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Hannah Howell - Refém Nas Terras Altas (CHE 351)

Querida leitora, A inigualável Hannah Howell está de volta, e nos transporta para as

magníficas paisagens das Terras Altas da Escócia de 1500, com um romanceesplendoroso entre um homem forte, determinado e poderoso, e a mulher encantadora e corajosa que ele mantém cativa e, ao mesmo tempo, sob sua

 proteção...Um sonho de romance... Um encanto, do princípio ao fim!Leonice Pompônio Editora

Copyright ©2008 by Hannah HowellOriginalmente publicado em 2008 pela Kensington Publishing Corp.

PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP.NY. NY-USA Todos os direitos reservados.

 Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhançacom pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.

 TÍTULO ORIGINAL: HIGHLAND CAPTIVE

EDITORALeonice Pomponio

ASSISTENTES EDITORIAISPatrícia ChavesSilvia Moreira

EDIÇÃO/TEXTO Tradução: Cristina Tognelli

ARTEMônica MaldonadoMARKETING/COMERCIAL

Andréa RiccelliPRODUÇÃO GRÁFICA

Sônia SassiPAGINAÇÃO

Ana Beatriz Pádua

Copyright© 2010 Editora Nova Cultural Ltda.Rua Butantã, 500 — 10° andar — CEP 05424-000 — São Paulo— SP

www.noyacultural.com.brImpressão e acabamento: RR Donnelley

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Capítulo I

Escócia, 1500

O espanto congelou as feições do belo jovem quando o cavalo no qualele montou deitou-se, lançando-o ao chão. Por um instante, ele simplesmenteencarou o garanhão branco se levantar devagar. Limpando as roupas ao seerguer, olhou fixamente para a moça pequena e delicada que, sentada poucoalém, ria convulsivamente.

— Pirralha! — disse ele com afeição na voz. Um sorriso começando asurgir em seus lábios. — Quando foi que lhe ensinou esse truque?

— Enquanto você se divertia em Aberdeen, Leith. Leith sorriu ao se deitarao lado da irmã, acomodando a cabeça sobre os braços cruzados.

— E que dias gloriosos eu tive...

— Você não toma jeito mesmo, não é? — Os olhos cor de água marinhade Aimil brilhavam de contentamento. — O que tia Morag diria?

— Deus me livre disso! — ele observou ao se sentar. — É melhorvoltarmos, está ficando tarde.

— Temos mesmo? Não saí sequer uma vez daquele castelo o mês inteiro.

— É mais seguro já que os MacGuin estão à solta de novo. Eu não deveriater permitido que você me convencesse a sair. Nem mesmo estando vestidacomo um rapaz. Nós até podemos passar despercebidos, mas não esse seugaranhão. — Segurando-a pela mão, Leith conduziu-a até o cavalo. — Agorame conte sobre esse casamento do qual ouvi comentários. — Viu que elaempalidecia.

— Ah, não!... É o que estou pensando?

— Sim, mas não consigo me conformar. Eu não gosto de Rory Fergueson.

Nem Leith gostava, mas refreou o comentário.

— Vou falar com papai.— Isso de nada adiantará, o casamento foi arranjado há muito tempo. E

papai parece ansioso para se livrar de mim.

Não havia como Leith negar essa triste verdade. O fato era que, desdeque Aimil havia começado a mostrar os primeiros traços de mulher, eraignorada pelo pai. As irmãs mais velhas sabiam disso, e os dois irmãos maisnovos também, bem como o restante do clã.

Qualquer tentativa de tocar no assunto com o pai resultava num ataquede fúria ou num silêncio resoluto. E, agora, ele estava disposto a entregá-la a

um homem sobre o qual se ouviam os boatos mais hediondos.— Mesmo assim tentarei falar com ele. Papai lhe deu alguma explicação

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sobre o porquê de o casamento ser realizado agora?

— Disse simplesmente que já era hora de eu me casar

— Aimil falou com um tom de frustração na voz. — E que haviaprometido isso a um velho amigo.

— Isso não é um bom motivo. Se você está sendo obrigada a se casar

com. um homem que não quer, ele ao menos precisa lhe dar um bom motivo.Ainda que o arranjo tenha sido feito enquanto você era apenas um bebê.

Aimil sorriu diante da zanga do irmão. Leith era tão parecido com o pai...Ele distribuía ordens que esperava ver cumpridas imediatamente.

Diferentemente do patriarca, porém, explicava seus motivos, casoalguém o questionasse.

Mesmo sabendo que a raiva e a determinação dele não a livrariam docompromisso, sentia-se confortada por poder contar com um aliado. Quemsabe não conseguisse ao menos arrancar uma explicação do pai?

Uma aliança fora a primeira coisa que lhe viera à mente, pois ainda queestivessem longe da pobreza, clãs pequenos como os deles eram alvoconstante dos MacGuin. Essa sua teoria tinha ido por água abaixo, pois afamília já fizera aliados com os casamentos de Giorsal e de Jennet, ligando osMengue aos MacVern e aos Broth. Por isso não acreditava que casar-se comRory fizesse muita diferença, só tornaria sua vida miserável.

Leith sentia que a urgência em voltar para casa não se devia mais aofato de estar ficando tarde. Ele sabia que o pai tinha conhecimento do homemque Rory se tornara e por isso não entendia sua decisão. Assim como nãocompreendia o comportamento dele para com Aimil, a mais bela das irmãs.

Quanto mais ele pensava em sua irmã predileta nas mãos de Rory Fergueson,mais determinado ficava em pôr um fim a esse casamento.

Quaisquer que fossem os planos que Leith tivesse, estes se perderam aosom do galope de cavalos se aproximando com as cores do estandarte dosMacGuin.

O jovem Artair MacGuin se perguntou por que dois rapazes tolos secolocariam em seu caminho na volta para casa. Reconhecendo as cores do clãMengue, pensou que esta poderia ser uma oportunidade de impressionar oirmão mais velho com dois prisioneiros para um posterior resgate. As duasexcelentes montadas seriam um prêmio adicional. O irmão não tinhaautorizado essa sua incursão nos territórios do sul, mas Artair estava certo deque o ganho obtido apaziguaria as coisas entre eles:

Desembainhando a espada, Leith se pôs entre Aimil e os cavaleiros. s —Fuja enquanto pode, eu os deterei.

O instante de hesitação em deixar o irmão para trás custou-lhe caro.Aimil mal havia montado em seu cavalo e um dos MacGuin segurou a rédea. Ochute que ela lhe deu no rosto mostrou ser uma vitória temporária e por maisque ela e a montaria se esquivassem, lutando bravamente e deixando oshomens com diversos hematomas, ela acabou sendo subjugada com um golpe

na cabeça. Antes de desmaiar ainda conseguiu ver o irmão sendo atacado pordiversos homens e acreditou que ele morreria.

O forte odor de cavalo foi a primeira sensação que ela teve ao voltar a si.

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Percebeu que estava amarrada na parte de trás de um cavalo que avançavarapidamente. O corpo adormecido não parecia se importar com o abuso,apenas a cabeça latejava em compasso com as patadas do animal. Nãoconseguia ver Leith em seu campo de visão, mas recusava-se a admitir que elepudesse ter morrido.

O castelo dos MacGuin surgiu e os cavalos diminuíram a velocidade.Sentiu um peso no coração, pois uma vez lá dentro, seria muito mais difícilfugir. Não era nenhum soldado, mas sabia bem que a construção era uma for-taleza. Estava certa de que pediriam resgate pela sua devolução e a de Leith,porém a permanência ali, por menor que fosse, a fazia estremecer.

Não sabia se seu disfarce ainda estava intacto e, se estivesse, por quantotempo conseguiria manter a farsa. Ouvira um bom número de histórias eimaginava qual seria seu fim se descobrissem que um dos rapazes capturadosera, na realidade, uma moça.

— Acordou, hein? Aposto como aquela luta acabou com as suas forças,

moleque.Aimil fechou os olhos num instante de alívio diante do homenzarrão que

afrouxava a corda de seus pulsos. Ele não parecia ser do tipo de cortavagargantas a esmo, mas também estava certa de que não poderia confiarcegamente. Afinal, o próprio pai não a decepcionara ao lhe negar o amor deoutrora?

— Pare de me olhar assim — o homem zombou ao soltá-la e deslizá-lapelo lombo do cavalo. — Não parece ter forças para executar a ameaça quetraz nos olhos.

— Coloque-os no calabouço, Malcolm — Artair ordenou.

Ainda segurando uma fragilizada Aimil, Malcolm franziu o cenho.

— Eles são apenas dois.garotos e não parecem estar tão saudáveis nomomento.

— Esses garotos acertaram metade dos meus homens bem como asmontarias. Leve-os para o calabouço! Pelo menos assim não terei de mepreocupar em reforçar a guarda até o regresso de Parlan. Acho que serámelhor ele determinar o montante do resgate.

Malcolm ainda se mostrava preocupado ao sustentar Aimil em seusbraços. Ela não parecia capaz de ficar em pé sozinha. Viu que o outro rapaztambém estava sendo carregado. Jogar dois jovens no inferno, como erachamado o calabouço, parecia-lhe cruel. A seu ver, eles não representavamameaça alguma. Eram prisioneiros, contudo ele tinha certeza de que o senhordas terras não os trataria com tamanho desprezo.

 Já estava ao pé da escadaria quando percebeu que o cavalo branco osseguia é tratava- os que tentavam detê-lo com indocilidade letal.

— Coloque-me no chão!

— Não consegue ficar em pé — Malcolm resmungou, temendo o cavaloque se aproximava.

— Pois então me segure direito. Preciso falar com Elfking antes que elemate alguém para ficar perto de mim.

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— É mesmo. O que devo dizer quando perguntarem meu nome?

— Diga que é Shane. Papai entenderá o que aconteceu e aceitará nossosubterfúgio.

— Ele deve estar se perguntando onde estamos a esta altura. — Aimilsuspirou, sabendo que o pai ficaria muito preocupado; pelo menos com Leith.

Assim que Lachlan Mengue notou a ausência de dois de seus filhos,chegou a notícia de que os MacGuin haviam passado pelas terras dosFergueson. Começou a temer o pior quando seus melhores batedores nãoconseguiram encontrar nenhum sinal de Leith nem de Aimil. O instinto lhe diziaque eles haviam sido capturados. Muitos dos lugares onde eles costumavamcavalgar estavam no caminho do grupo dos MacGuin e somente um tolo nãoperceberia a oportunidade de resgate que eles representavam. E ParlanMacGuin não era um tolo,

A noite passou e o outro dia chegou. Lachlan confortava-se na bebida àespera de uma notícia. Qualquer notícia. Seu herdeiro e sua filha caçulaestavam desaparecidos e ele se sentia perdido, a despeito de seus quatrooutros filhos tentarem consolá-lo.

Antecipando um pedido de resgate, começou a rever a contabilidade emodos de levantar um montante. Mesmo quando outro dia se passou semnovidades, agarrou-se ao pensamento de que eles eram prisioneiros. Qualquerum que se mostrasse cético tinha de enfrentar sua ira. Seus filhos estavamvivos, e ele se recusava a pensar de outro modo até que os corpos sem vidadeles lhe fossem apresentados.

Aimil temia pela vida do irmão. Seus ferimentos podiam ser superficiais,mas não estavam sendo cuidados. Dois dias e duas noites no frio e na umidadedaquele buraco, abateram-no. Leith ficava mais tempo inconsciente do queconsciente, e ela tinha certeza de que ele começava a ter febre. A comidaparca uma vez ao dia e uma manta fina de nada adiantavam.

Ela não conseguia acreditar na insensibilidade dos guardas queignoravam seus apelos. Os dois homens que haviam demonstrado maisempatia com a situação de ambos, tinham sido substituídos por outros, quesugeriram que o motivo do afastamento fora justamente a consideração para

com ela e seu irmão.No quarto dia de confinamento, quando o guarda trouxe o suprimento

diário, não havia mais dúvida, Leith ardia em febre. Aimil o segurava enquantoele se debatia, chorando pela inabilidade de cuidar dele, nem mesmo de lhebanhar o rosto. Dormira pouco durante a noite, cochilando brevemente nospoucos momentos de sossego.

Sua face estava suja e marcada pelas lágrimas ao encarar o homem queos observava do alto.

— Nem assim vai nos tirar deste buraco imundo?

— Não posso, rapaz — o homem respondeu com simpatia para omoleque que o fitava com o rosto marcado. — O senhor do castelo ainda nãoretornou e é o irmão quem está encarregado no momento. Ele não pretende

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deixá-los sair.

— Então ele é um tolo! Não terá nada com que pedir resgate. Mesmo umhomem cego percebe que meu irmão está febril. Ele pode morrer.

O guarda não teve coragem de confessar que Artair estava de fatocego... mas pela bebedeira. Não havia como convencê-lo a entender a precária

condição dos prisioneiros. Ninguém ousava agir sem o consentimento dele.Lembrá-lo da fúria de Parlan ao voltar e encontrá-los mortos apenas os faziareceber chibatadas. Não havia nada a fazer a não ser esperar o regresso deParlan. Com um suspiro, tornou a fechar a grade, retraindo-se diante da línguaafiada do moleque. Como ele desejava que Artair estivesse em seu lugar paraser o alvo.

Se o patrão não voltar logo, só haverá um rapaz nesse buraco, e cheio devingança, ele pensou.

Catarine Dunmore se espreguiçava tal qual uma gata contente com acaça. De fato, se passara um bom tempo até conseguir levar Black Parlan até

sua cama, mas valera a pena.Ele fazia seus antigos amantes parecer garotos desajeitados ou eunucos.

Observando-o ao lado da janela, deixou que o olhar passeasse pela estruturamusculosa.

Agora que o tinha, não permitiria que ele fosse embora. Suaautoconfiança lhe garantia que uma noite em sua cama bastava para que elepermanecesse a seu lado.

— Volte para a cama, Parlan — ronronou, passando suavemente a línguapelos lábios quando ele se voltou para fitá-la.

Olhos negros estudaram a mulher na cama, sem expressão alguma.Parlan não gostava de Catarine, mas não tinha como negar que ela o satisfaziana cama. Havia, contudo, algo de repulsivo no apetite insaciável dela. Naverdade, não se importava com os sentimentos de Catarine, mas detestava servisto apenas como a extensão de seu membro. Não duvidava de que elaconseguisse se satisfazer com qualquer objeto inanimado.

Suspirou silenciosamente ao se aproximar da cama onde ela revelavaseus atrativos, que já não o apeteciam agora que suas necessidades tinhamsido apaziguadas. Notou a raiva que se instalou no belo rosto ao começar a sevestir e a formular suas despedidas. Se a insultasse, a ira dela seria

imensurável, e ele não queria esse tipo de problema.A família de Catarine ansiava por vê-la casada e isso tornava a situação

um tanto perigosa. Parlan sabia, porém, que não podia reclamar. Sucumbiraaos seus apelos meramente por desejar experimentar o talento pelo qual elaera conhecida.

Seis meses antes, ele teria voltado para a cama, pronto para mais. Nosúltimos tempos, entretanto, vinha sofrendo com uma insatisfação incessante.Assim que seu desejo inicial era satisfeito, perdia o interesse pela mulher emquestão. Aos vinte e oito anos de idade sabia que o problema não era suavirilidade, mas sim o que ele desejava. E estava claro que não encontraria o

que procurava nos braços de Catarine Dunmore.— Não pode ir embora agora. Estamos no meio da noite.

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— Logo o dia amanhecerá e preciso começar minha jornada atéDubhglenn — ele murmurou.

— Está mesmo indo embora? — Era muito difícil para Catarine deixar araiva e a frustração de lado.

— Preciso. Estou ausente há mais de um mês e seria tolice deixar Artair

encarregado por tanto tempo. — Franziu o cenho ao pensar nas besteiras queo irmão podia ter feito em sua ausência.

— Você não precisa se preocupar com a possibilidade de ele querer lheroubar o poder.

— Sei que não. Mas ele age muito severamente e com pouco juízo. Tenhoalguns projetos em andamento e não posso deixar que ele os arruíne.

Catarine sabia que não devia perguntar sobre esses projetos. Sentando-se na cama, puxou os cabelos de lado, deixando as curvas de seu corpo emevidência, uma maneira que ela sabia que atraía os outros homens. O jogo daconquista tinha terminado rápido demais, e ela precisava de mais tempo paraenredá-lo. Sua família queria que ela se casasse novamente e Parlan MacGuinseria o par< perfeito. Não poderia acusá-lo de ter arruinado sua reputação,pois todos sabiam de suas andanças desde que enviuvara dois anos antes.Entretanto, muitos outros caminhos levavam ao altar. Todos, porém, deman-davam tempo. Não poderia deixar aquela oportunidade escapar. Infelizmente,tudo levava a crer que Parlan estivesse de saída.

— Ora, Parlan — ela sussurrou, de modo sedutor, esticando-se paraafagá-lo intimamente —, o que é mais uma noite?

— Tempo demais — ele respondeu, sucinto, ao se afastar. — Está tudo

pronto para a viagem, não posso ficar mais.Cerrando os dentes para evitar a torrente de imprecações que desejava

vociferar, ela perguntou:

— Quando pretende passar por aqui de novo? Parlan perguntou-se seCatarine sabia o quanto estava sendo óbvia em suas intenções.

— Não sei dizer. Esta época do ano é muito atribulada.

— Logo eu terei de voltar para casa também — ela mentiu. — Quem sabeeu não fico alguns dias em Dubhglenn?

— Se quiser. — Parlan desejou ardentemente que ela não o fizesse ao

abaixar-se para lhe dar um beijo de leve. — Cuide-se, Catarine.Assim que ele partiu, Catarine liberou a fúria que sentia, destruindo o

quarto. Jurou que Parlan não a usaria como se fosse uma garota de tavernaqualquer. Concederia um tempo para ele cuidar dos negócios, e depois iriaencontrá-lo. Uma vez instalada no castelo e na cama dele, tinha certeza de quevenceria aquele jogo.

A madrugada recebeu Parlan no caminho para Dubhglenn. Ainda que eleapreciasse os prazeres da cidade, não gostava de ficar longe de casa por muito

tempo. Se Artair fosse mais velho e menos impulsivo, seria enviado emalgumas dessas viagens necessárias. Infelizmente, tinha certeza de que oirmão passaria o tempo nas tavernas em meio a mulheres e bebida. Isso o

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entristecia, mas era a razão por confiar mais no primo Lagan Dunmore do queno próprio irmão. Só podia esperar que durante sua ausência, Artair nãotivesse feito nada irreparável.

Assim que entrou no pátio interno de Dubhglenn dois dias mais tarde,soube que algo estava errado. As pessoas o receberam com jovialidade, mastambém com um alívio mal disfarçado. Parecia que precisavam lhe contar algo,mas ninguém tinha coragem o suficiente. Ele estava prestes a pedirexplicações quando viu o garanhão.

Sem conseguir falar, de tanta admiração, não perguntou de onde vinha obelo animal, apenas o observou. Pelo menos um palmo mais alto que seucavalo, era uma montaria impressionante. As linhas do corpo indicavam queera um animal veloz. O pelo era imaculadamente branco. Estava pronto aexperimentar até onde a tensão que emanava do cavalo poderia levá-lo,quando Malcolm e Lagan entraram em Dubhglenn.

— Viram este animal espetacular? — Parlan perguntou, lentamente

dando-se conta da tensão nos dois homens.— Sim, eu o vi — Malcolm virou-se na direção de alguns homens que

estavam por perto. — Como estão os rapazes?

— Nada bem. O mais velho está doente e o mais novo lançou-nos apraga dos infernos.

— Acho que nós a merecemos — Lagan interveio. — Não foi feito nada,ninguém cuidou deles?

— Receberam água e comida regularmente — outro homem informou.

— Levei uma manta extra ontem à noite, mas o jovem disse que ela

servirá apenas como mortalha.— Já chega! — O silêncio se fez com o comando de Parlan. — De que

rapazes estão falando?

— Artair fez uma incursão nas terras dos Fergueson — Lagan explicou,sabendo que isso desgostaria Parlan, pois fora realizada sem seuconsentimento. — Na volta, encontrou com dois rapazes com as cores dosMengue e os capturou.

— São muito jovens?

— Um deve ter uns vinte anos. Pode ser considerado homem por alguns,

mas ainda é um menino a meu ver. O outro não tem mais do que doze.— Qual o montante do resgate pedido?

— Nenhum — Lagan respondeu a contragosto. — Eles estão apodrecendono calabouço à espera do seu retorno para que você decida isso.

Malcolm e Lagan seguiram Parlan conforme ele avançava pelo castelo.Quando ele perguntou sobre o paradeiro de Artair e foi informado de que oirmão ainda dormia sob os efeitos do álcool, libertou a fúria incontida. Homensoutrora corajosos abriram caminho em direção ao calabouço.

A grade foi aberta e Parlan vasculhou o buraco, com uma lanterna namão, tentando enxergar algo na escuridão. Um rapazola segurava a cabeça deoutro maior, evidentemente doente, no colo e chorava em silêncio. De repente,o menor notou a presença deles e levantou o olhar. Mesmo marcado por

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sujeira e lágrimas, o rosto era de uma beleza delicada, estranha para ummenino. E essa beleza nem diminuiu pela expressão furiosa com que orecebeu. Parlan notou tudo isso enquanto tentava controlar a raiva que sentiado irmão.

Em qualquer outra instância, o rosto sombrio e imponente que a fitavadeixaria Aimil temerosa, mas não havia como hesitar com seu irmãomoribundo nos braços.

—Abutres! Malditos! Chegaram cedo demais para se refestelarem com ocadáver dele.

— Tire-os daí. Agora! — Parlan comandou ao se afastar da abertura docalabouço, a voz carregada de raiva.

Por um instante Aimil pensou ter ouvido mal. Parecia que, finalmente, otemido Black Parlan estava ali em pessoa, distribuindo ordens numa vozsemelhante à de uma fera. Preocupada com o estado do irmão, sequer passoupor sua cabeça que ela também seria removida dali. Depois que suspenderam

Leith, ela começou a se sentar novamente.— Você também, rapaz — Parlan avisou, tentando parecer calmo, a fim

de não sobressaltar o menino.

Aimil bateu nas mãos que tentaram ajudá-la e subiu pela corda sozinha.O tempo passado naquele buraco onde mal havia espaço para se deitar tinhalhe tirado parte das forças, mas recusava-se a deixar que notassem isso. Naverdade, havia se exercitado diversas vezes naqueles dias, procurando sefortalecer para que pudesse ajudar Leith. Aquilo havia servido aos seuspropósitos, fazendo com que ela, agora, conseguisse se manter de pé semoscilar demais. A última coisa que queria era que aqueles homenspercebessem o quanto ela estava fraca.

— Não me toque, seu porco! — sibilou, quando alguém tentou ajudá-laao se afastarem do calabouço.

Parlan não estava acostumado a esse tipo de tratamento, mas reprimiuseu descontentamento. Mais tarde até poderia encontrar motivos para sedivertir com o comportamento inusitado do menino imundo. Naquele instante,porém, só queria consertar os estragos da situação criada por Artair. Adespeito da sujeira, as vestimentas dos dois prisioneiros revelavam que elestinham alguma posição de prestígio no clã dos Mengue. Um incidente como

aquele poderia se transformar facilmente numa rixa entre gerações. A últimacoisa que ele queria ou necessitava.

Ao chegarem a um dos quartos do castelo, começaram a cuidar de Leithcom presteza. Aimil ficou fora do caminho, mas observava atentamente cadamovimento. Ainda que os cuidados houvessem tardado, ela estava grata pelarapidez com que tinham despido, banhado e deitado seu irmão numa camalimpa e confortável. Como por milagre, os ferimentos não tinham infeccionado,apesar de não terem se fechado como deveriam. Leith ainda corria risco demorte.

— Diga-me seus nomes — Parlan ordenou.

Aimil não se recolheu diante do olhar penetrante do senhor do castelo.— Shane e Leith Mengue. Esse que quase mataram é Leith.

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Praguejando uma vastidão de impropérios, Parlan continuou a ajudar acuidar dos ferimentos do rapaz. Mesmo se ele vivesse, o que parecia possível,o tratamento dispensado ao herdeiro dos Mengue poderia desencadear acontenda que ele tanto temia. O mais jovem deles parecia estar disposto acomeçá-la.

Para um homem de sua idade, Parlan gostava de uma boa batalha e doexcitamento de um ataque ao território inimigo. Eram as rixas que eledetestava, pois se arrastavam por anos a fio, ou de geração a geração até queo motivo que as precipitara fosse esquecido. O que mais o desgostava era queas rixas aconteciam sempre quando a união do clãs contra um inimigo comum,os ingleses, era o que mais precisavam.

Seus pensamentos foram interrompidos quando Artair irrompeuabruptamente no quarto, trôpego. Sua raiva, contudo, teve se esperar para serdesafogada.

Aimil reconheceu o homem que os capturara e ordenara o confinamento

no calabouço. Pelos.'comentários ouvidos, soube que ele estivera bêbadodemais para tomar ciência da gravidade da situação. Por isso cerrou os punhose o atacou.

Artair ainda teve tempo de proteger os olhos, num ato reflexo. Conseguiuse livrar da fúria do ataque, porque dois dos homens seguraram Aimil, emborativessem levado algum tempo para contê-la por completo. Na confusão, omodo feminino como ela atacou passou despercebido. Ao se afastar para ficarà cabeceira do irmão, ela não estava disposta a perdoar ninguém daquele clã.Notou, contudo, que Artair recebera nenhum elogio por seu comportamento.Estava claro que ele agira seguindo somente sua cabeça e não por ordens doirmão mais velho.

— Vejo que encontrou os prisioneiros — Artair disse baixo diante da iraevidente de Parlan.

— Quase só restaram os corpos. Não pensou que eles valeriam maisestando vivos?

— Ninguém me comunicou nada. — As desculpas esfarrapadas foramimpedidas por um tapa de Parlan, que o lançou contra a parede.

— Você estava bêbado demais para entender o que lhe diziam. Tolo! Fezde tudo para matar o herdeiro de Lachlan Mengue! Por acaso tem idéia do isso

provocaria?— Eles não são páreo para nós! — Artair exclamou ao receber novogolpe.

— Talvez não, mas têm laços com os MacVern e os Broth. E também comos malditos Fergueson. — Pressionando Artair contra a parede, Parlan grunhiu:— Eles também têm influência na corte e poderiam provocar a indignação dorei contra nós. — Soltou-o abruptamente, fazendo-o cair no chão. — Isso seriaconsiderado assassinato e se o rei não nos declarasse fora da lei, aindateríamos de enfrentar qualquer um que buscasse vingança.

— Não sei por que está tão bravo — Artair balbuciou. — O rapaz ainda

está vivo e nos propiciará uma bela soma.— Saia! — Parlan gritou. — Saia daqui antes que eu o mande para o

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maldito buraco e o esqueça lá por uma semana!

Não houve hesitação por parte de Artair em obedecer a ordem do irmão.Ele sabia que quando Parlan estava furioso, o melhor era se afastar. Depois dever o estado precário de Leith Mengue, ele também se viu tomado pela culpa.

Parlan voltou a atenção para o rapaz franzino chamado Shane.

— Agora é a sua vez de se limpar.— Não preciso de ajuda. Posso me lavar sozinho. E só vou fazer isso

quando souber que Leith está bem.

— Ele não vai se sentir melhor se tiver de agüentar seu fedor àcabeceira.

Aimil já ia replicar, dizendo onde ele poderia colocar o banho oferecidoquando Leith a tocou de leve no braço.

— Lave-se, pirralho, antes que acabe adoecendo também. Seu cheiro nãoestá lá grande coisa...

Segurando-o pela mão, ela brincou:

— Nem você cheirava a rosas até agora há pouco.

O riso de Leith se transformou em tosse. Lagan se aproximou para ajudá-lo a sorver um pouco de caldo quente.

Aimil observou enquanto preparavam seu banho, na esperança de quelhe dessem a privacidade necessária;

— Aqui estão roupas limpas. — Malcolm colocou algumas peças sobre acama. — Trouxe até um chapéu, já que você parece tão afeiçoado a esse que

traz na cabeça. Nunca o tira?Ignorando a pergunta, Aimil disse:

— Obrigado, Como está Elfking?

— Bem, ainda que o diabo branco não deixe ninguém se aproximar.Aquilo é uma besta indomável — Malcolm resmungou.

— O garanhão branco era seu?— Parlan não disfarçou a surpresa, já quea montaria parecia ser demais para um rapaz tão franzino.

— Ele é meu. Eu o criei desde pequeno. — Ela não reprimiu o orgulho quesentia.

— Bem, não foi muito eficaz ao domar o temperamento dele. Vou cuidardisso.

— Não terá tempo. Meu pai logo pagará o que pede. — Mais uma vez, elasentiu medo de perder uma coisa tão querida.

— Sim, mas o cavalo fica. Gostei dele.

— Duvido de que ele gostará de você. Elfking é um animal muitoperspicaz. Não conseguirá mantê-lo aqui...

As sobrancelhas de Parlan se ergueram.

— Rapaz, ninguém me diz o que fazer.

— Não fiz isso, apenas disse a verdade. Ele não aceitará um novo dono.

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— Veremos. Agora, vá para o banho.

— Assim que saírem. Quero privacidade — disse em desafio, ainda que ocoração lhe batesse descompassado no peito.

Com os lábios finos se retorcendo num sorriso, Parlan disse arrastado:

— Seu desejo é uma ordem. — Virou-se para a porta, sendo seguido

pelos demais. — Enquanto meu amo se banha, tentarei me ocupar com ocavalo.

— Vai tentar montá-lo, é? — Ela nem tentou disfarçar o sorriso, sabendoo castigo que Parlan logo enfrentaria.

— Sim. — Ele estreitou o olhar ao parar perto da porta. — Eu lhe direicomo me saí depois.

— Faça isso...

Ao fechar a porta, Parlan franziu o cenho e resmungou:

— Garoto esquisito...Mais esquisito do que pode supor, Aimil pensou ao ouvir o comentário

abafado.

Assim que se viu livre dos olhares curiosos, despiu-se. Estava ansiosa emtirar a sujeira e as roupas imundas de seu corpo.

Leith a observou e se surpreendeu com as mudanças no corpo da irmã.Havia tempos que não nadavam juntos. A última vez devia ter sido quando elatinha uns catorze anos. Agora, Aimil tinha curvas, ainda que o corpo fossedelgado. Os seios deviam bastar a qualquer homem e as pernas eram maislongas do que davam a entender quando ela estava vestida. A pele eraimaculada, sem nenhum sinal. Se tudo isso não bastasse, ela se movimentavacom graciosidade, sem saber que era sensual. Surpreendeu-se pelos MacGuinnão a terem descoberto.

— Menina, se nosso ardil for descoberto, não se preocupe comigo e fuja— disse sério, o temor pelo bem-estar da irmã deixando-o fortalecido.

Parando para se enxugar, Aimil fitou o irmão, surpresa.

— Está bem, Leith, se você acha mesmo necessário. Ele sorriu de leve,ciente de que ela não sabia de seu poder de atração sobre os homens.

— Será que dá para ver o estábulo daqui? — Ela seguiu para à janela,enquanto vestia a camisa limpa que haviam lhe emprestado.

— Cuidado. Não deixe que a vejam. Seu cabelo mais parece um farol...

Aimil fez uma carranca ao pensar no cabelo que chegava ao fim de suascostas e começou a secá-lo.

— Essa crina maldita!... Fique sossegado, eles não conseguem me verdaqui.

— E então? — Leith perguntou quando ela sorriu sem nada dizer. —Consegue ver alguma coisa?

Mal conseguindo falar por conta de um ataque de riso, Aimil arfou:— Sim, o desempenho de Elfking foi primoroso.

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— Bom Deus, Black Parlan jogado da sela. Como eu gostaria de ver isso.Infelizmente estou tão fraco que mal consigo me cocar...

— Não espere que eu faça isso por você.

O riso de Leith se transformou em novo ataque de tosse. Aimil deixou atoalha cair no chão e se apressou em acudir o irmão e lhe oferecer uma

bebida. Enquanto o ajudava, um jovem musculoso entrou, fixando o olhar emseu cabelo ainda úmido e na camisa entreaberta, e fez a única coisa que lheveio à mente: lançou-se sobre ela.

Aimil arfou ao ser imprensada contra uma cômoda. Leith tentou selevantar, mas acabou desabando na cama. Ela sentiu uma onda de pânico aoter os lábios pressionados, porém teve determinação o suficiente e posicionouo joelho entre as pernas dele, erguendo-o com força. O jovem gritou de dor ese contraiu. Ela, então, juntou as mãos e abaixou-as num golpe na cabeça doinfeliz. Era a primeira vez que fazia aquilo e não esperava ser tão bem-sucedida, mas o rapaz ficou caído no chão.

— Estava me perguntando quanto tempo levaria para se lembrar do quelhe ensinei — Leith disse num sussurro. — Precisa ir embora.

— Como posso ir deixando-o tão fraco?

— Eles não vão me ferir. Ouviu o que disseram, não querem acabar comum cadáver nas mãos. Tem de tentar fugir.

Hesitando, Aimil terminou de se vestir e colocou o chapéu na cabeça.Entreabriu a porta, porém logo percebeu que, pela movimentação, não poderiasair por ali. Ao fechar a porta e se virar, o olhar recaiu sobre um par extra delençóis. Correndo para a janela, avaliou a distância até o chão e tomou uma

decisão:— Vou fazer uma corda com os lençóis e sair pela janela.

— Há homens no pátio — Leith alertou-a.

— Eles não estarão olhando para as paredes do castelo. Descanse, Leith.Esse pequeno período de consciência e força nos mostra que você pode venceressa enfermidade se repousar o bastante. — E começou a amarrar os lençóis.— Já fizemos isso antes e esses lençóis devem ser fortes o bastante para mesustentar. — Sim. Afinal, você não pesa muito.

— Eu preferiria ficar aqui com você...

— Esqueça, você não pode. Esse rapaz mostrou o que acontecerá seficar.

— Black Parlan pareceu não querer problemas...

— Ele acredita que nós dois sejamos homens. E esse aí, sem dúvida, serápunido por tentar pegar o que deveria ser oferecido ao senhor do castelo emprimeira mão. Confie em mim, sua única chance será tentar fugir. — Fraco,Leith fechou os olhos. — Não teme ser deflorada?

Aimil deu de ombros.

— É difícil de dizer. Tenho medo de ser ferida. Foi por isso que entrei empânico quando ele me atacou. Encaro o estupro como a morte. Não há nadaque se possa fazer. Ambos podem acontecer a qualquer momento. Não vou àprocura de nenhum deles, mas não vou me deixar abater sem uma boa briga

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— disse com firmeza, sabendo que seu caráter a faria lutar com quaisquermeios que dispusesse.

Leith esboçou um sorriso e quando o jovem caído começou a se mexer,Aimil o golpeou com um castiçal. Continuou a entrelaçar o lençol, sem deixarde falar:

— É horrível que os homens obtenham prazer contra a vontade dasmulheres, mas esse é um fato da vida. — Amarrou a ponta do lençol na colunada cama e testou sua firmeza. — Assim deve bastar. Deseje-me sorte — disse,suspirando. Desejava poder ficar.

— O que fará quando chegar ao pátio?

— Vou assobiar para Elfking. — Ela sorriu. — Se eu descer pelos muros,despercebida, e conseguir montar antes que os homens me vejam, terei boaschances de escapar.

Não havia como contestar isso, Leith sabia que havia poucos cavaloscom a velocidade de Elfking. Outra vantagem seria que o animal estarialevando uma carga muito menor do que a de seus perseguidores.

Respirando fundo para preparar os nervos, Aimil saiu pela janela. Nãotemia a descida, pois ela e Leith haviam feito incursões semelhantes diversasvezes. A diferença era que usava cordas apropriadas e nunca estivera em fuga.Agora, ela via que as traquinagens de infância tinham muito valor.

Devagar e com confiança, começou a descer, apoiando os pés na parede.O vento estava forte e ela precisou se concentrar para manter a posição.Entretanto seu chapéu saiu voando e, para piorar a situação, viu que a cordaestava curta. Um olhar rápido para baixo a tranqüilizou: poderia cair sobre o

lombo de Elfking, por isso assobiou.Parlan olhou fixamente para o animal que o jogou para fora da sela mais

uma vez. Tentou ignorar as risadas abafadas dos homens que o observavamenquanto o animal se levantava e sacudia para se livrar da poeira. Erguendo-sedevagar, Parlan bateu nas roupas e deu um sorriso contrafeito.

— Agora entendo porque o garoto estava achando tudo isso muitoengraçado. — Rodeou o animal e estudou o adversário. — A questão é comolibertá-lo desse truque, ou pelo menos fazer com que ele desista de aplicá-loem mim.

— Bem é um truque útil: você não teria de se preocupar em ter o cavaloroubado — Lagan brincou.

Um riso suave escapou dos lábios de Parlan.

— Vou tentar suborná-lo com uma corrida. Ele deve estar cansado deficar preso aqui.

Lagan, Malcolm e diversos curiosos seguiram Parlan e o cavalo. Elfking oacompanhou até chegar aos portões, os quais se recusou a cruzar, por maisque fosse puxado ou empurrado.

— Maldito teimoso! O que deu nesse animal? Malcolm se aproximou dofrustrado senhor do castelo.

— Acho que ele só está seguindo ordens.

— Como assim?

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— Quando trouxemos os rapazes para cá, o cavalo tentou me seguir e omais novo deles ordenou-o a ficar.

Balançando a cabeça, Parlan riu.

— E é o que ele está fazendo, não?

— Por que não desiste do cavalo?

— Não, Lagan. Só preciso encontrar um modo de ele confiar em mim. Talvez eu precise da ajuda do rapaz. — Parlan pensou em voz alta.

— Ele não vai fazer isso. Está claro que adora esse animal — Malcolmopinou.

— Peça do jeito certo e conseguirá o que quer — Parlan disse, sério. —Ele também adora o irmão.

— Sim, mas você jamais o machucaria.

— Nós sabemos disso, mas suspeito de que o rapaz não tenha tanta

certeza. As histórias sombrias que contam ao meu respeito não são segredo.Não sabia que eu asso criancinhas e palito os dentes com seus pequenosossos? — Sorriu de leve diante de tanta tolice. Estava acostumado de tal modo,que nem se magoava mais. — Eu não os machucaria, mas o moleque não sabedisso.

— Parece crueldade privar um rapaz de seu adorado cavalo — Malcolmmurmurou.

— Neste caso eu não me importo de personificar minha sórdidareputação. Malcolm, como pode me pedir para desistir de um prêmio comoeste? Vejo que o animal tem velocidade e força, mas também é inteligente. Se

de nada mais servir, pelo menos será um excelente animal de cobertura. Tenho várias éguas que produziriam excelentes potros com esse companheiro.

Malcolm se aproximou para retirar a sela do animal.

— Não consigo deixar de lamentar a perda do garoto, contudo. —Levantou a sela e, sem querer, seu olhar pousou sobre a lateral do castelo. —Deus meu!...

— Malcolm, o que foi? Quase me quebrou os dedos — Parlan reclamou aosentir a sela caindo a milímetros dos pés.

— O garoto. Ali em cima. Na parede. Todos os olhos seguiram a direção

que Malcolm indicara.Uma figura delgada descia a parede com destreza.

— Ele é louco? — Parlan perguntou entre impropérios.

— Não vou discutir a sanidade do rapaz, mas digo que ele usa muitahabilidade em suas loucuras. — Lagan notou o olhar de Parlan. — Sim,habilidade. Ele sabe o que está fazendo.

— Sem dúvida, mas tentar fugir no meio de um pátio abarrotado?

— Nós não o teríamos visto se Malcolm não tivesse erguido o olhar sem

querer. — Lagan riu. — Esperto...— Isso se ele não acabar estatelado no chão — Parlan resmungou. — Mas

que coisa, tenho um rapaz à beira da morte e outro arriscando o pescoço.

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Lachlan Mengue, sem dúvida, vai ter muito trabalho para criar esses dois.

— Acho melhor chegarmos perto antes que ele desça — Lagan sugeriu.

— Vou até lá. — O medo pelo menino se transformou em raiva emParlan.

— Talvez tenham sido os boatos que você acabou de comentar que o

levado a tentar fugir — Malcolm sugeriu ao acelerar o passo.Forçando-se a encarar o amigo, Parlan disse:

— É possível. Vou tentar me lembrar disso enquanto o estiver surrando.— Olhou de novo para a parede do castelo quando o vento aumentou e levou ochapéu do rapaz. — Jesus...

Logo todos ecoaram Parlan.

Os cabelos loiros platinados com mechas douradas a que Aimil se referiacomo sendo uma crina desgovernada, tremulavam tal qual uma bandeira,enfeitiçando a todos os homens.

Depois do primeiro choque, o primeiro pensamento que permeou amente de Parlan foi de que ele adoraria se enroscar naquelas madeixas quepareciam sedosos raios de sol. Depois ficou se perguntando se ela tinha idadeo bastante para o que estava pretendendo. A estrutura pequena e delicadaindicava que era muito nova ainda. Poucas mulheres maduras conseguiriam sedisfarçar de homem como ela fizera. O desapontamento que sentiu chegou asurpreendê-lo. Então se lembrou da expressão delicada do "rapaz" epraguejou.

— Eu devia ter desconfiado... — murmurou e voltou a caminhar na

direção onde Aimil agora estava pendurada longe do chão.— A corda está muito curta. Ela pode quebrar um osso se tentar pular. É

melhor nos apressarmos — Lagan sugeriu.

— Eu mesmo estou tentado a quebrar alguns ossos dessa pirralha. Essafoi uma manobra arriscada para um moleque, imagine para uma garota... —Parlan meneou a cabeça, atônito com a audácia da moça, mesmo que suasuposta reputação fosse a causa da fuga.

O avanço deles foi detido pelo som do assobio de Aimil. Parlan anteviu oque estava para acontecer, e seu grito de aviso quase chegou tarde demais. Oshomens trataram de sair da frente do galopante Elfking, que parou bem

embaixo de sua dona. Atônitos, todos testemunharam quando ela se soltousobre o lombo do animal. O plano de fuga ficou claro, então.

Aimil logo se recobrou do baque de se ver no lombo de seu garanhão epegou as rédeas. Montar sem sela não a incomodava, até preferia, na verdade.Uma alegria a trespassou. A liberdade estava tão próxima que ela sentia o seunéctar na boca.

— Fechem os portões! Peguem meu cavalo! Tolos! Não precisam selar.Ela estará sentada à mesa dos Mengue antes de eu ter conseguido montar...

Se Aimil não temesse tanto ser apanhada, teria rido da visão do tão

temido Black Parlan gritando ordens e seus homens se precipitando a cumpri-las. Ela sabia, contudo, que o que parecia confusão era somente pressa. Umapressa que poderia afastá-la de seu objetivo, uma vez que Parlan já estava

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muito próximo. Com um grito que lembrava um clamor de guerra, incitouElfking na direção dos portões que já estavam sendo fechados.

Os homens saíram do caminho do cavalo galopante, mas os que estavamperto dos portões deixaram um ínfimo espaço. Ela fez Elfking empinar e, comoesperado, eles se esquivaram das patas, abrindo caminho e permitindo que elaescapasse para campo aberto. A manobra fez com que o animal perdessepotência, o que poderia lhe custar caro.

Parlan não pôde culpar os guardas dos portões por permitirem apassagem do animal encapetado. Pelo menos tiveram o bom-senso de reabri-los conforme ele avançava em seu garanhão negro, manchado apenas no narize na pata traseira por pelos brancos. Raven, seu cavalo, ainda não encontraraum páreo em velocidade, mas estava claro que isso logo seria testado. Elfking,com a amazona muito mais leve, ganhava terreno rapidamente. Observar ocavalo galopando só aumentou seu desejo de possuí-lo.

Ao ver a moça montá-lo, reconheceu a destreza com que o fazia, que só

podia ser aumentada pelo relacionamento profundo entre animal e amazona.Com os cabelos soltos, a figura delgada quase que se confundia com a docavalo; havia um quê de etéreo na dupla.

Malcolm e Lagan, observando a cena junto a um grupo de homens noalto de uma colina, concordavam com isso. Assistir a moça no cavalo brancosendo seguida pelo cavaleiro negro em seu garanhão de ébano incitava umasérie de imagens, enfeitiçando-os. Sabiam também que não tinham comoalcançá-los.

— Precisamos ir atrás deles. Parlan pode precisar de ajuda se a alcançar.Sem falar que não é seguro que ele cavalgue sozinho.

Malcolm acompanhou Lagan, que ordenou o grupo a prosseguir,resmungando:

— Não sei se quero estar por perto se Parlan perder a corrida...

Parlan, no entanto, estava determinado a vencer, mas sabia que seriadifícil, ainda que a garota não tivesse todas as vantagens. O terreno lhe eradesconhecido e ela já não avançava com tanta rapidez. Restava-lhe esperarpelo melhor momento.

Aimil reconhecia suas fraquezas. Viu que a distância diminuíra ao ter dedesviar de um obstáculo, conhecido de seu perseguidor. Um olhar para trás a

fez entender que se não era o próprio diabo que a seguia, era no mínimo, umde seus discípulos.

Velocidade, destreza, conhecimento não foram responsáveis pelotérmino da corrida, mas algo muito mais insignificante. Ela sentiu a ligeiramudança nas passadas do animal e soube que estava perdida. Elfking seriacapaz de continuar até o coração parar de bater se assim ela o pedisse, masela jamais faria isso. Nem mesmo arriscaria aleijá-lo. Nenhum dos medos que aincitaram a fugir era forte o bastante para que ela fizesse isso. Chorandointimamente de frustração, parou e desmontou para examinar-lhe a pata.

A mudança das passadas do cavalo branco logo foi percebida por Parlan,

que praguejou, certo de que qualquer mulher continuaria a galopar, aleijando opobre animal além de qualquer reparo. Por causa de sua opinião cínica, estavadespreparado quando a moça parou, e ele passou reto. Ao controlar Raven e

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fazê-lo voltar, ela estava agachada chão e observava algo em suas mãos.

Ele desmontou calado e se aproximou dela e de Elfking, que parecia tersomente uma pata ligeiramente machucada.

— Uma pedrinha — ela disse com ar de tristeza. — Eu teria conseguidose não fosse por isso.

— É bem possível. — Ele fez um sinal para os homens que seaproximavam afastarem-se dela.

— Isso tudo é culpa sua! — ela brandiu e jogou a pedra na direção deParlan.

Recuando ao ser atingido no rosto, ele resmungou:

— Que diabos tenho eu a ver com isso?

Furiosa demais para se importar com que gritava, Aimil respondeu:

— Homens!... — disse com desprezo. — Você em especial. Eu poderia ter

ficado com Leith se não fossem pelos homens e seus apetites insaciáveis. Foipor isso que tive de descer pela janela e quase Elfking incapacitado de andar.

— Meus apetites? — Parlan riu, o olhar descendo do rosto de Aimil para oindicador que o cutucava no peito.

O modo como ela se dirigia a ele o divertia e provocava sua admiração.Ele poderia parti-la ao meio sem muito esforço, porém o rosto delicado e osolhos de água-marinha o atraíam mesmo faiscando de ódio. Mais uma vez seperguntou qual seria a idade dela, pois havia uma promessa de paixão ardentenaqueles lábios Voluptuosos. Essa pergunta subitamente ganhou enormeimportância. O olhar recaiu sobre o colete que Aimil usava e que escondia as

curvas que ela poderia ter.— Tire o colete — ordenou, sem se importar com o que aquilo podia

significar para ela, querendo somente descobrir a sua idade.

Aimil arfou e ficou ainda mais furiosa.

— Vá para o inferno!

O divertimento sumiu dos olhos de Parlan, pois ele não estavaacostumado a ser contestado.

— Faça o que ordeno, moça.

— Quando as vacas tiverem asas — ela replicou, irada, e começou apraguejar quando ele mesmo começou a puxar sua vestimenta. — Tire suaspatas de cima de mim, seu bruto peludo!

 Tentando detê-la enquanto desatava o nó do colete, Parlan amaldiçoavao fato de ela ser tão ágil.

— Só quero saber a sua idade, pirralha!

— Não precisa tirar minhas roupas para saber isso.

— Quantos anos tem, então? — Ele estreitou os olhos, desconfiado.

Ela logo percebeu que sua resposta determinaria o modo como seriatratada e o interesse dele nessa questão.

— Doze.

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Parlan sorriu e segurou-lhe os pulsos nas costas com uma das mãos.

— Então não haverá problema se ficar, sem isto — disse, terminando detirar o laço do colete —, porque não tem nada a se ver. — Segurou-a perto deseu corpo para que ela parasse de se debater.

Alex, o jovem que ela tinha atacado no quarto, subitamente apareceu.

Despertara no quarto de Leith ao ouvir o assobio de Aimil e, mesmo atordoadoe todo dolorido, precipitou-se a ajudar, já que era culpado pela tentativa defuga dela.

— Cuidado com o joelho dessa meretriz! — advertiu Parlan ao desmontarmancando.

Aimil vinha se debatendo não só para se libertar, mas também paraatacar, e decepcionou-se com o aviso, que a impediu de acertar Parlan. Por sedesviar a tempo, ele acabou soltando-lhe os pulsos e, para se esquivar de umgolpe, derrubou-a no chão. Ela, de repente, se viu deitada de costas eimobilizada pelas coxas fortes.

Quando Parlan puxou a adaga, ela ficou imóvel. Só havia duaspossibilidades para o uso da arma e Aimil desejou, ardentemente, que fossepara terminar de soltar o laço do colete e não degolá-la. A perda de suamodéstia era pouca coisa diante da perda da vida. Entretanto, desejou que eleparasse de fitá-la com tanta intensidade, Parlan tentava se conter, porém seuautocontrole estava por um fio. Já que ela havia vestido o colete por sobre acamisa, não terminara de amarrá-la e, agora, os seios estavam quase quecompletamente à vista de quem quisesse vê-los. Ele sentiu as mãos formigarde desejo de tocá-la, mas não queria que os homens partilhassem daquelavisão. Tinha toda a intenção de ser o único privilegiado.

— É bem formada para uma menina de doze anos... — Finalmentedesviou os olhos do torso, encontrando o olhar dela.

— Completei dezessete anos em setembro passado. Satisfeito?

Ele se inclinou até que os rostos ficassem bem próximos.

— Será preciso mais do que uma espiada para satisfazer meus apetitesinsaciáveis.

Aimil enrubesceu e fechou o cenho diante do comentário, contudo o quemais a desconcertava era sua própria percepção de Parlan como homem. Abeleza morena e o corpo benfeito atiçavam seu interesse. Medo era provocadopelas insinuações, mas ela suspeitava de que fosse a reação normal de umavirgem perante sua primeira experiência sexual. O desejo indiscriminado deseu corpo a desagradava. Afinal, fora cortejada por diversos cavalheiros das Terras Baixas e nunca se animara por nenhum deles. Agora seu corpo tinha aaudácia de reagir com esse bárbaro das Terras Altas.

Pensou, no entanto, que se deixassem de lado as histórias narradas arespeito de Parlan, o fato de ele ser um MacGuin e o encarassem apenas comoum homem, não haveria como negar que ele era muito belo. O rosto largo,com as maçãs proeminentes e o nariz aquilino, conferiam-lhe a fortaleza de umfalcão, muito atraente. As sobrancelhas escuras, ligeiramente arqueadas,

erguiam-se acima de cílios incrivelmente fartos, dando-lhe um ar sombrio,aumentado ainda mais pela tez morena e pelos longos cabelos negros. Eledevia ser um dos homens mais altos que ela conhecia, tinha, certamente, mais

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de um metro e oitenta, e a forma musculosa não era exagerada como a demuitos homens. A camisa semiaberta revelava que ele possuía uma lindacamada de pelos escuros no peito, e que aumentava à medida que descia peloabdômen.

Ele era um homem grande e belo, ela tinha de admitir, embora acontragosto. Contudo, não se deixaria levar por isso. Aquele era Black Parlan, osenhor dos MacGuin, um clã de larápios, um bárbaro das Terras Altas.

Ela ouvira os rumores de que ele era um homem frio, mas no iníciodaquele século, era difícil de acreditar que alguém pudesse comer criancinhas.Por trás de tantos boatos, entretanto, devia haver algum fundo de verdade. Eracerto que ele se divertia livremente com as mulheres. Não era isso, porém, oque a levaria a lutar, caso ele quisesse possuí-la.

Instintivamente sabia que poderia perder mais do que a castidade e issoa aterrorizava. No entanto, não tinha intenção alguma de revelar esse medo.

— Agora que viu o que queria, pode sair de cima de mim, seu touro

estúpido? — ela replicou. — Não sinto mais minhas pernas.— Eu não me importaria de senti-las por você... — Parlan riu e os homens

que os cercavam gargalharam.

—Ah, muito engraçado... — A audácia dele substituiu o medo de Aimil poraborrecimento. — Vai sair de cima de mim antes de me aleijar?! O que foi?

A última pergunta foi feita quando ela notou a mudança na expressão deParlan, que se tornou cheia de raiva. Os olhos dele estavam fixos em seu torso,onde se via os hematomas que resultaram do ataque de Alex. Logo elapercebeu que eram os hematomas que o havia enfurecido e isso a

surpreendeu.Parlan se levantou e perguntou ao agressor, com suavidade excessiva:

— Como sabia onde eu devia me proteger? Trêmulo, o jovem respondeu:

— Ela fez isso comigo quando a ataquei.

Mal ele confessou e recebeu um golpe de Parlan que o fez cambalear.Levantando-se e fechando a camisa, Aimil arfou ao ouvir que o senhor dosMacGuin sentenciou o pobre a um considerável número de chibatadas. Emboraempalidecendo, Alex não protestou e nenhum dos outros se mostrou surpreso.Ficou claro que o notório Black Parlan considerava o abuso de mulheres um

crime passível de grave castigo.Ela resolveu, então, que mais tarde lidaria com a incoerência desse fato

contra a imagem que fazia dele. Naquele instante, sentia que tinha o dever deintervir, pois a punição era severa demais. Precisava revelar que Alex não forabem-sucedido em seu intento inicial.

— Não, não... — Segurou o braço de Parlan. — Não foi tão ruim assim.

— Quer dizer que você gostou? — Parlan rebateu, zangado pelainterferência dela em favor do outro.

— Não seja idiota! — ela o repreendeu, arrancando diversos arquejos dos

homens. — Não foi isso o que eu quis dizer. Ele só me beijou e tentou meagarrar.

— Isso não combina com os hematomas que vi.

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— Combina sim, e não foi culpa dele. Eu usava apenas a camisa e meuscabelos estavam soltos. Ele esperava encontrar dois rapazes e não foi o queviu ao entrar. Tivemos uma ligeira luta antes de eu deixá-lo inconsciente. E averdade, é que eu fico marcada com facilidade. — Vendo a dúvida no olhardele, perguntou: — Teve a intenção de me machucar há pouco?

— Não — Parlan respondeu, rígido de ultraje. — Não concordo emmachucar as mulheres. E você, sendo tão pequena, pensei que não passassede uma menina.

Aimil engoliu a zanga à referência de sua pequena estatura e mostrou ospulsos. As marcas já começavam a se delinear, e ela sorriu diante do choquedele.

— Como já disse, eu fico marcada com facilidade. Minha pele é assim,mas os hematomas desaparecem rápido também, já que nem doem. Juro queos machucados que infligi a esse rapaz foram bem piores — murmurou com asfaces ardendo.

Vendo o desconforto de Alex, Parlan sorriu.— Vou deixar passar desta vez, rapaz, mas se eu souber de qualquer

outro incidente, seu castigo será duplicado. Sei que se lembrará de seu erropor mais alguns dias e os homens não o deixarão esquecer de que foi derrota-do por uma moça tão delicada. Acho que será castigo o bastante. — Pegando obraço de Aimil, disse: — Vamos voltar ao castelo agora. Malcolm, conduza ocavalo dela. — Suspirou quando Malcolm foi recebido por um relincho zangadoda Elfking. — Milady, faria a gentileza de pedir a essa fera que acompanheMalcolm?

Ela obedeceu com igual falsa polidez e, então ficou envergonhada e aomesmo tempo zangada quando ele amarrou o laço de sua camisa como se elafosse uma criança. No trajeto de volta, sentou-se na frente dele no lombo deRaven, decepcionada pela tentativa fracassada de se libertar. Todavia tambémlutava contra o modo como seu corpo reagia à proximidade, à força emasculinidade de Parlan. Ao chegarem ao castelo, disse a Elfking que secomportasse e tentou ir ver Leith, porém foi conduzida ao salão, onde lheofereceram um assento e comida.

— Obviamente, não é Shane Mengue, portanto, quem é você? — Parlanperguntou.

— Aimil Siubhan O'Connell Mengue, a filha caçula de Lachlan Mengue.— Então conseguirei um bom resgate. Temi por um instante que vocêfosse a amante do outro e, portanto, sem valor algum para mim.

Parlan não tinha a mínima intenção de permitir que soubessem que elese preocupava com mais do que o lado financeiro. Suspeitava que a inquietudeque vinha sentindo nos últimos meses estava prestes ater um fim, pois seaborrecera ao pensar que Aimil pudesse ser a amante de Leith Mengue. A juventude dela, bem como a ausência de uma aliança e sua posição social,eram indícios de que deveria ser virgem ainda. Pela primeira vez, não só elequeria ser o primeiro, mas desejava isso avidamente.

O problema, ponderou ele, seria levá-la para a cama. Ela era pequena edelicada, porém os eventos recentes tinham revelado sua força e coragem.Seduzi-la levaria tempo, pois ele pressentia que a moça era inteligente o

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bastante para ver suas intenções com clareza, sem falar que não confiava emsua própria paciência. Não só suas regras o impediam de tomá-la a força, masabominava a idéia de forçar-se a uma mulher que não o quisesse. Precisava dealgo com que barganhar, dar-lhe uma escolha, mesmo que pequena, econvencê-la de ir para a cama dele de livre vontade.

Observando-a, tentou decifrar o que o atraía tanto. Aimil era bela, masele já tivera mulheres mais belas e com maiores atributos. Os olhos dela eramúnicos e o queixo erguido deixava evidente sua obstinação, mas não era isso oque provocava o desejo de um homem.

De súbito, sorriu para si mesmo. Procurava o que não se via com osolhos. Embora não fosse um romântico, sabia que não era a aparência de umamulher que fazia um homem esquecer-se de todas as outras. No pouco tempoem que a conhecia, Aimil Mengue revelara diversas características que eleacreditava serem impossíveis de encontrar nas mulheres. Destreza ao montare consideração pela montaria, pois, acima de tudo, ele era um guerreiro queconhecia o valor de um bom cavalo. Mostrara coragem ao tentar escapar e ao

enfrentá-lo. Sentira a sua força ao se debater. E a intervenção no caso de Alex,mostrou seu senso de justiça. Estava ansioso por descobrir outros traços dapersonalidade dela.

— Vai pedir resgate ao meu pai agora, sir MacGuin? — ela interrompeuseus devaneios. — Ele deve estar preocupado a esta altura.

— Sim, é como se vocês dois tivessem sido engolidos pela terra. Meuirmão deveria ao menos ter notificado seu pai de que estavam em nossopoder. Entretanto, tenho de pensar no valor a pedir. — Observou-a para ava-liar-lhe a reação. — Até lá, teremos tempo para que me entregue seu cavalo.

— Nunca teremos tempo suficiente para isso.— Moça, eu pretendo ter aquele cavalo.

— Bem, pode tentar, mas não terá a minha ajuda. Elfking é meu. Ele foi oúltimo a nascer num parto de gêmeos e era muito frágil. Ele seria deixado paramorrer. Eu mesma o amamentei com o leite que seu irmão não queria dividir.Elfking é meu, e não há nada que possa mudar isso, nem mesmo o grandeBlack Parlan — ela zombou.

— Leva jeito para testar a paciência de um homem...

— Já me disseram isso. — Ela o observou enquanto comia.

Parlan se recostou na cadeira.

— Então não vai me ajudar a conquistar o garanhão...

— Esqueça. Não vou ajudá-lo a roubar meu cavalo de mim.

— Mas sabe que posso ficar com o animal quer você colabore ou não.

— Sim, mas não ganhará nada com isso, pois preso ele não lhe servirá demontaria.

— Posso usá-lo para cruzamento. Aposto como ele já provou seu valornesse departamento.

Aimil pensou em mentir, mas sabia que seria facilmente desmascarada.

— Sim, e não falhou nenhuma vez. Mais um ou dois anos e Elfking me

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tornará uma mulher rica.

— Consegue pagamento para cruzá-lo? — Parlan perguntou surpreso.

— E você não faz o mesmo se usam Raven?

— Sim, mas... Mas o pagamento não é feito a Lachlan?

— Não. Elfking é meu. Recebo em dinheiro ou, então, um dos potros. Ocavalo que Leith montava é um dos filhos de Elfking.

— De quem era a égua?

— De Alaistair MacVern.

Parlan assobiou impressionado, pois o homem era conhecido pelo tropelde qualidade que possuía. Depois riu consigo mesmo. O fato de ela terconseguido negociar com o obstinado MacVern só confirmava o valor do cavalobranco.

— Nesse caso, ele poderá enriquecer meu bolso — Parlan concluiu e

enfrentou o olhar dela comum sorriso.— Sim, mas seria desperdício usar um cavalo tão belo somente para esse

fim.

— Verdade, mas quem garante que ele nunca me aceitará? Se eu lhe dertempo suficiente longe de você e o tratar bem, é possível que passe a meaceitar. — Notou o temor que trespassou o olhar dela. — Vale a pena arriscar.— Deixou que as palavras pairassem antes de terminar: — Mas estou dispostoa negociar.

O fio de esperança que Aimil sentiu foi esmagado pelo brilho do olhardele.

— O que propõe?

Inclinando-se para a frente, ele murmurou:

— Você ou seu cavalo.

— Não entendi. — Aimil franziu a testa, querendo entender por que ohomem que estava do outro lado da mesa havia silenciado.

Um ligeiro sorriso surgiu nos lábios de Parlan quando ele correu o dedopelo maxilar dela.

— Não entendeu mesmo? Quero o cavalo e também quero você. — Osorriso se ampliou quando ela corou. — Não vou roubar seu cavalo se você forpara a minha cama.

A resposta injuriada que ela sabia que deveria lhe dar não surgiu.

— Preciso falar com Leith.

Ele se recostou e sinalizou para que Malcolm a levasse para junto doirmão.

— Quero a resposta esta noite, Aimil.

Ela se deteve à porta e se virou com a pose de uma duquesa, a despeito

dos cabelos desgrenhados e das roupas pouco adequadas.— Não lhe dei permissão para que se dirigisse a mim dessa maneira. —

Girou sobre os calcanhares e saiu.

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Quando Parlan conseguiu conter o riso, Lagan se arriscou a falar:

— Pede que ela escolha entre dois garanhões.

Parlan franziu o cenho, perguntando-se por que se importava com talcomparação.

— De certo modo...

— Por que simplesmente não a seduz? Deve ser fácil com sua reputaçãoque tem com as damas...

— Não creio que ela seja facilmente seduzível e não tenho paciência paraesperar.

As sobrancelhas do primo se ergueram em surpresa.

— Se está tão necessitado de uma meretriz...

— Não estou precisando de uma meretriz. Pelo menos não deveria estardepois de quase ter sido sugado por Catarine há apenas dois dias. — Sorriu

quando viu o ar divertido de Lagan. — Não, meu desejo é por Aimil SiubhanO'Connell Mengue e preciso tê-la.

— Mesmo que ela não vá para a sua cama hoje?

— Sim. Só preciso encontrar outro modo.

— Presumo que vá continuar tentando ter o cavalo também...

— Sim. Prometi que não o roubaria, mas não disse que não tentariaconquistá-lo.

— Primo, definitivamente seu destino é o inferno.

— Sem dúvida, mas isso não significa que eu não possa ter uma amostrado céu antes.

Capítulo II

— Ele disse o quê? Aimil olhou para o irmão, pensando o quanto aalimentação e repouso adequado tinham feito bem a ele. Ainda estava fracocomo um bebê e a febre andava a espreita, mas ela já não temia que elemorresse. Temia, entretanto, que uma veia explodisse diante da reação deLeith à proposta de Parlan. O irmão parecia prestes a discorrer sobre aladainha de honra e dever, e ela considerou difícil a tarefa de lhe contar suadecisão.

— Que se eu for para a cama com ele, Elfking continuará comigo.

Leith notou que Aimil desviava o olhar ao se despir antes de ir se deitar.— E está pretendendo concordar? — Ela começou a escovar os cabelos.

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— Responda-me, Aimil.

— Sim, pretendo concordar.

— Você se venderia por um cavalo?

— Eu me venderia por Elfking, pois ele não é um cavalo qualquer. Porfavor, Leith, tente entender. — Perguntou-se se ele perceberia que ela estava

concordando não só pelo animal.Ele suspirou, lamentando as palavras rudes.

— Eu entendo. Sei muito bem o que Elfking representa para você, mas equanto à honra?

— Honra... — Ela abaixou a escova e se virou para fitar o irmão. — Ahonra dita que eu defenda minha castidade, que eu a guarde para meu maridoque será Rory Fergueson, um homem de quem eu não gosto. Elfking é umcavalo, mas vale muito mais do que dez Rorys. Onde está a honra em recusaro bom para se resguardar para o pior?

— Se fosse pelo meu bem-estar, as pessoas compreenderiam, mas nãopor um cavalo...

— Aqueles que me conhecem bem sabem que há uma diferença. Parasalvar você, eu abdicaria de Elfking. Para resguardar algo que Rory tomará demim sem consideração alguma, não! Não posso, nem quero.

Leith fechou os olhos, pois sabia que não havia nada que pudessedissuadi-la. Tendo deixado claro que não queria ter sangue nas mãos, ParlanMacGuin procurou e descobriu a única fraqueza de Aimil. Abrindo os olhos, viuque ela vestira uma camisa e estava ao seu lado, olhando ansiosa, as lágrimas

marcando as faces pálidas.— Vai me dar as costas, Leith?

Levantando ligeiramente a colcha, ele bateu no colchão. Ela obedeceu aopedido, deitando-se ao lado dele e apoiando a cabeça em seu ombro. Ao sentiro braço débil envolvê-la pelos ombros, aliviada, cerrou as pálpebras. Ainda quenão pretendesse recuar, temia o peso de sua decisão no relacionamento com oirmão.

— Pirralha, não há nada que possa fazer que me afaste de você. — Leithdeu um sorriso leve. — Se ao menos eu não estivesse tão fraco — ele selamentou. — Não consegui defendê-la a contento.

— Não, não... Estivemos em desvantagem desde o começo. Mesmo quevocê estivesse bem, não poderia ir contra um clã inteiro... Nesse caso, eles omanteriam preso.

— Lamento, mas essa parece ser a verdade. Está com medo, querida? Hámuitas lendas a respeito de Parlan.

— Pode parecer estranho, mas não estou. — E ela lhe contou sobre oincidente com Alex. — Vê? Ele não tolera abusos contra as mulheres. Nãoposso dizer o mesmo de Rory Fergueson. — Notou que Leith não contradissesuas palavras, e não se surpreendeu. — O que pode me acontecer de pior?

— Será desonrada — Leith disse de pronto —, e perderá seu valor comoesposa.

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— Não é uma grande perda a meu ver. — ela resolveu, então, sersincera: — Até rezo para que isso aconteça. Minha decisão tem a ver com isso.Quem sabe eu também não aproveito? Dizem que ele é um grande amante...

— Difícil é saber se se referem às habilidades ou ao tamanho do atributofísico dele — Leith resmungou. — Ouvi algumas "senhoras" da corte mencionara última visita de Parlan.

— O que disseram dele? — Aimil insistiu quando ele ficou tempo demaiscalado.

— Que ele é muito bem-dotado. Algumas não foram tão finas...Chamaram-no de garanhão.

— Oh! — Ela franziu o cenho. — Está querendo dizer que ele pode memachucar simplesmente por fazer o que a natureza manda?

— Não, querida. Se o que você disse sobre ele não abusar de mulheresfor verdade, então, ele tomará cuidado, pois sabe que você é virgem. O corpode uma mulher tem a capacidade de se acomodar à anatomia dos homens.Não é o tamanho do cavalo que importa, mas sim se ele é uma boa montaria...

— Sinto, de verdade, que não será tão ruim assim. De fato... — Aimilrespirou fundo antes de confessar: — Meu corpo já o notou. Sendo franca, eu odesejo. Seria tão ruim assim eu ter prazer antes de me entregar a Rory, que seinão se importa comigo? Seria tão ruim fazer algo que me contentará antes deme sacrificar tanto pelo que os outros querem?

— Não. Você merece conhecer o prazer e pressinto que Rory não o dará.Só queria que conseguisse isso sem ser humilhada depois. As regras são clarase Black Parlan sabe muito bem que a está forçando à vergonha por aceitar tal

oferta. E por isso, eu o matarei na primeira oportunidade.Aimil estremeceu, detestando a frieza na voz do irmão. Contudo, não

argumentou. Parlan MacGuin a desonraria quer ela aceitasse a oferta ou não.Ela não encarava a situação com vergonha, mas os outros poderiam. E porcausa disso Leith se sentia compelido a fazer Parlan pagar caro. Ela aceitá-loou não, era o menor dos detalhes.

Malcolm entrou naquele instante depois de bater à porta.

— Ele quer a sua resposta agora. Aimil sé sentou na cama.

— Ele quer, é? Quem sabe não pode esperar um pouco mais? Está

precisando de um toque de humildade.— Não é sábio fazer o senhor do castelo esperar — Malcolm explicou,

refreando um sorriso. — Nem atentar a paciência dele.

— Ele atenta a minha... — Ela resmungou, vestindo a meia-calça. — Nãoentendo por que ele precisa de mim. Por certo, qualquer das criadas com maiscarne que ossos poderia servi-lo a contento. Acho que o tamanho dele não sereflete no cérebro. — A última coisa que queria revelar era que o desejo deParlan por ela a deixava tanto excitada quanto confusa.

Olhando para Leith, Malcolm recebeu um sorriso torto. A moçaobviamente não enxergava seu apelo ao sexo masculino. E ele se perguntou senão era essa falta de vaidade que chamava a atenção de Parlan. Atendendo aum sinal do rapaz, Malcolm se aproximou da cama.

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— Não pode convencê-lo a mudar de idéia? Aimil é uma boa moça e nãomerece a humilhação que Parlan a fará passar. — Por mais que compreendesseos motivos da irmã, Leith não poderia deixar de tentar resguardá-la.

— Tentei, mas não adianta. Nunca o vi tão atraído por uma moça. O tratoque ele ofereceu só serviu para que ela pensasse ter alguma alternativa.Parlan compreendeu que ela não aceitaria os galanteios dele, ainda que eleseja notório na arte da conquista.

— Ela riria diante de palavras doces e galanteios. Considera tudo issouma falsidade.

— Ele não a ferirá. Você sabe muito bem que se fosse outro homem, já ateria possuído, sem se importar com o resgate. Isso é visto como um direitodos captores.

— É verdade, mas ainda assim o matarei pela desgraça a que submeteráminha irmã.

— Pode tentar. Ele sabe que você fará isso assim que se fortalecer, masnão importa. Como já disse, ele está enfeitiçado.

Resolvendo que já se demorara o suficiente, Aimil se aproximou do irmãopara se despedir. Malcolm se afastou até a porta para lhes dar privacidade. Elase inclinou e o beijou na face, contente por ver que ele já não estava tãoquente.

— Não se preocupe — murmurou. — Se aquilo for grande demais, euaparo a ponta. — Sorriu aliviada quando o irmão deu uma risada.

— Não há nada que eu possa fazer agora e não sou de chorar sobre oleite derramado. — Leith deu um tapinha na mão dela. — Não hesite em me

procurar para conversar se quiser. Sabe que pode falar sobre tudo comigo.Leith observou-a se afastar com Malcolm e suspirou. Embora soubesse

que passaria a noite acordado preocupando-se com o destino da irmã nasmãos do captor, seu corpo falou mais alto, fazendo-o descansar num sonopesado.

Não foi fácil para Aimil dominar o nervosismo quando Malcolm a deixousozinha com Parlan no quarto. Podia ter escolhido ir até lá, mas o queenfrentava agora era algo novo e desconhecido, portanto assustador. Procu-rando se acalmar, olhou ao redor. Cortinas pesadas bloqueavam o frio queentrava pelas janelas e uma lareira acesa ajudava a controlar a umidadesempre presente nos castelos. A mobília era simples, mas robusta. Tapetes for-ravam o chão, afastando o frio. O principal, entretanto, era a imensa cama decarvalho, alta e adornada por cortinas de veludo, ora recuadas.

De pronto, voltou a atenção para o homem que se recostava numa dascolunas da cama, numa pose indolente que ela sabia ser fingida. Ele vestia umroupão pesado e, ela suspeitava, nada mais por baixo. Os cabelos ligeiramenteúmidos indicavam que ele se banhara. Não sabia se devia agradecer a atençãoou se devia se sentir insultada pela confiança de que ela o procuraria.

— Cheguei a pensar que havia resolvido entregar-me seu cavalo.

— Quando os porcos cantarem ao nascer do sol! Ele sorriu.— Andou pensando em tudo o que é impossível? Dando de ombros, ela o

encarou.

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— Suponho que não tenha mudado de idéia?

— Não. Coloquei na cabeça que a queria assim que tive a certeza quenão era jovem demais.

No íntimo, ela suspirou aliviada.

— Leith o matará por isso.

— Se ele não o fizesse, eu não o consideraria um homem. E é por issoque eu tentarei não matá-lo quando ele vier me procurar.

Mesmo acreditando que a confiança em suas habilidades tinhafundamento, a arrogância dele a aborrecia.

— Ele pode matá-lo...

— Há uma possibilidade ínfima.

— Acho que você se considera bom demais...

A última palavra terminou num grito quando ele a tomou nos braços e a

depositou no centro da cama. Aimil ficou surpresa que um homem tão grandeconseguisse se mover com tanta agilidade. Ao sentir-se parcialmente coberta,estremeceu. O corpo amplo e forte a fez se sentir pequena e frágil, aindaassim, não sentiu medo. Em vez disso, o desejo de saboreá-lo só aumentou.

— Não tema, doçura. Só quero lhe dar prazer — ele sussurrou,resvalando beijos suaves nas faces macias.

— Quer dizer, satisfazer a si próprio — ela resmungou, mas sentiu umestranho formigamento onde os lábios a tocavam.

— Também. Aimil, relaxe e se entregue a mim...

—Não entregarei nada a você! — Esperava que ele acreditasse em seusprotestos, pois não queria que ele desconfiasse de seus outros motivos paraaceitar a oferta.

— Vai sim, Aimil Mengue. — Ele traçou um caminho de beijos do nariz atéa boca.

Quando os lábios tocaram os seus, ela quase suspirou. Era tão bom, eprovocava um calor interior. Logo sua boca ansiava por algo mais, e ela viusuas mãos subindo para os ombros largos. Quando a língua de Parlan pediuentrada, arregalou os olhos surpresa, sem saber o que ele buscava.

— Abra seus lábios para mim, doçura. Anseio pelo mel de sua boca.— Não há mel algum. Tenho os dentes podres... Parlan riu, divertido.

— Que mentirosa que você é, Aimil Mengue. Abra-se para mim.

Outro tremor a percorreu quando a língua dele se insinuou em sua boca,acariciando-a. A cada beijo, ela ficava mais faminta. Parlan parava entre umbeijo e outro, deixando-a recuperar o fôlego enquanto a atiçava com os lábiosno pescoço.

Aimil enroscou os dedos nos cabelos espessos, arqueando o corpo àprocura do dele. O calor que começara lento, já aumentava. Sussurros de

prazer escapavam de seus lábios conforme ela sucumbia à persuasão dosbeijos. A repentina retirada de sua camisola afastou a névoa que se criara emsua mente.

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— Não — ela protestou com voz rouca, tentando cobrir os seios combraços moles, o embaraço diminuindo a paixão crescente.

— Sim — ele resmungou ao afastar-lhe os braços e passear o olharfaminto pelos seios desnudos. — Lindos...

Aimil estremeceu quando Parlan passou a língua sobre seus mamilos, o

corpo descendo na direção de seu ventre deixando um rastro de pequenosbeijos. Quando as mãos fortes a acariciaram, ela voltou a segurá-lo peloscabelos, pressionando-lhe a cabeça de encontro a seu corpo para melhor sentira boca de Parlan acariciá-la.

Sussurros de prazer escapavam, pois ela estava envolvida demais paratentar refreá-los. Aimil passou as mãos pelas costas largas, deleitada ao ouvi-logemer. Ficou contente quando ele despiu o roupão, pois assim poderia sentirsua pele.

Ao espalhar beijos pela pele acetinada, Parlan sentiu-se satisfeito com asreações dela. Aimil era como fogo debaixo de suas mãos, muito mais do que

ousara esperar. Retirando as meias, resvalou propositadamente o interior dascoxas, antes de se inclinar para beijá-las.

Aimil quase voou da cama ao sentir que ele tocava suas pernas. Parlanaproveitou-se de sua sensibilidade, movimentando as mãos e os lábios comavidez, sem deixar nenhum centímetro intocado. O prazer era tão intenso queAimil achou que fosse morrer. As mãos calejadas a seguravam com firmeza afim de poder beijá-la e mordiscá-la. Quando, por fim, ele fez o caminho de voltasubindo, tocou-a intimamente, fazendo-a se contorcer.

Sentindo essa leve resistência, Parlan ergueu a cabeça apenas ouvi-laemitir um som muito parecido com um ronronar.

— Deus meu, tão adorável... Você está se derretendo em minhas mãos.— Sugou-a enquanto desvendava seus segredos íntimos com os dedos. — Ah...— gemeu ele.

— Deixe sua doçura fluir. Quero saboreá-la. Logo, mas não hoje.

— Por favor, por favor... —ela gemia sem nem saber o que suplicava.

— Acabarei machucando-a desta primeira vez, mas logo passará — eledisse, rouco, enquanto se preparava para tomá-la.

Aimil não prestou atenção às suas palavras, apenas ergueu o quadril

instintivamente fazendo-o tremer. Parlan tomou-a num movimento único, naesperança de que rápido talvez fosse melhor. Sentindo a barreira da inocênciase render, deleitou-se com a prova de ser o primeiro, mesmo ao secompadecer pela dor infligida.

Aimil de contraiu, mas a dor aguda logo se foi, tão rápida quanto surgiu. Tudo o que conseguia pensar era que havia mais. Moveu as mãos para asnádegas firmes enquanto o prendia entre as pernas, incitando-o a se mover.

— Ah... — Ela suspirou, o corpo todo estremecendo ao senti-lo se moverdevagar. — É tão bom...

— Isto é o paraíso. Venha comigo, doçura... Assim...

— Ofegou quando ela o acompanhou no movimento seguinte. — É assimque se faz. — Passou um braço pelo quadril dela, trazendo-a para mais perto e

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beijou-a ardentemente.

Depois do beijo, observou-lhe as reações, porém mal teve tempo deapreciar o modo como o corpo dela convulsionou, pois seu próprio clímax oassolou. Um grito de exultação escapou de seus lábios ao penetrá-la fundo,expelindo seu sêmen no corpo dela que o aceitava com voracidade. Aimilcontinuou a se contorcer ligeiramente mesmo depois que ele se deixou cairsobre ela. Parlan considerou esses leves movimentos excitantes, ainda queestivesse saciado.

Para Aimil era como se tivesse caído das nuvens e, por incrível queparecesse, ainda estava viva. O bater descompassado de seu coração e arespiração acelerada eram indicadores de que algo incrível acabara de acon-tecer. Aquilo havia sido muito mais do que ela jamais imaginara e percebeuque uma vez apenas não bastaria. Já que perdera sua virgindade, decidiu quenão se importaria se Parlan quisesse possuí-la mais uma vez. E desejou quevoltasse a acontecer.

Afastando-se um pouco, Parlan disse sorrindo:— Eu não disse que lhe daria prazer?

Ele parecia um garoto que acabava de ganhar um grande prêmio. Aimilsabia que com a experiência que ele tinha com as mulheres, Parlan, por certo,estava pensando que havia lhe proporcionado sensações prazerosas, mas de jeito nenhum ela admitiria tal coisa, aumentando ainda mais o ego dele. Nãoquando ele devia acreditar que ela se rendera somente por causa do trato. Porisso, fitou o teto com fingido enfado.

— Nunca me enfastiei tanto em minha curta vida como agora...

Parlan sacudiu o corpo com uma gargalhada, nem um pouco insultado,pois tinha certeza de que lhe dera prazer. Abraçou-a ao rir e logo Aimil se juntou a ele, pois o riso era contagiante.

Assim que o riso se abrandou, Aimil sentiu-se completamente exausta.Passara por muitas coisas nas últimas vinte e quatro horas. Na verdade, naúltima semana.

Parlan sentiu o relaxamento súbito dela e se levantou sobre o cotovelopara observá-la com um sorriso torto nos lábios, sabendo que ela precisavadescansar, mas desejando-a outra vez.

— Está comprometida com alguém, Aimil? — perguntou, com a urgênciade saber se alguém tinha como reclamá-la para si.

Aimil tentou abrir os olhos, entretanto estava cansada demais.

— Desde que nasci. O casamento está marcado para o fim do verão.

— Está noiva de quem?

— Rory Fergueson... Me deixe dormir.

A rapidez com que ela adormeceu surpreendeu-o tanto quanto aresposta dada. Cutucou-a sem ver nenhuma reação. Voltando a se deitar,passou a pensar no noivo dela. Se havia alguém no mundo a quem ele odiava,

esse alguém era Rory Fergueson. Não tinha como provar, mas culpava-o pelamorte de sua prima Morna. Rory era um mentiroso compulsivo, um trapaceiromaligno. Todas as vezes que os MacGuin haviam avançado nas terras dele,

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Parlan desejara se deparar com o homem, mas ele sempre se esquivava.

Acariciando os cabelos espalhados ao redor do rosto de Aimil, ele soubeque não poderia permitir que ela caísse nas mãos daquele homem.Levantando-se, vestiu o roupão e foi para o quarto de Leith.

Leith encarou o homem que acabara de acordá-lo e de desvirtuar suairmã.

— O que você quer?

— Aimil está noiva de Rory Fergueson?

— Sim, desde que nasceu — Leith respondeu, curioso com a excitação deParlan. — Já havia me esquecido desse arranjo, mas o casamento estámarcado para o fim do verão.

— Lachlan não sabe que tipo de homem ele é?

— Imagino que ele tenha ouvido rumores, mas o acordo é antigo e nãopode ser desfeito, baseado apenas em boatos. — Acrescentou com frieza: —Claro que Rory pode desfazer o noivado quando souber o que aconteceu.Poucos homens se contentam com os restos de outro.

— Posso ter roubado a honra de sua irmã, mas não a machuquei ao fazê-lo. Rory seria capaz de matá-la.

A acusação foi feita com tal convicção que a raiva de Leith por Parlan terdeflorado sua irmã desapareceu.

— Tem provas contra ele?

— Maldição, não! Há cinco anos, ele e minha prima eram amantes. Mornapensou que ele se casaria com ela, como havia prometido, já que ela eravirgem quando ele a tomou pela primeira vez. Mas ele nunca chegou a pedi-laem casamento. Então, aos poucos os sentimentos de Morna mudaram, e elapassou a temê-lo sem me dizer por quê. Quando ela me contou que romperiacom ele, fiquei feliz, pois nunca gostei de Rory.

— E o que aconteceu?

— Na manhã seguinte ela foi encontrada morta. Não fosse pelo vestido epelo anel que estava usando, ninguém a reconheceria, pois ela estavadesfigurada. As mulheres que a prepararam para o funeral disseram que ela

tinha sido violentada. Não tenho provas, mas, desde então, tenhoacompanhado os passos dele e parece que há um rastro de mulheresensangüentadas. As que sobreviveram, temem-no tanto que não se mostramdispostas a falar. O diabo encobre bem seus crimes. Preciso de provas, eentão, quando eu o apanhar...

Leith não questionou a convicção de Parlan.

— Tudo o que posso fazer é falar com meu pai sobre o que acabou de medizer.

— Isso não basta.

— O que você fez esta noite talvez baste.— Isso depende muito do que Rory tem a ganhar ao se casar com Aimil

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ou do quanto ele a deseja.

— Não sei a resposta para essas perguntas. Parlan praguejou e passou osdedos pelos cabelos.

— Não posso permitir esse casamento.

— Não pode permitir? — Leith o encarou, surpreso. — Mas essa decisão

não é sua.— Não, mas Aimil está em meu poder agora.

— Até receber o resgate. Ouvi dizer que você enviará uma mensagempara meu pai pela manhã.

— A negociação de um resgate pode ser demorada — Parlan comentouao pensar num plano. — Há muito em jogo e a situação pode se arrastar poralgum tempo.

— Rory pode esperar. — Leith se viu, a contragosto, aliado de Parlan paraevitar o casamento da irmã.

— Mas ele também pode deixar a máscara cair. Nesse caso seu paiimpedirá o casamento, não acha?

— Não sei dizer — Leith admitiu, relutante. — Desde que Aimil mostrouos primeiros sinais de feminilidade, meu pai a deixou de lado. Eu tinha aintenção de falar com ele a respeito, mas fomos capturados nesse dia. James, otio de Rory, e meu pai cresceram como irmãos. Os dois queriam que as famíliasse unissem. James morreu há dois anos e deixou Rory como herdeiro. Isso sófez com que meu pai ficasse mais resoluto quanto a decisão de permitir ocasamento.

— Deus, uma promessa feita a um amigo já falecido... situações comoessas são as mais difíceis de resolver. Aimil gosta de Rory?

— Não. Foi por isso que eu queria falar com meu pai. Do modo como ascoisas estão entre eles, porém, pode ser que meu pai acabe entregando-a devez. — Leith disse com pesar na voz.

— O que a Aimil fez contra Lachlan?

— Ela cresceu. Sim, pode parecer estranho, mas é a única explicação. Elaera a favorita dele e ele nos levava para todos os cantos. Então, na noite emque ela desceu com um vestido novo que ressaltava as mudanças em seu

corpo, ele a repeliu. Nenhum de nós sabe o motivo, e meu pai nunca nos deunenhuma explicação.

— Deve haver um modo... — Parlan resmungou ao se aproximar daporta.

— Bem, ficarei feliz se descobrir.

— Se não existir outro jeito, terei eu mesmo de me casar com Aimil —Parlan rebateu e saiu de pronto, deixando Leith surpreso.

Depois de ouvir um curto "entre", Lagan entrou no quarto de Parlan.Fechou a porta e ergueu as sobrancelhas ao olhar para a cama: Aimil ainda

estava lá. Uma mulher acordar ao lado de Parlan era quase inédito. Recostou-se à coluna da cama é observou o senhor do castelo que se barbeava.

— A pobre moça não merece nem um travesseiro? Enxugando o rosto,

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Parlan aproximou-se da cama.

— Acomodei a cabeça dela sobre um travesseiro três vezes já, mas elanão o aceita.

— Estranho que ela não tenha acordado quando você fez isso.

— Acho que a cama poderia cair e mesmo assim ela não acordaria. Eu

até mesmo vesti a camisola nela sem que ela despertasse. .— Tem certeza de que está viva? Parlan sorriu.

— Sim, mas nunca vi uma pessoa dormir tão profundamente. Sóconsegui acordá-la uma vez durante a noite — Parlan ignorou o som dezombaria do primo. — Mas depois, ela dormiu tão rapidamente que comecei ame perguntar se chegou a despertar, de fato. Estou curioso por saber se ela selembra de alguma coisa.

— Acha que pode haver algo de errado com ela?

— Não pensei nisso. Vou perguntar ao irmão — Parlan disse ao sair doquarto.

Estando só, se pôs a observá-la. Estava deitada de costas, com as pernase os braços abertos. Os dedos estavam encurvados na direção das palmascomo os de uma criança. Quase obscurecido pela massa de cabelos que seespalhava por toda a cama, o rosto pendia para o lado. Lagan chegou àconclusão de que ela era uma bela moça quando Parlan retornou dizendo:

— Quando conseguiu parar de rir, Leith disse que ela faz isso quandoestá cansada demais.

— Por certo ela teve um dia agitado ontem. Nunca vi uma mulher dormir

nessa posição.— Não? — Parlan franziu o cenho. — Nunca notei.

— Precisa dormir com algumas para saber como elas dormem — Laganzombou. — Depois que faz o que quer com elas, você sempre as mandaembora.

Dando de ombros, Parlan começou a se vestir.

— Ela está noiva.

— Está me dizendo que devemos esperar a chegada de um noivo

furioso?— Não, duvido que esse homem venha me enfrentar ainda que isso sejao que eu mais deseje. Ela se casará com Rory Fergueson no fim do verão.

Lagan assobiou, ciente do ódio que Parlan nutria pelo homem.

— Uma pena. Rory vai acabar com a vivacidade dela.

— O maldito é capaz de fazer mais do que isso. Ele a matará no fim. Enão posso permitir que isso aconteça.

— Levantou a mão quando Lagan começou a falar. — Sei dosempecilhos. Leith e eu conversamos a respeito disso ontem à noite.

— E eu que pensava que o rapaz só tinha a lhe dizer como e quandogostaria de matá-lo.

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— Sim, mas Leith é um rapaz pragmático e não tem cabeça quente. Também se importa com a irmã e não deseja esse casamento. Com isso emmente, formamos uma aliança. Consegui pensar num modo de como arrastaras negociações quanto ao resgate. Vou pedir moeda, e muita moeda.

— Há uma escassez no momento. Sim, o pai deve precisar de um bomtempo para consegui-la. E de quanto tempo estamos falando mesmo?

— Não sei dizer. O bastante para que o rapaz converse com o pai e,quem sabe, Rory expor a besta fera que é de verdade.

— Dependendo da vontade de ele ter a garota, ele pode vir atrás devocê.

— Bom Deus, espero que isso aconteça, mas o homem é um covarde. Elese esconde num buraco toda vez que há perigo por perto. — Olhou para aadormecida Aimil. — Não posso entregá-la, não quando sei o que ele podefazer com ela.

— Penso o mesmo, Parlan, mas você não é o senhor dela e, portanto, nãopode prendê-la por tempo indeterminado. Ela é uma Mengue.

— Não tenho nenhuma pendência com os Mengue. Bem, não até omomento. — Deu uma olhada de esguelha para o primo que meneava acabeça e ria. — Posso resolver a situação e mantê-la longe das garras de Roryao mesmo tempo — disse devagar. — Posso me casar com ela.

— Não me diga que a ama?

— Não, mas posso afirmar que gosto dela e isso não é algo que eu possadizer a respeito de mulher alguma já há um bom tempo. Ela vem de uma boafamília e é graciosa. Era virgem. Terei de pedir a Old Meg que ateste o fato

antes que eu resolva seguir esse caminho. Não quero que ninguém conteste.— É um passo importante a se dar.

— Preciso me casar um dia e nunca encontrei ninguém que me fizessepensar a esse respeito. Tenho vinte e oito anos e muitos da minha idade jáestão casados e com família formada. De fato, a decisão já pode ter sidotomada, pois é possível que eu tenha dado início à minha família.

— Jesus amado... — Lagan sussurrou, chocado, pois Parlan sempre foraum homem precavido. — Não sei se isso foi muito sensato,

— Não estava preocupado com sensatez. Não pensei em outra coisa

senão ir até o fim. Eis outro motivo que me fez considerar o casamento. Hámeses só consigo ter um pouco de prazer com damas e moças da vila.

— E teve com ela?

— Sim, demais. Vou esperar para ver se isso não diminui com o tempo.

— Pode ter acontecido pelo fato de ela ser virgem. Ser o primeiro deixaum homem com sentimento de posse.

— Sei disso. Mais um motivo para esperar. Não estou tão velho a pontode me apressar e não quero me prender a alguém que não me interesse nemme satisfaça. Não quero suportar um casamento vazio. Já viu Artair? —perguntou de repente, mudando de assunto.

— Ele saiu do castelo acompanhado de três homens.

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— Sabe para onde ele foi?

— Aberdeen. Acho que ele vai esperar até que você se acalme.

— Melhor assim. Maldição, falhei com ele...

— Não, ele fracassou sozinho. Mas só tem vinte anos. É possível queencontre o caminho do bem de novo.

Os olhos de Aimil se abriram de súbito, pondo um fim à conversa doshomens. Parecendo confusa de sono ainda, olhou ao redor.

— O que estão fazendo no meu quarto?

— Este quarto é meu — Parlan a corrigiu. Esfregando os olhos num gestoinfantil, ela olhou ao redor de novo.

— E o que estou fazendo aqui?

— Ah, como elas esquecem fácil... — Parlan se lamentou, lançando umolhar divertido ao primo.

O rubor subiu às faces conforme Aimil se lembrava dos eventos da noite.— É fácil esquecer as pequenas coisas da vida.

Lagan cobriu a boca com a mão, mas não conseguiu esconder odivertimento, e Parlan suspirou.

— Acaba de me magoar profundamente, milady.

— Duvido de que algo consiga perfurar essa sua casca grossa — elaresmungou e fez uma careta ao sentir o desconforto causado pela sua iniciaçãosexual. — Seria possível eu me banhar agora?

Percebendo a fonte do desconforto dela, Parlan disse:— Pedirei a Old Meg que providencie um banho e reavive a lareira.

— Não é preciso reavivar o fogo. Vou para o quarto de Leith.

— Se for para lá, eu a arrastarei, com banheira e tudo, de volta para cá.Estes são seus aposentos agora. — Parlan foi em direção à porta.

— Está pedindo um preço alto demais pelo meu cavalo.

— É um belo garanhão. — Viu que ela abria a boca para argumentar. —Se eu fosse você, não diria mais nada. Ainda não tomei meu desjejum e todossabem como os homens podem ser mal-humorados com os estômagos vazios.

— A língua da moça é afiada — Lagan observou ao seguirem para osalão. — Ela não é de inflar o ego de um homem.

— Eu não gostaria de enfrentar a língua dela num momento de raiva.

— E acha que ela não está sentindo isso agora? Ela tem bons motivos.

— Verdade, mas não sente, não. Ofereci-lhe uma alternativa. Ela veio meprocurar por que quis.

— Entregar-se para poupar um cavalo. — Lagan balançou a cabeça. —Uma escolha estranha para uma mulher.

— Homens crescidos já choraram a perda de bons cavalos e nuncaestranhamos isso. Aimil criou o animal desde pequeno, não há como negar oelo que existe entre eles. Sei que não há ninguém no coração dela, não teme

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magoar nem perder nenhum homem. Entretanto, suspeito de que haja maispor trás dessa decisão. De fato, não consigo deixar de pensar que o noivadocom Rory tenha precipitado suas ações.

Enquanto observava o banho ser preparado, Aimil pensava em seunoivado e a obrigação devida á Rory. Perguntou-se onde estariam sua culpa esua vergonha. Ser uma mulher perdida não parecia afetá-la muito e sabia queo motivo disso era o fato de estar noiva de um homem a qual não amava.Embora as chances do rompimento pelo ocorrido fossem mínimas, era algo ase considerar mesmo assim. E havia o fato de ter descoberto o prazer, algoque duvidava de que fosse ocorrer com Rory.

— Então, você era virgem — Old Meg disse ao tirar os lençóis da camacom a ajuda de duas jovens criadas.

Concentrando-se em lavar as pernas e disfarçar seu embaraço, Aimilreplicou:

— E isso importa?

— Nunca se sabe.

A mais jovem das criadas olhou para Aimil.

— É verdade que se entregou para não perder um cavalo?

— Alguns homens já mataram por menos — Aimil respondeu,determinada a manter a história inicial, mesmo que as pessoas aconsiderassem louca. — Simplesmente fiquei deitada, fechei os olhos e penseino rei.

Ela precisou reprimir o riso diante do olhar atônito das duas mulheres.

Old Meg a fitou com olhos apertados e Aimil concluiu que as chances deenganá-la eram mínimas. De repente, uma das criadas se postou ao lado datina e, com as mãos no quadril, fitou-a com olhar malicioso. Aimil se perguntouentão, quantas vezes ela teria se deitado com Parlan.

— Espera que a gente acredite que ficou pensando no rei enquanto sedeitava com Black Parlan?

— Algumas de nós conseguem pensar em mais de uma coisa ao mesmotempo. —Aimil sorriu com candura.

— Vamos sair daqui, Jeanne — sugeriu a mais nova delas ao ver que suacolega soltava fogo pelas ventas.

Old Meg riu, mas não interferiu. Tinha sido a ama-seca de Parlan e estavainteressada nas reações da moça. Somente a melhor serviria para o homemque ela ainda chamava de "meu rapaz". Ele jamais seria feliz com umagarotinha frágil.

— Talvez seja melhor continuar pensando no rei — disparou a criada, osolhos fixos em Aimil. — Encantar-se por Black Parlan não lhe serviria de nada,pois ele não tem serventia para uma rameira do sul e vai mandá-la emboraassim que o patife do seu pai pague o resgate.

Aimil se moveu com tanta rapidez, que Jeanne não teve como reagir.

Aimil poderia ter desconsiderado sua ofensa, mas jamais permitiria quemaldissessem seu pai. Os gritos da moça foram abafados quando teve acabeça mergulhada na tina.

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Parlan parou de súbito ao passar diante do quarto a caminho dosaposentos de Leith. O grito logo sumiu, mas valia a pena verificar. Ao abrir aporta, ofegou diante da cena: Jeanne estava inclinada sobre a tina, debatendopernas e braços até se soltar de Aimil.

Com igual velocidade, ela cobriu os seios com os braços e afundou-semais na água. Old Meg sufocou o riso diante da ensopada Jeanne, assim comoLagan que se deteve à soleira. A outra criada se encolhia num canto,obviamente desejando estar em outro lugar. Aimil entendia os sentimentos damoça, pois também sentia o mesmo, mas resolveu esconder seu embaraçocom uma bravata.

— Que diabos está acontecendo aqui? — Parlan exclamou, resmungandoao ver que também se molhara.

— Perdi o sabonete e ela estava me ajudando a encontrá-lo. — Aimiltentou ignorar a gargalhada de Lagan.

— Ela tentou me afogar! — gritou Jeanne, indignada.

— Tolice — rebateu Aimil. — Se tivesse mantido a boca fechada quandoestava submersa, não estaria nesse estado.

— Aimil... — A voz de Parlan soou como um aviso enquanto seguravauma Jeanne furiosa. Virando-se para a outra criada, exigiu: — Ilka, conte-me oque aconteceu.

Com relutância, a pobre moça obedeceu, retraindo-se quando as feiçõesde Parlan se obscureceram.

— Já que não consegue controlar a língua perto de seus superiores, Jeanne, sugiro que se atenha à cozinha — ele ordenou, aparentando calma. Em

seguida se dirigiu a Aimil quando Jeanne se foi: — Precisa aprender a controlarseu temperamento.

— Vindo de você, esse conselho tem pouco peso — ela replicou. —Agora, será que posso ter um pouco de privacidade para terminar meu banho?

— Mas é claro, milady. — Ele fez uma mesura forçada. — Só tentecontrolar sua ânsia de afogar minhas criadas.

— Se é preciso... — Ela suspirou e esperou que a porta se fechasse antesde voltar a se banhar.

— Ilka, arrume a cama. — Old Meg fitou Aimil, pensativa. — Não sei o

que lhe arranjar para vestir. Há tempos não recebemos damas aqui e asmulheres dos arrendatários não devem ter roupas para lhe emprestar.

— Não importa. A maioria já me viu vestida de homem, não ficarãochocados se eu continuar a me vestir dessa maneira.

— Acho que será assim por enquanto, mas preciso pensar num outromodo. Seria melhor que se vestisse como a moça que de fato é.

Dando de ombros, Aimil continuou a se lavar. Quando o pai começou aignorar sua presença, ela fez o que lhe dava na cabeça. E uma das coisas quemais lhe aprazia era cavalgar com roupas de homem, pois eram muito mais

confortáveis que as de mulher. Só esperava que Leith não encarasse isso comomais uma afronta a ser vingada.

Leith temeu o que sua família teria de enfrentar ao ver a soma

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exorbitante que Parlan exigiria.

— Acha que seu pai vai pagar isso?

— Ele vai regatear. Esta exigência está além do razoável.

— Sim, mas é não tão absurda, pois precisa ser levada a sério.

Franzindo o cenho em confusão, Leith murmurou: — Não entendo aondequer chegar.

— Não quero tudo isso, não sou do tipo que deixa um homem à míngua.Espero que seu pai barganhe e eu serei teimoso, abaixando o valor aos poucos.Se ele aceitar um valor muito alto, precisará de tempo para conseguir asmoedas. Tempo é a questão aqui... Estou tentando comprar tempo... E umhomem deve pagar quando é tolo o suficiente por deixar que seus filhos sejamcapturados. — Ignorou a carranca de Leith. — No entanto, eu não pagaria essasoma nem pela minha mãe.

O esboço de um sorriso surgiu nos lábios de Leith, mas então ele voltou a

ficar sério.— Espero que esse prazo resolva o problema.

— Só espero que seu pai não entenda o jogo que estamos jogando ouesse tempo nos escapará por entre os dedos...

Lachlan Mengue releu as palavras diante de si sem conseguir se livrar daindignação. Depois do alívio de saber que seus dois filhos estavam vivos ebem, compreendeu a exigência absurda pelo regresso deles. Duvidava de quemesmo um rei pudesse pagar tal resgate. Além do mais, levaria semanas para

obter somente a metade do valor. Pelo seu ponto de vista, aquilo era umroubo, puro e simples.

— O homem deve estar louco! — bradou, não pela primeira vez. — Nãotenho como pagar isto!

— Vai mandar uma contraoferta pelo mensageiro? — Iain, seu primeirogenro, perguntou.

— Não, vou falar com o maldito pessoalmente. Isto só pode ser umabrincadeira de mau gosto.

— Pelo menos ficamos sabendo que Aimil e Leith estão bem — disse

 Jennet, a segunda filha, passando a mão pelo ventre distendido.— Quero ver a prova disso diante de meus olhos antes de discutir

qualquer coisa.

Parlan não precisou perguntar se Aimil estava bêbada, pois ficou claro,no momento em que ele entrou no quarto, que ela havia bebido mais do quedeveria. Ela, Lagan e Leith estiveram jogando dados, apostando vastas somasde dinheiro inexistente e bebendo à vontade. Nem ela, nem Lagan, quesupostamente deveria ser guardião, prestaram muita atenção ao tanto que ela

bebera. Sentando-se ao lado deles na cama de Leith, sorriu, pois Laganacabara de apostar e perder um castelo para Aimil.

— Você é um guarda terrível, Lagan. Deixou a moça beber e jogar... —

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Parlan meneou a cabeça, fingindo lástima. — Não pensou em ver quanto elabebia?

— Sim, mas isso não diminuiu a sorte dela. — Ele se pôs a rir junto comos outros.

— Este é um jogo muito fácil — Aimil murmurou e esticou a mão para a

caneca de cerveja, que foi interceptada por Parlan. — Ei, não terminei ainda!Depositando a caneca na mesinha de cabeceira, ele retrucou:

— Terminou sim.

— Alguém já lhe disse que não passa de um tirano, Parlan MacGuin?—ela perguntou com falsa candura ao ser puxada para a porta.

— Sim. Despeça-se de seu irmão. — Ele parou na soleira.

— Eu não estava pronta para dormir, mas já que é preciso...

— É preciso. — Ele voltou a puxá-la para fora do quarto.

— Boa noite, Leith. Para você também, Lagan! — ela exclamou quandoParlan fechou a porta, abafando as respostas deles. — Você é um homemmuito rude. Incivilizado — resmungou ao ser levada pelo corredor.

— Não estou me sentindo muito educado no momento — ele respondeuao fechar e trancar a porta do quarto.

— Por que não? — perguntou ela, sentando-se na cama e descobrindoque era muito difícil desamarrar as botas.

Aproximando-se só com as roupas de baixo, ele disse:

— Você está completamente bêbada, garota...

— Só um pouquinho. Não sou muito boa com bebidas, mas tambémnunca passei mal.

Depois de terem feito amor, Parlan perguntou, puxando os lençóis antesque ela adormecesse:

— Você quer se casar com Rory Fergueson? — Sentiu o corpo tenso aespera de uma resposta.

Abrindo os olhos, Aimil respondeu:

— Não, ele é bonito demais. É tão perfeito tanto de corpo quanto de

rosto que chega a me assustar. Sem falar nos olhos.Intrigado, Parlan perguntou:

— O que há com os olhos dele?

— São como os de uma cobra. Quando me deparo com o olhar dele, écomo se ele estivesse esperando o momento certo de dar o bote. A cor é muitopálida e sem brilho e ele não pisca muito, o que torna tudo pior.

Rolando de costas, Parlan a trouxe para junto de si.

— Acho que você tem razão. Parecem os de uma cobra.

Com os olhos pesados de sono, ela sussurrou:— Vai ser muito difícil ser a esposa de um homem que eu nem mesmo

gosto.

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— Prometo que terá não de fazer isso — jurou ao fitar Aimil que acabavade adormecer.

O rosto delicado ainda estava aninhado em seu peito quando ele acordoupela manhã. O braço repousava em sua cintura e uma das pernas cruzava asdele. Aquele era um belo modo de despertar, Parlan julgou. Alternando o olhardo rosto dela para sua mão que acariciava as curvas suaves do corpo benfeito,exultou com a paixão que crescia lentamente.

  Traçou a linha das costas, percebeu quando ela e seu desejodespertaram ao mesmo tempo. Sempre se preocupara em oferecer um mínimode satisfação às suas parceiras sexuais, mas nunca antes o prazer delas forafonte de seu próprio prazer. Ficava hipnotizado ao sentir o corpo de Aimilpronto para recebê-lo.

— Parlan... — ela sussurrou quando ele a deitou de lado e inseriu a mãoentre suas pernas.

— Que linda manhã — ele murmurou rouco ao encontro do seio antes de

tomá-lo na boca.— Já é manhã? — ela perguntou, chocada a despeito do desejo

crescente. — Não podemos fazer isso.

— Não? — Ele sorriu ao colocar a coxa dela sobre seu corpo e penetrá-la.—Acho que já estamos fazendo.

Levou um segundo antes que Aimil recuperasse o fôlego.

— Já está claro. Só podemos fazer isso no escuro.

— Ah, querida, você ainda precisa aprender muito — murmurou antes de

silenciá-la com um beijo.O ápice de ambos foi suave e simultâneo. Ainda trêmulo, Parlan rolou de

costas, segurando-a firme.

— Acho que se esqueceu de uma coisa — ela murmurou, percebendo queainda estavam unidos.

— Não esqueci, não — ele respondeu, segurando-a firme quando elatentou se afastar. — Fique aqui comigo.

Esfregando o rosto nos pelos do peito dele, ela murmurou:

— O que você sente?

Ele não soube como responder, não por que a pergunta o tivesse pegadodesprevenido, mas por nunca ter conversado sobre tal assunto com nenhumade suas parceiras. Sua política fora sempre a de se afastar e partir assim quetivessem terminado de fazer sexo.

— É difícil de descrever. "Fascinante" nem chega perto — gemeubaixinho quando ela se moveu. — Não deveria estar fazendo isso.

— Acho que sei por quê... — Aimil ficou surpresa ao senti-lo excitado denovo.

— Bom Deus — ele reclamou quando ouviu uma batida à porta. — Não se

mexa — pediu a ela, segurando-a. — O que foi?— Lachlan Mengue armou acampamento do lado de fora dos portões e

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exige lhe falar — Lagan disse do outro lado da porta.

— Meu pai — Aimil murmurou em choque, tentando se desvencilhar deParlan, entretanto o gesto somente o deixou ainda mais excitado.

— Diga a ele que preciso tomar café da manhã antes. Se ele quiser, podese juntar a mim — Parlan avisou.

— Deixe-me ir — Aimil sibilou, tentando ignorar o próprio desejo.— Lagan já foi — ele disse, virando-se a fim de deixá-la de costas, presa

debaixo dele.

— Não posso continuar com meu pai por perto — Aimil sussurrou, mesmomotivada pelo movimento ritmado dele.

— Eu posso abafar seus gemidos. — Ele sorriu diante do ultraje dela eabaixou a cabeça para tomar-lhe um dos seios.

A resposta que Aimil pretendia dar não foi pronunciada. Em vez disso, elacravou as unhas nas costas largas, incitando-o a continuar.

Quando Parlan se levantou para se vestir, ela fez uma carranca. Ele bempodia fazer o papel de macho cheio de si, pois ela não oferecera resistênciasequer uma vez. Na verdade, ficava tão saciada que não se sentia inclinada adizer "não". O problema era que não sabia como enfrentar o pai depois do queacabara de fazer. Estava certa de que a satisfação seria aparente em suasfeições. Algo tão prazeroso só podia deixar vestígios...

— Fora da cama, moça. Precisa enfrentar seu pai nesta linda manhã.

— Não posso. — Ela virou de bruços e escondeu o rosto no travesseiro.

Puxando as cobertas, Parlan refreou o desejo de mostrar sua apreciaçãopela bela vista e somente deu-lhe um tapinha nas nádegas.

— Pode e vai. Quero mostrar a ele que pelo menos um dos filhos estáforte e são.

Prendendo os lençóis ao redor do corpo, Aimil se sentou e o encarou.

— Você não entende.

— Entendo, mas está errada, doçura. Ele não tem como saber a menosque você conte.

As palavras de Parlan ecoaram em sua mente depois que ele se retirou.

Olhando-se no espelho resolveu que, se não se mostrasse culpada, seu pai nãosaberia que perdera a inocência, tampouco que havia apreciado perdê-la.

Descendo para o salão, sacudiu a cabeça. Era tolice se preocupar, poisnão havia volta. Na verdade, o pai prestava tão pouca atenção a ela queduvidava de que ele notasse alguma mudança mesmo que ela estivessemarcada a ferro em sua testa.

Ao ouvir a voz profunda do pai, Aimil deteve-se na soleira da porta dosalão. Adorava o pai e a dor da rejeição nunca a abandonara. Tentara evitá-lonão só pelo que acontecera com Parlan, mas também porque se magoavademais toda vez que ele a ignorava. Infelizmente isso era algo que não podia

explicar a Parlan.Parlan a observava olhar para o pai. Era como uma criancinha que via

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um banquete ser devorado enquanto não lhe ofereciam nem as migalhas.Aquela era uma situação que fugia à sua compreensão. Tantas vezes os pais seviam com filhos que não os amavam e ali estava um homem que dava ascostas a quem o adorava. Ele fez uma careta ante a pontada de ciúme quesentiu.

Observou Lachlan atentamente quando a filha se aproximou,obedecendo a um sinal para que se juntasse a eles. Quando ela ficou de frentepara o pai, Parlan viu uma centelha nos olhos azuis do homem, mas o brilhologo ficou velado. Ninguém tentava esconder seu afeto a menos que tivesseum bom motivo.

— Olá, papai — Aimil sussurrou ao se sentar ao lado de Parlan. — Sintomuito pelo transtorno que causamos.

— É bom que sinta mesmo. Disseram-me que Leith passa bem? — Elepareceu não notar o rubor nas faces dela.

— Sim. — Ela engoliu a dor diante da atitude do pai. — Ele vem se

recuperando com incrível rapidez. Está sendo bem cuidado.Depois dessa breve troca de palavras, Lachlan procedeu ignorando-a.

Aimil se forçou a reagir, tentando comer. Um ligeiro olhar para Lagan mostrou-lhe que não estava conseguindo enganar ninguém. Alguns minutos mais tarde,sem conseguir suportar mais a situação, levantou-se e saiu, retraindo-sequando a atenção de todos repousou sobre ela.

Parlan atenuou a situação, gesticulando para que Lagan aacompanhasse.

— Está pedindo uma soma exorbitante — Lachlan disse depois de

terminarem de comer. — Não tem o rei em seu poder, sabia?— Não, mas tenho seu herdeiro e sua filha mais jovem — Parlan o

lembrou com voz firme.

— Tenho outros filhos. Dois, de fato. Eu não ficaria sem um herdeiro. ERory Fergueson pode arranjar outra noiva.

Parlan ansiava por falar desse casamento, mas sabia que aquele não erao momento.

— Por esse preço só posso pagar para ter um de meus filhos de volta.Levarei alguns meses para conseguir o montante e recuperar o outro.

— Então é melhor escolher com sabedoria qual deles deixará aos meuscuidados. — Parlan já tinha pensado em outro empecilho caso ele escolhesselevar a filha.

— Quero meu herdeiro. Ele merece a precedência. Entretanto, preciso dealgum tempo para conseguir o montante em moedas.

— Está bem. É melhor mesmo que o rapaz permaneça aqui até serecuperar por completo.

— Não me agrada deixar minha filha em seu poder. Ela é uma bela moça.

— Sua filha não sofrerá em minhas mãos, nem nas de meus homens.Deseja ver seu filho?

Como Parlan esperava, Lachlan não insistiu no assunto de Aimil. Não

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importava o que ele suspeitasse, não tinha como fazer acusações. Se oofendesse, teria muito a perder. Parlan via que a situação aborrecia o homem aponto de enfurecê-lo.

— Não tem nenhum vestido para minha filha usar? — Lachlan perguntouao saírem do salão.

— Não. Ela foi encontrada vestindo roupas de homem. Chegou a seapresentar como Shane, seu outro filho. Foi só quando tentou escapardescendo a janela, que seu cabelo acabou pôs fim ao disfarce. Nós a vestimoscom o melhor que tínhamos a oferecer. Sinta-se à vontade para enviar asroupas dela.

— Tudo o que ela tem agora é o enxoval e não posso enviá-lo — Lachlanresmungou. — Ele só pode ser usado após o casamento.

Ao chegarem ao quarto de Leith, Parlan não se surpreendeu ao encontrarAimil lá. Já havia imaginado que ela procuraria uma pessoa amada para serecuperar da indiferença do pai.

O calor com que Lachlan tratou o filho foi como sal nas feridas de Aimil aponto de Parlan notar. Como desejava esmurrar o homem mais velho. A únicacoisa que o deteve foi a percepção de que Lachlan não se sentia como agia,que havia algo que o fazia se distanciar da filha.

Aimil tentou se esconder nas sombras do canto do quarto, mas Laganacompanhava seus passos, e Parlan a seguia com os olhos. Ela, porém, não seimportou. Tudo o que queria era se afastar da frieza do pai.

— Logo você irá para casa, filho.

— O resgate é alto demais — Leith protestou, perguntando-se se

esquema de Parlan falhara.— Sim, mas consegui que ele abaixasse o preço um pouco. — Lachlan se

moveu para perto da janela. — Também só conseguirei pagar a metade.

— Qual metade? — Leith quis saber, temendo ouvir a resposta, poisestava certo de que esta magoaria Aimil.

— A sua.

Por um instante, Aimil não acreditou no que ouviu.

— Não vai pagar pelo meu retorno?

— Ainda não. O preço é alto demais. — Lachlan se manteve de costaspara ela.

— Quando então? — ela perguntou num fio de voz. Não que temesseficar com Parlan, mas estava muito magoada pelas ações do pai.

— Não sei ainda.

Sabendo que estava prestes a chorar, Aimil saiu às pressas do quarto.Correndo seguiu até o estábulo, deixando-se cair ao lado de Elfking, e chorou.

O pai a ignorara por anos, mas aquilo era muito pior. Deixá-la nas mãosde seu captor era a prova clara do pouco que gostava dela. Ele não tinha como

saber que estava sendo bem tratada. E mesmo que soubesse, só um cego nãoveria que sua castidade corria perigo, que o nome dos Mengue seria maculado.

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— Você não passa de um bastardo! — Lagan rugiu antes de sair noencalço de Aimil.

— Já chega, Lagan. Vá atrás de Aimil e assegure-se de que ela estejabem. — Parlan fitou Lachlan assim que o rapaz se retirou. — Ele tem razão.

— Não tenho fundos para levar os dois. O herdeiro é mais importante do

que a filha caçula. — Lachlan encarou Parlan com olhos de poucos amigos. —Você não aceitaria minha palavra de que lhe pagarei e me deixaria levar osdois.

— Não há dúvida de que é um homem honrado, Lachlan. Mas quero asmoedas em minhas mãos antes de libertá-los.

— Foi o que pensei. Trarei o dinheiro de Leith em duas semanas. Não seiquanto tempo levarei para pagar o resgate da menina. — Deteve-se à porta. —Estou deixando-a aos seus cuidados. Estou confiando que ela não sofrerá.

— Já prometi que ela não sofrerá enquanto estiver sob meus cuidados.

— Maldito seja... — Leith sibilou depois que ele saiu.— Nem tudo é o que parece — Parlan concluiu. — Ele gosta da filha.

Enxerguei isso em seu rosto quando ela apareceu, mas algo o impede dedemonstrar esse afeto. Pretendo descobrir o que é, ainda que saiba que nãodeve ser algo simples. Descanse agora, Leith.

Depois de sair, Parlan encontrou Malcolm e Lagan do lado de fora doestábulo.

— Ela está aí dentro com o animal dela — Malcolm avisou. — Nãosabíamos se devíamos deixá-la a sós.

— Vejam se nossos convidados precisam de algo; eles pretendem partirao amanhecer. Deixem que eu cuidarei dela, mas façam com que fiquemossozinhos.

Aimil soube que ele estava lá antes de tomá-la nos braços. Não lhepareceu estranho buscar conforto nos braços de Black Parlan, seu captor,aquele que deveria ser seu inimigo. Ele era como um porto seguro, tudo o queela precisava.

Parlan deitou-se sobre o feno, segurando-a firme nos braços. Anecessidade de acabar com o sofrimento de Aimil era uma sensação estranhapara ele. Mais estranho ainda era que a dor dela parecia ser sua.

— Está a ponto de me afogar, doçura — ele resmungou, na esperança deacabar com os lamentos de Aimil.

— Não sou de chorar muito. — Ela fungou ao tentar segurar as lágrimas.— Só serve para demonstrar fraqueza.

— Bem, acho que tem motivos para chorar. Não há por que disfarçá-los.Está com medo de ficar aqui?

— Não. Quero dizer, não mais. Isso pode mudar caso você comece a rugire a bater os pés — ela disse, com um leve sorriso, indo de encontro ao peitolargo.

Rolando a fim de prendê-la no chão, Parlan fingiu um olhar bravo diantedo sorriso trêmulo dela. Ela era a primeira mulher a brincar com ele, a zombar

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dele, e isso o deliciava.

— Rugindo e batendo os pés, é? — resmungou e esfregou o nariz nopescoço dela, provocando-lhe uma risadinha.

De repente Aimil ficou séria.

— Era de se pensar que ele se preocupasse com a honra do nome da

família. Ele não parece se preocupar com o que você possa fazer, com o que jáfez...

Foi difícil para Parlan, mas ele conseguiu segurar o riso.

— Acha que eu devo entender o que acabou de dizer? — Acabou rindoquando ela franziu o cenho, pensou nas palavras ditas e começou a rir elaprópria. — Ele se importa, querida. Seu pai me fez jurar que você não sofreria.

Por um instante Aimil pesou as palavras dele, depois meneou a cabeça.

— Você é bem astuto, não é mesmo, Parlan MacGuin?

— Sim, eu sou. — Sorriu quando ela riu de sua imensa satisfação. — Eu afiz sofrer, minha pequena?

— Não, meu corpo não sofreu, apesar de eu ter de me envergonhar porser a sua rameira.

— Você não é minha rameira. É minha amante. Não faça essa cara, asduas coisas são muito diferentes. — Desfez o laço do colete e puxou a camisadela.

— Não sei o que você quer dizer, mas não importa. Já que tenho de medeitar com um homem, prefiro que seja você no lugar de Rory.

Depois de abrir-lhe a camisa, Parlan deparou-se com os mamilostúrgidos, prontos para o seu toque.

— Você nunca se deitará com ele.

— Terei de me deitar. Serei a esposa dele, lembra-se? — Suspirou deprazer ao sentir os lábios quentes em sua pele. — Não podemos fazer issoaqui, Parlan.

— Está sempre dizendo que não podemos fazer e eu tenho de lhemostrar que podemos. — Ele levantou a cabeça para fitá-la. — Você não secasará com ele.

— Como pode evitar que isso aconteça?— Posso e vou. Agora quietinha, deixe-me mostrar o que mais podemos

fazer, ainda que você insista que não possamos.

— Não consigo acreditar — arfou Giorsal, a filha mais velha de Lachlan,acusando-o com o olhar. — Como pôde fazer isso?

— O preço é alto demais. Não tenho como pagar na totalidade. Nãoagora. Foi necessário fazer uma escolha. O herdeiro tem a precedência.

— Mas deixar Aimil nas mãos daquele homem por tanto tempo... Sabe oque pode acontecer, se não à força, então por sedução.

— Sim, eu sei — Lachlan troou, o longo dia e as decisões difíceis

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acabando com sua paciência. — Sei que Parlan a levará para a cama. Ela émuito bonita e já chamou a atenção de muitos homens. Talvez ele até aengravide. Fico imaginando o que Rory vai pensar disso. Mas não há nada queeu possa fazer a respeito, Giorsal, nada. Portanto, pelo amor da Virgem Maria,deixe-me em paz! O que está feito não pode ser mudado. — Com o olhardistante, concluiu: — Não pode ser mudado, mas talvez o que estava escrito

acontecerá.Giorsal saiu confusa e zangada. A alegação do pai de que o herdeiro

vinha em primeiro lugar não lhe parecia certa. Procurou, então, o marido parareclamar ainda que ele não pudesse fazer nada a respeito. Assim que oencontrou, sua atenção foi desviada para Black Parlan que entrava noacampamento naquele instante.

Só conseguiu encará-lo maravilhada: o homem alto vinha acompanhadopor outros quatro que seriam impressionantes por si só, mas que eramofuscados pela presença do senhor do castelo. Esplendoroso foi uma palavraque logo lhe surgiu à mente. Bem como grande e poderoso, por isso ela temeu

pelo bem-estar de sua irmã.Quando, o olhar escuro pousou sobre ela, Giorsal estremeceu e não só de

preocupação por Aimil. Mesmo ela, feliz em seu casamento, percebeu o apelosexual do homem. Duvidou, portanto, que mesmo a determinada e teimosairmã pudesse resistir.

Reconhecendo Iain MacVern de um encontro prévio na Corte, Parlan ocumprimentou com cordialidade reservada. Notou o olhar da loira, mas não oretribuiu com seu costumeiro flerte calculado. Com Aimil em sua cama,descobriu que não se interessava por outras mulheres. E ficou muito feliz comessa constatação ao saber que a loira era irmã de Aimil.

Lachlan surgiu quando os cumprimentos amenos cessavam e foi diretoao assunto:

— O que quer agora?

— Vim convidá-los a jantar comigo esta noite — Parlan respondeu sem seperturbar com a frieza do homem.

— Aimil estará presente? — Giorsal perguntou, notando que a voz deleera tão perigosa quanto a aparência.

— Sim. O confinamento dela não é muito rígido. Ela tem acesso livre a

todos os lugares dentro dos muros de Dubhglenn. Podem se juntar a nós?— Sim, estaremos lá. — Lachlan acenou para Parlan e se retirou.

— Ele tem muitas preocupações no momento — Iain sentiu anecessidade de se desculpar. — Releve seu comportamento.

— Por isto, sim — Parlan respondeu. Pensando no sofrimento de Aimil,sua expressão ficou mais sombria. — Por outras coisas, não. Pelo menos até euconhecer os motivos.

— O que ele quis dizer com isso? — Giorsal perguntou a Iain quandoParlan saiu.

— Não tenho certeza, mas pode estar se referindo à frieza de Lachlanpara com Aimil. Ela deve ter lhe dito como se magoava com isso.

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— Ele bem poderia se preocupar como ele pode feri-la, isso sim. Minhairmã é tão delicada... E ele... Ele...

— É tão grande? — Iain completou com um sorriso que a fez corar.

— Isso não é motivo de brincadeira. Não estou me referindo somente aotamanho dele.

— Sei o que quer dizer, mas acho que você está sendo ludibriada peladelicadeza de Aimil. Sim, ela é uma bela moça, mas é feita de aço. Pode sertão dura quanto Lachlan. Black Parlan não a dobrará com tanta facilidade.

Embora Parlan admirasse o modo como Aimil não se curvava diante dele,naquele instante ele a encarava com menos leveza. A recusa em jantar com opai era pura teimosia e, para ele, evitar algo desagradável não resolvia nada.Apesar de tudo, admirava o modo como ela enfrentava seu desagradocrescente. Poucas pessoas tinham coragem para isso.

— Você vai descer, mocinha, mesmo que eu tenha de arrastá-la eamarrá-la na cadeira.

Aimil o encarou, sem saber que sua atitude era fora do comum.

— Ora, você não ousaria.

— Experimente.

Ela não pensou que seria uma boa idéia, mas se recusava a ceder semlutar.

— Não posso me sentar com minha família e fingir que nada aconteceu.Não conseguirei mentir dessa maneira. Alguém vai dizer alguma coisa que mefará corar e eles saberão o que aconteceu.

— Está se preocupando à toa. — Ele seguiu para a porta. — É melhorestar presente quando o jantar for servido.

Aimil mostrou a língua quando ele fechou a porta, mas seu gesto foi malcalculado, pois em seguida ele voltou a abri-la e a pegou em flagrante. Depronto, ela fez um ar de fingida inocência, recusando-se a sentir vergonha.

— Você tem dez minutos — Parlan avisou, mas sua expressão perdeu aseveridade ao fechar a porta novamente.— Bruxinha...— murmurou, rindo aodescer as escadas para o salão onde seus convidados o esperavam. Zangada,

mas resignada com seu destino, Aimil terminou de se arrumar. Ainda vestiaroupas masculinas, e tinha um extenso enxoval delas. A roupa preta evermelha lhe caía muito bem e ao prender o cabelo com uma fita vermelha,sorriu ao ver seu reflexo no espelho. Estava resoluta a não revelar nada. Se afamília descobrisse que não era mais virgem, não seria por seu intermédio.Respirando fundo para se fortalecer, marchou para dentro do salão.

— Ela está muito elegante — Iain murmurou para Giorsal.

Mesmo concordando, ela replicou:

— Não está certo ela se vestir assim. Não há por que provocar mais

escândalos. — Moveu-se para cumprimentar a irmã, abraçando-a. — Comoestá, minha irmã? Ninguém a machucou?

Contente com sua calma, Aimil respondeu:

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— Estou muito bem. Sou vigiada, mas não importunada. Já fiquei emlugares piores.

— Black Parlan a machucou?

Enfrentando o olhar direto da irmã, ela respondeu tranqüila:

— Não, de modo algum. — Franziu o cenho para Parlan que a fitava com

um sorrio estampado no rosto. — Embora ele seja um arrogante, um homemimpossível que se acha melhor que todos — disse alto o bastante para que elea ouvisse.

Giorsal arregalou os olhos diante dessa audácia e ficou ainda maissurpresa quando Parlan se aproximou, beijou a mão de Aimil e murmurou:

— Uma língua ferina para uma boca tão doce. A candura de seu rosto émuito traiçoeira, doçura. Venha e sente-se.

Ignorando a disposição dos lugares, Giorsal sentou-se ao lado da irmã, àesquerda de Parlan e diante do pai. Havia algo no ar entre Aimil e Parlan que a

perturbava. E ela esperava descobrir do que se tratava durante a refeição. Talvez estivesse interpretando mal os fatos.

Dando de ombros, Iain sentou-se diante de Lagan que estava à direita deLachlan e de James Broth, seu concunhado.

— Acredito que você tenha bagunçado os assentos, querida — disse comcalma.

— Não me importo. Tenho a intenção de observar esse par bem de perto.Eles não agem como seqüestrador e prisioneira. Aimil se dirige a ele como sefalasse com um dos irmãos — Giorsal sussurrou, surpresa.

— Aimil tem presença de espírito. — Iain riu. — Sempre enfrentou oshomens sem se importar se eles rugiam ou urravam.

— Acho que já são amantes.

— Eu não me surpreenderia, meu amor. O apetite de Black Parlan porbelas moças é notório, e Aimil é bela.

— Como pode estar tão calmo? Mesmo que pelo casamento, é parentedela, e eu sempre pensei que gostasse de Aimil.

— Querida, olhe ao seu redor. Este castelo está cheio de homens. Aimil ésimplesmente uma prisioneira aqui. Quem sabe se ocupando a Cama de Parlan

ela não esteja melhor protegida? Sendo amante dele, ninguém ousará tocarnela. Além do mais, ela não dá sinais de estar sendo maltratada, e isso é o queimporta. Deixe estar por enquanto. A honra dela, se foi perdida, poderá servingada mais tarde.

Mesmo detestando a idéia, ela teve de concordar.

— Meu pai não enxerga a verdade ou apenas age dessa forma por quepensa como você?

Por um instante Iain observou Lachlan.

— É estranho, mas tenho a sensação de que ele está jogando um jogo

desconhecido para nós.Conforme o jantar se prolongava, Giorsal passou a concordar com o

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marido. Mesmo Lachlan não poderia ignorar o que existia entre Parlan e Aimil,mas parecia fazer exatamente isso. Parlan nem tentou agir com frieza comAimil, e ela simplesmente não sabia como fazer isso.

— E por que o futuro marido de Aimil não veio com vocês? — Parlanperguntou assim que os criados retiraram os pratos.

— Ele estava muito ocupado — Lachlan respondeu de improviso, — Comobem devem saber, há alguns danos recentes à propriedade dele quenecessitam de reparos.

— O que acontecerá se o resgate de Aimil não for pago até o fim doverão?

— O casamento será postergado para outra data. Ele esperará pelanoiva. Esperou tantos anos, o que são alguns meses?

Enquanto Rory Fergueson observava seu homem de confiança carregar a

 jovem que acabara de sofrer em suas mãos para fora, ele pensava em Aimil.Do modo como as coisas estavam sendo conduzidas poderia levar meses atéque ela fosse libertada. Pensar nela com Black Parlan provocava sua luxúria,tornando-o ainda mais cruel do que de costume. A pobre jovem que acabara desair dali precisaria de um bom tempo para se recuperar.

— Quase matou essa última — Geordie, o homem atarracado comfeições azedas, resmungou.

— E quem se importa? — bradou Rory ao se jogar numa cadeira e aceitara caneca de vinho oferecida pelo homem que lhe era mais próximo.

— Vai se importar se esse tipo de notícia chegar aos ouvidos de LachlanMengue.

— Acha que ele é surdo e nunca soube do que já fiz?

— Não, mas esses são apenas boatos. Se continuar a encher a Escóciacom essas vadias surradas ou mortas, ele logo terá fatos.

— Sim, tem razão. Preciso agir com mais cautela. Perdi a cabeça. Mas sóconsegui pensar em Aimil nas mãos de Black Parlan.

Geordie escondeu uma careta. Não duvidava do que poderia acontecercom uma bela cativa. A esposa tão aguardada de Rory não chegaria pura ao

casamento. Mesmo que Rory só a quisesse para se vingar, ele a desejavaintocada.

Quando Rory ordenou que lhe trouxesse outra moça, Geordie protestou.Rory só vinha bebendo e se divertindo com mulheres desde a captura de Aimil.Ele tinha certeza de que Rory caminhava sobre uma linha tênue entre aloucura e a sanidade e temia que os pensamentos de Parlan e Aimil juntos ofizesse transpor esse limite. Só quando o chefe prometeu que poderia ficarpara controlá-lo, ele foi buscar outra moça. Voltou com uma criada corpulenta,cheia de curvas e cobiça, que saberia lidar com dois homens.

Rory ficou deitado na cama, sua mente voltada para Aimil. Ele a teria,

depois a entregaria a Geordie e a humilharia. Acabaria com seu espírito, comsua sanidade e com seu corpo antes de tirar-lhe a vida. Pensar em como agiriasó aumentava seu prazer presente. Aimil Mengue se arrastaria e imploraria

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para que ele acabasse com sua vida antes que ele fizesse tudo o que tinha emmente.

Aimil subitamente estremeceu. Tentou se convencer de que era porcausa de uma corrente de ar, mas sabia que era outra coisa. O frio viera de

dentro dela. Tudo o que ela pensava, apesar de tentar se livrar de quaisquersuperstições, era que um pressentimento sombrio encobria-lhe a alma, algomalévolo a tocara com seus dedos enregelados. Por isso, precisou de todo seuautocontrole para não gritar.

— O que houve, Aimil? — Giorsal perguntou. — Ficou pálida de repente.

— Senti um arrepio. Foi como se uma alma passasse por aqui.

— Não diga asneiras. — Giorsal estremeceu. —Venha, vamos dar umpasseio. São as conversas de batalhas desses homens que a deixaram assim.

Lagan as seguiu à distância, dando-lhes um pouco de privacidade.

Giorsal ficou satisfeita por poderem conversar enquanto caminhavam debraços dados.

— Vou lhe perguntar de novo. Como você está, Aimil? Não pode me dizerque ele não a tocou. Eu enxergo, sabia?

— Acha que papai desconfia? — Aimil perguntou em pânico, sem tentarnegar as acusações da irmã.

— Acho que não. Nem eu teria visto, mas é que... Bem, eu e Iain estamosmais próximos agora.

— Ora! Como isso aconteceu?

— Quer dizer que sabia que havia problemas em meu casamento?

— Não um problema, mas falta de amor e de cumplicidade.

— E isso não é um problema? — Giorsal replicou. — Eu não queria mecasar com Iain, pois o considerava comum, sem-graça. Nunca o traí, mas deipouco de mim ao casamento. Foi só depois que você foi seqüestrada meenxerguei o homem com quem havia me casado. Fui uma tola. Apesar deminha frieza, ele nunca me traiu, e por mais que seja rude, nunca memaltratou. Então, eu lhe disse algumas palavras doces e fui para a cama deleem vez de obrigá-lo a me procurar e encontrei o amor.

— Ele estava lá o tempo todo, Giorsal.— Sei disso agora, mas passei muito tempo olhando apenas para mim

mesma, vendo somente meu desapontamento por não ter feito minha escolha.

— Estou muito feliz por você e por Iain. — Aimil a abraçou. — Ele é umbom homem. A rudeza a que se refere é fruto da timidez dele.

— Hoje eu entendo isso. É uma vergonha que minha irmãzinha caçulatenha enxergado isso antes de mim. Bem, agora me fale de você e de BlackParlan.

— Vai insistir nesse assunto? — Entretanto, Aimil descobriu que desejava

falar com sua irmã sobre ele.— Vou. Ele não a machucou, não é?

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— Não. Ele queria Elfking e me deu uma escolha. Se eu fosse para acama dele, ele não tomaria meu cavalo. Vejo que a choquei.

— Um pouco. — Giorsal meneou a cabeça. — Dar tal passo por causa deum cavalo...

— Acho que o velhaco me enganou, mas pouco importa. Vou chocá-la

ainda mais ao dizer que gostei de estar na cama com ele, que não fui até lásomente por causa de Elfking. Tentei, mas não consegui sentir nem vergonha,nem culpa. Tudo o que consegui pensar foi que eu teria de me casar com RoryFergueson.

— Por que não ter um pouco de prazer enquanto pode?...

— Foi o que fiz. Agarrei a oportunidade com as duas mãos. Claro queParlan diz que eu não me casarei com Rory, ainda que não me diga por que eleé contra o casamento ou como poderá detê-lo.

— Se ele o fizer, você precisa me contar. Quero saber de tudo. Não possoculpá-la pelo que fez, mas aja com cautela, Aimil. Black Parlan parece do tipode homem que faz as moças perder a cabeça. Você não pode ter mais do que já tem e esperar por mais só lhe trará dor e desapontamento.

— Sei disso, Giorsal. Não se preocupe. — Aimil desejou poder colocarmais ênfase em suas palavras.

— Você disse que a enganou. Como?

— Ele vem se acercando de Elfking, tentando ganhar a confiança dele.Ele nem tenta esconder isso, o malandro...

— Mas ele disse que não tomaria seu cavalo... Não posso acreditar que

quebre uma promessa.—Parlan disse que não roubaria meu cavalo. Nunca prometeu não tentar

conquistá-lo. Homem traiçoeiro... Eu suspeitava disso há algum tempo, mastive a certeza esta manhã. Pensei que papai não se importasse com minhahonra ao deixar o pagamento do resgate para mais tarde, mas Parlan mecontou que ele o fez jurar que não me machucaria. Mas ele já ò fez, não? Emesmo assim a sua promessa acalmou papai. Parlan é bom com as palavras ese orgulha disso.

Enxugando lágrimas de riso, Giorsal disse:

— Ele não parece ser a besta fera que descrevem. Aimil contou-lhe sobre

sua tentativa de fuga e pelo resto da caminhada Giorsal a incitou a falar mais.Aimil separou-se da irmã acreditando ter acalmado seus temores, mas, naverdade, só os aumentou. Antes de voltar ao acampamento, Giorsal viu-sesozinha com Parlan por um instante e com olhos ferozes, declarou:

— Não magoe Aimil.

— Como prometi ao seu pai...

— Sei o que disse a ele, seu traiçoeiro! Não faça jogos de palavrascomigo. Não me importo com a virtude ou com o corpo de Aimil. Estou mereferindo ao coração dela e, se deixar um machucadinho sequer ali, terá de se

ver comigo, Parlan MacGuin!— O que foi isso? — Lagan perguntou, assim que o grupo se despediu.

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— Os instintos maternos foram instigados em relação à irmã. Ela meadvertiu quanto a ferir Aimil.

— Ora, você nunca feriu uma mulher.

— Giorsal se referia ao coração. Ela teme que eu conquiste o amor dairmã com meu charme inquestionável.

Lagan riu, enquanto voltavam ao castelo, depois ficou sério.— E se isso já aconteceu? Já teve muitos corações jogados aos seus pés.

Aimil Mengue pode fazer o mesmo.

— Não. Aimil jamais jogaria o coração aos meus pés. Ela o colocaria emminhas mãos, esperando que ele fosse bem cuidado.

— E se ela fizer isso?

— Se eu me casar com ela, isso seria bom, não? O casamento navega emáguas mais tranqüilas se a esposa entrega o coração junto com os votos noaltar.

— Ainda está pensando em se casar com ela?

— Sim. Como já disse, estou na idade certa e ela parece ser a melhorescolha. — Sorriu ao se encaminhar para seu quarto. — Isso deve acalmarGiorsal MacVern.

Parlan sentiu estar certo ao manter silêncio quanto ao motivo de odiarRory Fergueson naquela noite quando Aimil despertou por conta de umpesadelo.

Ela disse que parecia ter tido um pressentimento e que sonhara com amãe, toda ensangüentada.

— Não há como explicar os pesadelos, querida. Está segura aqui. Pensesomente nisso. Não vou deixar que nada lhe aconteça, nem que RoryFergueson ponha as mãos em você. Lembre-se disso. Vou impedir essecasamento.

Ela o fitou de esguelha.

— Por que se opõe com tanta veemência a esse casamento? Não sounada para você. — Ela se magoou ao admitir tal coisa.

— Bem — ele a beijou na testa —, eu não diria "nada". Não me peça para

explicar, apenas confie em mim.Aninhando-se contra o corpo dele, Aimil suspirou sonolenta e fechou osolhos.

— Eu confio, Parlan. Sim, eu confio.

Ele sorriu e se perguntou por que as palavras dela o faziam estourar deorgulho e contentamento.

Capítulo III

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— Não pode estar falando sério.

— Estou. Vou ficar aqui. Lachlan olhou para a expressão determinada deseu filho. Não previra que aquilo poderia acontecer, mesmo levando em contaa ligação entre Leith e Aimil.

— Não vai acontecer nada com sua irmã. Tenho a palavra de BlackParlan.

— Sei disso, mas sinto que Aimil pode precisar de alguém da família porperto e quero estar aqui quando isso acontecer.

— Fico feliz que pense nas necessidades dela, mas Parlan poderá se opora isso.

— Ele não seria capaz de expulsar alguém doente. — Leith se recostouna cama e fingiu fragilidade.

— Você tem talento... — Lachlan comentou, fazendo o filho sorrir —, masnão sei se conseguirá enganá-lo por muito tempo.

A atuação de Leith não iludiu Parlan nem por um minuto, mas elepermitiu que Leith acreditasse que sim.

Entendia o que o motivava e não se opunha que ele ficasse.

Leith ficou aliviado por poder ficar. Suspeitava que se ferisse Parlan,acabaria magoando a irmã, que parecia feliz demais para uma mulher de

quem, supostamente, se tirava proveito, mesmo tenho escolhido essecaminho. Notava algo no ar sempre que a via ao lado de Parlan, ainda que nãoousasse adivinhar os sentimentos dele, por mais que não a tratasse como umconveniente receptáculo para sua luxúria. A situação requeria muita atenção eesse era um dos principais motivos que o faziam permanecer em Dubhglenn.

Quando Aimil soube que ele não iria embora, ficou extasiada a ponto deentrar correndo nos aposentos do irmão assim que o pai partiu, cobrindo-o debeijos. Mesmo que Leith ficasse em meio aos inimigos, por assim dizer, ela nãotemia pela segurança dele.

O resgate de Leith fora pago com relativa facilidade, o que preocupava

Parlan. Agora ele temia que não dispusesse de tempo suficiente para pôr fimaos planos de casamento de Aimil. Rory continuava a agir com cautela, e umhomem cauteloso demorava a dar o bote. Enquanto pensava nesse problema,permitiu a entrada de Lagan em seus aposentos.

— Artair voltou.

— Onde ele está?

— Em seu quarto, se arrumando para o jantar.

— No mínimo está tentando me evitar.

— Ainda está com raiva dele?— Mais do que zangado, estou aborrecido com ele.

— Assim é melhor. É impossível mudar o comportamento de alguém na

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base dos gritos. Só ele pode promover essa mudança.

— Acha que devo deixar que ele se atole na própria lama e se libertequando e se quiser...

— Sim, mesmo que isso pareça rígido demais já que ele é seu irmão.Artair já sabe que você desaprova o comportamento dele. Para mim, o

caminho mais seguro é deixá-lo por conta própria, assim ele só poderá culpar asi mesmo.

— Ou a mim por não me importar.

— Bem, isso pode acontecer. — Lagan fez uma careta. — Às vezes, aspessoas nos culpam não importando o que façamos.

— É verdade... — Um pensamento iluminou o rosto de Parlan. — Ele vaificar surpreso ao ver a transformação do "rapaz" que ele capturou! Ei, por queessa cara?

— Eles eram o prêmio de Artair. Ele pode se achar no direito de gozar os

prazeres da captura.— Então ele logo saberá que não. De fato, vamos procurá-lo para contar

em que pé as coisas estão antes que se depare com Aimil.

Aimil seguia para o salão, contente por se ver livre da companhiaconstante de Lagan, mesmo que por poucos minutos. Assim que chegou ao fimdo corredor, deu de frente com o homem que capturara ela e Leith. De pronto,desejou que Lagan a estivesse vigiando. Artair a deixava nervosa.

— Ei, de onde você surgiu, garota? Não, não fuja. Por que usa roupas dehomem?

Para seu desespero, Artair não estava bêbado, por isso, ágil, segurou-aquando ela tentou se esquivar.

Com a mesma agilidade, prensou-a contra a parede.

Aimil notou a semelhança com Parlan, mas, de algum modo, a fraquezadele se revelava em suas feições. Ao pensar nisso, acreditou ter encontradoum modo de detê-lo.

— Pertenço a Parlan! — exclamou, enquanto tentava se esquivar dasmãos audaciosas.

— É mesmo? Onde ele a encontrou? — Seus olhos se arregalaram

subitamente quando a examinou melhor. — Meu Deus! Você é o Mengue maismoço! Eu devia estar muito bêbado para não ter notado que era uma mulher.— Tirou o chapéu dela e soltou-lhe os cabelos. — Bem, então você é minha.Parlan vai me dar razão.

— Não! — Ela arfou, tentando desviar dos lábios dele.

— Eu pertenço a Parlan. — Não conseguia acreditar que tal declaraçãonão o detivesse.

Ele a ignorou, o olhar fixo nas ondas dos cabelos sedosos.

— Deus meu, como são lindos... Fique quieta, garota — ele resmungou.

— Eu a trouxe para cá, então você é meu prêmio. Nem vou me dar ao trabalhode falar com Parlan.

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Um grito escapou dos lábios de Aimil ao ser segura pelo pescoço, osdedos fortes prendiam seu maxilar impedindo-a de virar o rosto. Seu estômagorevirou quando ele pressionou a boca na sua. Por mais que tentasse nãoconseguia golpeá-lo com o joelho. Em vez disso, cravou os dentes nos lábiosrudes, sentindo imediatamente o calor nauseante do sangue dele em sua boca.

Ele se afastou por causa da dor e a estapeou antes mesmo de soltá-la. Aforça do golpe a fez cair. Aimil tentou se levantar, mas um segundo tapa aatingiu. Estava claro que Artair não seguia a cartilha do irmão. Deitada nochão, tonta, viu ele se aproximar para nova investida. De repente, um urro seseguiu e Artair foi jogado de lado.

Ela não se surpreendeu ao ver Parlan, pois reconhecera o urro comosendo dele. O que a pegou desprevenida foi a ira estampada em suas feições.Artair também reconheceu seu ódio, pois empalideceu visivelmente.

O único pensamento claro na mente de Aimil foi que deveria impedir quealgo terrível ocorresse entre os irmãos. Se Parlan só quisesse bater no irmão,

pouco se importaria. Contudo, a ira cega que via em seus olhos, assegurava-lhe de que ele não saberia quando parar. Com um grito, lançou-se na direçãode Parlan, abraçando-o no pescoço e enroscando as pernas em sua cintura, naesperança de que o breve instante necessário para se desvencilhar delabastasse para que ele pensasse com clareza.

Parlan instintivamente passou os braços ao redor de Aimil, mas levou uminstante antes de relaxar os punhos. Arfou repetidas vezes e apertou os olhos,lutando para controlar a ira que o tomara de assalto ao ver Artair estapeá-la.Seu primeiro pensamento lúcido foi o de que estivera muito perto de dar fim àvida do irmão. Numa voz impassível sentenciou-o a vinte chibatadas.

— Parlan... — Artair chamou ao ter os braços imobilizados por Lagan.— Agora! Rápido! Antes que eu mude de idéia e o expulse para sempre.

Olhando de esguelha para Artair, Aimil viu que ele estava branco comoum fantasma.

— Parlan...

— Não diga nada.

Ela comprimiu os lábios e escondeu o rosto na curva do pescoço deleenquanto ele se encaminhava para o quarto. Lá, ficou calada enquanto lheaplicavam compressas no rosto e pescoço a fim de diminuir os hematomas que já surgiam. Mesmo enquanto jantaram sozinhos no quarto, ela não disse nada.

Muitas coisas passavam-lhe pela cabeça, mas ela as refreou. Parlanestava distante e calado, e ela não sabia como interpretar tal comportamento. Talvez tivesse falhado completamente em evitar algo irremediável entre osirmãos, talvez ele a culpasse pela situação...

Quando Lagan entrou, ela recuou para a cama, sentando-se ao encontrodos travesseiros. Ele lhe lançou um olhar de simpatia, e seus medosdiminuíram um pouco. Se ele não a culpava pelo acontecido, talvez Parlantambém não o fizesse.

— Acabou?— Sim, Parlan. Old Meg está cuidando dele agora. Parlan assentiu com

um gesto de cabeça e se dirigiu para a janela, olhando para o pátio iluminado

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pelo luar. Lagan lançou um sorriso encorajador a Aimil antes de sair e seguirpara o quarto de Artair.

— Onde está Parlan? Ele não vem se vangloriar? — Artair disse, irritado.

Vendo as marcas nas costas dele, Lagan concluiu que Malcolm não

economizara na força.— Você é um tolo, Artair.

— O que fiz além de tentar obter um pouco de prazer?

— A meu ver, estava tentando espancar a moça. É essa a idéia que vocêtem de prazer?

— Não. — Artair desviou o olhar, envergonhado por seu descontrole. — Éque ela me mordeu.

— Sua boca não deveria estar perto da dela. Ela pertence a Parlan.

— A moça não é um dos membros dos Mengue que capturei? Ela deveriaser minha por direito.

— Ela está na cama de Parlan. Isso dá todos os direitos a ele. E Aimil nãoestá lá como um prêmio. Eles fizeram um acordo.

— E quem se importa? Parlan não tinha o direito de fazer isso comigo.

Artair mais parecia um menino mimado, e Lagan meneou a cabeça,desgostoso.

— Você recebeu o que qualquer um teria recebido caso tentasse fazer oque fez.

— Eu não sou qualquer um! Sou irmão dele, seu herdeiro!

— Você é um moleque tolo e beberrão. Não se faça de ofendido. Você équem deveria estar ao lado de seu irmão, e não eu.

— Ele não me quer ao lado dele — Artair reclamou.

— Não quer porque não pode confiar em você, pois está sempreembriagado demais. Quando chegou à idade de fazer alguma coisa de útil,você já tinha experimentado os prazeres da carne e do álcool e estavaafundado até o pescoço.

— E o que isso tem a ver com o que aconteceu hoje?— Mais do que imagina rapaz. Se não estivesse tão bêbado ou tentando

evitar a reprimenda merecida, saberia o que vem acontecendo aqui. Saberiaque a moça é a filha caçula de Lachlan Mengue e não uma qualquer. O queaconteceria caso ela fosse ferida?... E é noiva de Rory Fergueson e seu irmãoestá tentando evitar esse casamento! — Lagan caminhou até a porta, farto detentar enfiar algum juízo na cabeça do jovem. — Você também saberia que acada dia que passa, essa moça em quem bateu e a quem tentou estuprar,chega mais perto de se tornar a nova dona de Dubhglenn. — Bateu a porta,deixando Artair cheio de dúvidas.

Rememorando o passado, Parlan tentava descobrir onde errara com oirmão, entretanto não conseguia identificar o que poderia ter feito diferente.Mesmo assim, acreditava ter errado, ou então tudo era devido a índole ruim.

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Nesse caso não haveria como mudar Artair. O irmão estaria perdido e isso oentristecia.

Estava certo de que não tinha mais como ajudá-lo a mudar de vida. Oseventos daquela noite marcavam o fim do tênue relacionamento entre ambos.Levaria muito tempo até que conseguisse encará-lo sem raiva. Sabia que issonão era somente pelo fato de Artair ter abusado, de uma mulher, mas por essamulher ser Aimil.

Devagar, virou-se na direção dela e sorriu de leve. Ela estava aninhadacontra os travesseiros, fazendo força para não dormir. Notou, então, que suasações desde o incidente podiam levá-la a crer que a culpava. Aproximando-seda cama, deitou-a com gentileza e retirou-lhe as botas.

— Está na hora de dormir, doçura. — Franziu o cenho quando ela oencarou.

Aimil tentava ler a expressão velada nos olhos dele. Parlan não pareciazangado com ela, embora percebesse que ele estava com raiva. Sem conseguir

discernir o humor dele, ficara calada como ele havia lhe ordenado no salão.Não queria piorar a situação com alguma palavra mal colocada.

— Pode falar agora — ele murmurou, tentando caçoar. Contudo, suatentativa não surtiu efeito.

— Sinto muito — ela sussurrou, imobilizada pelo nervoso, enquanto eleterminava de despi-la.

Colocando-a debaixo dos lençóis, Parlan se sentou na beirada da cama etraçou os hematomas que se formavam no pescoço e rosto de Aimil.

— Não tem por que sentir isso, minha pequena. — Levantou-se e despiu-

se. — Você não tem culpa. Eu vi tudo. Só queria ter chegado antes e impedidoque ele batesse em você.

— Ele estava com raiva, Parlan. Eu o mordi. Deve ter doído muito.

— Imagino que sim. — Parlan sorriu de leve e se deitou ao lado dela. —Um tapa poderia ter resolvido o assunto, mas ele estava determinado a surrá-la e você sabe disso. Não há desculpas para o comportamento de Artair e eleconhece o meu parecer em situações como essa.

— Não seria melhor você ir ver como ele está? — ela perguntou ao vê-loacomodar-se junto de si.

— Não. Ainda sinto muita raiva e posso fazer o que você impediu: matá-lo.

— Você não faria isso. Ele é seu irmão.

— Não? Então por que me impediu?

— Porque temi que fizesse algo de que viesse se arrepender mais tardequando a raiva acabasse.

— Não acredito que essa raiva me deixará um dia. Sinto raiva de Artair ede mim mesmo.

— De você? Por quê?— Eu falhei com ele, Aimil.

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— Algumas pessoas são fracas, Parlan. Não há nada que se possa fazer.Só elas mesmas podem se ajudar quando estiverem prontas para isso.

— É o que Lagan diz.

— Bem, ele tem razão.

Antes que Parlan respondesse, ouviram uma batida à porta. Parlan sorriu

quando Aimil se escondeu debaixo das cobertas. Era Leith quem entrava.— Não está doente demais para estar fora da cama? — Parlan perguntou.

Sem responder, Leith quis saber:

— Como está Aimil?

— Eu estou bem— ela respondeu com a voz abafada pelas cobertas.

— Está com vergonha de mim, minha irmã? Descobrindo-se, elamurmurou:

— Bem, você nunca me viu na cama de um homem antes. — O sorriso

tímido sumiu ao ver que o irmão empalidecia diante de seus hematomas. —Parece pior do que está.

— Eu gostaria que você não ficasse marcada com tanta facilidade. Édifícil saber quando a situação é ruim de verdade.

— Artair deu dois tapas em Aimil antes que eu o detivesse — Parlanexplicou.

Assentindo, pois já ouvira comentários quanto ao castigo de Artair, Leithdisse:

— Bem, eu só queria ver como você está, Aimil. — Disfarçando seuconstrangimento, ele disse antes de bater em retirada: — Acho melhor voltarpara a cama, ainda estou muito fraco.

— É assim que eu queria que Artair fosse — Parlan comentou ao vê-losair.

— Seu irmão ainda é jovem. Pode mudar.

— Do jeito que as coisas vão, ele é capaz de morrer antes de mudar.Bem, mas isto está fora do meu controle. Durma agora, querida. Precisadescansar para sarar e eu ainda sinto muito ódio dentro de mim para fazeramor hoje. É melhor nem tentar, eu poderia machucá-la.

Aimil se aninhou ao encontro do corpo dele e permitiu que o sonochegasse. Não havia o que fazer, a situação teria de ser resolvida entre Artair eParlan.

Por muitas horas Parlan ficou acariciando os cabelos dela e fitando oteto, enquanto pensava. O fracasso e o desapontamento, coisas difíceis deengolir, deixavam um gosto amargo na boca. Recostando o rosto contra ocabelo de Aimil, reconheceu que sua reação fora extrema por causa da pessoaa quem o irmão machucara. Decidiu, então, esperar alguns dias antes deprocurá-lo e depois entregou-se ao sono.

— O que me diz, Leith?Ele observou a irmã atentamente. A roupa que Aimil vestia era estranha,

mas interessante. O tartan de alguém havia sido transformado numa saia justa

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e ela ainda usava camisa sob o colete que, bem amarrado, ressaltava a curvados seios tal qual um corpete.

— É de uma estranheza encantadora. Servirá muito bem até que papaimande alguns de seus vestidos. Pronta?

— E meu cabelo? Não consegui ninguém para arrumá-lo para mim. —

Mirou-se no espelho, contente por ver que os hematomas tinham desaparecidoquase completamente.

— Posso fazer isso para você. Não me olhe assim, cansei de ver você enossas irmãs arrumar os cabelos.

Quando ele terminou, Aimil ficou impressionada. Ainda que simples, openteado era muito melhor do que o modo desajeitado com que ela sempre seapresentava. Sorriu agradecida quando Leith a conduziu pela mão até o salão.

Ao chegarem ao pé da escada, houve uma ligeira comoção. Assim queParlan viu Aimil, sorriu e deu um passo em sua direção. Neste mesmo instante,uma mulher, adorável e muito elegante, entrou no salão pela outra ponta.  Todos os elogios que Aimil poderia tecer sobre a recém-chegadadesapareceram num segundo. A mulher se tornou uma das criaturas maisbaixas da face da Terra ao interceptar Parlan e dar-lhe um beijo demorado,inapropriado para um simples cumprimento. Aimil precisou de todo seuautocontrole para não voar no pescoço da mulher e separá-la de Parlan.

Foi então que uma súbita revelação a empalideceu. Amava Black Parlan.Só isso explicaria a fúria cega que sentiu por uma completa desconhecida epela agonia de ver Parlan abraçá-la. De pronto, desejou fugir dali. Seria umcalvário enfrentar a todos depois do que acabara de descobrir. Temia que seussentimentos ficassem evidentes em cada gesto seu, e essa era a última coisaque desejava que Parlan viesse a saber.

Parlan gentilmente, mas com firmeza, se soltou de Catarine. Ela era aúltima pessoa que desejava ver. Aliás, desejou muito que ela não tivessecumprido a promessa de ir visitá-lo. E, mais que tudo, desejou não ter sucum-bido ao assédio insistente dela, especialmente depois de ver Aimil encarando-ocom evidente desagrado. Estendendo a mão na direção dela, disse:

— Catarine, eu gostaria que você conhecesse minha hóspede.

Com relutância e incitada por Leith, Aimil seguiu até Parlan, permitindoque ele segurasse sua mão. A mulher obviamente sentia-se no direito de

chegar sem ser anunciada e beijá-lo de modo íntimo. Por isso, Aimil não estavanem um pouco inclinada a participar da história.

Leith observou a irmã, atentamente. Não gostava de lançá-la na toca dolobo, ainda mais quando fazia uma boa idéia do motivo que a fizeraempalidecer. Entretanto, não seria sábio Aimil retroceder. Além de precisarlutar pelo amor do homem amado, ela não deveria permitir ser posta de lado eassim perder sua posição privilegiada no castelo dos MacGuin. Ela era, afinalde contas, uma prisioneira cujo resgate tardava a chegar.

— Catarine, eu gostaria de lhe apresentar Aimil Mengue e seu irmão,Leith. Catarine Dunmore, prima de Lagan.

— Por certo, sou muito mais do que isso... — ela ronronou com o olharfixo e frio em Aimil.

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— É mesmo? — Parlan deu o braço a Aimil. — Estamos prontos para o jantar. Gostaria de se refrescar antes, Catarine?

Aimil viu o evidente desgosto por ter sido repelida no rosto da recém-chegada. Teve a certeza de que a outra só se retirou para preparar umaestratégia de ataque. Quando Parlan a ajudou a se sentar a seu lado, tambémteve certeza de que aquela seria uma longa noite. Desejou, então, inventaruma desculpa para se retirar.

Apesar de seus esforços, Parlan apenas obteve respostas monossilábicasde Aimil. Queria lhe falar sobre Catarine mesmo sem saber o que dizer, mas olugar e a hora não eram ideais. Por outro lado, deleitou-se com a prova de queos sentimentos dela eram mais do que uma simples paixão. Percebeu, então, oquanto desejou que isso fosse verdade.

Quando retornou, Catarine não gostou de ver que Parlan tinha Malcolm eAimil sentados ao seu lado. Enquanto se refrescava, perguntara à criada qualera a exata condição de Aimil no castelo. A moça podia continuar a ser uma

prisioneira bem tratada, desde que isso acontecesse longe da cama de Parlan.Num dado momento em que Parlan estava entretido numa conversa comMalcolm, Catarine dirigiu-se a Aimil.

— É verdade que só está aqui por que ainda não pagaram seu resgate?— Percebeu que Leith ficou tenso e, olhando para Lagan adiante, teve acerteza de que seu tiro fora certeiro.

— Meu pai pagou o resgate de Leith, que era considerável. Precisa detempo para angariar fundos e pagar o meu — Aimil respondeu, friamente.

— Ah, sim claro. Seu pai sabe o quanto está apreciando sua estada aqui?

— Ele sabe que nenhum mal me aflige. — Aimil controlou a raivacrescente. — A hospitalidade dos MacGuin é inquestionável.

— Definitivamente inquestionável. — Catarine lançou um olhar cheio designificados na direção de Parlan. — Conte-me, os homens são tão grandes nas Terras Baixas?

O modo como Catarine pronunciara a palavra "grande" fez com quetodos à mesa soubessem que ela se referia a uma parte específica daanatomia de Parlan, que, embora tivesse ouvido o que se passava, fingiu nãoter prestado atenção. Apesar de ter se ressentido por ser comparado a umgaranhão. Por isso aguardou a resposta de Aimil.

Aimil pressentiu que Catarine dava outro significado às suas palavras,mas não entendia qual. Uma possibilidade lhe veio à mente, descartou-a,porém, crente de que ninguém em sã consciência falaria de tal modo à mesa. Também lhe parecia que as mulheres deveriam se referir a Parlan como umhomem completo. Seu apelo ia além da aparência física.

— Bem, ele é bem alto — respondeu com inocência, franzindo o cenhoquando se fez ouvir urna epidemia de tossidelas.

Catarine olhou fixamente para ela.

— Ou você é muito inocente ou muito tola, menina! Não me referi à

altura dele.Franzindo a testa ainda mais, Aimil disse: — Ele não é tão largo. Já vi

homens com ombros mais amplos.

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Dessa vez o riso não foi reprimido e Aimil se deu conta de que deixaraalgo passar. Depois de um instante, concluiu que a mulher se referia à suaprimeira interpretação, por isso arfou e corou.

— Não pode estar se referindo àquilo. Estamos jantando. Não é hora dediscutir tal assunto.

Catarine pensou que ao ressaltar a ingenuidade da moça acabariadiminuindo o interesse de Parlan, um homem experiente, por ela

— Acho que não existe hora mais adequada — sussurrou, passando alíngua pelos lábios de modo lascivo.

Parlan sabia que o significado daquilo passara despercebido a Aimil. Oato de amor entre eles fora diversificado, mas não tanto, pois ele reprimiramuitas de suas vontades em respeito à inocência dela.

Dessa vez Aimil logo percebeu que a mulher brincava com o significadodas palavras. Aproveitando-se que estavam enchendo as canecas novamente,inclinou-se na direção de Lagan discretamente.

— Acabo de pensar num significado muito inapropriado para as palavrasdela. Será que estou certa?

— Não duvido. Catarine não vale nada, Aimil, e parece não ter maismodos. Não preste atenção ao que ela diz. — Fitando a prima, disse: — Estácada vez mais grosseira, prima.

— E você não deveria ser tão pudico, primo. Essa criança já deveriasaber alguns fatos da vida.

Aimil cerrou os dentes e sussurrou para Lagan:

— Se ela me chamar de infantil de novo, não respondo por mim:Parlan desistiu da farsa de estar falando com Malcolm. Sabia que Aimil

era complexada com sua baixa estatura e detestava ser comparada a umacriança. Vendo o brilho no olhar dela, esperou pela nova farpa de Catarine.

— Sei que Parlan gosta da juventude, mas isso é praticamente roubaruma criança do berço...

— Já chega! — Aimil sibilou ao se erguer.

Pegou a sobremesa mais próxima a atirou-a na mulher num tiro certeiro.As imprecações da outra foram abafadas pelas risadas dos presentes.

Aimil não se divertiu tanto quando Lagan arrastou uma irritada mulhercoberta de creme e frutas para fora do salão. Fora insultada ao ser chamada decriança e reagira como tal. Envergonhada de seu comportamento, tratou de sesentar.

— Ora, ora, sua mira é certeira — Malcolm elogiou com um sorriso largo.

— Tsk, tsk. — Parlan balançou a cabeça com os olhos cintilando. —Precisa aprender a controlar seu temperamento.

— Olha quem está falando — disse ela, encarando-o.

— Você nunca me viu atirando comida nas pessoas. Decidindo que nãoera hora de discutir com Parlan.

Aimil se calou. Teve de dar mão à palmatória a Catarine, pois ela logo

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retornou, num vestido ainda mais belo. Resolveu então, que não deixaria seutemperamento reinar novamente, suportando a situação com a dignidade deuma dama.

Essa, porém, não foi uma promessa fácil de cumprir. Catarine pareciacada vez mais decidida a afrontá-la, mesmo tendo de se esticar toda por sobreMalcolm para chamar a atenção do senhor do castelo. Quando Malcolm pediulicença para assumir seu turno na guarda, ela se aproveitou e se sentou aolado de Parlan. Depois disso, Aimil fez de tudo para não cravar sua faca na mãoda outra. Estava se roendo de ciúme.

Quando a mão de Catarine deslizou por debaixo da mesa, a paciência deAimil desapareceu.

— Perdeu alguma coisa? — perguntou atrevida e olhou para baixo onde amão da outra se movia entre as pernas de Parlan. — Permita-me ajudá-la.

Enquanto Parlan afastava a mão de Catarine, sentiu os dedos de Aimilbeliscando-o. Assustou-se e quase caiu da cadeira. Esfregando as partes

doloridas, perguntou:— O que foi isso? — resmungou a despeito do riso dos outros homens.

— Ah, me desculpe — Aimil disse, afetada. — Pensei que fosse um dedo.

Catarine arfou, chocada, os olhos arregalados, esperando o lendáriotemperamento irascível de Parlan falar mais alto. No entanto, dividido entredivertimento e zanga, ele entendeu que Aimil agia movida pelo ciúme. Comisso caiu na gargalhada, dando licença para que seus companheiros de mesa oacompanhassem.

Catarine permaneceu em silêncio, odiando Aimil Mengue.

Alguns instantes mais tarde, Aimil resolveu que estava farta do vinho eda companhia. Pediu licença e se retirou. Quando hesitou diante da porta doquarto de Parlan e olhou na direção do quarto de Leith, Lagan, sua eternasombra, deu um passo à frente.

— Eu não faria isso se fosse você.

— Bem, não estou disposta a enfrentar um encontro a três.

—Não terá de passar por isso. Ele não deseja Catarine.

— Desejou um dia. Posso não entender tudo o que ela diz, mas disso

tenho certeza.— Uma vez. E ele deve estar arrependido disso no momento. Catarine

está a caça de um marido e ela não seria uma boa esposa. — Abriu a porta doquarto de Parlan, gentilmente empurrou-a para dentro. — Assuma o lugar quelhe pertence, garota. Não estou com vontade de procurá-la mais tarde, e estoucerto de que terei de fazer isso se não estiver nessa cama.

Ela não argumentou mais. Tirando a roupa, lavou-se e escovou oscabelos. Subiu na imensa cama que dividia com Parlan e desejou ter a certezade que pertencia àquele lugar. Só restava aguardar pela chegada do senhor docastelo e rezar para que ele subisse sozinho.

Parlan encontrou dificuldades para se desvencilhar de Catarine. Mesmoao pedir licença para se recolher, ela o acompanhou. Exasperado, parou dianteda porta de seu quarto e fez uma carranca.

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— Já lhe mostraram seu quarto, Catarine. O meu está tomado nomomento.

— Como pode falar comigo assim depois de tudo o que partilhamos? —Catarine jogou os braços ao redor do pescoço dele.

Aimil ficou tensa à espera da resposta, o ouvido colado à porta.

— Partilhamos de uma ou duas horas de luxúria, algo que você teve commuitos outros. Nada mais do que isso.

— Pode ser, mas nem isso pode partilhar com a criança de quem tomaconta agora.

Cedendo a um impulso infantil, Aimil mostrou a língua para a porta.

— Deixe-me lembrá-lo como uma mulher pode agradá-lo.

Pelos sons que atravessaram a porta, Aimil resolveu que o melhor eranão saber o que acontecia lá fora, por isso cobriu a cabeça com umtravesseiro. Com bravura, disse a si mesma que não valia a pena chorar.

— Tentei agir com educação, mas você foi longe demais, Catarine. —Parlan cerrou os dentes ao empurrá-la. — Não há nada que você possa fazerpara me afastar do que me espera em minha cama. Encontre outro homempara seu banquete.

Depois que ela se afastou, Parlan entrou no quarto.

— Por que cobriu a cabeça?

— Para não ouvir a babação entre você e Catarine — Aimil rebateu.

Ele sorriu ao atravessar o quarto e espiar debaixo do travesseiro.

— Que tal se eu lavar a baba?— Hum... Consegue limpar as marcas das patas dela também? — Ela

sabia que estava parecendo uma megera ciumenta, mas não conseguia seconter.

Parlan riu ao se despir. O ciúme de Aimil melhorava consideravelmenteseu humor.

— Estou mais preocupado com um beliscão.

— Sendo um homem tão grande, fico surpresa que tenha sequer notado— ela praguejou baixinho quando ele riu de novo.

Depois de um instante de mau humor, Aimil jogou o travesseiro de lado ese sentou. Parlan estava nu diante da bacia e se secava. Era, de fato, umhomem incrível, e ela entendia o que atraía Catarine. O que a preocupava,porém, era o que levara Parlan até Catarine.

— Parlan? — chamou quando ele apagava as velas.

— Sim? — Ele se deitou e a trouxe para seus braços. Contente pela luzínfima da vela ao lado da cama já que corava imensamente, Aimil perguntou:

— Quando Catarine disse que o jantar era uma hora adequada parafalar... daquilo, bem, ela se referia ao que estou pensando? Quero dizer, ela...bem, usou a boca?

— Sim.

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— Oh... Gosta de ser beijado lá?

— Sim. Eu sabia que esse era o talento dela e a procurei. Melhor dizendo,cedi aos avanços dela. Não foi muito bom. Catarine faz com que o homem sintacomo se estivesse sendo comido vivo, como se não fosse nada além de umapêndice. Ela me serviu bem uma vez, porém não a quis mais.

De súbito, Catarine deixou de ser uma ameaça. Parlan falava dela comose ela fosse apenas um utensílio. Sem falar que ele a desejava muito, dissoAimil tinha certeza. O que quer que Catarine tivesse partilhado com Parlan foraefêmero e sem importância.

— Gosta mesmo de ser beijado lá? — sussurrou quando ele a beijou nopescoço.

As mãos largas acariciavam os seios, já prontos para seremreverenciados.

— Sim... Que homem não gosta?

— Então por que não me pediu para fazer isso? É coisa de prostitutas?— Não — ele respondeu devagar —, embora normalmente os homens só

peçam isso a elas.

— Eu posso fazer se você quiser. — Ela sentiu um tremor trespassá-lo.

— Por quê? — Parlan perguntou rouco, o corpo já tenso em antecipação.

— Bem, você faz tanto por mim, é justo que eu retribua. Você me dáprazer. Eu gostaria de fazer o mesmo.

Não era exatamente a resposta que ele queria ouvir, mas não estava emcondições de discutir.

— Então me beije, minha pequena.

Quando ele se deitou de costas, Aimil, hesitante, iniciou sua jornada. Oinstinto lhe dizia que uma aproximação lenta seria mais bem recebida, por issodesceu devagar, deixando que os lábios e a língua o acariciassem no peito e noabdômen. O corpo de Parlan tremia ligeiramente e os sinais de prazeraumentavam o desejo dela, bem como a voz rouca que a estimulava.

Ao chegar ao seu destino final, o grito que ele evocou ao seu mero toquea encorajou. Ele se contorceu sob suas iniciativas até quase perder o controle.Segurando-a pelos braços, puxou-a para cima e a fez montar sobre si. O fato

de ela estar pronta para recebê-lo, de ter se excitado ao estimulá-lo, elevouseu desejo ao máximo.

Por um longo instante, eles permaneceram abraçados, tremendo com aforça da paixão e sem forças após terem saciado um ao outro.

Parlan jamais experimentara tal êxtase. A cada noite que passava nosbraços de Aimil, mesmo quando não faziam amor, ele tinha mais certeza deque seria um tolo se a deixasse partir.

Sua felicidade ao lado dela, dentro e fora da cama, não diminuíra emnada. A inquietação sentida nos meses anteriores se fora. Mesmo quando Aimil

o enfurecia, nunca pensou em se livrar dela. As mesmas coisas que oenfureciam o fascinavam. Sem dúvida era hora de parar de jogar.

Não sendo um romântico, o amor não entrava em seus cálculos, embora

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ele ambicionasse ser amado por ela. Gostava e confiava nela. Não haviadúvidas em sua mente de que seriam felizes juntos e de que se orgulhariamuito de Aimil. Queria ter filhos com ela é queria vê-los crescer e criar suasfamílias ao lado dela. Aquilo, a seu ver, punha um ponto-final na história.

— Aimil — começou com leveza, mesmo sem saber o que o levava afazer aquela pergunta —, o que você gosta em mim?

— Presumindo que eu goste de você? — ela brincou.

— Sim, presumindo. O que em minha aparência a agrada mais? —Embora se admoestando mentalmente pela tolice, ficou tenso à espera de umaresposta.

— Bem... — Ela franziu a testa, pensando numa resposta, e ergueu orosto para fitá-lo. — Seus olhos. Gosto deles. Nunca pensei que houvessetantas nuances no preto, uma para cada emoção sua. Isso quando não escondeo que sente. Sim, você tem lindos olhos.

— Obrigada, Aimil. — Ele se sentiu verdadeiramente lisonjeado. — Maisalguma coisa?

— Por acaso está querendo elogios, é? Bem, suas mãos. — Levantou umadelas e beijou a palma. — Elas são fortes, calejadas de trabalho e pelo manejoda espada, mas sabem ser gentis. Elas poderiam me esmagar, mas nuncasequer tentaram. — Notou que apesar de satisfeito, ele pareceu duvidar. — Oque pensou que eu fosse citar?

— Meu membro. — Ele fez uma careta ao ver que ela o fitava como sefosse um lunático.

— Por que eu escolheria isso? Todos os homens têm um! Quando me

perguntou o que eu gostava em você, pensei em coisas que o distinguissemdos outros. — Sorriu de repente. — Quem sabe se você sorrisse mais, asmulheres olhassem mais para seu rosto em vez do volume em suas calças?

Rindo languidamente, Parlan rolou até deixá-la debaixo de si.

— Está sugerindo que não se interessa por meus atributos?

— De modo algum. Ouso dizer que não nos divertiríamos tanto sem ele.— Ela murmurou com malícia, descendo a mão para afagá-lo. — Embora eutenha de dizer que seu apetite ameaça transformá-lo num toco.

— Vou me arriscar, sua bruxinha — ele gemeu ao encontro do seio. —

Acho que preciso aumentar o valor do seu resgate.— Se subir mais, meu pai nunca conseguirá pagá-lo.

— É exatamente essa minha intenção.

Quando a paixão se aplacou, ele se deitou com a cabeça no peito Aimil.Ela o afagou nas costas e encostou o rosto no cabelo grosso. Era difícil lembrar-se de quando não partilhava a cama com Parlan.

Começou a refletir sobre as recentes revelações, que lhe traziam tantofelicidade quanto tristeza. Amar alguém era algo indiscutivelmente prazeroso.Não precisava ser experiente para saber que era isso o que tornava o ato deamor tão sublime.

Perguntou-se se tinha sido o amor que evitou que ela sentisse vergonha

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ou culpa por se entregar. O sentimento estava ali desde o início, só era muitonovo para ser reconhecido. Aceitara a barganha absurda somente porque asemente do amor já havia sido plantada em seu coração.

A tristeza vinha do fato de Parlan não partilhar desse amor. Ele adesejava, e tinha certeza de que ele a apreciava como pessoa. Isso, contudo,não era amor. Ele lhe dava paixão e amizade, enquanto ela lhe oferecia suaalma. Era uma troca injusta que nunca faria uma mulher feliz.

Sua dor maior, no entanto, vinha de saber que aquilo teria um fim.Depois que o resgate fosse pago, ela seria enviada para casa a fim de se casarcom Rory Fergueson. Não acreditava que Parlan pudesse evitar aquela uniãocomo havia prometido. Apertou-o com um pouco mais de força e sorriu quandoele murmurou seu nome no sono. Jurou então, não pensar no que viria, apenastio momento. Iria aproveitar o amor sem pensar no amanhã.

* * *

— Elfking é um cavalo muito esperto.

— É do contra. — Parlan, recostado na cerca da baia, observava Aimilque oferecia uma maçã ao animal. — Assim como sua dona.

— Diz isso só por que você não consegue conquistá-lo.

— Bem, você me pegou. — Parlan não viu motivos para negar aacusação.

— Mas demorei. Eu me dizia: "Não, Parlan não é tão dissimulado". Eentão você foi ardiloso ao falar com meu pai.

— Eu dissimulado?— Um pouco. Você é astuto com as palavras. Tem o dom de aquietar as

pessoas, dizendo a verdade. Entretanto, nem sempre diz toda a verdade.

— E eu acreditando que estava sendo galante e charmoso, conquistandovocê e seu cavalo, e você me chama de dissimulado...

Ela o fitou com fingido desprezo, mas esforçando-se para não rir daexpressão tristonha dele.

— Desista. Não tem nada melhor para fazer esta manhã?

— Tenho. Preciso organizar as coisas para ir até Dunmore em breve.— Vai levar Catarine? — Ela se esforçou para não demonstrar seuinteresse.

— Não. Ela alega precisar de tempo para se preparar antes de viajar paraa corte em Sterling.

Parlan não conseguiu esconder o sorriso ante o descontentamento deAimil. Ficava feliz em ver a ponta de ciúme e possessividade. Sabia que haviamais, porém.

A presença de Catarine era um aborrecimento. No entanto, ela era uma

Dunmore, e seu senso de hospitalidade o impedia de expulsá-la. Nesse meiotempo, a mulher ficava rodeando e envenenando Aimil sempre que a opor-tunidade se fazia. Era um alívio ver que Aimil não permitia que o ciúme a

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transformasse numa megera. Só esperava que Catarine não demorasse aperceber que não conseguiria substituí-la em sua cama, visto que não tinha omínimo interesse nela. Aimil podia ser forte e tolerá-la, mas ele mesmo jáestava perdendo a paciência.

— Vou ficar uns dois ou três dias afastado. Satisfeito com a decepçãoaparente no rosto de Aimil, perguntou-se se ela tinha idéia de como era fáciller sua expressão. Ela sabia esconder as emoções, mas não com muita rapidez.Gostava de observá-la toda a vez que lhe dizia algo importante, só para ter umvislumbre da reação dela.

— Está bem. — Aimil tentou se convencer de que ficaria feliz com adistância, mas falhou.

Aproximando-se devagar, ele refletiu em voz alta:

— Bem, terei muitos encontros de negócios a resolver, um pouco debebida no meio...

— E mulheres — ela murmurou, contrafeita.

— Não — ele a tranqüilizou, beijando-a na ponta da orelha. — Não paramim. Preciso dar um tempo para meu pobre amigo. Você é insaciável. — Elesuspirou. — O pobre definhará bem antes de seu tempo.

— Eu sou insaciável! — ela exclamou, virando-se para encará-lo.

Movendo-se para prendê-la entre seu corpo e Elfking, que agora otolerava mesmo que não o aceitasse na sela, ele disse:

— Bem, talvez eu tampouco seja muito controlado. Claro que você sendouma moça tão linda...

— O que você está querendo?— Ora, ora, só porque lhe digo palavras doces...

— Não é nada disso. Sinto adulação no ar.

Ele sorriu, nem um pouco perturbado pela suspeita dela, e confessou:

— Eu gostaria muito de viajar com Elfking. Acho que seria um beloespetáculo chegar em tão bela montaria.

— Você faz um belo espetáculo montado em Raven.

— Sim, mas o povo já está acostumado com isso.

Aimil revirou os olhos diante de tanta falta de modéstia. Contudo, tinhade confessar que o contraste entre cavalo e cavaleiro seria fascinante de sever. Algo inesquecível. Infelizmente, apesar de seus esforços de não suspeitardele, não conseguia acreditar que aquele fosse o único motivo.

— É só por isso?

— Sim. Cativar seus aliados nunca é demais.

Ele a viu franzir o cenho enquanto afagava o pescoço do cavalo. Umapontada de culpa o assaltou, pois não estava sendo completamente sincero.Ele se ausentaria e, sem os laços da paixão, temia que ela tentasse fugir. As

chances de isso acontecer diminuiriam sem seu precioso cavalo. No íntimo,tinha de reconhecer que se ressentia de tanta afeição.

Aimil afagava o animal e tentava organizar seus pensamentos. Não

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importava os motivos pelos quais Parlan queria montar Elfking. Ela suspeitavade que uma vez que ele conseguisse, não haveria como voltar atrás. O cavalonão teria como entender que aquilo seria algo temporário. Permitir que Parlano montasse seria o primeiro passo em abrir mão de seu animalindefinidamente.

Percebeu, de repente, que isso já não a incomodava. Queria fazer Parlanfeliz. Ao se virar para fitá-lo, perguntou-se se ele entenderia tudo o que haviapor trás de seu gesto.

— Está bem, pode levá-lo até os Dunmore.

Parlan teve de se controlar para não mostrar-se exultante demais. Aimilpoderia desconfiar de seus motivos ulteriores.

— Como fazemos, então?

— Precisamos montar juntos primeiro. Colocando-a sobre a sela, eledisse:

— Então vamos.— Está ansioso, não?

— Que homem não estaria em testar um cavalo como Elfking — esfregouo nariz nos cabelos perfumados — e com uma linda moça nos braços?

— Hum. Sua língua sabe ser doce quando deseja alguma coisa. — Aosaírem do pátio, Aimil o olhou de esguelha. — Eu posso estar conduzindo vocêpara um local solitário apenas para cravar uma adaga entre suas costelas efugir.

— Malcolm não vai deixar isso acontecer. Olhando na direção que havia

indicado com o queixo, ela viu que Malcolm e Lagan os seguiam a uma discretadistância.

— Eles não acham que eu seria capaz disso, acham? — Ela se ofendeuum pouco com a falta de confiança.

— Você não, mas há quem faria.

— Alguns maridos por certo.

— Você, de fato, me vê como um patife.

— E você não é?

— Não tanto quanto me pintam. Vamos continuar nesse passo de dama,minha pequena?

Parlan riu quando ela incitou Elfking a galopar. Ele duvidava de quehouvesse muitas mulheres com as habilidades de amazona de Aimil. Deixou aculpa de lado por ludibriá-la, pois a cada dia se certificava de que ela deveriaficar em Dubhglenn permanentemente.

A cavalgada foi curta, pois Aimil não queria cansar Elfking.

— Aqui está bom...

— Tem certeza de que ele não vai me jogar no chão? — Parlan perguntou

quando ela desmontou.— Não, foi assim que eu fiz com que ele aceitasse Leith. Elfking só o

lança pelos ares quando eu ordeno que o faça. Pode ir agora...

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Notando a relutância na voz dela, ele sorriu. Inclinou-se, segurou-a peloqueixo e a beijou de leve, e então, sem se conter mais, incitou o cavalo a umgalope.

Aimil observou cavalo e cavaleiro se afastarem, desejando não sentircomo se estivesse sempre cedendo sem nada receber em troca. Deixando ospensamentos depressivos de lado, sorriu para Lagan e Malcolm, que seaproximavam.

— Temos de seguir para encontrá-lo onde sua fera o jogar?

— Não, Malcolm. Mas talvez tenham de procurá-lo para lembrá-lo de seusdeveres.

Parlan precisou se lembrar de seus planos. Com relutância, diminuiu opasso do cavalo e deixou-o pastar, saboreando a sensação de estar numanimal tão belo.

— Ela é inteligente, Elfking. Sabe bem o que fez. Só fico me perguntandose sabe o motivo.

Continuou a refletir ao voltar para buscá-la, e retornaram a Dubhglennem relativo silêncio. Ao desmontarem, pediu que ela entrasse enquantocuidava do cavalo. Não se surpreendeu ao ver que Malcolm se aproximava.

— Finalmente conseguiu o que queria. Ela lhe deu um presente e tanto.

—Sim, mas não é um presente e sim uma partilha.

— Não pretende manter o animal em seus estábulos?

— Sim, mas também quero manter a senhora dele em meu estábuloparticular.

— Decidiu-se, então?

— Acho que eu seria um tolo se a deixasse escapar.

— Bem, não serei eu a concordar.

— Mas pensa assim. O pensamento que me ocorreu naquela primeiranoite só fez se transformar numa convicção. Aimil será uma dona excelentepara Dubhglenn. Vou cuidar disso assim que voltar de Dunmore.

— Se não levar Catarine, ela vai tentar encher a cabeça de Aimil.

— Sei disso, mas não posso expulsá-la daqui. Só posso esperar que Aimil

confie em tudo o que eu lhe disse e de onde passei minhas noites apesar dainsistência inoportuna de Catarine, Será como um teste final. Fique de olho nosMengue. Eles podem tentar fugir.

— Acha que ela vai querer escapar?

— Não de livre vontade, mas o irmão pode convencê-la. Ele não sabe deminha decisão e o plano que eu e ele orquestramos está demorando muitotempo para se realizar; não posso culpá-lo se ele acreditar que o estouenganando.

— Levá-la para casa é o mesmo que entregá-la nas mãos de Rory. Ele

não fará uma coisa dessas.— Ele, sem dúvida, já deve ter pensado num meio de evitar isso. Pode

até pensar que isso possa me motivar a agir.

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— Por que simplesmente não conta a ele sobre sua decisão?

— Não tenho tempo de fazer isso agora. Só fique de olho neles. São doispirralhos espertos — Parlan ordenou ao sair do estábulo e seguir para seusaposentos no castelo.

Aimil o observou enquanto Parlan se preparava para a viagem, tentando

agir como se não se importasse. Entretanto, só via um lado positivo na partidadele: Catarine não o acompanharia. Só lamentava que a mulher não estivessede partida para qualquer outro lugar também.

Ele tinha brincado ao dizer que não procuraria nenhuma mulher, masisso não representava nenhum voto de fidelidade. O castelo Dunmore, semdúvida, devia estar repleto de mulheres que outrora haviam aquecido o leitodele, ansiosas por seu retorno. Doía pensar que ele não as repeliria.

— Está me parecendo um tanto tristonha. Vai sentir minha falta? —Parlan se sentou ao lado dela na cama.

— Só estou preocupada com Elfking — ela mentiu. — Ele nunca foi alugar algum sem mim.

— Bem... — Parlan sorriu ao empurrá-la de leve para o colchão. — Achomelhor lhe dar algo para que se lembre de mim.

— Não pode fazer isso agora!

— Ora, moça, está sempre me dizendo que não posso fazer as coisas eeu tenho de provar o contrário...

Aimil determinou-se a demonstrar uma expressão de tristeza ao voltar ase vestir.

— Não passa de um tratante, Parlan MacGuin!— Sei disso. — Ele gargalhou e se esquivou da tentativa dela de golpeá-

lo. — Só pensei que você merecia uma despedida adequada.

— Isso foi além da adequação. Quem vai com você? — perguntou semestar muito interessada, mas sentindo a necessidade de continuar a falar.

Continuaram a conversar até que Parlan montasse em Elfking, prontopara partir. Ele tinha certeza de que acalmaria as preocupações dela se lhedissesse o quanto desejava que ela o acompanhasse, mas resistiu à tentação,pensando que talvez isso só lhe trouxesse mais problemas. Até ser claro e

declarar o contrário, Aimil era apenas uma prisioneira.Diante de todos, porém, beijou-a ao se despedir. Sabia que ela não

entendia o real significado do gesto, mas aquilo serviria de lembrete aqualquer um que se sentisse tentado a importuná-la, que Aimil era mais do queum simples objeto de seus desejos.

Ao iniciar a viagem, tentou se convencer a não se ressentir caso elatentasse fugir, visto que não lhe dera motivos concretos para acreditar sermais do que uma prisioneira bem tratada. Mesmo Leith, apesar das conversasanteriores, poderia se achar no dever de libertá-la e evitar que o pai tivesseque dispor de mais dinheiro com o resgate. Seria muito fácil para Leith

convencer a irmã disso. Até que ele lhe oferecesse mais do que um lugar emsua cama, ela não lhe devia lealdade alguma.

De súbito, ele desejou estar em casa e não forçado a visitar os Dunmore.

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Era possível que estivesse errado ao esperar tanto para decidir o que queriacom Aimil. Pela primeira vez, talvez tivesse sido cauteloso demais.

Se os dois irmãos conseguissem fugir, ele teria de pensar num meio detrazê-la de volta. Uma abordagem direta de nada adiantaria, pois Aimil aindaestava noiva de Rory até que se provasse o canalha que ele era. Também viuque não poderia fazer nada até retornar para casa, por isso resolveu que suaestada nos Dunmore seria a mais breve possível. Era imperativo queresolvesse sua situação com Aimil. Assim que retornasse, encontraria um localadequado para lhe dizer que não a queria somente como prisioneira e amante.

Um nervosismo desconhecido se apossou dele e mesmo o fato de estarfinalmente cavalgando Elfking não o acalmou. Pela primeira vez em sua vida,planejava oferecer mais do que prazer a uma mulher. E agora que a decisãoestava tomada, percebia as complicações que teria de enfrentar. Dizer a simesmo que parasse de procurar problemas de nada adiantava.

Ao chegar a Dunmore, a recepção foi tudo o que ele antecipara, e

desejou que Aimil estivesse a seu lado, ela em Elfking, e ele em Raven. Talvisão impressionaria.

Capítulo IV 

— Querida, entendo seus motivos para querer ficar — Leith fitou osemblante entristecido da irmã.

— Bem, além do que está imaginando há também Rory.

Leith suspirou e se sentou ao lado dela na cama de Parlan, que já estavafora havia dois dias. Parlan era um homem de palavra, todavia nada pareciamudar. Não havia sinal de Rory enquanto seu pai ainda tentava juntar odinheiro que Parlan jurava ser apenas para ganhar tempo. E Aimil seapaixonava cada vez mais por um homem que não demonstrava querê-lacomo mais do que uma simples «parceira na cama. Se não por outro motivo,talvez se Aimil se afastasse, Parlan se decidisse a tê-la de volta... como esposa.Era hora de agir, e Leith só conseguia pensar que deveriam escapar.

— Farei tudo o que puder para que você não se case com ele.

— Será o bastante? —Se não for, juro pela alma de nossa mãe que ele

nunca a terá, Aimil. Eu fugirei com você e a esconderei se tudo o mais falhar.— Mas, Leith, isso colocaria Rory contra papai.

— Estou pronto a enfrentá-lo nesse assunto.

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— Parlan disse que ajudaria a impedir o casamento.

— Sim, gostaria de acreditar que ele quer ajudar, mas como? O que fezaté então? O tempo passa e o dia do pagamento de seu resgate se aproxima.Ele me jurou que a soma era exorbitante a fim de termos tempo para impediresse casamento.

Embora isso a pegasse desprevenida, Aimil disse tranqüila:— Mas os preparativos estão de pé e o pagamento logo chegará. —

Meneou a cabeça. — Não consigo acreditar que Parlan esteja nos ludibriando. Éum homem honesto.

— Sei disso, querida, contudo não posso permitir que papai fique namiséria por ter me equivocado. Há momentos na vida, Aimil, que é um riscoenorme se confiar em alguém, e começo a acreditar que esta seja uma dessasvezes. Você também pode estar se equivocando. Os sentimentos deixam aspessoas cegas — disse com brandura.

Aimil se levantou e começou a caminhar pelo quarto, impaciente.

— Acho que adivinhou como me sinto. No entanto, por mais cega queesses sentimentos me deixem, fico nauseada só de pensar em me casar comRory.

— Juro que não se casará com ele.

— É nosso dever tentar escapar — ela murmurou, na esperança de seconvencer disso.

— Por causa do resgate e por causa do que ele está fazendo com você.Não há honra para você nesse arranjo, minha irmã. Se ele ao menos a pedisse

em casamento...— Não me casarei com homem algum somente para salvar minha honra.

— Ah, querida, há muitos que alegam se casar por questões de honra,mas que no fundo desejam se casar...

— Talvez. — Ela suspirou. — Não posso ficar só porque quero.

— Não. Por ser prisioneira, ninguém se importará com o fato de vocêestar na cama dele. Mas se ficar quando há oportunidade de fuga, todos adenegrirão.

— Sei disso. Quando partimos?

— Hoje à noite. Queria ter ido antes, mas demorei a descobrir uma rotade fuga. Partiremos depois do jantar, quando todos tiverem se recolhido.

Ela sorriu quando Leith beijou sua face, mas seu sorriso esmaeceu assimque ele saiu do quarto. Partir era a última coisa que queria fazer. Por mais queo irmão tivesse razão, desejou que fosse diferente. Depois que voltassem paracasa, Parlan nunca mais a veria. Não tinha certeza sequer se ele tentaria.

Ainda havia a possibilidade de que se ele sentisse algo por ela, e suafuga o magoaria. Poderia até entender o que a levara a partir, mas as emoçõestendiam a atrapalhar o raciocínio. Meneando a cabeça, tentou se desvencilhar

de tais pensamentos. Precisava se convencer da necessidade de fugir. Sepensasse nas conseqüências, isso somente enfraqueceria sua determinação, eela precisaria de todas as suas forças.

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Depois do jantar, enquanto esperava pelo irmão, Aimil pensou queCatarine faria de tudo para substituí-la na cama de Parlan. Sua convicção empartir estava cada vez mais fraca, mas então Leith chegou.

— Pronta?

— Se é preciso... — Ela suspirou.

Pegando-a de leve nos ombros, ele disse:— Temos de tentar, Aimil. Se ele se importar com você, virá procurá-la.

— Estou noiva... — Não queria acreditar que Parlan a buscaria, poisquando isso não acontecesse, sofreria demais.

— Nesse caso, ele porá um fim a esse noivado como prometido. E elepode fazer isso com você aqui ou em casa.

Assentindo, Aimil permitiu que ele a conduzisse para fora do castelo, semnem mesmo olhar para trás. Era hora de se concentrar na tarefa diante deles.Arrependimentos e lembranças viriam depois.

Movendo-se nas sombras do castelo, chegou a se ofender com orelaxamento da guarda. Pelo visto os homens de Parlan consideravamimpossível que uma mulher tentasse fugir da cama dele. De modo perverso,resolveu que adoraria provar o contrário.

Saindo por uma porta pouco usada na parte de trás, chegaram ao pátio.

— Para onde vamos, Leith?

— Para o estábulo. Entre a parede do estábulo e os muros externos háuma pequena passagem com uma porta que nunca é usada. Chegar até lá serádifícil, mas pode ser feito.

Quando Leith ordenou que fosse, Aimil partiu na direção do estábulo,apressando-se ao mesmo tempo em que tentava não fazer barulho e alertar aguarda noturna. Depois de pressionar as costas na parede do estábulo,esgueirou-se na escuridão à procura da passagem mencionada. Era estreita,mas ficou aliviada por chegar até ali sem ser descoberta. Com o coraçãoacelerado, esperou por Leith.

— Onde está a porta? — ela perguntou num sussurro ao se aproximar.

— Ande mais um pouco e você a encontrará. Estava coberta de ramos esó há uma passagem estreita de pedras entre ela e o lago que protege este

lado do castelo. No passado talvez houvesse um barco atracado, irias não hámais nada ali. Devem ter se esquecido dessa passagem.

— É um ponto fraco na guarda, então. Os inimigos podem se aproveitardisso para invadir Dubhglenn.

— Quando estivermos a salvo, mandaremos um recado para o seu amor,pois não tenho intenção de utilizar essa porta novamente. Agora tente abri-la.Depois que sairmos, vem a parte difícil: há uma boa distância até a entrada dafloresta, precisaremos da ajuda das nuvens para que os guardas não nos vejamno luar.

Aimil começou a empurrar a porta, esforçando-se ao máximo. Leith asegurava pela cintura, pois a passagem do outro lado era estreita e ela poderiafacilmente cair no lago.

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Conforme forçava a porta, ela também lutava contra a tentação de voltarpara a cama de Parlan e esperar pelo retorno dele.

Parlan fez uma careta quando Elfking hesitou em suas passadas pertodos portões de Dubhglenn. Não estava com vontade de atender aos caprichosdaquele cavalo teimoso. Mesmo sem conseguir se conter, forçava seus homense os animais num passo mais vigoroso, ansioso para voltar para casa, e vercerta moça, antes do tempo. Os homens deviam suspeitar de suas intenções, oque só o aborrecia ainda mais. Como o cavalo teimava em seguir na direçãodo. lago, ordenou aos seus homens que seguissem em frente, enquanto elefazia as Vontades do animal. Somente um guarda corpulento insistiu emacompanhá-lo.

Parlan observou Elfking atentamente: as orelhas se remexiam e a narinaparecia ter captado o cheiro de alguma coisa. Sua curiosidade entãosobrepujou o aborrecimento, pois passou a acreditar que o cavalo não estavasendo apenas dó contra.

Conforme Elfking se aproximava do lago, Parlan refletiu sobre os motivosque o levaram a correr para casa. Não era só desejo físico, estava ansioso paraver Aimil novamente. Queria vê-la sorrir e conversar com ela. Foi uma surpresadescobrir que sentia falta dela como pessoa, não apenas como amante.

Quando as passadas de Elfking oscilaram, Parlan desmontou. Algumacoisa atraíra o animal até aquele ponto, e ele agora queria saber do que setratava. Podia ser algum perigo, e por isso desembainhou a espada, preparadopara enfrentar o que fosse.

— Segure-o — pediu ao guarda que o acompanhava. — Vou em frentepara ver o que chamou a atenção dele.

Sorrindo diante do desagrado do homem por ser deixado para trás,Parlan resolveu que falaria com Aimil a fim de saber que outros truques ocavalo sabia, e não ser pego desprevenido de novo no futuro.

Caminhando com as costas pressionadas contra os muros externos,aguçou os ouvidos, certo de que ouvira algo estranho. Espreitando à frente, viuque havia uma irregularidade no muro. Embora não estivesse familiarizadocom aquela parte, estava certo de que não deveria haver uma porta ali.Aproximando-se com cautela, detectou o som de metal, como se umadobradiça estivesse sendo forçada. Alguém encontrara uma saída deDubhglenn e estava tentando usá-la.

Só havia duas pessoas no castelo que precisariam sair clandestinamente.Zangado, perguntou-se como eles tinham conseguido chegar tão perto daliberdade. Ambos deveriam estar sendo vigiados, mas, pelo visto, ninguémnotara a ausência deles.

Catarine hesitou ao passar pelo quarto de Leith. O jovem parecia alheioaos seus encantos, o que a insultava de certo modo, mas seria bom tentar seaproximar dele, pois ele parecia ter grande influência na irmã.

Poderia se livrar da moça, seja usando-o diretamente, seja obtendoinformações por intermédio dele.

Abrindo a porta, deparou-se com a cama vazia. Demorou um instantepara que entendesse o que havia acontecido. Apressando-se pelo corredor,chegou ao quarto de Parlan. Não havia ninguém lá. Leith convencera a irmã a

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escalar. Só podia ser isso! Levando-se em conta o tempo decorrido desde o  jantar e a ausência de um grito de alerta, era possível que tivessemconseguido sair do castelo.

Uma repentina movimentação a alertou de que deveria sair dali.Certamente Parlan estava retornando. Com um sorriso .nos lábios, preparou-separa confortá-lo quando ele descobrisse a fuga da jovem.

— Está quase aberta, Leith. — Aimil ofegou ao parar a fim de descansarum instante.

— Eu deveria tê-la testado antes. Estamos perdendo um tempo preciosoaqui.

— Não será melhor desistir? — perguntou ela com uma ponta deesperança.

Um ligeiro sorriso surgiu nos lábios de Parlan. Estava perto o bastantepara ouvi-los conversar e ter suas suspeitas confirmadas. Aimil e Leithtentavam fugir. Com relutância, admitiu que isso o magoava, ainda que enten-desse o que os motivava. A hesitação na voz de Aimil indicava que ela fazia oque era preciso, não necessariamente o que desejava.

— Aimil — Leith suspirou —, agora não é a hora de discutir. Temos defazer isso.

Aimil concluiu que não gostava de agir de acordo com o dever. Queriapoder seguir o coração e voltar para o castelo. Seu coração não se importavacom o que as pessoas diziam.

— É que não quero perder Elfking — murmurou, desgostosa consigomesma por mentir.

— Ah, sim claro. Cá estava eu pensando que você sentia saudades deoutro garanhão...

— Não o chame assim!

A pontada que Parlan sentiu quando ela mencionou o cavalo foiapaziguada pela sua defesa perante o irmão.

— Muitos o chamam dessa maneira. Não é um insulto para um homem.

— Eu não gostaria de ser comparada com um animal, mesmo que elefosse tão belo quanto Elfking. — Cerrou os dentes ao forçar a porta mais uma

vez. — Parlan é mais do que isso. Pensei que você soubesse.— E sei.

— E mesmo assim estamos fugindo. — Ela sabia que sua determinaçãoestava sendo prejudicada pela demora em conseguir escapar.

— Já lhe expliquei por que devemos fazer isso. Mesmo que não sejamosbem-sucedidos, isso pode motivá-lo a confiar seus planos ou a mostrar algumresultado. — Leith a soltou para testar a porta. — Falta pouco agora.

Nesse instante, Aimil deu um último empurrão com o restante de suasforças. A porta estava emperrada não só por falta de uso, mas também por

uma obstrução no chão do outro lado. Seu esforço, porém, fez com que a portase escancarasse. Sem ter como se segurar, Aimil ainda tentou se apoiar naparede de pedras, mas acabou caindo no lago.

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Encharcada, tentou subir, mas as roupas e a água gelada impediam seusmovimentos. Sentiu o medo sufocá-la. Já não tinha forças, pois se desgastaratentando abrir a porta.

— Aimil! — Leith exclamou em pânico, olhando para as águas escuras.

Apressou-se a tirar as botas, mas, de repente, uma espada lhe foi

depositada nas mãos no escuro. Mesmo estarrecido, reconheceu a figura quepulou no lago atrás de Aimil. Outro homem surgiu ao seu lado e os dois perma-neceram calados, esperando o reaparecimento de Parlan.

Parlan lutou contra o terror ao procurar por Aimil nas águas escuras.Quando a encontrou, sua imobilidade o aterrorizou.

Quatro mãos se esticaram para puxá-lo, mas ele ordenou que fossempara a parte mais larga da margem a fim de evitar maiores desastres. Quandoconseguiu levar Aimil até a margem, imediatamente se pôs a fazer massageme respiração boca a boca até que ela começasse a tossir. Juntou-se a Leithnuma prece de agradecimento silenciosa enquanto Aimil vomitava toda a água

engolida. Recusando qualquer assistência, carregou-a até Elfking e de lá paraDubhglenn, onde era o seu lugar.

Catarine precisou de um instante para notar o embrulho nos braços deParlan, por isso parou de súbito ao ver Aimil imóvel e encharcada. A esperançade que a moça estivesse morta logo se desfez, pois ela começou a gemer.Depois que Parlan a entregou aos cuidados de Old Meg e ordenou que Leithfosse levado para o quarto, Catarine o acompanhou às escondidas, cobiçando-o com os olhos enquanto ele colocava roupas secas ao mesmo tempo em queplanejava uma maneira de se livrar da garota.

— Pedi que os vigiasse, Malcolm — Parlan grunhiu. Malcolm aceitou areprimenda sem reclamar. Falhara ao não colocar guardas extras noscorredores.

— Como os encontrou?

— O cavalo a farejou e me forçou a ir até o local onde eles estavam. Foibom que isso tenha acontecido, pois a tola quase se afogou. — Parlan tomou acaneca de cerveja que lhe foi oferecida. — De onde veio aquela porta?Ninguém sabia da existência dela?

— Acho que não. O estábulo está ali desde os tempos de seu bisavô.

— Amanhã cedo eu a quero lacrada. Agora me deixe falar com o irmão.

Depois de lançar um olhar na direção de Catarine, Malcolm sugeriubaixinho:

— Você não confidenciou seus planos ao rapaz, não podia esperar queele confiasse em você totalmente.

Parlan correu os dedos pelos cabelos molhados,

— Tem razão, Malcolm. Amanhã deixarei a situação clara. Hoje estoumuito cansado para isso, só vou dizer o necessário. Qual a previsão do tempopara amanhã? — perguntou a Angus, um homem com conhecimentos dasmudanças climáticas.

— Promete ser bom. Sol, céu descoberto e calor. Um dia raro.

— Ótimo! Quero que preparem uma refeição, eu e Aimil comeremos ao

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ar livre amanhã. — Deu uma piscadela para Malcolm. — Vou levá-la ao Poço daFada da Morte. Bem, agora só me resta falar com Leith.

Catarine nem se importou em saber o que Parlan planejava para o diaseguinte. Apressou-se em procurar seu escudeiro e ordenou que ele

preparasse dois cavalos, deixando-os a postos logo além dos muros deDubhglenn. O rapaz mal saiu pelos portões, e ela passou pela porta encontradapor Leith. Momentos depois, ia à procura da única pessoa que a ajudaria a tirarAimil Mengue de Dubhglenn.

— Quem? — Rory perguntou quando Catarine foi anunciada.

— Catarine Dunmore — Geordie repetiu. — Ela alega ter uma proposta alhe fazer.

— Mande-a entrar.

— Tenho pouco tempo — Catarine anunciou assim que entrou. — Preciso

estar de volta a Dubhglenn antes do amanhecer.— Diga o que quer. Não consigo imaginar uma proposta que me

interesse.

— Posso lhe entregar Aimil Mengue. — Ela assentiu satisfeita quandoRory se retesou, interessado, e lhe disse rapidamente o que tinha em mente.

Leith tentou não fazer o papel de criança arrependida ao enfrentarParlan. Sabia muito bem, contudo, que só havia permanecido no castelo pelaboa vontade do senhor do castelo. Incitar Aimil a fugir era um insulto a essa

hospitalidade e, por isso, só podia desejar não ser expulso.— Como está Aimil?

— Está dormindo. Deve dormir a noite inteira.

Em seu íntimo, Leith se retraiu. Aquela situação não melhoraria em nadao humor de Parlan.

— Como encontrou a porta? — Parlan exigiu saber.

— Eu estava chutando uma bola no pátio e ela foi naquela direção. Foientão que vi a possibilidade de usá-la como rota de fuga.

— Não foi muito eficaz, não acha? Aimil quase se afogou.— Sei disso — Leith murmurou, arrependido. — Sinto-me culpado por tê-

la pressionado a partir.

— Eu lhe disse que não receberia o dinheiro do resgate.

— Mas meu pai ainda tenta consegui-lo.

— Porque não tenho nada contra Rory. Se eu devolver Aimil, ela seráentregue a Rory, se essa farsa do seqüestro terminar, não tenho direitos sobreela. Aimil é apenas minha prisioneira e não terei nada se o resgate for pago.

— O resgate que meu pai luta para juntar.

— Eu não o levarei à falência. Na verdade, esta situação servirá para queele conheça seus verdadeiros amigos.

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Leith sabia que havia uma ponta de verdade na declaração, mas foidireto ao ponto:

— Enquanto meu pai descobre quem são seus amigos, você ainda levaminha irmã para a cama.

— Eu e ela fizemos um acordo.

— Meses atrás. Não brinque comigo, MacGuin. Tenho sido mais do quecompreensivo, porém não posso mais ficar sem fazer nada enquantotransforma minha irmã numa rameira. Isso já não se trata mais de usar umaprisioneira. A situação já passou dos limites.

— Sim, tem razão.

— Pretende, então, expulsá-la de sua cama?

— Não, pretendo me casar com ela se ela quiser. — Sorriu de leve dianteda surpresa evidente de Leith. — Amanhã, se o tempo estiver bom e se ela nãoadoecer por causa do quase afogamento, vou levá-la para passear e conversar.

— E quanto a Rory? E meu pai?

— Eles não poderão fazer muita coisa depois que o padre sacramentar aunião. Talvez isso incite Rory a agir, o que depende do quanto ele quer Aimilpara si. Talvez não seja o bastante para que ele me enfrente com a espada,mas Deus sabe como eu gostaria que assim fosse. Há tempos espero por isso.

— Ele está sempre rodeado de guardas, mas pouco me importo. Aindatemos meu pai a considerar. Não pode se casar com a filha dele sem lhe dizernada. Não é assim que se faz.

— Então terei de quebrar a tradição. Preste atenção, Leith, Aimil vai

continuar na minha cama. Ela fica lá casada ou não?— Casada, claro — Leith respondeu, sabendo que era o que Aimil

desejava. — Teremos de enfrentar uma tempestade, contudo.

— Já enfrentei algumas em minha vida. Voltarei a falar com você depoisque conversar com ela.

Parlan saiu antes que Leith pensasse em qualquer outra objeção,esperando continuar a persuadi-lo. Não seria de bom augúrio começar umcasamento tendo de prender o cunhado até que o padre os declarasse maridoe mulher.

Seus pensamentos chegaram ao fim quando Artair subitamente se pôsem seu caminho. Parlan enfrentou o nervosismo do irmão com frieza, poisainda estava zangado pelo que ele fizera a Aimil. Não tinha certeza se estavapronto a perdoar, se é que era isso o que ele buscava.

— Vim me desculpar pelo que fiz à sua mulher.

— Não é a mim que tem de pedir perdão.

— A ela e a você. Aimil me disse que era sua, mas não lhe dei ouvidos.Eu não deveria ter tomado o que era seu. Não era certo e sei disso.

— É verdade, não era certo, mas não foi só aí que você errou. Aimil não o

quis e você não lhe deu ouvidos, batendo nela.— Ela me mordeu — Artair disse em sua defesa, mesmo sabendo que

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isso não o inocentava.

— Se tivesse lhe dado somente um tapa, eu continuaria desgostando,mas entenderia. É da natureza do homem revidar. Entretanto, bateu nela umasegunda vez e pretendia continuar a bater. Foi aí que errou, Artair. Você é umhomem preparado para a guerra, portanto muito mais forte do que qualquermulher. Não é certo obrigar uma mulher a lhe entregar o que ela não deseja.Sei que muitos me consideram um fraco por pensar assim, mas não concordocom isso; tampouco minha cama permaneceu vazia por tempo demais àespera de alguém que mostrasse disposto a ocupá-la. Não pode simplesmenteagarrar o que quer. Atraia, seduza, ou até pague, mas não surre uma mulherpara conseguir o que quer.

Observando o irmão cabisbaixo, Parlan se perguntou se ele entendia oque lhe dissera. Era um bom sinal eleger vindo procurá-lo para se desculpar,mas sabia que de nada adiantaria se Artair não se dispusesse a mudar. Suasesperanças aumentaram quando ele ergueu os olhos cheios de vergonha.

— Não sei o que dá em mim às vezes.— É a bebida, rapaz. É como um demônio que nenhum homem consegue

enfrentar. Os homens têm uma besta dentro deles que os faz levantar asespadas e lutar. Mas o que devemos fazer é aprender a controlar essa fera, enão se consegue fazer isso de cabeça cheia. Você precisa aprender a controlara bebida e não o contrário.

— Entendo... Posso falar com Aimil agora?

— Agora não. Ela quase se afogou e precisa descansar. Amanhã, talvez.— Começou a se mover na direção do quarto quando o irmão o deteve.

— Parlan?— Tem mais alguma coisa a dizer?

— Sim. Tem a intenção de se casar com ela? Ouvi comentários arespeito.

— Ouviu bem. Pretendo falar com ela amanhã. Eu não deveria tertitubeado tanto tempo. Se não tivesse me demorado, não teria de pescá-la nolago esta noite, pois ela não teria tentado fugir. — Ou assim espero, completouem pensamento. — Tem alguma objeção?

— Não, só estou surpreso. Nunca pensei que fosse usar essas algemas.

— Com Aimil, não é essa a sensação que tenho. Talvez este seja omelhor motivo para eu me casar com ela.

— Espero que continue sempre assim. — Nervoso, Artair passou as mãospelos cabelos. — Estive com Catarine, ou melhor, ela veio até mim. Acho queela está armando alguma coisa contra Aimil.

— Como assim?

—Ela não disse nada, mas sinto que está tramando alguma coisa. Elaquer ver Aimil longe daqui. Pensei que seria bom você saber disso.

— Obrigado por me contar. Vou ficar de olho. Acho que já passou da horade ela partir. Se quer algo mais com ela, aproveite enquanto pode, Artair.Agora vou para o quarto. Tive um dia difícil.

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— Espero que Aimil se recupere logo. Boa noite, Parlan.

— Boa noite.

Franzindo o cenho, Parlan o viu se afastar. Não queria ter esperanças deque o irmão mudaria, visto que se decepcionara diversas vezes no passado.

Entrando no quarto, encontrou Old Meg cochilando numa cadeira ao lado

da cama. Ficou contente por ela ter cuidado pessoalmente de Aimil. Comgentileza, acordou-a.

— Como ela está? — Parado ao lado da cama, Parlan observava o sonoconturbado de Aimil. — Acha que ela vai adoecer?

— Não. Não há sinal de febre.

— O sono dela está agitado.

— Com certeza está revivendo o pesadelo que teve debaixo d'água.

— Vá descansar Meg. Ficarei aqui, rezando para que ela não precise de

você durante a noite.— Durma bem, filho. Se houver necessidade não hesite em me chamar.

Depois que a velha senhora partiu, Parlan se preparou para se deitar. Osono de Aimil, de fato, era bem agitado, mas era bom que ela tivesse ficadoum pouco assustada. Um susto às vezes era a mãe da precaução e, a seu ver,Aimil precisava de uma dose.

Mesmo depois de ter conversado com Leith, sentia uma pontada demágoa por ela ter tentado deixá-lo. Acreditara que ela estava feliz ao seu lado.Por mais que soubesse que era desejado, ficou se perguntando se a paixãodela era tão grande quanto a sua. As razões que Leith lhe dera faziam sentido,mas não haviam restaurado sua confiança como ele desejava.

Apagando as velas, amaldiçoou-se. Não devia pensar como um tolo. Ofato de ela tentar escapar era perfeitamente compreensível e não indício decomo ela se sentia. Era uma questão de escolher entre a honra e o dever paracom um homem que não lhe oferecia nada além da paixão. Ficar quando fugirera possível a teria marcado como prostituta, e Aimil era orgulhosa demaispara deixar isso acontecer.

Com cuidado, subiu na cama. Ardia de desejo, mas sabia que nãoaconteceria nada naquela noite. Quando estava prestes a ceder ao chamado

do sono, Aimil começou a se debater.Enquanto a segurava, tentando acalmá-la, Parlan decidiu que não queria

mais que ela tivesse medo, mesmo dormindo.

Por um instante Aimil se viu engolida pela confusão. Não estavamolhada, tampouco Parlan. Embora a garganta estivesse machucada e o peitodoesse, não sentia mais vontade de vomitar água. Percebeu, então, que estavaseca e aquecida na cama de Parlan. No instante seguinte lembrou-se doocorrido e do fim trágico de sua tentativa de fugir do homem que agora asegurava nos braços.

— Pensei que estivesse me afogando.

— Isso quase aconteceu.

— Estou me lembrando de tudo agora... Não estou me sentindo muito

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bem.

— Suspeito que não, mas isso logo passará.

Sentindo o corpo dele tenso, observou-o atentamente. Foi então que selembrou de tê-lo visto ajoelhado ao seu lado à margem do lago. Parlan era oresponsável por ela estar viva agora. Embora ele não parecesse muito

receptivo, precisava agradecer, pois arriscara a vida para salvá-la.— Eu lhe devo minha vida.

— Deve sim.

— Obrigada.

— Se ela significa alguma coisa para você, não a arrisque, mais.

Havia raiva na voz dele e a mortificação de Aimil logo se transformou emaborrecimento. Resolveu que ele não tinha motivos para se zangar com ela.Afinal, se não fosse por ele, ela não estaria em Dubhglenn. Se não fosse porele, ainda seria virgem, e não teria de se preocupar com o que as pessoasdiziam ao seu respeito. Era ele quem tinha grandes planos, que não pareciamestar funcionando, e por isso ele não era nada confiável.

— Isso tudo é culpa sua.

— Minha? — Surpreso, ele se viu dividido entre o divertimento com aagressividade dela e a necessidade de sacudi-la.

— Você fala desses seus planos tão grandiosos, mas nada acontece alémde meu pai continuar a juntar dinheiro para pagá-lo.

— Não confia em mim?

— Sim, assim como Leith, mas como ele me disse, chega a hora em queprecisamos nos perguntar se é seguro confiar ou se devemos agir de acordocom o que vemos e não com o que sentimos. Nós dois confiamos em você, masnada está acontecendo enquanto papai se esforça para lhe pagar e eu... — elasuspirou —, eu continuo em sua cama. Nós dois sabemos que o acordo quefizemos por conta de Elfking já foi cumprido.

Parlan acariciou-lhe a fronte, onde linhas de preocupação a marcavam.

— Não está mais feliz em minha cama?

— Sim, mas aí é que está o problema. Não consegue ver? Podem aceitar

que eu fique aqui por ser sua prisioneira, mas se eu não tento fugir quandoposso, então eu não passo de uma rameira diante de todos. — Fitou-oatentamente, na esperança de que ele entendesse seu ponto de vista sem seinsultar. — Não posso fazer isso com minha família.

— Bem, agora apaziguou os ânimos de todos, pois tentou fugir, algo quetodos podem atestar. Aliás, quase morreu tentando fazer isso. — Por uminstante, ele pensou em mencionar o casamento, mas resolveu se ater aoplano original, — Portanto, agora pode ficar bem onde está e pretendo que issocontinue assim.

Ela o considerou um tanto arrogante, mas estava cansada demais para

argumentar. Comum suspiro admitiu para si mesma que era ali que queriaficar. Por mais que Parlan lhe oferecesse somente paixão enquanto ela dese- java tanto mais, sentia-se mais feliz do que triste no fim das contas. Ainda que

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não soubesse o que ele sentia, e que talvez acabasse por descartá-la, tinhacerteza de que era tratada melhor do que uma simples companheira de cama,com a qual ele satisfazia suas necessidades carnais. Pelo tempo que elepermitisse, ela ficaria ali, tentando conseguir mais, tentando conquistar o seuamor.

— Durma, minha querida — Parlan disse com suavidade. — Precisadescansar. Vai se sentir muito melhor pela manhã.

— Espero que sim. — Bocejou ela. — Ainda sinto o gosto do lago emminha boca.

— Isso logo passará.

Subitamente lembrando-se de que ele estivera ausente por alguns dias,Aimil forçou os olhos para fitá-lo.

— Não quer nada comigo?

— Querer, eu quero, — Ele deu um ligeiro sorriso e a beijou de leve. —

Mas isso é algo que pode esperar até você ter se recuperado.— Se tem certeza... —Voltou a fechar os olhos. — Parece bem tolerante

para um tratante como você.

— Sim, e vai pagar muito caro por isso amanhã.

Parlan sorriu quando ela adormeceu quase que imediatamente. Emboraela tivesse despertado por causa de um pesadelo, ele teve muitos de seusmedos quanto à saúde dela, bem como a mágoa pela tentativa de fuga, apla-cados nesse breve período de consciência. Sabendo que ela ainda queria ficarao seu lado e que confiava nele tornava o que planejara para o dia seguinte

muito mais fácil.— Onde estamos indo?

Colocando-a sobre a sela de Elfking, Parlan sorriu, docemente.

— É surpresa. Não gosta de surpresas?

Franzindo o cenho enquanto o via montar em Raven, Aimil resmungou:

— De modo geral, não. Ainda menos quando penso em quem quer mesurpreender...

— Você me magoa, querida. Vamos, deixe-se levar pela curiosidade.

— A curiosidade pode conduzir a grandes problemas — ela entoou,piamente, fitando-o com suspeita.

Ele riu e incitou o cavalo a se mover. Depois de breve hesitação, Aimil oseguiu. O bom humor dele e o ar de garoto levado a atraíram. Estava curiosa,só detestava admitir, pois; isso o contentaria sobremaneira.

Resolvendo ignorá-lo, passou a apreciar a cavalgada, determinada aaproveitar a liberdade, ainda que fosse falsa. O dia estava ensolarado e seriaum pecado desperdiçá-lo.

Quando por fim Parlan indicou que deveriam apear, Aimil olhou ao redor.

Ele havia escolhido um local belo e descampado. Perguntou-se mais uma vezqual seria a intenção dele e notou que estavam a sós.

— Deixou seus guardas para trás? — perguntou ao ser levada até uma

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manta estendida no chão.

— Bem, eu queria um tempo a sós com você e não conseguiria isso comos homens por perto, não acha?

Ela estava para replicar quando ouviu um grito. Arfando, lançou-se nosbraços de Parlan. Seu medo logo se dissipou ao perceber que ele sorria.

— Não ouviu isso? — Ficou tensa, aguçando os ouvidos. — De novo... Oque é isso, Parlan?

— É a Fada da Morte. Ela estreitando o olhar, confusa.

— Está brincando comigo, mas olhe para mim... Não consegue ver quenão estou achando graça? — Ficou ainda mais brava quando ele gargalhou eabaixou-se para beijá-la.

Puxando-a pela mão, Parlan seguiu até a ravina.

— Venha, vou lhe mostrar. — Parou perto de um buraco a uns trintacentímetros da beira do barranco, segurando-a quando ela fez menção deseguir em frente. — Cuidado, querida, não é seguro. O buraco apareceuquando o teto da caverna desabou. Esse gemido é provocado pelo vento. Devehaver um segundo buraco em algum lugar da ravina, pelo qual o vento passa eo que ouvimos é a fada do Poço da Morte. Ela chama os tolos que caminhamsem prestar atenção onde pisam. Aimil estremeceu ao ouvir o som mais umavez.

— Sei que parece tolice, mas esse som é muito lúgubre.

— Quando eu era garoto, costumava vir aqui e imaginar muitas históriaspara explicar o som. Uma vez, fiz com que me abaixassem para ver o que

havia ali embaixo, e vi que era somente o vento que o provocava. De lá 'nãoparece tão soturno.

— Há uma caverna lá embaixo?— ela perguntou ao voltarem para amanta.

— Há um buraco e muitas pedras. Talvez eu tivesse encontrado algomais se tivesse me dado o trabalho de limpar a área, mas só queria encontrara fonte do lamento. Àquela altura eu já tinha passado da idade de quererexplorar cavernas.

— O buraco é muito fundo?

— Fundo o bastante para alguém quebrar o pescoço ao cair. — Parlancomeçou a dispor os itens que trouxera na cesta de piquenique.

Ao ver o que ele colocava sobre a manta, Aimil arregalou os olhos.

— Vamos comer aqui?

— Sim, o dia está lindo. Trouxe vinho também. Vamos beber e comer aosol como se fôssemos da realeza. Nunca comeu ao ar livre?

Ela negou com um gesto de cabeça, sabendo que ele não se referia àsrápidas refeições que se fazia durante as viagens.

— Então aproveite a novidade.

Comeram e beberam e o ótimo humor de Parlan a contagiou. Só depoisque terminaram a refeição é que ela começou a desconfiar de segundas

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intenções. Apoiada nos braços dele e bebericando um pouco de vinho, reco-nheceu o olhar malicioso que ele lhe lançava.

— Começo a pensar que está sendo traiçoeiro novamente, ParlanMacGuin — disse com voz arrastada, porém sem se afastar.

— Traiçoeiro, eu? — Ele pegou a caneca da mão dela e despejou o

restante do vinho na grama, fazendo-a se deitar de costas. — Você sóprecisava ter prestado atenção em mim para saber o que eu queria... — Desfezo laço do colete dela.

— Estamos ao ar livre... Debaixo do sol... — Até em seus ouvidos oprotesto soava fraco.

— E acho que você ficará linda sob a luz do sol.

— Não pode querer fazer isso aqui!

— Você gosta mesmo de repetir isso, não, querida? E eu adoro provarque podemos fazer tudo isso...

Aimil ficou imóvel, ouvindo a respiração de Parlan parcialmente deitadosobre si. Tinha certeza de que haviam adormecido depois de terem feito amor,só não sabia por quanto tempo tinham dormido. Olhar para o sol ajudaria adeterminar quanto tempo se passara, mas para isso teria de abrir os olhos enão queria fazer isso e encarar Parlan, que, sem dúvida, já despertara e aobservava. Conforme a mente desanuviava, lembrou-se de tudo o que fizeramao ar livre e não teve como evitar o embaraço. O fato de ainda estar nua emnada ajudava.

Parlan sorriu ao ver que as pálpebras dela tremulavam. Suspeitava deque Aimil estava envergonhada, porém a tarde já caía e tinham de se apressar,

ainda que ela estivesse gloriosa sob a luz do dia.— Aimil — chamou-a por fim. — Sei que está acordada.

— Não estou, não.

— Continuar de olhos fechados não muda o fato de que eu consigo vertodos os seus encantos.

Aimil se perguntou se conseguiria atingi-lo de olhos fechados. Guiando-sepela voz, resolveu que valeria a pena a tentativa, mas teve o golpe bloqueadocom facilidade.

— Não, mas não consigo ver que você está me olhando.— Quanta sensibilidade da sua parte... Está com vergonha de mim?

— E não deveria? Estou de nádegas de fora como uma qualquer, emplena luz do dia!

— Bem, se eu jogasse uma moeda em sua direção, poderia se sentirassim.

Libertando-se dos braços dele, Aimil resmungou:

— Não passa de um patife, Parlan MacGuin!... — Começou a se vestir. —Não se importa com as sensibilidades das mulheres. Só porque você está

acostumado arrolar aqui e acolá...— Na verdade — ele a interrompeu, também se vestindo —, ainda que

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não possa afirmar com certeza que nunca fiquei com uma garota a céu aberto, juro que nunca me diverti tanto com os preparativos.

— Planejou me seduzir aqui onde todos podem nos ver?

— Bem, não notei ninguém passando por aqui, mas sim, planejei isso. —Quando ela terminou de se vestir, ele a puxou pela mão. — Não macule um

momento tão belo de liberdade com arrependimentos e preocupações. Vocêteve prazer. Que mal pode haver nisso?

— Você não entende. Não foi pelo que fizemos, mas pelo tanto quefizemos... — Ela suspirou quando não conseguiu se expressar melhor.

— Olhe para mim, Aimil. — Parlan a beijou na palma da mão. — Olhepara mim, pois quero ter certeza de que está prestando atenção ao que tenhoa lhe dizer.

Embora corasse, ela levantou o olhar.

— Sei que não me trata como uma rameira, mas não consigo parar de

me sentir como uma às vezes.— Não, querida, não se sinta. Você tem prazer, dificilmente uma

prostituta sente isso. Elas buscam dinheiro e não conseguem escolher oshomens com que vão se deitar. Nem é como Catarine que se deita com qual-quer um para alimentar sua vaidade ou em busca de um marido rico. Sãoessas as coisas que transformam uma mulher numa rameira. Nós, no entanto,sentimos paixão um pelo outro. Se eu me satisfaço e você também, quempode dizer que isso é errado?

— Ninguém, mesmo que tivessem o direito de se pronunciar — elaconcedeu com um sorriso. — É que é tudo tão novo...

— Eu desejo que seja assim sempre, de certo modo. — Ele sorriu equando Aimil pareceu confusa, endireitou-se. — Há mais uma coisa sobre aqual precisamos conversar. — Ele hesitou e olhou para a mão apoiada no chão.

— Parlan?

— Quieta um segundo, querida.

A repentina tensão dele, deixou Aimil nervosa. Ficou tensa também aoperceber que havia algo errado. Quando notou o que era, olhou para Parlan empânico.

— Suba no cavalo. — Parlan se pôs de pé e a levantou.Aimil assentiu. Cavaleiros se aproximavam a galope. Isso só podia

significar problemas. Para seu desespero, haviam percebido a aproximaçãodeles tarde demais, e não teriam como fugir a cavalo. Os animais estavamassustados. Seu medo tornou-se ainda maior ao reconhecer Rory.

— Matem-no! Matem Parlan MacGuin!

O grito a imobilizou, mas Aimil não teve tempo de pensar, pois Parlan apuxava pelo braço, incitando-a a correr para a proteção das árvores dafloresta. Ao se esconderem ao lado de uma árvore caída, ela viu que umaflecha atravessava a perna dele.

— Não. — Parlan a deteve quando ela fez menção de puxá-la. — Isso vaiaumentar o sangramento e não temos como cuidar dos ferimentos. Precisamos

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despistá-los por uma hora mais ou menos...

— Alguém vem nos procurar?

— Sim. Tive de fazer um acordo com meus homens. Meu tempo longedos olhos deles era limitado. Talvez nós consigamos dar a volta por trás até oscavalos.

Parecia, um bom plano, mas os minutos se arrastaram enquanto seesquivavam de Rory e dos capangas, e Aimil notou que Parlan estava cada vezmais fraco. Se ele desmaiasse ou ficasse fraco demais, os outros os pegariam.Não precisava ouvir as ameaças de Rory ecoando entre as árvores para saberque o matariam.

Ao chegarem ao local onde tinham feito amor, Aimil o amparava. O medofora substituído pela preocupação com o estado de Parlan. Ele precisava decuidados. Por mais que odiasse a idéia de cair nas garras de Rory, nãoacreditava que sua vida corria risco. Portanto, o mais importante era afastarParlan dali.

— Deixe-me... — Parlan arfou ao ver que somente Elfking estava no localem que os cavalos haviam sido deixados.

— Não quero que Rory o mate.

— E eu não quero que aquele patife ponha as mãos em você. Deixe-me efuja enquanto pode.

Ela o ignorou e assobiou para que Elfking se aproximasse. O fato deParlan não ter forças para fazer sua vontade prevalecer era indicativo de suaprecária condição. Quando o animal se aproximou, ajudou-o a montar.

— As rédeas, Aimil. Não consigo alcançá-las.— Eu as pego num instante. Está bem firme?

— Sim.

Ouvindo a aproximação dos homens de Rory, sorriu de leve. Parlanficaria furioso, mas ela não tinha escolha, a vida dele corria perigo. Só desejouque seu tempo ao lado dele não tivesse chegado ao fim, pois duvidava de queele tentasse recuperá-la depois que ela tivesse ido embora.

— Elfking, vá para casa! — Bateu no flanco do cavalo e ele sesobressaltou. — Para casa, Elfking, agora!

— Aimil!Ignorando o grito furioso de Parlan, ela se virou na direção de Rory. Sabia

que se concedesse alguns minutos de vantagem a Elfking, ninguém alcançariaParlan. Assim pensando, correu para a floresta, atraindo-o para longe. Comdiversas manobras de evasão, despistou-os, mas, como era de se esperar, logoos homens de Rory a prenderam.

O olhar de ódio que recebeu de Rory, no entanto, fez com que eladesejasse ter partido com Parlan.

— Você se veste como uma prostituta...

— E você conhece bem esse estilo, não? — Aimil desejou sentir a calmaque tentava aparentar quando recebeu o golpe que fez sua cabeça virar e seusdentes ferir o interior da boca.

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— Onde está seu amante, sua vadia? Onde está Black Parlan?

— A meio caminho de Dubhglenn. Fora de seu alcance.

— Vai pagar por isso, sua vagabunda...

Sem se surpreender com a brutalidade de Rory, Aimil sentiu umaexplosão de dor, quando ele a atingiu no queixo. Caindo desacordada, ela só

teve tempo para rezar que Parlan conseguisse se manter sobre Elfking atéchegar ao castelo.

Parlan praguejava contra a montaria, mas, sem conseguir segurar asrédeas, não tinha como detê-la. Estava enfurecido com o ardil de Aimil,entretanto compreendia o motivo que a levara a agir de tal modo. Grandeparte de sua ira era por reconhecer que falhara ao tentar protegê-la.

Sem ter como agir, segurou-se a Elfking, resignado com o fato de queseria levado de volta ao castelo. Só esperava que houvesse tempo de voltar

para resgatar Aimil. Tentou não pensar no que Rory faria com ela, porém ospensamentos se recusavam a ser ignorados, atormentando-o no caminho devolta.

Chegando a Dubhglenn quase inconsciente, viu que seus homensestavam prontos para partir. Raven Voltara para casa alertando-os de que algoestava errado. Logo Leith se pôs diante dele.

— Onde está minha irmã?

— Rory a pegou. Rápido! Talvez tenhamos sorte e consigamos resgatá-laa tempo. — Começou a se mover na direção de Raven, mas foi impedido por

Malcolm e Lagan. — Eu tenho que...— Tem que cuidar desse ferimento. — Lagan o conduziu para o castelo.

— Os homens podem seguir sem você desta vez.

Parlan viu seus homens acompanhar Leith. A necessidade de ir junto oconsumia, mas Lagan estava certo.

Nas condições que se encontrava, só atrapalharia, e rapidez erafundamental naquela instância. Por enquanto teria de engolir o orgulho edeixar que os outros fizessem o que era necessário.

Não demorou muito para perceber que o ferimento era mais sério do que

pensava. A retirada da flecha foi pura agonia, mas ele se esforçou para nãoperder a consciência. O que mais o preocupava, e não pelo seu bem-estar, maspor atrapalhar ainda mais sua tentativa de resgatar Aimil, era o sangue quenão estancava.

Enquanto Old Meg suturava o ferimento, contou a Lagan o pouco que selembrava do ataque.

— Como Rory sabia onde encontrá-lo? Você não tem por hábito ir até lá.

— Temo que aja um traidor entre nós. Alguém contou a ele aonde eu iriae quando. O traidor deve ter ido procurar Rory ontem à noite. Quero encontraro maldito.

— Ele será encontrado, Parlan. — Lagan não sabia se essa tarefa seriafácil, uma vez que a tentativa de fuga de Leith e Aimil na noite anterior,

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deixara a saída e entrada das pessoas no castelo vulneráveis.

Nesse instante Catarine entrou no quarto de Parlan, porém suastentativas de cuidar dele foram dispensadas rudemente.

Escondendo a raiva, ouviu-o contar a Artair o que acontecera eamaldiçoou Rory. Estava claro que ele não se ateve ao acordo que tinham feito

e tentou matá-lo. À menção de um traidor, ela sentiu o sangue gelar, masacalmou-se. Tinha certeza de que seu escudeiro jamais a trairia. Somente Rorypoderia denunciá-la e, caso ele se visse frente a frente com Parlan, não teriatempo de acusá-la, pois estaria preocupado em salvar a própria pele.

Quando Leith retornou, Parlan não precisou que ele lhe dissesse nada.Podia ver o fracasso estampado em seu rosto. Com um grito de agonia,colocou-se de pé. A reprimenda de Old Meg o lembrou de que o gesto fora umerro. A dor lancinante e o sangue que surgiu no ferimento foi o suficiente paraele perceber que o ato impensado o atrasaria ainda mais.

Amaldiçoou e praguejou ao ser deitado novamente. Refazer os pontos do

ferimento quase o levou à inconsciência e quando a velha senhora lheestendeu uma caneca, ele bebeu o líquido, lançando-a do outro lado do quartoao perceber do que se tratava.

— Não quero dormir!

Sem se importar com sua fúria, Old Meg declarou:

— Pode não querer, mas é o que seu corpo precisa.

— Preciso ir atrás de Aimil.

— Precisa dar tempo para que esse buraco em sua perna se feche. Viu o

que acontece quando se mexe.— Não tenho tempo... — A frustração e o desespero corroíam suas

entranhas conforme a poção começava a surtir efeito. — Preciso libertar Aimildaquele velhaco...

— Ele não vai matá-la, Parlan.

Os olhos de Parlan começaram a pesar.

— Acho que ele não a matará, mas sei que ela logo desejará estarmorta...

Capítulo V 

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Gemendo, Aimil recobrou a consciência, sentindo dores por todo o corpo,porém era o maxilar o que mais lhe doía. Abriu os olhos e olhou ao redor,suspirando aliviada ao ver que estava sozinha.

Devagar se levantou da cama e caminhou até uma bacia para serefrescar. Depois de lavar e secar o rosto, apoiou-se na parede, fitando oquarto árido na esperança de estar vivendo um pesadelo, mas o reconheceude uma visita anterior ao castelo de Rory, só estava mais repleto de teias dearanha.

Vendo um jarro num canto, aproximou-se e tomou um gole de vinho paraaplacar a secura da garganta. Depois do vinho de Dubhglenn, aquilo mais separecia com vinagre. Pelo visto, Rory, assim como nas acomodações,tampouco despendia muito em sua bebida.

Refletindo sobre sua situação, decidiu que tentaria escapar. Nãoesperaria pela chegada do pai, pois não toleraria ficar sob o mesmo teto queRory. Como desejava rever Parlan, só lhe restava fugir. Seu pai, decerto, a

trancaria no castelo até o dia casamento. Seria perigoso, mas era sua únicachance.

Movendo-se até a janela, olhou para baixo e amaldiçoou a má sorte. Oquarto ficava no alto, porém suspeitava de que Rory o escolhera justamentepor isso. Também não se surpreendeu ao ver que os poucos lençóis eramfrágeis demais para suportar seu peso numa descida.

A porta estava trancada pelo lado de fora, o que indicava que Rory sepreparara para recebê-la. Ou seja, sua aparição no prado perto de Dubhglennfora proposital. Alguém havia traído Parlan, e a primeira pessoa que lhe veio àmente foi Catarine, muito embora suas suspeitas fossem fundamentadas no

ódio que sentia pela mulher. A segunda seria Artair, contudo essa possibilidadea entristecia. Seria uni golpe muito grande para Parlan.

Seus pensamentos conturbados foram, interrompidos pela chegada deRory.

— Quando meu pai chega? — perguntou ao vê-lo.

— Ele não vem. Eu não avisei que você estava aqui.

— Não?... Sugiro que se apresse. Não pode me manter aqui sem avisarmeu pai. — Aimil não gostou do modo como ele a observava.

— Posso, afinal sou seu noivo.

— Sim, mas ainda não sou sua esposa.

— Pouco importa. Seu pai me deu direitos quando concedeu sua mão emcasamento.

— Deveria avisá-lo para que ele não se preocupe mais com o resgate. —De súbito desejou que seu pai a buscasse, mesmo que isso significasse ficarpresa em seu quarto até o casamento.

— Avisarei no tempo certo. Não permitirei que ele pague aquele maldito.Não quero que fique sem dote, afinal este dinheiro me será muito útil.

Aimil chegou à conclusão de que deveria ter pensando que o dote era arazão principal para ele não desistir do casamento, apesar dos recentesacontecimentos. Tudo o que vira nos últimos tempos indicava que Rory pre-

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cisava desesperadamente de dinheiro. Talvez conseguisse barganhar. Se ele sóestava interessado no dote, ela mesma lhe daria tudo o que tinha.

— Talvez eu consiga o dinheiro que quer.

— E como faria isso, além de, claro, casar-se comigo?

— Se eu conseguir lhe dar a quantia que deseja, não precisará se casar

comigo.— Talvez eu queira me casar com você.

— E por quê? Não combinamos. Se é dinheiro o que quer, eu posso lhedar com a condição de não nos casarmos.

— Você ousaria não atender ao último desejo de meu tio? Um desejo queseu pai jurou honrar?

Aimil percebeu, então, que Rory estava zombando. Foi difícil controlarsua fúria, mas sabia que não conseguiria nada com isso.

— Qual o seu jogo? — perguntou com uma calma que estava longe desentir. — Não quer se casar comigo, mas não desfaz o noivado.

— Eu quero me casar com você. — Rory se aproximou e passou os nósdos dedos no rosto dela.

O toque a enojava, mas ela escondeu seu desgosto. Sentia que serecuasse, ele se zangaria. Todavia, tê-lo assim tão perto, com seu olhar frio, adeixava perturbada.

Só precisava convencê-lo a desistir do compromisso sem ofendê-lo.

— Não precisa se prender a uma mulher só para atender ao desejo de

um falecido.— Não acabei de dizer que quero me casar?

— Por quê? Sei que não gosta de mim.

— Isso porque você não passa de uma adorável prostituta. Tal qual suamãe.

Aimil deu um tapa na mão dele.

— Minha mãe não era nada disso!

— Era sim. Ela desperdiçou a beleza com Lachlan, aquele tolo. Eu poderia

ter dado beleza e juventude a ela. Nós seríamos um casal de provocar inveja aqualquer um.

— E o que sabe a respeito de minha mãe?

— O bastante. Você é igualzinha a ela. Também poderia ter a mim, masme rejeitou em favor do maldito MacGuin, fazendo-me de tolo.

A cada passo que ele dava, Aimil retrocedia. O que ele dizia a assustava.Não sabia que Rory tinha conhecido sua mãe.

— Eu era apenas uma prisioneira.

— Foi amante dele, a rameira pessoal de MacGuin. Durante todos essesmeses, chafurdou-se na lama com ele. — Agarrou-a pelo pescoço. — Maculou-se, jogou fora a sua honra entre os lençóis dele.

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Desesperada, Aimil tentava se libertar, estava ficando sem ar. De pronto,percebeu que estava nas mãos de um louco. Errara ao imaginar que ele nãoseria capaz de matá-la. '

— Já basta, você não pode matá-la.

O aperto em sua garganta diminuiu e Aimil caiu de joelhos. Enquanto

massageava o pescoço, ergueu o olhar para ver quem era seu salvador. Suaesperança se acabou quando reconheceu Geordie, o brutamontes de feiçõesazedas que sempre o acompanhava e que por certo, só o detivera por pensarque aquilo não seria bom para Rory. O homem não parecia do tipomisericordioso. Percebendo que ela tentava se dirigir para a porta que estavaaberta, Geordie a fechou rapidamente, fitando-a de um modo que em outrapessoa pareceria piedade. Aimil duvidava de que esse fosse o caso. Geordiehavia muito tempo era o cão fiel de Rory.

— Não vai a parte alguma, moça. Vai ficar aqui até que mestre Rory achenecessário.

— Então será cúmplice num assassinato.— Ele não vai matá-la. Pelo menos por enquanto. Afinal, precisa estar

viva para se casar.

— Estão perdendo tempo. Podem me matar, eu jamais me casarei comele.

— Eu não teria tanta certeza, milady. Mestre Rory tem um jeito peculiarcom as garotas, e sempre consegue o que quer.

Antes que ela conseguisse replicar, foi erguida corri violência. Ao sentir otapa de Rory, viu que ele sorria. Nunca o vira sorrir. Ele só ria quando

provocava dor.O golpe a lançou contra a cama. Mesmo atordoada, conseguiu evitar a

segunda investida de Rory. Apesar de não ajudá-la, Geordie pelo menos não se juntava ao patrão nos maus tratos. Por duas vezes mais conseguiu esquivar-se,mas logo recebeu novo soco.

 Tinha consciência de que não era páreo para Rory, mas recusava-se adesistir. Entretanto, quando ele a socou com tanta força a ponto de jogá-lacontra a parede, ela desfaleceu.

Rory postou-se sobre o corpo inerte e observou quando Geordie se

abaixou pelo dela.— Morta?

— Não, ela é forte. Mas é melhor controlar sua mão antes que acabe pormatá-la.

— Já aprendi minha lição, Geordie, não precisa me amolar. Tire as roupasdela e amarre-a a cama.

Obedecendo a ordem, o capataz sugeriu:

— Talvez seja melhor dar um tempo para que ela se recupere.

— Preciso domar o espírito selvagem dela e logo. Tenho de me casarcom essa vadia antes que os parentes venham procurá-la. — Vendo-a semroupas, comentou: — Vamos nos divertir muito com ela.

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— Agora?

— Não. Deixe-a perder o sono por causa disso. A espera só fará otormento aumentar. Antes, porém, tenho de castigá-la por ter se entregado aomaldito. Pegue o chicote, o pequeno. Como você mesmo disse, não possomatá-la ainda. Rápido, antes que ela acorde.

Aimil praguejou assim que despertou. A dor que sentia a lembrou ondeestava e o que estava acontecendo. A última coisa que queria era recobrar ossentidos. A inconsciência trazia certo alívio, uma vez acordada não teria comofugir da dor que Rory infligia.

O frio em sua pele a fez arfar em choque. Estava nua. Ao tentar se cobrir,percebeu que tinha as pernas e mãos amarrados.

— Se eu fosse você, não perderia tempo tentando se soltar — Roryavisou, pondo em seu campo de visão. — Geordie sabe fazer nós muito bem.

Ela desviou o olhar do chicote que ele empunhava.

— Você vai pagar com sua vida por isso, Rory Fergueson!— É mesmo? E quem será seu vingador? Seu querido pai? Ele mal

suporta olhar para você. O galante Leith? Ele não passa de um pirralho tolo. Jamais me venceria num combate. Seu amante, talvez? A esta hora ele já deveestar morto.

— Não, o ferimento não foi fatal. — Aimil tentou não fraquejar diante daspalavras ameaçadoras.

— Ora, ele tinha uma flecha atravessada na coxa. Mesmo uma criançacomo você, sabe o perigo que esse tipo de ferimento representa. Às vezes é

impossível conter o sangramento. — Ele deu de ombros. — E o que importa seele viver? Por que haveria de se importar com você? Ele tem outras prostitutaspara substituí-la. Parlan cuida de seus homens e não desperdiçaria a vida delespor causa de uma vadia das Terras Baixas, não importando o quanto ela sejaboa. E você deve ser boa, afinal, aqueceu a cama dele por tanto tempo...Precisará fazer uma demonstração para mim do que aprendeu, mas não hoje.Antes tenho de puni-la pela sua promiscuidade.

Em seguida, açoitou-a, não dando tempo para que Aimil tivesse como sepreparar para o golpe. Antes do segundo golpe, passou o chicote comsuavidade pelas costas dela.

— Ah, igualzinha a sua mãe... A pele de Kirstie também ficava marcadacom facilidade. Em pouco tempo mostrou a dor que sentia, mas eu a puni commuita severidade. Ela morreu. Entretanto, aprendo com meus erros. Você vaiviver por um bom tempo...

Ele murmurava coisas desconexas, falava de morte e violência como seestivesse entoando um cântico.

— Minha mãe morreu em decorrência de complicações do parto de meuirmão.

— Foi o que seu pai disse a todos. Ele é fraco demais para dizer averdade. Já passou da hora de você saber de tudo e ver que o melhor é ceder àminha vontade. Ela morreu me desafiando, mas você viverá o bastante paraceder. Ela também me repudiou, mas eu era jovem demais para saber o quefazer e evitar o casamento dela. — Segurou o queixo de Aimil com violência. —

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Esperei anos para que você crescesse à imagem de sua mãe. Esperei anospara corrigir os erros que cometi com Kirstie. Embora eu tenha perdido aoportunidade de derramar o sangue de sua virgindade, você ainda rastejaráaté mim, implorando o meu perdão por ter-se entregado a Parlan MacGuin.

— Eu me entregarei a qualquer um antes de fazer isso. — Aimil cuspiu norosto dele.

Aquilo o enfureceu tanto, que Aimil logo se arrependeu por desafiá-lo.Geordie precisou interferir para que ele voltasse a se controlar. Foi então queela acreditou que Rory tivesse matado sua mãe. A cada golpe uma novarevelação sobre o inferno pelo qual a mãe passara, atormentando-a tantoquanto o chicote, sem, entretanto, deixar marcas visíveis.

Lutou para que a dor e o medo não enfraquecessem seu espírito.Precisava viver para contar a todos que Rory era o assassino de sua mãe.

Quando Geordie o conteve, Aimil percebeu que ele era a única rédeapara a loucura de Rory. Sem Geordie, a maldade de Rory viria à tona, portanto,

também ele era culpado.À espera da inconsciência, ouviu as vozes distorcidas:

— Ela precisa descansar antes que você a surre de novo, ou acabarámatando-a.

— Isso não acontecerá. Farei com ela o que não consegui com a mãe. —Rory puxou as cordas que a amarravam para que ela abrisse os olhos. — Sim,ela me amaldiçoou assim como você acabou de fazer. Ela disse que se eumachucasse você, o próprio diabo se ergueria das trevas para me arrastar parao inferno. Bem, onde ele está?

— Ele virá buscá-lo, Rory, embora eu acredite que até ele o considerarárepugnante. — Aimil fechou os olhos novamente, recusando-se a vê-lo.

— Não acho que foi sensato contar sobre a mãe dela. E se ela contarpara alguém?

— Ela não contará.

— Como pode ter certeza?

— Porque logo não terá nem forças nem vontade de me trair. Elarastejará atrás de mim, fazendo tudo para me agradar.

— E o que fará com ela depois disso? Antes de finalmente ser envolvidapela escuridão, Aimil ouviu as últimas palavras de Rory:

— Eu a deixarei morrer e, com ela, também a verdade sobre a morte deKirstie Mengue desaparecerá.

Aimil acordou com mais dores do que acreditava ser possível. Se aqueleera o tratamento que receberia de Rory, ela não duraria muito. Parecia poucaconsolação o fato de ele ainda não tê-la violentado; um ferimento a mais poucoimportaria.

Por entre os olhos inchados, viu a porta se abrir. O pânico a envolveu,mas não conseguia mover o corpo castigado. Em vez de Rory, contudo, foi uma jovem criada voluptuosa quem entrou e seu medo diminuiu.

— Quem é você? — conseguiu perguntar com voz rouca enquanto a

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moça depositava uma bacia com água na mesinha ao lado da cama.

— Maggie. Vim aqui para cuidar de você.

— Para que ele possa voltar a me bater? — Aimil rangeu os dentes,prendendo um grito quando a outra começou a limpar suas costas.

— Sim, ele quer que você agüente mais tempo.

Notando os hematomas amarelados ao redor dos olhos de Maggie, Aimildisse:

— Ele já bateu em você.

— Não há uma criada que não tenha sofrido nas mãos dele. Ele é umlouco.

Detectando ódio nas palavras da moça, Aimil enxergou uma possívelaliada.

— Pode me ajudar?

— Posso lhe trazer uma poção que a tirará das mãos dele.— Não, não é isso o que quero. — Aimil ficou chocada que a moça lhe

oferecesse uma saída tão pecaminosa e covarde. — Ajude-me a fugir.

— Ele acabará comigo quando descobrir que fugiu.

— Venha comigo. Black Parlan ou minha família a receberão de bomgrado se me ajudar. — Vendo que a oferta seria uma tentação para a moça judiada, insistiu: — Ele me matará se eu ficar aqui. Estou pedindo que salveminha vida.

— Não tenho dúvidas de que logo ele acabará com a minha também. Sea ajudar, estarei me salvando também. Já que me oferece um lugar para ficar,sim, eu a ajudarei, mas não sei como.

— Se eu conseguir chegar até o pátio, pode nos fazer sair sem sermosdetectadas?

— Isso não será problema. Quero saber como a tiraremos daqui doquarto.

— Consiga uma corda forte e longa o bastante para que eu desça pela janela.

— Pela janela? Enlouqueceu? — Maggie perguntou de olhos arregalados.

Embora não conseguisse dissuadir Maggie de que sua idéia não erainsana, a moça concordou em buscar o que pedia. Aimil tentou não pensar nafraqueza que sentia. Saber o que enfrentaria se ficasse, dava-lhe as forçasnecessárias. Seria melhor morrer tentando se salvar do que nas mãos de umlouco.

Enquanto descansava, pensou em Maggie, desejando que a moça fossesincera, que o ódio que sentia por Rory fosse genuíno. Uma traição àquelaaltura lhe custaria muito caro.

Quando Maggie retornou com uma troca de roupas e a corda escondidas

debaixo da roupa, Aimil se envergonhou de ter duvidado dela.— Onde está Rory? — perguntou enquanto se trocava.

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— Bebendo no salão. Ele não vai sair dali esta noite.

— É uma coisa a nosso favor, então. — Testou a força do nó que amarrouao pé da cama. — Vai demorar em saber que fugimos. — Subiu no parapeito da janela. — Pode ir. Nos encontraremos daqui a pouco lá embaixo. — Quando viua preocupação no rosto da moça, sorriu, assegurando: — Fiz isso muitas vezes.E se eu morrer na queda, será melhor do que morrer lentamente nas mãos deRory.

Aquilo fez sentido para Maggie, ainda que ela achasse o plano umaloucura.

— Devo roubar um cavalo? Não sei cavalgar, mas você sabe, não?

— Sim. Se puder, pegue um, mas não se arrisque desnecessariamente.

Depois que Maggie partiu, Aimil fez uma breve oração para que ela fossebem-sucedida ao roubar uma montaria. A dor lhe tirava todas as forças e sabiaque suas chances de conseguir escapar seriam, melhores se fosse a cavalo.

A descida foi pura agonia. Todos os músculos que usava provocavamuma dor ainda maior nas costas. Nem conseguiu se concentrar em não serdescoberta, pois toda a sua energia estava voltada em chegar ao solo. Quandopousou os pés no chão, deixou-se cair, arquejando.

— Está tudo bem? — Maggie perguntou escondida nas sombras. — Vocêcaiu? — Aproximou-se trazendo um cavalo.

Aimil se esforçou para ficar de pé, usando a parede como suporte.

— Caí de fraqueza... Precisa me ajudar a montar.

Os braços fortes de Maggie provaram seu valor ao ajudá-la a montar.

Depois ela conduziu o cavalo para fora dos portões e só quando alcançaram olimite das árvores parou para subir com muita dificuldade. Àquela altura, Aimil já tinha recuperado um pouco de forças para ajudar a controlar as rédeas.

— Estamos indo para o norte — Maggie observou depois de algunsminutos de cavalgada.

— Vamos ao encontro de Black Parlan. Acho que Rory tentará meencontrar na casa de meu pai que fica próxima daqui.

— Ouvi dizer que o povo do norte é medonho. — O medo na voz deMaggie só podia ter sido causado pelas lendas inventadas a respeito de Parlan.

— Não mais do que outros povos. Perto da fronteira como estamos,somos mais parecidos com eles do que com os povos das Terras Baixas. PobreParlan... A aparência dele pode ser intimidante, mas ele é muito gentil. Seushomens são castigados se abusam das mulheres. — Aimil ouviu Maggiesuspirar de alívio. — Confie em mim, garanto que não encontrará crueldade emDubhglenn. Preste atenção, agora. Vou lhe ensinar a controlar o cavalo, poispode precisar conduzi-lo. Não podemos perder depois de ter conseguidoescapar só porque estou fraca demais.

Para seu alívio, Maggie mostrou aptidão nata para montar. Comtreinamento adequado, ela seria uma excelente amazona. Pelo momento,

saberia levá-las a Dubhglenn se houvesse necessidade.A oportunidade se fez muito antes do que Aimil esperava. Ao nascer do

sol, já não conseguia manter os olhos abertos, de tão inchados que estavam.

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Estava exausta e sentia-se enjoada. Atendendo a sugestão de Maggie,apearam sob as copas de umas árvores, onde ela esvaziou o estômago edesmaiou. Despertou com uma compressa fria sobre os olhos, sabendo quehaviam se passado horas preciosas. Gemendo, sentou-se devagar, descobrindoque ainda não conseguia enxergar.

— Deveria ter me colocado sobre a sela e continuado a viagem, Maggie— disse fraca, sem censura real na voz.

— Precisa descansar. Tive esperanças de que seus olhos desinchassem,mas isso não aconteceu.

— Viajar a noite inteira só piorou o que Rory começou. Só consigo veruma linha tênue e mesmo isso me dói. Onde está o sol?

— Bem no alto do céu. Ainda temos de viajar muito?

— Estará escuro antes de nos aproximarmos de nosso destino secontinuarmos no passo em que viemos, Rory já deve saber que escapamos.

— Talvez. Isso depende de quem descobrir. O senhor do castelo nãocostuma tratar bem os portadores de más notícias.

— Vamos rezar para que quem descubra o quarto vazio seja bemcovarde, então.

— É melhor ficar na sela diante de mim. Assim conseguirei segurá-la sedesmaiar novamente.

Só de voltar a montar, Aimil sentiu as poucas forças abandoná-la, mas foium alívio sentir os braços robustos de Maggie ao seu redor, amparando-a.

— Eu daria a fortuna de meu pai para saber quem traiu Parlan —

murmurou.— Foi uma mulher — Maggie respondeu. — Eu a vi. Era uma moça de

lindos cabelos castanhos que disse querer expulsá-la da cama de Black Parlanpara poder ocupar o lugar.

— Catarine... Ela deve estar cuidando dos ferimentos de Parlan paradepois poder cuidar de outra coisa...

Duas vezes Parlan se levantou da cama só para abrir o ferimentonovamente. Bom-senso e a ameaça de ser drogado e amarrado à camafinalmente o fizeram raciocinar. Era um pesadelo ficar deitado imaginando o

que devia estar acontecendo com Aimil, e ele atormentou a vida de todos aoseu redor, lançando toda a sua fúria naqueles que se aventuravam a seaproximar.

— Ralhar com seus amigos de nada vai adiantar — Old Meg rebateu,enquanto refazia o curativo, depois de expulsar Catarine do quarto pelaenésima vez.

— Desculpe, Meg. — Ele suspirou. — É que sei do que o canalha é capaze estou confinado a esta cama...

— Envie seus homens. Malcolm e Lagan podem planejar o que fazer tãobem quanto você. Aliás, você pode ajudar a planejar. Sua cabeça e sua línguaparecem estar funcionando muito bem.

— Sou eu quem precisa ir, pois sou eu quem se beneficiará com o

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retorno dela.

— Isso não importa para seus homens. Eles erguerão a espada contraRory Fergueson de bom grado sem se importarem com a causa.

— Está certa, como sempre. Preciso engolir meu orgulho e deixar que osoutros lutem em meu lugar. Peça para que Lagan venha até aqui. E Leith, se

ele ainda estiver por perto. Está na hora de buscar Aimil.Maggie observou a moça deitada na grama. Era um milagre terem

chegado tão longe. Depois que Aimil desmaiou, prosseguiram viagem por maisum tempo, contudo depois o fardo se mostrou pesado demais para seusbraços, forçando-a a parar.

Cuidou novamente dos ferimentos nas costas e esperou que elarecobrasse a consciência. Não havia nada a fazer. Não poderia voltar paracasa, e nem queria isso. Tampouco poderia seguir em frente, deixando a moçapara trás. Seu futuro, se é que havia algum, estava ligado ao dela.

Ao ouvir o galope de um tropel de cavalos, sua reação foi a de fugir, maspercebeu que os animais seguiam para as terras de Fergueson. Permanecendonas sombras das árvores, aproximou-se da trilha. Vendo as cores usadas pelosMacGuin, saiu de seu esconderijo, balançando os braços e gritando sem pensarno perigo que corria.

Depois de um instante de confusão causada pela súbita aparição de umamulher, os cavaleiros controlaram as montarias e Malcolm se aproximou.

— O que houve, sua doida? Quase a atropelamos. Não tem juízo nacabeça?

—Vocês vêm de Dubhglenn? São os homens de MacGuin? — perguntou

apressada.— Sim — Lagan respondeu. — Quem é você?

— Maggie Robinson. Não precisam seguir adiante. Acho que tenho o queprocuram. Aimil Mengue!

— Onde? — Leith desmontou e se aproximou num piscar de olhos.

— Por aqui. — Maggie evitou contato com os homens ao guiá-los paraonde Aimil estava deitada.

— Deus do céu... — Leith gemeu ao cair de joelhos ao lado da irmã,

sendo seguido por Malcolm e Lagan.— Pobrezinha! — Malcolm exclamou com os olhos marejados.

— Não toque nas costas dela — Maggie avisou quando Malcolm foi pegá-la nos braços. — Ela está muito machucada.

Conforme pensavam em como transportar Aimil causando o mínimodesconforto, Maggie contou como tinham fugido de Rory. Não mencionou apromessa de Aimil, mas os homens garantiram que ela teria um lugar paraficar. Com suas preocupações apaziguadas, Maggie voltou a montar,recusando, educadamente, a oferta se ser levada por um dos cavaleiros

A viagem de volta foi lenta em deferência aos ferimentos de Aimil. Todosqueriam vingá-la, mas sabiam que o mais importante era levá-la de volta aDubhglenn. Sabiam também que Parlan ansiava por participar dessa vingança.

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— Malcolm, a criada está ficando para trás. Veja se não consegueconvencê-la a dividir a sela com um de nós — Lagan pediu.

Aimil, num breve despertar nos braços de Leith, disse:

— Ela não vai concordar, pois não suporta o toque dos homens.

— Vi os hematomas dela — Malcolm disse. — Vou segurar as rédeas para

ela, isso deve fazer com que ela nos acompanhe.— Como está se sentindo, Aimil? — Leith perguntou, seu ódio por Rory

crescendo cada vez que olhava para o rosto castigado da irmã.

— Mal. — Ela suspirou com dificuldade. — Eu não teria chegado até aquise não fosse por Maggie. Precisamos arranjar um lugar para ela ficar.

— Não se preocupe, minha querida, cuidaremos disso. Sabemos quedevemos a sua vida a ela,

— Como está Parlan?

— Bem, agora que ameaçamos amarrá-lo na cama. Ele queria ter vindoconosco.

Um leve sorriso surgiu no rosto machucado. Já imaginava o inferno criadona vida das pessoas ao redor de Parlan, com ele confinado à cama.

O grito de Parlan ecoou pelo castelo quando ele ouviu a chegada doshomens muito antes do esperado. Os apelos de Catarine para que elerepousasse a recompensaram com imprecações, e ela desejou ter escapadoenquanto tinha chance, pois os homens entraram ao lado de Malcolm quecarregava a moça que ela imaginava já estar morta.

Maggie viu Catarine tentar escapar às escondidas e apontou.

— Foi ela! Foi essa mulher que contou a Rory onde encontrar lady Aimil.

Catarine correu e Lagan apressou-se em persegui-la, mas foi contido pelocomando de Parlan.

— Deixe-a ir. Ela nunca mais porá os pés aqui e, depois que a notícia datraição dela se espalhar, não encontrará muitas portas abertas para recebê-la.Esse deve ser um castigo à altura. Agora me contem o que aconteceu.

Maggie tornou a contar o acontecido, enquanto Old Meg cuidava de

Aimil, que havia sido colocada na cama ao lado de Parlan. O olhar dele não sedesviou nem por um segundo do corpo ferido enquanto a criada falava. Aextensão do sofrimento de Aimil se fez claro conforme Old Meg a despia.Mesmo cego de ódio pelo que Rory fizera, Parlan desejou se juntar a Leith, quepranteava os ferimentos da irmã.

— Pobre, pobre moça — Old Meg lastimava com o olhar fixo em Parlan.— Mas poderia ter sido pior. Ela poderia ter perdido o bebê.

— O quê? — a pergunta de Parlan não passou de um grasnido no silênciodo quarto.

— O bebê, seu grande tolo. Por certo vem se esforçando para que issoaconteça. Já era hora também.

— Aimil está esperando um filho meu? — O olhar dele se prendeu à

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cintura fina, já que os lençóis a cobriam somente até o quadril.

— Sim. Já estava na hora de você parar de desperdiçar sua semente aosquatro ventos. Ela logo mostrará os primeiros sinais no ventre arredondado. Asemente está bem fixada. Rory Fergueson não conseguiria chacoalhar o frutodessa árvore por mais que tentasse.

— Por que ela não me disse nada? — A mão trêmula de Parlan afastou oscabelos do rosto castigado de Aimil.

— Acho que ela não sabe — Maggie interveio. — Ela se sentiu maldurante a viagem, mas achou que fosse por causa da surra.

— Precisa se casar com ela — Leith aconselhou. — Ao diabo com oresgate.

— Sim, vou me casar. Lembre-se, porém, que eu já havia me decididoantes de Rory levá-la. — Leith assentiu e os punhos de Parlan se cerraram. —Só queria que Deus me desse a chance de matar o bastardo mais de uma vez.Ele vai implorar pela morte antes de eu acabar com ele.

Aimil ouviu uma voz familiar e se sentiu reconfortada a despeito da fúrianessa voz.

— Parlan?...

Ele segurou a mão frágil que se estendia em sua direção.

— Sim, minha pequena. Está a salvo em Dubhglenn. Aninhada em minhacama de novo.

— Foi Catarine, Parlan. Ela o traiu.

— Sim, eu sei disso agora. Ela não vai mais nos causar nenhumproblema.

Ela assentiu, desejando poder fitá-lo.

— Ainda está bravo comigo pelo ardil que usei? Ele o teria matado.

— Não, não estou mais zangado com você, apesar de ter ficado furioso.

Ela conseguiu sorrir.

— Não pensei que ele fosse tentar me matar, por isso me pareceu a coisacerta a fazer.

— Eu deveria ter lhe contado o que sabia a respeito dele, mas não queriaassustá-la e pensei que estivesse segura aqui. —Virou-se para Malcolm eLagan. — Estou ouvindo os outros homens chegar. Desçam e vejam se hánovidades. Old Meg, acomode Maggie.

— Leith ainda está aqui? — Aimil perguntou.

— Estou bem aqui. — Leith voltou para junto dela.

— Preciso falar com papai. — Ela estremeceu ao se lembrar de tudo oque Rory lhe contara.

— Isso, Leith, vá buscar seu pai. É melhor que ele veja como o homemque escolheu para Aimil trata as mulheres. — Parlan balançou a cabeça. —Aqui está a prova que queríamos, ainda que eu não desejasse que ela tivessesurgido dessa forma.

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Leith saiu do quarto antes que Aimil conseguisse dizer mais algumacoisa. Estava ansioso por mostrar ao pai que os boatos horrendos a respeito deRory eram a pura verdade.

— Aimil? Ele a violentou? — Parlan perguntou.

— Não, Parlan. Ele sabia que, apesar do meu discurso valente, era o que

eu mais temia, e planejou me torturar à espera do inevitável.— Se tivesse acontecido, não significaria nada para mim, porém seria

mais uma dor sua que ele teria de responder. — Passou o dedo pela facemachucada. — Ele vai pagar por cada hematoma que provocou em você, eu juro.

— Rory não é de lutar limpo, Parlan. Não pode acreditar que ele oenfrentará como um homem honesto.

— Sei disso, mas não tema, minha pequena. Já enfrentei cobras comoRory Fergueson antes. Sei como agem.

— Não vá — ela implorou quando ele tentou soltar a mão.— Aonde eu iria com esse buraco na perna? — ele brincou. — Descanse,

Aimil. É o melhor a fazer para se curara

— Parece que não consigo fazer nada além disso — ela murmurou antesque a escuridão a envolvesse de novo.

Enquanto ela dormia, Parlan a observou atentamente. Parecia ummilagre que ela estivesse viva, que tivesse conseguido escapar da prisão. Comcuidado para não tocar nenhum dos ferimentos, passou os dedos pela cinturafina, percorrendo a área em que sua semente crescia. Também era um milagre

que tudo o que Aimil havia passado não os tivesse roubado esse tesouroprecioso. O filho deles lutava pela vida com a teimosia dos pais. Se Rorytivesse conhecimento da criança ou tivesse ficado mais tempo com Aimil, tinhacerteza de que a perderiam.

— O que acha da minha escolha para esposa? — perguntou a Old Megquando ela voltou trazendo comida.

— Como se você se importasse com minha opinião... Mesmo assim, voulhe dizer: ela é uma boa moça e não vai se curvar diante das suas vontades.Você não seria feliz ao lado de uma mulher fraca. E o mais importante é quevocê tem a aprovação do seu povo. Todos se preocuparam com Aimil,

perguntando como ela estava.Aquilo o deixou muito contente. Não permitia que seu povo ditasse seus

passos, mas a aprovação deles tornaria a vida de Aimil mais fácil. Ela não teriaproblemas para encontrar seu lugar em Dubhglenn.

Deitado ao lado dela, segurando-lhe a mão, Parlan refletiu sobre o passoque daria. Com o casamento e a paternidade diante de si, não sentia nenhumarrependimento. Estava, de fato, muito satisfeito. Era fácil visualizar o futuroao lado de Aimil.

Ela se debateu, revivendo os terrores sofridos.

— Parlan! Parlan, onde você está?Ele precisou de vários minutos para apaziguar o medo dela, sussurrando

palavras de conforto que lentamente foram percebidos pelo subconsciente

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dela.

— Você vai pagar por colocar as sombras nos sonhos de Aimil, RoryFergueson — ele sibilou. — Eu juro, você pagará caro.

Um sorriso iluminou o rosto de Lagan ao entrar no quarto de Parlan eencontrar ele e Aimil jogando dados. Pelos resmungos de Parlan, era fácil

deduzir que a sorte contemplava Aimil. Então se lembrou que tinha um anúncioa fazer e disse:

— Lachlan Mengue está no salão e quer ver a filha.

Parlan viu Aimil estremecer e uma sombra anuviou seu belo rosto.Perguntou-se o que a preocupava, mas com paciência atípica, refreou oimpulso de perguntar-lhe o que era. A verdade seria revelada a seu tempo, oque o acalmava.

— Bem, mande-o subir. É melhor desarmá-lo, porém. — Parlan seacomodou nos travesseiros para aguardar o visitante.

— Não vai ficar aqui, vai? — Aimil olhou surpresa, enquanto Lagan ria, eParlan não dava indícios de que sairia ou de que se vestiria.

— Estou na minha cama. Esqueceu-se de que estou seriamente ferido?

— Parlan, não pode ficar aqui! O que meu pai vai pensar?

— Que somos dois inválidos dividindo uma cama a fim de facilitar a vidados que cuidam de nós?

Aimil considerou o ar de inocência dele além da conta.

— Sabe muito bem o que ele pensará quando nos vir juntos. E semroupas!

— É possível, especialmente — levantou a ponta do lençol e olhou parabaixo — se der uma espiada neste meu pobre amigo que parece apenas asombra do que foi outrora.

Aimil não resistiu e espiou, revirando os olhos.

— Até parece. Está claro que seu ferimento não diminuiu seu apetite.

— Começo a acreditar que meu apetite por você nunca diminuirá.

O olhar de Aimil seguiu para o dele e se arregalou, pois ali não havia acostumeira centelha de gozação. Os olhos escuros estavam calorosos e sérios.

Quando estava prestes a perguntar o que ele queria dizer com aquilo, ouviuum pigarrear. Ergueu o olhar para a porta. e, para seu horror, encontrou o paina soleira. Vendo que as feições dele enrubesciam, escondeu o rosto no tra-vesseiro com um gemido. Era um ato covarde, mas não conseguiu se conter.

— Agora sei por que fui desarmado — Lachlan rugiu, cerrando os punhos.— Seu maldito! Jurou que não a maltrataria!

— Eu não fiz isso, fiz, Aimil? — Parlan perguntou baixinho passando amão pelos cabelos dela.

— Então gosta de cortejar com rudeza, seu bastardo!... — Lachlan

grunhiu ao se aproximar da cama.— Papai! — Aimil arfou, esquecendo-se da covardia e enfrentando o pai,

percebendo, de súbito, que ele creditava seus ferimentos a Parlan. — Não foi

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Parlan quem fez isso comigo. — Sem pensar, buscou a mão do amante paraassegurar o pai de suas palavras. — Foi Rory quem me deixou assim.

A expressão do pai passou da ira à descrença. Moveu-se para o lado deAimil na cama onde se sentou numa cadeira oferecida por Leith, que acabarade entrar. De repente, Lachlan demonstrou toda a sua idade.

— Não pode estar falando sério, menina.— Estou. Foi Rory. Parlan nunca me feriu, nunca levantou a mão, mesmo

quando meu temperamento e minha língua afiada falaram mais alto. —Engolindo em seco, ela perguntou: — Papai, como foi que mamãe morreu?

 Tenso com a pergunta repentina, Lachlan respondeu:

— Depois do parto de Shane, já lhe disse isso. A reação dele confirmou oque Rory lhe contara.

— Isso é verdade ou apenas uma história inventada? A dor da verdadeseria demais para nós quando crianças?

— O que andou ouvindo e quem lhe contou?

— Você não contou a ele o que aconteceu, Leith?

— Não, Aimil. Não me ocorreu que ele fosse culpar Parlan pelo que lheaconteceu. Pretendia contar tudo antes que ele a visse.

— Deixe que eu conto tudo, querida — Parlan se ofereceu, sua afrontadeixada de lado ao perceber que a reação do homem se devia à falta deinformação. — Guarde suas forças para contar o que a vem preocupando. Seique será penoso revelar o que vem atormentando seu sono.

Com voz contida, Parlan narrou os últimos acontecimentos, da traição deCatarine até a fuga de Aimil com a ajuda de Maggie. Ao término da narrativa,ficou óbvio que Lachlan partilhava de seu ódio por Rory, que precisaria demuita sorte para escapar da ira de ambos,

— O que mais precisa me contar, menina? — Lachlan perguntou com avoz carregada.

— Rory me disse algo a respeito da morte de mamãe. Algo muitodiferente do que o senhor havia nos contado. A cada golpe, ele me contou umdetalhe. Ela foi assassinada.

— Continue. Não me poupe de nada.

— Ele disse que eu viveria o bastante para que ele se vingasse do malque sofreu.

— Sempre me senti em falta com Rory, o que era uma tolice, afinal eleera cinco anos mais jovem que sua mãe. Kirstie foi seu primeiro amor, e elanunca retribuiu.

— Ele parece acreditar que ela deveria. Disse que a encontrou sozinhanaquele dia. Ela repudiou o amor dele, dizendo que amava somente o senhor.Ele disse que a faria mudar de idéia...

Aimil narrou todos os detalhes que Rory havia lhe contado. Ao fim da

história, ela mal conseguia falar devido às lágrimas.— Ele disse que a deixou lá, na floresta, morta e sem sua beleza...

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Parlan amparou a cabeça de Aimil em seu ombro, deixando-a dar vazãoao choro. Virou-se para Lachlan, que se levantara e apoiava a cabeça nopeitoril da janela, também chorando.

— Nunca suspeitei dele. Rory chorou como um bebê no enterro de suamãe. Ele nos acompanhou nas buscas pelo assassino. Nunca o encontramos...— Deu uma risada sem humor. — O assassino cavalgou ao nosso lado o tempotodo.

— O assassino de mamãe estava para se casar com Aimil no fim do verão— Leith murmurou. — O senhor ia entregá-la tal como um cordeiro emsacrifício!

— Eu não sabia que ele tinha matado Kirstie. — Lachlan se virou paraencarar o filho. — Que Deus perdoe a minha cegueira, eu não sabia que foiRory...

— Mas sabia das histórias a respeito dele.

— Muitos homens têm histórias. Eu não tinha provas, filho. O casamentotinha sido arranjado quando Aimil ainda era bebê. Meu velho amigo, umhomem que foi como um irmão para mim, me pediu esse favor. Mesmopequena, Aimil dava sinais de ter a beleza da mãe. Ele acreditava que issoatenuaria os sentimentos de Rory por ter sido preterido por Kirstie. — Depoisde uma pausa, continuou: — Ela se parecia mesmo com Kirstie, mesmo notemperamento. Quando ela entrou no salão naquela noite há tanto tempo, numlindo vestido, mostrando os primeiros sinais da mulher que viria a ser, nãoconsegui mais olhá-la. Era Kirstie renascida e, dessa vez, Rory a teria para si.

— Por isso a ignorou — Parlan concluiu ao sentir Aimil enrijecer em seusbraços.

— Sim, foi mais fácil. Eu sabia que ela não gostava de Rory. Poderia mefazer desistir do compromisso com muita facilidade. Também achei quetornaria mais fácil entregá-la. Seria como perder Kirstie de novo. — EncarouParlan e estreitou o olhar, parecendo perceber que sua filha estava na camacom ele, e que ambos estavam sem roupas. — Quando esse maldito pôs asmãos sobre ela, fiquei na esperança de que Rory desfizesse o noivado. Outroso teriam feito no lugar dele.

— No entanto, ele não desistiu — Parlan disse.

— Não. Só disse que alguém pagaria se ela não fosse mais virgem. Eu

sabia que ele faria Aimil sofrer. — Estendeu a mão e tocou os cabelos loiros dafilha, da mesma cor da amada esposa. — O quanto ele a machucou?

— Ele não me violentou, papai — Aimil respondeu, fitando-o com osmesmos olhos da mãe. — Ele queria que eu temesse e que sofresse porantecipação.

Olhando para as feições delicadas, maculadas pelos maus tratos, Lachlanreviu a esposa tal qual fora encontrada naquele dia tão distante. A imagemainda revolvia suas entranhas e esmagava sua alma. Sentia-se à beira daslágrimas por ter chegado tão perto de entregar a filha para o assassino.

— Vou acabar com aquele maldito!— Não sozinho, Mengue. Tenho algumas contas a acertar com ele

também — Parlan anunciou. — A vida de minha prima — acenou na direção de

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Aimil — e agora isso.

— Tenho de vingar a morte de minha esposa ao lado do homem quedevassou minha filha?

Aimil enrijeceu e protestou:

— Ele não me devassou, papai!

— Não? Então por que está deitada nua ao lado dele? Ela enrubesceu,mesmo diante da ausência de raiva do pai com o fato.

— Eu vim por livre vontade.

— Está me dizendo que era ele ou Rory?

— De certo modo. Na verdade, era eu ou Elfking. Fizemos um acordo. —Ela rezou para que o pai não pedisse explicações.

— Maldito cavalo!... Eu sabia que não devia ter permitido que ficassecom ele, mas só cedi para apaziguar a culpa que sentia pelo modo como eu a

tratava.Os olhos de Parlan se estreitaram. Começou a suspeitar de Lachlan.

Afinal, o homem devia estar furioso por ver á filha ali na em sua cama, em vezdisso, estava calmo e circunspecto.

— Acho que venho jogando seu jogo e não o meu — disse devagar.

— Talvez nossos jogos tivessem o mesmo objetivo. — Lachlan nemtentou negar as suspeitas de Parlan.

— Tinha tanta certeza de seu sucesso?

— Casei-me com uma mulher igual a Aimil. Sim, eu tinha certeza. Estavaenganado?

— Não. Você venceu. — Parlan não conseguiu deixar de retribuir o sorrisodo homem. — Quer terminar sua jogada?

— Sim. Permita um pouco de divertimento a um velho cansado.

Confusão não chegava a descrever como Aimil se sentia, olhando deParlan para o pai. Mesmo Leith e Lagan pareciam saber o que se passava, a julgar pelos sorrisos.

A única certeza que tinha era de que estava envolvida, mas não sabia noquê. E isso a irritava sobremaneira.

— Então entregou sua inocência em troca de um cavalo?

— Sim, papai.

— Acho que pagou mais do que o animal vale.

Mais uma vez ela corou sem saber o que dizer. Seus motivos revelariama Parlan mais do que ela desejava que ele soubesse, porém tinha quasecerteza de que seu pai entendia o que lhe ia pelo coração.

— Elfking é um excelente cavalo — ela replicou e fez franziu o cenhoquando o pai sorriu.

— Acho que o débito agora é de MacGuin.

— Sim, Mengue, e pretendo pagar o preço cheio. Só precisamos de um

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padre.

— Foi o que pensei. Um contrato a esta altura não basta.

— Papai! — Aimil arfou ao perceber que falavam de casamento. — Nãopode obrigá-lo a se casar comigo. Não tolerarei isso.

Com cuidado, mas firmeza, Parlan pressionou o rosto dela no travesseiro

para evitar que ela interferisse novamente.— Quanto tempo precisa para encontrar um padre?

— Somente o tempo de trazê-lo de meu castelo, onde ele passou oúltimo mês — Lachlan respondeu.

— Pronto para celebrar o casamento entre Aimil e Rory? — Parlanperguntou, sem acreditar, nem por um instante, naquela versão.

— Claro... — Lachlan se virou em direção à porta.

— Peço um favor em troca pelo sacrifício que faço — Parlan sorriu diante

do ultraje abafado de Aimil,— Pode pedir.

— Quero que espere para se vingar de Rory até que eu possaacompanhá-lo.

— De acordo. Você vem comigo, Leith?

— Velho esperto... — Parlan murmurou com admiração depois que osdois partiram.

Libertada do travesseiro, Aimil replicou:

— Você não me deixou falar.— Não. Esse era um assunto entre homens. Agora que seu pai sabe

quem exatamente Rory é, você ficou sem marido e não é mais donzela. Veiopara a minha cama virgem e é meu dever acertar essa conta.

Ela mandou o senso de honra dele às favas, e Parlan somente riu e abeijou na testa. Tentar convencer um homem como ele a não fazer o queachava ser honrado seria impossível, mas ela tentou encontrar uma saída.Queria ser a esposa dele, mas não para lavar a honra. Era o coração de Parlanque ela buscava, não apenas seu nome.

— Venha, Lagan — Parlan chamou. — Ajude-me a levantar. Preciso testaresta perna. Não vou fazer meus votos diante do padre deitado na cama.

Deixando de lado seu descontentamento, Aimil exclamou:

— Vai abrir seu ferimento, seu tolo!

Cerrando os dentes de dor, enquanto era ajudado por Lagan, ele disse:

— Não vou longe, querida. Leve-me até o quarto de vestir, Lagan. Mesmoque eu esteja deitado no casamento, quero estar bem-vestido. Vou pedir queOld Meg venha até aqui. Ela ajudará você a se vestir. — Franziu o cenho eolhou para trás. — Deve haver alguma coisa que possa usar que nãomachuque suas costas.

Quando se sentou numa cadeira no quarto de vestir, Parlan suava frio,mas o ferimento continuava fechado, o que significava que estava se

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recuperando. Quando viu que Lagan tinha o cenho fechado, perguntou qual erao motivo.

— Algumas palavras doces a acalmariam.

— Quando eu disser palavras doces, não será simplesmente paraacalmá-la. Agora deixe-me ver que roupas podem servir para a ocasião.

Pegando a melhor roupa de Parlan e colocando-a sobre a cama, Laganponderou.

— Aimil quer um marido que goste dela.

— E acha que eu não gosto? Sim, esse preto e prateado ficará ótimo. Ébom mandar lavar.

— Acho que você gosta, sim, e talvez ela suspeite disso, mas asmulheres precisam ouvir as, palavras. Ela não tem como saber o que vocêsente.

— Não vou contar mentiras. Quando eu disser palavras de amor a ela,será por que eu as sinto. E hoje eu não sinto isso.

Relembrando da exaltação do amigo ao pensar que Aimil estava perdidapara sempre, Lagan perguntou:

— Será mesmo?

— Quando e se as palavras surgirem em minha boca, eu terei essacerteza. Por ora já basta que eu goste dela e a respeite.

— Fico me perguntando o que Rory fará quando souber que você secasou com a noiva dele...

— Se for inteligente, encontrará um buraco enorme para se enfiar.Mesmo assim, de nada adiantará, pois tão logo eu me recuperar, vou encontrá-lo.

— Rory não está lúcido, Parlan, Sabe muito bem que pessoas como elenão agem como o esperado.

— Nunca se sabe para que lado um cão louco vai pular. Aimil precisa servigiada vinte e quatro horas por dia. Ela não pode ser deixada sozinha nunca.Não conseguirá escapar dele uma segunda vez, O fato de estar grávida sótende a piorar a situação se Rory descobrir.

— Não se preocupe. Ela será vigiada. Aimil não conseguirá chegar aocorredor sem que alguém a acompanhe.

Aimil notou que a vigilância ao seu redor fora intensificada antes mesmoda chegada do padre, contudo tinha outras coisas com que se preocupar. Elatambém queria estar bem-vestida e de pé ao se casar. Afinal, o casamento eracerto por mais que tentasse protestar, mesmo porque ninguém lhe davaouvidos. Lagan, Leith e o pai mantinham-se distantes. Assim como Parlan.Embora ainda estivesse fraco, ele conseguia desaparecer com uma velocidadeimpressionante toda vez que ela tocava no assunto. Sem falar que suacontínua exaustão os ajudava nas manobras de evasão.

O padre chegou e foi acomodado em um dos quartos do castelo, mas acerimônia foi marcada para dali a alguns dias. Parlan queria toda a pompa docasamento de um chefe de clã, na medida do possível com tão pouca

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antecedência. Dubhglenn, de um dia para outro, tornou-se uma colméia deabelhas ocupadas com o banquete para a celebração, e convites foramenviados a todos que poderiam se ressentir caso não fossem convidados,

O evento também foi postergado para que os noivos se recuperassem afim de participar das festividades.

Aimil via os hematomas desaparecer e os ferimentos das costascicatrizar dia após dia. Só não entendia por que continuava a se sentir tãoexausta e enjoada. Os enjôos eram tão freqüentes que, preocupada, resolveufalar com Old Meg.

— Isso é muito comum entre as grávidas — a mulher respondeu semconseguir acreditar na ignorância da moça no assunto.

Aimil detestou ter de admitir que era mais ignorante do que Old Megpoderia imaginar, mas perguntou mesmo assim:

— O que isso tem a ver comigo?

— Está me dizendo que o grande tolo não lhe contou?— Contou o quê? — Aimil perguntou num fio de voz, já que começava a

desconfiar qual mal a atingia.

— O que Dubhglenn inteira já sabe. Que você está carregando o filho dosenhor do castelo. Está esperando o herdeiro que todos aguardavam.

— Estou grávida?... É por isso que ele quer se casar. Não é uma questãode honra, mas a necessidade de um herdeiro.

— Que tolice! Parlan sabe muito bem como evitar filhos. Não temnenhum bastardo até onde sei. — Old Meg balançou a cabeça. — O que a

aflige? Não é para ter filhos que os homens se casam? O mundo é assim, meni-na, não pode mudá-lo. Fique satisfeita por conseguir um homem bonito e como bolso cheio.

— Eu não me importaria mesmo se ele não tivesse nada e fosse fraco edoente — Aimil rebateu. — Quero ser amada.

— Não seja boba. — A velha meneou a cabeça mais uma vez. — Poucasesposas são amadas. Fique grata pelo que tem.

Aimil sabia que a velha senhora tinha razão, mas isso não a fez se sentirmelhor. Seu coração e sua alma estavam nas mãos de Parlan e ela só queria

algo em troca. Honra, força e fortuna eram, de fato, bons atributos nummarido, e Parlan tinha outras tantas qualidades, mas ela ansiava por seu amor.Uma vida inteira sem amor parecia-lhe pouco motivo para ficar feliz. Mesmo areprimenda recebida não conseguia mudar seus sentimentos.

— Aimil? — Maggie se aproximou quando Old Meg saiu. — Você querfugir?

— Não. Para onde eu iria? Devo me casar com Parlan.

— Ele não tão terrível quanto eu imaginava, apesar dos olhos tão negros.Parece ser um bom homem.

— Ele é, Maggie. O problema é que eu o amo, mas não sou amada. Possoacabar sofrendo demais.

— Talvez não. — O olhar da moça recaiu sobre o ventre da outra. — Está

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grávida e logo começará a sentir o bebê. Eu gostaria tanto de ter um, mas isso jamais acontecerá.

— Maggie, o ato de amor não dói — Aimil disse depois de um instante. —Com um homem bom, gentil e atencioso pode ser muito bom, aliás. Umhomem como Malcolm, talvez. O que você acha?

Maggie corou, Malcolm a cobria de atenções e uma parte de seus medosdiminuíra, no entanto os maus tratos recebidos por parte de Rory a deixaracom cicatrizes emocionais profundas.

— Acho que não conseguirei suportar. Vejo Rory toda vez que Malcolmme beija...

— Então deixe os olhos abertos e as luzes acesas. Não tire a imagem deMalcolm de suas vistas. Estou certa de que apenas uma vez nos braços delepodem curá-la. Isto é, se é isso o que, quer, e se Malcolm lhe oferececompromisso sério.

— Sim, ele quer se casar, mas temo desapontá-lo. — Entretanto Maggiepareceu reanimada com as palavras de Aimil. — Posso ir agora?

Assim que Aimil a liberou, Maggie saiu na esperança de se deparar comMalcolm antes que a coragem a abandonasse.

— Bem, parece que um problema foi solucionado, mas que bem isso metraz? — Aimil pensou ao tentar se levantar.

— Deixe-me ajuda-la, querida. — Uma voz profunda, que andava umtanto desaparecida, ressoou. Parlan já estava ao seu lado na cama.

Aimil fitou seu futuro marido e disse:

— Você poderia ter me dito que eu estava grávida. É por isso que secasar, não é? Por que talvez eu esteja carregando seu herdeiro?

— Sim, você está carregando meu herdeiro — Parlan concordou e beijouo beicinho que ela fazia. — É um bom motivo para se casar.

Ela se perguntou como uma simples declaração podia magoar tanto.

— É verdade que não tem outros filhos?

Parlan viu uma centelha nos olhos dela, mas sem conseguir interpretá-ladecidiu que Lagan estava errado. Aimil era uma moça prática e não precisavade palavras doces.

— Não que eu saiba.

— Se sempre foi tão cauteloso, por que não foi comigo?

— Porque eu não queria ser. Eu desejava chegar ao prazer total comvocê. Confio e gosto de você, Aimil. Eu não me importei com o fato de ter filhoscom você.

Ela suspirou silenciosamente. Aquilo era tudo o que conseguiria de Parlanpelo visto. Estava contente, porém queria mais. Contudo, tentou se convencerde que o melhor seria aceitar o que tinha e se concentrar em ser feliz.

Parlan praguejou ao olhar para a cicatriz na perna, que lhe parecia muitomais evidente e horrenda do que antes. Deu alguns passos ao redor docômodo e ralhou ainda mais. A rigidez na perna o fazia mancar. Queria estar

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em ótima condição ao ficar ao lado de Aimil diante do altar, mas estava claroque isso não aconteceria. Praguejar de nada adiantaria, mas ao dar maisalgumas voltas, resolveu que ao menos aplacava um pouco da sua frustração.

Um som leve o retirou de seu aborrecimento. Era Artair que acabara deentrar. Desde que o alertara a respeito de Catarine, o irmão só lhe fizera visitasbreves. A expressão no rosto do rapaz, porém, lhe dizia que esta não seria tãorápida.

— Que linguajar é este? — Artair se aproximou. — Está em dúvida quantoao passo que vai dar?

— Não tenho dúvidas, mas estou lamentando essa cicatriz e a pernainútil. Uma noiva merece coisa melhor.

— Não acredito que ela se importará, mas se está incomodado, podeesperar um pouco mais até se recuperar por completo.

— Não quero esperar mais. O ventre de Aimil está começando aarredondar; ontem mesmo senti o bebê se mexer. Quero me certificar de queele receba o nome MacGuin o quanto antes.

— O bebê só nascerá daqui a vários meses.

— Sei disso, mas também sei como a vida pode chegar ao fim quandomenos esperamos. O que aconteceu com Rory serviu de lembrete. Volto adizer, quero que ele receba meu nome o quanto antes. Já protelei demais. —Sentou-se na cama e observou o irmão. — É por isso que está aqui? Para tentarme convencer a postergar o casamento?

— Não. A escolha é sua. Se deseja se casar com ela, case-se. Aimilparecer ser uma boa moça.

— É por isso que estou decidido a fazer isso. Bem, por que veio, então?Vejo que algo pesa em seus ombros. Pode falar.

— Não é fácil. — Nervoso, Artair caminhou pelo quarto. — Finalmentecompreendi o que me disse na noite anterior ao ataque de Rory. No dia euouvi, mas depois deixei de lado, como sempre. Suas palavras, contudo, não meabandonaram. Achei esse processo de reflexão algo muito desconfortável.Depois aconteceu tudo aquilo com Aimil, ficamos sabendo o que Rory fez coma mãe dela e fiquei assustado.

— É normal, todos ficamos.

— Você não entendeu. Eu me vi nele, enxerguei no que eu poderia metornar.

— Não, você está equivocado. Rory é um louco, completamentediabólico.

— Mas em que momento ele ficou assim? Quando ele parou de dar umou outro tapa e começou a gostar da dor que infligia? Quando ele deixou detomar as mulheres à força, movido pela luxúria e começou a fazer isso pordesejar ver a humilhação, a vergonha e a dor delas? Eu uso as mulheres contraa vontade delas, deixo a luxúria me levar e uso de força. Quando isso deixa deser os atos de um bêbado e passa a ser o resultado da doença que contaminaRory Fergueson?

Parlan se preocupou. Queria atenuar o medo que via no rosto do irmão,

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mas não encontrava as palavras certas. Simplesmente não sabia o bastante arespeito dessa loucura para aplacar o medo do rapaz. Todavia, não acreditavaque Artair tivesse a semente do mal dentro de si.

— Não sei quando e como Rory Fergueson se tornou esse ser escabroso,porém hão creio que você fique como ele. Você não age pior do que a maioriados homens, e não vejo muitos Rorys por aí. A besta que habita dentro delenão pode mais ser controlada. Ele não pode mais mudar, você pode.

Vendo que o medo de Artair não parecia ter sido atenuado, procurou,desesperado, um modo de se expressar melhor.

— Veja bem, Artair, você não matou nenhuma inocente, certo?

— Não! — o rapaz exclamou, ultrajado.

— Tampouco pensou em fazer isso. Rory era mais jovem do que vocêquando matou Kirstie Mengue. Eu não me surpreenderia em saber queaconteceram outras mortes antes disso. Sei, com certeza, que outras se segui-ram depois de Kirstie. Seu cão de guarda, Geordie, escondeu bem isso. Possoapostar como houve outros sinais de demência nele, coisas que indicassem asemente do mal. Você teve seus momentos ruins, mas nunca vi loucura emvocê.

— Mas você disse que ignorar as recusas das mulheres e bater nelas eraerrado.

— É errado, é algo que desaprovo imensamente, mas, como já disse,você não age de modo muito diferente de muitos outros homens. Bater naesposa está dentro da lei, porém eu não encaro como homem de verdadealguém que recorra a essa brutalidade para comandar uma casa. Não há honra

em subjugar alguém mais fraco. Tampouco me vejo no direito de tomar umamulher quando e onde eu bem entender. Entretanto, você não encontrarámuitos que pensam como eu.

— Não, mas eu refleti e concordo com você. — Artair respirou fundo eencarou Parlan.— Bem, eu reconheci a tolice que é beber até cair. Não possobeber e, sem a bebida, consegui refletir sobre meus atos.

— Fico feliz em ouvir isso, mas não entendi por que você não pôde beber.Bebida é o que não nos falta.

— Sim, mas ela não foi levada ao meu quarto. Malcolm, Lagan e atémesmo Leith acharam melhor que eu ficasse sóbrio por um tempo. Não fiqueimuito contente no início, embora saiba que a intenção deles era boa. Você nãopode imaginar como eu desejei me afogar na bebida quando finalmentepercebi o tolo inútil que sempre fui. — Dando de ombros, completou: — Só vimaqui para dizer que pretendo mudar. Levará algum tempo, pelo menos paraconquistar a confiança do povo daqui. Sei que a perdi com meus atos e terei dereconquistá-la do mesmo modo.

Profundamente tocado e sentindo esperanças pela primeira vez emmuito tempo, Parlan abraçou-o emocionado.

— Sabe que pode contar comigo no que precisar.

— Sim, mas também sei que essa luta é principalmente minha. Bem —Artair sorriu de leve quando Parlan o soltou —, uma tarefa a menos. Tenhomais uma. É melhor seguir em frente enquanto ainda sinto humildade para

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confessar meus erros e faltas.

— O que é?

— Preciso conquistar o perdão de Aimil...

Aimil suspirou e fitou as chamas da lareira, esperando que o calorsecasse seus cabelos. Ouvindo uma batida à porta, virou-se ansiosa por

companhia, mas franziu o cenho ao ver Artair entrar. Ouvira rumores de queele andava mudado, porém não se sentia à vontade para ficar sozinha nomesmo cômodo que ele, pois, por mais que tentasse, não conseguia esquecero que o rapaz tentara fazer com ela.

— Estou sóbrio — ele murmurou ao se aproximar — e juro que nãotocarei em você.

Determinada a dar-lhe uma chance, indicou o banquinho diante do seu.

— Sente-se.

— Vim para lhe pedir perdão — Artair disse ao se sentar.

— Você estava bêbado.

— Sim, porém não posso mais me esconder atrás dessa desculpa. Tenhode confessar que levou algum tempo para que eu enxergasse meus erros. Hojeeu penso como Parlan. Uma mulher tem o direito de se negar, e o homem queusa força para obter o que quer não passa de um fraco. O homem forte éaquele que sabe quando não deve usar os punhos.

— Então aprendeu muito e, por isso, tem o meu perdão.

— Diz isso porque acha que agradará a Parlan.

— Em parte, sim. Deixei que você falasse comigo agora por ser irmãodele. Foi por causa de Parlan que deixei que entrasse. O resto foi por minhacausa mesmo. Não falei nada para agradar os ouvidos de Parlan, falei do fundodo meu coração.

— Então eu agradeço... É um alívio saber que estou começando uma vidanova sem ter nenhum parente contra mim. Já será bem duro sem isso.

— Mudar nunca é fácil. Você enxergou suas fraquezas e seus erros. Essepasso é o mais difícil.

Antes que Artair pudesse dizer qualquer coisa, outra batida à porta se fez

ouvir. Era Giorsal que entrava com um largo sorriso até ver Artair, que esboçouum sorriso.

— Você contou a ela.

— Sim, Artair, e agora contarei que você foi perdoado. — Aimil olhouséria para Giorsal.

— E eu tenho de concordar com isso? — Giorsal foi para junto dela.

— Seria bom...

— Está bem, então — concordou ela a contragosto.

— Um perdão um tanto contrariado, mas sincero, espero. — Aimil sorriu.

Artair riu e se levantou para sair.

— Está perto da hora da cerimônia. Vou ver se posso ser de alguma

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ajuda.

— Você perdoa muito fácil — Giorsal comentou assim que se viramsozinhas.

— Ele quer mudar, não posso lhe negar meu perdão. Eu não suportariame responsabilizar caso ele falhasse na sua tentativa de mudança. Neste

instante, ele precisa de toda a ajuda possível.— Está bem. Agora venha, está na hora de se vestir para a cerimônia. —

Segurou a mão de Aimil e a ajudou a se levantar.

— Então falta pouco...

— Não me parece muito feliz. Não quer se casar com Parlan? Conte-me oque a aflige enquanto a ajudo a se vestir, assim posso dizer que tola que vocêé...

— Acho que já me chamaram disso, obrigada. — Aimil retirou o roupão.

— Então não deu ouvidos, ou não estaria tão cabisbaixa quando estáprestes à conseguir o que quer.

— Minhas costas estão muito feias?

— Não e você sabe disso, não tente mudar de assunto. Desembuche.

Aimil não sabia por onde começar. Enquanto Giorsal a ajudava com ovestido, procurou pelas palavras certas a fim de que a irmã compreendessecomo ela se sentia.

— Quero ser a esposa de Parlan. Isso é algo que venho desejando há umbom tempo. Eu só gostaria que ele me quisesse por outros motivos além doque está dentro da minha barriga. Ele está se casando comigo porque estougrávida.

— A maioria dos homens se casa para ter herdeiros. Se fosse permitido,aposto como eles só ficariam diante do padre depois de engravidar asmulheres. Parlan disse que está se casando só por causa disso?

— Bem, não.

— O que ele disse?

— Disse que sou a primeira a lhe dar um filho, e que ele sempre tomoumuito cuidado. Disse que comigo não o fez porque gosta e confia em mim. Isso

não é nenhuma jura de amor.— Não aos seus olhos, mas não é pouco. Algumas esposas nuncachegam a conhecer esse tipo de sentimento por parte dos maridos.

— Eu sei. Só que não deixo de querer mais por saber disso. Valorizo aamizade e a confiança dele e, embora eu me ache uma egoísta, quero muitomais.

— Quer que ele a ame, assim como você o ama, não? — Giorsal fez comque ela se sentasse para lhe pentear os cabelos.

— Eu nunca disse isso...

— Não, mas está claro em cada palavra sua, toda vez que fala de Parlan.Eu soube desde o início.

— Acha que Parlan sabe? — Aimil estava desalentada em pensar que

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Sem conseguir esconder um sorriso, Lagan balançou a cabeça.

As mulheres demoram em se preparar para o casamento.

— Se ela não chegar logo, eu mesmo vou buscá-la. O padre está ficandoimpaciente — Parlan acrescentou depois de um segundo.

— Ah, sim, aquele que está ali sentado bebericando vinho e conversando

com Lachlan. Uma verdadeira demonstração de descontentamento.Depois de lançar um olhar glacial a Leith, Malcolm e Artair que riram da

zombaria, Parlan franziu o cenho e voltou-se para Lagan.

— Confesso que estou um pouco ansioso.

— Só um pouquinho...

— Você sabe ser chato, Lagan Dunmore — sussurrou quando o amigodeu uma risada.

Parlan já estava prestes a comentar que nenhuma mulher levava tanto

tempo para se arrumar quando Aimil entrou, roubando-lhe o fôlego. O vestidoera solto, não só para não piorar os ferimentos que estavam quasecompletamente cicatrizados como também para não prender a barriga. O azul-escuro ressaltava ainda mais a matiz dos olhos dela. O que mais chamou suaatenção, porém, foram os longos cabelos adornados com fitas de ouro e cetimazul. Ele nunca a vira mais adorável.

— Parlan, seu patife, está levando uma bela moça...

— Sim, Lagan, sei disso. — E imediatamente Parlan se moveu para juntodela.

Aimil ficou um tanto perplexa ao ver Parlan. Nunca o vira vestido comtanta elegância, em roupas dignas da corte real. O preto e o prata ressaltavama imponência da aparência dele. Não ficou muito contente por se sentir tãotomada de assalto, afinal, esse sentimento abalava sua precária confiança.

Como poderia segurar tal homem? Ela não passava de uma moçapequena das Terras Baixas com temperamento curto e língua afiada. E naqueleinstante, Parlan era o retrato do ardente homem das Terras Altas, um homemperseguido por mulheres muito mais bonitas do que ela. Suspirousilenciosamente quando ele lhe tomou a mão elevou-a aos lábios.

— Não tenho palavras para descrever sua beleza, Aimil Mengue. —

Parlan ficou intrigado pelo brilho de tristeza que viu no olhar dela. —Conseguiria aumentá-la com um sorriso?

Ela bem que tentou, mas os lábios somente se curvaram, num gestonervoso.

— Só estou um pouco nervosa, Parlan;

Ele sabia que não era só isso, mas não era hora nem lugar de investigar.Estava ansioso por fazer os votos e tomá-la como sua, bem como ao bebê queela carregava. Haveria muito tempo para desvendar o que ela sentia maistarde. Com um sorriso que esperava acalmá-la, puxou-a em direção ao padre,que já se postava em seu lugar para dar início à cerimônia.

Ajoelhado diante do altar com Aimil a seu lado, Parlan mais uma vezvasculhou seu coração para sentir se havia alguma dúvida. Sem se

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surpreender percebeu que não havia nada, pois nenhuma vez desde que aconhecera suspeitara da correção de sua decisão. Havia um ou duaspreocupações que ele não sabia bem explicar, por isso deixou-as de lado. Oinstinto lhe dizia que tudo se resolveria depois que tornasse Aimil legalmentesua esposa.

Minha, ele pensou com uma sensação de orgulho e posse que o fizeramsorrir. Nunca sentira tal coisa por outra mulher. Com Aimil, porém, eraimportante ligá-la a ele de toda e qualquer maneira. Ficou apreensivo aoconstatar que talvez ela não sentisse o mesmo, visto que hesitava antes derepetir os votos que os tornariam marido e mulher. Fitando-a, tentoudesesperadamente ler sua expressão. Mas falhou.

Embora Aimil abrisse a boca para dizer os votos, uma onda de dúvidarefreou sua língua. O que viria a seguir podia ser a realização de todos os seussonhos ou o pior dos pesadelos. Ela o amava além da razão, mas não haviagarantias para esse amor. Passar a vida inteira à espera da retribuição de seusentimento parecia mais do que qualquer um poderia suportar.

Fitando-o de esguelha, seu juízo voltou. Não havia escolha. Se ohumilhasse recusando-o, indubitavelmente perderia qualquer chance deconquistá-lo. E havia a criança. Ele tinha direitos de pai aos quais jamais abririamão. Mesmo que não o desposasse, estariam unidos por causa desse filho.Seria muito melhor se arriscar. Respirando fundo, repetiu os votos, tornando-sedele para sempre, algo que seu coração pedia fazia vários meses.

— Está feliz, filha?

Aimil ergueu o olhar para o pai e sorriu. Estava contente pelorelacionamento deles estar melhorando, mas, desconfiada, esperava a

qualquer momento que ele a repelisse. Sabendo o quanto isso a magoaria,procurava manter a distância, esperando que o tempo curasse sua descrença.A última coisa que desejava era arruinar a renovação da relação entre eles.

— Sim, papai, Parlan é um bom homem. — Notou que sua observaçãoera um tanto trivial, mas não conseguiu pensar em nada mais para dizer.

— Sim, claro que está feliz. Sua voz chega a tremer. Aimil admitiu para simesma que seria tolice tentar enganar o pai.

— Estou feliz. Ele é o homem que eu quero. Há algumas pedras nocaminho, mas acho que as superaremos.

— É assim que se faz. Sabe que é você quem ele quer.— Por causa do bebê.

— Tolice. Acha que alguém como Black Parlan se casa só porque amulher está grávida?

— Mas a honra exige que...

— Não quando se é prisioneira. Se você fosse a filha de algum aliado, porcerto, mas era apenas a prisioneira dele.

Ela ainda pensava nas palavras do pai quando Giorsal e Maggie vierambuscá-la para acompanhá-la até o quarto de Parlan. O que o pai lhe dissera aacalentara mais do que qualquer um havia lhe dito antes, pois era o ponto devista de um homem. Quanto mais pensava a respeito, mais se questionavacomo não tinha entendido antes. Por fim concluiu que tinha evitado qualquer

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explicação que lhe desse esperança.

A obrigação de Parlan era somente devolvê-la com vida após opagamento do resgate. Se ela estivesse grávida, as pessoas veriam issoapenas como um infortúnio, mas não a condenariam. Portanto, ele agira deacordo com sua vontade apenas.

Distraída, deu boa-noite à irmã quando ela se retirou, mas viu queMaggie parecia querer lhe falar. De fato, a moça queria lhe contar que seguiraseu conselho e se entregara a Malcolm de olhos abertos, perdendo assim oterror que Rory provocara. O casamento se daria em poucos dias.

Assim que Maggie saiu, Aimil olhou-se no espelho. Parecia que sepassara tanto tempo desde que estivera nos braços de Parlan. Sentira o desejodele aumentar conforme ele se recuperava, mas Parlan se abstivera de sesatisfazer, uma vez que selaram o compromisso e a família dela os visitavacom freqüência. Ele achou prudente que agissem com maior decoro.

Era o melhor a se fazer, porém ela sentia a falta dele na cama

especialmente quando acordava em decorrência dos diversos pesadelos comRory. Embora Parlan sempre aparecesse à sua cabeceira para aplacar seustemores, não era o mesmo de apenas esticar a mão e senti-lo ao seu lado.Ainda que se repreendesse pela sua fraqueza, teve de aceitar o fato de quelevaria tempo até que se esquecesse daquelas horas de terror e dor.

Deitada na cama, bocejou, desejando que Parlan não se demorasse, ou aencontraria já adormecida.

Do lado de fora do quarto, Parlan respirou fundo e aprumou os ombros.Não entendia por que hesitava, nervoso. Não era nenhuma novidade ter Aimilem sua cama. Entretanto, não conseguia se livrar da sensação de que estavapara dar um passo importante. Pegando-a num bocejo, sorriu.

— Vejo que estou sendo ansiosamente aguardado.

— Desculpe, é que o dia foi longo. E eu pareço estar sempre cansada.Disseram-me que é por causa do bebê.

— Está se sentindo mal ou muito fraca? — Parlan se despiu.

— Nada fora do comum. Só preciso descansar com maior freqüência. —Vendo que eleja estava excitado ao se aproximar da cama, sugeriu: — Talvezessa seja uma boa hora de eu descansar.

 Tomando-a nos braços, Parlan enfrentou o sorriso malicioso dela comuma carranca fingida.

— Não pode fazer isso.

— Não? Será que você tem alguma coisa interessante que me mantenhaacordada?

Removendo a camisola dela, segurou o corpo macio ao encontro do seu,suspirando de alívio por reaver algo que sentira falta além do imaginável.

— Acho que tenho uma ou duas coisas que podem mantê-la interessadapor algum tempo. — Segurou-a pelas nádegas e pressionou o corpo contra o

dela.Uma sensação quente e. conhecida se desenrolou em seu íntimo e Aimil

murmurou sua apreciação:

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— Acho que tem razão, milorde...

Quando ela voltou das alturas nas quais o ato de amor a alçara, abraçou-o, querendo prolongar a união de seus corpos. Sentindo ser observada, abriuos olhos e sorriu langorosamente.

— Bem, tinha razão. Prendeu minha atenção por alguns instantes...

— Bruxinha impertinente. — Parlan afastou-se um pouco. — Fui muitoríspido? Fiquei tempo demais sem saborear a sua doçura. Eu a machuquei? —A mão larga cobriu seu abdômen.

— Não. Pense em tudo o que fizemos antes de saber da existência dobebê. Pense em tudo o que Rory fez... Como Old Meg disse, esse fruto é forte.Você não conseguiria machucá-lo ao me amar. — De um sorriso de lado. — Nãoprecisa temer que a razão para este casamento seja dizimada.

— Ah, eu sabia que algo a incomodava. — Com gentileza, ele afastouuma mecha de cabelo do rosto dela.

— Não há nada me incomodando. — Ela não queria entrar numadiscussão sobre sentimentos.

— Há, sim. Você hesitou antes de repetir seus votos.

— Esse era um passo muito importante. Não pode me dizer que nãohesitou também.

— Não. — Parlan sorriu quando ela o fitou com olhos semicerrados. —Verdade, não hesitei. Venho pensando em me casar com você desde aprimeira vez em que a tive nos braços.

— Nunca me disse nada...

— Claro que não. Se eu contasse e depois me arrependesse, eu teria delhe contar isso também. Muito melhor esperar até ter certeza.

Embora não gostasse muito da idéia de que estivera sendo testadadurante o tempo em que haviam passado juntos, Aimil conseguia entender osmotivos que o levaram a fazer isso. Entretanto, pensou um tanto amarga, - eledemorou o quanto quis para tomar uma decisão.

Isso lhe parecia uma afronta.

— Não ficou muito lisonjeada, pelo que vejo. Não foi essa a minhaintenção.

— Sei disso. Entendo a necessidade de agir com cautela diante de umadecisão tão importante.

— Mas?...

— Eu não disse "mas".

— Estava na sua voz, doçura. Mas? — Mesmo não querendo mentir arespeito do que não sentia, desejava acabar com as desconfianças de Aimil.

— Pelo amor de Deus! Precisou de tanto tempo para se decidir? — Aimildesejou que sua pergunta só revelasse orgulho ferido,

Parlan refreou uma gargalhada, pois isso só pioraria a situação.— Não demorei tanto quanto imagina, querida. Verdade. — Beijou-a de

leve quando Aimil fez um beicinho. — Só demorei em lhe contar. Percebi que

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era melhor eu me apressar antes de ir visitar os Dunmore.

— E ao voltar descobriu que eu tinha fugido. — Ela percebeu que suafuga, com certeza, tinha agravado o orgulho ferido dele naquela noite.

— Tentou se afogar, isso sim.

— O plano era bom. Só não deu certo.

— Não me distraia. — Parlan sorriu quando ela o fitou comaborrecimento. — Aquele banquete que preparei no dia em que Rory aseqüestrou tinha um propósito.

— O de me seduzir.

— Não só isso. Eu tinha planejado pedi-la em casamento.

Aimil ficou desapontada porque os eventos do dia a roubaram de tãoprecioso presente, embora soubesse que as palavras de amor que cobiçavanão teriam acompanhado o pedido.

— E aquele maldito Rory arrumou tudo.— Sim, mas falei com você depois que voltou a Dubhglenn.

— De um modo que me levou a crer que iria se casar comigo somentepor causa do bebê.

— Isso não, eu lhe disse que havia mais motivos.

— De certo modo, mas — ela o enlaçou pelo pescoço e o beijou —, massaber que você planejava me pedir para ser sua esposa antes quesoubéssemos da existência do bebê me tranqüiliza mais. Eu não gostaria quetivesse de casado comigo só porque você estava cumprindo seu dever. — Deu

um leve sorriso. — Eu não queria que fizesse nada contra a vontade por saberque isso apenas nos traria problemas.

— Não sou do tipo de homem que faz as coisas sem realmente querer,minha querida.

— Foi o que papai me disse.

— É mesmo?

— Sim, e foi o modo como ele falou comigo que me acalmou, mas omelhor foi ouvir você dizer.

— Menina, não posso negar que desejo muito esse filho, mas essesentimento vem do fato de nós o termos feito juntos. Quero o bebê porque eleé uma parte de você. — Parlan fez uma ligeira pausa. — Tenho vinte e oitoanos. Em mais da metade deles, conheci os prazeres mundanos. Sim, tive maismulheres do que deveria, e isso não é motivo de orgulho, mas um fato. Emnenhum momento desejei ter filhos com essas mulheres, e sempre fui muitocauteloso. Sei que não tenho filhos bastardos. — Fez mais uma pausa. — Comvocê, por outro lado nunca me preocupei com isso, nem da primeira vez emque fizemos amor. Não vi necessidade, e nas poucas vezes em que pensei arespeito era com satisfação. Pensar em ter filhos com você me deixavacontente. Quero esse filho, mas ele não me forçou a casar. Foi só um meio de

eu apressar as coisas e fazê-la ficar diante do padre. Se alguém foi forçadoaqui, esse alguém foi você.

Aimil ficou comovida com as palavras dele. Não era exatamente o que

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desejava ouvir, mas já era alguma coisa, aplacando sua mágoa diante de umcasamento arranjado e seus temores. Parlan queria, de fato, estar casado comela, o que era um bom presságio para um casamento sólido e feliz.

— Não pode dizer que fui forçada. Sim, você e meu pai decidiram tudosem mim, mas não me ouviu reclamar muito.

— É verdade. Por que não o fez, Aimil?A última coisa que ela queria era que ele soubesse de seus reais motivos

por não protestar contra a decisão dele e do pai.

— Porque eu não tinha do que reclamar. Sou feliz aqui. Sabe disso.Nunca me alegrei com a idéia de partir e não só por causa de Rory, pois eunem sabia quem ele era de verdade. Eu queria ficar. Agora posso.

Parlan sentiu certo desapontamento, sem nem saber o motivo. Amor erao que ele queria de Aimil, contudo sabia que era injusto esperar isso semretribuir. Tentou se convencer de que estava sendo do contra ao abraçá-la.Aimil admitira ser feliz em Dubhglenn, isso deveria bastar. Era algo que mesmoum amor profundo às vezes não garantia.

Pousou a mão sobre o ventre ligeiramente arredondado.

Parecia inacreditável que logo seria pai. Descobriu que seria difícilesperar. Queria saber se era um menino ou uma menina. Se a criança serialoira como Aimil ou morena como ele. Queria segurá-la nos braços, um sen-timento que só aumentava quando sentia os movimentos debaixo de suapalma.

— Vai ser muito difícil esperar.

— Acho que vai ser mais difícil para mim, sem falar que vou ficar gorda efeia.

— Você ficará linda. — Ele sorriu.

— As mulheres grávidas dificilmente ficam lindas. Não quando balançamcomo patas ao caminhar.

— Está pretendendo fazer isso, é?

— Não pretendo, mas é o que vai acontecer. Minhas irmãs o fizeram,bem como todas as grávidas que conheci. Sim, vou andar como uma pata e, sevocê rir, eu bato em você.

— Vou tentar me lembrar disso.— É melhor mesmo.

Por um momento ficaram calados um nos braços do outro, saboreando aproximidade de que tanto tinham sentido falta. Parlan sabia que ela tambémse sentia assim pelo modo como ela o acariciava e suspirava de paixão quandoera tocada. Não importava o quanto se sentia perdido em relação aossentimentos de Aimil, não duvidava do desejo que ela sentia. Era semprefranco, retribuído sem qualquer subterfúgio. Ele sabia que muitos maridospagariam uma fortuna para ter esposas passionais.

Um pequeno problema atrapalhava sua felicidade, entretanto. Aimil nãolhe dissera nada a respeito de Artair. Ela tinha todo o direito de sentir raiva deseu irmão, mas ele desejava que os dois se dessem bem.

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Ainda mais agora que. Artair parecia disposto a mudar de vida.

— Aimil, Artair me disse que queria falar com você hoje.

— Ele me procurou pouco antes da cerimônia.

Quando ela não disse mais nada, ele se impacientou, a despeito dascarícias Suaves que começavam a aquecer seu sangue.

— E então? O que aconteceu? Tudo o que sei é que os dois estão vivos.

Perguntando-se por que Parlan estava tão interessado no assuntoquando sua atenção estava voltada para uma coisa completamente diversa,Aimil olhou para ele com um misto de confusão e aborrecimento.

— Ele se desculpou pelo que me fez e eu o perdoei.

— Só isso? — Ele não conseguia acreditar que um problema tãocomplicado poderia ser resolvido com tanta facilidade.

— Sim. O que acha que poderia ter acontecido?

— Não sei bem. Como nenhum de vocês disse nada comecei a pensarque... — Deu de ombros. — Você perdoou rápido demais.

— Na verdade, não, mas depois do quê aconteceu comigo nas mãos deRory, o que Artair fez pareceu tolice. Ele foi açoitado publicamente, mesmosem ter conseguido o que queria. Mas o que me fez perdoá-lo foi ver que eleestava verdadeiramente envergonhado de seus atos.

— Ele disse que quer mudar.

— Acha que ele consegue? — Ela subiu os dedos pela parte interna dacoxa de Parlan.

— Não sei. Artair já me desapontou diversas vezes. Vou ajudá-lo no quepuder... Aimil, você está me ouvindo?

— Sim, cada palavra.

 Já que a mão dela o acariciava de um modo que tornava difícil pensar,ele duvidou muito disso. Seu sorriso foi substituído por um gemido quando elalambeu seu mamilo. Definitivamente a noite de núpcias não tinha sido feitapara conversar. Fechando os olhos, deleitou-se com as sensações provocadas,sabendo que ela o acompanhava.

Fez uma careta, porém, quando a mão parou em sua cicatriz,

preocupando-se com o que ela via.— Afaste-se dessa coisa feia, querida. Eu queria que isto estivesse menos

visível hoje.

Embora tendo se movido para beijá-lo no rosto, Aimil teve de sorrir,percebendo a preocupação dele quanto à cicatriz. Divertiu-se em ver que umhomem como Parlan pudesse se incomodar com a aparência.

— Uma cicatriz pequena assim não me incomoda.

— Ela não é pequena.

— Quando marca um homem forte e de boa linhagem como você, ela épequena sim, Parlan MacGuin.

Incomodado com o elogio, ele repetiu:

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— De boa linhagem? Está falando de mim como se eu fosse umgaranhão.

— Está se referindo ao cavalo motivo pelo qual se casou comigo?

— Casei-me com você por causa de Elfking?

— Sim. Pode admitir a verdade. Sei o quanto gosta de cavalgar nele.

— Há uma coisa que gosto mais do que isso...

— É? O quê?

Gentilmente deitando-a de costas, gemeu:

— Cavalgar a dona dele.

— Você não passa de um homem rude, meu marido.

— Fique quieta e me beije, mulher...

Aimil resolveu que aquela era uma boa hora de praticar um pouco de

obediência conjugal.

Capítulo VI

— Preciso mesmo ir? Parlan olhou para Aimil que, só de camisola, estavadeitada de barriga para baixo na cama.

— Teria coragem de me mandar viajar sozinho?

Observando a expressão acabrunhada que ele fez, ela deu uma risada.

— Pobre garoto... — Fez uma careta e se sentou ao sentir o bebê mexer.A barriga já estava grande o bastante para ficar de bruços. — Quer mesmo queeu o acompanhe? — Pousou a mão sobre o ventre e se perguntou se asmudanças em seu corpo a deixavam muito feia.

— Eu não teria pedido se não quisesse. Por que reluta tanto em ir? —Parlan aproximou-se da cama enquanto terminava de vestir o gibão.

— Eu preferiria que minha aparência estivesse impecável ao conhecerseus aliados.

Refreando um sorriso, ele inclinou-se para beijá-la antes de sair.

— Continua tão linda, que faz qualquer homem virar a cabeça para olhá-la quando passa. Vamos, vista-se, vou pedir para que Maggie venha ajudá-lacom a bagagem. Precisamos partir antes do meio-dia.

Suspirando, levantou-se. Ele não a compreendia. Ela estava feliz por

carregar o filho dele, mas o modo como a gestação mudava seu corpo adesgostava sobremaneira. Sentia-se pouco atraente e isso tendia a piorar comos meses. Por mais que o desejo dele continuasse o mesmo, Aimil já não se

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sentia capaz de prender sua atenção.

E isso não seria nada bom quando ela tivesse de enfrentar as amantesque ele tivera no passado. Era certo que em Dunmore, encontrariam asmulheres que tinham aquecido sua cama. Provavelmente algumas delas não seincomodariam de confirmar tais fatos e de se prontificar a aquecê-lonovamente, a despeito da presença da esposa. Mesmo se estivesse confiante,essa não seria uma situação agradável. Aimil não desejava ter de enfrentarcoisa semelhante quando sua cintura não passava de uma mera lembrança.

No entanto, ele convenceu-se de que esse era o motivo pelo qual eladeveria ir. Grávida ou não, era hora que todos conhecessem a esposa deParlan.

— Precisa descansar, querida? — Parlan perguntou após uma hora deviagem.

— Não, estou bem. O dia está lindo e não sinto desconforto no lombo deElfking. — Afagou o pescoço do cavalo. — Pensei que quisesse montá-lo

novamente.—Não desta vez. Você fica ainda mais linda montada nele. Quando fui

visitar os Dunmore da última vez, pensei que espetáculo seriamos sechegássemos montando Raven e Elfking.

Embora rindo, Aimil teve de concordar com ele ao chegar ao destinoalgumas horas mais tarde. A admiração das pessoas a deixava encabulada.Parlan, entretanto, não parecendo se incomodar, sorria à vontade.

Depois de serem levados aos seus aposentos, Aimil notou as atençõesdas criadas com Parlan, que pareceu ignorar a situação. Não foi fácil tentar

imitá-lo e isso foi se tornando cada vez mais difícil conforme a noite seestendia. Até mesmo a filha mais velha de lorde Dunmore, Janet, comportou-sede modo aquém do adequado, flertando com ele.

Ao se deitarem, Aimil se entregou com desespero nos braços de Parlan,que estranhou seu comportamento sem nada dizer, porém. Não queria que eledesconfiasse de seu ciúme, pois ele nada fizera para merecê-lo. Segurando-ofirme junto a seu corpo, rezou para controlar esse sentimento.

Na tarde seguinte, ela já desconfiava que aquela seria uma missãoimpossível. Precisando ficar algum tempo sozinha, seguiu até o estábulo paraescovar Elfking. Quando já se acalmava, reparou que Janet se aproximava e se

preparou para novo confronto. Com certeza, só reencontraria a paz ao voltarpara casa.

— Custo a acreditar que Black Parlan tenha se casado com umazinha das Terras Baixas.

Havia muitas pessoas no clã dos Dunmore que desprezavam quem nãofosse das Terras Altas, deixando bem claro seu preconceito. Janet era umadelas que, além de flertar com seu marido, tentava ofendê-la pelas suasorigens. Entretanto, Aimil procurou uma resposta que não acalorasse aconversa.

— Bem, a vida é cheia de surpresas. — A julgar pela expressão de Janet,ela concluiu que conseguira manter o tom de voz neutro, apesar da raiva quesentia.

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— Engraçado... — Janet se aproximou da baia de Elfking. — Nunca penseique Parlan caísse no conto do filho.

— Não foi o bebê que o prendeu a mim.

— Não? Mas foi por isso que se casaram. De algum modo você oenganou, e ele esqueceu de se prevenir. Nunca imaginei que uma mulher do

sul fosse esperta o bastante para ludibriá-lo.— Isso, é claro, se acreditarmos que ele foi ludibriado.

— Claro que foi. Um MacGuin nunca macularia sua linhagem com.osangue de uma sulista.

A muito custo Aimil não revidou a ofensa. Conhecia muitos insultos arespeito dos nortistas, mas considerava de mau gosto denegrir a origem domarido. Sem falar que era isso o que Janet devia estar querendo, par depoisrepetir para Parlan na primeira oportunidade. Além do mais, confrontar umadas antigas amantes dele seria imaturo e indigno.

— Macular? Do meu ponto de vista, sangue novo só faz fortalecer umalinhagem.

— Se você não tivesse aparecido, seria o sangue dos Dunmore, o meusangue que estaria correndo pelas veias do herdeiro dele.

— Tem tanta certeza disso?

— Sim. Embora meu pai não tenha insistido muito no assunto, ainda sintoo calor das palavras de amor de Parlan contra minha pele. Um homem não dizo que ele me disse enquanto trocávamos carícias a menos que pretendessemais do que uma noite de prazer.

Aimil se ordenou a não prestar atenção às palavras da moça, mas suamente logo formulou imagens dos dois juntos, o que elevou seu ciúme aomáximo. Só não pulou no pescoço da outra por não querer que ela soubessecomo era ciumenta. Portanto, somente replicou:

— Qualquer mulher que acredita no que os homens dizem para que elaabra as pernas é tola.

— Foi mais do que isso — Janet sibilou.

— Foi mesmo? — Aimil a encarou friamente. — Então por que eu estoucasada com ele e você não?

Vendo que recuar era a melhor opção, Aimil começou a sair do estábulo,mas Janet a segurou pelo braço, puxando-a para lhe dar um tapa. Aimil decidiuque isso cruzava qualquer limite de civilização e, com agilidade surpreendente,empurrou-a com força na direção de uma pilha de estrume. Ignorando os gritose imprecações da moça, saiu do estábulo e se dirigiu ao castelo. Não queriaestar por perto quando o estado de Janet fosse conhecido, o que não deviatardar.

Parlan ficou boquiaberto, assim como todos no salão, ao ver Janet entrarcoberta de esterco. O odor característico do estábulo a precedeu antes que elase aproximasse da mesa. Mesmo antes de ela dizer qualquer coisa, Parlan

suspeitou de que Aimil estivesse por trás daquilo. Tinha notado que a moçavinha testando a paciência de sua esposa, mas teve esperanças de que elaprovasse ter mais controle, que entendesse a importância de manter a

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situação amigável.

— Pelo amor de Deus, minha filha! — exclamou lorde Dunmore. — Porque está nesse estado?

— A vadia das Terras Baixas fez isso comigo!

— Cuidado, está falando da esposa de lorde MacGuin... — o pai a

advertiu.— Não me importo com quem ela se casou. Ela não tinha o direito de

fazer isso comigo!

Parlan se conteve, esperando que lorde Dunmore conseguisse controlar afilha. Então, algo que Janet disse pediu sua completa atenção.

— Bateu na minha esposa? — perguntou com suavidade, mas impôs-seao se levantar.

O salão ficou em completo silêncio.

— Ela me insultou. — Janet empalideceu visivelmente.— Ela está grávida. Não se bate numa gestante. Ela poderia ter caído, se

machucado. E, caso ela a tenha insultado, foi para retribuir as ofensas com quevocê a recebeu desde que chegamos. — Inclinou-se ligeiramente diante dosenhor do castelo e disse: — Com licença, preciso ir ver como está minhaesposa. — E saiu do salão. Lorde Dunmore encarou a filha.

— Sua tola! Se não estivesse tão suja, eu a esbofetearia.

— Por bater numa vadia sulista?

— Por bater na esposa de Black Parlan. É óbvio que ele gosta dela, e eu

valorizo demais minha aliança com ele para arriscá-la com suas tolices. Ficaráem seus aposentos até a partida dele e é melhor rezar para que ele não queirase vingar.

Aimil suspirou quando Parlan entrou no quarto. Soube que, ele seaproximava pelas passadas no corredor, mas não se moveu de sua posição nacama. Nem mesmo abriu Os olhos quando ele a segurou gentilmente peloqueixo. Estava cansada demais para discutir e não queria enfrentar a zangadele.

— Então ela bateu mesmo em você. — Parlan a tocou de leve na faceafetada.

— Fiquei marcada? — Surpresa, ela o fitou por fim.

— Como sempre. Como se sente?

— Não dói. Estou certa de que a aparência é pior do que a força do tapa.

— Não estou me referindo ao seu rosto, apesar de ficar contente emsaber que não sente dor. — Pousou a mão no ventre dela. — Você chegou acair, ficou muito abalada?

Percebendo que a preocupação dele era com o filho, Aimil magoou-se.

— Estou bem. Seu herdeiro está seguro.

— Ótimo, pois complicações com o bebê poderiam fazer mal a você.

— A ele também.

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— Eu ficaria profundamente abalado se algo acontecesse com o bebê,mas é com você que me preocupo. Você deveria ter dado as costas e saído deperto de Janet. — Parlan se sentou ao lado dela.

— Foi o que eu fiz, mas ela me puxou. Causei muitos problemas? — Nãolamentava o que fizera com Janet, pois a moça bem que merecia, porém nãoqueria causar dificuldades entre Parlan e seus aliados mais próximos.

— Não se preocupe com isso.

Antes de conseguir se controlar, Aimil deixou escapar:

— Esteve noivo de Janet?

— O quê? — Ele se aprumou e a olhou surpreso. — O que disse?

— Nada — ela murmurou, surpresa pela reação dele.

— Janet lhe disse que éramos noivos?

Parlan sabia que Janet vinha incomodando Aimil, mas não se preocupara

com o conteúdo das alfinetadas.Embora houvesse mulheres naquele castelo que podiam afirmar que o

conheciam intimamente, acreditava que Aimil soubesse que nenhuma delassignificara alguma coisa para ele.

Incomodada com o olhar fixo de Parlan, Aimil sabia que ele a pressionariaaté ter todos os detalhes, por isso lhe contou o que havia acontecido.

— E então foram às vias de fato? — Parlan a beijou no rosto.

— Não, eu tentei me controlar e não responder à altura quando elaofendeu minhas origens e disse coisas a respeito dos motivos pelo qual você se

casou comigo, mas quando ela me bateu... — Aimil deu de ombros. — Nãoconsegui ficar quieta, por mais que soubesse o quanto você queriatranqüilidade.

— Você estava com a razão, querida. Ela não tinha o direito de agredi-la.

— Eu estava tentando me controlar. Sabia que ouviria comentários devocê com as moças daqui. Só não estava preparada para ouvir que podia terhavido mais do que simples encontros fortuitos.

— Não houve nada disso. Nunca cheguei perto de Janet Dunmore, pormais que ela quisesse. Nunca a levei para a cama.

— Nem uma vez? — ela perguntou em dúvida.— Não. Se não por outro motivo, eu não teria feito isso porque lorde

Dunmore me faria casar com ela. — Pegando o delicado rosto entre as mãos,beijou-a com suavidade. — Nunca fui amante dela, muito menos troquei jurasde amor com aquela tola. Nunca me comprometi com mulher alguma. Eu sabiaque ela estava provocando você, mas pensei que seria bom não meintrometer. Agora me arrependo porque vejo que ficou magoada. Lamento nãoter percebido o tipo de mentiras que ela vinha espalhando.

Suspirando, Aimil disse:

— Eu não sabia que os nortistas odiavam tanto os sulistas.— Nem todos. Muitos de nós têm o bom-senso de perceber que o que

conta é o caráter da pessoa e não a origem. — Deu um sorriso torto e piscou o

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olho. — Embora seja muito penoso ser cortês com uma saxã... — Seu sorriso sealargou quando ela riu, e ele a beijou antes de se levantar devagar. — Já basta. Tenho trabalho a fazer.

Antes que ela conseguisse replicar, eleja tinha saído. Balançando acabeça, Aimil resolveu que seria melhor descansar antes de enfrentar o jantar.

Para sua surpresa, Janet não foi ao salão naquela noite. Não conseguiuentender a ausência da moça, pois não a machucara, de fato. Para agravar asituação, lorde Dunmore continuava a fitar seu rosto, com uma expressãoséria. Resolveu, então, que seria melhor evitá-lo e, por isso, decidiu se recolhercedo. Contudo, ele a interceptou antes que pudesse se retirar.

— Milady, peço que aceite minhas humildes desculpas. — Lorde Dunmorelevou sua mão aos lábios.

Um tanto confusa, Aimil perguntou:

— Pelo quê, milorde?

— Pelos acontecimentos com minha filha esta tarde. O incidente foiindesculpável.

— Ora, isso não foi nada, milorde. Não se preocupe.

— Milady é muito generosa.

Aimil precisou ainda de alguns minutos para convencê-lo de que nãoestava nem ferida nem ofendida. Quando finalmente conseguiu voltar para oquarto, meneou a cabeça em desgosto. O quarto estava frio, pois a lareira nãotinha sido acesa e a cama não estava arrumada. Não se surpreendeu comaquilo, uma vez que tais descortesias tinham se tornado corriqueiras.

Ainda estava reavivando as chamas quando Parlan entrou. Bastou umolhar para ver que ele ficou zangado por encontrá-la realizando a tarefa.

— Onde estão as criadas? Você as dispensou?

— Sim. — A resposta veio rápida demais e não o convenceu.

— Elas nem estiveram aqui, não é mesmo?

Suspirando, Aimil apenas concordou. O descaso com que a vinhamtratando era.tão evidente que se admirou por ele não ter-notado antes.

— Vou falar com lorde Dunmore pela manhã.

— Não, Parlan, por favor. — Aimil tirou o roupão e foi para a cama.— Elas estão violando as regras básicas de cortesia, querida. Não posso

crer que Dunmore tenha ordenado isso.

— Acho que ele não deve nem saber o que se passa.

— Então as responsáveis devem ser punidas — ele rebateu ao se despir.— Por, no mínimo, estarem causando problemas ao senhor do castelo. E apreguiça delas não pode ser tolerada.

Quando ele se deitou ao seu lado, Aimil perguntou:

— Não podemos fazer vista grossa?

— Por quê? Não pode gostar do fato de voltar para o quarto e nãoencontrá-lo preparado. Sei que pode fazer tudo isso sozinha, mas não deveria.

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Dunmore tem um bom número de criadas que deveriam estar ao seu dispor,ainda mais por estar grávida.

— Está certo no que diz, Parlan, mas deixe estar. Elas devem ter seusmotivos.

— Não há desculpa para tratar uma hóspede com tamanha indelicadeza.

— É verdade, mas... — Aimil suspirou, pensando no melhor modo deexpor seu ponto de vista. — Mas algumas delas devem estar ressentidasporque você não pode procurá-las nesta visita.

— Não as procurei nem da última vez — ele murmurou.

Aquilo a agradou, mas ela prosseguiu em sua explicação:

— Parlan, o que acontece aqui só pode ser por causa de ciúme. Tudo seresolverá com o tempo. Como você mesmo disse, não fez nenhuma promessae isso logo deve por um fim ao assunto. —  Assim eu espero, acrescentou empensamento. — Ainda há a questão de eu ser do sul. — Colocou um dedo nos

lábios dele quando ele começou a protestar. — Não diga nada. Não há comoignorar a animosidade. Sem dúvida alguém do clã pode ter morrido nas mãosde um sulista e as circunstâncias pouco interessam para quem perdeu um entequerido. O que estou tentando dizer, é que seria melhor deixar tudo como está.Reclamar com o senhor do castelo só piorará as coisas. Preciso superar issosozinha, sem a sua interferência. Deixe-me provar o meu valor.

— Você é minha esposa, a senhora de Dubhglenn. Isso deveria bastar.

— Não se é a causa de todo esse transtorno. Parlan, preste atenção.Preciso resolver este problema sozinha, ganhando ou perdendo por meumérito, ou então eu nunca serei bem-vinda enquanto estiver por aqui.

— Por enquanto pode fazer a seu modo. — Segurou-a e roçou os lábiosno pescoço dela, passando a língua de leve na pele sedosa. — Mas o que querdizer com "enquanto eu estiver aqui"?

— Bem, não gosto de dar o futuro como certo.

— Não há incerteza quanto ao seu lugar. É comigo, para sempre.

Ao sucumbir à paixão do beijo, Aimil resolveu não discutir, pois era alique ela desejava ficar.

Suspirando pesadamente, Aimil deixou de lado o bordado. Estavacansada de ficar sentada sem fazer nada. Olhando parada imensa barriga, tevede conceder que talvez estivesse redonda demais para qualquer outra ativi-dade. Para sua contrariedade, andava tal qual uma pata ao caminhar, mas pelomenos Parlan não ria, nem mesmo quando a ajudava a se levantar da camapela manhã.

Mesmo assim, pensou, contrariada, ao se esforçar para levantar, deviahaver alguma coisa que pudesse acalmar sua inquietude dos últimos dias.Bordar por certo não bastava. De repente, soube o que desejava fazer e, semParlan por perto, até poderia conseguir.

No meio do caminho do estábulo teve de refrear o impulso de gargalhar.Estava tentando passar despercebida, mas isso seria impossível, visto que,além de imensa, todos â vigiavam atentamente. Afinal, era a esposa do senhor

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do castelo, grávida do primogênito. Rindo de sua própria ingenuidade aoacreditar que poderia dar uma escapadela para além dos muros de Dubhglenn,entrou no estábulo e se aproximou da baia de Elfking.

— O que acha que está fazendo?

Arfando e levando a mão ao coração, Aimil girou sobre os calcanhares.

— Artair, você me assustou.— Não foi minha intenção. — Olhou para o abdômen distendido da

cunhada e se aproximou. — Está se sentindo bem?

— O bebê não vai nascer agora, apesar de que se voltar a me assustar,talvez isso aconteça.

—Tomarei cuidado, então. Agora responda, o que faz aqui?

— Eu tenho a intenção de dar uma volta...

— Ficou louca?

— Sim, de tédio.— Aimil, sei como está se sentindo...

— Não sabe, não. É como se eu fosse prisioneira de novo, só que pior. Eutinha mais liberdade enquanto esperavam o pagamento do resgate. Nãoconsigo mais ficar sentada bordando... Preciso fazer alguma coisa.

— Tudo bem, mas isso não significa que tenha de sair cavalgando por aí.Você poderia machucar o bebê ou a si mesma.

— Sim, mas talvez chacoalhando o bebê ele se lembre que precisa sairuma hora ou outra.

— Exato, ele pode decidir nascer quando você estiver longe daqui, sem aassistência das mulheres.

O modo como ele se postou diante dela, com os braços cruzados e aspernas afastadas a lembrava de Parlan. A diferença, porém, era que Artairpodia ser persuadido. O mais jovem dos MacGuin era suscetível a súplicassutis.

— Artair — ela pousou a mão no braço dele —, uma curta cavalgada,num passo devagar não pode machucar o bebê. Cavalguei a minha vida inteirae fiz isso mesmo estando grávida. Só parei quando a barriga cresceu demais.

Você pode me ajudar a montar. Posso fazer isso, só preciso de um pouco deajuda.

— Se precisa de ajuda para subir na sela, é sinal de que não deveriaestar nela.

— Tolice. Há diversas damas que não cavalgam sem que as ajudem asubir e nunca as proibiram de fazer isso.

— Elas não estão prestes a parir o primogênito de Parlan MacGuin. Tenhocerteza de que ele lhe disse para não montar de novo.

— Pois está errado. Ele nunca me disse tal coisa. — Isso porque parará

de cavalgar por conta própria antes que ele ordenasse. — Parei porque acheique eu não estava apresentando uma bela figura com a barriga tão grande nasela de Elfking.

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— E então por que essa súbita necessidade de cavalgar hoje?

— 'Por que não agüento um segundo a mais sem fazer nada! — replicou,mas suspirou em seguida, arrependida de seu destempero. — Desculpe. Émuito difícil ficar tão grande e tão inquieta ao mesmo tempo. As duas coisasnão combinam. — Lançou um sorriso esperançoso para o cunhado. — Pode meajudar a subir?

— Posso — ele respondeu, resmungando ao ajudá-la —, mesmo sabendoque vou me arrepender depois. Eu deveria fazê-la esperar pelo regresso deParlan.

— Até isso acontecer já estará tarde demais para eu sair.

— Só espero que ele chegue tarde o bastante para não nos flagrar nessatolice.

— Não está escutando o que estão dizendo, Parlan.

— Lagan trocou um sorriso levado com Leith antes de cutucar Parlan.

Parlan fez uma careta, sabendo que o primo estava certo. Tinha vindopara a reunião dos aliados dos Mengue com o intuito de assegurar-lhes que seucasamento com Aimil era um tipo de trégua, bem como para ficar a par dasinvestigações quanto ao paradeiro de Rory. Sua atenção, entretanto, estavaem outro lugar. Sua mente voltava para Aimil e o bebê que estava para nascer.

— Eu não deveria ter me afastado de Aimil quando ela está perto doparto.

— Ela está para parir já faz quase um mês. Começo a acreditar que o

bebê só tenha a intenção de nascer quando estiver pronto para caminhar.Rindo do comentário de Lagan, Parlan assentiu.

— Quietos, prestem atenção ao que Simon Broth está dizendo! — sibilouLeith, a urgência do pedido alterando sua voz.

— Eu asseguro que foi o maldito Rory Fergueson. Não tenho a intençãode reavivar sua dor, Lachlan, mas a mulher foi encontrada assassinada domesmo modo que sua esposa. Quem mais poderia ter feito isso?

— Sabem quem era a mulher?

— Não, Leith. Ninguém a conhecia, ela tinha chegado há poucassemanas — Simon explicou.

— Alguém deve saber alguma coisa a respeito dela. — Parlan sabia quepoucas pessoas ignoravam estranhos. — Devem ter alguma informação quenos leve a saber quem ela era;

— Acha que isso é importante? — Simon perguntou.

— Pode ser.

— Bem, dizem que ela era bela, uma morena de cerca vinte anos. Àspessoas da taverna onde ela se hospedava só disseram que ela não era muito

amigável. O humor só melhorava perto do filho do taverneiro, um moço joveme bonito.

— Isso não ajuda em nada, podia ser qualquer moça. Não havia nada no

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corpo ou nas roupas que possa nos dar uma pista de quem seja?

— Sim, eu ia lhes mostrar em seguida. — Simon pegou um anel dedentro do bolso e o segurou para que todos o vissem. — Não sei se isso vaiajudar. Não sei de quem possa ser isso.

— Lagan — Parlan sussurrou, o olhar fixo no anel, após tê-lo reconhecido.

— Acho que tem razão... — Lagan se levantou e inclinou-se para pegar oanel. — A moça não era daqui, por isso não reconhecem o anel. Era CatarineDunmore, uma prima minha. O que foi feito com o corpo?

— Foi enterrado adequadamente. Todos da vila podem indicar à famíliaonde está o túmulo. O que ela fazia aqui com ele?

— Depois de entregar o paradeiro de Aimil e Parlan para Rory, ela nãoteve para onde ir. Ninguém viu ou ouviu nada quando ela foi morta? — Lagannão se surpreendeu ao ver que Parlan e Leith também se levantavam, pois avila onde Catarine fora encontrada morta era perto da fronteira das TerrasBaixas, posicionando Rory muito perto de Dubhglenn.

— Quase nada. Eles acham que foi o homem que a visitava vez ou outra,mas não conseguiram descrevê-lo, pois ele e o baixinho que o acompanhavasempre entravam às escondidas sem que ninguém conseguisse ver suasfeições. A moça estava amordaçada e amarrada à cama. O movimento dataverna foi muito intenso na noite do assassinato, ninguém viu o homem sair,Como já disse, o modo como ela foi morta me diz que ela morreu nas mãos dobastardo — Simon insistiu.

— Só pode ser. Rory está perto demais de Aimil. Vou voltarimediatamente para Dubhglenn. Você vem comigo, Lagan?

— Preciso dar a notícia para os pais de Catarine antes.— Eu entendo. — Segurou o ombro do amigo. — Meus pêsames. Depois

disso, você vai para Dubhglenn?

— Assim que eu tiver dado a triste notícia.

— Eu vou com você — Leith se ofereceu.

— Tudo bem. — Parlan olhou para o sogro que já se levantava. — Vocêtambém vem? Duvida da minha habilidade de manter Aimil a salvo?

— Não, rapaz, não vou por esse motivo. Eu venho procurando o maldito

em minhas terras e você nas suas. Agora temos uma idéia de onde ele podeestar. Até que algo aconteça, seria melhor unir nossas forças.

— Vamos nos apressar, antes que Geordie o convença a voltar a seesconder. — Parlan se virou e saiu do salão, sendo seguido pelos outros.

Estavam na metade do caminho quando Leith se aproximou de Parlanpara tentar aplacar a preocupação que via no rosto do cunhado.

— Aimil está bem protegida. Lachlan se aproximou pelo outro lado.

— O homem não conseguirá chegar perto dela, passando pelos muros deDubhglenn.

— Não se ela ficar lá. — Parlan não conseguia encontrar as palavras paraexplicar o medo que vinha crescendo em seu íntimo.

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— E aonde ela iria? Está para ter um filho!

— Qualquer outra mulher ficaria quieta esperando isso acontecer. Nãoposso ter certeza de que Aimil faça isso.

— Ela nunca foi como as outras moças. — Lachlan fez uma careta. — Umbebê não a faria mudar.

— Ela vem se mostrando impaciente nas últimas semanas e agora issome preocupa. Não sei dizer o que é, mas sinto que há algo errado.

— Então temos de nos apressar. — Nem bem terminara de falar, Lachlanincitou o cavalo a se mover mais rápido.

— Se ela não estiver quietinha no castelo quando eu chegar — Parlanmurmurou, fazendo o mesmo —, juro que dou uma surra nela.

— E eu o ajudarei a segurá-la — Lachlan acrescentou.

— Acho que vamos encontrá-la na cama. O parto está atrasado e talvezseja isso o que o está incomodando — Leith sugeriu.

— Espero que esteja certo, Leith. Embora eu tenha meus receios quantoao parto, prefiro isso a descobrir que ela esta fora dos muros de Dubhglenncom Rory nas proximidades.

Aimil respirou fundo e sorriu para o preocupado Artair. Depois decavalgarem, pararam para apreciar o ar fresco de fora do castelo após tantosdias de confinamento.

Artair, contudo, não se mostrava uma companhia tão agradável e nãoescondia seu descontentamento.

— Vamos lá, Artair, não consegue ficar feliz num dia tão belo? Eles sãotão raros que merecem ser contemplados.

— Eu o apreciaria mais se você estivesse sã e salva em Dubhglenn comos pés para o alto.

— Estou muito bem no lombo de Elfking. — Afagou o pescoço damontaria. — Ele nunca me machucaria.

— É verdade. Você mimou demais esse animal. Entretanto, não é elequem me preocupa. — Franziu o cenho e olhou ao redor. — Estou com um mau

pressentimento. Parlan não vai gostar de termos saído.Era verdade, mas Aimil não tinha intenção alguma de admitir isso.

— Estamos tomando cuidado. De fato, se fôssemos mais devagar do queisso, seria como se cavalgássemos cavalos idosos em vez destas belasmontadas. Que mal há nisso? Se Parlan se enfurecer, eu assumo a culpa.Afinal, eu o convenci a vir contra a sua vontade.

— E ainda não entendi por que fiz isso. — Artair balançou a cabeça.

— É porque você é um doce.

— Será mesmo ou sou simplesmente um parvo? Aimil, não há dúvida de

que nenhuma mulher no seu estado deveria andar a cavalo, mas se esquecede Rory?

— Não tenho como esquecê-lo. Mas, por certo, ele não se aproximaria

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tanto de Dubhglenn e da espada de Parlan.

— Quem há de saber? O homem não bate bem. Ele não se atreveu acapturá-la em nossas terras?

Aimil estremeceu e não conseguiu deixar de olhar ao redor. Ao mesmotempo se admoestou pela tolice. Rory sempre agira com esperteza e vir até ali

naquele momento não seria exatamente esperto da parte dele.Apesar dessa certeza, sentiu um calafrio subir-lhe pela espinha. Não

conseguiu deixar de pensar o quão indefesa estava em sua atual condição e oque essa fraqueza significaria para o bebê. Instintivamente levou a mão aoventre. Mesmo tentando não permitir que as palavras de Artair aamedrontassem, ela sentiu como se estivesse sendo observada. Olhoumagoada para o cunhado.

Artair ficou desconcertado. Aos poucos vinham melhorando orelacionamento entre eles, mas não podia afirmar que a conhecia bem. Achavaque nem Parlan a conhecia por completo. Nunca antes conhecera uma mulher

que gostasse tanto de ser do contra. Tivera esperanças de enfiar um pouco de juízo na cabeça dela ao dar voz aos seus receios, mas ela só pareceu estaraborrecida.

— Estava tentando me amedrontar, não é mesmo, Artair MacGuin?

— Só estava tentando fazê-la recobrar o bom-senso.

— A sua idéia de bom-senso.

— Que também deveria ser a sua. Não menti, só lhe contei meus receiosquanto a este passeio.

— Tudo bem. — Ela suspirou. — Mas queria que não tivesse dito nada.— Não tive a intenção de assustá-la. Está se sentindo bem?

— Não assustou o bebê a ponto de fazê-lo fugir de mim se é esse o seumedo. — Aimil deu uma risada quando ele corou. — Artair, os bebês nãonascem tão rápido assim, ainda mais o primeiro. Mesmo que o trabalho departo tivesse começado, levaria horas para que o herdeiro de Parlan nascesse.Não se preocupe.

— Ainda assim eu me sentiria melhor se você estivesse em Dubhglennperto das mulheres que a assistirão no parto.

— Começo a concordar com você. Por mais que eu tente, não possoignorar seus avisos a respeito de Rory. O medo que ele incutiu em mim é tãogrande que suas palavras me levaram a acreditar que estamos sendo vigiados.

Ele fez uma careta e se esticou para apertar a mão dela.

— Desculpe, não queria assustá-la.

— Eu sei. Sua tentativa deu certo, voltaremos ao castelo dentro deinstantes.

— Por que esperar mais?

— Porque depois que eu voltar para lá, sei que demorará até que eu

possa sair de novo. Logo o bebê chegará e estarei ocupada amamentando-o.Quero ficar só mais um instante e respirar esse ar fresco sem ver nenhummuro ao meu redor. — Deu um sorriso pálido. — Pode se ocupar tentando

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encontrar esses olhos que acredito estejam nos espiando.

— Aimil, não acho que ele esteja tão perto assim.

— Não recue agora. Só por precaução... Deixe-me relaxar e esquecertudo por um instante. A verdade é que não posso fazer isso até que RoryFergueson seja capturado.

Rory olhou com o ódio para o casal na clareira.

— Vai demorar muito até que isso aconteça, minha linda vadia. Olhe paraela, Geordie.

A fúria corria pelas veias de Rory tão forte quanto qualquer paixão jásentida. Aimil Mengue estava sentada imponente sobre o cavalo em belasroupas, tal qual uma dama, mas ele sabia bem quem ela era: uma vadia comotantas outras.

Deitado ao lado de Rory, Geordie espiava atrás da moita.

— Sim, eu a vi. Agora podemos sair deste lugar?

— Quando ela está ao meu alcance? Não seja tolo!

— Começo a acreditar que eu seja exatamente isso. Não é nada astutoestarmos tão perto de Dubhglenn sem cavalos para fugir. Esta terra estáapinhada de homens querendo seu sangue, ainda mais depois que matouaquela última.

— Ela merecia morrer. Não passava de uma rameira e estava sempre sequeixando. Duvido de que alguém sinta falta dela.

— Pode ser, mas mesmo que todos os Dunmore a desprezassem, sendoparentes, haverão de querer vingança.

— Pois que venham. Eles não podem me pegar. Ninguém conseguiu emtodos esses meses. O que espera que eu faça, rasteje e me esconda? Perditudo o que eu tinha e vivo fugindo dos que me perseguem. Alguém tem depagar por isso.

— Tudo bem, mas não precisa se entregar de bandeja. Não vê que ArtairMacGuin a acompanha? Acha que ele vai deixar que a leve sem lutar? Ela é aesposa do senhor do castelo, carrega o herdeiro de Dubhglenn no ventre. Seele perceber que você está aqui, vai persegui-lo sedento pelo seu sangue.

— Ele não passa de um moleque embriagado. Não tenho medo dele.

— Dizem que ele mudou. Está até mais forte e cada vez mais parecidocom Black Parlan. E me parece bem sóbrio no momento.

— Você se preocupa que nem uma velha, Geordie. Olhe para ela. Estácom a barriga inchada por causa do filho do maldito e sorri para o irmão dele.Eu não ficaria surpreso de saber que serviu aos dois. Tal qual a mãe. Kirstie metrocou por outro, deixou que Lachlan enchesse o ventre dela. Bem, ela pagoupela ofensa que me fez. Agora chegou a vez de a filha pagar, e será umavitória dupla para mim. Vou acabar com a mulher e com o filho de Black Parlan

num golpe só.— Isso se ele não chegar para acabar com você antes.

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Geordie bem que desejou ter abandonado Rory muitos anos antes. Ohomem parecia totalmente descontrolado e os levaria à morte, pois era tardedemais para fugir agora. Não fora o responsável pelo golpe final em tantasmulheres e alguns homens que Rory matara, mas certamente suas mãostambém estavam manchadas. Os homens que os perseguiam sabiam disso enão o deixariam impune. Seu destino estava intrinsecamente ligado ao de

Rory, mas ele desejou que o outro não procurasse uma morte tão sangrenta...— Que o bastardo venha. Se Black Parlan chegar, só encontrará corpos,

sangue, dor... Deus não me negará minha vingança contra aquele maldito e anoiva que ele me roubou. — Rory desembainhou a espada e saiu doesconderijo, o olhar fixo no casal.

Pensando com seus botões, Geordie chegou à conclusão que Deus haviamuito desertara Rory, mas o seguiu relutante. Não queria matar Aimil, poisisso, definitivamente, colocaria Black Parlan em seu encalço. Todavia, semsaber por que, não fez nenhum esforço para deter Rory.

Aimil se espreguiçou e sorriu para Artair. Embora ele estivesse seesforçando para ser paciente, a ansiedade dele em deixar aquele lugar e voltarao castelo estava evidente em sua expressão e postura corporal, por isso,resolveu contentá-lo. Ele lhe presenteara comum breve instante de liberdade eera justo que retribuísse, devolvendo-lhe paz de espírito.

Sorriu sabendo que não agia somente para beneficiá-lo. Estavacomeçando a se cansar de ficar sobre a sela. Sem falar que a sensação de sesentir observada não a abandonara. Por mais agradável que o lugar fosse, jánão se sentia tão segura.

— Está bem, Artair, já basta. Podemos retornar agora. — Sorriu ao ouvir o

suspiro aliviado dele.— Tem certeza? Podemos ficar mais um pouco se você quiser.

— Não, não há mais nada para mim aqui.

— Ah, mas é aí que está seu engano, minha linda vadia. A morte estáaqui. A morte veio buscá-la...

Aimil ficou paralisada diante do homem sujo e maltrapilho. Apesar demalvestido, ela não teve dificuldades em reconhecer Rory. O rosto dele jamaisdeixaria seus pesadelos. Ele era a causa do medo que sentia desde que foralevada para longe de Parlan e revelava o mostro que jazia embaixo da beleza.

As palavras não lhe pareceram vazias ou tresloucadas. Em seu ponto de vista,Rory era a morte em todo o seu horror e dor.

— Fique atrás de mim, Aimil! — Artair sibilou ao desembainhar a espadae se preparar para a dura batalha de dois contra um.

Libertando-se de seu medo, ela obedeceu ao cunhado. Eles poderiamfugir, pensou, já que tinham cavalos. Então percebeu que Geordie seesgueirava por trás, e Artair mantinha-se firme em seu terreno, receando que ohomem assustasse as montarias, provocando a sua queda. Se ela nãoestivesse num estágio tão avançado da gravidez, não teriam de temer talcoisa. Seu estado lhe roubava a chance de escapar. No momento em que ela

pensou que deveriam tentar de qualquer modo, Geordie se moveu comvelocidade impressionante, derrubando Artair de seu garanhão, ferindo-o e,portanto, fazendo com que ele passasse a lutar pela própria vida.

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— Com que facilidade seu cavaleiro galante cai... — Rory se adiantoupara apanhar as rédeas de Elfking.

Praguejando, Aimil o chutou, mas seu pé mal resvalou o rosto dele.Elfking, pressentindo o perigo que o homem representava para sua dona,empinou e o atingiu com as patas. Rory conseguiu desviar do primeiro golpe,mas o segundo o atingiu na lateral do rosto. Gritando, ele tentou sair de pertodos cascos, mas o animal tornou a acertá-lo.

Cada vez que Elfking descia antes de empinar novamente, Aimil sentiaseu corpo reverberar com o impacto. Entendeu que Elfking conseguira o queArtair tanto temia: seu trabalho de parto estava começando. Contudo, nempensou em deter o cavalo, pois ele estava, sem dúvida, lutando para salvarArtair, o bebê e ela.

Conseguiu desviar o olhar para Artair. Geordie abandonou o combatemomentaneamente, correndo para o lado de Rory. Artair caiu de joelhos,segurando a lateral o corpo que sangrava copiosamente. Ela sabia que preci-

sava chegar até ele antes que Geordie voltasse a atacar. O ferimento poderianão ser fatal, mas a perda de sangue tornava Artair uma presa fácil, Já que ocavalo dele fugira, ela precisava parar o ataque de Elfking num momentoseguro a fim de permitir que o cunhado montasse atrás dela. Só esperava queArtair tivesse forças o suficiente.

— Olhe para o meu rosto! Olhe o que esse maldito fez com o meu rosto!— Rory gritou.

A despeito do aviso de seus instintos, Aimil olhou. Mesmo sentindocontrações, seu estômago se revirou diante da cena grotesca. Os cascos deElfking rasgaram-lhe a pele de tal modo, que o lado esquerdo inteiro seria uma

enorme cicatriz se o ferimento não infeccionasse. Apesar do ódio que sentiapelo homem, não se alegrou com o acontecido.

Uma vez que Geordie estava ocupado tentando afastá-lo de Elfking ecuidar do ferimento, Aimil achou que aquele era o momento certo de tentarfugir.

— Artair, consegue montar? — Ela manteve o olhar fixo no inimigo,enquanto tentava acalmar seu animal.

— Acho que sim, ainda que sinta estar perto da morte. — Artair seesforçou para ficar de pé.

—Vai ficar mais perto ainda se não montar o mais rápido possível. Elesvão voltar a atacar num instante.

Vigiando Rory e Geordie, Aimil sentiu as duas tentativas do cunhado paratentar subir. Mesmo com o cavalo agitado, ela soltou o pescoço do animal eofereceu assistência a Artair. Para seu alívio, Elfking não empinou novamente,tampouco estranhou o peso extra. Com cuidado, então, ela pegou as rédeasque estavam soltas.

— Aqui está a chance de matar esse bandido, mas temos de fugir...

— Não fará bem a nenhum de nós se ele morrer agora, Artair. Segure

firme. Não conseguirei segurá-lo ou suspendê-lo se você cair.Assim que sentiu os braços dele ao seu redor, comandou o cavalo num

galope. Os gritos de frustração atrás deles era como música para seus ouvidos.

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Significavam que tinham conseguido escapar. Agora, só restava chegar aDubhglenn antes que o filho nascesse ou que Artair despencasse da sela.

— Perdeu sua chance — Geordie disse para um encolerizado Rory. —Vamos embora antes que você perca sua vida também.

Rory precisou de mais um minuto antes de recobrar o controle e falar

num tom de voz normal:— Está sugerindo que eu desista?

— Estou pedindo que fuja agora, antes que eles possam contar a alguémonde nós estamos. Não é a mesma coisa? — Geordie pressentia que a loucurade Rory chegara a um ponto em que ele não se importava mais com a própriavida. — Não terá outra chance se ficar por aqui, pois logo alguém virá e omatará, por certo.

— Sim, tem razão. Não posso perder a oportunidade de me vingar. —Rory tocou o ferimento que Geordie cobrira de qualquer modo. — Este éapenas mais um motivo pelo qual aquela vadia terá de pagar.

Demorou um bom tempo antes que Aimil se sentisse segura o bastantepara diminuir a velocidade de Elfking.

Artair se apoiava com tanta força às suas costas que a deixoupreocupada e suas contrações estavam mais fortes.

— Artair? Como você está? — Ficou aliviada ao senti-lo se mexer. —Consegue se segurar até chegarmos ao castelo?

— Nem que seja com os dentes, caso seja preciso. — Ele franziu o cenho

ao sentir algo debaixo das palmas de suas mãos. — Como você está? O bebêfoi afetado? Não quero parecer indelicado, mas sua barriga está estranha.

— Parece que a memória do bebê foi reavivada... Ele se lembrou de quenão pode ficar aqui dentro para sempre.

— O bebê vai nascer agora? Deus meu, o que faremos?

— Vamos continuar.

— Mas você deve estar sentindo muito desconforto.

— Não tenho escolha, tenho? — Mesmo sabendo que aquela era a

verdade, desapontou-se quando ele não ofereceu outra solução.— Isto não está afetando o bebê?

— Não. Artair, ainda vai levar um bom tempo até que ele nasça, mas atéque seria apropriado para o filho de Parlan e meu nascer sobre a sela de umcavalo, não acha?

— Até pode ser, mas isso é uma coisa que eu não quero ver. Está... estádoendo demais?

Ela quase riu da pergunta hesitante. Era incrível como homens tãovigorosos fossem tão ignorantes quando o assunto era o nascimento de uma

criança. Essa ignorância era mais um motivo pelo qual deviam se apressar aretornar ao castelo. Aimil não queria que o cunhado fosse sua parteira e tinhacerteza que ele também não desejava isso.

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— Dói, mas não tanto quanto ainda vai doer. Aposto como nem tantoquanto seu ferimento.

— Ora, não foi tão ruim assim. Amarrei a camisa e o sangramentodiminuiu...

Não foi só a voz carregada de dor que a convenceu do contrário. Artair

respirava com irregularidade e se apoiava nela sem poder se sustentar.Suspeitou de que ele estivesse perto de desmaiar. Só esperava que ele con-tinuasse a lutar contra a inconsciência até chegarem. Caso contrário, teria dedeixá-lo e pedir ajuda, e isso era algo que não desejava fazer, pois Rory eGeordie poderiam tê-los seguido.

Cerrando os dentes, incitou o cavalo a prosseguir a passadas vigorosas,apesar da tortura que isso significava para seu corpo. O pensamento tentadorde parar e se concentrar no nascimento do filho foi afastado pelo espectro deRory.

— Quer parar? — Apesar da intensidade da própria dor, Artair parecia

notar o crescente desconforto dela.— Se eu parar, só poderei continuar depois que o bebê nascer, e acho

que nenhum de nós dois sabe muito sobre esse assunto. E também não temoscerteza de que Rory tenha fugido. Pensávamos que seria sandice ele seaproximar de Dubhglenn, mas foi isso o que ele fez. Por que haveria de agir deoutro modo agora? Acho que não preciso lhe dizer o que aconteceria se ele nospegasse desprevenidos durante o parto. — Arfou ao sentir mais uma fortecontração.

— Não teríamos chance alguma. Mas é que parece que você está ficandopior.

— Sim, estou. Mas também estamos nos aproximando de Dubhglenn.Não se preocupe, ainda tenho de enfrentar muitas horas de dor.

— Se você garante... — Artair deu uma leve risada. — Parlan vai voltarpara casa e se descobrir papai.

Parlan soube que não gostaria do que descobriria assim que passoupelos portões de Dubhglenn. As pessoas no pátio pareciam carregar um ar deculpa e medo, e ele não gostou nem um pouco. Quando Malcolm retribuiu seuaceno com hesitação assim que ele desmontou e o chamou, sentiu o nó depreocupação em seu estômago apertar.

— Onde está Aimil?

— Não pode esperar que uma moça com o tamanho da barriga delavenha correndo recebê-lo.

— Malcolm, não tente me distrair, pois não vai funcionar. Onde estáminha esposa? Quero a verdade.

— Bem... você não vai gostar.

— Isso eu sei.

— Ela não está aqui.

— Onde ela está, então?

— Ninguém sabe ao certo. Mas ela não está só, Artair a acompanhou —

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Malcolm se apressou a dizer ao perceber a ira de Parlan. — Ninguém a deixariasair desacompanhada.

— Ela não está dentro dos muros de Dubhglenn?

— Não. Ela saiu para cavalgar com Artair.

— Saiu para cavalgar?! — Parlan repetiu num grito que fez diversos

homens pular de apreensão. — A tola está prestes a dar a luz e saiu paracavalgar? Como deixou que ela fizesse isso? Como Artair permitiu? Não existeum mínimo de inteligência dentro dos muros de Dubhglenn?

— Acalme-se, rapaz. — Lachlan pôs a mão no braço do genro. — Estoutão preocupado quanto você, mas sejamos honestos, sabe como Aimil sempreconsegue o que quer.

Com muito esforço, Parlan refreou sua fúria.

— Ninguém foi atrás desses tolos?

— Não. Resolvemos esperar mais uma hora para ver se eles voltavam.Mesmo que ela tenha alguma dificuldade, Artair voltará em busca de ajuda.

— Se ele estiver apto. Malcolm, o problema não é só o bebê. Eu atéentendo o que a levou a sair, ela estava se sentindo sufocada. O fato é quetemos provas de que Rory está por perto. Catarine Dunmore foi encontradamorta. Ele fez com ela o que fez com minha prima e com a esposa de Lachlan.O que tentou fazer com Aimil. Foi por isso que voltei antes.

Malcolm o deteve pelo braço quando ele fez menção de voltar a montar.

— É melhor esperar mais um pouco. Nem sabemos que direção elestomaram.

— Ele está certo.

— Lachlan... — Parlan protestou, mas não tentou montar.

— Não podemos procurá-los às cegas. Só sabemos que Rory se esgueirana fronteira. Vamos esperar mais um pouco.

Apesar de detestar, Parlan teve de concordar. Praguejando, afastou-se docavalo e seguiu para os portões. Pediu que lhe servissem cerveja para limpar apoeira da garganta, enquanto esperava o retorno da esposa e do irmão ou queo tempo que se dispuseram a esperar se esgotasse. Não conseguia deixar depensar no que poderia acontecer caso eles se deparassem com Rory. Aimil,

ainda que valente, não tinha condições de lutar, e Artair, embora fosse umcorajoso guerreiro, estaria em desvantagem e preocupado em salvá-la.

Quando Leith se aproximou para dar seu apoio, ele resmungou:

— Preciso decidir qual dos dois eu vou surrar primeiro. — As palavrasforam duras, mas o olhar voltado para o descampado além dos portões, estavacarregado de preocupação.

— Artair, estou vendo Dubhglenn. — O alívio que Aimil sentiu diminuiuum pouco seu desconforto. — Estamos quase lá. — Preocupou-se quando ele

não respondeu. — Artair?— Sim, mãezinha, ainda estou vivo. É bom saber que estamos perto, pois

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acho que não consigo me segurar mais. Seria ótimo se conseguíssemosesconder essa travessura de Parlan...

Reconhecendo a figura imponente no meio dos portões, Aimil suspirou:

— Acho que isso não será possível.

— É verdade, mesmo que eu conseguisse esconder meu ferimento,

temos de contar que vimos Rory.— Não foi isso que eu quis dizer. Parlan já chegou. Erguendo-se um

pouco para espiar por sobre o ombro de Aimil, Artair gemeu:

— E ele está parecendo mais sombrio do que nunca.

— Você pode recorrer ao desmaio ao qual vem combatendo até agora.

— E deixar que você enfrente a ira dele sozinha?

— Se for muito ruim, tenho meu próprio refúgio. Até o bebê nascer, achoque ele terá se acalmado.

O susto que Parlan levou ao ver os dois voltando com um só cavalo setransformou em raiva até eles se aproximarem.

— Como puderam ser tão insensatos, tão imprudentes? — Mesmogritando, seu olhar percorreu o corpo de Aimil à procura de algum indício deque ela estivesse machucada. Apesar de ela estar pálida, não encontrou nada.— Começo a acreditar que vocês sejam completamente desajuizados.

Exausta e com muita dor, Aimil sentia-se inclinada a gritar também.Entretanto, Artair a distraiu. Sugerira que ele desmaiasse numa brincadeira,mas sentiu que ele estava quase desfalecendo. Segurando-se com firmeza aElfking para não ser levada junto caso ele caísse, disse:

— Acho melhor segurar Artair. Ele ficou consciente pelo máximo quepôde.

Surpreso, Parlan se moveu rápido para segurar o irmão antes que elecaísse no chão. Leith ajudou-o a carregar o jovem inconsciente de volta aocastelo. Parlan se admoestou por não notar o estado do irmão por estar tãopreocupado com Aimil.

Ela os seguiu pelo pátio a cavalo. O pai se aproximou de pronto paraajudá-la a desmontar para que ela os acompanhasse para dentro do castelo.Parlan já exclamava ordens aos criados que se apressassem com as medidas

necessárias para cuidarem do ferimento do irmão.Um olhar para o pai garantiu a Aimil que ele sabia de seu estado, mas ela

balançou a cabeça. Sua resposta foi um dar de ombros, significando que elenão diria nada por enquanto. Ela precisava saber como Artair estava antes desucumbir às próprias necessidades, pois se sentia responsável pelo ocorrido.

Entrou nos aposentos de Artair, ciente de que o pai a seguia de perto.Parlan, Old Meg, Leith e Malcolm se ocupavam de despir o enfermo, e ela ficoude lado para não atrapalhar. Sua esperança de ser esquecida momen-taneamente foi esmagada pelo olhar penetrante do marido, que revelava todaa sua raiva.

Admitiu, a contragosto, de que ele tinha motivos para estar bravo. Umatentativa inocente de um pouco de liberdade ao sol, colocara três vidas em

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risco. Suspeitava de que o risco à vida do filho fosse o motivo da raiva dele.Ressentia-se disso somente um pouco, pois compreendia o sentimento. Era omotivo do desgosto que sentia de si mesma.

Parlan lutava desesperadamente para controlar sua raiva. Sabia que seoriginava do temor por Aimil mais do que tudo. Ela estava pálida e cansada,sem condições de lidar com sua ira. Sabendo que ela já devia ter passado pormaus bocados, não devia pressioná-la demais. Apesar de seus esforços, suavoz saiu gélida.

— Conte o que aconteceu, sem subterfúgios.

A frieza na voz dele a sobressaltou, mas ela estava sobrecarregadademais com outras preocupações para lamentar o fato de ele estar com tantaraiva.

— Não vai ouvir meias-verdades neste caso. Foi Rory.

— Sim, eu sei.

— Foi por isso que voltou rápido?— Fiquei sabendo que ele rondava a fronteira e temi que fosse insano o

bastante para se aproximar de Dubhglenn. Eu tinha esperanças, porém, de quevocê não fosse tola o suficiente de se colocar ao alcance dele. — Suas palavrascarregavam o tom de uma discussão, e ele não queria seguir aquele rumo,ainda mais quando precisava de informações.

Aimil entendeu que seu estado era precário quando não respondeu àaltura. Em vez disso contou tudo o que aconteceu.

— Rory ficou ferido, Malcolm, se isso o ajudar... — Acrescentou quando o

rapaz já se afastava para organizar uma busca. — Pensei que ele estivessemuito longe daqui a esta altura, jamais imaginei que ele fosse se aproximartanto.

— Nem eu, mas ele a quer — Parlan disse.

— Temo ter lhe dado mais uma razão para ele vir atrás de mim.

— O bebê?

— Também, mas principalmente por causa do rosto. Elfking o destruiu.

— Elfking?

Old Meg desviou o olhar da sutura do ferimento de Artair e a observou. Amulher prontamente descobriu o estado em que ela se encontrava, mas talqual o pai, manteve silêncio até que ela quisesse se pronunciar. O que nãodevia tardar, já que as dores estavam tão fortes que não as suportaria mais emsilêncio.

— Parece que Elfking não gosta que eu seja atacada ou talvezsimplesmente não suporte Rory... — Depois contou como o cavalo ferira ohomem. — Como está Artair? — perguntou depois que terminaram de cuidardele.

— Perdeu bastante sangue — Old Meg respondeu —, mas vai se

recuperar.— Graças a Deus... Bem, agora vou me deitar.

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— Já era hora! — exclamou Lachlan.

— Eu precisava saber do estado de Artair. Não suportava pensar queminha idéia pudesse lhe custar tanto.

— Sua tolice, você quer dizer — Parlan ralhou ao se aproximar dela, jáplanejando o sermão que lhe daria.

Ela quase lamentou o fato de privá-lo de uma briga pela qual ele pareciatão ávido.

— Agora não, Parlan...

Surpreso com a resposta dela, ele ficou ainda mais bravo.

— Como assim "agora não"? Vamos conversar, mocinha, e agora!

— Desculpe, mas isso terá de esperar, Parlan. — Cerrou os dentes aosentir nova contração. — Até o bebê nascer.

— Por que está demorando tanto?Artair, já desperto e sentado na cama, quase sorriu ao ver o irmão andar

de um lado para outro no quarto. Nunca vira Parlan tão nervoso. Se ele mesmonão estivesse preocupado com o andamento das coisas com Aimil, acharia asituação muito engraçada. Também era interessante observar o irmão e ver,mais uma vez, o quanto a cunhada significava para ele, mesmo que Parlanainda não tivesse se dado conta.

— Os bebês demoram a nascer.

— E desde quando você sabe tanto sobre esse assunto? — Há pouco

tempo. Eu temia que Aimil tivesse o bebê na sela quando as dores começarame ela me contou o pouco que sei agora.

— Ela estava em trabalho de parto enquanto cavalgavam?

— No retorno para Dubhglenn. Ela não lhe contou?

— Ainda não tivemos tempo para conversar.

— Bem, tudo começou quando Elfking empinou para atacar Rory, oimpacto fez o bebê se lembrar que era hora de nascer, segundo ela. Apobrezinha teve dores durante todo o caminho de volta.

Parlan parou de andar para tomar um gole de cerveja. Como queriatomar mais... Porém não desejava estar embriagado quando o filho nascesse.Era uma decisão difícil, pois pressentia que uma bebedeira poderia atenuar omedo que lhe remoía as entranhas. A tentação era tão grande que resolveu seafastar de Leith e Lachlan que cediam a bebida enquanto esperavam. Os doisestavam afogando as preocupações com Aimil com o vigor que ele desejavaestar fazendo.

— Talvez seja melhor eu voltar para junto dela. Pelo menos assim sabereio que está acontecendo.

— E vai atrapalhar, motivo pelo qual Old Meg o expulsou da primeira vez.

Aimil tem suas próprias preocupações agora e não precisa de sua presençaintimidadora por perto para piorar a situação.

— É que não agüento pensar na dor que ela está suportando. Eu gostaria

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de poder por um fim nisso. — Parlan se esticou num banco perto da janela.

— Ela está em boas mãos e logo vai estar tudo bem.

— O problema é que nunca prestei muita atenção a essas coisas denascimento. Ao perigo envolvido — disse baixinho, dando voz aos seus medos.— De repente comecei a lembrar de todas as mulheres que morreram durante

o parto. Aimil é pequena, delicada, e ficou muito grande com esse bebê.Parece demais para carregar, quanto mais para dar á luz.

— Sim, ela é pequena e parece delicada, mas não é. Em vez de pensarnisso, lembre-se do que ela sofreu nas mãos de Rory, escapou e voltou paracá, já grávida. Pense que ela voltou hoje com dores e me amparando. Penseque o espírito e a força dela foram o que o fizeram desposá-la. Ela não é umamocinha frágil que desmaia à toa...

— Não, não é. Preciso me lembrar disso. Mas como eu gostaria quehouvesse outro modo de trazer uma criança ao mundo.

Aimil arfava e se perguntava por que Deus não inventara outro modo detrazer as crianças ao mundo. Fazer um filho era extremamente prazeroso eparecia injusto que só ela padecesse por ter usufruído desse prazer, visto queParlan também se satisfizera e muito. Sabia que a Igreja tinha uma vasta listade motivos pelos quais era ela quem devia sofrer, mas nunca acreditara nelase, mesmo que fossem verdadeiras, pensou ao sentir nova contração, aindaassim seria injusto.

— Não vai demorar muito — disse Old Meg.,

— Parece que estou aqui há anos. — Olhou para Maggie que, grávida de

Malcolm, a banhava no rosto. — Acho que não é bom para você estar aqui. Nãodeve estar gostando muito do fato de tudo isso demorar tanto.

— Já vi muitos partos e o seu não está demorando tanto quanto pensa.Espero que o meu corra tão bem quanto o seu.

— Se você acha... A mim me parece que está levando décadas.

— O bebê é grande — Old Meg esclareceu. — Vai dar um lindo filho parao meu Parlan.

— Talvez seja uma linda filha. — Aimil conseguiu sorrir quando Maggiedeu uma risadinha.

— Os MacGuin sempre têm meninos antes, desde que me lembro. Vocêterá um menino.

Algo em Aimil dizia que isso era verdade, mas de repente ela ficouocupada demais para continuar a conversa. O bebê finalmente parecia prontopara nascer. Em boa parte do trabalho de parto conseguira manter-sesilenciosa, determinada a não fazer o escândalo que certas mulheres faziam,mas não refreou o grito que escapou de sua garganta.

— Aimil! — Parlan se pôs de pé e correu para a porta.

Até mesmo Artair se alarmou.

— Ela estava tão quieta até agora.

— Deve haver algo errado — Parlan disse ao sair do quarto do irmão.

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Ao chegar ao próprio quarto, encontrou a porta trancada. Esmurrou amadeira, exigindo que o deixassem entrar, e Leith e Lachlan se aproximaram.O choro de uma criança deixou-o imóvel enquanto era assolado por umaemoção desconhecida, mas logo retomou os murros, preocupado em sabercomo Aimil estava.

— Sossegue seu tolo! — Old Meg exclamou enquanto limpava o bebê. — Já vou abrir a porta.

— Quero ver Aimil agora.

— Um minuto, Parlan. — Aimil ajudava Maggie a limpá-la.

A irritação na voz dela fez com que Parlan se recostasse à porta, aliviado.Ela parecia cansada, mas nenhuma mulher à beira da morte poderia soar tãozangada. O modo como Leith e Lachlan lhe sorriram assegurava que estavatudo certo.

— Ele parece ser um menino bem saudável pelo modo como chora —Leith comentou:

— Menino? Nem me lembrei de perguntar o sexo do bebê.

Old Meg abriu a porta naquele instante.

— É um menino. Um lindo menino como herdeiro.

Parlan subitamente sentiu hesitação ao entrar no quarto, Algo quemudaria sua vida para sempre acabara de acontecer. Tornar-se marido nãopareceu uma mudança tão grande depois dos meses passados ao lado deAimil. Agora era pai, e ele sabia que o passo era muito maior. Havia alguém aquem ensinar, guiar, treinar. Sentiu-se inseguro, sem saber se saberia educar

bem o menino.Forçou a atenção para Aimil. Ela parecia abatida, cansada. Ao se

aproximar, porém, viu que debaixo de toda a exaustão existia um brilho deexcitação e contentamento. Inclinou-se para beijá-la.

— Está se sentindo bem?

— Sim, só cansada. Veja seu filho, Parlan. Por mais que me irrite ter dedizer isso, você estava certo, era um menino.

Um riso nervoso escapou dos lábios dele antes de baixar o olhar para ofilho, que Aimil segurava com total confiança nos braços. Ficou ainda mais

inseguro quando Leith e Lachlan o incitaram a segurá-lo. Ficou sem saídaquando Aimil o afastou do peito e esticou os braços, oferecendo-o.

Com cuidado e seguindo as instruções dela, pegou o filho nos braços e ofitou, alheio aos comentários do sogro e do cunhado quanto às característicasdo menino. Tudo o que percebia era que tinha o filho nos braços. Emocionado,não sabia o que dizer, só desejou que todos se retirassem.

— Ele é tão pequeno... — conseguiu dizer por fim.

— Pequeno? — Aimil disse. — Não me pareceu nada pequeno momentosatrás. — Riu quando viu que Maggie corava com seu comentário.

— Ele é um lindo menino. Já vi muitas crianças nascer e sei que ele éforte e saudável — Old Meg declarou. — A cor é a de bebês dias mais velhos doque ele.

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— Sim, é lindo para um recém-nascido — Lachlan concordou.

— Você precisa mostrá-lo para o clã. Há muito eles esperam essemomento — Old Meg o lembrou.

Virando-se para Aimil para consultá-la, viu que ela tinha fechado os olhose estava imóvel.

— O que ela têm?— Nada, seu tolo. — Old Meg ignorou a reprimenda no olhar dele por

chamá-lo desse modo e ajeitou as cobertas ao redor dela. — Ela só estádormindo. Está muito cansada.

Aliviado, Parlan entendeu que levaria algum tempo até poder conversarcom Aimil, por isso levou o filho até Artair e depois para o salão onde muitosaguardavam notícias.

Descobrindo o bebê com a ajuda de uma criada, ergueu-o a fim demostrar a todos que o bebê nascera saudável, capaz de assumir o seu lugar.

Declarou, então, em alto e bom som que ele era seu filho e herdeiro, umadeclaração recebida com alegria por todos os presentes. Devolvendo o meninoà criada, instruiu que ela o levasse de volta a Old Meg para que as celebraçõestivessem início.

Mais tarde ao voltar para o quarto, agradeceu Old Meg e Maggie,dispensando-as. Teve a sensação de que Old Meg estava instruindo a moçapara quando ela já não pudesse trabalhar. Nenhuma outra mulher demonstraracapacidade ou interesse pela arte da cura, e Parlan estava satisfeito por verque, por fim, havia alguém para preencher esse lugar. Quando a anciãmorresse, a perda seria imensa, mas por ora ele poderia parar de se preocupar

tanto, pois seu conhecimento não morreria com ela.Sentado num banco ao lado da janela, observava o filho adormecido ao

lado da esposa. Sentia-se duplamente abençoado. Os dois tinham sobrevividoaos perigos do parto. E Rory falhara na tentativa de machucá-los.

Preparou-se para o que parecia ser uma longa espera, descobrindopaciência pela primeira vez na vida. Observar sua pequena família adormecidao enchia de contentamento. Todavia, precisava falar com Aimil e não só sobreo bebê. Precisava convencê-la de que até que Rory estivesse morto, ela e ofilho corriam perigo, por isso teriam de ser vigiados.

Aimil fez uma careta de dor ao despertar lentamente. Por um instante sesentiu confusa, sem entender por que estava tão dolorida, então se lembrou. Amão foi até a barriga ao mesmo tempo em que olhava ao redor à procura dofilho. Assim que o viu adormecido no berço, notou que Parlan estava nassombras logo ali.

— Acordada, finalmente — murmurou ele, sentando-se na beira da cama.

— Dormi tanto assim?

— O tanto que precisou — ele disse ao beijá-la suavemente nos lábios.

— Decidiu que nome daremos a ele?

— Lyolf. Acho que combina mais do que os outros que consideramos.— É um nome bonito, forte — ela concordou.

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— E você me transformou num homem muito orgulhoso, doçura. Ele éum menino lindo e forte.

— Não o fiz sozinha — ela protestou, mas se alegrou com o elogio dele.

— Sei disso, mas você ficou com a pior parte.

— Acho que ele vai se parecer com você. — Ela sorriu. — Já tem o seu

cabelo escuro e espesso.— Pobre menino — brincou ele, mas estava contente que um pouco dele

estaria marcado no filho.

— Pobres das moças daqui a alguns anos. Eu acabarei tendo de pedirdesculpas por dar à luz a um patife mulherengo.

Ele sorriu, mas logo se tornou sério e a segurou pela mão.

— Precisamos conversar, Aimil. A respeito de Rory Fergueson.

Ela fez uma careta, mas sabia que teriam de tocar no assunto. Parlan já

não parecia zangado como antes, mas ela sabia que teria de aceitar certasimposições. Não reclamaria, entretanto, afinal ela, Artair e o filho quase tinhammorrido. Não precisava ser lembrada do perigo que os rodeava.

— Aimil, não estou mais bravo pela sua saída. Minha raiva era movidapelo medo que senti por você. Eu sabia que Rory estava por perto. Simon Brothnos contou de um assassinato.

— Oh, Parlan, ele matou mais uma moça? — Ela estremeceu.

— Ele matou Catarine com os requintes de tortura que já conhecemos.Lagan foi avisar a família.

— Tem certeza que ela era? — Ainda que não gostasse da moça, nãodesejava aquilo para ninguém.

— Sim, reconhecemos o anel dela e descreveram-na bem.

— Mesmo tendo ela sido a responsável por me colocar nas mãos domiserável, ela não merecia morrer dessa maneira.

— Sei disso, querida e aí está a diferença entre vocês duas. Ela errou aose associar a Rory, e por mais que lamentemos a morte dela, foi ela quemassinou a própria sentença. Mas agora você precisa me dar ouvidos. Presteatenção e obedeça, Aimil. Sei como os muros do castelo a sufocam, mas terá

de suportar. Não haverá mais nenhuma cavalgada somente com um homem aacompanhá-la. Se tiver de viajar, será escoltada. Será vigiada em todos osmomentos. Rory não pode ter nenhuma chance de chegar perto de você e seisso significa mantê-la prisioneira, é isso o que acontecerá.

— É Rory quem me mantém prisioneira, Parlan, e não você.

— Isso significa que me obedecerá? — Parlan não esperava que elaconcordasse com tanta facilidade.

— Sim. Quando fui atacada hoje, entendi que ele não hesitaria em mataro bebê também. O fato de ele ter nascido nada significa, pois eu e eleficaremos sempre juntos até ele desmamar. Se eu corro perigo, ele também

correrá. O fato é que fico apavorada de Rory saber da existência do bebê.— Ele está furioso por você ter partilhado a cama comigo. E odiará todos

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os nossos filhos.

— Ele me assusta mais do que quero admitir. Não quero vê-lo nuncamais. Fui uma tola por me expor hoje.

— Não foi, não. Com tantas espadas procurando-o, aqui perto era oúltimo lugar que ele deveria estar. Entretanto, isso nos mostra que ele  pode se

aproximar se não redobrarmos a vigilância.— Rory nos fez prisioneiros... — Ela suspirou e depois o fitou com o olhar

apertado. — Mas você não tem a intenção de ficar atrás destes muros, tem?

— Aimil, ele precisa ser encontrado.

— E você tem de ir atrás dele...

— Eu poderia ficar aqui e enviar outros atrás dele, sem ser rotulado comocovarde, mas não vou fazer isso,

— Não pensei que o fizesse.

— Aimil, Rory precisa ser encontrado e morto. Ele é uma ameaça paratodos nós, para você e nosso filho, principalmente. Até que ele apodreça noinferno, você e o bebê não estarão seguros, É meu dever como marido, comopai. Como homem.

Abraçando-o e trazendo-o para perto, Aimil pousou a cabeça no peitodele.

— Promete tomar cuidado?

— Sim, doçura. Mais cuidadoso do que nunca. — Beijando-a no topo dacabeça, olhou para o berço. — Agora tenho ainda mais motivos para agir comcautela. — Sorriu quando ela olhou para cima, fitando-o. — Uma linda esposaque me dá lindos filhos e um filho que eu quero ver crescer e se tornar umhomem, a fim de ver os erros que cometi com ele.

As palavras dele a magoavam ao mesmo tempo em que a lisonjeavam.Estava claro que ele era feliz por tê-la como esposa, mas ela ansiava ser maisdo que a mulher que lhe dava filhos. Era, contudo, um começo. Não era tolamenosprezando o elo que o filho representava. Precisava, porém, fortalecê-lo,ampliá-lo.

— Você não errará com ele. — Ela não resistiu quando Parlan a deitou nacama.

Ele sorriu de leve quando ela bocejou, depois ficou sério e olhou para ofilho.

— Errarei, sim. Não poderei evitar isso. Ah, Aimil, apesar de extasiadocom o presente que você me deu, não deixo de tremer ao pensar naresponsabilidade que o acompanha.

Embora estivesse cansada e quisesse repousar, levou a mão dele aoslábios e beijou-lhe a palma.

— É uma grande responsabilidade, mas não tema, está à sua altura.

— Tem tanta fé em mim...

— Eu o vi com Artair.

— Ah, o irmão que mandei açoitar...

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— Era preciso.

— Eu estava com raiva.

— A fúria que o acometeu era justificada. Acha que ele estaria como estáhoje se assim não fosse? Se o tivesse tratado diferentemente das outraspessoas, isso o teria magoado mais do que as chibatadas. Você não desistiu

dele. Foi isso o que ficou no coração dele. Em todas as suas loucuras, ele sabiaque você estaria junto dele caso fosse necessário. É assim que se criam osfilhos. Ame seu filho, Parlan, e permita que ele saiba que é amado. Lyolf cometerá alguns erros e você o punirá. Ensine honra e a diferenciar o certo doerrado. É tudo o que se pode fazer pelos filhos. Se ele se tornar uma pessoamá — ela deu de ombros —, é a vontade de Deus e não sua culpa. Nunca viuma criança amada que tenha se tornado um adulto malvado. Não quando oamor é acompanhado por orientação e apoio.

— Tanta sabedoria numa moça que acaba de ter o primeiro filho.

Ela corou com a sinceridade das palavras.

— Eu posso estar errada...

— Acho que não. Um conselho tão sensato não pode estar errado. Nãoacredito em sementes ruins, pois já vi o bem nascer da podridão. E sei que issofoi porque eles encontraram orientação e amor em outros lugares.

— Você educou Artair, Parlan, e embora ele tenha titubeado, ele é umbom homem que tenta melhorar. Encontre forças pensando nisso. — Tentandoreprimir um bocejo, perguntou: — Não acredita que Rory tenha sido umasemente ruim? Custo a acreditar que meu pai tenha sido amigo de um homemcapaz de criar tal monstro.

— Rory não foi uma criança que se tornou má. Ele é maligno. Nãosabemos como ele foi criado. Um bom amigo não é necessariamente um bompai. E temos de considerar outros parentes. Mesmo assim, com uma loucuracomo a dele, pode ser algo de nascença. Graças a Deus, homens como Rorysão a exceção à regra. — Vendo que ela bocejava de novo, beijou-a de leve. —Agora descanse, querida.

— Essa é uma ordem que não vou contestar — ela murmurou, cerrandoos olhos.

Ele ficou ali um bom tempo, segurando a mão dela e velando seu sono. Aalegria que sentia o fez sorrir, pois parecia ser alimentada por coisas simples:uma bela esposa e um filho eram bênçãos, mas não difíceis de conseguir.Havia algo mais. Logo teria de parar para refletir a respeito.

Naquele instante, porém, não havia tempo para reflexões desse tipo.Aimil e seu filho corriam perigo. A prioridade era encontrar e matar RoryFergueson. Até isso acontecer, a felicidade que ele e Aimil encontrassem seriaefêmera.

Capítulo VII

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Aporta do quarto ainda estava sendo aberta e Parlan já estava de péempunhando a espada. Sua consciência alertava que nenhum invasor

conseguiria chegar aos seus aposentos, ainda mais sem soar um alarme, massemanas de busca infrutífera o deixaram tenso.

— Sou eu, Parlan — avisou Artair —, não precisa disso. — Apontou para aespada.

Deixando-a de lado, Parlan acendeu uma vela.

— O que foi? Não amanheceu ainda.

— Achei que não gostaria de esperar pelas notícias que trago. — Fez umgesto em direção a Aimil. — Não seria melhor irmos para outro lugar para nãoacordá-la?

— Ela não vai acordar. Passou metade da noite acalmando Lyolf. Quandoestá exausta, não há nada que a desperte. O que tem para me contar?

— Acho que encontramos Rory.

— Onde? — Parlan imediatamente começou a se vestir.

— Há duas horas daqui.

— Tão perto assim?

— Sim, mas se for o maldito mesmo, não precisa se preocupar: ele estámorto. Temos que ir reconhecer um cadáver.

Embora muito desapontado por não ter chegado às vias de fato comRory, Parlan sentiu-se esperançoso, pois maior do que a sua sede de vingançaera a vontade se por um fim ao medo e à vigilância constante.

— Conte-me tudo.

— Houve um incêndio num casebre de uma pequena vila. Pelo pouco queo povo de lá pôde nos contar, parece que lá moravam Rory e Geordie. Os doismorreram. Lagan tem certeza de que eram eles, mas você tem de ir olhar.

— Leith o conhece melhor, foi por isso que ele ficou aqui depois que o paipartiu. Mandem-no acordar para vir junto conosco.

O sol começava a nascer quando eles saíram do castelo. A cada detalheinformado por Lagan e Artair, as esperanças de Parlan se elevavam, por maisque ele tentasse conter a euforia. Parecia bom demais para ser verdade.

Um odor acre maculava o ar quando eles se aproximaram do chalédestruído pelas chamas. Duas formas cobertas jaziam no chão e três doshomens de Parlan estavam ali, tomando conta dos destroços. Já que a casa nãopassava de cinzas, ele duvidava de que os corpos pudessem ser reconhecidos.Hesitando, aproximou-se.

— Sei que não vou gostar disso — Leith murmurou ao acompanhá-lo.

— Mesmo assim temos de ter certeza que são eles.

— Seria tolice abaixar a guarda antes de termos certeza. — Leith

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respirou fundo antes de descobrir os corpos. — Sempre detestei incêndios esuas conseqüências.

Parlan estava certo, os corpos estavam irreconhecíveis. Armando-se decoragem, juntou-se ao cunhado para examinar os cadáveres e depois seafastaram.

— Bem, não há muito o que dizer exceto que um era baixinho ecorpulento e o outro alto e delgado — Leith disse. — O pouco de roupa querestou indica que o mais alto se vestia bem. Dei uma olhada nos objetos quesobreviveram ao fogo.

— O anel?

— Sim, é o anel de Rory. Bem como a adaga e a espada. Rory sempre asmostrava com orgulho.

— E o outro homem é Geordie? — Parlan enxaguou a boca com vinhopara se livrar do gosto acre da fumaça e dos corpos em decomposição, depoissorveu um bom gole.

— Quanto a esse não tenho dúvida.

— Sem Rory ele não seria um perigo. Rory é quem nos preocupa...

— Sim. E muito depende de minha palavra. Não consigo pensar queoutro homem pudesse estar de posse dos pertences de Rory e acompanhadode Geordie ao mesmo tempo. O mais alto só pode ser Rory.

— Parece que sim.

— Suas preocupações chegaram ao fim, mas não parece aliviado.

— Estou satisfeito, mas também estou zangado. O maldito escorregoupor entre meus dedos diversas vezes, mas hoje ele foi para um lugar onde nãoposso alcançá-lo. — Deu um sorriso de lado. — Não tenho a intenção de seguirpara o inferno antes da minha hora.

— Você queria ser o responsável por mandá-lo para lá. É um sentimentofácil de entender. Meu pai também se sentirá dividido: feliz pela morte dele,mas lamentando não ser o executor.

— Talvez seja por isso que ainda não consigo acreditar nesse fim... Não opresenciei, tampouco o causei.

— Portanto, suspeita. — Quando Parlan assentiu, Leith suspirou. — Não

importa se por fogo ou espada, ele está morto. Devemos enterrá-los? — Voltouo olhar para os corpos.

— Seria justo deixá-los para os abutres, mas nunca fiz isso. Não voucomeçar hoje.

Embora tivesse certeza de que Rory jamais lhe prestaria esse favor casoos papéis estivessem invertidos, Parlan providenciou os sepultamentos. Alémde seu estômago revirar ao pensar num ser humano ser devorado pelosabutres, ele sentia que enterrá-lo o ajudaria a aceitar a morte dele.

— Foi perda de tempo a nossa, mas está feito — Artair disse ao tomar um

gole de água depois de concluída a tarefa. — Eu não me surpreenderia se aterra o cuspisse para fora.

— Nem eu — Parlan concordou. — Wallace, marque os túmulos — ele

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ordenou a um de seus homens.

— Por quê? Não deve existir ninguém que se importe com à localizaçãodos corpos.

— Há quem os desejassem mortos e não estão aqui para testemunhar osepultamento. Os túmulos marcados podem ajudar, Artair.

— Está falando de Aimil?— Minha palavra pode não bastar — Parlan disse, assentindo. — Esse

homem a aterrorizou tanto que ela ainda tem pesadelos. Temo que isso nãopasse somente com meu testemunho. Talvez ela queira vir até aqui paraacabar com seus medos.

— Acho que meu pai também virá — Leith disse.

— É possível, Leith. O desejo dele de ver Rory morto deve ser maior doque o de qualquer um. Vai voltar para casa para avisá-lo agora?

— Sim, vou direto daqui. Diga a Aimil que logo irei visitá-la — ele disse aomontar e partir.

— Nunca pensei que nós faríamos amizade com os sulistas... — Artairmeneou a cabeça ao ver o rapaz partir.

— Bem, não ocorreram muitas disputas entre nossos clãs. Isso facilitabastante. — Parlan caminhou até sua montaria, sendo seguido pelos demais. —Estando tão perto da fronteira das Terras Altas, acredito que os Mengue sejammais parecidos conosco do que com os clãs das Terras Baixas. Pode ver isso nomodo como Leith trafega de lá para cá com facilidade.

— Começo a acreditar que Leith Mengue é o tipo de homem que se

adapta a qualquer situação.— Esse é um dom raro que poderá lhe ser muito útil um dia. — Parlan

montou e olhou para a casa queimada.

— Está em dúvida?

— Não. Só estou pensando em como isso tudo foi fácil, Lagan. Bem, émelhor voltarmos. Aimil já deve ter levantado e se perguntado onde estou.

Enquanto Parlan voltava para casa, o alívio e até certo contentamentopela morte de Rory começou a dispersar as dúvidas que ele ainda tinha. Nocaminho, cumprimentou as pessoas com alegria e quando entrou no castelo

encontrou Old Meg que o recebeu com o cenho franzido.— O que andou aprontando, rapaz? Saiu às escondidas antes de o sol

nascer.

Ele a beijou no rosto antes de responder:

— Precisei ir ver um corpo...

— O maldito morreu?

— Sim, ele está morto. Como está Aimil?

— Rangendo os dentes. É melhor você subir logo. Ela está amamentando

seu filho esganado, mas duvido que tenha parado de se preocupar com você.Se não for logo para o quarto, é capaz que ela desça com o bebê pendurado nopeito.

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Aimil ouviu um burburinho e ficou tensa. Distraída, deu uns tapinhas nobumbum do filho, tentando ouvir se Parlan tinha chegado. Já tinha decidido irver o que acontecia e tirado o menino do peito quando Parlan entrou.

— Aonde você foi?

Olhando sem entender para o filho que não parava de berrar, Parlan

perguntou:— Não entendi o que disse. O que aconteceu com ele?

— Ele ainda não tinha terminado, mas o afastei do seio, pois queria verse você tinha voltado. — Ela fez uma careta para o filho e o segurou àdistância.

Sentando-se na cama, Parlan gentilmente empurrou o filho de volta parao colo da mãe.

— Por favor, deixe-o terminar antes que ele nos ensurdeça.

Ela o colocou de volta ao seio e depois de alguns soluços, o menino seacalmou. Antes de questionar Parlan, algo no modo como Lyolf mamava adistraiu. Estranhamente o filho não estava relaxado em seus braços como decostume. As mãos pequeninas seguravam o seu vestido e os olhos, da cor dosseus, estavam abertos. O olhar dele estava fixo no seu e as sobrancelhas, tãoparecidas com as de Parlan, formavam um "V" sobre o pequeno nariz. Elatentou relaxar a mão do menino, mas ele só grunhiu e se agarrou com maisforça ainda, deixando claro que não permitiria que o afastassem de novo antesde terminar de se alimentar.

— Seu filho parece muito com você neste instante, Parlan.

Espiando, ele disse:— Nunca fiz essa cara de descontentamento ao saborear essa doçura. —

Inclinou-se e beijou a curva do seio, mas foi afastado com um golpe do punhodo menino. — Ai!

Aimil bem que tentou não rir, mas olhou para Parlan que, esfregando onariz, fazia uma careta, e para o filho, com uma careta idêntica ao se segurardo corpete do vestido. Apesar de seus esforços, começou a rir. Quando issoaumentou a careta dos dois, ela simplesmente gargalhou.

— Ora essa, vocês dois são muito mal-humorados...

Deitando-se ao lado dela, Parlan fixou o olhar no filho que o acompanhoucom olhar determinado. Lentamente, Parlan sorriu, sentindo além decontentamento, muito orgulho. Mesmo tão jovem, o menino mostrava terpersonalidade.

— É bom que ele ainda seja tão pequeno ou eu estaria em apuros.

— Você ainda pode estar... — Aimil o inspecionou com o olhar apertado.— Por que saiu sem me dizer aonde ia?

— Ah, voltamos ao assunto...

— Bem, você simplesmente desapareceu sem dizer nada.

— Não tive a intenção de preocupá-la. Artair me procurou antes donascer do sol.

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— Eu não o ouvi.

— Você estava exausta.

— O que ele queria que não podia esperar? — Ficou tensa, entãocompreendeu, pois só havia um motivo, já que o castelo não estava sendoatacado. — Era Rory, não?

Parlan a segurou pela mão.— Ah, querida, não precisa mais ter medo. Ele nunca mais vai machucá-

la.

— Você o matou?

— Não tive o prazer. Artair ficou sabendo de dois homens numa vilaperto daqui cujas descrições batiam com a dele e a de Geordie. Quandochegou lá, descobriu que a casa onde eles estavam tinha sido incendiada e queeles haviam morrido. Ele me procurou porque achava que eu deveriaidentificar os corpos.

— Eram eles mesmo?

— Sim, mas foi Leith quem os reconheceu. Eu só vi que o tamanho e aaltura deles batiam com a dos homens que procuramos. Leith teve certezaquanto a Geordie e reconheceu Rory por causa de seus pertences. Ele já foiavisar seu pai. Sei que ele também lamentará não ter sido o responsável pelofim de Rory.

— Sei disso, mas acredito que assim é melhor. Papai nunca foi umhomem cruel, mas se ele pusesse as mãos em Rory nada o deteria. Imaginoque depois que a raiva o deixasse, ele se sentiria mal por ter se igualado a um

homem como Rory. Penso que ele acabaria enlouquecendo se o tivessematado. Não, assim foi melhor, ainda que meu pai demore a entender isso.

— Eu também não aceitei o fato de pronto. Foi como se algo me tivessesido roubado.

— Estou feliz por você não ter ficado frente a frente com ele. — O filhotinha terminado de mamar, então ela o segurou contra o ombro. — Rory erauma cobra. Luta justa nunca foi o forte dele.

— Bem, está tudo acabado agora. Ele está morto.

— Tem certeza mesmo?

— Tanto quanto é possível. — Esticou a mão e a acariciou no rosto. —Ainda tem dúvidas? Eu também tive, mas logo elas passaram.

— Como as minhas passarão... É que o fim foi tão inesperado...

Lyolf começou a cochilar, por isso ela se inclinou para acomodá-lomelhor. Ela suspeitava que o fato de agora ser mãe a tornava mais suscetível acertos medos. Havia tanto a perder... O filho talvez não se tornasse umavítima, mas ela desejava poder acompanhar seu crescimento.

Deitada com o filho nos braços e tendo os cabelos acariciados por Parlan,logo começou a se sentir sonolenta. Em momentos como aquele, era quase

impossível se lembrar do que a assustava. Parecia que nada os alcançaria,interrompendo a paz que ela sentia, o que era uma tolice. Rory certa vez osameaçara. Só precisava se convencer que ele não podia mais fazer isso.

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— Tem certeza de que ele morreu, Parlan? — Detestou-se pelanecessidade de se assegurar.

— Sim, querida. — Beijou-a na testa, sorrindo quando ela fechou os olhoslentamente. — Vamos celebrar amanhã. Teremos um lindo dia. Ela sorriu semabrir os olhos. — Foi Angus quem lhe disse isso? — Sim. Ele prometeu um diade sol.

— Parece errado celebrar a morte de alguém...

— Se isso a incomoda, podemos encontrar outro motivo para celebrar.Bem, isso se Old Meg disser o que quero que ela diga... Amanhã este rapazinhocompletará dois meses.

Sabendo a que ele se referia, ela tentou não corar e não olhar para ele.

— Ora, ora, alguém está ficando impaciente...

— E você vai correr de mim se Old Meg me disser que você já serecuperou do parto.

— Está planejando me perseguir?

— Até cairmos. De preferência com você de costas, mas depois de quasetrês meses, não me importo muito com a posição...

— Três meses de quê?

— De nada, essa é a questão. Eu pensei que você tivesse levado a piorpor trazer nosso filho ao mundo, mas começo a duvidar disso.

Ela abriu um olho e espiou:

— Está arrependido?

 Tocando os cachos escuros do filho com delicadeza, ele disse baixinho:— Nenhum, mas tenho uma coceira que precisa ser coçada.

— E pretende coçar um pouco amanhã?

— Muito. — Beijou-a no rosto. — É melhor descansar, moça. Vai suarmuito para me acompanhar amanhã.

Disso ela duvidava, pois também sentia falta de fazer amor com ele, masnão diria nada. Ele logo saberia de tudo, especialmente se Old Megconfirmasse que estava recuperada.

Assim que ela adormeceu, Parlan tirou o filho dos braços dela e odepositou no berço, ajoelhando-se ao lado para admirá-lo. Seria fácil amá-lo,assim como amava a mãe dele.

Surpreso, Parlan se levantou e foi para perto da cama para olhar paraAimil. Ele a amava. Era a única explicação para tudo o que fizera e sentira.Perguntou-se quando começara e entendeu que isso pouco importava.

Pegando uma mecha de cabelo, entrelaçou-a nos dedos, perguntando-sequando e se deveria confessar seus sentimentos. Aimil ainda não lhe disseranenhuma palavra de amor, mas instintivamente sentia que ela se importavacom ele, possivelmente também o amava. Orgulhosa, devia estar esperando

que ele se pronunciasse primeiro. Com um sorriso torto, admitiu que eletambém relutava em abrir o coração, revelar o que lhe ia na alma, sem saberse o sentimento era retribuído.

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Balançando a cabeça ante a incerteza que ela ainda provocava nele,deparou-se com Lagan no corredor.

— Pensei que já estivesse descansando depois da longa noite.

— Vou comer antes disso.

— Eu o acompanho.

Caminhando lado a lado, Lagan perguntou:

— Como Aimil recebeu a notícia?

— Com dúvida, mas ela sabe que isso logo passará. Não deve ser fácil selivrar do medo que o maldito fez nascer dentro dela.

— E em você.

— Eu não tinha medo dele — Parlan retrucou, ofendendo-se. — Eu estavapronto para enfrentá-lo.

— Você me entendeu mal. Estou me referindo ao medo que sentia por

causa de Aimil e de Lyolf. Foi esse medo que o incitou a procurar o malditotodas essas semanas. Esse medo foi atiçado por algo que começo a imaginarvocê nunca enxergará.

— Acha mesmo? Talvez eu não seja tão cego quanto você pensa. Diga-me, ainda acha que Aimil quer ouvir algumas palavras doces? — Sorriu dianteda evidente surpresa do amigo. — Mais importante: acha que ela retribuiriaalgumas dessas palavras?

— Se você não sabe essa resposta, deve ser cego mesmo. Ela deve estarpensando que nunca ouvirá essas palavras. É melhor dizê-las na hora e nolugar certo, ou ela pode ter uma síncope.

Parlan ignorou o sarcasmo do amigo.

— Sei onde fazer isso. E talvez o medo dela se acalme. Da última vez queestivemos lá, Rory nos atacou. Dessa vez, teremos o lugar só para nós epretendo usufruir do momento.

— Tem certeza de que deve agir livremente já? Talvez seja melhoresperar até ter certeza de que tudo terminou mesmo.

— Se eu seguir esse conselho, nunca vou me sentir seguro, nem livre.Não, Rory está morto e pretendo ir e vir como eu quiser.

Flores silvestres tremulavam no vento sobre a terra revolvida. As coressuaves em contraste com a aparência árida do túmulo. O vento agitou o capuzda capa da figura de pé diante das covas. Um suspiro interrompeu o silêncio.

— Bem, velho amigo, como é o inferno? Pelo menos sei que você nãodeve estar se sentindo sozinho. Conheço muitos que partiram antes de você.Eu mesmo logo o acompanharei. Ah, meu amigo, espero que entenda. Eu tivede fazer isso. Eles estavam se aproximando, alcançando meus calcanhares atéque eu não podia fazer mais nada além de fugir e me esconder. Preciso deliberdade para me mover ou nunca conseguirei me vingar. Você entende, não,

Geordie? Seu sacrifício não será em vão. Se eu não conseguir sobreviver aomatar aquela vadia e o maldito com quem ela se deita, eu os arrastarei para oinferno comigo. Não vai demorar muito, Geordie...

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— Desenterrem-no.

Leith olhou para o pai chocado. Tal ordem era a última coisa queesperava ouvir ao levá-lo para ver as covas de Rory e Geordie. Não pareciahaver motivo para coisa tão desagradável.

— Não pode estar falando sério.— Teme profanar os mortos? Estes mortos já eram profanos muito antes

de serem enterrados. Cavem.

— Mas por quê? Eu o examinei e juro que não foi uma coisa fácil de fazer,e reconheci os objetos dele. Para que insistir nisso?

— Para ter certeza. Você viu um anel, uma adaga e uma espada. Euquero ver mais. — Olhou para os dois homens que os acompanhavam. —Comecem. Não precisam hesitar enquanto discuto com meu filho. — Virou-separa Leith enquanto eles começavam a cavar.

— Quem depositou estas flores?

— Não conheço ninguém que se desse ao trabalho de fazer isso. Esterco,até pode ser, mas flores, jamais.

— Mais uma peça da charada.

— Que charada, exceto pelas flores?

— Talvez a única parte importante dessa charada seja que ele foi levadoantes que pudéssemos nos vingar dele.

— Desenterrá-lo não vai aliviar essa sensação.

— Não, mas vai me deixar mais tranqüilo em vez de me preocupar que ocorpo não seja o dele. — Lachlan suspirou ao ver os homens trabalhar. —Quando me contou sobre a morte dele, fiquei bravo e me senti roubado. Depoisque a raiva passou, comecei a pensar.

Quando o pai ficou calado por vários minutos, Leith insistiu:

— A respeito de quê?

— Ah, de que tudo isso foi fácil demais... Não o havíamos capturado, masele estava encurralado. Não podia se mover livremente, se aproximar de suapresa. Nós sabíamos o quanto ele queria por as mãos em Aimil. Começo a

acreditar que ele tenha encontrado um modo.Subitamente entendendo o que o pai queria dizer, Leith concluiu:

— Ele forjou a própria morte. Eu errei...

— Talvez não, mas eu não me remoeria de remorso se fosse você, afinalvocê enxergou o que se supunha que teriam de ver: Rory e Geordie mortos.

— Cheguei a ter dúvidas quanto a Rory, mas não em relação a Geordie.

— Pode muito bem ser ele mesmo. É possível que ele seja parte da razãoque o levou a acreditar que o outro fosse Rory. Acha mesmo que ele hesitariaem matar o único amigo caso isso servisse a um propósito?

— Nem por um segundo. Rory faria isso sem se arrepender.

— Se eu estiver certo, talvez ele sinta certo remorso. As flores estavam

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principalmente sobre a cova de Geordie.

Com a tensão comprimindo-lhe o estômago, Leith ficou ao lado do paienquanto ele examinava o corpo. Sabia que o pai estava sendo detalhista, massua impaciência aumentava. Se ele tivesse errado, precisariam correr contra otempo. Em seguida, Lachlan se levantou e ordenou que voltassem a sepultar ocorpo, sem dizer nada.

— É ele? — Leith perguntou impaciente.

— Não.

Essa única palavra bastou para que Leith sentisse o peso de seu parecer.

— Não fique assim — o pai o consolou. — Eu também poderia ter meenganado. Ele escolheu bem sua vítima. Até existem sinais de um rostoarruinado por baixo das queimaduras. De fato, está quase perfeito.

— Não tão perfeito, pois o senhor notou algo que eu não vi. O que foi?

— Eu sabia algo a respeito de Rory que você não sabia. Ele tem umamarca de nascença.

— Nunca notei nada.

— Só teria notado se o tivesse visto nu e bem de perto. Debaixo dasroupas, o corpo não está tão prejudicado. Rory tinha uma pinta pequena e bemescura na curva da nádega esquerda. Eu nunca teria sabido dela se o pai não ativesse mostrado para mim quando ele era bebê. Ele temia que fosse a marcado diabo.

— Ele tinha razão em se preocupar.

— Uma marca tão simplória jamais seria responsável pela podridão daalma de um homem.

— Eu garanti a Parlan que esse era Rory.

— Você me disse que ele tinha dúvidas.

— A princípio, mas depois se convenceu.

— Então precisamos ir até Dubhglenn. Ele pode ter abaixado a guarda,acreditando que não há mais nada a temer. É isso o que Rory quer.

Ao parar o cavalo ao lado de Parlan, Aimil olhou ao redor e balançou acabeça.

— Aqui de novo?

— Este é um belo lugar. — Parlan desmontou e a ajudou a fazer omesmo. — Sempre gostei daqui, era onde encontrava a paz. Quero que issovolte a acontecer. — Estendeu uma manta no chão e olhou para ela. — Quemsabe depois de um dia tranqüilo aqui seus temores não diminuam um pouco?

Devagar, ela se aproximou e se sentou na manta. Da última vez em queforam até lá, tinham sido atacados por Rory, Parlan fora ferido e ela levadapara o dia mais terrível de sua vida. Apesar da beleza do lugar e dó dia, as

lembranças ainda eram recentes.Olhando de esguelha para Parlan que dispunha os pratos trazidos, viu

que ele parecia alegre, relaxado, mas uma faísca de desejo brilhava em seu

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olhar. Old Meg evitara lhe responder, mas ela tinha certeza que a anciã adeclarara recuperada do parto. Ficou se perguntando por que ele agia de modotão secreto, mas resolveu não reclamar. Sabia que se o deixasse conduzir asituação como bem quisesse, acabaria se satisfazendo também.

Ao olhar para si suspirou, porém. Não estava tão bem-vestida quantogostaria. O vestido era simples e funcional, já que ainda não cabia em nenhumdos vestidos antigos, mas gostaria muito de estar bela e charmosa para Parlan.Ele não parecia se importar, porém ela gostaria de ser como qualquer outradama elegante que ele já conhecera.

Mordendo uma fatia de pão com mais força do que o necessário, chegouà conclusão de que isso seria muito mais fácil se ele não tivesse conhecidotantas mulheres.

Parlan por fim notou que a esposa não estava tão satisfeita com seuarranjo.

— O que a incomoda, querida?

— Foi essa a comemoração que você mencionou ontem?

— Modesta, mas sim, é essa.

— Eu gostaria que tivesse me avisado. Eu teria me arrumado melhor.

— Você está linda. — Ele soltou os seus cabelos. — Por que o prendeu? Éum crime escondê-los.

— Sou uma mulher casada agora, sou mãe. Não ficaria bem deixá-lossoltos como os de uma moça solteira.

— Mesmo que seu marido ordene? — Ele adorava sentir o cabelo espesso

escorregando pelos seus dedos.— É o que vai fazer? Ordenar? — Ela quase riu do fato de um gesto tão

inocente como o que ele fazia deixá-la tão ansiosa.

— Acho que vou. Solto em toda a sua glória quando eu estiver por pertoe preso e recatado quando eu estiver longe.

Resvalou os lábios na face dela e na boca carnuda, para logo descobrirque não tinha a paciência necessária para aquele tipo de brincadeira nomomento. Tê-la tão perto e saber que poderiam fazer amor aquecia-lhe osangue a ponto de se sentir febril. Beijou-a avidamente, a fome com que foi

recebido dizimou o pouco controle que tinha. Fazia tanto tempo desde que ativera nos braços daquele modo.

Empurrando-a para a manta, rapidamente começou a despi-la. Umanecessidade que somente ela podia saciar o controlava. Quando os seios serevelaram, esfregou o rosto neles, tentando se conter. Acima de sua própriarespiração entrecortada ouviu a dela e percebeu que ela sofria tanto quantoele.

— Pensei que você pretendia me perseguir. — Aimil terminou de despir otorso dele e espalmou as mãos no peito largo.

— Não fiz isso? Eu me sinto como se tivesse corrido uma maratona... —Parlan espalmou um dos seios e sugou-o, soltando o néctar que seu filho tantoexigia. Quando ela gritou e arqueou o corpo contra o dele, ele estremeceu.Estava perto demais da satisfação total.

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— Old Meg contou que estou recuperada, não? — Como ele já levantavasuas saias e afastava a roupa de baixo, essa era uma pergunta sem sentido.

Pousando a mão entre as pernas dela e sentindo seu calor, ele precisoude um instante para poder responder:

— Sim, e o que você me diz?

Começando a desfazer o nó da calça dele, ela arfou: — Eu digo: apresse-se. Se quiser, eu também posso pedir por favor... — Escorregou a mão dasnádegas para as pernas, puxando a roupa para baixo.

— Só diga sim.

— Sim, Parlan. Sim.

Ela gritou de surpresa e alívio quando ele a penetrou, depois o prendeucom as pernas e braços. Parlan arfava perto de seu rosto conforme os levavacegamente ao ápice da paixão. Foi rápido, um tanto ríspido, mas ao atingir oclímax, ela julgou que também foi glorioso. Ao gritar no auge, ouviu Parlan

repetir seu nome ao mesmo tempo em que a segurava pelo quadril, afundandomais e completando-a perfeitamente.

Segurando-a firme a fim de não interromper a intimidade do abraçodeles, Parlan deleitou-se com a sensação de langor após o prazer. Mesmo queela fosse horrenda, ainda assim a manteria ao seu lado pelo prazer quepartilhavam. Mas as velas talvez ficassem apagadas, ele pensou e deu umaleve risada.

Sem deixar de acariciá-lo, Aimil o olhou com curiosidade quando ele seergueu nos cotovelos para fitá-la.

— O que há de tão divertido?— Eu tinha sedução em mente, mas acho que isso está mais perto de um

arrebatamento completo.

— Não me oponho a ser arrebatada de vez em quando.

— Não deveria fazer seu pobre marido sofrer tantas semanas sem umapequena amostra de sua afeição...

— Não fui eu quem o fez sofrer, foi seu filho, mas agradeço pelo seusofrimento.

Afastando uma mecha do rosto dela, ele perguntou:

— Por que está me agradecendo?

— Outros homens teriam procurado outro lugar para satisfazer suasnecessidades.

— Isso não seria justo já que você também estaria sendo privada de algoque parece lhe agradar tanto. Ai! — Pegou o pequeno punho que o haviaatingido e o beijou. — Além disso, por que eu haveria de querer algo comumquando sei que esperando eu obteria algo extraordinário?

— Extraordinário? — ela sussurrou, a seriedade dele deixando-a nervosa.

— O melhor. Acho que já lhe disse antes. Duvida de mim?— Bem, o que começa como o melhor pode vir a se tornar comum. O

fogo diminuiu e a novidade se perde.

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— Verdade, sei que isso vai acontecer conosco em certa medida, mesmoassim ainda será o melhor. O tempo e a familiaridade não podem mudar isso.Não é algo que eu goste de lembrá-la, mas tive minha cota de mulheres e seido que estou falando. Eu não era inocente como você.

— Talvez eu tenha de experimentar um ou outro homem para julgar issopor mim mesma.

— É melhor escolher um homem que não signifique nada para você, poisele acabará morto antes que a doçura saia de sua boca.

Mesmo que as palavras tivessem sido ditas com muita calma, a frieza navoz e o os olhos dele lhe diziam que Parlan estava falando a sério. Seucomentário fora uma ameaça vazia, mas a dele era real, por isso procurou ummodo de desfazer o clima entre ambos.

— Quer dizer que não posso ter uma trilha de corações partidos atrás demim?

Lutando contra o súbito ciúme que o assolara, ele tentou sorrir, masfalhou, pois lhe parecia ter somente arreganhado os dentes.

— Não, a menos que também deseje uma trilha de corpos atrás de si.

— Está se revelando um marido muito possessivo. — Mesmo que ocomentário a satisfizesse, estava incomodada pela sua ferocidade.

 Traçando o contorno delicado do rosto com os dedos, Parlan beijou-a deleve.

— Sim, eu sou. Descobri isso enquanto ansiava para que o padre nosdeclarasse marido e mulher. Eu queria marcá-la como minha, só minha. Não

tenho a intenção de permitir que isso mude.— Ora, ora, planos são feitos para serem mudados. Antes que Aimil

aceitasse que outra pessoa falara,

Parlan se pôs de pé. Uma mão amarrando a calça enquanto a outrabuscava a espada. Ela nunca vira ninguém se mover tão rápido.

Sem nem pensar, levantou-se e foi para trás de Parlan, olhando paraRory com terror genuíno, causado não só pela compreensão de que ele estavavivo, mas também pela face desfigurada. Maltrapilho e sujo, não restava nadado homem que fora outrora. Nem mesmo os olhos eram os mesmos. O olharqueimava com a força da loucura dele.

Não entendia por que ele não os atacara quando estavam distraídos.Rory nunca teve a intenção de enfrentar Parlan numa luta justa, mas ao seapresentar, era isso o que tinha arranjado. Aimil, contudo, não sabia se issoacabaria bem para ela e o marido, mesmo Parlan estando pronto para lutar.

Parlan sentiu desejo de gritar de raiva. Tinha sido pego com a guardabaixa. Dizer a si mesmo que ele não tinha como antecipar que um homemdado como morto se plantaria diante deles não aplacava em nada a sua ira. Avantagem da surpresa estava do lado do oponente, mas ele não pretendiaceder mais nenhuma.

Então, quase se pôs a rir. Um dos objetivos de voltar ao Poço da Fada daMorte era apagar da lembrança de Aimil os momentos de terror. Em vez disso,essa lembrança estava parecendo se reafirmar. Dessa vez, porém, Parlan

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estava determinado a não permitir, que Rory pusesse as mãos em Aimil.

— Saia daqui, Aimil.

Ela se virou para obedecer, mas não suportou deixá-lo sozinho com Rory.Por um instante considerou a idéia de buscar ajuda, desejando ter levadoElfking. Foi então que percebeu que o lugar em que os cavalos haviam sido

deixados estava deserto.— Os cavalos sumiram. — Ela se perguntou por que estava tão

desapontada, uma vez que não considerou seriamente a idéia de fugir.

— Vocês estavam tão ocupados que nem perceberam que os animais...Bem, que eles se foram...

A risada macabra emitida por Rory enregelou os ossos de Aimil. O somconfirmava a loucura do homem.

— Deixe-a ir, Rory. — Parlan não se surpreendeu com a risada do outro,mas não fazia mal tentar livrar Aimil.

— E dizem que eu sou o louco.

— Também dizem que está morto. O diabo o expulsou do inferno por nãoconseguir suportá-lo?

— Está tentando me irritar, mas não vai funcionar. Foi um planobrilhante, não? Funcionou exatamente como eu planejei.

— Quem foi o inocente que você matou para tomar o seu lugar?

— Um tolo de uma taverna local. Umas poucas moedas e a sugestão deque haveria outras e ele me seguiu como um filhotinho contente.

— E morreu por confiar demais, assim como Geordie. —  O sangue deGeordie mancha as suas mãos.

— Foi por sua causa que eu o matei — Rory rosnou. Essa acusação fezAimil quebrar seu silêncio:

— Não pode nos culpar por esse assassinato. Você acabou com a vidadele com as suas mãos.

— Por sua causa! — ele exclamou, para em seguida tentar se controlar.— Eu não podia me movimentar, agir, tudo por que vocês me perseguiam. Eutive de por um fim nisso. E esse foi o único modo. Vocês tinham de me dar

como morto... Geordie me entende. Ele sabe que preciso me vingar, e quevocês dois têm de pagar pelo que me fizeram. Você seria minha, Aimil, maspreferiu esse patife. Deita-se com ele sem vergonha alguma. Assim como a suamãe. Depois seu cavalo destruiu meu rosto. Sua dívida é imensa, minhaquerida vadia.

— Cuidado com o que diz, Rory, ou terei de cortar sua língua antes dematá-lo — Parlan o desafiou.

— Quanta empáfia! Matar você será mais fácil do que esmagar umamosca.

— Atenção, Parlan. — Aimil o tocou no braço. — Ele está tentando

incapacitá-lo incitando sua fúria.— Sei disso — disse ele, por entre os dentes a fim de que o outro não os

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ouvisse. — Você tem de fugir assim que a luta começar enquanto eu desvio aatenção dele.

— Não vou deixar você.

— Precisa ir! Maldição, como poderei me concentrar se tiver de mepreocupar com você? Corra até Dubhglenn e busque ajuda.

— Até eu chegar lá, mesmo que eu fosse veloz, você teria morrido trêsvezes. Já teria sido enterrado e até mesmo o Papa chegaria para rezar sobre otúmulo.

— Que seja, mas pelo menos você estará viva.

— Talvez viver sem você não valha a pena — ela disse baixinho.

Apesar da situação desesperadora deles, Parlan sentiu o coração dar umsalto. Era a primeira vez que ela colocava os sentimentos em palavras. Refletiuum tanto contrariado que ela escolhera um péssimo momento para sedeclarar. Queria abraçá-la e fazer amor e arrancar mais palavras doces. Em vez

disso, teria de enfrentar um homem determinado a acabar com a sua vida e adela. Quando estivessem a salvo de novo, ele a faria pagar por essa falha.

— Faça isso por nosso filho. Ele não merece virar órfão.

  Tal declaração dilacerou o coração de Aimil. Vendo Parlan diante doperigo, esquecera-se do filho e das necessidades dele. Teria de pensar emLyolf. Mesmo sabendo que ele seria bem cuidado, educado, cercado de amor,ninguém substituía os pais.

— Nosso filho precisa de nós dois, Parlan.

— Tenho toda intenção de permitir que ele usufrua da nossa companhia

por muitos anos. Mas para minha paz de espírito, Aimil, você tem de correr.Como ela não replicou, Parlan supôs que ela tivesse concordado, por isso

voltou toda a sua atenção para o outro. Rory era habilidoso e a loucura lhedera coragem, por isso ele seria um oponente formidável. Parlan confiava emsua destreza, mas não se gabava dela.

A habilidade não era a única determinante num combate. Sabia que seRory provasse se equiparar a ele, um mínimo erro poderia ser fatal.

— Venha, Parlan, está pronto a enfrentar seu destino?

— Acha que é homem o bastante para impô-lo a mim?

— Assim como fiz com sua infeliz prima. Qual o nome dela mesmo?Margaret? Acho que era esse... Uma moça fraca e lamurienta.

Isso quase descontrolou Parlan. Via o corpo ferido de Morna diante de si,imaginava como a mãe de Aimil ficara, e Catarine, sem dúvida. Desejou por umfim à vida do miserável. Sem saber o que poderia enraivecer o outro, fez umatentativa:

— Se ela se lamentava, devia ser por não ter um homem de verdade.

Percebendo que aquele era o caminho e disse:

— Foi por isso que ela pretendia abandoná-lo, não? Pois descobriu quesua habilidade como amante não se equiparava à sua beleza. Belo de se olhar,mas enfadonho na cama...

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Aimil se surpreendeu com a velocidade, e a fúria da reação dele,desejando que Parlan não tivesse sido pego desprevenido, mas o maridocortou o ataque sem hesitação. O único movimento além de revidar os golpesdele foi o de afastá-la para longe.

Aimil, entretanto, não conseguiu atender ao pedido dele de fugir, nemmesmo em benefício do filho. Por isso só correu até o limite da clareira e seescondeu, longe das vistas deles, mas perto o suficiente para que ele aacreditasse salva, concentrando-se na luta.

Se fugisse e ele morresse, acabaria se culpando para sempre,imaginando se poderia tê-lo ajudado. Embora fosse uma agonia vê-lo lutar, elalevou o punho na boca para não gritar.

Parlan lutava com frieza e distanciamento, mas Rory era bom, muitobom. Talvez a loucura tivesse aprimorado suas habilidades. Por certo eleparecia ter mais forças do que qualquer outro homem. Pela primeira vez desdea juventude, Parlan não sabia se venceria.

— Por que luta contra o inevitável? Você morrerá, Parlan MacGuin, edepois eu irei atrás de Aimil

— Ela fugiu, Rory. Não conseguirá por essas patas imundas nela — Parlansibilou ao sentir a lâmina atingi-lo na lateral.

— Será fácil capturá-la. Ela está a pé e eu sei onde os cavalos estão.

O medo por Aimil remoeu as entranhas de Parlan, o que poderiaenfraquecê-lo. Embora tivesse desferido tantos golpes quanto Rory, e o outrosangrasse tanto quanto ele, Rory pareceu não se importar. O sorriso do outrodemonstrava saber que ele estava fraco pela perda de sangue.

Quando um novo golpe o atingiu, ele sentiu o chão ceder debaixo deseus pés. Tão absorto pelo combate, não notou que se aproximara da beiradado Poço da Fada da Morte. Mesmo tentando evitar o novo perigo, ouviu arisada maligna de Rory que, aproveitando-se, deu o bote. Sabendo que nãopoderia desviar o golpe mortal aos seus órgãos vitais, Parlan deu um passopara o lado e começou a cair no buraco, segurando-se na borda. Praguejandovigorosamente, tentou se erguer antes que Rory agisse, mas percebeu queseus esforços foram em vão ao ouvir a gargalhada do inimigo. Gritou ao sentiro chute no rosto e cair na escuridão. Durante a queda, Parlan acreditou terouvido o grito agoniado de Aimil antes de perder a consciência.

— Parlan, não! — Aimil deixou o esconderijo atrás das árvores e correupara o Poço da Fada da Morte mesmo sabendo que não havia nada quepudesse fazer. A razão a mandava fugir para Dubhglenn, mas ela não estavase sentindo muito racional.

Ao ser abruptamente interrompida por Rory, que a segurou pelo braço,percebeu que cometera um erro enorme. Tinha se colocado nas mãos doinimigo, e Parlan morrera tentando evitar justamente esse fim.

Pensar na morte de Parlan transformou seu medo em fúria. O ódio quesentia pelo homem que gargalhava à sua custa era uma coisa viva dentro desi. Temeu, em parte, enlouquecer tanto quanto ele, mas estava furiosa demais

para se preocupar com isso.— Maldito! — sibilou ao se levantar. — Vai apodrecer no inferno por

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causa disso!

— Pretende me mandar para lá, minha querida vadia? — perguntou,dando-lhe um tapa.

Cambaleando, Aimil se esforçou para não gritar. Sentiu sangue na boca,mas simplesmente o cuspiu. Dessa vez tinha bastante espaço para se

movimentar e Geordie não estava ali para ajudá-lo. Rory não a brutalizaria comtanta facilidade e, se ela tivesse sorte, até conseguiria atingi-lo algumas vezespara vingar Parlan.

Parlan olhou para o pequeno círculo de luz logo acima. Precisou de umtempo para se lembrar do ocorrido.

Então se lembrou do grito angustiado de Aimil, evidência de que ela nãofugira conforme lhe ordenara, o que poderia significar que Rory a tinha nasmãos. Tal pensamento bastou para que ele tentasse se levantar ainda que seucorpo se opusesse a isso.

Ao lutar contra a tontura e a dor, pensou no grito de Aimil. A agoniapresente lhe contava que ela se importava com ele, talvez até o amasse.

Resolvendo que não havia tempo para tais reflexões, cerrou os dentes ecomeçou a subir. As paredes do buraco não eram lisas, mas as rochastampouco eram ásperas o bastante para serem usadas na subida. Foi difícilencontrar onde apoiar as mãos e os pés e logo seus dedos estavam cobertosde sangue, dificultando ainda mais sua tarefa.

Se Aimil e eu sobrevivermos, ela vai apanhar por me desobedecer,pensou furioso.

Ao chegar perto do topo, ouviu Aimil lutar contra Rory, o que lhe deu

forças para seguir adiante. Só restava rezar para chegar a tempo de deter todaa crueldade com que Rory planejava tratá-la.

Aimil mordeu a mão que tentava prender seu pulso. Com um grito, Rorya soltou, e ela se levantou, rapidamente se afastando do lugar no qual eletentara imprensá-la no chão.

Sabia que o poço estava logo atrás. Se fosse rápida, poderia se jogar e se juntar a Parlan. No instante seguinte após a queda dele, teria feito isso semtitubear, mas depois, apesar da dor da perda, descobriu que sua vontade deviver era muito maior.

— Vai pagar por isso, minha doce vadia.— Está sempre tentando fazer os outros pagarem pelo que se

autoinflinge.

— Eu sou o responsável por isso? — Apontou para o rosto mutilado. —Você e seu cavalo maldito fizeram isso comigo! — A voz aumentava a cadapalavra.

— Você nos atacou e recebeu o que merecia. Agora sua aparência é tãofeia quanto a sua personalidade.

Não se surpreendeu quando ele a atacou, mas Rory conseguiu se desviar

do buraco, arruinando seu plano. Na segunda tentativa, ele conseguiu derrubá-la, imprensando-a com o próprio corpo.

— Acha mesmo que conseguiria escapar de mim, Kirstie?

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Um tremor a percorreu pela espinha. Sabia que Rory se lembrava de suamãe ao vê-la, mas a mente perturbada dele já não a reconhecia mais. Aloucura de Rory estava completa.

— Não vai conseguir me matar com tanta facilidade. — Ela lutava para sesoltar, mas ele a prendia com uma facilidade que começou a deixá-laresignada.

— Você preteriu meu amor. — Ele começou a despi-la.

— Você não sabe o que é o amor. Só conhece o ódio e a dor. — Seusesforços para se libertar cessaram momentaneamente quando ele a soltoupara desferir um tapa em seu rosto.

— Sei o que é o amor. Eu te amo, Kirstie. Poderia ter sido tão bom entrenós, mas você se entregou a Lachlan. Por isso, precisa ser punida.

— Não pode punir alguém por seguir o coração.

— Seu coração deveria ter me escolhido! Eu poderia ter lhe dado tudo.

Não haveria casal mais belo do que nós. Em vez disso, você escolheu aqueletolo que nunca a tratou como você merecia. Ele a prendeu naquele castelo,encheu seu ventre de filhos... Você poderia ter sido bela, feliz, admirada nacorte em vez de ficar suando ao parir os filhos daquele patife. — Com rudeza,descobriu os seios dela. — Estes foram feitos para serem admirados por umamante, não para serem puxados por crianças egoístas.

Quando a mão dele cobriu seu seio, ela se sentiu nauseada. Parecia queo estupro seria inevitável. A menos que ele cometesse um erro do qual elapudesse tirar vantagem, não havia como se livrar de tal abuso. Apesar de odiara idéia, acabou se resignando, a espera do momento em que ele, satisfeito,

abaixasse a guarda. Teria de manter a mente lúcida, apesar do horror que aaguardava, a fim de se aproveitar de tal fraqueza.

De repente, percebeu que ele estava imóvel. Ele estava sentado sobreseu corpo, mas olhava fixamente para algo logo atrás dela. Por mais que elatentasse, Aimil não conseguia se virar para ver o que lhe chamara a atenção eo horrorizara, pois Rory estava lívido e de olhos arregalados.

Parlan encontrou forças adicionais ao se erguer e ver que Rory prendiaAimil e apalpava seu seio. Rory quase o abatera no início, e agora dolorido esangrando, precisava de todas as forças de que pudesse dispor.

Achou estranho que ele não tentasse detê-lo e apenas o fitasse comhorror estampado no olhar. A espera do ataque que não tardaria a chegar,pegou a espada caída ao lado do buraco.

— Solte-a, Rory, e prepare-se para morrer.

— O diabo — Rory sussurrou ao se afastar de Aimil e de Parlan. — É odiabo...

Aimil nem prestou atenção a Rory. Rolando de lado e logo se colocandode pé, fitou Parlan. Emocionou-se ao vê-lo ferido, porém bem vivo. Precisou seconter para não se lançar nos braços dele e tocá-lo para se certificar de que eleestava bem.

— Você está vivo... Deus meu, Parlan, pensei que estivesse morto.

— Ora, querida, uma pequena queda não me fará voltar ao Criador.

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Agora saia do caminho como deveria ter feito antes. — Franziu o cenho nadireção de Rory. — O que há com ele?

Virando-se por fim para Rory, Aimil viu que ele tremiadescontroladamente. Depois ouviu as palavras que ele murmurava:

— O próprio diabo se erguerá das trevas para arrastá-lo para o inferno...

— O que ele disse? — Parlan perguntou.— Foi o que minha mãe disse a ele antes de morrer, que o diabo se

ergueria das trevas para arrastá-lo até o inferno. Você imergiu da terra, Parlan.A mente insana dele acredita que a maldição esteja se concretizando.

— Bem, eu tenho mesmo a intenção de mandá-lo para lá. — Fez umacareta ao olhar para o inimigo. — Ainda que eu ache difícil abater um homemque baba como um louco e tenha urinado nas calças de medo.

— Pense no sangue nas mãos dele e tudo será mais fácil.

Parlan assentiu e partiu para cima de Rory.

Como se o Poder Supremo tivesse ouvido a relutância de Parlan de matarum homem indefeso pela loucura, Rory pareceu sair de seu transe e em vez dese render à mercê de seu imaginário diabo, decidiu lutar.

Por mais que Aimil agradecesse por Parlan não ter de matar um homema sangue frio, detestou presenciar a luta entre os dois. Entrelaçou os dedos ese pôs a rezar. Jamais pediria a morte de alguém, mas rezou fervorosamentepara que Parlan vencesse e vivesse.

Saiu de perto, pronta a fugir caso fosse necessário. Dessa vez obedeceriaParlan, pois sabia que, mesmo que tivesse de lamentar a morte do marido pelo

resto da vida, precisava juntar forças para continuar a viver. Parlan ficariafurioso se um dia soubesse de sua breve intenção de se juntar a ele na morte.Í, Rory conseguia desferir golpes ferindo Parlan, que lutava para sobreviver.Então, Aimil fixou o olhar em Rory que se aproximava cada vez mais da beirado precipício. Se ele caísse, não haveria a menor possibilidade de sobreviver.

— Seus dias de carnificina acabaram, Rory Fergueson. Nunca maismatará nenhuma outra jovem.

— Só pretendo ir para o inferno no dia certo.

— Esse dia chegou, Rory. Vai pagar por tudo o que elas sofreram.

— Não lhes dei nada desmerecidamente. Vagabundas, todas elas.— Mesmo a mais baixa das meretrizes não merece morrer em suas

mãos. Os fantasmas daquelas a quem você massacrou clamam por vingança.

— Deixem-nas clamarem, Satã. Não vou ser levado antes de estarpronto.

— Ninguém escolhe a hora de partir, Rory, especialmente a ralé comovocê.

Parlan viu que Rory estava perto da beirada. Detestava terminar ocombate de um modo tão simplório, mas sabia que estava no limite de sua

resistência. Por isso, investiu num novo golpe, forçando-o a dar o último passopara o abismo.

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Com os braços abertos, Rory tentou se equilibrar sem sucesso. Com umgrito, caiu, e seu grito foi interrompido pelo baque surdo quando ele se chocoucontra as rochas lá embaixo.

Aimil correu para junto de Parlan, segurando-o para que ele não caíssetambém. Com o peso do corpo dele sobre o seu, chegaram ao chão de joelhos.Ela ficou alarmada com a evidente fraqueza do marido.

— Parlan?

— Ele morreu? — ele perguntou, completamente exausto.

Com cautela, Aimil se aproximou da beirada e espiou lá embaixo. A visãoa nauseou: Rory estava todo torto e o sangue escorria pelas pedras.

— Sim, ele morreu — disse ao se aproximar de Parlan. — Como foi que omesmo não aconteceu quando você caiu?

— Não há rochas no fundo do poço. — Esboçou um sorriso. — Devo teruma ou duas costelas quebradas, acho. Não é nada. Deixe-me recobrar o

fôlego e assim poderemos voltar a Dubhglenn.— A pé? Você nunca conseguirá.

Antes que ele pudesse argumentar, ela se afastou, indo para a mantaonde haviam feito o piquenique a fim de juntar algo que servisse para cuidardos ferimentos. Pensando bem, ela estava certa, ele jamais conseguiriacaminhar de volta para casa. Era bem possível que não conseguisse nemcavalgar, mesmo que encontrassem os cavalos. Estava sem saber como agir.

Quando Aimil voltou e começou a limpar seus ferimentos, ele passou aavaliar os estragos. Estava em piores condições do que queria admitir.

— Terá de voltar para Dubhglenn para buscar ajuda, Aimil — disse,fitando-a atentamente.

Ela temia que ele fosse sugerir isso. Não queria deixá-lo ali, mas pareciaser a única coisa a fazer.

— Não quero deixá-lo aqui sozinho.

— O tempo está bom e vai demorar a escurecer, querida. Acho que é omelhor a se fazer.

Ela detestava ter de concordar com ele, porém assentiu.

Parlan esticou a mão e a tocou no rosto, onde os hematomas dos golpesde Rory começavam a aparecer.

— Você está bem? Ele não a machucou mais do que consigo ver ou quevocê tenha me contado?

— Não, ele só me estapeou. Você se ergueu como um anjo vingadorantes que ele conseguisse fazer o pior.

— Deve ter sido um espetáculo. Pena que eu não tenha conseguido ver.Vá agora, querida. Volte para Dubhglenn, mas sem se sobrecarregar. Euestarei bem. — Deu um tapinha na espada que ela depositara ao seu lado.

Inclinando-se, ela o beijou de leve e depois se levantou. No caminho paraDubhglenn, rezou para que alguém tivesse encontrado um motivo para ir atrásdeles.

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Quando mais tarde Aimil ouviu cavalos se aproximar, procurou o abrigodas árvores. Foi com alívio que reconheceu os cavaleiros, vindos deDubhglenn, e saiu do esconderijo chamando-os.

— Rory os encontrou — Lachlan deduziu ao ver o estado da filha.

— Sim, mas não estou muito machucada. Precisam ir até o Poço da Fada

da Morte, pois Parlan não está bem.Artair a ajudou a montar atrás de si na sela, aliviado por ver que a

cunhada tinha escapado.

— Ele está vivo? Venceu?

— Sim, Rory está morto no fundo do precipício. Rápido, porém, porqueParlan precisa de cuidados.

— Vamos nos apressar para levá-lo de volta ao castelo onde Old Meg oremendará com seus cuidados pouco piedosos — Lagan disse, incitando ocavalo a galopar.

Parlan se sentou surpreso com a aproximação dos cavaleiros. Aempunhadura na espada logo relaxando ao reconhecê-los, perguntou-se comoAimil conseguira juntar tantos homens em tão pouco tempo.

— Você deve ter voado até o castelo — comentou com um sorriso fracoquando ela se ajoelhou ao seu lado.

— Eu os encontrei no meio do caminho. Parece que papai insistiu em veros cadáveres e descobriu que Rory não estava morto. — Virando-se para oshomens perto da beirada, perguntou: — Dessa vez ele morreu mesmo?

— Sim, filha. — Lachlan olhou para o genro. — Se conseguir agüentar

mais um pouco, Leith desceu para averiguar de perto.— Posso esperar por isso. E também pelo enterro. Quero tantas pedras

em cima da cova que ele não conseguirá voltar do mundo dos mortos.

Estremecendo diante da possibilidade da ressurreição de tanta maldade,Aimil se moveu para junto de Parlan e apoiou a cabeça dele em seu colo.

— Tem certeza, Parlan? Você me parece muito fraco.

— Só estou cansado, querida. Depois de um bom descanso, eu estareibem, e para isso, preciso me certificar de que ele esteja morto.

Ela não argumentou, mas ficou muito aliviada quando os homens seapressavam para subir o corpo de Rory e enterrá-lo. A fraqueza de Parlan apreocupava. A queda podia tê-lo ferido mais do que ele supunha e ela nãotinha como avaliar a extensão dos ferimentos que, no fim, poderiam se mostrarfatais.

Seus medos não diminuíram no regresso para Dubhglenn. Na verdade, otrajeto só o exauriu ainda mais. Parlan precisou de ajuda para não cair da selae estava branco como cera. Aimil, entretanto, escondeu seus receios atécolocá-lo nas mãos de Old Meg. Depois que a anciã cuidou dele, ela deu vazãoaos seus medos, perguntando-lhe do lado de fora do quarto:

— Ele vai morrer?— Acredito que não. Não encontrei nada que não pudesse ser

concertado. Vou lhe dizer a verdade, porém. Não tenho como saber se ele tem

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ferimentos internos. Só nos resta esperar e rezar.

— O que está fazendo fora da cama, seu cabeça dura? — Aimil encaravao marido com um misto de perplexidade e surpresa.

  Já fazia quase um mês desde que ele lutara contra Rory, mas Parlan

precisou de tempo para se recuperar. Aimil não considerava prudente que elesaísse da cama e pavoneasse pelo quarto. Estreitou o olhar ao notar quepavonear era o melhor modo de descrever como ele se comportava.

— Estou me preparando para uma pequena viagem. — Ele se aproximoue a beijou na ponta do nariz.

— Ficou louco? Esteve perto da morte há menos de um mês!

— Bem, não tão perto assim. — Parlan a achava adorável quando elatentava se fazer de séria.

— E desde quando você sai da cama e passeia por aí?

— Desde que minhas enfermeiras deixaram de me vigiar noite e dia. —Ele se virou para a porta e deu um tapinha nas nádegas dela. — Prepare-se,você vem comigo. — Sorriu quando ela o encarou.

— Não acho prudente você sair, comigo ou sem mim. Ainda está serecuperando.

Ele a puxou para os braços, erguendo-a um pouco e, ainda que tentassese controlar, beijou-a com sofreguidão. Ao soltá-la, lembrou-se de não jogá-lasobre a cama e tomá-la imediatamente. Em vez disso, simplesmente sorriu.

— Aqui está a prova. Esse foi o beijo de um homem em recuperação?

Ela somente o olhou. Sentia vontade de empurrá-lo para a cama, mas eleparecia estar aprontando alguma coisa, apesar do ardor do beijo. Com grandeesforço, recompôs-se e franziu o cenho.

— Você tem nos feito de tolos, é isso?

— Não, eu só queria fazer uma surpresa. Agora comece a se aprontarpara sair a cavalo comigo, pois pretendo celebrar minha total recuperação. —Abriu a porta e a empurrou para fora. — E mande Maggie trazer as suas coisase o bebê de volta para cá. Já que estou bem, não há mais por que sepreocuparem em atrapalhar meu sono.

Isso era algo que ela não se importava de fazer, resolveu ao sair.Detestava dormir sozinha. No início da recuperação, Parlan acordava aomínimo ruído do filho e, com isso, ela e Lyolf tinham se mudado para o quartoao lado para que ele conseguisse dormir e sarar. O fato de ordenar que elavoltasse era um alívio, por mais arrogante que parecesse.

 Todavia não sabia se deveria ceder a esse passeio. Por mais que osferimentos tivessem cicatrizado a contento, ele perdera sangue demais,portanto enfraquecera. De fato parecia mais corado e forte, mas não sabia sedevia confiar nisso. Infelizmente não encontrou ninguém que a ajudasse ademovê-lo da idéia. Lagan, Malcolm, Artair, Old Meg e Maggie pareciam terevaporado. Sem um aliado, jamais conseguiria fazê-lo desistir. Era tudo muitosuspeito... Devia haver o dedo de Parlan nessa história.

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Parlan assobiava alegremente enquanto selava o cavalo de Aimil. Vinhaplanejando aquele passeio havia diversos dias. Logo ela estaria ali,descontente por não encontrar nenhum aliado para que ele desistisse de seusplanos.

— Quanto tempo ainda temos de nos esconder aqui?

Olhando para o alto do palheiro, onde Artair e Lagan se escondiam,Parlan sorriu.

— Só mais um pouco, Artair. Se ela os encontrar, acabará convencendo-os a não me deixar passear, já que estive tão perto da morte. — Sorriu aindamais quando os dois homens riram com zombaria.

— Vai mesmo levá-la de volta ao Poço? — Artair perguntou.

— Sim. É um belo lugar e não posso permitir que más lembrançasacabem com isso. Desta vez, nós não teremos nenhum problema.

— Com tantos MacQuin e Mengue rodeando o lugar, duvido que até

mesmo o fantasma de Rory passe por nós. Ela vai ficar envergonhada sedesconfiar que há homens vigiando o lugar, mesmo que a uma distânciarespeitável — Lagan completou.

— Então é melhor ela não descobrir. Escondam-se porque ela estáchegando e parece mais sombria do que eu.

Aimil encontrou o alegre Parlan com uma carranca.

— Ainda não acho que seja uma boa idéia, mas não encontrei ninguémpara me apoiar. De fato, não encontrei alma viva. Por acaso você sabe dealguma coisa?

— Temos um lindo dia. Acredito que boa parte dos rapazes e das moçastenha deixado as tarefas de lado para apreciá-lo.

— Metade de Dubhglenn, se meus olhos não erraram. — Estava sendoengambelada, mas não sabia se ficava aborrecida ou se participava da trama.

— Não se esqueça de que tem lindos olhos.

Ela os revirou diante do elogio feito para desviar sua atenção.

— Não vai se explicar, vai?

— Tudo ficará claro num minuto — disse, alegre ao levantá-la para a

sela.  Tentando descer, ela protestou:

— Espere um instante. Acho que tenho o direito de saber o que estáacontecendo.

— Ah, está tentando causar problemas, hein? Bem, estou preparado paraisso.

Um grito de surpresa escapou dos lábios dela quando ele amarrou-lhe ospulsos, com gentileza, mas prendendo-a mesmo assim. Depois a vendou. Emmeio ao ultraje, Aimil pressentiu que ele planejava fazer aquilo desde o início a

menos que o seguisse cordatamente.— Perdeu o juízo?

— Nem um pouco. Agora segure firme — ele avisou ao montar e segurou

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as rédeas dás mãos dela.

Bem que ela queria saber onde Elfking os levava, e no caminho dissertousobre as queixas a respeito do modo como Parlan estava se comportando,ficando cada vez mais exasperada quando ele a ignorou. Quando por fimchegaram ao destino planejado, ele a tirou do cavalo enquanto Aimil esperavacom impaciência ter as mãos livres para poder bater nele.

Devagar Parlan soltou seus pulsos depois retirou a venda, sabendo queela não gostaria do lugar onde estavam, mas aquilo era necessário, pois nãodesejava que ela se sentisse insegura ou amedrontada em nenhuma parte.

— Bem, chegamos.

Antes mesmo de ter os olhos descobertos, Aimil ouviu o gemido familiardo vento e, esquecendo-se da intenção de bater nele, olhou ao redoraterrorizada.

— Oh, não, Parlan... Aqui não...

— Sim, aqui. — Empurrou a cesta de piquenique nos braços dela antesde estender a manta no chão. — Este é um lindo lugar.

— É bonito — ela concedeu com relutância, acompanhando-o. — Mas nãoconsigo mais gostar daqui, por mais tolo que isso possa parecer.

Sentando-se e puxando-a para que ela fizesse o mesmo, beijou-a de leve.

— Não vou permitir que tema lugar algum em minhas terras... Nasnossas terras. É verdade que não podemos nos sentir completamente segurosem parte alguma hoje em dia, mas quero que se sinta o melhor possível nasterras dos MacGuin. Há também o fato de que desde a primeira vez em que a

trouxe para cá, eu pensei que este poderia ser nosso lugar especial. Como souteimoso, não vou deixar que nada mude isso. — Serviu um pouco de vinho esorriu quando ela sorveu um gole.

— Nosso lugar especial?

— Sim, todos os casais têm um. Um lugar aonde ir para marcar osmomentos especiais da vida deles, como o nascimento de um filho, porexemplo.

Ela sorriu, sentindo-se um pouco melhor. Ainda que em parte se sentisseansiosa, à espera que algo ruim acontecesse, procurou relaxar e aproveitar omomento. Parlan tinha se recuperado, e isso merecia uma comemoração. Era

impossível não sentir alegria quando ele se mostrava tão galante.Depois de terminarem de comer, Parlan limpou as mãos e a boca e fez o

mesmo com Aimil. Ao ver como ela ofegava só por ter a boca acariciada peloguardanapo de linho, e os olhos límpidos se escureciam de desejo, ele jogou opano de lado e a puxou para o colo, ciente que o ato de amor deles seriarápido e intenso.

Algum tempo mais tarde, Aimil abriu os olhos e fitou o marido em seusbraços. Na ansiedade de se amarem, não tinham se despido completamente,mas ela se sentia deliciosamente arrebatada. Apesar do contentamento, nãoconseguia parar de olhar para os lados.

— Você está segura, Aimil — Parlan murmurou ao levantar a cabeça ebeijá-la de leve. — Não seremos interrompidos desta vez. Tudo sairá como

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planejei. — Afrouxou o abraço, ainda segurando-a.

— Planejou algo mais? — ela perguntou tentando se livrar do medo.

— Bem, além desse nosso breve interlúdio... — Parlan sorriu quando elacorou —, pensei que seria bom conversarmos.

— Sobre o quê?

— Sobre nós — respondeu ele, perguntando-se por que o medo passoupelo olhar dela.

Embora tentasse não ser uma tola, Aimil não conseguiu suprimir umaonda de medo. Ele parecia sério; nunca, antes se dispôs a falar sobre orelacionamento deles. Por isso não conseguiu se livrar da sensação de que elequeria lhe dizer algo ruim. Mesmo sabendo que ele não seria tão cruel a pontode falar que não a queria mais como esposa depois de fazer amor, nãoconseguia se livrar de tal pensamento.

— O que há conosco? — perguntou num sussurro.

— Aimil, não precisa fazer essa cara de quem vai ouvir alguma coisadesagradável.

— O que disse?

Parlan suspirou, sentindo a coragem e a determinação vacilarem. Ela nãoparecia disposta a abrir o coração. Então se lembrou do grito que ela deuquando o acreditou morto. A emoção daquele grito o fortaleceu, e ele seguiuem frente.

— Não se preocupe, não é nada ruim. Não acha que já passou da hora deconversarmos a nosso respeito?

—Acho. — Aimil ficou se perguntando se ele pretendia arrancar verdadesde seu coração que ela ainda não estava pronta para revelar.

— Estamos juntos há um ano sem nunca falar dos sentimentos quenutrimos um pelo outro. Conversamos sobre tudo, e quando o assunto é esse,nos limitamos a falar sobre a paixão que partilhamos. Isso é maravilhoso,querida, mas não é a única coisa que nos une. Acho que chegou a hora defalarmos sobre o que de fato nos une e o que queremos um do outro. — Elaainda parecia nervosa, por isso beijou-a com gentileza. — Vamos lá, Aimil, achaquê vai ser tão ruim assim?

— Pode ser. Não acredito que existam muitas pessoas que falemlivremente sobre o que lhes vai pelo coração. Não é fácil se abrircompletamente.

— Verdade, mas foi a segunda coisa que planejei fazer enquantoestivéssemos a sós aqui.

— Segunda?

— Sim, a primeira era o que eu estava tentado a fazer quando a beijeihoje no quarto.

Ela sorriu e passou o dedo pela curva do maxilar dele.

— Cheguei a pensar em empurrá-lo para a cama...— Então eu não teria de persegui-la no final das contas.

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— Nuca precisou — ela murmurou e fez uma careta. — Nunca o evitei,nem quando deveria, mesmo com o nosso acordo. Eu me deitava para vocêcom a mesma facilidade de qualquer meretriz diante de algumas moedas deouro.

— Acha que é diferente comigo? Você tem a mim quando quer.

— É diferente com os homens, pois eles estão sempre dispostos.— Na maioria das vezes, mas não só a luxúria que faz isso comigo. —

Pegou a mão dela e beijou-lhe os dedos. — Basta você me chamar com umdesses dedos e eu estou pronto como um animal no cio. Não é assim queacontece normalmente. Pelo menos nunca foi comigo. Não era uma grandedeclaração, mas o fato de ele a desejar tanto quanto ela o desejava fez seucoração palpitar. Ela queria tantas coisas mais, ainda assim se regozijava commigalhas.

— Devo dobrar meu dedinho agora? — ela sussurrou.

— Não, fique quietinha um segundo, sim? Ainda não terminamos deconversar, e você sabe disso. Só falamos do nosso desejo e disso já sabemos.Quero falar daquilo que escondemos dentro de nós, aquilo que nuncarevelamos.

— Quem começa?

— Essa é a parte difícil, não? Ninguém quer ser o primeiro a revelar aalma.

— Porque o outro pode não retribuir e, assim, ficaria com o poder demagoar — ela completou.

— Aimil, minha querida esposa, eu nunca a magoaria de propósito. Juro.Não posso garantir que isso não venha a acontecer, pois os homens sãocriaturas descuidadas às vezes, mas não quero lhe infligir dor. — Tocou oslábios dela de leve com o dedo. — Diga o que quer de mim, Aimil. Nunca pediunada de mim. Não sei o que você quer ou precisa.

— Fidelidade. Lamento confessar que sou ciumenta.

— Já notei — ele murmurou e sorriu.

— Isso não é engraçado, Parlan! — Ela suspirou. — Não é um bomsentimento.

— Eu sei, pois sofro do mesmo mal.— Verdade?

— Verdade. Sinto-me remoer quando a vejo sorrindo para outro homem.O que me preocupa é o que eu seria capaz de fazer se pensar que vocêprocurou outro.

Relembrando a frieza na voz dele quando ela brincou dizendo queexperimentaria outros amantes, percebeu que era verdade. Parlan eraciumento. Mesmo sabendo que essa não era a melhor das emoções,contentou-se ao perceber isso.

— Por que acha que fiquei tão furioso com Artair? Claro que não admito oque ele pretendia fazer com você, mas não foi isso que me deixou furioso. Elebateu em você, foi isso o que me deixou fora de mim. Foi por isso que tive de

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caçar Rory. Eu me esqueci de todas as outras coisas horrendas que ele fez, sóconseguia me lembrar do que ele fez com você. Quanto a ser fiel, eu fui epretendo continuar sendo. Não me interesso pelas moças que sorriem paramim, pois elas não podem me dar o que encontro em seus braços. Nenhumadelas vale a pena arriscar perder isso. No entanto, os homens são criaturasfracas, querida. O toque certo, na hora certa... — Ele deu de ombros. — Só

posso jurar que não tenho intenção alguma de quebrar a confiança que temem mim.

Aimil o acariciou no rosto, tocada pelas palavras dele, pois indicavamque ele sentia algo mais. Compreendia que a promessa de fidelidade não eracoisa pouca, visto que a maioria dos homens não se importava de levarqualquer mulher para a cama quando bem quisesse. A promessa de Parlan,mesmo acompanhada de uma confissão de fraqueza, acalmava seus temores.

— Nem eu preciso de mais ninguém. Eu tinha tanto medo... — elasussurrou.

— De quê, Aimil? — Sabendo que ela estava prestes a abrir seu coração,ele ficou tenso.

— De não conseguir prendê-lo ao meu lado. Que um dia você acordassee descobrisse que eu não conseguia mais satisfazê-lo e, com isso, se voltassepara outra mulher. — Ela mordeu o lábio para cessar suas confissões.

Vendo que Aimil hesitava, Parlan resolveu que poderia ser perdoado porutilizar métodos baixos. Se conseguisse avivar a paixão dela naquelemomento, ela não conseguiria controlar as emoções. Então, sutilmente,começou sua lenta sedução. Sorriu ao admitir para si mesmo que queria queela falasse primeiro, mesmo isso não sendo muito justo.

— Aimil, está se preocupando à toa. — Abriu o corpete dela e depositoubeijos suaves na curva dos seios. — Não desejei nenhuma outra desde quecoloquei os olhos em você. Desde a primeira noite, perdi o interesse pelasoutras. Eu andava ansioso sem saber o que queria, e elas não preenchiam essevazio. Quando nos amamos pela primeira vez, já considerei ficar com você,mas sou um homem cauteloso e precisava ter certeza. Como Lagan diz, ser oprimeiro homem de uma mulher pode torná-lo possessivo. Eu precisava mecertificar de que não estava imaginando nada. A perda da virgindade podefazer as mulheres verem coisas também — ele murmurou,

— Não está aqui — ela sussurrou ao sentir a língua brincando com seus

seios. — Só conseguia pensar que já que tinha perdido a virgindade, nãoimportava fazermos amor de novo. Eu desejei que você me quisesse de novo.

— Estou feliz por não tê-la desapontado. A risada suave dela setransformou num ronronar ao ter o mamilo sugado com langor.

— Você nunca me desapontou, Parlan, mas pensei que você quisesseconversar.

— E estamos conversando. Você chegou a imaginar que eu desejassemantê-la ao meu lado?

  Tendo dificuldade para se concentrar, já que Parlan beijava cada

centímetro de pele exposta, ela afundou os dedos nos cabelos escuros eassentiu.

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— Sim, o tempo todo. Eu não queria que meu pai pagasse o resgate,mas... — Arfou com a sensação dos lábios no interior de suas coxas. — Mas eutemia ficar e ser posta de lado quando você se cansasse de mim.

— Nunca pensei nisso. — Ele se ergueu sobre os joelhos e apressou-seem se despir.

Aimil o fitava, maravilhando-se com o sol que banhava o corpo moreno.— Você é lindo.

— Um bruto como eu? — Ele sorriu de leve ao voltar para os braçosmacios.

Parlan ficou sem resposta, pois ela se calou quando os lábios quentespartiram de seu abdômen seguindo uma trilha para baixo. A próxima coisacoerente que ela conseguiu gritar foi que ele a acompanhasse. Um gemido defrustração se fez quando Parlan a penetrou e ficou imóvel. Por isso, ela o olhouconfusa.

— Quero que me ame, Aimil — ele sussurrou ao resvalar os lábios nosdela. — Quero que me ame, Aimil.

Ela suspirou de prazer quando ele começou a se movimentar.

— Oh, Parlan, mas eu te amo. Como eu te amo...

— Com seu coração, querida, não só com o corpo.

— Eu te amo completamente. Que Deus me ajude, mas te amo além darazão.

Foi só quando voltaram a relaxar que ela se deu conta de suadeclaração. Sentindo-se observada, abriu os olhos e o encarou. Parlan a fitavacom tanto carinho que ela sentiu o coração derreter.

— Você é um homem ardiloso, Parlan MacGuin.

— Sei disso, mas queria que você fosse a primeira.

— Fosse a primeira?

— É meio injusto, mas fazer o quê? — Ele afastou algumas mechasúmidas do cabelo dela do rosto. — Eu não estava conseguindo, confessar meussentimentos, por isso pensei que seria mais fácil se você falasse agites. Vocênão está sozinha, Aimil. A mesma loucura me abate. Eu te amo. — Riu quando

ela o abraçou forte.— Quando descobriu?

— Fiquei surpreso ao descobrir isso quando Lyolf nasceu, mas osentimento já estava lá. Só consegui nomeá-lo naquele dia. E você?

Ela deu uma risada trêmula.

— Quando Catarine chegou e o beijou. Leith não se mostrou surpreso,por isso imagino que o sentimento também já estivesse latente. Eu não queriaenxergá-lo, pois via nosso relacionamento como algo fadado a acabar.

— Não, amor, ele nunca vai acabar. Não hesitei a toa. Eu já sabia que

seremos um casal até nossos ossos virarem pó, mas não tinha certeza se vocêpensava como eu. Só suspeitei ao ouvir seu grito desesperado quando caí nopoço. Ali, no meio daquela luta para sobrevivermos, eu só conseguia pensar

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que nenhuma mulher gritaria daquele modo se não estivesse trespassada pelador. Foi então que decidi que já tinha passado da hora de falarmos sobre essascoisas.

— Eu quase me joguei atrás de você — ela sussurrou, abraçando-o.

— Fico feliz que não tenha feito isso. Nunca mais pense em morrer por

minha causa. Um homem não luta como eu lutei nesses últimos meses parasalvar a vida de uma mulher só para que ela a desperdice no final. Quero quevocê viva.

Ela o beijou no rosto.

— Sinto dizer que logo descobri que desejava viver, mesmo que umaparte de mim tivesse morrido com você. — Segurando-o, pediu: — Diga denovo, Parlan...

— Não precisa implorar, doçura. Essas palavras serão repetidas muitasvezes agora. — Ele a beijou. — Eu te amo. É você que faz valer a pena eulevantar toda manhã.

— Não há palavras que descrevam o que sinto por você. — Ela deu umsorriso leve. — Eu te amo. Você deveria ter imaginado isso quando permiti quemontasse meu cavalo.

— Pensei nisso, mas eu precisava ouvir as palavras.

— Entendo Você tinha o cavalo mas queria a dona dele — ela brincou