou de mim, masnão sou nenhum monstro!

 — Oh, você fala mesmo com muito sentimento. Quase dá paraacreditar em você! — zombou ela.

Neil estava louco de raiva. Segurou a cabeça dela entre as mãos, eSuzanna ergueu os olhos para ele amedrontada e atônita demais parareagir. Ele a fitava insistentemente, como se quisesse memorizar cadadetalhe de seu rosto delicado. Aquele olhar a atingiu bem no íntimo,como se fosse um contato físico, e o coração dela começou a bater comolouco dentro do peito.

 — Por que tem que haver uma guerra todas as vezes em que nosencontramos? — perguntou Neil, entre dentes.

Suzanna abriu a boca para responder, porém ele a impediu. — Não, não diga nada... — sussurrou.Em seguida, inclinou a cabeça e beijou-a nos lábios. Suzanna não

reagiu: estava imobilizada pelo susto. Viu que ele fechara os olhos esentiu a tensão dos músculos rijos pressionados contra seu corpo. Asmãos fortes mergulharam devagar em seus cabelos.

Suzanna sentiu-se subitamente tonta. Fechou os olhos e, perdendoa firmeza, agarrou-se ao suéter macio de Neil. Então, reconheceu,angustiada, que precisava daquele contato, que desejava aquele corpomásculo apertado ao seu, aquela boca quente e úmida contra a sua.

Sua mente lutava desesperadamente contra a loucura que ainvadia, mas era inútil. Seu corpo não obedecia, totalmente dominadopor uma sensação avassaladora como jamais sentira em sua vida. Para

ela, naquele momento, nada mais tinha importância, senão satisfazer aânsia absurda e descontrolada de prazer. Como se tivessem vida

Page 46: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 46/77

própria, suas mãos deslizaram trêmulas sobre o peito de Neil,alcançando-lhe o pescoço e puxando-o mais para si.

Ele deu um gemido, deliciado, e começou a acariciar o tecido maciodo robe, sentindo as curvas do corpo de Suzanna, explorando cadapedaço, contornando-lhe a cintura, os quadris, as coxas... Depois,

alcançou os seios e apertou-os levemente com a palma das mãos.Embora protegida pelo roupão, Suzanna sentia-se como se

estivesse totalmente nua.Neil enterrou o rosto em seu pescoço, pressionando os lábios

quentes contra sua pele, fazendo com que ela inclinasse a cabeça paratrás.

 — Quero você — sussurrou.Prestes a se entregar, ela entreabriu os lábios para dizer "sim".

Mas, repentinamente, sem compreender como ou onde conseguiraforças, empurrou-o com determinação e desprendeu-se daqueles braçospossessivos. Abriu os olhos com dificuldade e encarou-o.

 — Não... — balbuciou.Suzanna devia se sentir vitoriosa. No entanto, uma desagradável

sensação de derrota a assaltou. Não era a primeira vez que dizia "não" aum homem, mas era a primeira vez que tinha que dizer isso querendo justamente o contrário! Neil exibia um sorriso estranho.

 — Eu sei, parece uma loucura. Acha que não disse isso a mimmesmo uma centena de vezes? É incrível! Sempre que nos vemos,acabamos brigando como cão e gato. A metade do tempo, sinto vontadede esganá-la, mas a outra metade... desejo fazer uma coisa bemdiferente.

Neil olhou-a dentro dos olhos e Suzanna sentiu o coração querendosaltar do peito."Céus, o que está acontecendo comigo?", perguntou-se, confusa e

angustiada. "Estou tendo os sintomas clássicos de um mal no qualabsolutamente não acredito!"

O mal a que se referia era o amor.Lembrava-se muito bem da maneira como a mãe desperdiçara a

vida, dedicando-se quase que exclusivamente à família por "amor".Suzanna não se sentia estimulada a fazer o mesmo por homemnenhum.

Mas, quem sabe, conheceria um homem, em algum lugar, que nãoexigisse tanto de uma mulher. Sabia que esse homem não  era NeilArdrey. Bastava olhá-lo no rosto, ver seu ar autoritário, para saber que,sem dúvida, ele era muito exigente e possessivo. Jamais se contentariacom meias medidas, iria querer tudo o que uma mulher pudesse lheoferecer...

  — Nada a dizer? — indagou ele, depois de um longo silêncio,durante o qual a estivera analisando. — Geralmente você fala tanto...por que está tão calada agora?

A voz dele soara calma e controlada. — Creio que não há nada a dizer — respondeu Suzanna, sentindo

um grande vazio. — Não daria certo. Não quero me meter em algo que sópoderia acabar mal.

Page 47: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 47/77

Ela forçou um sorriso: — É melhor você ir embora agora, enquanto estamos com a cabeça

no lugar.Ele encolheu os ombros. — Suponho que tenha razão. Sexo é um jogo perigoso, mesmo

quando os jogadores sabem o que estão fazendo... E posso lhe garantirque não sabia o que estava fazendo agora há pouco. Não sei como issoaconteceu, acho que talvez seja porque você me faz ficar tão furioso. Toda vez que me olha com essa expressão de "vá-para-o-inferno", percoa cabeça, começo a querer... — Ele fez um gesto vago com a mão. — Bem, você sabe o quê. Eu sou um homem, tenho meus instintos.

  — Claro, eu compreendo; instintos masculinos raramente sãocontroláveis — disse ela, num tom sarcástico. — Boa-noite, sr. Ardrey.

Começou a andar em direção à porta de saída e Neil a seguiu compassos lentos.

 — Sr. Ardrey? — repetiu ele com ironia. — Agora você está sendoridícula! Depois de me beijar daquele jeito...

 — Acho que é mais seguro se formos formais — retrucou Suzannaabrindo a porta.

Neil inclinou levemente a cabeça, numa reverência desdenhosa. — Muito bem, como quiser, srta. Howard. Mas você ainda não me

disse se vai almoçar com minha avó. E, antes que me pergunte, nãoestarei lá. Poderá conversar com Sian e com vovó à vontade, totalmentefora de perigo.

Suzanna ficou vermelha. — Está bem — concordou após um momento de hesitação. — Dê-

me o endereço. A que horas devo ir?Que mal poderia haver, afinal, em ver Sian e a avó dela? Apesar deestar um pouco ressentida com o procedimento da garota, a idéia deencontrá-la novamente a agradava. Poderia esclarecer algumasdúvidas...

CAPÍTULO VI

Exatamente ao meio-dia e meia do dia seguinte, Suzanna parou ocarro em frente ao endereço que Neil Ardrey lhe fornecera. Pontualidadeera um costume que fazia questão de manter.

Estava curiosa para conhecer a avó de Neil. Virou o rosto paraolhar a fachada da casa, esperando que ela pudesse lhe dar algumapista sobre a proprietária, e ficou maravilhada: era uma perfeita casa decontos de fadas! Parecia feita de biscoitos! Nas janelas, cortinas derenda branca tremulavam suavemente com a brisa. As paredes erampintadas de cor-de-rosa, e o telhado, vermelhinho. O jardim era rodeadopor uma cerca de madeira e, perto de um pequeno arbusto, havia umaestátua de um anjinho tocando flauta. Na porta de entrada, outro

anjinho, feito de bronze, servia de aldrava.Suzanna desceu do carro e subiu os três degraus da escada que

Page 48: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 48/77

levavam à porta. Olhou para a aldrava de perto, e viu que o anjinhotinha as mãos juntas, como se estivesse rezando.

 — Lamento interromper sua oração — disse batendo a cabecinhadele contra a porta de madeira trabalhada.

 — Não o deixe enganá-la, ele não está rezando! Mantém um olho

sempre aberto para observar as pessoas que passam na rua. E ele émuito vaidoso também: adora elogios.

Suzanna sorriu para a senhora que abrira a porta. Era miúda,simpática e tinha os cabelos quase brancos, os olhos azuis muitobrilhantes. O nariz levemente arrebitado dava-lhe um ar deimpertinência cheio de charme. Usava um bonito vestido de algodãobranco de corte bem simples.

 — O anjinho é adorável! — exclamou Suzanna. — Sua casa é lindatambém, estou encantada! Olhe, não costumo falar com aldravas deporta — continuou, rindo. — Não quero que pense que ando por aí feitouma maluca, falando sozinha.

 — Pois eu vivo falando sozinha, dá menos trabalho do que falarcom as pessoas. Assim, tenho certeza de que não serei interrompidanem contestada. Neil, por exemplo, adora uma discussão.

A senhora tomou a mão de Suzanna e se apresentou: — Sou Lydia Ardrey e já sei que seu nome é Suzanna. Combina

perfeitamente com você. Muito obrigada por aceitar o meu convite.Espero que goste de queijo!

 — Sim, eu adoro queijo. Por quê? — Fiz um suflê. Acabei de pô-lo no forno. Creio que teremos tempo

para tomar um cherry antes do almoço. Entre e fique à vontade.

Suzanna entrou, sentindo-se como se estivesse na casinha de "Joãoe Maria", tudo era tão pequenino e gracioso! — Venha para a sala — convidou Lydia.Como Suzanna já esperava, a sala era, também, muito bonita e

aconchegante. A decoração era bem antiga, a maioria dos móveis erafeita de madeira.

Sian estava sentada num sofá de veludo vermelho e, ao verSuzanna, levantou-se, sorrindo timidamente.

 — Olá — disse, parecendo não saber onde punha as mãos. — Você prefere cherry doce ou seco, Suzanna? — indagou a velha,

acomodando-se numa poltrona com as costas eretas, tal qual umarainha.

Em seguida, indicou o sofá a sua frente para que a convidada sesentasse também.

 — Doce, por favor. — Vou querer o mesmo, Sian — disse Lydia.Suzanna olhou ao redor, notando o tapete antigo, algumas peças de

porcelana sobre duas mesinhas que ficavam juntas a uma das paredes eum lindo relógio da época vitoriana.

 — Então — começou Lydia a dizer —, você é a irmã de Alex. Você separece com ele? Eu nunca o vi, minha neta não o trouxe aqui nem uma

vez. Por pouco, Sian não deixou cair o cálice de cherry  que estava

Page 49: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 49/77

segurando. — Não pensei... — começou a explicar, mas a avó a interrompeu

suavemente. — Você não devia tirar conclusões precipitadas. Este é um defeito

que você e seu irmão têm em comum. Quando Neil tinha a sua idade,

era um rapaz muito impulsivo também. Eu vivia preocupada com o queele poderia fazer, pois tinha o pavio curto, como você.

 —  Tinha, não, ainda tem  — objetou Suzanna sem conseguir seconter.

A sra. Ardrey olhou-a com surpresa. — É possível — concordou. — Mas já faz bastante tempo que não o

vejo agir precipitadamente. — Ela tomou um pequeno gole do cherry. — Diga-me, você acha que Sian tem talento para tentar a carreira deartista?

 — Bem, eu... eu não sei, nunca vi um trabalho dela — falouSuzanna, perplexa com a mudança repentina de assunto.

 — Ora, vovó — reclamou a garota, muito vermelha. — Eu já lhedisse que minha decisão não tem nada a ver com Suzanna. Foi idéiaminha. Eu disse a Neil, mas ele nem me ouviu, claro.

 — Claro que ele não a ouviria — concordou Suzanna, num tomreprovador.

 — Desculpe, jamais me ocorreu que Neil pudesse incomodar vocêpor causa disso — disse a menina, envergonhada. — Como sempre, eleveio com aquela conversa chata a respeito do meu futuro. Disse: "Tudobem, se você não quer ir para a universidade, o que vai fazer então?", eficou me olhando daquele jeito irônico, crente que eu não tinha uma

resposta. Então, resolvi dizer que gostaria de estudar artes; vocêsprecisavam ver a cara que ele fez. Ficou completamente surpreso!Sian sorriu, satisfeita.  — Quando foi que você decidiu estudar artes? — quis saber

Suzanna. — Bem, de vez em quando eu pensava sobre isso. Quero dizer, às

vezes me perguntava o que eu gostaria realmente de fazer e arte meparecia algo interessante. Tem outra coisa que também gostaria defazer, mas está fora de questão.

Suzanna e a sra. Ardrey trocaram um olhar significativo, mas nãofizeram nenhum comentário. Contudo, Sian percebeu e protestou,zangada:

 — Agora são vocês que estão tirando conclusões precipitadas! Masse estiverem interessadas, a minha outra opção seria aprender acozinhar.

 — Cozinhar?A sra. Ardrey colocou o cálice vazio sobre a mesinha de centro. — Cozinhar? — repetiu Suzanna, tão admirada quanto a dona da

casa.A zanga da garota aumentou. — Estão vendo? Se eu dissesse isso a Neil, ele ia rir na minha cara!

Qual é o problema em se querer aprender a cozinhar? Sou boa nisso.Sempre gostei das aulas de culinária no colégio. Mas meu irmão acha

Page 50: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 50/77

que cozinhar não é uma coisa séria. Ele quer que eu seja umaintelectual, que faça uma carreira brilhante. Bate sempre na mesmatecla: "Você precisa de um diploma!" Como se isso fosse a coisa maisimportante do mundo! Pois eu acho que cozinhar é muito importante,também. Todo mundo precisa comer para viver. Preparar os alimentos é

uma coisa muito útil, além de ser divertido.Lydia dava mostras de impaciência. — Você está tentando dizer que, afinal, não quer entrar para a

escola de artes? — Não sei o que quero fazer — respondeu a neta, enrubescendo. — 

Só queria que Neil parasse de me controlar! Estou cheia de serrepreendida, de ser forçada a fazer o que não tenho vontade!

Alguém bateu à porta da sala. Era uma senhora idosa, avisandoque o almoço estava servido.

Lydia levantou-se com esforço e Suzanna suspeitou que sofresse deartrite.

  — Deixe-me segurar seu braço enquanto caminho para a sala,Sian. — A velha senhora estendeu a mão para a neta, que se aproximoupara ajudá-la.

Suzanna reparou que as duas eram mesmo muito parecidas e, deacordo com o retrato que havia visto na casa de Neil, imaginou queLydia fora uma jovem realmente bonita, talvez até mais do que a neta.

A sala de jantar era ainda menor que a sala de estar. Muitoconvidativa, tinha as paredes revestidas com ripas de madeira escura euma pequena mesa oval, que, no momento, estava coberta por umatoalha branca com bordados delicados. No centro, uma fruteira de prata

com uma grande variedade de frutas dava um toque alegre e colorido aoambiente.Durante o almoço conversaram sobre trivialidades e encerraram a

refeição com uma deliciosa sobremesa: um doce de grape fruit feito compassas e açúcar mascavo, recém-saído do forno.

 — Está delicioso — comentou Suzanna.Lydia olhou para a neta, que estava corada de satisfação. — É receita de Sian — informou. Suzanna deu mais uma garfada

no doce. — Parabéns, Sian! Foi você quem inventou? — Não, peguei num antigo livro, de receitas.Enquanto saboreavam o doce, a sra. Ardrey fez uma série de

perguntas à convidada. Muito astuta, fazia as indagações de maneiracasual, sondando sutilmente, informando-se sem dar a impressão deque estivesse bisbilhotando. Quis saber a respeito da família deSuzanna, de sua educação, da carreira. Suzanna respondia a todas asperguntas com cautela, procurando omitir o máximo de detalhes. Masnão era fácil: tal qual o neto, Lydia possuía olhos atentos, que pareciampenetrar em sua mente, lendo todos os seus pensamentos. Quantomenos Suzanna dizia, mais ela parecia adivinhar.

 Temerosa de que seus olhos a traíssem quando a senhora tocava

no nome do neto, Suzanna mal conseguia encará-la. Numa dessasocasiões, fez um esforço e olhou para ela. Quis morrer de vergonha ao

Page 51: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 51/77

ver naquele rosto enrugado uma maliciosa expressão de divertimento ecorou até a raiz dos cabelos. Estava agindo como uma tola! Era evidenteque sua relutância em tocar no nome de Neil é que revelava muita coisa.Muito mais do que se tivesse deixado escapar qualquer comentárioinconveniente sobre ele.

 — Às vezes eu odeio Neil — disse Sian, enquanto descascava umpêssego, alheia ao que se passava entre as duas.

 — É mesmo? — perguntou a avó, olhando para a convidada, que seapressou em morder uma maçã, fingindo indiferença. — Quer café,Suzanna?

 — Sim. Puro e sem açúcar, por favor.  — Ele é um pessimista — prosseguiu Sian. — Odeio gente

pessimista. São pessoas mal-humoradas, depressivas. Estão sempreesperando pelo pior.

  — Um pessimista é um romântico desiludido... Não concorda,Suzanna?

Lydia sorria gentilmente para ela, mas foi Sian quem respondeu. — Oh, detesto definições como essa! Me fazem lembrar do colégio e

das perguntas terríveis que os professores costumam fazer nos examesorais. O que eu quis dizer com "pessimista" é que Neil acredita que todomundo é culpado até que se prove o contrário, entendeu agora?

 — Nós ainda não ouvimos a opinião de Suzanna — observou Lydia. — Eu não tenho uma opinião. Nem o conheço direito!Suzanna percebeu de repente que estava sendo contraditória, mas

era tarde demais para voltar atrás. — Quando conhecê-lo melhor, tornarei a lhe perguntar, então — 

disse a velha com indisfarçável satisfação.  — Não pretendo conhecê-lo melhor — retrucou Suzannasecamente, sem conseguir manter o bom humor.

Exatamente naquele momento, a porta da sala se abriu. Paradesespero de Suzanna, Neil entrou com a namorada!

 — Algo errado? — perguntou ele, olhando um rosto de cada vez. — Será que estou enganado, ou ouvi vozes zangadas?

  — Você está imaginando coisas! Deus do céu, vozes zangadas,imagine só! Estávamos conversando, apenas — disse Lydia.

 — Sobre o quê? — perguntou ele, olhando para Suzanna. — Nada importante — afirmou depressa a avó, adivinhando que,

talvez, ele houvesse escutado mais do que admitia. — Nada que valha apena lhe contar — acrescentou, de maneira natural.

Ele afundou as mãos nos bolsos, como se assim pudesse manter acalma.

 — Como vai indo a conversa sobre o futuro de Sian? Acha que elatem algum talento, srta. Howard?

 — Tenho certeza que sim, sr. Ardrey. Mas o problema é que ela nãotem certeza se é isso o que deseja fazer.

 — Vocês ainda não conseguiram sair do círculo vicioso? — Não sei por que você não manda Sian para um daqueles colégios

maravilhosos, na Suíça — falou a namorada. — Tenho certeza que elairia adorar.

Page 52: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 52/77

 — Eu não quero voltar para o colégio! — explodiu Sian, fuzilando amoça com o olhar. — E não fale de mim como se eu fosse uma criançade seis anos de idade! — berrou, deixando Jill boquiaberta, sem saber oque dizer.

Em seguida, levantou-se da mesa e saiu, aos prantos, batendo a

porta. — Volte imediatamente! — bradou Neil, furioso. — Não, deixe-a em paz — interveio Lydia. — Não vê que ela está

aborrecida? — A falta de modos de Sian está piorando a cada dia! Por que a

encoraja a proceder assim, vovó? Desde que saiu do colégio, ela pensaque pode fazer o que bem quiser!

Suzanna olhou-o com uma expressão de censura no rosto. — Por que está me olhando com essa cara? — perguntou ele, lívido

de raiva. — Bravo! Que grande valentão é você! — ironizou ela. Naquele

momento, teve a impressão de que Neil ia pular em seu pescoço. — Eu devia saber que você só poderia piorar as coisas! — Deveria, mesmo! Jill olhava de um para o outro, os olhos azuis brilhando, atentos. — Creio que não nos conhecemos, não é? -— falou, oferecendo a

mão direita para Suzanna. — Jill Hardwíck — apresentou-se, mostrandoos dentes num sorriso falso.

Enquanto isso, avaliava cada centímetro da outra. Na certa, estavacalculando quanto havia custado o vestido simples de linho, os sapatosde pelica, achando os cabelos castanhos maltratados.

 — Suzanna Howard. — Suzanna se apresentou sem se preocuparem sorrir. — Vou subir e falar com Sian — anunciou Lydia, apoiando as mãos

nos braços da cadeira para se levantar.Neil ofereceu-lhe o braço, mas ela fez um gesto impaciente. — Não, obrigada. Sei me arranjar sozinha; não sou uma inválida. — Quero falar com Sian, também — disse ele, atravessando a porta

depois da avó.  Jill olhou disfarçadamente para Suzanna e se inclinou para

apanhar um pêssego da fruteira. Começou a descascá-lo com uma facade prata, dizendo:

 — Neil tem tido muitos problemas com a irmã ultimamente; andaarrancando os cabelos por causa dela, pobre querido. Há algum tempohouve uma grande confusão por causa de um caça-dotes que andavaatrás dela.

Suzanna retesou o corpo, controlando-se para não dizer poucas eboas.

 — Era um trapaceiro — continuou a jovem. — Fico boba de vercomo tem gente que se deixa enganar por alguém daquela classe! Achoque Sian é muito ingênua, coitadinha. Também, tendo ficado internatantos anos, era de se esperar que ela quisesse se divertir um pouco e

aproveitar a vida. Aquele cara ia conseguir dar o golpe do baúfacilmente! Neil quase teve um colapso quando soube que eles

Page 53: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 53/77

pretendiam se casar! Mas, graças a Deus, ele conseguiu controlar asituação.

 Jill enxugou os dedos molhados num guardanapo. — Eu devia ter resistido à tentação de comer esse pêssego. Estou

precisando perder alguns quilos!

 — Não apenas alguns! — disse Suzanna com mau humor, satisfeitaao ver o queixo de Jill cair.

Era óbvio que ela esperava que Suzanna fosse elogiá-la, pois era tãomagra que os ossos até saltavam.

Embora soubesse que tudo o que Jill dissera não passava de ummonte de bobagens, Suzanna ficara indignada, especialmente porqueNeil Ardrey era a única pessoa que podia ter contado a história a ela.Como ele se atrevera a falar de Alex daquela maneira?

  — Tenho a impressão de que já vi você em algum lugar... — murmurou Jill franzindo a testa, intrigada.

Suzanna se fez de desentendida. — É mesmo? — Tem certeza de que não nos encontramos antes? — insistiu a

garota, pensativa. — Você é amiga de Lydia? Mora em Brighton? Éprofessora do colégio de Sian?

De repente, os olhos dela ficaram apreensivos. — Você não trabalha para Neil, não é? — A resposta é não, para todas as perguntas — disse Suzanna,

com uma alegria maldosa. — O que você faz? Deve ter um emprego! Jill olhou para a mão esquerda de Suzanna e nem disfarçou o

desapontamento ao ver que ela não usava aliança. — Devo, é? — replicou Suzanna com ar malicioso. — Como sabe sepreciso de um emprego? Eu poderia ser amante de Neil ou...

Parou de falar e engoliu em seco. Ele estava bem a sua frente. Jill deu uma gargalhada histérica. — Que senso de humor terrível!Deu as costas para Suzanna e segurou o braço do namorado. — Podemos ir, Neil? Prometi a mamãe que chegaria em casa antes

das quatro para ajudá-la nos preparativos do jantar, lembra-se? — Sim, claro.Ele se virou para Suzanna e informou: — Sian está no quarto dela e quer falar com você.E, sem esperar por uma resposta, saiu da sala com Jill.Será que Neil ouvira o que ela havia dito? Baseando-se no olhar que

lhe lançara, ela podia jurar que sim. Agora, devia estar achando que ela é quem tinha segundas intenções em relação a ele! 

Começou a subir a escada, alarmada e irritada ao mesmo tempo. — Eu merecia uma surra! — murmurou em voz alta, e ouviu

alguém rir.Levantou a cabeça e deu com os olhos marotos de Lydia. — Por que você haveria de merecer uma surra? — perguntou ela.

Suzanna ficou muito vermelha. — Oh, nada — murmurou. — Neil disse que Sian queria falar

Page 54: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 54/77

comigo? — Sim, ela está no quarto à direita — falou a senhora, mais séria

agora. — Você poderia me responder uma pergunta, honestamente?  — Se puder... Mas, só pelo fato de me pedir assim, já estou

esperando uma pergunta que absolutamente não gostaria de responder!

Lydia sorriu. — Você é uma garota estranha... Tem o que, no meu tempo, as

pessoas costumavam chamar de sinceridade. Mas, hoje em dia, achamque é falta de educação a gente dizer o que realmente pensa.

 — Bem, qual é a pergunta? — quis saber Suzanna, resignada. — Você acha que Sian está realmente apaixonada por seu irmão?Suzanna suspirou fundo. — Sinceramente, eu não sei. E também não posso afirmar que Alex

a ama. Tenho certeza de que ele acredita ou acreditava nisso. Mas achoque nenhum dos dois sabe ao certo o que sente realmente. Se bem queisso não faz muita diferença, não é? A partir do momento em que umapessoa acredita que está apaixonada, o resultado é o mesmo.

 — Compreendo... Lógico, se eles têm convicção de que estão seamando, se não estiverem, não fará a mínima diferença. É isso o quevocê quis dizer, não é?

 — Bem, talvez eu não seja a pessoa mais indicada para julgá-los. — E por que não? — Eu nunca...Suzanna se intimidou e parou de falar. — Você nunca... ? — Oh, não é nada importante. É melhor eu ir ver Sian. Ela está

esperando.  — Você não vai terminar aquela frase? Que maldade! Eu voumorrer de curiosidade! Gostaria de saber o que é que você nunca fez...

Mas Lydia parecia saber a resposta. — Ora, nunca fiz um monte de coisas... Nunca viajei ao redor do

mundo, nunca tomei sopa de ninho de passarinho, nunca escalei omonte Everest...

A velha riu. — Você é muito boa nisso! — Nisso o quê? — Em se desvencilhar do assunto... sem sair dele. Agora, vá ver

minha neta.Ainda com as faces coradas, Suzanna abriu a porta que Lydia

indicara e encontrou Sian sentada na cama com as pernas cruzadas emposição de lótus, as mãos apoiadas nos joelhos e os olhos fechados.

 — Meditando? — perguntou.A garota abriu os olhos devagar. — Suzanna, Neil me disse que Alex saiu da agência por vontade

própria, que não foi despedido. É verdade?Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.  — É, sim. Alex conseguiu um outro emprego. Foi passar uns

tempos na Espanha e só começará a trabalhar quando voltar. Ele nãoquis continuar a trabalhar para o seu irmão, você sabe...

Page 55: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 55/77

A voz de Suzanna falhou, quando ela viu as lágrimas deslizandopelo rosto de Sian.

 — Mas o que há de errado, Sian? — perguntou com doçura. — Nãochore assim...

 Tirou um lenço do bolso e passou sobre o rosto molhado da garota.

 — Vamos, pare com isso. Qual é o problema? — Alex — murmurou ela entre soluços, empurrando a mão de

Suzanna. — Você não precisa se preocupar, o emprego novo é melhor do que

o antigo, o salário é mais alto... — Você não compreende? Eu. desisti de tudo porque Neil ameaçou

despedi-lo da agência! Fiquei com medo de que Alex não conseguisseoutro trabalho. E Neil disse que não ia deixar eu receber a herança. Oque seria de nós, então? Não teríamos nem um lugar onde morar. Acheique Alex passaria a me odiar, pois sua carreira estaria arruinada! Alémdo mais, eu não sei como cuidar de uma casa. Tenho jeito paracozinhar, mas não seria o suficiente. Neil disse que eu faria papel deboba se tentasse, que mais cedo ou mais tarde Alex ficaria decepcionadocomigo. E eu achei que ele tinha razão! Oh, como o odeio!

Sian cobriu o rosto com as mãos e desatou a chorar.Suzanna ouvira tudo com atenção. Descobrira finalmente como Neil

persuadira a irmã a desistir de Alex.Puxou as mãos da menina para secar-lhe o rosto novamente e fez

com que ela pegasse o lenço. — Assoe o nariz e ouça o que eu tenho a dizer. Você está

responsabilizando seu irmão por uma atitude que "você" tomou, certo?

 — Bem, Alex saiu da agência do mesmo jeito e conseguiu outroemprego. Estaria tudo bem se Neil não houvesse se intrometido. Ele mefez ficar com medo!

Suzanna balançou a cabeça e respirou fundo. — Acho que teria sido um desastre um casamento entre vocês,

Sian. — Você concorda com Neil! -— acusou ela, cheia de ódio. — Está do

lado dele! Como pode?! — Eu não estou do lado de ninguém, a não ser, talvez, de Alex!

Você o magoou indo embora sem explicar direito por quê. Nem ao menosquis saber se ele estava disposto a enfrentar seu irmão, se estava commedo, como você. Sinto ter de dizer isso, Sian, mas você é muitoimatura para se casar, seja lá com quem for. Alex está bem agora e nãoquero que se machuque novamente. Creio que o melhor é você semanter afastada dele, está bem?

Sian apertou o lenço entre os dedos, o queixo trêmulo. Suzannaestava com muita pena da garota, mas precisava impedi-la de ver Alexnovamente. Se isso acontecesse, a história se repetiria e, é claro, nãoiria funcionar.

Levantou-se e encaminhou-se para a porta. — Lamento ter sido um pouco dura, mas foi necessário. Se eu fosse

você, começaria a pensar mais em mim mesma. Existem tantas coisasque pode fazer! Por que não se empenha em aprender a cozinhar, pintar,

Page 56: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 56/77

desenhar, ou qualquer outra coisa de que goste? É melhor do que ficarparada, chorando, sem produzir nada. Não leve em conta o que seuirmão pensa ou deixa de pensar: ele não é você, não pode viver a "sua"vida.

Sian levantou os olhos vermelhos e Suzanna percebeu que sentia

uma grande afeição por ela. Teve vontade de abraçá-la mas, em vezdisso, disse:

 — Você precisa crescer e amadurecer, Sian!Em seguida saiu, fechando a porta atrás de si.

CAPÍTULO VII

Suzanna passou os dias seguintes ocupadíssima com as reformas

do chalé. Acordava ao nascer do sol e ia para a cama antes das dez danoite, quase morta de cansaço.Ao levantar, certa manhã, percebeu que o outono chegara: o ar

estava fresco, havia um delicioso aroma das folhas secas e atemperatura baixara bastante.

Enquanto tomava o café, ficou observando o jardim através da  janela da cozinha. Deteve os olhos numa teia de aranha construídaentre os galhos de uma árvore. Os fios delicados brilhavam por causadas gotinhas de orvalho.

Ela pegou um pedaço de papel e começou a desenhar aquela redeperfeita. Depois de fazer alguns traços, parou, lembrando-se de que

precisava terminar de arrumar o quarto pequeno, antes de voltar paraLondres para pegar Alex no aeroporto.

Um pássaro negro pousou no mesmo galho de árvore onde havia ateia de aranha, levantou o bico alaranjado para o céu e começou acantar. Suzanna ficou admirando a pequena ave, até que a viu levantarvôo e sumir. Distraída, olhou para o pedaço de papel onde estiveradesenhando. Enquanto rabiscava, havia feito o rosto de Neil.

 — Droga! — murmurou, amassando o papel até transformá-lonuma bola.

Atirou-o na cesta de lixo com raiva, e foi acabar a decoração doquarto.

Como não esperava visitas, deixara o rosto completamente semmaquilagem, amarrara um lenço na cabeça para que os cabelos não sesujassem de tinta e vestira suas roupas mais velhas: um jeansdesbotado, camiseta e tênis velhos.

Durante toda a semana não fizera nada além de trabalhar; nãoconseguira sequer ler um único parágrafo dos livros de Hardy que haviatrazido. Na realidade, não tinha tempo nem para pensar e estava gratapor isso. Se pensasse, seria inevitável que Neil Ardrey fizesse parte deseus pensamentos.

Mesmo assim, muitas vezes, nas horas mais estranhas do dia, ela

se pilhava recordando o rosto marcante, a voz grave, os olhos verdes.Uma hora mais tarde, estava pintando o teto do quarto,

Page 57: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 57/77

empoleirada no último degrau da escada de pedreiro, quando ouviu oruído da porta da frente se abrindo.

 — Suzanna!Ela estremeceu ao ouvir aquela voz. Desceu alguns degraus com

cuidado, colocou o pincel dentro do balde e limpou as mãos num pedaço

de estopa.Neil estava no hall, ao pé da escada, olhando para cima. — Por que não bateu na porta? — perguntou ela. — Eu bati, mas acho que você não ouviu. — Então, devia ter ido embora, em vez de entrar sem ser convidado.

Estou muito ocupada; preciso terminar a decoração antes de quarta-feira e ainda tenho um quarto inteiro por fazer.

Suzanna falava com exasperação e segurança. No entanto, sentia-se insegura e perturbada, como sempre acontecia na presença dele.

Neil estava mais atraente do que nunca naquela manhã: usavauma calça esporte e uma camisa verde-escura. O colarinho abertodeixava à mostra parte do peito largo, coberto de pêlos escuros.

Suzanna engoliu em seco. Era apenas um homem, só isso! Por quese deixava impressionar tanto? Mesmo quando estava sozinha, bastavapensar nele para sentir as mãos geladas e uma estranha inquietaçãoinvadi-la. E agora, diante dele, a coisa piorava ainda mais! Tinha queacabar com aquilo, custasse o que custasse!

 — Devo subir ou você vai descer? — perguntou ele, apoiando um péno primeiro degrau.

Suzanna sentiu um frio no estômago. Olhou de relance em direçãoao quarto e, num impulso, desceu a escada, parando um degrau acima

de Neil.Neil sorria, como se houvesse adivinhado os pensamentos dela. — O que é que você quer? — perguntou ela.Neil ergueu uma sobrancelha maliciosamente. — Devia tomar mais cuidado com o que pergunta.  — Não brinque, sr. Ardrey! Talvez tenha tempo de sobra para

conversa fiada, mas eu estou ocupada. Quer dizer logo o que deseja paraque eu possa voltar ao trabalho?

O sorriso desapareceu dos lábios dele. — Decididamente, charme não é o seu forte! — Acontece que não estou interessada em fazer charme para você. — Por quê? Não gosta de homens?Suzanna olhou-o com raiva.  — Não nego que os homens têm lá suas utilidades. Mas, no

momento, não será você quem eu escolherei! Tem a memória fraca, sr.Ardrey? Já esqueceu que adoro o meu irmão e que você foi a causa dosofrimento dele?

 — Eu estava preocupado com Sian! Acredite ou não, eu a amomuito!

Suzanna deu uma gargalhada. — Fiz o que achei melhor para minha irmã — acrescentou ele, com

uma certa irritação. — Ela é apenas uma garotinha inocente! E, para serhonesto, estou começando a achar que Alex não tinha más intenções,

Page 58: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 58/77

como pensei. Talvez estivesse mesmo apaixonado. Reconheço que possoter cometido um engano.

Com ar irônico, Suzanna cruzou os braços. — Você não parece muito seguro do que diz...Ao ouvi-la, Neil perdeu totalmente o controle.

 — Será que não pode se colocar no meu lugar? — berrou. — Admitoque posso ter me precipitado e julgado mal o seu irmão. Sinto muito seferi os sentimentos dele, mas tudo o que eu queria era impedir que Sianfizesse uma loucura! Se não agisse rápido, poderia ser tarde demais!

 — Isso não justifica o fato de você espalhar por aí que Alex é umcaça-dotes!

Neil arregalou os olhos, surpreso.  — Do que é que você está falando?! Não contei nada do que

aconteceu a ninguém! Acha que eu queria ver minha irmã envolvida emum escândalo? Não sou idiota!

 — Mas a sua namorada sabia de tudo!Ele examinou o rosto de Suzanna atentamente. — Minha namorada? — repetiu. — Jill Hardwick?! Ela mencionou

algo a respeito? — Ela parecia realmente encantada e orgulhosa com seu ato de

heroísmo! Afinal de contas, você salvou sua irmãzinha indefesa dasgarras de um vilão!

 — Ela sabia que você era a irmã de Alex? — Imagino que não, pois os comentários que fez a respeito de Alex

foram odiosos, para não dizer cruéis! Se sabia, então, ela estavaquerendo me humilhar.

Neil deu meia-volta e se dirigiu para a cozinha. Depois de ummomento de hesitação, Suzanna o seguiu.Ele estava parado junto à janela, observando o jardim, e Suzanna

notou que observava a mesma teia de aranha que prendera sua atençãohoras antes.

Assim que ela se aproximou, Neil virou-se para olhá-la, com umaexpressão de sofrimento no rosto.

 — Você não vai acreditar, mas eu não disse absolutamente nada a Jill. Se ela sabe de alguma coisa, é porque outra pessoa lhe contou. Talvez tenha sido a própria Sian. Elas estiveram juntas bastante tempo,ultimamente.

Ele deu um suspiro. — Lydia não esteve passando muito bem e Sian e Jill têm passado

algumas tardes com ela. Vovó não é tão forte quanto aparenta... — Lydia é maravilhosa — disse Suzanna com sinceridade. — É, sim. Sofreu muitas decepções e tristezas durante a vida, mas

nunca a vi se lamentando. Meu avô morreu há mais de quarenta anos eela nunca quis se casar novamente. E não lhe faltaram pretendentes!Um deles me contou certa vez que pediu a mão de vovósistematicamente durante um quarto de século. Ela sempre recusou.Dizia que jamais amaria outro homem. — Neil falava com emoção

evidente. — Que bonito! — exclamou Suzanna comovida. — Como era o seu

Page 59: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 59/77

avô?"Como você?", completou em pensamento. Se assim fosse, seria

fácil de entender por que Lydia jamais quisera se casar novamente.Neil voltou a olhar para o jardim e continuou a falar: — Lydia teve dois filhos: meu pai e Alice. Alice morreu afogada aos

dez anos; estava com o meu pai em um barco, que acabou virando. Elenão conseguiu salvar a irmã e jamais se conformou com isso. Desdeesse dia, passou a ter pesadelos horríveis. Lydia estava viúva há apenasum ano quando isso aconteceu. O choque deve ter sido insuportável.

Suzanna o ouvia penalizada. Como é que, depois de golpes tãoviolentos, Lydia ainda conseguia sorrir, ter aquela serenidade? Ninguémimaginaria que a vida tivesse sido tão cruel com ela.

 — Meu pai tornou-se um homem amargurado — prosseguiu Neil. — Não conseguiu superar o complexo de culpa por causa da morte dairmã. Eu só soube dessa história depois de adulto. Na minha infância,ele me parecia sempre muito distante! Jamais demonstrava o que estavasentindo.

 — Ele devia ter medo de amar, porque poderia se machucar denovo — disse Suzanna.

 — É claro. Mas só fui compreender isso aos vinte anos de idade.Exatamente um dia após a morte dele. Eu estava chocado, mas nãoestava triste. Sentia-me muito culpado por isso. Então, Lydia,percebendo a minha aflição, resolveu me contar. Ela é muito intuitiva,capta as coisas no ar.

Suzanna corou ao lembrar dos olhares significativos que a velhasenhora lhe lançara no dia do almoço.

 — Quando jovem, eu cheguei a odiar meu pai — recomeçou Neil, osolhos ainda fixos na janela. — Ele e minha mãe viviam brigando. Ànoite, no meu quarto, eu cobria a cabeça com o travesseiro, tentandonão ouvir os gritos deles. Mas não adiantava muito.

Suzanna estava assombrada; acabara de descobrir um Neildiferente, novo, desconhecido.

 — E eu culpava meu pai, claro — continuou ele. — Ele era tão frio!Instintivamente, eu tomava o partido de mamãe, que afinal era quemestava comigo o tempo todo.

Ele respirou fundo, estremecendo quase que imperceptivelmente. — Minha mãe era linda, doce, delicada... Para mim era a mulher

mais virtuosa e perfeita do mundo. Mas eu estava redondamenteenganado; todo aquele amor e bondade era apenas uma fachada!Somente depois da morte de papai, quando ela fugiu para a Itália comum amante, foi que Lydia me contou a verdade. Assim mesmo, nãocontou a história toda, pois não queria me magoar muito. Tentou meconvencer de que mamãe estava doente, que sofria de uma neurose eque, quando começou a envelhecer, piorou, aterrorizada com a idéia deperder seus atrativos femininos. Então, ela começou a arranjar amantes.  Tantos quantos podia conseguir, pois assim sentia-se mais jovem econfiante. De qualquer forma, isso já não faz a menor diferença, agora.

O que me dói é saber que papai sofreu muito e que eu o culpeiinjustamente.

Page 60: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 60/77

Neil virou-se de repente e Suzanna se encolheu, ao ver a imensaamargura que havia no olhar dele.

 — Sabe por que estou lhe dizendo tudo isso, Suzanna?Ela só conseguiu balançar a cabeça, negando. — Nem eu — disse ele, com um sorriso triste. — Nunca contei

essas coisas a ninguém. Quando mamãe morreu, fui à Itália buscarSian. O amante já havia ido embora, levando a metade dos móveis etodo o dinheiro dela. Sian foi deixada com uma empregada. Então, eu atrouxe para a casa de Lydia.

 — Sian é filha de seu pai? — perguntou Suzanna com suavidade. — Eu me fiz a mesma pergunta durante muito tempo — respondeu

ele, pesaroso. — E, admito, esta era a razão pela qual eu não meaproximava muito dela. Simplesmente não conseguia!

"Pobrezinha!", pensou Suzanna. Entendia como Neil devia se sentir,mas Sian era apenas uma criança! Não era culpa dela se sua mãe forainfiel ao marido.

 — À medida que Sian crescia, no entanto, ficava cada vez maisevidente sua semelhança com Lydia — continuou ele. — Percebi, então,que me sentia culpado por tê-la mantido afastada de mim, exatamentecomo meu pai fizera comigo. Eu a amo muito, acredite. No entanto, pormais que me esforce, não consigo deixar de temer que ela comece a seportar como minha mãe.

 — Oh, não! Como pode pensar tal coisa? Isso é absurdo, Neil! — Você não conheceu minha mãe. Ela enganava a todos com seu

 jeito doce e compreensivo, com sua beleza cativante. Ninguém jamaissuspeitou que ela era uma...

Ele fez um gesto vago com a mão. — Bem, foi por isso que fiquei tão descontrolado quando Sian fugiucom seu irmão: tive a nítida impressão de que ela estava imitandominha mãe.

 — Se está procurando um exemplo para Sian, deveria olhar parasua avó, não para sua mãe — observou Suzanna.

 — Acho que você está certa. Mas, quando li aquela carta, nãoconsegui pensar com clareza, entende? Fiquei muito bravo... Queriaquebrar coisas, agredir as pessoas...

Suzanna sorriu. — Eu me lembro! — Você teve sorte — disse ele. — Precisei me conter para não

quebrar o seu pescoço. Não queria acreditar que Sian não estava no seuapartamento. Mal pude manter a calma!

 — Você não conseguiu manter a calma! — Você é muito sincera. Acho isso maravilhoso. Diz o que tem

vontade, nunca esconde seus pensamentos, opiniões..."Nunca?", pensou ela, angustiada. "Receio que esteja enganado.

Existem muitas coisas que não quero jamais que você saiba."Agora que Suzanna começava a compreender o porquê da

prepotência e arrogância de Neil, estava disposta a perdoá-lo por ter

invadido seu apartamento, por ter agido mal em relação a Alex, por tê-labeijado à força... Contudo, nada alterava sua determinação em não se

Page 61: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 61/77

deixar envolver. Isso jamais!  — Vá se trocar e deixe-me levá-la para almoçar — disse ele

subitamente, olhando divertido para as roupas dela. — Gostaria que medesse alguns conselhos a respeito de Sian. Desta vez, juro que a ouvirei. Já me conformei com o fato de minha irmã não querer estudar numa

universidade. Mas acho que ela precisa fazer alguma coisa. O problemaé que ela não se decide.

Suzanna puxou o lenço da cabeça e seus cabelos castanhos caíramsuavemente sobre seus ombros.

 — Eu não devia parar com o trabalho agora — disse, embora nãoparecesse muito decidida.

Na realidade, queria aceitar o convite. Contudo, sabia que não seriaprudente fazer isso.

 — Por favor — insistiu ele.Suzanna sorriu. — Se voltarmos lá pelas três horas, poderei trabalhar um pouco

durante a tarde. Só que não estou preparada para enfrentar umrestaurante fino: meus cabelos estão horríveis, e estou cheirando atinta. Vou precisar de pelo menos uma hora para conseguir me arrumarum pouco.

 — Pois eu espero o tempo que for necessário — concedeu ele,satisfeito. — Não precisa se preocupar. Pensei em ir a um pequenorestaurante que vi, logo na entrada do povoado.

 — O "Stag"? Ótimo! A comida é excelente.Suzanna ficou aliviada. Ela e Alex conheciam os donos do

restaurante desde crianças.

 — Tudo bem, então. Fique à vontade, vou me arrumar o maisrápido possível.Enquanto tomava banho, tentando tirar os últimos vestígios de

tinta das unhas com uma escovinha, ela repensou tudo o que Neil lhedissera. Obviamente, Sian não sabia nada a respeito do passado damãe, mas, mesmo assim, devia ter muitas lembranças nosubconsciente, pois convivera com a mãe até os oito anos. Não era de seestranhar que fosse uma garota tão insegura e tímida.

Neil, por sua vez, também sofria, sentindo-se culpado por causa dairmã. Seu autoritarismo e arrogância, suas atitudes violentas eintolerantes encobriam um homem sensível. Havia crescido numambiente carregado, cheio de conflitos. Aprendera que o relacionamentoentre um homem e uma mulher somente significava sofrimento emágoa; qualquer mulher que se envolvesse com ele estaria, na certa,procurando encrenca...

Sentindo uma estranha euforia, Suzanna vestiu o robe, depois deenxugar o corpo, e foi para o quarto se vestir.

Como não havia trazido muitas roupas, escolheu uma blusa cor decreme e uma saia marrom, bem simples. Era o bastante para um almoçono "Stag". Além disso, não queria chamar a atenção de Neil.

Olhou-se no espelho da penteadeira e não gostou do que viu: seu

rosto estava afogueado, os olhos brilhantes demais.Convencendo-se de que aquilo era devido ao banho quente,

Page 62: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 62/77

desembaraçou os cabelos úmidos com o pente. Depois fez umamaquilagem bem leve e, antes de sair, consultou o espelho mais umavez, perguntando-se, intrigada, por que Neil resolvera lhe revelar tantossegredos.

Ele ainda se encontrava na cozinha, sentado ao lado da janela,

distraído com o livro que Suzanna deixara sobre a mesa. Por isso, não sedeu conta de que ela havia voltado. Ela aproveitou a oportunidade paraadmirá-lo. Os cabelos negros estavam desalinhados e, visto de perfil, oqueixo ficava ainda mais pronunciado. A visão dos pêlos negros que seinsinuavam para fora da camisa aberta a fez estremecer. Sentiu-seinvadida por uma estranha sensação e mordeu os lábios. Sabia o quedesejava. "Não", censurou-se. As conseqüências seriam desastrosas! Neillevantou os olhos e, ao vê-la, sorriu. Examinou-a da cabeça aos pés comadmiração.

 — Você parece uma menininha bem comportada, pronta para saircom o papai — comentou.

Ela arqueou as sobrancelhas, zombeteira. — Ora, você não é tão velho assim... ou é?Neil atirou o livro sobre a mesa e caminhou na direção de Suzanna,

fitando-a de maneira ameaçadora.  — Isso é uma provocação? — perguntou, a voz carregada de

sensualidade.Amedrontada, ela se fez de desentendida: — Vou pegar um casaco. Acho que estou com frio.Saiu quase correndo e, da escada, ouviu a risada divertida de Neil.Seu rosto ainda estava vermelho quando voltou com o casaco.

 — Pronto? — perguntou, mantendo uma certa distância. — Sim. Estou pronto há muito tempo...Suzanna não entendeu bem o sentido daquelas palavras; contudo,

achou mais prudente não comentar nada.  — Então, vamos! — disse simplesmente, abrindo um sorriso

radiante.

CAPÍTULO VIII

O "Stag" estava apinhado de gente. Suzanna sentou-se em umamesa de canto, enquanto Neil foi fazer os pedidos e providenciar osdrinques.

Ele retornou com um cálice de vinho branco e uma caneca decerveja nas mãos.

 — Pedi galinha especial à moda da casa — informou. Sentou-se emfrente a Suzanna.

 — É um dos pratos mais famosos daqui — comentou ela, olhandopara um rapaz que estava perto do balcão.

Neil dirigiu o olhar na mesma direção.

 — Algum conhecido? — É um velho amigo de Alex.

Page 63: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 63/77

 — Você morava aqui quando era criança?  — Sim, só fui para Londres quando entrei na faculdade. Mas

continuo vindo para cá sempre que posso. Quando mamãe morreu, euquis vender o chalé, mas ela queria que o conservasse.

 — Por que sua mãe não queria que você vendesse o chalé?

Suzanna contou a conversa que tivera com o advogado. — Mas Alex está mais estabilizado, agora — emendou, assumindo

um ar de desafio. — Quando voltar da Espanha, talvez concorde emvender o chalé. Ele é muito orgulhoso e vai argumentar contra, masacho que conseguirei convencê-lo. Sei que, agora, mamãe aprovaria.

 — Alex significa muito para você, não é? — Ele é meu irmão!  — explodiu Suzanna, agressiva. — Relacionamentos entre irmãos nem sempre são muito bons — 

argumentou Neil.Suzanna se arrependeu da explosão ao compreender que Ardrey

estava se baseando na própria família. — Lydia significa muito para você também, não é?Neil a fitou por um momento, depois concordou com um gesto de

cabeça. — Como era sua mãe? — perguntou ele em seguida. — Você quer dizer... fisicamente? — Não, refiro-me à personalidade. Era parecida com você? — Não muito. Ela era mais irrequieta, mais... nervosa. Estava

sempre muito preocupada com Alex e papai! Meu pai tinha problemasrespiratórios. Mamãe morria de medo que Alex viesse a ter os mesmosproblemas, pois a saúde dele era bem frágil e, por outro lado, ela não se

preocupava muito comigo. Eu sempre fui mais forte do que Alex.Raramente adoecia.Neil sorriu. — Quer dizer que você já era forte desde menina!Nesse instante, a dona do restaurante chegou com a comida. — Olá, Susie! Você andava sumida! Como vai? Alex está bem? — Estamos ótimos, obrigada. Como vão você e o Pete? — Muito ocupados como sempre, graças a Deus! Bem, espero que

gostem do frango!Ela se afastou e Neil olhou para Suzanna, intrigado. — Susie? É assim que a chamam?Ela fez uma careta. — Não! Eu odeio esse apelido! Prefiro ser chamada de Suzanna. — Também prefiro Suzanna, combina mais com você.Neil olhou ao redor. — Nunca havia comido num lugar assim, antes. — Eu já imaginava.Ele pareceu surpreso. — Como assim? Que tipo de restaurante você imagina que eu

freqüente? — Ora, do tipo bem claro, em Londres ou Nova Iorque.

 — Por que você seguiu a carreira de artista?A mudança repentina de assunto pegou Suzanna desprevenida.

Page 64: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 64/77

 — Bem... acho que... sou boa nisso. Gosto do meu trabalho, maisdo que qualquer coisa no mundo.

Um sorriso estranho surgiu no rosto de Neil. — Mais do que qualquer coisa?"Droga, por que ele está me olhando assim?", pensou ela, confusa.

 — Trabalhar é muito importante para mim — declarou desviando oolhar. — Mas nós não viemos para cá para falar de mim, não é? Vocêdisse que queria alguns conselhos a respeito de Sian.

Suzanna acabava de perceber que Neil não mencionara a irmã umaúnica vez.

 — É melhor comermos, antes que a comida esfrie — disse ele, parasurpresa dela.

Ficaram em silêncio por um longo tempo, até que Neil pegou oúltimo pedaço de batata em seu prato.

 — Este restaurante merece a fama que tem! — elogiou. — Servemcafé aqui?

Suzanna fez um gesto, chamando a amiga. — Ela já vai trazer o café.Neil acendeu um cigarro e Suzanna ficou olhando a espiral de

fumaça desaparecer lentamente no ar. — Não sei mais o que fazer com Sian — disse ele de repente. — Ela

parece que fica surda e muda quando tento falar sobre o futuro. Nãoquer conversar a respeito, nem mesmo com vovó. Foi mais ou menosidéia de Lydia eu falar com você. Você gostou muito dela, não?

 — Muito.A proprietária do restaurante trouxe o café e retirou os pratos da

mesa. — Estava delicioso come sempre — elogiou Suzanna.A simpática senhora sorriu: — Fico contente por terem gostado.Quando ficaram novamente a sós, Suzanna disse: — Sian me falou que quer aprender a cozinhar. — Quer o que?  — perguntou ele, quase gritando.Suzanna enrubesceu.  — Não precisa ficar zangado! Existem bons cursos de artes

culinárias em Londres. Sian poderia se profissionalizar. Arte culinárianão se restringe apenas a se fazer comida. Para ser bem franca, achoque ela nem sabe ao certo se é culinária mesmo o que quer fazer, mas,de qualquer modo, não lhe fará mal entrar para um desses cursos. Aomenos, já é um primeiro passo, não concorda?

Neil terminou de tomar o café, calado e pensativo. — Vamos, vou deixá-la no chalé — disse, finalmente.Não fez nenhum comentário sobre Sian. Permaneceu calado

durante todo o caminho, preocupado com alguma coisa. Dirigiaautomaticamente, com os olhos pregados na estrada. Quando parou emfrente ao chalé, virou-se para Suzanna e apoiou os braços na direção.

 — Não conheço você direito... — disse, quebrando o silêncio. — Mas

tenho a impressão de que a conheço há muito tempo. Não é estranho?Ela deu um sorriso amarelo.

Page 65: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 65/77

Page 66: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 66/77

 — Você não vai me possuir no banco da frente de um carro!Ele pareceu surpreso por um momento, mas, em seguida, a sombra

de seus olhos se dissipou. — Não — concordou meio sem jeito. — Desculpe. Às vezes as coisas

escapam do meu controle.

 — Coisas como suas mãos?Suzanna puxou o trinco da porta e saltou do carro, rezando para

conseguir andar com firmeza.Neil se inclinou para a janela e perguntou: — Janta comigo, hoje? Precisamos conversar. — Nós já conversamos. Além disso, estou muito ocupada. Não vou

 jantar com ninguém.Ela o encarou com severidade: — Vou ser direta: eu não quero vê-lo nunca mais. Não quero ter um

caso com você, isso só iria complicar a minha vida. Por favor, mantenha-se afastado de mim, esqueça que me conheceu.

 — Você pode fazer isso? — Com a maior facilidade! — Não acredito. Acho que vai ficar pensando em mim...  — Ora, quanta presunção! Você nunca esteve em meus

pensamentos, Neil Ardrey! jamais estará!Ele curvou os lábios num sorriso irônico, enfiou a mão no bolso e

tirou um pedaço de papel amassado.Suzanna olhou-o intrigada, e só depois de alguns segundos

compreendeu o que era aquele pedaço de papel: nada mais, nadamenos, do que o desenho do rosto dele!

 — Nunca entrei em seus pensamentos? — zombou ele.Muito vermelha, Suzanna deu de ombros: — São apenas uns rabiscos. Eu não penso em você!Ele ficou muito sério.  — Rabiscos?! Como poderia me desenhar se não estivesse

pensando em mim?  — Você não tinha o direito de bisbilhotar na minha casa! — 

explodiu ela, furiosa. — E muito menos de pegar qualquer coisa! Me dêesse papel, agora mesmo!

Curvou-se para agarrá-lo, mas Neil puxou-o depressa, colocando-ode volta no bolso.

 — Nada disso — falou calmamente. — Quero ficar com o desenho,gostei dele. Você o jogou na cesta de lixo, portanto não o queria.

Suzanna endireitou os ombros e deu-lhe as costas. Foi embora semdizer mais nada, fervendo de raiva. Não iria se expor ao ridículo debrigar por causa de um papel velho e amassado! "Por que não queimeiaquela droga?", pensava.

Ao alcançar a porta do chalé, viu um envelope sobre o capacho epegou-o sem dar muita importância. Só foi examiná-lo na cozinha: eraum telegrama. Abriu depressa o envelope e ficou branca, ao ler oconteúdo. Desabou sobre uma cadeira, sentindo-se repentinamente

muito fraca.  — O que foi? Alguma coisa errada? — perguntou Neil,

Page 67: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 67/77

aproximando-se.Suzanna não havia fechado a porta e ele a seguira. — Alex está no hospital. — Os dedos dela tremiam segurando o

telegrama. — Oh, por que não tem um telefone aqui? Já poderia estarna Espanha a essa altura. Vou ter que ir a Londres para buscar meu

passaporte e arrumar a mala. Só vou conseguir chegar ao aeroporto ànoite, e talvez não haja mais nenhum vôo até amanhã de manhã.

Ela olhou para Neil, o rosto cheio de angústia e ansiedade. — Febre tifóide... é fatal? — Pelo que sei, é uma doença grave. Mas Alex é jovem; tenho

certeza de que poderá superar esse problema. Hoje em dia existemdrogas muito poderosas.

Ele consultou o relógio. — Meu carro é mais rápido do que o seu. Pegue suas coisas. Eu a

levo para Londres.Suzanna olhou ao redor, muito confusa. — Não preciso de nada, exceto do passaporte.Neil tomou-a pelo braço e a conduziu para fora. — Se tivermos sorte, chegaremos a Londres em uma hora — disse,

decidido.Subitamente, Suzanna se deu conta de que ele estava resolvendo

tudo por ela. Parou de andar e o encarou, franzindo a testa! — Posso ir no meu carro, não é necessário que você venha comigo.

É gentileza sua, mas... — Você não está em condições de dirigir — argumentou Neil, com

firmeza.

Ela achou que deveria protestar, porém ficou quieta e deixou queNeil a ajudasse a entrar no carro. Sentia-se realmente fraca. Ficouolhando para a frente, as mãos trêmulas sobre seu colo.

Ele deu a partida e saiu a toda velocidade. Depois de algumasmilhas, Suzanna quebrou o silêncio. Seus olhos estavam rasos d'água.

 — Alex não é forte. É como papai. Talvez não consiga reagir, seestiver sozinho. Preciso chegar logo ou ele vai morrer!

Neil tomou a mão dela com carinho. — Você vai chegar logo, não se preocupe. Minha companhia tem

um jato particular; podemos utilizá-lo. Enquanto você estiver fazendo asmalas, eu me comunicarei com o piloto.

Agora, as lágrimas escorriam pelo rosto de Suzanna. Neil apertouos dedos dela com mais força.

 — Não chore, isso não combina com você! Alex vai ficar bom, tenhocerteza. Não pense no pior, Suzanna, não deixe sua imaginação ir longedemais. Ele está no hospital, recebendo exatamente o que precisa nomomento.

 — Desculpe — murmurou ela.Abriu a bolsa, tirou um lenço e enxugou o rosto. Depois pegou o

estojo de pó compacto. Ficou horrorizada com a imagem que viurefletida no espelhinho: as faces manchadas de lágrimas, os olhos

inchados, o nariz vermelho. Rapidamente passou a esponjinha do estojono rosto e um pouco de batom nos lábios ressecados, que não paravam

Page 68: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 68/77

de tremer.Neil deu-lhe uma olhada rápida com o canto dos olhos. — Assim é melhor — disse. — Agora, está com uma aparência

mais... civilizada.Suzanna fez uma careta.

 — Obrigada. Não sabia que estava tão horrível, antes.Ele riu. — Esta é a minha garota. Agora, estou vendo que você está normal

novamente. — Não sou sua garota! — protestou Suzanna.  — Discutiremos isso mais tarde. No momento, preciso me

concentrar na estrada. Seja uma boa menina e fique quietinha atéchegarmos em Londres, está bem?

 — E também não sou uma menina! — disse ela, irritada. — Souuma mulher! Quer parar de me tratar como se fosse meu protetor?

 — Se brigar comigo faz com que você se sinta melhor, vá em frente.Grite à vontade, querida. Sei que você está com medo de mim, que sesente ameaçada; por isso está sendo tão agressiva.

Suzanna arregalou os olhos indignada. Como aquele sujeito seatrevia a chamá-la de querida?! Como podia ser tão presunçoso a pontode achar que ela reagia daquela forma, irritada e agressiva, para sedefender dele?

Voltou o rosto para a janela e procurou se distrair olhando apaisagem, que ganhava tonalidades de bronze, com a chegada dooutono.

Não adiantou. Estava queimando por dentro, tal qual um vulcão

prestes a entrar em erupção.Enquanto isso, Neil continuava concentrado na estrada, dirigindocalmamente...

CAPÍTULO IX

 Já passava das onze horas da noite quando Suzanna conseguiu,finalmente, ver Alex. E, assim mesmo, por alguns minutos apenas. Eleparecia dormir, mas estava agitado, balançando a cabeça de um ladopara outro, balbuciando palavras incompreensíveis, e suas mãos nãoparavam quietas, agarrando e soltando a beirada do lençol.

  — Ele está inconsciente? — perguntou Suzanna à enfermeira.Estava muito impressionada com o estado do irmão.

A moça sorriu de leve. — Não, essa agitação é conseqüência da febre — explicou. — A

temperatura esteve altíssima, mas, com a medicação que demos a ele, jáestá baixando. A senhorita não deve se impressionar. Acredito que, emuma semana, seu irmão já estará de pé. O caso dele não é grave.

 — Alex ficará... totalmente curado?

A enfermeira levou o dedo indicador à boca, pedindo silêncio. — Por favor, vamos sair do quarto, agora. O paciente precisa de

Page 69: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 69/77

repouso.Suzanna deu uma última olhada para Alex antes de sair para o

corredor. — Ele tem possibilidade de ficar totalmente bom, não é? — insistiu,

 já fora do quarto.

A enfermeira sorriu com simpatia. — É claro! Talvez seja apenas uma questão de dias. Por favor, srta.

Howard, procure não se preocupar tanto. A doença está controlada.Assim que a febre baixar, seu irmão estará praticamente bom.

 — Poderei vê-lo amanhã?  — Certamente. Pode vir visitá-lo às treze horas. Já encontrou

algum lugar para ficar? Poderia arranjar-lhe um quarto aqui nohospital, se desejar.

 — Não será necessário, obrigada. Fiz reserva no Hotel Alhambra. — Vá com Deus — disse a enfermeira, ao se despedir.Suzanna precisou repetir o nome do hotel várias vezes até que o

motorista a entendesse. Depois, recostou-se no banco do carro,suspirando de cansaço.

Sentia-se agradecida a Neil Ardrey por tê-la ajudado. Mas, aomesmo tempo, desagradava-lhe a idéia de ficar devendo favores a ele. Edevia muitos.

Quando haviam chegado a Londres, sem que Suzanna percebesse,ele dera vários telefonemas enquanto ela arrumava a mala.Providenciara para que o avião da companhia a levasse à Espanha nofinal da tarde, reservara o quarto no hotel e ainda entrara em contatocom uma companhia de aluguel de automóveis para ordenar que um

motorista fosse buscá-la no aeroporto e que ficasse a sua disposiçãopelo tempo que fosse necessário.Neil a levara até o aeroporto, e só então explicara as providências

que havia tomado. Entre surpresa e comovida, ela tentara agradecer,mas só conseguira gaguejar como uma tola.

  — Eu iria com você, mas tenho um compromisso importante,amanhã de manhã -— dissera ele, ignorando os agradecimentos dela.

 — Não pensei que você... É muito amável em se preocupar tantocomigo, mas você já fez muito. Agradeço de coração. Porém, acho queagora posso me virar sozinha.

 Jamais passara pela cabeça de Suzanna que Neil pudesse quereracompanhá-la na viagem. A mera sugestão disso a deixava quase empânico.

  — Se surgir algum imprevisto, ligue para o escritório — recomendara ele, estendendo-lhe um cartão. — Se eu não estiver lá,minha secretária a ajudará. Não esqueça: procure-me, caso haja algumacoisa, está bem?

  — Francamente, eu... — começara ela a gaguejar novamente,sentindo-se embaraçada.

Mas acabara prometendo que telefonaria, apenas para evitar umadiscussão.

 — Está bem, eu farei isso — concordou, sorrindo.De repente, sem que ela esperasse, Neil a tomara nos braços. Fora

Page 70: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 70/77

um beijo, longo, doce, cheio de ternura, que a derretera por dentro.Naquele momento, Suzanna percebera que estava apaixonada.

Então, saíra correndo em direção ao avião, apavorada com a descoberta.Durante a viagem, mal podia acreditar no que estava sentindo.

Parecia um sonho. Ou um pesadelo.

Como podia se apaixonar por um homem que mal conhecia? Comopodia se apaixonar... por Neil Ardrey? 

"Estou vulnerável por causa do problema de Alex", pensava. "Neilestá sendo muito gentil e... o que sinto é apenas gratidão. Só isso."

Mas, no fundo, ela sabia que era mais, muito mais. O que sentiaera amor.

Perdida em seus pensamentos, Suzanna observava a paisagem pela janela do carro que fora buscá-la no aeroporto. Viu casais caminhandoabraçados pelas calçadas, viu homens solitários, viu mulheres quepareciam tristes...

De repente, percebeu que estava pensando em como seria bom seNeil estivesse ali, com ela.

 — Pare com isso, Suzanna Howard! — murmurou com raiva. — Você está ficando louca!

Minutos depois, o carro estacionava em frente ao Hotel Alhambra,um edifício luxuoso de vidro e concreto. O motorista ajudou-a a descer eela se dirigiu à recepção. Ao assinar o registro, notou que era tratadacom deferência especial pelo recepcionista.

"Neil deve ser bem conhecido por aqui", pensou, com uma ponta deorgulho.

O carregador que a acompanhou até o quarto também não parou

de falar e de se derramar em gentilezas durante o caminho. — A senhora é inglesa, certo? Quanto tempo ficará aqui? Gosta doverão?

Suzanna respondia automaticamente. Seus pensamentos estavammuito, muito longe dali. Quando o rapaz, finalmente, deixou a mala aolado da penteadeira e, após aceitar uma gorjeta, foi embora, ela caiuexausta sentada na cama. Olhou ao redor. O quarto era moderno,espaçoso, muito bem mobiliado e, sem dúvida, caríssimo. Neil reservarauma acomodação de primeira classe e, com certeza, a conta seriaastronômica. Ela teria preferido um hotel mais modesto, mais de acordocom seu orçamento. "Procurarei uma pequena pensão, se precisarpermanecer na Espanha por mais tempo", pensou.

Levantou-se e desfez as malas, sentindo-se exausta, um poucodolorida, a testa latejando. Tomou um banho e meia hora depois jáestava deitada, as pálpebras se fechando de sono.

O telefone tocou. Suzanna abriu os olhos assustada: podia ser umachamada do hospital!

 — A... alô? — atendeu, sufocada de angústia. — Suzanna? Você está bem?Ao reconhecer a voz de Neil, uma alegria louca a invadiu. De

repente, percebeu que já era dia claro.

 — Que horas são? — perguntou, com o coração aos pulos. — Já passam das nove. Dormiu bem?

Page 71: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 71/77

 — Sim... — Falei com o hospital agora há pouco. Informaram-me que Alex

está bem melhor. Que tal o achou, ontem? — Parecia péssimo, mas a enfermeira me assegurou que ficará bom

em uma semana, mais ou menos.

 — Isso é ótimo! Sian ficou muito preocupada. Ela queria ir até aí,mas eu a aconselhei a esperar mais alguns dias. Quando Alex melhorar,você poderá perguntar a ele se gostaria de receber a visita de Sian. Fizbem, não acha?

  — Não posso acreditar no que estou ouvindo! — explodiu ela,finalmente. — Foi você que... agora está falando como se...

 — Você não me parece muito bem — interrompeu ele. — Comeualguma coisa depois que saiu de Londres? Alimente-se bem e procuredescansar. Seu quarto é confortável?

 — É muito bom. Bom demais. Eu pensei em...  — Cuide-se — interrompeu ele novamente. — Preciso desligar,

agora. Meu dia vai ser cheio, hoje. E não se esqueça: se precisar de mim,é só telefonar. Providenciei para que o carro ficasse à sua disposição. Omotorista é cuidadoso?

 — É, sim. Ele me disse que você ia pagar a conta. É um absurdo,não posso deixar que...

 — Tchau, Suzanna.Ela ouviu um ruído, como um estalo, do outro lado. Parecia... um

beijo? — Neil — gritou, furiosa. Mas ele já havia desligado.Suzanna colocou o fone no gancho e decidiu que não usaria mais o

carro. E também ia devolver a Neil todo o dinheiro que ele gastara, cadacentavo! Estava acostumada a pagar as próprias contas. Jamais poderiapermitir que um homem, por mais rico que fosse, pagasse por ela.

Mas estava muito confusa. Apesar da raiva, sentia uma estranhafelicidade. Era de enlouquecer aquela mistura de sentimentos: gratidãoe ofensa, admiração e ressentimento, ódio e... amor?  Não sabia comoreagir diante da generosidade de Neil. Principalmente porque nãoconseguia entender por que ele se importava tanto com ela.

Quando chegou ao hospital, Alex estava acordado. Sorriu ao vê-la eisso deixou-a tão feliz que, por pouco, não desatou a chorar. Erainacreditável que na noite anterior ele houvesse estado tão mal.

 — Olá, Susie. A enfermeira disse que você veio me ver ontem ànoite. — Ele fez uma careta. — Ontem foi o pior dia da minha vida!Pensei que ia morrer.

Suzanna sentou-se na beirada da cama e segurou a mão dele. — Você estava horrível mesmo. Confesso que fiquei com medo

também. Meu Deus! Estou tão feliz em vê-lo bem novamente! — Garanto que estou mais feliz que você — brincou ele. — Minha

temperatura está normal. Finalmente! — Desde quando está doente? — Há três dias. Pensei que fosse apenas uma dor de barriga, mas o

médico do hotel fez questão de me examinar. Quando ele disse que euestava com tifo, fiquei morto de medo! Então, vim ao hospital e

Page 72: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 72/77

confirmaram o diagnóstico.Ele parou de falar e olhou a irmã com carinho. — Obrigado por vir. Como foi que conseguiu chegar tão depressa?

Aliás, eu nem esperava que você viesse. Pedi que lhe mandassem umtelegrama, mas deixei bem claro que não queria alarmá-la. Sinto muito

por tê-la metido nessa confusão, maninha. Pensou que eu fosse bater asbotas?

 — Não brinque com isso, Alex — repreendeu-o Suzanna. — Euestava preocupada!

 — Desculpe, Susie. Puxa, eu acho muito chato você ter saído daInglaterra por causa de uma bobagem.

 — Ora, bobagem é o que você diz agora. Fique sabendo que eupretendo aproveitar estas férias forçadas. Assim que sair daqui, voutomar sol na piscina do hotel, nadar, depois farei umas compras...

 — Onde está hospedada? — No Alhambra.Ele arregalou os olhos. — Lá?! Mas não é muito caro? — Bem, talvez eu me mude para uma pensão mais tarde — disse

ela, evasiva. Não queria contar nada a respeito de Neil. Ainda não.A enfermeira apareceu, dizendo que Alex precisava descansar, e

praticamente a expulsou do quarto. — Estarei de volta amanhã — prometeu Suzanna. — Quer que lhe

traga algumas revistas?Alex adorou a idéia e atirou um beijo de agradecimento. Ela

retribuiu, já na porta.

Ao sair do hospital, resolveu dar uma volta pela cidade. Andou semdestino por algum tempo, até que foi dar numa praia. Então, tirou assandálias e caminhou descalça pela areia. Crianças brincavam à beirada água, jovens de corpos bronzeados se estendiam preguiçosamente aosol, faziam "cooper" ou jogavam tênis.

Suzanna lembrou que precisava de um maiô e olhou em direção àcalçada, procurando por algum sinal de comércio. À certa distância,numa ruazinha perpendicular à avenida, um aglomerado de gentechamou-lhe a atenção. Olhando melhor, percebeu que se tratava deuma feira. Havia barracas com toldos de várias cores espalhadas pelascalçadas. Suzanna enfiou as sandálias novamente e foi até lá.

Havia barracas de frutas e verduras colhidas nos pomares e hortasda região; outras expunham peixes frescos, camarões, mariscos e váriosfrutos do mar em caixas enormes, cobertas com gelo picado; outrasainda vendiam flores, queijos, frutas secas, doces caseiros, bijuterias.

Depois de caminhar, encantada, no meio daquela alegre confusão,encontrou uma barraca que vendia roupas de praia e decidiu levar ummaiô branco, lindíssimo e bem provocante.

No caminho de volta ao hotel, parou para comprar revistas, ao ladode uma banca de pastéis. Lembrou-se, então, de que não comia desdeque deixara o hotel de manhã.

Quando chegou ao Alhambra, pediu um lanche reforçado e foicomer no terraço do quarto, admirando o enorme jardim, em cujo centro

Page 73: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 73/77

ficava a piscina.Seus pensamentos voaram para Londres. A imagem do rosto

moreno de Neil, que até aquele momento parecia ter se apagado umpouco, diante das novidades que a cidade oferecia, surgiu outra vez emsua mente, nítida, forte, ameaçadora.

Suzanna suspirou. Precisava reagir. Não podia se abandonaràquele sentimento que poderia destruí-la.

 Terminou de comer, vestiu o maiô e desceu para a piscina. Tomarum pouco de sol e nadar seriam uma boa distração, decidiu. Duranteuma hora, se deliciou com a sensação do sol e da água em sua pele.

Quando voltou ao quarto, estava cansada, mas sentia-se mais levee relaxada. Mesmo assim, não conseguia parar de pensar em Neil, noque sentia por ele e no que não deveria sentir.  Tomou uma ducha e,depois de secar os cabelos com uma toalha felpuda, enfiou-se num robede seda branco, deitou-se na cama e tentou ler uma das revistas quecomprara para Alex. Porém, não conseguia se concentrar. Finalmente,vencidas pelo cansaço, suas pálpebras se fecharam e ela adormeceuprofundamente.

Acordou sobressaltada, ao ouvir alguém batendo na porta doquarto, e pensou que fosse uma alucinação, ou que ainda estivessesonhando, quando deu de cara com Neil. O susto foi tão grande queperdeu o fôlego e não pôde dizer nada.

Neil examinou-lhe o rosto com atenção, franzindo as sobrancelhas. — O que foi? — perguntou, preocupado. — Está doente? Você está

tão pálida!Sentindo um estranho torpor, Suzanna fechou os olhos. Tinha a

nítida impressão de que ia desmaiar. E, se Neil não a amparasse,provavelmente desmaiaria mesmo. Ele a ajudou a se deitar na cama esentou-se ao lado dela.

Em pouco tempo, Suzanna já se sentia melhor, embora seu coraçãoestivesse batendo feito louco dentro do peito.

 — Eu estava dormindo quando você bateu — disse, sorrindo meiosem jeito. — Acho que me levantei rápido demais. Por isso fiquei tonta.

Neil pressionou-lhe o pulso com a ponta do dedo para sentir apulsação. Olhava casualmente para o corpo dela, mas Suzanna corou,lembrando-se de que estava protegida apenas pelo robe de seda. O laçodo cinto havia afrouxado e o decote estava aberto, deixando os seiospraticamente à mostra. Puxou a mão que Neil segurava, fechou o robe eamarrou o cinto novamente.

Neil arqueou as sobrancelhas: — O que houve com o seu coração? Está disparado. — Levei um susto. Não esperava ver você. O que veio fazer aqui?Ela tentava parecer segura, mas sua voz estava fraca e alterada

pelo nervosismo. — Você almoçou? — quis saber ele. — Tomei um lanche reforçado. Você não tinha um compromisso

importante, hoje?

 — Sim, mas consegui adiá-lo. Comeu alguma coisa no café damanhã?

Page 74: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 74/77

Suzanna cerrou os dentes, irritada. — Por que essa obsessão com minhas refeições? Você ainda não me

disse por que veio. — Como está Alex? — Bem melhor, obrigada.

Com a ponta dos dedos, Neil afastou uma mecha de cabelos quehavia caído sobre a testa dela.

 — Você tomou sol? — perguntou mansamente. — Está bronzeada.Suzanna desviou o olhar para a janela, tentando disfarçar a

perturbação. — É melhor acender a luz, já está escurecendo — falou.Sem lhe dar ouvidos, Neil passou a acariciar-lhe o rosto. — Por que veio para cá, afinal? — insistiu ela, irritada. — Não me

diga que está preocupado com a saúde de Alex! Você nem mesmo gostadele!

 — Ele é seu irmão e eu me preocupo com tudo o que se relaciona avocê.

 — Mas... — Vamos parar de fingir? — murmurou ele, apoiando o braço no

travesseiro em que ela repousava a cabeça e aproximando o rosto dodela. — Você sabe por que estou aqui.

Suzanna sentiu um nó na garganta e começou a tremer. — Acho que não ficou surpresa ao me ver — continuou ele. — Sabe

como me sinto a seu respeito. Deixei isso bem claro, não? — Não quero... ter um caso com você — conseguiu balbuciar ela.Neil sorriu com ironia.

 — Entendo... É casamento ou nada feito! Não esperava que fossetão convencional, Suzanna. — Não é nada disso! — reagiu ela, muito vermelha. — Eu não quero

me casar. Não quero nada com você.Sentiu o corpo dele ficar tenso, mas não se atreveu a levantar os

olhos. — Não estou procurando um marido — continuou. — Nem um

amante. Não quero me envolver com ninguém!  — Tarde demais, minha querida. Você já está envolvida.Suzanna levantou os olhos. Seu rosto evidenciava a vulnerabilidade

que sentia. Neil estava sério. — Acha que não está envolvida comigo?Ela negou com um gesto de cabeça. — Não está apaixonada por mim? — insistiu ele.Ela desviou o olhar. — Ora, mas que conversa ridícula! — exclamou. — Sinto-me como

se estivesse num tribunal! — Olhe para mim e diga que não está apaixonada — desafiou ele.

 — Não pode, não é? Você não sabe mentir. Essa é uma das coisas quemais gosto em você. Mesmo quando fica calada, basta olhar os seusolhos para saber o que está sentindo.

Suzanna suspirou. — Neil, escute: eu não sou um bichinho de estimação. Gosto de

Page 75: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 75/77

ficar sozinha a maior parte do tempo. Não quero terminar como minhamãe, que viveu em função de uma família, de filhos, de um marido. Souegoísta. Adoro meu trabalho e não quero abrir mão dele. Algumasmulheres sentem-se felizes cozinhando e lavando roupa para seusmaridos, mas eu não sou assim.

 — Tenho uma governanta; não estou pedindo que você a substitua.Droga! Eu nem sonharia em sugerir que você desistisse de seu trabalho!Pensa que estou lhe pedindo para ser minha prisioneira? Seu conceitode amor é muito estranho. Será que nunca amou um homem?

Suzanna corou. — Nunca! — concluiu ele, um tanto surpreso. — Tive muitos amigos homens — defendeu-se ela. — Acontece que

não acredito nesse amor do qual as pessoas tanto falam! Não passa deuma ilusão, uma fantasia! Encaixa bem num bonito conto de fadas, masa vida real é diferente!

Ela arriscou uma olhada rápida para Neil, mas, vendo que os olhosverdes brilhavam divertidos, baixou o rosto novamente.

 — Você está empregando o tempo de verbo errado — observou ele. — Isso é o que você pensava. Agora, sabe que é diferente.

 — Não, eu continuo a achar a mesma coisa! — teimou ela tentandoresistir.

 — Sei que não é fácil a gente mudar de idéia. Eu tinha uma arespeito das mulheres: pensava que todas fossem como minha mãe.Demorei um bocado para admitir para mim mesmo que você eradiferente. E que Sian, além de ser filha de minha mãe, é filha de meupai, também.

 — Fico contente em ouvir isso. Gosto muito de Sian, apesar de elater magoado Alex.  — Lamento realmente que Alex tenha se machucado. Estou

disposto a reconhecer os meus erros. Descobri que posso aprender comeles. Ainda bem, não é? Se não pudéssemos aprender com os nossoserros, ainda estaríamos vivendo nas cavernas!

Suzanna riu. — É engraçado você fazer essa comparação! Sempre o vi como um

homem das cavernas. — Ela ficou mais séria. — Mas, de qualquerforma, mesmo que tenha mudado de opinião a respeito de Alex, achodifícil ele mudar de opinião a seu respeito. Ficará furioso se descobrirque tenho me encontrado com você.

 — Ainda não contou a ele? — Ele está doente! Contarei mais tarde, quando estiver mais forte.

Por enquanto é melhor não nos vermos mais. — Você não está sendo coerente. Acabou de dizer que odeia viver

em função de outra pessoa e agora diz que não pode me ver porque Alexnão gostaria! Não acha contraditório?

 — Não, é muito diferente. Alex é meu irmão, não meu amante. E eucompreendo perfeitamente por que ele não vai com a sua cara.

 — Eu disse a Sian que ela pode ver Alex quando quiser.

 — Ora, ora! Finalmente, deixou que sua irmãzinha passe a tomarconta do próprio nariz! — disse Suzanna com ironia. — Mas e se você

Page 76: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 76/77

mudar de idéia mais tarde? Espera que ela mude também?Neil começou a dar sinais de impaciência: — Mas que mulherzinha mais difícil de se convencer! — Deu um

suspiro. — Acho que não devia ter lhe dito tudo assim, de repente; podiater usado outra tática. Mas sei que você sente o mesmo que eu. Só que é

muito teimosa e cabeçuda, por isso não quer dar o braço a torcer. Vocêestá com medo! Meteu um monte de idéias distorcidas na cabeça sópara se proteger! Sian me contou que você disse que ela precisavacrescer, amadurecer. Bom conselho! Por que você mesma não oemprega?

Suzanna ouvia tudo sentindo uma fúria crescente. E estava com asfaces muito vermelhas quando retrucou:

 — Prezo muito a minha independência, só isso! Por que você nãome leva a sério, de vez em quando?

Ele a fitou com uma expressão indefinível no rosto moreno. — Com muito prazer!Desceu a mão sobre o cinto do robe e, no mesmo instante,

desamarrou-o com agilidade.Paralisada pelo susto, Suzanna o viu baixar os olhos para seu

corpo nu e notou a expressão maravilhada do rosto dele. Quando asmãos quentes de Neil envolveram seus seios, porém, afastou-as com umgesto brusco e segurou as bordas do robe com a firme intenção defechá-lo de novo.

Foi inútil. Neil agarrou-lhe os pulsos com firmeza, erguendo-osacima do travesseiro, e prendeu-os contra o colchão. Em seguida,deitou-se sobre ela e inclinou a cabeça para alcançar-lhe a boca. Mas

Suzanna virou o rosto. Então, ele segurou os pulsos dela com uma sómão e, com a outra, forçou-a a encará-lo. Seus olhos se encontraram.Os lábios dele se aproximaram lentamente, tocando a boca de Suzannacom muita delicadeza, sem pressa. À medida que ela foi relaxando, obeijo foi se tornando mais exigente, até explodir em uma fúriaapaixonada.

Com o corpo incendiado de desejo, Suzanna desistiu de lutar.Correspondeu ao beijo com a mesma paixão, ansiosa e palpitante. Seusdedos tatearam sobre a camisa de Neil à procura dos botões. Queria apele quente, os pêlos macios que cobriam aquele peito largo. Num gestorápido, Neil arrancou a camisa do corpo, atirando-a no chão. Já eranoite. A luz fraca da lua iluminava o quarto suavemente, mostrando aSuzanna uma silhueta atlética e sensual que ora se tornava mais nítida,ora mais escura e indefinida.

 — Suzanna... — sussurrou Neil com o rosto enterrado no ombrodela. — Não lute contra mim, contra você mesma. Eu a amo! Você éminha mulher, a única que jamais desejei chamar de minha... Você mefaz rir, me faz pensar. Não posso perdê-la. Sei que você também mequer. Seus olhos e seu corpo me dizem isso.

 — Sexo não é base para um relacionamento. É apenas uma reaçãoquímica — resmungou ela baixinho.

 — De certa forma, sim. Mas depende dos nossos sentimentos.Quanto mais forte o sentimento, melhor é o sexo.

Page 77: 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

8/3/2019 15617958 Charlotte Lamb Guerra de Amor 1 SABRINA

http://slidepdf.com/reader/full/15617958-charlotte-lamb-guerra-de-amor-1-sabrina 77/77

Pressionando mais o corpo contra o dela, Neil aprisionou-a entre os joelhos. Sob a luz mágica do luar, Suzanna distinguia as feições do rostoanguloso, a curva da boca, os olhos de um verde profundo que a fitavambrilhantes como nunca. Estava emocionada, com o coração aos pulos.

 — Eu a amo. Diga que não me ama e irei embora — murmurou ele,

num tom rouco, no qual havia uma ponta de medo. — Isso não é justo — queixou-se ela, as lágrimas brotando em seus

olhos. — Tudo o que tem a fazer é dizer a verdade. — Você está fazendo parecer muito simples, Neil. Mas não é. Como

posso saber se vai dar certo? Como posso saber se isto não passa de umsonho?

 — Isto é verdadeiro, Suzanna.Neil tomou-lhe uma das mãos e colocou-a sobre seu peito. Os

dedos dela começaram a acariciar os músculos duros, os pêlos negros eespessos, como se tivessem vida própria.

 — Eu a amo — murmurou novamente.Era inútil tentar reprimir por mais tempo o amor e o desejo que a

invadiam! Suzanna levantou a cabeça para beijá-lo, arqueando o corponum gesto de entrega total.

 — Eu o amo! — soluçou. — Muito...Neil pôde ouvir perfeitamente, embora a voz dela houvesse sido

abafada pelo desejo ardente, apaixonado que se seguiu.Na verdade, porém, as palavras eram desnecessárias. Ele podia

sentir que ela o amava!Apertou o corpo de Suzanna de encontro ao dele. Faria aquele

momento durar para sempre... eternamente.

FIM