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VII Congresso da ABEQUA, Porto Seguro - BA 03-09 de Outubro de 1999 1 - Depto. de Geologia – UFMG, 2 - Depto. de Estatística – UFMG 3 - Depto. de Cartografia - UFMG A sede do município de Alcobaça, extremo sul da Bahia, situa-se na margem esquerda do rio Itanhém e estende–se por 6 km ao longo do litoral atlântico, próximo a barra daquele rio (Foto 1). As duas atividades econômicas principais na sede urbana consistem na pesca e no turismo. Seus 6.453 habitantes computados na contagem do IBGE em 1996 representam 41% da população total do município. Apontamos três impactos ambientais antrópicos afetando diretamente a população e ameaçando a economia local. A colônia de pesca de Alcobaça, uma das maiores do extremo sul da Bahia, conta com três centenas de barcos registrados naquela cidade e mais de 700 pescadores. Os profissionais da pesca queixam- se da diminuição gradual, de ano em ano, da produção de peixes e camarões. Este pretendido declínio da produção pesqueira, um dos três problemas enfrentados pela comunidade alcobacense, é evidentemente decorrente da sobre-pesca na plataforma continental adjacente, devido ao provável aumento do número de embarcações e das técnicas de pesca prejudiciais para os ecossistemas aquáticos. Este é o primeiro dos três impactos da atividade humana na área. Surge a questão das medidas a serem tomadas frente a esta situação ameaçando a sobrevivência de uma parte importante da cidade. Seria necessário estudar melhor os períodos de defeso e controlar sua aplicação. Adaptar os métodos da pesca para preservar o habitat dos ecossistemas marinhos seria também uma postura adequada. Para a pesca de camarões, o IFREMER desenvolveu um tipo de balão que pesca seletivamente o camarão e deixa escapar a grande quantidade de peixes de pequeno tamanho que são normalmente sacrificados e nem aproveitados. Outras opções como o desenvolvimento da aquacultura poderiam absorver uma parte dos profissionais da pesca. Seria oportuno que o convênio firmado em dezembro 98 entre o IFREMER e o Governo do Estado da Bahia pudesse contribuir para amenizar este problema. Recentemente, no início de abril do corrente ano, ocorreu uma repentina mortandade das espécies mais variadas da fauna do baixo rio Itanhém que foram acumulando-se e apodrecendo nas margens do estuário daquele rio. A causa desta mortandade resulta provavelmente do envenenamento por produtos agrotóxicos poluindo os solos da planície aluvial e lavados na ocasião das enchentes naquele trecho do rio. Esta mortandade representa mais um impacto humano sobre a fauna aquática local. O segundo problema enfrentado pela comunidade alcobacense consiste no assoreamento do estuário do rio Itanhém e no crescimento de bancos arenosos até quinhentos metros da linha de praia, na plataforma continental (Fig. 1). Esse assoreamento tem impedido a entrada e saída de barcos pesqueiros e de turismo no porto fluvial do município durante os períodos de maré baixa. O desmatamento progressivo da Floresta Atlântica na região sul da Bahia a partir da década de 1940, provavelmente causou um aumento significativo na carga sedimentar dos rios possibilitando uma acresção sedimentar acelerada nas desembocaduras. Boa parte destes bancos arenosos é alimentada pela deriva litorânea vindo do norte. Com o objetivo de poder prever a evolução deste assoreamento, para os próximos anos, uma amostragem do sedimento de superfície em malha quadrada de oitenta metros foi efetuada em abril 1999, no estuário do rio Itanhém e nos bancos arenosos da plataforma continental adjacente. Neste momento, as amostras estão sendo processadas para computar seus parâmetros granulométricos dentro da técnica de ''sediment trend analysis'' idealizada por McLaren e Bowles (1985) e modificada sucessivamente por Gao e Colins, Le Roux e Asselman. Esta técnica que permite traçar um mapa vetorial representando o caminhamento do sedimento delimita também as áreas específicas de deposição e de erosão. A metodologia está sendo utilizada, no mundo, a jusante de portos marítimos importantes, para um planejamento mais econômico da manutenção dos canais de navegação. Pretende-se com os resultados finais previstos para o início do ano 2.000, fornecer uma base científica para uma eventual obra de engenharia costeira que permitiria facilitar a navegação no local. Junto com a acresção sedimentar na barra do rio Itanhém, ocorre uma lenta erosão da orla marítima nos 13 km a norte da barra do rio, até a ponta das Guaratibas (Foto 1). Esta erosão representa o terceiro problema ambiental do município. Existem indícios relacionando os dois fenômenos. Por

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1 - Depto. de Geologia – UFMG,2 - Depto. de Estatística – UFMG3 - Depto. de Cartografia - UFMG

A sede do município de Alcobaça, extremo sul da Bahia, situa-se na margem esquerda do rio Itanhéme estende–se por 6 km ao longo do litoral atlântico, próximo a barra daquele rio (Foto 1). As duasatividades econômicas principais na sede urbana consistem na pesca e no turismo. Seus 6.453habitantes computados na contagem do IBGE em 1996 representam 41% da população total domunicípio. Apontamos três impactos ambientais antrópicos afetando diretamente a população eameaçando a economia local.

A colônia de pesca de Alcobaça, uma das maiores do extremo sul da Bahia, conta com três centenasde barcos registrados naquela cidade e mais de 700 pescadores. Os profissionais da pesca queixam-se da diminuição gradual, de ano em ano, da produção de peixes e camarões. Este pretendidodeclínio da produção pesqueira, um dos três problemas enfrentados pela comunidade alcobacense, éevidentemente decorrente da sobre-pesca na plataforma continental adjacente, devido ao provávelaumento do número de embarcações e das técnicas de pesca prejudiciais para os ecossistemasaquáticos. Este é o primeiro dos três impactos da atividade humana na área. Surge a questão dasmedidas a serem tomadas frente a esta situação ameaçando a sobrevivência de uma parteimportante da cidade. Seria necessário estudar melhor os períodos de defeso e controlar suaaplicação. Adaptar os métodos da pesca para preservar o habitat dos ecossistemas marinhos seriatambém uma postura adequada. Para a pesca de camarões, o IFREMER desenvolveu um tipo debalão que pesca seletivamente o camarão e deixa escapar a grande quantidade de peixes depequeno tamanho que são normalmente sacrificados e nem aproveitados. Outras opções como odesenvolvimento da aquacultura poderiam absorver uma parte dos profissionais da pesca. Seriaoportuno que o convênio firmado em dezembro 98 entre o IFREMER e o Governo do Estado daBahia pudesse contribuir para amenizar este problema. Recentemente, no início de abril do correnteano, ocorreu uma repentina mortandade das espécies mais variadas da fauna do baixo rio Itanhémque foram acumulando-se e apodrecendo nas margens do estuário daquele rio. A causa destamortandade resulta provavelmente do envenenamento por produtos agrotóxicos poluindo os solos daplanície aluvial e lavados na ocasião das enchentes naquele trecho do rio. Esta mortandaderepresenta mais um impacto humano sobre a fauna aquática local.

O segundo problema enfrentado pela comunidade alcobacense consiste no assoreamento doestuário do rio Itanhém e no crescimento de bancos arenosos até quinhentos metros da linha depraia, na plataforma continental (Fig. 1). Esse assoreamento tem impedido a entrada e saída debarcos pesqueiros e de turismo no porto fluvial do município durante os períodos de maré baixa. Odesmatamento progressivo da Floresta Atlântica na região sul da Bahia a partir da década de 1940,provavelmente causou um aumento significativo na carga sedimentar dos rios possibilitando umaacresção sedimentar acelerada nas desembocaduras. Boa parte destes bancos arenosos éalimentada pela deriva litorânea vindo do norte. Com o objetivo de poder prever a evolução desteassoreamento, para os próximos anos, uma amostragem do sedimento de superfície em malhaquadrada de oitenta metros foi efetuada em abril 1999, no estuário do rio Itanhém e nos bancosarenosos da plataforma continental adjacente. Neste momento, as amostras estão sendoprocessadas para computar seus parâmetros granulométricos dentro da técnica de ''sediment trendanalysis'' idealizada por McLaren e Bowles (1985) e modificada sucessivamente por Gao e Colins, LeRoux e Asselman. Esta técnica que permite traçar um mapa vetorial representando o caminhamentodo sedimento delimita também as áreas específicas de deposição e de erosão. A metodologia estásendo utilizada, no mundo, a jusante de portos marítimos importantes, para um planejamento maiseconômico da manutenção dos canais de navegação. Pretende-se com os resultados finais previstospara o início do ano 2.000, fornecer uma base científica para uma eventual obra de engenhariacosteira que permitiria facilitar a navegação no local.

Junto com a acresção sedimentar na barra do rio Itanhém, ocorre uma lenta erosão da orla marítimanos 13 km a norte da barra do rio, até a ponta das Guaratibas (Foto 1). Esta erosão representa oterceiro problema ambiental do município. Existem indícios relacionando os dois fenômenos. Por

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exemplo, minerais característicos como muscovita, biotita e cianita oriundos do embasamentocristalino e introduzidos na zona litorânea pelo rio Itanhém são retidos na zona de acresção próxima abarra do rio (Addad 1995). Estes minerais não encontram-se na praia a norte, fato que demonstraria aretenção do sedimento tanto de origem fluvial quanto da deriva litorânea na zona de acresção. Destamaneira, as inversões eólicas periódicas criam um déficit sedimentar ao longo da praia de Alcobaça.Provavelmente existem outros processos, como a concentração de energia pela refração das ondas(Silva, 1998), causando simultaneamente a erosão costeira local.

A orla marítima da cidade que possui diversos hotéis e casas de veraneio está sendo ameaçada pelorecuo da linha de costa. A erosão ocorre principalmente nos meses de inverno entre agosto enovembro quando os ventos de nordeste são intensificados. Neste período, a deriva litorânea nessesegmento de praia é efetivamente de norte para sul gerando uma contribuição sedimentarsignificativa para o assoreamento da barra do rio Itanhém. O monitoramento dessa faixa litorânea temrevelado que a erosão é não linear, ou seja, ocorrem períodos em que ela se apresenta intensamentee períodos de calmaria. Por exemplo, no ano de 1997 houve um recuo médio da linha de praia de1,34 metros nesse setor, atingindo localmente 4,50 metros (Dupont e Ribeiro, 1998). Entretanto, nomesmo período em 1998 não ocorreu erosão, mas sim, verificou-se feições de acresção como aformação de pequenas dunas na berma superior da praia e crescimento da vegetação rasteira. Atendência, porém, é erosiva e pode-se esperar, dentro de alguns anos uma interdição de algunstrechos da avenida Atlântica.

É neste cenário de litoral fragilizado que um grupo local está projetando a construção de um ''pier'' emforma de L com lados de aproximadamente 200m de comprimento, em frente a rua da Feira (poste67s), no centro de Alcobaça (Fig. 1). Este ''pier'' deveria servir de atracação para os barcos queexploram as viagens turísticas para o Parque Nacional Marinho de Abrolhos e permitir assim, oembarque e desembarque dos turistas com qualquer nível da maré. Esta construção reservada parauma minoria dos barcos locais, seria apenas uma solução paliativa para os problemas da navegaçãona barra do rio Itanhém. Como qualquer edificação ao longo de uma costa arenosa com significativaderiva litorânea, este ''pier'' provocará acresção na sua proximidade, principalmente a norte. Em áreasmais afastadas do pier, em direção ao farol a norte e em direção ao hotel Brisas dos Abrolhos a sul, areação poderá ser oposta, acelerando a tendência erosiva local (Fig. 1).

Seria interessante que o conjunto dos problemas ambientais de Alcobaça sejam consideradossimultaneamente, na procura de soluções harmoniosas para o desenvolvimento da pesca, do turismoe da navegação.

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ADADD, J. 1995. Erosão nas praias de Alcobaça, sul da Bahia. Dissertação de mestrado apresentadano Depto. de Geologia da UFMG.

DUPONT, H. & RIBEIRO, L. V., 1998. Alcobaça, Bahia, Monitoramento da erosão costeira em 1997.XXXX Congresso Brasileiro de Geologia, em Belo Horizonte.

Mc LAREN, P. & BOWLES, D. 1985. The effects of sediment transport on grain-size distribuions.Journal of Sedimentary Petrology. 55:(4), p.457-470.

SILVA, I. R., et al. 1998. Deriva litorânea ao longo da costa sul do Estado da Bahia. Anais do XLCongresso Brasileiro de Geologia, Belo Horizonte. p. 250.

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