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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA
RITA NEUMA DANTAS CAVALCANTE DE ABREU
EFEITOS COMPORTAMENTAIS, NEUROQUÍMICOS E ANTIOXIDANTE DA
HECOGENINA OBTIDA DE Agave sisalana Perrine EM CAMUNDONGOS
FORTALEZA
2013
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RITA NEUMA DANTAS CAVALCANTE DE ABREU
EFEITOS COMPORTAMENTAIS, NEUROQUÍMICOS E ANTIOXIDANTE DA
HECOGENINA OBTIDA DE Agave sisalana Perrine EM CAMUNDONGOS
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Rede Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Biotecnologia. Área de concentração: Biotecnologia em saúde. Orientadora: Profa. Dra. Silvânia Maria Mendes Vasconcelos Patrocínio
FORTALEZA
2013
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A Deus, pois sem ele nada é possível;
À minha família, com especial gratidão ao meu
pai, Vicente Abreu, e à minha mãe Idezite, por
me haver encorajado, inúmeras vezes, por meio
do orgulho e da confiança de me ver vitoriosa;
À minha linda filha, Giovanninha, o grande amor
da minha vida.
Ao meu esposo, Gilvan, pela força e incentivo
para a realização e conclusão deste curso.
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AGRADECIMENTOS
À Profª Drª Silvânia Maria Mendes Vasconcelos pelas orientações seguras, amizade,
paciência, confiança e incentivo. Muito obrigada! A senhora é um orgulho para enfermagem;
À Profª Drª Thereza Maria Magalhães Moreira, minha orientadora do mestrado em
Cuidados clínicos, a quem serei sempre grata por todos os ensinamentos e, acima de tudo, por
sua amizade e disponibilidade que tornaram meus sonhos uma realidade;
À Profª Drª. Luiza Jane Eyre, pela amizade, incentivo ao longo de minha caminhada e por
ter me apresentado ao mundo da pesquisa científica;
Aos docentes do Doutorado em Biotecnologia, especialmente ao Dr. Krishnamurti de
Morais Carvalho pela disponibilidade;
Às Professoras Dras. Glauce Viana, Danielle Silveira e Francisca Cléa, pesquisadoras do
Laboratório de Neuropsicofarmacologia, pela organização do Laboratório;
Ao Dr. José Maria Barbosa Filho do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da
Universidade Federal da Paraíba, que gentilmente nos cedeu a molécula estudada;
Aos professores Dra. Thereza Magalhães, Dra. Lissiana Aguiar e Dr. José Eduardo
Honório Júnior pelas contribuições no exame de qualificação do projeto;
Aos professores Dra. Thereza Magalhães, Dra. Lissiana Aguiar, Dra. Maria Goretti
Queiroz, Dr. Manoel Cláudio Patrocínio, Dr. José Eduardo e Dra. Edna Camelo por
terem aceito gentilmente o convite para participar desta banca examinadora;
À Universidade de Fortaleza (UNIFOR) por me proporcionar as horas de estudo;
Aos meus queridos ex-alunos e agora colegas enfermeiros Lara Martins, Aline Miranda e
Euclides Sales Barbosa Filho pelo carinho e ajuda nos experimentos no início do Curso de
Doutorado;
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Aos alunos de iniciação científica do LabNeuro pela amizade e ajuda nos experimentos:
Manuel Júnior, Naiara, Caren, Germana, Anália, Paulo Vitor, Camila, Lucas e Helene.
Aos meus amigos do LabNeuro Eliane Brito, Edna Camelo, Márcia Calheiros, José
Eduardo, Rafael Sampaio, Taciana, Tatiana, Sara Escudeiro, Valdécio, Edith, Clayton,
Carlos Eduardo, Dayana, Kátia Cilene, Elaine pela ajuda nos experimentos, amizade e
confiança depositada;
Aos funcionários da UFC, Valmor, Vilanir, Lena, Nájila pela convivência e ajuda nos
cuidados aos camundongos e ao Arnaldo pelo apoio técnico;
A todos do Lab Neuro da UFC, o meu verdadeiro agradecimento pelo prazeroso ambiente que
me proporcionaram;
Aos funcionários do BIOTÉRIO, Sr. Haroldo e Sr. Adalto pela manutenção dos animais;
Aos enfermeiros, médicos e técnicos de enfermagem da emergência do Instituto Dr. José
Frota pela confiança e incentivo; Aos médicos Iara e Carlos Serra Azul pela ajuda nos meus
momentos de ansiedade;
Aos colegas professores da UNIFOR, especialmente Liliane Costa, Rafael Sampaio, Ítalo
Rigoberto, Ângela Uchoa, Débora Guerra, Karla Rolim e Goretti Monteiro;
Aos alunos da UNIFOR pela compreensão nos momentos em que precisei me ausentar mais
cedo dos estágios;
Aos enfermeiros do Hospital de Saúde Mental de Messejana pela amizade. Aos amigos de
Pedra Branca, minha terra querida;
À minha sogra Maria Aldeir pelas orações e estímulo;
Aos secretários do curso de Doutorado em Biotecnologia da UECE Patrícia e Paulo pela
disponibilidade;
Aos funcionários do Núcleo de Pesquisa da UNIFOR, Arlene e Rafael pelo carinho;
8
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para que este trabalho fosse possível, meu
MUITO OBRIGADA!
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“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito”
(Romanos 8: 28)
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RESUMO
Agave sisalana, popularmente conhecida como sisal, é uma planta originada do México,
fazendo parte da família Agavaceae. No suco das folhas de Agave é encontrado hecogenina
(HEC), uma sapogenina esteroidal. O objetivo foi estudar os efeitos comportamentais,
neuroquímicos e antioxidante de HEC em camundongos. Foram utilizados camundongos
Swiss, machos, pesando de 25-35 g. Os efeitos comportamentais da administração aguda da
HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg, via intraperitoneal - ip) ou em doses repetidas por sete dias (20
ou 40 mg/kg, ip) foram avaliados pelos testes: labirinto em cruz elevado, campo aberto, placa
perfurada e suspensão de cauda. Nestes testes, determinou-se o mecanismo de ação da HEC
com administração aguda de Flumazenil 2,5 mg/kg (FLU) ou Reserpina 2 mg/kg (RES). Após
os testes comportamentais, as áreas cerebrais córtex Pré-frontal (CPF), hipocampo (HC) e
corpo estriado (CE) foram dissecadas. O teste de labirinto em cruz elevado mostrou que a
HEC, administrada agudamente, nas doses de 10, 20 ou 40 mg/kg, causou aumento
significativo no número de entradas nos braços abertos (NEBA) comparado ao controle.
Efeito semelhante foi observado no tempo de permanência nos braços abertos (TPBA) nas
doses de 20 ou 40 mg/kg em relação ao grupo controle. A administração em doses repetidas
da HEC (20 ou 40 mg/kg) também aumentou o NEBA. HEC (20 ou 40 mg/kg), administrada
agudamente, aumentou o número de head dips comparado ao controle. Efeito semelhante foi
observado após o tratamento em doses repetidas com a HEC na dose de 40 mg/kg em relação
ao grupo controle. O FLU não foi capaz de reverter os efeitos ansiolíticos agudos da HEC no
labirinto em cruz elevado e no teste de placa perfurada. Hecogenina reduziu o tempo de
imobilidade no teste de suspensão de cauda após o tratamento agudo ou em doses repetidas. A
molécula em estudo (HEC) reverteu o efeito depressor da RES. Referente aos efeitos da
administração aguda da HEC sobre a peroxidação lipídica, observou-se uma diminuição nas
três areas estudadas nas doses 5, 10, 20 ou 40 mg/kg, comparado com os grupos controles.
Nas doses de 20 ou 40 mg/kg, HEC causou diminuição dos níveis de nitrito no CPF, HC e CE
comparado ao controle. No CPF, de camundongos tratados agudamente com HEC, o
aminoácido excitatório glutamato (GLU) aumentou nas doses de 10, 20 ou 40mg/kg.
Enquanto os inibitórios ácido gamaaminobutírico (GABA) e Taurina (TAU) aumentaram nas
doses de 20 ou 40mg/kg. No hipocampo, houve aumento de Aspartato (ASP), GLU, Glicina
(GLI) e TAU apenas na maior dose de HEC. No corpo estriado, ocorreu o aumento do ASP,
GLU e TAU após as doses de 20 ou 40 mg/kg de HEC. As concentrações de GLI e GABA
aumentaram na maior dose de HEC (40 mg/kg) nesta área cerebral. Os níveis de 5-HT e 5-
HIAA foram aumentados apenas na dose de 40 mg/kg de HEC. Concluiu-se que HEC (20 ou
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40 mg/kg) apresentou efeitos ansiolíticos e este efeito não foi relacionado aos receptores
benzodiazepínicos. A molécula não causou estresse oxidativo ao SNC.
Palavras-chave: Ansiedade. Depressão. Aminoácidos.
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ABSTRACT
Agave sisalana, popularly known as sisal, is a plant originaly from Mexico and belongs to the
family Agavaceae. Hecogenin (HEC) is a steroidal sapogenin found in the juice from the
leaves of Agave. The purpose was to study the behavioral, neurochemical and antioxidant
effects of HEC in mice. We used swiss mice weighing 25-35 g. The behavioral effects of
HEC’s acute administration (5, 10, 20, or 40 mg/kg intraperitoneally – i.p.) or in repeated
doses for seven days (20 or 40 mg/kg, i.p.), were evaluated by tests: elevated plus maze, open
field, hole board test and tail suspension. In these tests, we determined the mechanism of
action of HEC with acute administration of Flumazenil 2.5 mg/kg (FLU) or Reserpine 2
mg/kg (RES). After the behavioral tests, the brain areas pre-frontal cortex (PFC),
hippocampus (HC) and striatum (CE) were dissected. The elevated plus-maze test showed
that HEC, acutely administered, at doses of 10, 20 or 40 mg/kg, caused a significant increase
in the number of entries in the open arms (NEOA) compared to control. A similar effect was
observed in the time spent in the open arms (TPOA) at doses of 20 or 40 mg/ kg compared to
the control group. The administering repeated doses of HEC (20 or 40 mg/kg) increased the
NEOA. HEC (20 or 40 mg/kg) administered acutely increased the number of head dips
compared to control. A similar effect was observed after treatment with repeated doses of
HEC at a dose of 40 mg/kg compared to the control group. The FLU was unable to reverse the
acute anxiolytic effects of HEC in the elevated plus-maze test and in the hole board test.
Hecogenin reduced the immobility time in the tail suspension test after acute treatment or
repeated doses. The molecule under study (HEC) reversed the depressant effect of RES.
Related to the effects of acute administration of HEC on lipid peroxidation, we observed a
decrease in the three studied areas at 5, 10, 20 or 40 mg/kg doses, compared to control groups.
At doses of 20 or 40 mg/kg, HEC caused decreased levels of nitrite in the PFC, HC and CE
compared to control. In PFC’s mice acutely treated with HEC, the excitatory amino acid
glutamate (GLU) increased at doses of 10, 20 or 40mg/kg, while the inhibitory
gamaaminobutiric acid (GABA) and taurine (TAU) increased at doses of 20 or 40mg/kg. In
the mice’s hippocampus treated with HEC, there was increased aspartate (ASP), GLU,
glycine (GLY) and TAU only at the highest dose HEC. In the striatum, there was an increase
of ASP, and GLU and TAU after doses of 20 or 40 mg/kg of HEC. Concentrations of GLY
and GABA increased HEC at the highest dose (40 mg/kg) in this brain area. The 5-HT and 5-
HIAA levels were increased only in 40 mg/kg dose of HEC. We concluded that HEC (20 or
40 mg/kg) showed anxiolytic effects and this effect was not related to benzodiazepine
receptors. The molecule did not cause oxidative stress to the CNS.
Keywords: Anxiety. Depression. Amino acids.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Biossíntese das catecolaminas 28
Figura 2 - Biossíntese e metabolismo da 5-hidroxitriptamina 30
Figura 3 – Metabolismo dos aminoácidos transmissores no cérebro 33
Figura 4 - Óxido nítrico e as enzimas óxido nítrico sintases 39
Figura 5 - Estresse oxidativo 43
Figura 6 - Estrutura geral das saponinas esteroidais 46
Figura 7 - Estrutura Molecular de hecogenina 50
Figura 8 - Áreas cerebrais dissecadas 61
Figura 9 - Aparelho de HPLC 63
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Reagentes e Drogas utilizados nos experimentos
51
Quadro 2 - Equipamentos utilizados nos experimentos 52
Quadro 3 – Esquema do teste do campo aberto 53
Quadro 4 – Teste do Labirinto em Cruz Elevado 55
Quadro 5 – Teste de Placa Perfurada 56
Quadro 6 – Teste de suspensão de cauda
58
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
5-HT serotonina
AAS ácido acetilsalicílico
ALE Atividade locomotora espontânea
ALP fosfatase alcalina
ALT transaminase
AMPA alfa-amino-3-hydroxi-5-methyl-4 lisoxazole propionic acid
ANOVA Análise de Variância
ASP aspartato
CAT catalase
CE Corpo estriado
COMT catecol-O-metiltransferase
CEPA Comitê de Ética em Pesquisa Animal
CPF Córtex pré-frontal
DA Dopamina
DAG descarboxilase do ácido glutâmico
D2 Receptor dopaminérgico do tipo D2
D3 Receptor dopaminérgico do tipo D3
D4 Receptor dopaminérgico do tipo D4
DOPAC ácido diidroxifenilacético
DZP Diazepam
EHAS Extrato Hidrolisado de Agave sisalana
eNOS òxido Nítrico Sintase endotelial
ERO Espécies Reativas de Oxigênio
EPM Erro Padrão da Média
EUA Estados Unidos da América
FHAS Fração Hexânica de Agave sisalana
FLU Flumazenil
GABA Ácido gama-aminobutírico
GABAA Receptor do ácido gama-aminobutírico do tipo A
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GABAB Receptor do ácido gama-aminobutírico do tipo B
GGT Gama-glutamil transferase
GLU Glutamato
GLI Glicina
GSH Glutationa
GSH-Px glutationa peroxidase
GSSG glutationa oxidada
GSH red. glutationa redutase
H Hora
HEC Hecogenina
HIAA 5-hidroxindolacético
HVA ácido homovanílico
HC Hipocampo
HPLC High Perfomance Liquid Chomatography
iNOS Óxido Nítrico Sintase induzível
ip Intraperitoneal
IMI Imipramina
ISRS Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina
LCE Labirinto em cruz elevado
MAO inibidores da Monoaminoxidase
MCV volume corpuscular média
MCH hemoglobina corpuscular média
MCHECO Média, corpuscular da concentração de hemoglobina
mGluR receptores glutamatérgicos metabotrópicos
MDA malonildialdeído
MTT 3-(4,5-Dimethylthiazol-2-yl)-2,5-diphenyltetrazolium bromide
NEBA Número de Entradas nos Braços Abertos
NA norepinefrina
NADPH nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato
NMDA N-metil-D-aspartato
NO Óxido nítrico
NOS óxido nítrico sintases
OMS Organização Mundial de Saúde
P Nível de Significância
RES Reserpina
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SNC Sistema Nervoso Central
SOD superóxido dismutase
TAU Taurina
TBARS substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico
TPBA Tempo de Permanência nos Braços abertos
TPBF Tempo de Permanência nos Braços fechados
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SUMÁRIO
1) INTRODUÇÃO……………………………………………………………………. 20
2) REVISÃO DE LITERATURA………………………………………………….... 23
2.1 Doenças do Sistema Nervoso Central: ansiedade e depressão.................................. 23
2.2) Neurotransmissores Centrais.................................................................................... 27
2.3) Áreas cerebrais: Córtex Pré-frontal, Hipocampo e Corpo estriado.......................... 34
2.4) Estresse oxidativo e as doenças do SNC.................................................................. 36
2.5) Saponinas e Sapogeninas esteroidais....................................................................... 46
3) OBJETIVOS.............................................................................................................. 48
4) MATERIAIS E MÉTODOS..................................................................................... 49
4.1) Material Vegetal………………………………………………………………… 49
4.2) Animais…………………………………………………………………………. 50
4.3) Reagentes e Drogas……………………………………………………………... 51
4.4) Equipamentos…………………………………………………………………… 52
4.5) Protocolo de tratamento agudo para os testes de comportamento………………. 53
4.7) Protocolo de tratamento em doses repetidas para os testes de comportamento… 59
4.5) Testes de comportamento………………………………………………………. 59
4.8) Testes Neuroquímicos…………………………………………………………... 60
4.9) Análise Estatística………………………………………………………………. 65
5) RESULTADOS…………………………………………………………………….. 65
Artigo 1: Composição química, atividades biológicas e farmacológicas de Agave
sisalana Perrine e seus constituintes
66
19
Artigo 2 - Efeitos da administração aguda ou em doses repetidas da hecogenina
isolada de Agave sisalana Perrine sobre o comportamento de camundongos
88
Artigo 3 – Determinação da concentração de aminoácidos no córtex pré-frontal,
hipocampo e corpo estriado de camundongos tratados agudamente com hecogenina
110
Artigo 4 - Determinação da concentração de monoaminas no corpo estriado de
camundongos tratados agudamente com hecogenina
127
Artigo 5 - Ação da hecogenina, isolada de Agave sisalana Perrine, sobre os
parâmetros do estresse oxidativo no cérebro de camundongos.
140
6) CONCLUSÕES GERAIS………………………………………………………… 157
REFERÊNCIAS………………………………………………………………………. 158
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1 INTRODUÇÃO
A utilização da natureza para fins terapêuticos é tão antiga quanto a civilização
humana e, por muito tempo, produtos minerais, de plantas e animais foram fundamentais para
a área da saúde. Historicamente, as plantas medicinais são importantes como fitoterápicos e
na descoberta de novos fármacos, estando no reino vegetal a maior contribuição de
medicamentos (BRASIL, 2012).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), considerando as plantas medicinais como
importantes instrumentos da assistência farmacêutica, por meio de vários comunicados e
resoluções, expressa sua posição a respeito da necessidade de valorizar a sua utilização no
âmbito sanitário ao observar que 70% a 90% da população nos países em vias de
desenvolvimento dependem delas no que se refere à Atenção Primária à Saúde (WHO, 1993;
2011). Em alguns países industrializados, o uso de produtos da medicina tradicional é
igualmente significante, como o Canadá, França, Alemanha e Itália, onde 70% a 90% de sua
população tem usado esses recursos da medicina tradicional sobre a denominação de
complementar, alternativa ou não convencional (WHO, 2011).
O Brasil é um dos países com maior diversidade, concorrendo com a Indonésia pelo
título de nação biologicamente mais rica do planeta (MITTERMEIER et al., 2005). Estima-se
que em nosso território existam mais de 56.000 espécies vegetais catalogadas, o equivalente a
19% da flora mundial (GIULIETTI et al., 2005). A Biodiversidade da flora brasileira tem
promovido crescimento da produção de fitoterápicos (da ordem de 15% ano), enquanto o
crescimento anual de medicamentos alopáticos gira em torno de 3 a 4% (DUNDER, 2009).
É válido destacar que a maior parte da flora medicinal é ainda desconhecida
químico/farmacologicamente. Portanto, o fomento à pesquisa, ao desenvolvimento
tecnológico e à inovação com base na biodiversidade brasileira e de acordo com as
necessidades epidemiológicas da população, constitui importante estratégia para a Política
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (BRASIL, 2009).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), baseada nas diretrizes das
políticas nacionais, promoveu ampla revisão das legislações, elaborou novas normas, como a
RDC nº 10/2010, que dispõe sobre a notificação de drogas vegetais, assim como promoveu,
por meio da Farmacopeia Brasileira, a revisão das monografias de plantas medicinais. Todas
essas normas apresentam avanço no setor de regulamentação brasileiro, sendo importantes
para vários segmentos desde as Farmácias Vivas até o industrial (BRASIL, 2012).
21
No Nordeste, o projeto Farmácias Vivas foi desenvolvido com a finalidade de
oferecer, sem fins lucrativos, assistência às comunidades onde existe carência de atendimento
dos programas de saúde pública, promovendo o uso correto de plantas de ocorrência local ou
regional, dotadas de atividade terapêutica cientificamente comprovada (MATOS, 1998). Em
virtude da importância desse programa no contexto da fitoterapia na rede pública, o
Ministério da Saúde, por meio da Portaria GM nº 886, de 20 de abril de 2010, instituiu a
Farmácia Viva no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), sob gestão estadual, municipal
ou do Distrito Federal (BRASIL, 2012).
Os estudos dos usos tradicionais de plantas e seus produtos vêm aumentando
progressivamente nos últimos anos na região Nordeste do Brasil (AGRA; FREITAS;
BARBOSA-FILHO, 2007; QUINTANS-JÚNIOR et al., 2002). Em uma pesquisa
desenvolvida com índios Tapebas do Ceará, foi constatado que essa população fazia uso de
muitas espécies vegetais sem dados químicos e farmacológicos registrados, bem como outras
que já foram alvo de pesquisa científica, mas que necessitam ainda de estudos
complementares pra garantir segurança para uso geral e preparação de fitoterápicos (MORAIS
et al., 2005).
Referente aos efeitos de compostos de origem vegetal com ação no sistema nervoso
central (SNC), estudos têm demonstrado que causam mudanças no comportamento animal
com potencial depressivo, sedativo e anticonvulsivante (GOMES et al., 2005; GOMES et al.,
2008), ansiolítico (ARAGÃO et al., 2006), antidepressivo (LIMA et al., 2010) e propriedades
antinociceptiva (GOMES et al., 2005).
No laboratório de Neuropsicofarmacologia da Universidade Federal do Ceará (UFC),
em parceria com o Prof. Dr. José Maria Barbosa Filho da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), pesquisas têm sido realizadas com substâncias isoladas de plantas (ALMEIDA et al.,
2012; CHAVES, 2012; GOMES et al, 2008) com o objetivo de descobrir novas moléculas
com potencial terapêutico para a ansiedade, depressão e convulsão, além dos estudos
(HONÓRIO JUNIOR et al., 2012) sobre avaliação de compostos antioxidantes no SNC.
Acrescenta-se que as doenças neuropsiquiátricas têm aumentado em conseqüência do
aumento da população idosa, o que acarreta um grande problema social. Os transtornos de
ansiedade e a depressão são as doenças mentais mais comuns em todo o mundo e tornou-se
uma área importante de pesquisa em psicofarmacologia (BADGUJAR; SURANA, 2010).
Os transtornos de ansiedade afetam 25% dos indivíduos ao longo da vida, acarretando
considerável sofrimento e custo econômico (SILVA JÚNIOR, 2010; SMOLLER et al., 2009).
A depressão também causa prejuízo da qualidade de vida nos portadores, representando um
importante problema de saúde pública. A depressão afeta as pessoas em todo o mundo. A
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Pesquisa Mundial de Saúde Mental realizada em 17 países constatou que, em média, cerca de
uma em cada 20 pessoas relataram ter um episódio de depressão no ano anterior. Os
transtornos depressivos muitas vezes começam em idade jovem e, muitas vezes, são
recorrentes. Por estas razões, a depressão é a principal causa de incapacidade no mundo em
termos de total de anos perdidos (WHO, 2012).
Portanto, a investigação de novos compostos como ferramentas terapêuticas para tais
distúrbios tem progredido constantemente. Foi iniciado, no laboratório de
Neuropsicofarmacologia da UFC, estudo sobre a ação de sapogeninas esteroidais, isoladas de
Agave sisalana Perrine, no sistema nervoso central (ALMEIDA et al., 2012; SAMPAIO et al.,
2012; VASCONCELOS et al., 2010).
As saponinas são uma classe de metabólitos secundários que apresentam diferentes
funções terapêuticas, de grande interesse comercial e farmacológico (DUNDER, 2009). A
venda mundial de hormônios sexuais, drogas antiinflamatórias, anticoncepcionais e outros
medicamentos de natureza esteroidal é da ordem de bilhões de dólares por ano. Por diversas
razões de ordem química e industrial, a diosgenina, uma sapogenina esteroidal, é considerada
ainda como a principal matéria-prima para a produção de compostos farmacêuticos
esteroidais, mas a crescente demanda tem aberto espaço para outras substâncias, tais como a
hecogenina e a solasodina (SILVA, 2008).
Assim, o foco desta tese é o estudo da hecogenina isolada de Agave sisalana Perrine
no sistema nervoso central de camundongos.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Doenças do Sistema Nervoso Central: ansiedade e depressão
Nas diversas relações que o indivíduo tem na sociedade, pode-se deparar com
problemas de ordem psicológica, social, familiar ou econômica, problemas físicos, estéticos
ou funcionais, valorização que as pessoas atribuem aos contatos sociais, tipos de lazer, que
também podem funcionar como fatores estressantes, tipo de profissão que exerce
características inerentes à pessoa e ao seu convívio. As manifestações de estresse favorecem o
aparecimento de distúrbios relacionados à capacidade de compreensão, interação com o meio
no qual o paciente está inserido, provoca descontroles emocionais como irritabilidade,
cansaço, preocupação, tristeza, distúrbios do humor, dificuldade de memória, inquietação,
ansiedade, dificuldade para relaxar, distúrbios do sono, sensação de medo e depressão
(CASTRO; SCATENA, 2004).
Assim, estados de tensão emocional e de inquietação são experimentados por todas as
pessoas. Para os indivíduos considerados sadios, essas emoções são suficientemente leves e
de tão curta duração que as intervenções farmacológicas são desnecessárias. Entretanto, às
vezes os sintomas de ansiedade tornam-se muito desconfortantes e podem interferir na
capacidade da pessoa agir de modo eficiente (DAILEY, 1996).
As respostas psicológicas, comportamentais e fisiológicas que caracterizam a
ansiedade podem assumir muitas formas. Com frequência, a ansiedade é secundária a estados
mórbidos orgânicos ou decorre de circunstâncias (ansiedade situacional) que, provavelmente,
devem ser enfrentadas apenas uma ou algumas vezes, incluindo a expectativa de
procedimentos médicos, doença familiar ou outro evento estressante. Embora a ansiedade
situacional tenda a ser autolimitada, o uso de sedativo-hipnóticos a curto prazo pode ser
apropriado para o tratamento. A ansiedade excessiva ou irracional em relação às
circunstâncias da vida (transtorno de ansiedade generalizada), os transtornos de pânico e a
agorafobia também são acessíveis à terapia farmacológica, algumas vezes em associação com
psicoterapia (KATZUNG, 2007).
A ansiedade generalizada é caracterizada por preocupação excessiva e tensão contínua
durante os vários eventos diários da vida, com duração de, pelo menos, seis meses, e
incapacidade em controlar estes sentimentos. Esta condição vem acompanhada por, no
mínimo, três ou mais sintomas adicionais, que podem ser psíquicos, como agitação,
dificuldade de concentração, irritabilidade, ou somáticos, incluindo fadiga, tensão muscular e
distúrbios do sono (DSM-IV-TR, American Psychiatric Association, 2002).
24
Além do comportamento subjetivo (emocional) da ansiedade humana, há efeitos
comportamentais e fisiológicos mensuráveis que também ocorrem em animais de
experimentação. Em termos biológicos, a ansiedade induz uma forma particular de inibição
do comportamento que ocorre em resposta a novos eventos ambientais que não sejam
gratificantes (sob condições em que se espera gratificação), ameaçadores ou dolorosos. Em
animais, esta inibição do comportamento pode assumir a forma de imobilidade ou supressão
de uma resposta comportamental, como apertar uma barra para obter alimento (RANG et al.,
2012).
A hipótese de que a severidade ou presença de eventos de vida estressores são
preditivos de severidade ou presença de sintomas de ansiedade ou de transtornos de ansiedade
têm sido alvo de estudos recentes. Diferentes substâncias têm sido estudadas visando
compreender a neurofisiologia que envolve a ansiedade e o estresse. Entre elas as aminas
biogênicas, como a noradrenalina, a dopamina e a serotonina; aminoácidos, como o ácido
gama-aminobutírico (GABA), a glicina e o glutamato; peptídeos, como o fator de liberação de
corticotropina (CRF), o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e a colecisticinina (CCK) e
esteróides, como a corticosterona (MARGIS et al., 2003).
No que se refere ao tratamento farmacológico da ansiedade, os principais grupos de
fármacos ansiolíticos e hipnóticos são os seguintes: Benzodiazepínicos: é o grupo mais
importante, usado como ansiolítico e hipnótico; Buspirona: Agonista do receptor 5-HT1A é
ansiolítico, mas não notavelmente sedativo; Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos como
o propanolol, usados para tratar algumas formas de ansiedade, particularmente naquelas em
que os sintomas físicos como sudorese, tremor e taquicardia forem problemáticos. Sua
eficácia depende do bloqueio das respostas simpáticas periféricas, e não de efeito central;
Zolpidem: Este hipnótico atua de forma semelhante aos benzodiazepínicos, embora seja
quimicamente distinto, mas não possui notável atividade ansiolítica; Barbitúricos: Estes estão
obsoletos atualmente e foram suplantados pelos benzodiazepínicos. Seu uso está confinado à
anestesia e ao tratamento da epilepsia; Fármacos variados (p.ex.; hidrato de cloral,
meprobamato e metaqualona). Já não são recomendados, mas como é difícil abandonar
completamente os hábitos terapêuticos, são usados ocasionalmente. Anti-histamínicos
sedativos, como a difenidramina. Algumas vezes são usados como medicamentos para fazer
dormir, particularmente em crianças muito alertas (RANG et al., 2012).
Segundo Venâncio (2009), um agente ansiolítico deve reduzir a ansiedade com pouco
ou nenhum efeito sobre as funções motoras ou mentais, por isso, muitas companhias
farmacêuticas estão conduzindo estudos para encontrar uma alternativa médica com efeitos
ansiolíticos mais específicos.
25
No tocante à depressão, trata-se de um transtorno heterogêneo, que tem sido
classificado de diversas maneiras (KATZUNG, 2007). Os critérios de depressão, presentes
nos dois principais sistemas de classificação dos transtornos mentais, são semelhantes. Para a
Classificação Internacional de Doenças, da Organização Mundial de Saúde (CID-10) e o
Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, da Associação Psiquiátrica
Americana (DSM-IV), os sintomas depressivos devem estar presentes na maioria dos dias por
pelo menos duas semanas consecutivas e devem causar prezuízo funcional significativo.
Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre
os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças
clínicas, dentre outros. Pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes, ou a
circunstâncias sociais e econômicas adversas. Enquanto síndrome, a depressão inclui não
apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer,
apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas,
psicomotoras e vegetativas (sono, apetite). Finalmente, enquanto doença, a depressão tem
sido classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência dos
autores e do ponto de vista adotado. Entre os quadros mencionados na literatura encontram-
se: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno
bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, dentre outros (DEL PORTO, 1999).
Embora a característica mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos
sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os pacientes relatam a sensação subjetiva de
tristeza. Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas
atividades em geral e a redução do interesse pelo ambiente. Freqüentemente associa-se à
sensação de fadiga ou perda de energia, caracterizada pela queixa de cansaço exagerado (DEL
PORTO, 1999).
Ressalta-se a hipótese das monoaminas na depressão, a qual, por meio dos estudos
conduzidos com a reserpina, revelou-se que o principal mecanismo de ação desse fármaco
consistia em inibir o armazenamento neuronial de neurotransmissores amínicos, como a
serotonina e a norepinefrina (NA), o que induzia depressão. Assim, foi deduzido que a
depressão devia estar associada à diminuição da transmissão sináptica funcional dependente
de aminas (GOLAN et al., 2010).
Apesar da teoria das monoaminas, foi sugerido que o neurotransmissor dopamina
(DA) também participa da depressão. Um estudo sobre a avaliação do efeito antidepressivo
de uma substância demonstrou que, tal como a bupropriona (um inibidor seletivo da
recaptação de dopamina), o mecanismo subjacente ao efeito de diminuição do tempo de
26
imobilidade no teste de nado forçado em camundongos é dependente do aumento nos níveis
de dopamina na fenda sináptica (MELO et al., 2011).
Foi constatada uma atividade antidepressiva em uma variedade de estruturas químicas.
Entretanto, com a exceção da bupropiona, a ação antidepressiva central até mesmo dos
fármacos mais recentes deriva de mecanismos propostos para os antidepressivos, introduzidos
há quatro décadas. Os antidepressivos tricíclicos, assim denominados em virtude do núcleo
caraterístico com três anéis, vêm sendo utilizados clinicamente há quatro décadas. A
imipramina e a amitriptilina são os protótipos dessa classe de fármacos como inibidores
mistos da captação de norepinefrina e serotonina, embora também exerçam vários outros
efeitos (KATZUNG, 2007). Estudos têm sugerido uma ação antiinflamatória e analgésica para
o antidepressivo amitriptilina (VISMARI, 2010).
A pesquisa de moléculas com maior seletividade para o transportador da serotonina
levou à introdução da fluoxetina, um antidepressivo efetivo e mais seletivo, com toxicidade
autônoma mínima. Desde então, foram introduzidos quatro Inibidores Seletivos da
Recaptação de Serotonina (ISRS), bem como a forma enantiomérica ativa de um deles, o (S)-
citalopram. Todos são estruturalmente distintos das moléculas dos agentes tricíclicos
(GOLAN et al., 2010).
Os inibidores da Monoaminoxidase (MAO) podem ser classificados como hidrazidas,
exemplificadas pelo componente C-N-N, como no caso da fenelzina e da isocarboxazida, ou
como não-hidrazidas, que carecem desse componente, como a tranilcipromina. As hidrazidas
parecem combinar-se de modo irreversível com a enzima, enquanto a tranilcipromina possui
duração prolongada dos efeitos, apesar de não se ligar de forma irreversível. Esses inibidores
mais antigos da MAO são inibidores não-seletivos da MAO-A e da MAO-B. A selegilina, um
inibidor da MAO utilizado no tratamento da doença de Parkinson, que é seletiva para a MAO-
B em baixas doses, porém menos seletiva em doses mais altas, foi aprovada para o tratamento
da depressão maior (KATZUNG, 2007). Os fármacos mais recentes, de terceira geração,
incluem a venlafaxina, a mirtazapina, a nefazodona e a duloxetina.
Neste contexto, sabe-se que os fármacos que agem sobre o SNC produzem seus efeitos
pela modificação de alguma etapa da transmissão sináptica química. Os fármacos que agem
na síntese, no armazenamento, metabolismo e liberação dos neurotransmissores caem na
categoria pré-sinápico. Na região pós-sináptica, o receptor do transmissor fornece o local
primário de ação dos fármacos, podendo estes agirem tanto como agonistas do
neurotransmissor ou podem bloquear a função do receptor (RANG et al., 2012).
27
2.2 Neurotransmissores Centrais
Alguns dos neurotransmissores que atuam no SNC são os aminoácidos (GABA, glicina,
glutamato e o aspartato), acetilcolina, catecolaminas (dopamina, norepinefrina e epinefrina),
histaminas, peptídeos, purinas, entre outros (ALMEIDA, 2006).
2.2.1 Monoaminas
As monoaminas incluem as catecolaminas (dopamina e norepinefrina) e a 5-
hidroxitriptamina (KATZUNG, 2007; GOLAN et al., 2010). As aminas simpaticomiméticas -
catecolaminas contém o grupamento catecol que corresponde ao diidroxibenzeno (anel
benzeno).
A noradrenalina é formada a partir do aminoácido tirosina, de origem alimentar, que
chega até aos locais da biossíntese, como à medula adrenal, às células cromafins e às fibras
sinápticas por meio da corrente sangüínea. A tirosina é transportada para o citoplasma do
neurônio adrenérgico por meio de um carregador ligado ao sódio (Na+). A síntese de
dopamina segue a mesma via que a da noradrenalina, que consiste na conversão da tirosina
em dopa, seguida de descarboxilação para formar dopamina. Os neurônios dopaminérgicos
carecem de dopamina β-hidroxilase e, portanto, não produzem noradrenalina – Figura 1
(RANG et al, 2012). Esse é o ponto chave da sítese de dopamina, pois na ausência da enzima
dopamina β-hidroxilase nos neurônios dopaminérgicos não há conversão de DA em NA,
occorendo, assim, o acúmulo de DA nas vesículas sinápticas (VENÂNCIO, 2009).
28
Figura 1: Biossíntese das catecolaminas (RANG et al., 2012).
29
A dopamina é encontrada em quantidades mais abundandes no corpo estriado,
ocorrendo também em altas concentrações em certas partes do sistema límbico e hipotálamo.
A dopamina é, em grande parte, capturada após a sua liberação das terminações nervosas por
um transportador específico de dopamina. É metabolizada pela MAO e catecol-O-
metiltransferase (COMT), sendo os principais produtos o ácido diidroxifenilacético (DOPAC)
e o ácido homovanílico (HVA, o derivado metoxi do DOPAC) (RANG et al, 2012).
Os efeitos conseqüentes à diminuição na função do sistema dopaminérgico são,
reconhecidamente, demência e depressão, enquanto uma ativação desse sistema conduz à
psicose, ansiedade, confusão e agressão. No sistema de neurotransmissão dopaminérgico, a
atividade neuronal é modulada pela dopamina por meio de duas famílias de receptores
acoplados à proteína-G, os receptores do tipo D1R (D1 e D5) e os do tipo D2R (D2, D3 e D4).
Essa classificação é baseada na estimulação ou inibição, respectivamente, da atividade da
adenilato ciclase (ARAÚJO et al., 2006).
Sobre a 5-hidroxitriptamina (5-HT) é sintetizada a partir do triptofano pela triptofano
hidroxilase (Figura 2), e o suprimento do triptofano é um evento taxa-limitante na síntese de
5-HT, que por sua vez é degradada pela monoamina oxidase em ácido 5-hidroxindolacético
(5-HIAA) (PAGE et al., 2004). A serotonina está envolvida em praticamente todos os
comportamentos tais como o apetite, atividade motora, nocicepção, sexual e humor
(VENÂNCIO, 2009).
30
Figura 2: Biossíntese e metabolismo da 5-hidroxitriptamina (RANG et al., 2012).
31
O principal sítio dos corpos celulares serotonérgicos localiza-se na área da ponte
superior e do mesencéfalo. Os núcleos medianos e dorsais da rafe são as áreas clássicas de
neurônios contendo 5-HT. Os neurônios dos núcleos das rafes se projetam para os gânglios
basais e para várias partes do sistema límbico, e estão amplamente distribuídos ao longo dos
córtices cerebrais, além das conexões cerebrais. Todos os receptores 5-HT identificados até
agora são acoplados à proteína G, exceto o receptor 5-HT3 que é operado por um canal de
Na+/K+ (PAGE et al., 2004).
2.2.2 Aminoácidos Neurotransmissores
O glutamato é o neurotransmissor excitatório predominante no SNC de mamíferos. Esse
neurotransmissor medeia a transmissão química na maioria das sinapses do SNC e está
envolvido em muitos processos fisiológicos importantes, desde o desenvolvimento da
formação das sinapses à aprendizagem e memória. Outros aminoácidos excitatórios, tais como
L-aspartato (ASP), podem exercer ações similares. Uma estimativa bruta é que mais de 50%
de todas as sinapses no SNC são glutamatérgicas (ALMEIDA, 2006). O glutamato é liberado
na fenda sináptica pela exocitose dependente de Ca2+. O glutamato liberado age nos
receptores pós-sinápticos de glutamato e é eliminado pelos transportadores de glutamato
presentes na glia circundante. Na glia, o glutamato é convertido em glutamina pela glutamina
sintetase, liberado da glia, captado pelo terminal nervoso e convertido de volta em glutamato
pela enzima glutaminase, conforme a Figura 3 (KATZUNG, 2007).
O sistema glutamatérgico inclui receptores ionotrópicos e receptores metabotrópicos.
Os receptores glutamatérgicos metabotrópicos (mGluR) agem por meio de segundos
mensageiros via ativação da proteína G. Em condições fisiológicas, a ativação de mGluRs via
glutamato produz uma corrente pós-sináptica lenta. Os mGluRs estão presentes em todas a
regiões do cérebro e vêm sendo considerados um dos maiores moduladores de segundo
mensageiros no SNC em mamíferos. Os receptores ionotrópicos contêm canais iônicos que
quando ativados permitem a entrada de Na+ e K+ favorecendo a despolarização do neurônio.
Eles são divididos em receptores NMDA e receptores não-NMDA, que, por sua, vez incluem
os receptores alfa-amino-3-hydroxi-5-methyl-4 lisoxazole propionic acid (AMPA) e kainato.
Os receptores AMPA e kainato se localizam em regiões telencefálicas e mediam a
transmissão rápida em sinapses excitatórias. Quando ativados, estes receptores induzem uma
despolarização rápida do neurônio pós-sináptico que dura somente alguns milisegundos
(BRESSAN; PILOWSKY, 2003).
32
Outro importante aminoácido no SNC é o GABA, formado a partir do glutamato pela
ação da descarboxilase do ácido glutâmico (DAG), uma enzima encontrada apenas nos
neurônios sintetizadores de GABA no cérebro. O GABA atua como transmissor inibitório em
muitas vias diferentes do SNC. É liberado principalmente por interneurônios curtos, mas
também por tratos GABA-érgicos longos que seguem seu trajeto até o cerebelo e o estriado. A
ampla distribuição do GABA, e o fato de praticamente todos os neurônios serem sensíveis a
seu efeito inibitório, sugerem que a sua função é ubíqua no cérebro. Foi estimado que o
GABA atua como transmissor em cerca de 30% de todas as sinapses no SNC. Em comum
com o glutamato e com vários outros transmissores do SNC, o GABA atua em dois tipos
distintos de receptores: um deles (o receptor GABAA) consiste num canal regulado por
ligante, enquanto o outro (GABAB) é um receptor acoplado à proteína G. Os
benzodiazepínicos, que exercem poderosos efeitos sedativos e ansiolíticos, potencializam
seletivamente os efeitos do GABA sobre os receptores de GABAA (RANG et al., 2012).
O receptor GABAA é um canal iônico acionado por ligante, consistindo de um
aglomerado pentamérico, construído pela associação de 18 ou mais subunidades diferentes. A
subunidade α do complexo pentamérico ocorre em seis isoformas (α1–α6). Diferentes efeitos
benzodiazepínicos podem, assim, estar ligados a diferentes subtipos de receptores de GABAA,
sugerindo a possibilidade de desenvolvimento de novas substâncias com efeitos mais seletivos
do que os benzodiazepínicos existentes (GOLAN et al., 2010; VENÂNCIO, 2009).
Outro neurotransmissor de ação inibitório é a glicina. Está presente em concentrações
particularmente elevadas na substância cinzenta da medula espinhal. Aplicada
ionoforeticamente aos neurônios motores ou aos interneurônios, ela produz hiperpolarização
inibitória que é indistinguível da resposta sináptica inibitória. No entanto, o efeito inibitório
da glicina é distinto de seu papel na ativação facilitadora dos receptores de NMDA. O
receptor de glicina é semelhante ao receptor GABAA sendo um canal iônico multimérico
regulado por ligante. Foram encontradas mutações nos receptores da glicina em alguns
distúrbios neurológicos hereditários associados a espasmos musculares e heperexcitabilidade
reflexa. A glicina também está envolvida na convulsão, visto que drogas como a estricnina,
um veneno com atividade convulsivante que atua principalmente sobre a medula espinhal,
bloqueia tanto a resposta inibitória sináptica quanto a resposta à glicina (RANG et al., 2012).
Ressalta-se que para que o glutamato exerça seus efeitos, há necessidade da presença da
glicina, que também atua sobre seu próprio canal de Cl- operado por receptor (PAGE et al.,
2004).
33
Figura 3: Metabolismo dos aminoácidos transmissores no cérebro (RANG et al., 2012).
34
A taurina, ou ácido 2-aminoetanosulfônico, é um dos aminoácidos livres mais
abundantes em diferentes tecidos, sendo essencial para o funcionamento do sistema nervoso
central dos mamíferos, atuando na osmorregulação, estabilização e manutenção da integridade
da membrana neuronal, e na neuroproteção e controle da homeostasia do cálcio
(SARANSAARI e OJA, 2007). Taurina regula um número incomum de fenômenos
biológicos, incluindo o ritmo cardíaco, a função contrátil, a pressão arterial, agregação
plaquetária, a excitabilidade neuronal, temperatura corporal, aprendizagem, comportamento
motor, o consumo de alimentos, a visão, motilidade espermática, proliferação e viabilidade
celular, metabolismo energético e síntese de ácidos biliares (SCHAFFER; TAKAHASHI;
AZUMA, 2000).
Áreas cerebrais como córtex pré-frontal, hipocampo e corpo estriado têm sido
amplamente estudadas (CHAVES, 2012; VENÂNCIO, 2009) com o objetivo de avaliar
alterações em neurotransmissores.
2.3 Áreas cerebrais: Córtex Pré-frontal, Hipocampo e Corpo estriado
As áreas cerebrais estudadas no presente estudo serão o córtex pré-frontal (CPF), o
hipocampo (HC) e o corpo estriado (CE).
O córtex pré-frontal compreende a maior parte do lobo frontal, situado rostralmente ao
córtex pré-motor. É bem desenvolvido apenas em primatas e especialmente em humanos.
Acredita-se que ele desempenhe um papel no julgamento e comportamento afetivos. Lesões
no córtex pré-frontal levam à deficiência das funções executoras, como tomada de decisões,
atribuição de prioridades e planejamento. Estas deficiências costumam manifestar-se em
associação com alterações na emoção e de comportamento social. O córtex pré-frontal é
caracterizado por apresentar três divisões: dorsolateral, ventromedial e medialsuperior. Por
meio de suas conexões com córtices de associação de outros lobos e com o hipotálamo,
tálamo medial e corpo amigdalóide, o córtex pré-frontal recebe informação de todas as
modalidades sensitivas, assim como sobre estados motivacionais e emocionais (AFIFI;
BERGMAN, 2007).
O córtex pré-frontal funcionalmente regula a liberação de dopamina no estriado
dorsolateral, que é mediado por receptores do ácido γ-aminobutírico tipo GABA-A alterando
as funções de locomoção e rearing nos camundongos (CHAVES, 2012).
O hipocampo é uma estrutura complexa que ocupa a porção medial do assoalho do
corno temporal, formando um arco ao redor do mesencéfalo. Anatomicamente, pode ser
dividido em cabeça, corpo e cauda (ISOLAN et al., 2007). Portanto, é constituído de duas
35
massas neuronais, uma em cada hemisfério, encurvadas e mergulhadas na intimidade do
córtex temporal. Em suas trajetórias no sentido ventral, elas se conectam na linha mediana
pelas comissuras hipocampais e projetam-se na área septal, por meio do giro supracaloso. O
septo e o hipocampo constituem-se no substrato neural do sistema de inibição
comportamental que é ativado pelas situações de estresse emocional ou ansiedade
(BRANDÃO; LACHAT; COIMBRA, 2005).
O hipocampo (e suas estruturas adjacentes dos lobos temporal e parietal, em conjunto
chamadas de formação hipocâmpica) tem inúmeras conexões, porém, principalmente,
indiretas com muitas porções do córtex cerebral, assim como as estruturas basais do sistema
límbico – a amígdala, o hipotálamo, o septo e os corpos mamilares. Quase todos os tipos de
experiências sensoriais causam ativação de, pelo menos, alguma parte do hipocampo, e, por
sua vez, o hipocampo distribui muitos sinais eferentes para o tálamo anterior, o hipotálamo e
outras partes do sistema límbico, especialmente pelo fórnix, uma importante via de
comunicação. Assim, o hipocampo é um canal adicional por meio do qual os sinais sensoriais
aferentes podem iniciar reações apropriadas do comportamento, com objetivos diferentes. Da
mesma forma como para as outras estruturas límbicas, a estimulação de áreas diferentes do
hipocampo pode causar quase todos os padrões comportamentais diferentes, tais como prazer,
raiva, passividade ou excesso de impulso sexual (GUYTON; HALL, 2002).
O termo corpo estriado refere-se aos núcleos caudado, putame e globo pálido. Os
termos estriado, estriado dorsal e neostriado referem-se aos núcleos caudado e putame. Os
neurônios neostriatais são de dois tipos: espinhosos e não-espinhosos. O neostriado adulto é
composto de dois compartimentos: o compartimento de estriossomos contém células
fracamente marcadas para acetilcolinesterase, intercaladas por áreas fortemente marcadas, o
compartimento da matriz. Além das diferenças na reação para acetilcolinesterase, os dois
compartimentos diferem nas suas aferências, eferências, neurotransmissores,
neuromoduladores, fontes de aferências dopaminérgicas e distribuição de subtipos de
receptores dopaminérgicos (AFIFI; BERGMAN, 2007).
A maioria dos neurônios no globo pálido e da parte reticular da substância negra é
composta de grandes neurônios multipolares de projeção. Interneurônios são freqüentes.
Todos os neurônios palidais e nigrais usam o GABA como neurotransmissor inibitório. Os
neurônios palidais e nigrais são aproximadamente 100 vezes menos numerosos que os
neurônios estriatais espinhosos, fornecendo, portanto, convergência de aferências do estriado
para o pálido (AFIFI; BERGMAN, 2007).
36
2.4 Estresse oxidativo e as doenças do SNC
2.4.1 Radicais Livres
O conhecimento sobre os radicais livres de oxigênio tem despertado grande interesse
nas últimas décadas, pelo papel desempenhado por essas moléculas em várias situações
clínicas como choque hemodinâmico, septicemia, resposta inflamatória sistêmica, hepatites
fulminantes, hepatite alcoólica, transplante de órgãos, insuficiência cardíaca e respiratória,
entre outras. O ponto comum a todas essas situações clínicas é a existência de microambientes
de hipóxia seguidos por reoxigenação, ou de isquemia seguidos por reperfusão, condições que
propiciam a geração desses radicais livres (ANDRADE JÚNIOR et al., 2005).
Radical livre é definido como um átomo ou uma molécula que contém um ou mais
elétrons não pareados. Eles alteram a reatividade química de um átomo ou de uma molécula,
normalmente tornando-os mais reativos (HAESER, 2006). Portanto, os radicais livres são
formados em um cenário de reações de óxido-redução, isto é, ou cedem o elétron solitário,
oxidando-se, ou recebem outro, reduzindo-se. Em condições fisiológicas do metabolismo
celular aeróbio, o O2 sofre redução tetravalente, com aceitação de quatro elétrons, resultando
na formação de H2O (FERREIRA; MATSUBARA, 1997). Contudo, se ocorrer redução do
oxigênio por um número menor de elétrons, diferentes radicais livres de oxigênio
intermediários podem ser formados, como ilustrado a seguir (ANDRADE JÚNIOR et al.,
2005):
Assim, as principais Espécies Reativas de Oxigênio (ERO) são: singlet de O2,
hidroxila (*OH), superóxido (*O2-) e o peróxido de hidrogênio (H2O2). Ressalta-se, ainda, o
envolvimento das Espécies Reativas de Nitrogênio (ERN) no estresse oxidativo.
O Peróxido de hidrogênio (H2O2) não é um radical livre, mas pode reagir com ânion
superóxido e formar o radical hidroxila (HAESER, 2006). Pode reagir com metais redox-
ativos como ferro e cobre, produzindo novos radicais livres de oxigênio. Além disso, tem
meia vida longa e grande capacidade de se difundir pelas membranas celulares hidrofóbicas
37
(com difusão semelhante à da água), ampliando o efeito tóxico da reoxigenação (ANDRADE
JÚNIOR et al, 2005).
O oxigênio singlet (1O2) também não é um radical, mas pode sofrer rearranjo de
elétrons que o torna mais reativo, ficando no estado excitado, sendo que pode gerar luz
química (quimioluminescência) quando muda do estado excitado para seu estado
fundamental, reagindo com cadeias laterais de ácidos graxos poliinsaturados dos lipídeos de
membrana e, assim, formando peróxidos (HAESER, 2006).
Sobre o superóxido (*O2-), há muitos anos tem-se acreditado que o superóxido é
certamente “super-oxidante” e pode oxidar diretamente biomoléculas pelo chamado ciclo de
Haber-Weiss. Mas agora é bem conhecido que a via prejudicial que pode ser iniciada pelo
superóxido é a reação de Fenton, em que os íons ferrosos decompõem o (H2O2) para os
radiciais hidroxila (*OH): altamente reativos (AFANAS’EV, 2010):
O radical hidroxila (*OH) é considerado a ERO mais reativa em sistemas biológicos.
A combinação extremamente rápida do OH. com metais ou outros radicais no próprio sítio
onde foi produzido confirma sua alta reatividade (FERREIRA; MATSUBARA, 1997). Este
radical livre reage amplamente com aminoácidos, fosfolípides, ácido desoxirribonucleico,
ácido ribonucleico e ácidos orgânicos (ANDRADE JÚNIOR et al., 2005).
Outro radical livre fisiológico é o óxido nítrico (NO), o qual é produzido pelo
endotélio vascular, por fagócitos e no cérebro pela enzima óxido nítrico sintetase (HAESER,
2006). O NO é o principal mediador citotóxico de células imunes efetoras ativadas e constitui
a mais importante molécula reguladora do sistema imune. Tem um papel como
mensageiro/modulador em diversos processos biológicos essenciais. No entanto, o NO é
potencialmente tóxico. A toxicidade se faz presente, particularmente, em situações de estresse
oxidativo, geração de intermediários do oxigênio e deficiência do sistema antioxidante. A
determinação de ativadores e inibidores específicos da síntese de NO constitui o novo desafio
para o entendimento e o tratamento de várias doenças, e tem sido um dos principais alvos da
indústria farmacêutica (DUSSE; VIEIRA; CARVALHO, 2003).
O óxido nítrico (NO) é um radical livre produzido endogenamente a partir da oxidação
de um dos nitrogênios do grupo guanidino terminal do aminoácido L-arginina por oxigênio
38
molecular. Essa biossíntese é catalisada por uma família de enzimas denominadas óxido
nítrico sintases (NOS), as quais podem ser inibidas por análogos estruturais da L-arginina que
possuem grupos substituintes no grupo guanidino terminal. O NO tem significativa
reatividade com espécies químicas diversas tais como oxigênio, ânion superóxido, grupos
tióis e metais de transição, sendo que os íons nitrito (NO2-) e nitrato (NO3
-) são os produtos
finais estáveis da oxidação do NO no entorno fisiológico (TEIXEIRA, 2001).
39
Figura 4: Óxido nítrico e as enzimas óxido nítrico sintases (SANTIAGO et al., 2000).
40
O óxido nítrico foi descoberto em sistemas biológicos muitos anos depois que
superóxido. NO é também relativamente um radical livre inativo, mas pode reagir
rapidamente com superóxido, formando peroxinitrito reativo (AFANAS'EV, 2010):
·O2
− + ·NO → ONO2−
No cérebro, o NO é produzido pela NOS neuronal quase que exclusivamente pela
ativação dos receptores glutamatérgicos do tipo NMDA. Apesar dos neurônios que contêm
NOS representarem apenas 1% das células neuroniais, a ramificação de seus axônios é tão
extensa que parece atingir a grande maioria das células cerebrais (SALUM; PEREIRA;
GUIMARAES, 2008). Há evidências de que a formação excessiva de NO possa ser
neurotóxica. Uma série de estudos tem demonstrado que a estimulação da produção de NO
pelos substratos de NOS, NG-hidroxi-L-arginina (H-ARG) ou L-arginina, produz um
aumento da liberação de DA e de GLU no estriado e em outras regiões cerebrais. Por sua vez,
a inibição de NOS por meio de inibidores enzimáticos como o 7-nitroindazole (7-NI) produz
efeito oposto (KISS; VIZI, 2001).
A reação dos radicais livres com as estruturas celulares de diversos sistemas e órgãos
ocorre de maneira diferente dependendo do tecido analisado. Enquanto alguns deles podem
ser altamente reativos no organismo atacando lipídios, proteínas e DNA, outros são reativos
apenas com os lipídios (MICHELETTI, 2009).
Os ácidos graxos poli-insaturados contidos nas membranas celulares fazem com que
essas sejam potentes geradoras de radicais livres, alcoxila (LO•) e peroxila (LO2•), por meio
da lipoperoxidação. Tal processo constitui-se de reações em cadeia, representadas pelas etapas
de iniciação, propagação e terminação (FERREIRA; MATSUBARA, 1997). Com a ajuda de
metais catalíticos, a decomposição dos hidroperóxidos resulta na formação dos radicais
alcoxil e peroxil que podem iniciar uma reação em cadeia, propagando a peroxidação lipídica.
A seguinte sequência de reações ilustra o fenômeno (ANDRADE JÚNIOR et al., 2005):
41
O processo de peroxidação lipídica pode causar modificações em alguns aminoácidos
como triptofano, cisteína, histidina e tirosina, responsáveis pela formação de algumas
proteínas, gerando doenças mutagênicas. O resíduo de triptofano, quando atacado por
espécies radicalares, perde o grupamento aromático e consequentemente não participa mais
no processo bioquímico normal (ROVER JUNIOR et al., 2001).
Os radicais livres de oxigênio são difíceis de se detectar nos ensaios experimentais
pela sua meia vida curta. Para superar essa dificuldade técnica, muitos métodos têm surgido
baseados na detecção de produtos estáveis formados pela ação dos radicais livres de oxigênio
em substratos específicos. Os hidroperóxidos são os produtos estáveis formados durante a
peroxidação de lipídios insaturados, como ácidos graxos e colesterol. Entre os métodos
disponíveis para a detecção dos hidroperóxidos, destacam-se o TBARS e o método químico
FOX (ferrous oxidation in xylenol orange). O método TBARS é um dos mais utilizados para
estudos de peroxidação lipídica, e é baseado na reação do malondialdeído com o ácido
tiobarbitúrico (ANDRADE JÚNIOR et al., 2005).
2.4.2 Sistema de defesa antioxidante
Sobre o sistema de defesa antioxidante, sabe-se que o estado de estresse oxidativo é
resultante de um desequilíbrio entre as moléculas pró e antioxidantes, comumente associado a
danos celulares (MAGALHÃES; FRIES; KAPCZINSKI, 2012).
Para manter a homeostase, é essencial o equilíbrio entre a geração de agentes pró-
oxidantes e o sistema de defesa antioxidante (MICHELETTI, 2009). Os antioxidantes atuam
em diferentes níveis na proteção dos organismos: O primeiro mecanismo de defesa contra os
radicais livres é impedir a sua formação, principalmente pela inibição das reações em cadeia
com o ferro e o cobre. Os antioxidantes são capazes de interceptar os radicais livres gerados
pelo metabolismo celular ou por fontes exógenas, impedindo o ataque sobre os lipídeos, os
aminoácidos das proteínas, a dupla ligação dos ácidos graxos poliinsaturados e as bases do
DNA, evitando a formação de lesões e perda da integridade celular. Os antioxidantes obtidos
da dieta, tais como as vitaminas C, E e A, os flavonóides e carotenóides são extremamente
importantes na intercepção dos radicais livres (BIANCHI; ANTUNES, 1999).
Outro mecanismo de proteção é o reparo das lesões causadas pelos radicais. Esse
processo está relacionado com a remoção de danos da molécula de DNA e a reconstituição
das membranas celulares danificadas. Em algumas situações pode ocorrer adaptação do
organismo em resposta a geração desses radicais com o aumento da síntese de enzimas
antioxidantes (BIANCHI; ANTUNES, 1999).
42
Os antioxidantes são agentes responsáveis pela inibição e redução das lesões causadas
pelos radicais livres nas células. Eles podem ser classificados em antioxidantes enzimáticos:
superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), NADPH-quinona oxidoredutase, glutationa
peroxidase (GSH-Px), enzimas de reparo. Os antioxidantes não enzimáticos compreendem:
alfa-tocoferol (vitamina E), Ácido ascórbico (vitamina C), flavonóides, proteínas do plasma,
Glutationa (GSH), L-cisteína (MICHELETTI, 2009).
Ressaltam-se, ainda, os minerais no sistema de defesa não-enzimático como: zinco,
cobre, magnésio e selênio. Estudo mostrou que a suplementação de selênio ou selênio e
magnésio simultaneamente melhorou significativamente a defesa antioxidante e foi mais
eficaz contra o estresse oxidativo induzido por álcool, alterações da função hepática e
metabolismo do colesterol do que o uso isolado de magnésio (MARKIEWICZ-GO'RKA et
al., 2011).
Portanto, muitas das reações radicalares prejudiciais in vivo são evitadas ou modificadas
pela ação de agentes inibidores ou antioxidantes. Por exemplo, no caso de superóxidos, a
enzima SOD age como agente de defesa contra esta espécie, enquanto as enzimas catalase e
GSH-Px atuam sobre H2O2 (ROVER JUNIOR et al., 2001).
Catalase, enzima localizada em peroxissomos, catalisa a conversão do peróxido de
hidrogênio em água e oxigênio molecular, considerando que GSH-Px varre o peróxido de
hidrogênio na presença de GSH, obtendo-se a glutationa oxidada (GSSG) e água (WOJCIK;
BURZYNSKA-PEDZIWIATR; WOZNIAK, 2010).
As propriedades multifuncionais da glutationa estão refletidas num interesse crescente
desta molécula como parte integrante de investigações às mais diversas, incluindo
mecanismos enzimáticos de regulação antioxidante, biossíntese de macromoléculas, câncer,
toxicidade devido à oxigenoterapia prolongada e mais recentemente associações com lesões
oxidativas em DNA. Um dos papéis do ciclo redox da glutationa e enzimas que compõem seu
metabolismo é o de manter os níveis de hidroperóxidos lipídicos a níveis controlados, para
evitar danos celulares provenientes do ataque desses radicais (ROVER JÚNIOR et al., 2001).
A enzima glutationa redutase é responsável pela recuperação da glutationa à sua forma
reduzida (GSH). Esse processo ocorre na presença de nicotinamida adenina dinucleotídeo
fosfato (NADPH) (FERREIRA; MATSUBARA, 1997; ROVER JÚNIOR et al., 2001;
WOJCIK; BURZYNSKA-PEDZIWIATR; WOZNIAK, 2010).
43
Figura 5: Estresse oxidativo. Ânion superóxido pode evoluir para radical hidroxila. Também pode reagir com o óxido nítrico para formar peroxinitrito. Ambas as espécies são os principais responsáveis pelo dano oxidativo. SOD: superóxido dismutase; CAT: catalase; GSH: glutationa reduzida; GSH-perox.: glutationa peroxidase; GSSG: glutationa oxidada; GSH red.: glutationa redutase. Fonte: MADRIGAL et al., 2006.
44
2.4.3 Sistema de defesa antioxidante no Sistema Nervoso Central
As células cerebrais são vulneráveis ao estresse oxidativo. O cérebro tem um conteúdo
lipídico relativamente alto, com grande quantidade de ácidos graxos insaturados, os quais são
substratos para os radicais livres e a peroxidação lipídica. Atividades de enzimas
antioxidantes, como a catalase e glutationa peroxidase, e níveis des moléculas antioxidantes,
como a glutationa (GSH) e vitamina E, são baixas no cérebro. O cérebro é rico em ferro que
pode ser um poderoso catalisador para formação de hidroxila (BOVERIS;
OPORTUNIDADE, 1973; TURRENS, 1997). Além disso, o SNC tem uma capacidade
limitada de regeneração. Estas características tornam o cérebro particularmente sensível a
danos oxidativos (ARMAGAN; KANIT; YALCIN, 2011).
Mecanismos de defesa antioxidantes, tais como GSH, catalase, superóxido dismutase
(SOD), GSH-Px e vitamina E, normalmente impedem ou limitam a produção de ERO e danos
teciduais neuronais (ARMAGAN; KANIT; YALCIN, 2011).
Ressalta-se que tem havido interesse em compreender as interações dos
neurotransmissores centrais e o sistema de defesa antioxidante, possivelmente envolvidos em
desordens como ansiedade, depressão e outras condições neurológicas.
Estudos pré-clínicos já demonstraram que os níveis de vitaminas E e C estão reduzidos
em soro de pacientes deprimidos. Além disso, drogas antidepressivas demonstraram
propriedades antioxidantes e alguns antioxidantes têm efeitos antidepressivos (SCAPAGNINI
et al., 2012).
Além da relação entre depressão e estresse oxidativo, outro estudo demonstrou a ação
de drogas antipsicóticas. Na pesquisa, o estresse oxidativo foi induzido pela cetamina por
elevação da peroxidação lipídica, aumento da atividade da catalase e da concentração de
nitrito. No entanto, os antipsicóticos típicos e atípicos reverteram os efeitos da cetamina sobre
estresse oxidativo, mostrando atividade de neuroproteção nas áreas cerebrais estudadas
(SAMPAIO, 2011).
Os efeitos antioxidantes de fármacos usados no tratamento de distúrbios psiquiátricos
também têm sido alvos de investigação. Foi demonstrado que o emprego do clonazepam
como agente antidepressivo, associado a seu efeito ansiolítico, é de especial interesse para
pacientes diabéticos insulino-dependentes, uma vez que a ansiedade também está presente
nesta doença. Outra vantagem do emprego deste fármaco é que ele parece diminuir o estresse
oxidativo de animais diabéticos. Atuando como antioxidante, o clonazepam pode diminuir o
efeito das ERO sobre os sistemas, reduzindo algumas complicações secundárias nos
diabéticos, como, por exemplo, a encefalopatia diabética (HAESER et al., 2007).
45
Ainda no tocante ao estresse oxidativo e ansiedade, outro estudo avaliou a influência
do Labirinto em Cruz (LCE), um teste comportamental amplamente utilizado para avaliar o
efeito de drogas ansiolíticas, na geração do estresse oxidativo e demonstrou que este teste
comportamental pode causar alterações oxidativas importantes no SNC (MICHELETTI,
2009).
Em outro estudo, a avaliação dos efeitos do ácido lipóico (AL) no conteúdo de
glutamato e taurina no hipocampo de ratos durante convulsões induzidas por pilocarpina
demonstrou que o pré-tratamento com o antioxidante reduziu significativamente o nível de
glutamato e aumentou os níveis de taurina no hipocampo dos ratos, quando comparado ao
grupo pilocarpina, sugerindo que o efeito protetor poderia ser alcançado com pré-tratamento
com ácido lipóico, provavelmente pelo aumento da liberação ou redução da taxa de
metabolização dos aminoácidos durante as convulsões (SANTOS et al., 2011).
Muitos compostos de origem vegetal vêm sendo avaliados quanto ao potencial
antioxidante no SNC, tais como o Extrato de Ginkgo biloba (EGb 761) (URÍKOVÁ et al.,
2006), dentre outros. Pesquisa conduzida com Dioscorea pseudojaponica Yamamoto
demonstrou que, nas doses de 100 ou 500 mg/kg, houve melhora das alterações cognitivas,
como também aumentou a atividade de enzimas antioxidantes endógenas no cérebro de ratos
(CHUAN-SUNG et al., 2009). Cabe ressaltar que os tubérculos dessa espécie contêm
saponinas esteroidais.
46
2.5 Saponinas e Sapogeninas esteroidal
Dá-se o nome de saponinas (do latim sapon = sabão) a um grupo de glicoconjugados
que se dissolvem na água e diminuem sua tensão superficial de modo que, ao se agitar suas
soluções, forma-se uma espuma abundante e relativamente estável. A estrutura das saponinas
consiste em uma porção oligossacarídea formada por carboidratos como glicose, galactose, N-
acetilglucosamina, ácido glicurônico, xilose, ramnose ou metilpentose ligada a uma porção
aglicona (não-acúcar), insolúvel em água, chamada genericamente de sapogenina e quando
esta possui um esqueleto esteroidal, ela é chamada de sapogenina esteroidal - Figura 6
(SILVA, 2008).
Figura 6: Estrutura geral das saponinas esteroidais (SILVA, 2008).
Saponinas já foram descritas em mais de 100 famílias botânicas (DUNDER, 2009). As
saponinas incluem uma grande variedade de moléculas que podem apresentar várias
aplicações na farmacologia como antiinflamatória, antitumoral, hipocolesterolêmica, anti-
HIV, antibacteriana, antifúngica, moluscicida e atividade anti-Leishmania (COSTA et al.,
2011; SILVA et al., 2005).
Dentre as plantas ricas em saponinas esteroidais, citam-se as plantas da família
Agavaceae, principalmente do gênero Agave, com destaque para Agave sisalana, conhecida
como sisal. A composição química, atividades biológicas e farmacológicas da Agave sisalana
foram descritas nos resultados (Artigo 1) desta tese.
47
Justificativa e Relevância
A realização de pesquisas com compostos bioativos presentes nas plantas representa
uma oportunidade para se obter benefícios à saúde da população. Conforme explicitado, o
Ministério da Saúde (2012) tem encorajado o desenvolvimento de estudos com plantas
tradicionais. Estudos sobre a ação de moléculas isoladas de plantas no SNC revestem-se de
fundamental importância devido o cérebro ser considerado a área de controle de quase todas
as atividades vitais.
A hecogenina, isolada de A. sisalana, possui diversas atividades farmacológicas como
antiinflamatória, antifúngica, antitumoral, vasodilatadora e gastroprotetora (CERQUEIRA et
al., 2009; DUNDER et al., 2010). No entanto, ainda considera-se escasso o conhecimento
acerca do potencial terapêutico de hecogenina, sendo ainda mais raros os estudos sobre sua
ação no SNC.
Tabach (2011) explica que o estudo com plantas medicinais que possuam um efeito
sobre o SNC se faz necessário, pois grande parte da população mundial possui baixo poder
aquisitivo e não tem acesso a medicamentos de origem sintética; além disso, a procura por
novas ferramentas terapêuticas para o tratamento de doenças cujos efeitos colaterais estejam
ausentes ou em menor intensidade do que seu equivalente sintético é uma das metas de toda a
pesquisa pré-clínica e clínica da atualidade.
Em se tratando de neuropatologias associadas aos radicais livres, grandes esforços têm
sido empregados para a identificação e graduação da capacidade antioxidante de extratos
vegetais e de fitoterápicos isolados de plantas (ALMEIDA, 2006), visto que o estresse
oxidativo está envolvido na gênese de várias doenças como as neurodegenerativas. Ressalta-
se que o bloqueio da produção de radicais livres com o uso de hecogenina foi demonstrado
em um estudo (CERQUEIRA et al., 2011). No entanto, é necessário estudar a ação
antioxidante dessa susbstância no SNC.
Sabendo-se que a espécie vegetal saponínica Agave sisalana está largamente presente
no Nordeste, é importante buscar suas ações no SNC, por meio de estudos farmacológicos,
trazendo, assim, perspectivas de uso medicinal da Agave sisalana. Destaca-se também a
integração de pesquisadores do Nordeste para o desenvolvimento deste projeto, fortalecendo
os Grupos de pesquisa da região e promovendo avanço científico e tecnológico. Espera-se que
a hecogenina possa contribuir para a descoberta de novos agentes a serem utilizados como
alternativas terapêuticas relacionadas às doenças do sistema nervoso central, o que poderá
contribuir ainda para agregar valor à produção da planta no Nordeste.
48
3 OBJETIVOS
Estudar os efeitos comportamentais, neuroquímicos e antioxidante após a administração
aguda e em doses repetidas de hecogenina isolada da espécie Agave sisalana em
camundongos.
Artigo 1:
• Fazer uma revisão sistemática acerca da composição química, atividades biológicas,
aspectos farmacológicos de Agave sisalana Perr., ressaltando desde os aspectos botânicos
da planta, prováveis mecanismos de ação e toxicidade.
Artigo 2:
• Determinar os efeitos comportamentais da administração aguda e em doses repetidas da
hecogenina, isolada de Agave sisalana Perrine, em camundongos por meio dos modelos
de ansiedade, depressão e atividade motora.
Artigo 3:
• Verificar as concentrações de aminoácidos excitatórios e inibitórios no córtex pré-frontal
(CPF), hipocampo (HC) e corpo estriado (CE) de camundongos após a administração
aguda de hecogenina.
Artigo 4:
• Determinar as concentrações das monoaminas (dopamina (DA), norepinefrina (NA),
serotonina (5-HT)), e seus metabólitos (ácido 3,4-hidroxifenil (DOPAC), ácido
homovanílico (HVA) e 5 ácido hydroxiindolacético (5-HIAA)) no corpo estriado de
camundondos após administração aguda de hecogenina.
Artigo 5:
• Avaliar o efeito da administração aguda e em doses repetidas de hecogenina sobre
parâmetros de estresse oxidativo em CPF, HC e CE de camundongos.
49
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Material Vegetal
A folha de Agave sisalana Perrine foi coletado de várias plantações de sisal, na
cidade de Santa Rita, Estado da Paraíba, Brasil, em abril de 2007. A exsicata, L.P. Felix
6246 (EAN) está depositada no Herbário Prof. Lauro Pires Xavier (JPB), Universidade
Federal da Paraíba, Brasil.
Hecogenina foi obtida pelo Pesquisador Dr. José Maria Barbosa Filho do Laboratório
de Tecnologia Farmacêutica - Universidade Federal da Paraíba (UFPB) seguindo a
metodologia de Jaffer et al (1983); Agrawal et al (1985); Kim et al (2001). As amostras das
folhas secas de A. sisalana (5 kg) foram extraídas com seis litros de álcool etílico (etanol)
95% em um aparelho de Soxhlet por 24 horas. O solvente foi removido sob pressão reduzida
e o resíduo foi hidrolisado sob refluxo por quatro horas com 1,5 litros de ácido hidroclórico
etanólico 2N. A mistura reacional foi coletada e filtrada. A fração ácida insolúvel foi lavada
com água, solução de carbonato de sódio e água, até neutralizar. Depois de seco, o resíduo
ácido insolúvel foi extraído com hexano em um aparelho Soxleht por 12 horas. O extrato
hexânico foi levado à um refrigerador por 24 horas. Após este período, um precipitado foi
formado. O precipitado foi filtrado e depois recristalizado em acetona, formando 1g de
hecogenina (0,02%), m.p. 256-258°C (lit.1 258 – 260°C). A hecogenina encontrada é
idêntica a uma amostra autêntica (co-TLC e mixed m.p.). 1H- e 13C-NMR (500 e 125 MHz)
o espectro da hecogenina está de acordo com a literatura previamente citada (AGRAWAL et
al., 1985; JAFFER et al., 1983). O acetato de hecogenina foi obtido por reação de acetilação
da hecogenina com uma mistura de anidrido acético/piridina (KIM et al., 2001). O
sobrenadante foi concentrado e o resíduo foi submetido à cromatografia em coluna e
cromatografia líquida em camada delgada com fase fixa sílica gel produzindo mais
hecogenina (0.35 g, 0.007 %), 200 – 202 o C (lit.5 200 – 202 o C). A estrutura da hecogenina
usada neste estudo é mostra na Fig. 7.
50
Figura 7: Estrutura Molecular da Hecogenina.
4.2 Animais
Foram utilizados camundongos Swiss machos, pesando 25-35g, provenientes do
Biotério da Universidade Federal do Ceará (UFC). Todo o manejo e manutenção desses
animais, antes, durante e após experimentação, seguiu as regras de manutenção e
manipulação de animais de laboratório, preconizadas pelo Colégio Brasileiro de
Experimentação Animal (COBEA, 2008). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa Animal (CEPA) da UFC (Nº protocolo 44/2010).
51
4.3 Reagentes e Drogas
Quadro 1: Reagentes e Drogas utilizados nos experimentos
Drogas Origem
Ácido perclórico Sigma® – USA
Ácido Tiobarbitúrico Sigma® – USA
DA, 5-HT, DOPAC, HVA e 5-HIAA
Sigma® – USA
Diazepam Cristália Prod. Química Farm. Ltda® (São Paulo, Brasil)
Flumazenil Cristália Prod. Química Farm. Ltda® (São Paulo, Brasil)
GABA, Glutamato, Glicina, Taurina, Aspartato
Sigma – USA
Imipramina Novartis Biociências S.A. ® (São Paulo, Brasil)
Reserpina Sigma Chem. Co. ® (St. Louis, MO, USA)
Tween 80 Vetec Química Farm. Ltda® (Rio de Janeiro, Brasil)
vitamina E Laboratório Teuto®, Brasil
52
4.4 Equipamentos
Quadro 2: Equipamentos utilizados nos experimentos
Equipamentos Origem
Balança analítica Modelo H5, Mettler, Suíça
Balança para animais Filizola ID-1500 – (Brasil)
Banho-maria Modelo 102/1, FANEN, SP, Brasil
Campo Aberto para camundongos Fabricação própria
Centrífuga refrigerada Modelo 215 – Fanem (Brasil)
Cronômetros Incoterm, Brasil
Deionizador USF Elga, USA
Equipamento de Cromatografia Líquida da
Alta Performance (HPLC) Detector de
fluorescência e eletroquímico
Shimadzu, Japão
Freezer Legacy Sistem, U.S.A
Guilhotina Harvard, USA
Homogeinizadores elétricos Bellico, USA
Labirinto em Cruz Elevado para
camundongos
Fabricação própria
Material cirúrgico
Micropipetas, H.E. Pedersen, Dinamarca
Placa Perfurada Ugo Basile, Italy
Sonicador Modelo PT 10-35. Brinkmann Instruments Inc. NY, USA
53
4.5 Protocolo de tratamento agudo para os testes de comportamento
4.5.1 Avaliação da atividade exploratória da hecogenina no teste de campo aberto
No teste do campo aberto (Quadro 3), foram usados os grupos: controle (Tween 80
4%); HEC 5, 10, 20 ou 40 mg/kg; diazepam (DZP) 2 mg/kg. Todos os grupos foram tratados
por via intraperitonial (ip) e 30 minutos depois os animais foram submetidos aos testes de
campo aberto, labirinto e Placa Perfurada. A via de administração intraperitoneal foi escolhida
para este estudo devido a baixa absorção das saponinas no trato gastrointestinal (DUNDER et
al., 2010).
Quadro 3 – Esquema do teste do campo aberto
Archer, 1973
30 minutos
Rearing GroomingALE (número de travessias)
5 minutos
Hecogenina
Teste do Campo Aberto
54
4.5.2 Avaliação da atividade ansiolítica da hecogenina e envolvimento do sistema
GABAérgico no Teste do Labirinto em cruz elevado
Os grupos usados no teste de labirinto foram divididos da seguinte forma: controle
(Tween 80 4 %), hecogenina (HEC) 5, 10, 20 ou 40 mg/kg; diazepam (DZP) 1 mg/kg;
flumazenil (FLU) 2,5 mg/kg; DZP 1 mg/kg + FLU 2,5 mg/kg; FLU 2,5 mg/kg + HEC 20 ou
40 mg/kg.
Os animais tratados com FLU 2,5 mg/kg associado a HEC na dose de 20 ou 40 mg/kg
foram submetidos ao seguinte protocolo: administrou-se FLU-2,5 e 15 minutos depois foi
injetado HEC e, então, após 30 minutos foram submetidos ao experimento.
55
Quadro 4 – Teste do Labirinto em Cruz Elevado
Quadro 4A
Quadro 4B
56
4.5.3 Avaliação da atividade ansiolítica da hecogenina e envolvimento do sistema
GABAérgico no Teste da Placa Perfurada
Referente à placa perfurada, os camundongos foram tratados da seguinte forma:
controle (Tween 80 4 %); HEC 20 ou 40 mg/kg; diazepam (DZP) 1 mg/kg; flumazenil (FLU)
2,5 mg/kg; DZP 1mg/kg + FLU 2.5 mg/kg; FLU 2.5 mg/kg + HEC 20 ou 40 mg/kg.
Quadro 5 – Teste de Placa Perfurada
Quadro 5A
Quadro 5B
57
4.5.4 Avaliação da atividade antidepressiva da hecogenina no teste de suspensão de cauda
O tempo de imobilidade dos animais foi avaliado por meio do teste de suspensão de
cauda. A imipramina (IMI), um antidepressivo clássico, foi usada sozinha como controle
positivo. Reserpina (RES), uma droga que causa depleção das aminas biogênicas
(Noradrenalina, dopamina e serotonina), também foi utilizada como controle positivo. Os
animais foram divididos em sete grupos: controle (Tween 80 4 %), hecogenina (HEC) 5, 10,
20 ou 40 mg/kg; Imipramina (IMI) 10 mg/kg e RES 2 mg/kg.
Com o intuito de avaliar o mecanismo de ação do efeito antidepressivo da HEC 5, 10,
20 ou 40 mg/kg, RES 2 mg/kg foi administrada 10 minutos antes da HEC e o teste foi
realizado 30 minutos depois (ARAGÃO et al., 2006).
58
Quadro 6 – Teste de suspensão de cauda
Quadro 6A
Quadro 6B
Os esquemas dos quadros 3, 4 e 5 foram elaborados a partir do trabalho de Chaves
(2012).
59
4.6 Protocolo de tratamento em doses repetidas para os testes de comportamento
Na segunda fase dos experimentos, os animais foram assim agrupados: 1) Controle –
Tween 80 4 %); 2) diazepam (DZP) 1 mg/kg; 3) HEC 20 mg/kg; 4) HEC 40 mg/kg; 5)
Imipramina (IMI) 10 mg/kg. Nesta fase, cada grupo de animais foi tratado diariamente com o
composto durante um período de 7 dias. Todas as administrações foram realizadas por via ip.
Os experimentos para avaliação dos efeitos comportamentais da administração em doses
repetidas da HEC, DZP ou IMI no SNC de camundongos por meio dos modelos de ansiedade,
depressão e atividade motora foram realizados no sétimo dia de tratamento após 30 minutos
da administração dos compostos citados.
4.7 Testes de comportamento
4.7.1 Avaliação da atividade exploratória - Teste do campo aberto
O campo aberto para camundongos é feito de acrílico (paredes transparentes e piso
preto, 30 x 30 x 15 cm) dividido em 9 quadrantes iguais. A metodologia de Archer (1973) foi
utilizada para avaliar a atividade exploratória do animal. Os principais parâmetros para
observação durante o teste: número de cruzamentos com as quatros patas (Atividade
Locomotora Espontânea - ALE), número de comportamentos de autolimpeza (“grooming”),
número de levantamentos (“rearing”), registrados durante um tempo de 5 minutos, após 1
minuto de habituação. A tendência natural do animal em um ambiente novo é a de explorá-lo,
apesar do conflito com o medo provocado pelo ambiente novo.
4.7.2 Avaliação da atividade ansiolítica - Teste do Labirinto em cruz elevado (“plus
maze”)
Sabe-se que para que novos ansiolíticos sejam desenvolvidos, é importante que se
façam testes em animais. Nesse contexto, um rato colocado em um ambiente ao qual não está
familiarizado normalmente responde ficando imóvel, embora alerta (supressão
comportamental) por algum tempo, o que pode representar ansiedade produzida pelo
ambiente estranho. Esta imobilidade se reduz se forem administrados ansiolíticos. O labirinto
em cruz elevada é um modelo de teste amplamente usado (RANG et al., 2012).
O labirinto em cruz elevado (LCE) (LISTER, 1990) consiste de dois braços abertos
opostos (30 x 5 x 25 cm) e dois fechados (30 x 5 x 25 cm), também opostos, em forma de
cruz. Os braços abertos e fechados estão conectados por uma plataforma central (5 x 5 cm). A
plataforma, as paredes laterais dos braços fechados são confeccionadas em acrílico
transparente e o chão em acrílico preto. O aparelho está elevado a uma altura de 45 cm do
60
nível do chão. Trinta minutos após a administração da HEC ou o veículo, os camundongos
foram colocados no centro do aparelho com a cabeça voltada para um dos braços fechados e o
seu comportamento observado por 5 min. As medidas comportamentais registradas no LCE
compreeenderam: frequência de entradas e o tempo despendido nos braços abertos e nos
fechados. Um aumento seletivo nos parâmetros correspondentes aos braços abertos revela um
efeito ansiolítico (PELOW et al. 1985), entre outros achados. Normalmente, os ratos passam a
maior parte do tempo nos braços fechados e evitam os braços abertos (medo, possivelmente,
de cair) (RANG et al., 2012).
4.7.3 Avaliação da atividade ansiolítica - Placa Perfurada (hole board)
O hole board consiste numa caixa quadrada de acrílico (50 x 50 cm) a 10 cm de altura,
com 16 orifícios e 2 cm de diâmetro, equidistantes uns dos outros e das bordas. Registrou-se o
número de vezes em que o animal introduziu o focinho nos orifícios da placa (CLARK et al.
1971) por um período de 5 minutos para avaliação de possível ação ansiolítica da hecogenina.
4.7.4 Avaliação do efeito antidepressivo – Teste de suspensão de cauda
Para o teste de suspensão de cauda, utilizou-se o método descrito por Porsolt et al.
(1978). Os camundongos foram suspensos pela cauda na borda de uma plataforma 58 cm
acima de uma mesa com fita adesiva colocados cerca de 1 cm da ponta da cauda. A duração
da imobilidade foi registrada durante um período de cinco minutos. Cada animal foi utilizado
apenas uma vez.
4.8 Testes Neuroquímicos
4.8.1 Protocolo de tratamento para os experimentos sobre estresse oxidativo
Protocolo agudo: Os animais foram divididos em 6 grupos, recebendo HEC via ip
nas doses de 5, 10, 20 ou 40 mg/kg; animais controle receberam Tween 80 4% ou vitamina
E (400 mg/kg) pela mesma via. Após 30 minutos de administração, os animais foram
sacrificados e as áreas do cérebro como CPF, HC e CE (Figura 8) isoladas e
homogeneizadas para avaliação da peroxidação lípídica, atividade da catalase e
determinação de Nitrito/Nitrato.
Protocolo em doses repetidas: Os experimentos relacionados a avaliação antioxidante
da hecogenina após 7 dias de tratamento dos animais somente foram realizados com as doses
61
que mostraram atividade farmacológica nos testes comportamentais e no tratamento agudo
citado.
Figura 8: Áreas cerebrais dissecadas (VENÂNCIO, 2009).
4.8.1.1 Avaliação da peroxidação lipídica
A peroxidação lipídica foi analisada determinando-se a concentração de
malonildialdeído (MDA), uma das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), em
homogenatos (HUONG et al., 1998). Resumidamente, as amostras foram misturadas com
tampão fosfato 50 mM de potássio (pH 7,4), e 63 µL de homogenato foram misturados com
100 µL de ácido perclórico a 35%. As amostras foram então centrifugadas (3,350 g/10 min) e
150 µL dos sobrenadantes foram recuperados e misturada com 50 µL de ácido tiobarbitúrico a
1,2%. A mistura foi, então, colocada em banho de água e aquecida por 30 minutos em 95-
100°C. Depois que a solução foi resfriada, a absorbância foi medida em comprimento de onda
de 532 nm e os resultados expressos como µmol MDA/g de tecido.
4.8.1.2 Avaliação da atividade da catalase
A atividade da enzima catalase foi medida por meio do método que emprega a geração
H2O e O2 a partir do peróxido de hidrogênio (MAEHLY; CHANCE, 1954). A atividade da
enzima foi medida pelo grau desta reação. Uma alíquota das amostras (20 µl) foi adicionada a
62
980 µl de meio reativo (H2O2 15%, Tampão Tris-HCl 1 M; EDTA 5 mM pH 8,0; H2O Milli-
Q). As absorbâncias inicial e final foram gravadas a 230 nm após o 1º e 6º minuto,
respectivamente. Uma curva padrão foi estabelecida utilizando catalase pura (Sigma, MO,
USA) sob condições idênticas. Todas as amostras foram diluídas com 0,1 mmol/l de tampão
fosfato (pH 7.0) para provocar 50% de inibição da taxa de diluente. Os resultados foram
expressos em µM/min/µg de proteína.
4.8.1.3 Determinação de Nitrito/Nitrato
A concentração de nitrito foi determinada nos cérebros dos camundongos
homogeneizados imediatamente após a decapitação em todos os grupos. Após centrifugação
(800×g/10 min), o sobrenadante do homogenato foi coletado e a produção de Óxido Nítrico
(NO) foi determinada com base na reação Griess 50 (GREEN; TANNENBAUM;
GOLDMAN, 1981). Para tanto, 100µL do sobrenadante foi incubado com 100µL do reagente
de Griess (sulfanilamine em 1% H3PO4/0.1% N-(1-naftil) etilenodiamina-dicloridrato / 1%
H3PO4 / água destilada, 1:1:1:1) em temperatura ambiente por 10 min. A absorbância foi
medida em leitor de microplaca a 550nm. A curva padrão foi preparada com várias
concentrações de NaNO2 (variando de 0,75-100 µM) e os resultados expressos em µmol/g de
tecido.
4.8.2 Protocolo de tratamento para Dosagem de Aminoácidos e Monoaminas
Foram realizadas dosagens de aminoácidos no CPF, HC e CE e Monoaminas no CE.
Assim, após 30 minutos da administração aguda da HEC, os animais foram sacrificados por
rápida decapitação e seus cérebros foram removidos e lavados em salina gelada. As regiões
cerebrais citadas foram dissecadas, congeladas e armazenadas a -70 ºC até serem utilizadas
para os ensaios.
63
4.8.2.1 Dosagem de Aminoácidos
Para a determinação das concentrações de aminoácidos, utilizou-se o equipamento de
HPLC (High Performance Liquid Chromatography) com detector de fluorescência (Figura
9). A espectroscopia de fluorescência pode ser usada como um método de detecção específica,
e é um dos mais sensíveis para compostos que fluorescem. Fluorescência pode ser
desenvolvida em compostos não fluorescentes por reações de derivatização realizadas pré ou
pós-coluna (HALLMAN, SUNDSTRÖM, JOSSON et al., 1984).
Figura 9: Aparelho de HPLC com detecção de Fluorescência e eletroquímica – Soluções Reagentes (AGUIAR, 2002).
Os tecidos cerebrais foram sonicados em ácido perclórico (HCLO4) por 30s e
centrifugados por 15 minutos em centrífuga refrigerada a 15.000 rpm. O sobrenadante foi
separado e filtrado por meio de uma membrana (millipore - 0,2 µm) e, posteriormente,
associado a uma solução de derivatização pré-coluna, para obtenção de fluorescência, em uma
proporção de 1:1. Um minuto depois do início dessa associação uma alíquota de 20 µl foi
retirada e injetada no equipamento de HPLC para a análise química.
Para a análise dos aminoácidos, uma coluna CLC-ODS (M) com comprimento de 15
cm, calibre 4,6 mm e diâmetro da partícula de 3 m, da Shimadzu-Japão foi utilizada. A fase
móvel foi utilizada em gradiente com duas fases: A- NaH2PO4 (50mM) e metanol (20%, v/v)
em pH 5,5; B- Metanol puro (100 %). Aspartato (ASP), Glutamato (GLU), Glicina (GLI),
Taurina (TAU) e GABA foram detectados com uso de um detector de fluorescência (Modelo
RF-535 da Shimadzu, Japão) com comprimento de ondas de EX-Wavelength (370 nm) e EM-
64
Wavelength (450 nm). Os cromatogramas foram registrados e quantificados por um
computador usando um software da Shimadzu. A quantidade dos aminoácidos foi calculada
por comparação da altura dos picos obtidos com a média dos padrões e os resultados
expressos em µmol/g de tecido.
4.8.2.2 Determinação das concentrações das monoaminas e seus metabólitos
O CE foi utilizado para preparar homogenatos a 10%. Os tecidos cerebrais foram
sonicados em ácido perclórico (HCLO4) por 30 s e centrifugados por 15 minutos em
centrífuga refrigerada a 15.000 rpm. Uma alíquota de 20 µl do sobrenadante foi, então,
injetada no equipamento de HPLC com detecção eletroquímica, para a análise química.
Para a análise das monoaminas, uma coluna CLC-ODS(M) com comprimento de 25
cm, calibre 4,6 mm e diâmetro da partícula de 3 µm, da Shimadzu-Japão, foi utilizada. A fase
móvel utilizada foi composta por tampão ácido cítrico 0,163 M, pH 3,0, contendo ácido
octanosulfônico sódico, 0,69 M (SOS), como reagente formador do par iônico, acetonitrila 4
% v/v e tetrahidrofurano 1,7 % v/v. Dopamina (DA), DOPAC (Ácido diidroxifenilacético
(DOPAC), Ácido homovanílico (HVA), Serotonina (5-HT), Ácido 5-hidroxiindolacético (5-
HIAA) e Noradrenalina (NE) foram eletronicamente detectados usando um detector
amperométrico (Modelo L-ECD-6A da Shimadzu, Japão) pela oxidação em um eletrodo de
carbono vítreo fixado em 0,85 V relativo a um eletrodo de referência de Ag-AgCl. Os padrões
foram preparados em uma concentração final de 4 ng de NE, DA, 5-HT, DOPAC, HVA e 5-
HIAA (Sigma, MO, EUA). A partir da altura ou área dos picos desses padrões, as amostras
foram calculadas no programa Microsolf Excel e os resultados expressos em ng/g de tecido.
4.9 Análise Estatística
As análises foram realizadas por meio da análise de variância (ANOVA), usando o
software Prism 5.0. versão para Windows, GraphPad Software (San Diego, CA, EUA). Para
avaliação da significância, comparações múltiplas foram feitas com ANOVA e por Tukey
como post hoc testes. Os resultados foram considerados significativos para p <0,05 e
apresentados como média ± EPM.
65
5 RESULTADOS
Artigo 1
Composição química, atividades biológicas e farmacológicas de Agave sisalana Perrine e
seus constituíntes
Submetido à: Revista Brasileira de Farmacognosia
66
Composição química, atividades biológicas e farmacológicas de Agave sisalana Perrine e
seus constituíntes
Abreu, R.N.D.C.a,b, Barbosa-Filho, J.Mc, Ximenes, N.C.d, Santos Júnior, M.A.S.d, Sampaio,
L.R.Lb,d, Macêdo, D.S.d, Camila Maria de Araújo Silveirad, Manoel Claudio Azevedo
Patrocínioe, Silvânia Maria Mendes Vasconcelosd
aRENORBIO – Rede Nordeste de Biotecnologia, UECE – Paranjana, 1700 – Campus Itaperi
– 60740-000 Fortaleza, CE, Brasil; bUniversidade de Fortaleza – Avenida Washington Soares, 1321, Edson Queiroz – 60.811-
905, Fortaleza, CE, Brasil. cUniversidade Federal da Paraíba, Cidade Universitária - 58051-900 João Pessoa, PB, Brasil.
dDepartamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal
do Ceará, Rua Cel. Nunes de Melo, 1127 – 60430-270, Fortaleza, CE, Brasil. e Faculdade Christus, Rua João Adolfo Gurgel, 133 – 60190-060, Fortaleza, CE, Brasil.
RESUMO: Objetivou-se fazer uma revisão sistemática, utilizando bancos de dados,
programas de pesquisa científica e em livros relacionados, acerca da composição química,
atividades biológicas, aspectos farmacológicos de Agave sisalana Perr., ressaltando desde os
aspectos botânicos da planta, prováveis mecanismos de ação e toxicidade. Pesquisas
realizadas com Agave sisalana e seus constituíntes demonstraram algumas atividades
biológicas como: anti-helmíntica, antiinflamatória, antinociceptiva, antioxidante, antifúngica,
antimicrobiana, antitumoral e gastroprotetora. No entanto, ainda considera-se escasso o
conhecimento acerca do potencial terapêutico de alguns dos constituíntes da espécie Agave
sisalana, como a hecogenina.
Palavras-chave: Atividade Farmacológica; Agave sisalana; hecogenina; composição
química.
67
INTRODUÇÃO
A realização de pesquisas com compostos bioativos constituíntes de plantas representa
uma oportunidade para se obter produtos com alto valor agregado. A tarefa dos pesquisadores
sobre produtos naturais é selecionar aqueles compostos com interesse farmacêutico por meio
de fracionamento biomonitorado das “bibliotecas combinatórias de produtos naturais”
produzidos por extração e depois colaborar na otimização e desenvolvimento da estrutura do
composto com ação principal do produto natural (RUFATTO et al., 2012).
Os estudos dos usos tradicionais de plantas e seus produtos vêm aumentando
progressivamente nos últimos anos na região Nordeste do Brasil. Pesquisas têm sido
realizadas na área de neuropsicofarmacologia com compostos extraídos de plantas
(HONÓRIO JUNIOR et al., 2012; LIMA et al., 2012; SOUSA et al., 2012; VASCONCELOS
et al., 2011). Dentre essas, evidenciam-se os estudos sobre a ação de Agave sisalana Perrine e
alguns de seus constituíntes, como as sapogeninas, no Sistema Nervoso Central de
camundongos (SAMPAIO et al., 2012).
Agave sisalana Perrine, popularmente conhecida como sisal, é cultivada por sua fibra,
com valor ornamental e medicinal. A planta ocupa o sexto lugar entre as plantas fibrosas, o
que representa 2% da produção mundial de fibras vegetais (fibras da planta fornecem 65% das
fibras do mundo). No entanto, a indústria de produção da fibra de sisal produz alta quantidade
de resíduos usando atualmente apenas cerca de 2% da planta como fibra. A planta contém
saponinas úteis para a fabricação de sabão e com importância farmacológica
(MUTHANGYA; MSHANDETE; KIVAISI, 2009; DEBNATH et al., 2010). Neste sentido,
tornam-se necessários estudos que abordem a utilização dos constituíntes da planta visando o
seu maior aproveitamento.
A pesquisa tem como objetivo descrever a composição química, atividades biológicas,
aspectos farmacológicos de Agave sisalana Perr., ressaltando desde os aspectos botânicos da
planta, prováveis mecanismos de ação e exemplos experimentais de toxicidade. Trata-se de
uma revisão sistemática, utilizando programas de pesquisa científica e em livros, dissertações
e teses acerca da referida espécie.
68
RESULTADOS
Agave sisalana Perrine
Agave sisalana Perrine pertence à família Agavaceae, e tem, principalmente, uma
distribuição pantropical, especialmente em regiões áridas. Esta família possui distribuição
predominantemente pantropical, especialmente em regiões áridas, incluindo cerca de 25
gêneros e 650 espécies. No Brasil ocorrem quatro gêneros e cerca de 20 espécies. A. sisalana
é uma planta produtora de fibra, cujo cultivo é uma alternativa econômica para as áreas secas
do Nordeste do Brasil (SOUZA; LORENZI, 2005).
O sisal é uma planta originada do México (ANDRADE; ORNELAS; BRANDÃO,
2012). No entanto, na região semiárida do Nordeste Brasileiro está inserida a região sisaleira,
responsável pela quase totalidade da produção de A. sisalana do Brasil, a qual é a maior do
mundo (BRANDÃO et al., 2011).
Aspectos botânicos
A. sisalana é uma planta perene, herbácea, ciclo de vida entre 8 a 10 anos, quase
acaulescente com folhas grandes, que variam de 1,2 a 2,0m de comprimento, dispostas em
espiral, em geral carnosas, duras, de coloração verde-lustrosa, convexas e canaliculadas na
parte superior, apresentando ápice pungente, margem irregularmente acauleada e pendão
floral de aproximadamente 6 a 9 metros de altura por 15 cm de diâmetro (Figura 1). Os
frutos do sisal são cápsulas com cerca de 3,0 cm de comprimento e 2,0 cm de diâmetro, três
lóculos, nos quais as sementes, delgadas, de forma redondo-triangular, de cor preta e leves, se
distribuem em duas colunas (SOUZA, 2009). O plantio é feito utilizando os ramos novos que
nascem na base da planta mãe ou por meio dos bulbilhos, emitidos pela planta quando atinge
o final do ciclo de vida. Após o plantio, o sisal leva aproximadamente três anos para ser
colhido pela primeira vez. Após a primeira colheita, o sisal é colhido anualmente
(ANDRADE; ORNELAS; BRANDÃO, 2012).
69
Figura 1: Agave sisalana Perrine.
Fonte: BELLAKHDAR, 1997.
70
Cultivo e aplicações dos coprodutos
Na região Nordeste do Brasil, a integração lavoura sisaleira-pecuária é uma realidade.
Alguns produtores utilizam a mucilagem, coproduto gerado após a obtenção da fibra das
folhas do sisal, como alimento volumoso para os animais na forma de silagem e feno ou,
ainda, submetem os seus campos de sisal ao pastejo, permitindo que os animais se alimentem
do extrato herbáceo entre as fileiras de sisal e dos bulbilhos - pequenas plantas de 5 a 10 cm,
que caem do escapo floral das plantas de sisal. Outros coprodutos do sisal, como o pó da
batedeira - material oriundo da varredura de galpões de armazenamento e processamento da
fibra -, o pseudocaule - parte interna do bulbo da planta -, além dos bulbilhos, são potenciais
coprodutos utilizados pelos produtores de forma empírica, sem o conhecimento prévio do seu
valor nutricional (BRANDÃO et al., 2011).
Os principais empregos do sisal dizem respeito à fabricação de cordas, barbantes
grossos, tapetes, dentre outros. As folhas de A. sisalana encontram ainda aplicação na
obtenção de pasta celulósica para papel (RIZZINI; MORS, 1976). Com a indústria química
são fornecidos gorduras, cera, glicosídeo, álcool, ácidos adubos, além do emprego, na
alimentação animal, dos resíduos oriundos da extração da fibra (GONDIM; SOUZA, 2009).
Composição química
A composição química de extratos lipofílicos das fibras de Agave sisalana foi
estudada por Gutiérrez et al. (2008). Os compostos predominantes identificados foram:
ácidos graxos (30%), alcoóis graxos (20%), esteróis livres (11%) e alcanos (11%). Além
disso, outros hidrocarbonetos e cetonas esteroides, monoglicerídeos, aldeídos, ceras e
glicosídeos esteróis também foram encontrados, juntamente com pequenas quantidades de
diglicerídeos.
Uma investigação sobre a composição de resíduos líquidos da folha de sisal resultou
no isolamento de D-manitol do extrato etanólico. A presença de D-manitol nos resíduos de A.
sisalana pode agregar valor econômico à cadeia de produção de fibra de sisal no Nordeste do
Brasil. Este composto é amplamente utilizado na indústria farmacêutica para produção de
diurético e regulador osmótico e é também usado como matéria-prima para a produção de
vários tipos de polímeros (BRANCO et al., 2010).
Os extratos aquoso e metanólico da Agave sisalana foram preparados e avaliados para
as suas propriedades fitoquímicas. A análise fitoquímica revelou que a concentração de
saponinas era elevada no extrato aquoso, enquanto a mesma foi moderada no extrato
71
metanólico. Esteróides, taninos e flavonóides estavam presentes em concentrações moderadas
no extrato metanólico. No extrato aquoso foram encontrados apenas flavonóides em
concentração moderada, com esteróides e taninos em baixas concentrações. Glicosídeos
cardíacos estavam em baixa concentração no extrato metanólico e ausente no extrato aquoso
(HAMMUEL et al., 2011).
A purificação do extrato acetato de etila de A. sisalana possibilitou a obtenção de uma
fração contendo como componente majoritário um homoisoflavonóide e outra fração
contendo uma mistura de saponinas (BOTURA et al., 2013). Chen et al. (2009) isolaram três
flavonóides e 7 homoisoflavonóides a partir do extrato metanólico das folhas de A. sisalana
Perr.
A análise química do extrato aquoso de resíduos de sisal demonstrou a presença de
sapogeninas: hecogenina e tigogenina (BOTURA et al., 2011).
Tabela 1: Composição química dos diferentes extratos de A. sisalana
Extratos Composição química Referências
Fração lipofílica obtida do
extrato de acetona
Ácidos graxos
Alcoóis graxos
Alcanos
Monoglicerídeos
Aldeídos
Diglicerídeos
GUTIÉRREZ et al., 2008
Extrato etanólico D-manitol BRANCO et al., 2010
Extrato Metanólico e
extrato aquoso
Saponinas: hecogenina e
tigogenina
Glicosídeos cardíacos
Esteróides
Taninos
Flavonóides
• Homoisoflavonóides
HAMMUEL et al., 2011 CHEN et al., 2009
BOTURA et al., 2011
Acetato de etila Homoisoflavonóides
Alto índice de saponinas BOTURA et al., 2013
Extratos butanólico e
acetato de etila
Maior de índice de compostos
saponínicos
DAMASCENO, BRANCO
e SANTOS, 2012
72
Em outros estudos, a partir do resíduo do sisal, foram obtidos os extratos acetato de
etila, butanólico e aquoso. Ao realizar o teste de espuma foi verificada a presença de
compostos saponínicos. Os extratos butanólico e acetato de etila apresentaram maior índice de
espuma em relação ao aquoso, o que indica maior concentração de compostos saponínicos
nestes (DAMASCENO; BRANCO; SANTOS, 2012).
Saponinas
As saponinas (do latim sapon = sabão) são um grupo de glicoconjugados que se
dissolvem na água e diminuem sua tensão superficial de modo que, ao se agitar suas soluções,
forma-se uma espuma abundante e relativamente estável. A estrutura das saponinas consiste
em uma porção oligossacarídea formada por carboidratos como glicose, galactose, N-
acetilglucosamina, ácido glicurônico, xilose, ramnose ou metilpentose ligada a uma porção
aglicona, insolúvel em água, chamada genericamente de sapogenina e quando esta possui um
esqueleto esteroidal, ela é chamada de sapogenina esteroidal (SILVA, 2008).
No caso da A. sisalana, as sapogeninas (porção não glicosídica de uma saponina)
encontradas são: a tigogenina, a diosgenina e a hecogenina, registrando-se maior percentual
para esta última (PIZARRO et al., 1999). Outra molécula constituinte da A. sisalana, é a
barbougenina (BLUNDEN; PATEL; CRABB, 1986).
Dentre as plantas ricas em saponinas esteroidais, citam-se as plantas da família
Agavaceae, principalmente do gênero Agave, com destaque para A. sisalana. De modo geral,
o isolamento de sapogeninas tem importância significativa, já que muitas delas são utilizadas
como precursores de esteróides. A extração de sapogeninas é realizada através de hidrólises
(ácida, básica ou enzimática), seguida de extração por solvente orgânico (DUNDER, 2009).
A Figura 2 apresenta as estruturas químicas de algumas sapogeninas esteroidais
encontradas em A. sisalana. A estrutura (1) diosgenina é predominantemente encontrada em
plantas do gênero Dioscorea; hecogenina (2) é um contituínte majoritário da A. sisalana;
tigogenina (3) está presente também em espécies A. sisalana; barbourgenina (4) é contituinte
da A. sisalana (BLUNDEN; PATEL; CRABB, 1986; SILVA, 2008; TROUILLAS et al.,
2005; ZULLO et al., 1989).
73
Figura 2: Estruturas das sapogeninas esteroidais encontradas em Agave sisalana Perrine.
Estrutura (1) diosgenina; (2) hecogenina; (3) tigogenina; (4) barbourgenina.
Fonte: BLUNDEN; PATEL; CRABB, 1986; SILVA, 2008; TROUILLAS et al., 2005; ZULLO et al., 1989
1 2
3 4
74
A hecogenina é uma sapogenina esteroidal de peso molecular 430.63 e sua fórmula
estrutural é C27H42O4 e sua nomenclatura na IUPAC é: 3β-hidroxi-5α-spirostan-12-ona.
(Pharmaloialty) (DUNDER, 2009).
Pesquisadores como Zullo et al. (1989) determinaram os teores de sapogeninas
esteroídicas, hecogenina e tigogenina, em folhas secas de sisal (Agave sisalana) e dos híbridos
de A. amaniensis x A. Angustifolia, obtidos no Instituto Agronômico. Esses híbridos
mostraram maiores teores de sapogeninas (220-480mg/100g) do que o sisal (140 ±
28mg/100g), assim como maiores teores de tigogenina (148-217mg/100g). Apenas o híbrido
003B apresentou teor de hecogenina (99 ± 16mg/100g) significativamente maior que o
encontrado no sisal comum (26 ± 3mg/100g).
Atividades biológicas de Agave sisalana Perr. e seus constituíntes
A. sisalana apresenta atividades biológicas, como antiinflamatória, antinociceptivo
(DUNDER et al., 2010; GAMA et al., 2013), gastroprotetora (CERQUEIRA et al., 2012),
antitumoral (CORBIERE et al., 2003), antimicrobiana (SANTOS et al., 2009), antifúngica
(PIRES; PURCHIO, 1991), anti-helmíntica (DOMINGUES et al., 2010), inseticida
(PIZARRO et al., 1999; SOUZA, 2009), entre outras. Ver Tabela 2.
75
Tabela 2: Estudos sobre as atividades biológicas de A. sisalana
Extratos ou moléculas isoladas
de A. sisalana Atividades biológicas Referências
Diosgenina Apoptose induzida em células HepG2 através da família de proteínas Bcl-2.
CORBIERE et al., 2003
Diosgenina Controle e quimioproteção do câncer RAJU et al., 2008
Extrato acetato de etila
Potencial antifúngico e antioxidante DAMASCENO, BRANCO e
SANTOS, 2012
Sulco filtrado Inibição do crescimento de Aspergillus
flavos e Aspergillus parasiticus. PIRES e PURCHIO,
1991
Extrato hidroalcoólico Inibição significativa de Candida
albicans SANTOS et al., 2009
Hecogenina Efeitos gastroprotetores; propriedades antioxidantes; ação anti-inflamatória.
CERQUEIRA et al., 2012
Hecogenina Ação Neuroprotetora sobre os
parâmetros da peroxidação lipídica SAMPAIO et al.,
2012
Hecogenina
Diminuição da atividade enzimática de fosfolipase A2 secretória (sPLA2) de Crotalus durissus terrificus (Atividade
anti-inflamatória)
COTRIM, 2011.
Acetato de Hecogenina
Efeito Antinociceptivo GAMA et al., 2012
Extrato hidrolisado Anti-inflamatório e atividade
antinociceptiva DUNDER et al., 2010
Extrato das folhas Potencial antiparasitário in vivo em ovos, larvas e nematódeos adultos no trato
gastrointestinal.
SILVEIRA et al, 2012
Extrato aquoso Efeito moderado contra ovos e estágios
de vida livre de parasitas. BOTURA et al., 2011
Frações de flavonoides (FF) obtidas do extrato acetato de etila
Atividade in vitro contra nematódeos gastrointestinal em bodes.
BOTURA et al., 2013
Resíduo líquido Atividade antihelmíntica contra
nematódeos gastrointestinais do gênero Haemonchus spp.
DOMINGUES et al., 2010.
Resíduo líquido Atividade larvicida contra Culex
Quinquefasciatus. PIZARRO et al, 1999
Extratos hidroetanólico e
butanólico
Atividade inseticida contra Spodoptera frugiperda em milho.
SOUZA, 2009
76
Extrato metanólico e aquoso
Atividades antimicrobianas HAMMUEL et al,
2011
Atividade antiinflamatória
A resposta inflamatória está associada com uma gama de doenças, e é difícil de
estabelecer uma terapia eficaz para controlar os processos inflamatórios. Assim, existe uma
necessidade clara e evidente em pesquisar novos compostos para medicamentos,
especialmente aqueles derivados de plantas. Estudos com extratos, óleos e compostos de
várias espécies têm demonstrado atividades importantes (RUFATTO et al., 2012).
O conjunto de dados apresentados por Dunder et al. (2010) demonstra que o extrato
hidrolisado de Agave sisalana Perrine ex Engelm, Asparagaceae (EHAS) apresenta ações
significativas nos modelos clássicos de inflamação aguda em camundongos Swiss: O
tratamento com EHAS (500 mg/kg) reduziu significativamente o edema de orelha induzido
por xilol em duas vias (oral e intraperitoneal) em comparação com os controles salina e ácido
acetilsalicílico (AAS). O EHAS também diminuiu o edema induzido por carragenina nas duas
vias, quando comparado com os grupos controle salina e indometacina.
Neste mesmo estudo (DUNDER et al., 2010), no modelo crônico de inflamação
granuloma cotton pellet em ratos Wistars, EHAS (ip) bem como a dexametasona diminuiu o
tecido granulomatoso comparado com ao grupo controle com salina, isto sugere que o
potencial anti-inflamatório de sapogeninas pode está relacionada com a estrutura da molécula,
que é semelhante à estrutura de glicocorticóides (Figura 3).
77
Figura 3: Principais substâncias produzidas a partir da hecogenina.
Fonte: Silva, 2008
78
Os efeitos da hecogenina, isolada a partir de A. sisalana, na liberação de
mieloperoxidase (MPO) a partir de neutrófilos humanos foram avaliadas in vitro. O MPO (um
biomarcador para a inflamação) demonstrou que a inflamação foi significativamente
diminuída na presença de hecogenina (CERQUEIRA et al., 2012).
Outra pesquisa, realizada com o objetivo de avaliar o efeito da hecogenina sobre as
atividades catalítica e farmacológicas de uma isoforma de fosfolipase A2 secretória (sPLA2)
de Crotalus durissus terrificus em duas situações: pré-incubado e co-incubado, demonstrou
que a hecogenina, dependendo da dose, pode inibir ou estimular a atividade enzimática da
sPLA2. Nesta pesquisa, a hecogenina não apresentou potencial para bom antiinflamatório, já
que dependendo da dose, o composto inibiu ou potencializou a atividade catalítica (COTRIM,
2011).
Chen et al. (2009) isolaram três flavonóides e sete homoisoflavonóides de folhas de
sisal e descobriu-se que três homoisoflavonóides interferiram com a resposta celular imune e
inibiu a produção de interleucina-2 (IL-2) e interferon-γ pelas células mononucleares do
sangue periférico humano que tinham sido ativadas por fito-hemaglutinina. Os resultados
surgeriram que os homoisoflavonóides tiveram efeitos imunossupressores.
Efeito Antinociceptivo
Os efeitos do extrato hidrolisado de Agave sisalana (EHAS) sobre as contorções
abdominais induzidas por ácido acético em camundongos foram descritos por Dunder et al,
(2010). O ácido acético atua indiretamente pela liberação de mediadores endógenos como
prostaglandinas que estimulam os neurônios nociceptivos sensíveis a anti-inflamatórios não
esteroidais e drogas com efeito central. O efeito antinociceptivo de EHAS (500 mg/kg) sobre
as contorções abdominais mostrou inibição da estimulação dolorosa por 30,7% (vo) e 88,7%
(ip), comparado com aquele produzido pelo (AAS) 70.6%. Na pesquisa, os resultados
sugerem que esta atividade antinociceptiva está relacionada ao potencial anti-inflamatório de
sapogeninas esteroidais.
Outros autores (GAMA et al., 2013) investigaram as propriedades antinociceptivas do
acetato de hecogenina, isolada de A. sisalana, e seu mecanismo de ação. O efeito
antinociceptivo de hecogenina foi demonstrado no teste de retirada da cauda, o que indica um
efeito antinociceptivo central para esta molécula. Foram avaliados os efeitos do bloqueio
farmacológico dos receptores opióides sobre a atividade antinociceptiva do acetato de
hecogenina. A antinocicepção máxima produzida por acetato de hecogenina (40 mg/kg) foi
completamente evitada em camundongos pré-tratados com naloxona (5 mg/kg, ip, 15 minutos
antes), um antagonista não seletivo do receptor opióide, sugerindo uma atividade opióide
79
semelhante para esta sapogenina. De igual modo, a administração da µ-antagonista de
receptores opióides CTOP (1 mg/kg ip) 30 min após a administração do acetato de
hecogenina bloqueou o efeito antinociceptivo observado. O pré-tratamento com o antagonista
do receptor κ-opioide, nor-BNI (0,5 mg/kg sc, 15 minutos antes), ou o antagonista do receptor
opióide-δ, Naltrindole (3 mg/kg sc; 5 min antes), também preveniu a antinocicepção induzida
por hecogenina. Estes resultados sugerem que os receptores opióides desempenham um papel
importante no efeito antinociceptivo do acetato de hecogenina (GAMA et al., 2013).
Foram avaliados os efeitos do bloqueio farmacológico de canais de K+-ATP na
atividade antinociceptiva de acetato de hecogenina. O efeito antinociceptivo da hecogenina
(40 mg/kg) foi completamente evitado em camundongos pré-tratados com glibenclamida (2
mg/kg ip, 30 minutos antes). A função de acetato de hecogenina nos canais K +- ATP reforça
a hipótese do envolvimento do sistema opióide nos seus mecanismos de antinocicepção
(GAMA et al., 2013).
Atividade gastroprotetora
Resultados de pesquisa (CERQUEIRA et al., 2012) indicam que, hecogenina, possui
efeitos gastroprotetores significativos, em ambos os modelos de etanol e úlcera induzida por
indometacina. Estes efeitos gastroprotetores foram confirmados por testes histológicos e
COX-2 pela técnica de imuno-histoquímica. Além disso, o fármaco apresenta propriedades
antioxidantes, como foi observado com o aumento no conteúdo de GSH e o bloqueio da
lipoperoxidação e da produção de radicais livres. O estudo de Cerqueira et al (2012) também
postulou que hecogenina participa no mecanismo da integridade da mucosa gástrica por meio
da ativação de canais K+ATP pois seus efeitos foram revertidos pelo pré-tratamento com a
glibenclamida, um potente antagonista desses canais.
Atividades no Sistema Nervoso central
A elevada concentração de lípidos insaturados no cérebro e o metabolismo deste órgão
ser basicamente aeróbico fazem deste tecido muito susceptível ao dano peroxidativo
(ZERVOS et al., 2011). Sampaio et al. (2012) demonstrou ação neuroprotetora relacionada à
diminuição da peroxidação lípídica em áreas cerebrais de camundongos após administração
intraperitonial da hecogenina (5 ou 10 mg/kg) isolada de A. sisalana.
Nos testes de indução de convulsão com pentilenotetrazol (PTZ), hecogenina, nas
doses estudadas (5 ou 10 mg/kg – ip), não apresentou ação anticonvulsivante (ALMEIDA et
al., 2012). As mesmas doses foram estudadas para avaliação do efeito sedativo da hecogenina,
80
quando foi demonstrado que a molécula não potencializou a ação do pentobarbital na latência
do sono em camundongos (SANTOS JÚNIOR et al., 2012).
Para avaliar possíveis efeitos miorrelaxante ou sedativo inespecíficos de acetato de
hecogenina, os ratos foram submetidos ao teste Rota rod. No estudo, efeitos de relaxamento
ou déficit motor foram descartados, uma vez que a administração de acetato de hecogenina
em doses antinociceptivas (40 mg/kg) não afetou o desempenho motor de ratos no teste
(GAMA et al., 2013).
Antitumoral
Corbiere et al. (2003) descobriu que a diosgenina, hecogenina e tigogenina, têm um
efeito anti-proliferativo em células de osteossarcoma humano 1547. No entanto, apenas
diosgenina causou um forte bloqueio do ciclo celular associado a apoptose. Este efeito
biológico parece correlacionado com um grande aumento da expressão da proteína p53. Raju
et al. (2009) destaca a atividade biológica de diosgenina que contribui para a
quimioprevenção e controle do câncer. O modo de ação antineoplásica de diosgenina tem sido
demonstrado através da modulação de múltiplos eventos de sinalização celular que envolve
candidatos moleculares críticos associados com o crescimento, diferenciação, apoptose, e
oncogênese. Os resultados pré-clínicos implicam o uso de diosgenina como agente
quimiopreventivo e terapêutico à base de múltiplos alvos contra vários tipos de câncer.
Ainda sobre os efeitos farmacológicos da hecogenina, embora de forma menos
acentuada que a diosgenina, essa sapogenina esteroidal também apresenta propriedades
antiproliferativas e pró-apoptóticas em determinados tipos de linhagens de células cancerosas
(CORBIERE et al., 2003; TROUILLAS et al., 2005).
Propriedades antimicrobiana e antiparasitária
As propriedades antimicrobiana e antiparasitária de compostos presentes em plantas
como produtos do metabolismo secundário têm sido conhecidos empiricamente durante
séculos, mas só recentemente eles têm sido cientificamente confirmados. Extratos e óleos
essenciais de plantas provaram a sua eficácia no controle do crescimento de uma ampla
variedade de microrganismos, incluindo bactérias, fungos, parasitas e outros (RUFATTO et
al., 2012).
Em uma pesquisa, o suco de A. sisalana nas concentrações testadas in vitro foi efetivo
contra nematódeos gastrintestinais de caprinos. No entanto, foi detectada reduzida eficácia
anti-helmíntica quando administrado esse resíduo por via oral em animais (DOMINGUES et
al., 2010).
81
Recentemente, foi avaliada a atividade anti-helmíntica in vivo de um extrato aquoso do
resíduo de sisal (Agave sisalana) contra nematódeos gastrintestinais em caprinos. O extrato
aquoso de resíduos de sisal demonstrou uma baixa eficácia contra parasitas em estágios
parasitários. No entanto, o extrato foi moderadamente eficaz contra ovos e estágios de vida
livre do parasita e não causou qualquer toxicidade nos caprinos (BOTURA et al., 2011).
Os resultados obtidos nos testes in vitro com nematoides gastrintestinais permitem
inferir que os extratos, aquoso, acetato de etila e a fração flavonoíde obtidos do resíduo de A.
sisalana têm elevado efeito ovicida, sendo que a substância responsável por esta atividade
possivelmente é um homoisoflavonóide. No entanto, no ensaio com larvas infectantes, a
fração saponínica mostrou maior atividade sobre a migração larvar. Dessa forma, a atividade
anti-helmíntica de A. sisalana possivelmente está relacionada aos compostos
homoisoflavonóides e saponinas, que apresentaram ação diferenciada sobre estádios
específicos dos nematóides (BOTURA et al., 2013).
A literatura atesta ainda a atividade antifúngica da espécie. Portanto, o suco filtrado da
folha de Agave sisalana apresenta substância inibitória do crescimento de fungos, como
Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus (PIRES; PURCHIO, 1991). Outra pesquisa
contribuiu para identificação das atividades biológicas de Agave sisalana e apresentou
resultados positivos para a atividade antioxidante, e de inibição de Candida albicans com o
extrato de acetato de etila, sendo o extrato butanólico mais ativo do que os demais na
avaliação antimicrobiana (DAMASCENO; BRANCO; SANTOS, 2012).
Em outro estudo, o extrato hidroalcoólico obtido a partir de folhas e a partir de
resíduos de sisal mostrou uma inibição significativa de Candida albicans, por outro lado, era
inativo contra três cepas de Staphylococcus aureus, duas cepas de Escherichia coli, uma cepa
de Micrococcus luteus, Bacillus cereus, Pseudomonas aeruginosa e Salmonella choleraesuis.
O extrato metanólico mostrou alguma ação contra C. albicans, quando comparados com os
extratos acima (SANTOS et al., 2009). Foi descrito outro efeito de Agave como antisséptico e
a inibição do crescimento de bactérias no estômago e no intestino (DEBNATH et al., 2010).
A atividade antimicrobiana in vitro do extrato metanólico e extrato aquoso da Agave
sisalana foram investigados. Tanto os extratos metanólico e aquoso apresentaram vários graus
de atividade antimicrobiana contra os microrganismos testados. O extrato metanólico (zona de
inibição de 28-32 mm), foi encontrado para ser mais eficaz do que o extrato aquoso (zona de
inibição de 25-29 mm) contra todos os microorganismos de ensaio. No extrato metanólico, a
Escherichia coli foi mais susceptível do que o de qualquer outro microorganismo selecionado
com a zona de inibição de 32 mm e Salmonella typhi mostrou o mínimo de susceptibilidade.
Também para o extrato aquoso, Staphylococcus aureus foi altamente suscetíveis ao extrato
82
(29 mm) e Streptococcus pyogenes apresentaram a menor suscetibilidade (25 mm)
(HAMMUEL et al., 2011).
Larvicida e inseticida
O aproveitamento do resíduo do desfibramento das folhas de Agave sisalana, como
um larvicida para o combate a mosquitos (Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus)
transmissores de doenças tropicais, foi descrito por Pizarro et al (1999). No estudo, a espécie
A. sisalana apresentou atividade larvicida para C. quinquefasciatus, sugerindo uma alternativa
de uso de um produto natural, com matéria prima abundante e de baixo custo na produção de
larvicida.
Outros bioensaios demonstraram a atividade inseticida dos extratos obtidos a partir do
resíduo líquido de A. sisalana para S. frugiperda, causando mortalidade pelo teste de ingestão
e pelo teste de aplicação tópica, sendo também observados sintomas de neurotoxicidade,
como agitação após a ingestão de folhas de milho tratadas (SOUZA, 2009).
Toxicidade: Dados experimentais
O mecanismo de ação de saponinas sobre células provavelmente está relacionado com
sua característica anfipática e capacidade de formar complexos com esteroides, proteínas,
fosfolipídeos de membranas, o que pode levar a uma desorganização das membranas celulares
(BOTURA et al., 2011). A atividade hemolítica de 63 saponinas esteroidais foi determinada
no estudo de Wang et al (2007), quando demonstrou que a atividade hemolítica dessas
saponinas é dependente de suas estruturas químicas, como o número de cadeias de açúcar e
seu sítio de ligação, assim como o tipo de aglicona.
O estudo de Botura (2009) teve como um dos objetivos investigar a citotoxicidade
sobre cultivos de células Vero (linhagem celular de rim de macaco verde africano). Assim, os
tratamentos de cultivos de células Vero com o extrato aquoso (EA), extrato acetato de etila
(EE) e Fração Saponínica (FS) de A. sisalana promoveram efeitos citotóxicos. Em ambos os
testes utilizados (MTT e exclusão ao corante azul de tripan), a FS mostrou maior
citotoxicidade ao promover completa inviabilidade celular em concentração 40 e 8 vezes
menor que a dos EA e EE respectivamente, o que sugere ser esta fração possivelmente
responsável pela atividade citotóxica de A. sisalana.
Domingues et al. (2010) avaliaram os possíveis efeitos tóxicos do resíduo líquido de
Agave sisalana (sisal) em caprinos. Portanto, o tratamento oral de caprinos com o resíduo
líquido de sisal (0,9 g/kg), durante quatro ou oito dias, demonstrou um declínio, dentro da
faixa fisiológica normal, de cada parâmetro hematológico, a saber: eritrócitos, proteína total,
83
leucócitos, neutrófilos, linfócitos, monócitos e eosinófilos; com exceção do hematócrito, que
foi abaixo da faixa de normalidade, no oitavo dia em grupo tratado com o suco de A. sisalana
(0,9 g/kg por 4 dias) e no grupo que recebeu o mesmo tratamento por oito dias (0,9 g/kg por 8
dias). No dia 15, houve queda também desse parâmetro no grupo tratado com o suco de A.
sisalana (0,9 g/kg por 4 dias) e no grupo controle, ou seja, que não recebeu tratamento. O
mesmo estudo demonstrou que, no soro, Gama-glutamil transferase (GGT); transaminase
ALT; fosfatase alcalina (ALP); uréia e creatinina mantiveram-se dentro da normalidade
durante todo o experimento.
No estudo de Dunder (2009) a hidrólise ácida inibiu a ação hemolítica das saponinas
pela retirada das cadeias laterais de açúcar. No estudo do mesmo autor, para a avaliação da
toxicidade da fração hexânica de Agave sisalana (FHAS) foram dosadas, no plasma, albumina
e proteínas totais. Nesse experimento, ratos Wistar foram tratados durante uma semana com
FHAS (nas doses de 10 e 25 mg/kg), com polietilenoglicol -200 e Dexametasona na dose de
0,5 mg/kg. Todos os animais foram sacrificados no 8º dia. Os resultados demonstraram que a
FHAS não apresentou aumento significativo de proteínas plasmáticas. Na avaliação do peso
dos animais, nenhuma das doses da fração hexânica de Agave sisalana apresentou efeito
significativo sobre a evolução ponderal, como foi o caso do controle positivo
Glicocorticóides, indicando ausência de efeitos colaterais, semelhantes aos Glicocorticóides.
Em estudos toxicológicos pré-clínicos com a hecogenina (CERQUEIRA et al., 2009;
CERQUEIRA, 2012), a administração desta molécula (ip ou vo) em camundongos, nas doses
de 15, 30, 60, 90, 300 e 2000 mg/Kg, não foi capaz de produzir alterações comportamentais
ou alterações nos padrões fisiológicos de evacuação e micção, apenas induzido uma única
morte. Nos camundongos tratados com hecogenina (vo) na dose de 300mg/Kg, durante os 14
dias, não foram observadas alterações na evolução ponderal estatisticamente significativa em
relação ao grupo controle. Dos parâmetros bioquímicos analisados quatorze dias após
administração da dose de 300mg/Kg (vo) da hecogenina, foi detectado um aumento nos níveis
plasmáticos de aspartato aminotransferase. No entanto, hecogenina não causou alterações nos
demais parâmetros a saber: glicose; colesterol total; triglicerídeos; uréia, creatinina; ácido
úrico; AST; Gama GT; fosfatase alcalina; LDH; proteínas totais; Albumina e Globulina.
Entre os parâmetros hematológicos analisados quatorze dias após administração da
dose de 300mg/Kg (vo) da hecogenina, foi observado um aumento estatisticamente
significantivo dos monócitos no sangue dos camundongos. No entanto, hecogenina não
alterou os outros parâmetros: hemácias; hemoglobina; hematócrito; volume corpuscular média
(MCV); hemoglobina corpuscular média (MCH); Média, corpuscular da concentração de
84
hemoglobina (MCHECO); plaquetas; leucócitos; neutrófilos; eosinófilos; basófilos e
linfócitos (CERQUEIRA, 2012).
Em seres humanos, a sensibilização alérgica entre trabalhadores expostos ao sisal foi
documentada por Kayumba et al. (2008), quando identificaram que todos os trabalhadores
expostos tiveram níveis elevados de IgE (>100 kU/l). No entanto, sua implicação clínica não é
óbvia. A alta prevalência de sintomas respiratórios foi encontrada em ambos os grupos de
trabalhadores (sensibilizados e não sensibilizados).
Diante das pesquisas realizadas com Agave sisalana, concluiu-se que os constituíntes
da espécie apresentam atividades biológicas como: anti-helmíntica, antiinflamatória,
antioxidante, antifúngica, antitumoral, antibacteriana, gastroprotetora, dentre outras. Ausência
de efeitos anticonvulsivantes e sedativos foi também demonstrado. No entanto, ainda
considera-se escasso o conhecimento acerca do potencial terapêutico de hecogenina, um dos
constituíntes de plantas da espécie Agave sisalana. Novas informações são necessárias, no
sentido de aumentar o conhecimento dos seus efeitos no organismo de humanos e animais e
desvendar seu exato mecanismo de ação, visando descobrir novos agentes, de modo a ampliar
agregação de valor à produção de sisal.
85
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Artigo 2
Efeitos da administração aguda ou em doses repetidas da hecogenina isolada de Agave
sisalana Perrine sobre o comportamento de camundongos
89
Efeitos da administração aguda ou em doses repetidas da hecogenina isolada de Agave
sisalana Perrine sobre o comportamento de camundongos
Rita Neuma D. C. de Abreua,b, José M. Barbosa Filhoc, Aline Miranda Sousab, Fernanda M. T.
Camposd, Lara Martins Diasb, Augusto Lopes Soutoc, Glauce Socorro de B. Vianad, Manuel
A. dos Santos Júniord, Francisca Cléa Florenço de Sousad, Silvânia M. M. Vasconcelosd
aRENORBIO – Rede Nordeste de Biotecnologia, UECE – Paranjana, 1700 – Campus Itaperi
– 60740-000 Fortaleza, CE, Brasil; bUniversidade de Fortaleza – Avenida Washington Soares, 1321, Edson Queiroz – 60.811-
905, Fortaleza, CE, Brasil. cUniversidade Federal da Paraíba, Cidade Universitária - 58051-900 João Pessoa, PB, Brasil.
dDepartamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal
do Ceará, Rua Cel. Nunes de Melo, 1127 – 60430-270, Fortaleza, CE, Brasil.
RESUMO: Objetivou-se estudar os efeitos comportamentais da hecogenina (HEC). Foram
utilizados camundongos Swiss, machos, pesando de 25-35 g. Os efeitos comportamentais da
administração aguda da HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg, via intraperitoneal - ip) ou em doses
repetidas por sete dias (20 ou 40 mg/kg, ip) foram avaliados pelos testes: campo aberto,
labirinto em cruz elevado (LCE), placa perfurada e suspensão de cauda. Determinou-se o
mecanismo de ação da HEC com administração aguda de Flumazenil (FLU) 2,5 mg/kg ou
Reserpina (RES) 2 mg/kg. HEC não causou alteração na atividade locomotora dos animais no
campo aberto. O teste de LCE mostrou que a HEC, administrada agudamente, nas doses de
10, 20 ou 40 mg/kg, causou aumento no número de entradas nos braços abertos (NEBA)
comparado ao controle. Efeito semelhante foi observado no tempo de permanência nos braços
abertos nas duas maiores doses. A administração em doses repetidas da HEC (20 ou 40
mg/kg) também aumentou o NEBA. HEC (20 ou 40 mg/kg), administrada agudamente,
aumentou o número de head dips. Efeito semelhante foi observado após o tratamento em
doses repetidas na dose de 40 mg/kg em relação ao grupo controle. O FLU não reverteu os
efeitos ansiolíticos agudos da HEC no LCE e no teste de placa perfurada. Hecogenina reduziu
o tempo de imobilidade no teste de suspensão de cauda. HEC reverteu o efeito depressor da
RES. Concluiu-se que HEC apresentou efeitos ansiolíticos e antidepressivos nos testes
comportamentais.
Palavras-chave: Ansiedade; comportamento; sistema nervoso central; hecogenina.
90
INTRODUÇÃO
As moléculas de origem vegetal são utilizadas como fonte natural para obtenção de
moléculas protótipo, pois estas apresentam uma variedade de constituíntes químicos em suas
atividades biológicas, podendo ser usados como ferramentas farmacológicas.
Agave sisalana Perrine pertence à família Agavaceae, e tem, principalmente, uma
distribuição pantropical, especialmente em regiões áridas. No Brasil ocorrem quatro gêneros e
cerca de 20 espécies. A. sisalana é uma planta produtora de fibra, cujo cultivo é uma
alternativa econômica para as áreas secas do Nordeste do Brasil (SOUZA; LORENZI, 2005).
A planta ocupa o sexto lugar entre as plantas fibrosas, o que representa 2% da
produção mundial de fibras vegetais (fibras da planta fornecem 65% das fibras do mundo). No
entanto, a indústria de produção da fibra de sisal produz alta quantidade de resíduos usando
atualmente apenas cerca de 2% da planta como fibra (MUTHANGYA; MSHANDETE;
KIVAISI, 2009).
A análise química do extrato aquoso de resíduos de sisal demonstrou a presença de
sapogeninas: hecogenina e tigogenina (BOTURA et al., 2011). Embora a hecogenina tenha
apresentado várias ações biológicas como antiinflamatória, analgésica e gastroprotetora
(CERQUEIRA et al., 2009; DUNDER et al., 2010; GAMA et al., 2013), pouco se sabe sobre
sua ação no Sistema Nervoso Central (SNC).
Uma ação central significativa pode ser bastante interessante ou pode comprometer a
utilização de determinadas moléculas que apresentam atividades farmacológicas em outros
sistemas, como é o caso da planta em estudo. Um estudo prévio em nosso laboratório
demonstrou ação neuroprotetora relacionada a diminuição da peroxidação lípídica em áreas
cerebrais de camundongos, após administração aguda intraperitonial da HEC (5 ou 10 mg/kg)
(SAMPAIO et al., 2012).
Com base nessas considerações, foi realizado um screening dos efeitos da HEC
isolada da Agave sisalana Perrine no SNC, utilizando-se diversos modelos animais de
comportamento.
O objetivo deste estudo foi determinar os efeitos comportamentais da administração
aguda e em doses repetidas da hecogenina, isolada de Agave sisalana Perrine, em
camundongos por meio dos modelos de ansiedade, depressão e atividade motora.
91
MATERIAL E MÉTODOS
Material Vegetal
A folha de Agave sisalana Perrine foi coletado de várias plantações de sisal, na
cidade de Santa Rita, Estado da Paraíba, Brasil, em abril de 2007. A exsicata, L.P. Felix
6246 (EAN) está depositada no Herbário Prof. Lauro Pires Xavier (JPB), Universidade
Federal da Paraíba, Brasil.
As amostras das folhas secas de A. sisalana (5 kg) foram extraídas com seis litros de
álcool etílico (etanol) 95% em um aparelho de Soxhlet por 24 horas. O solvente foi
removido sob pressão reduzida e o resíduo foi hidrolisado sob refluxo por quatro horas com
1,5 litros de ácido hidroclórico etanólico 2N. A mistura reacional foi coletada e filtrada. A
fração ácida insolúvel foi lavada com água, solução de carbonato de sódio e água, até
neutralizar. Depois de seco, o resíduo ácido insolúvel foi extraído com hexano em um
aparelho Soxleht por 12 horas. O extrato hexânico foi levado à um refrigerador por 24 horas.
Após este período, um precipitado foi formado. O precipitado foi filtrado e depois
recristalizado em acetona, formando 1g de hecogenina (0,02%), m.p. 256-258°C (lit.1 258 –
260°C). A hecogenina encontrada é idêntica a uma amostra autêntica (co-TLC e mixed
m.p.). 1H- e 13C-NMR (500 e 125 MHz) o espectro da hecogenina está de acordo com a
literatura previamente citada (AGRAWAL et al., 1985; JAFFER et al., 1983). O acetato de
hecogenina foi obtido por reação de acetilação da hecogenina com uma mistura de anidrido
acético/piridina (KIM et al., 2001). O sobrenadante foi concentrado e o resíduo foi
submetido à cromatografia em coluna e cromatografia líquida em camada delgada com fase
fixa sílica gel produzindo mais hecogenina (0.35 g, 0.007 %), 200 – 202 o C (lit.5 200 –
202 o C). A estrutura da hecogenina usada neste estudo é mostra na Fig. 1.
92
Animais
Foram utilizados camundongos Swiss machos, pesando 25-35g, provenientes do
Biotério da Universidade Federal do Ceará (UFC). O projeto foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa Animal (CEPA) da UFC (Nº protocolo 44/2010).
Reagentes e drogas
Tween 80 4 % foi obtido de Vetec Química Farm. Ltda (Rio de Janeiro, Brasil).
Enquanto Diazepam e Flumazenil foram de Cristália Prod. Química Farm. Ltda (São Paulo,
Brasil). Imipramina de Novartis Biociências S.A. (São Paulo, Brasil). Reserpina foi adquirida
de Sigma Chem. Co. (St. Louis, MO, USA).
Tratamento agudo
Teste de campo aberto
Foram usados os grupos: controle (Tween 80 4 %); HEC 5, 10, 20 ou 40 mg/kg;
diazepam (DZP) 2 mg/kg. Todos os grupos foram tratados por via intraperitonial (ip) e 30
minutos depois os animais foram submetidos ao teste.
Labirinto em Cruz Elevado
Os grupos usados no teste de labirinto foram divididos da seguinte forma: controle
(Tween 80 4 %), HEC 5, 10, 20 ou 40 mg/kg; DZP 1 mg/kg; flumazenil (FLU) 2,5 mg/kg;
DZP 1 mg/kg + FLU 2,5 mg/kg; FLU 2,5 mg/kg + HEC 20 ou 40 mg/kg.
Os animais tratados com FLU 2,5 mg/kg associado a HEC na dose de 20 ou 40 mg/kg
foram submetidos ao seguinte protocolo: administrou-se FLU-2,5 e 15 minutos depois foi
injetado HEC e, então, após 30 minutos foram submetidos ao experimento.
Teste de Placa Perfurada
Os camundongos foram tratados da seguinte forma: controle (Tween 80 4 %); HEC 20
ou 40 mg/kg; DZP 1 mg/kg; FLU 2,5 mg/kg; DZP 1mg/kg + FLU 2.5 mg/kg; FLU 2.5 mg/kg
+ HEC 20 ou 40 mg/kg.
Teste de suspensão de cauda
Os animais foram divididos em sete grupos: controle (Tween 80 4 %), HEC 5, 10, 20
ou 40 mg/kg; Imipramina (IMI) 10 mg/kg e Reserpina (RES) 2 mg/kg.
Com o intuito de avaliar o mecanismo de ação do efeito antidepressivo da HEC 5, 10,
20 ou 40 mg/kg, RES 2 mg/kg foi administrada 10 minutos antes da HEC e o teste foi
realizado 30 minutos depois (ARAGÃO et al., 2006).
93
Administração em doses repetidas
Os animais foram assim agrupados: Controle – Tween 80 4 %; DZP 1 mg/kg; HEC 20
mg/kg; HEC 40 mg/kg; IMI 10 mg/kg. Nesta fase, cada grupo de animais foi tratado
diariamente com o composto durante um período de 7 dias. Todas as administrações foram
realizadas por via ip. Os experimentos para avaliação dos efeitos comportamentais da
administração em doses repetidas da HEC, DZP ou IMI no SNC de camundongos por meio
dos modelos de ansiedade, depressão e atividade motora foram realizados no sétimo dia de
tratamento após 30 minutos da administração dos compostos citados.
Testes Comportamentais
Teste do campo aberto: Avaliação da atividade exploratória
O campo aberto para camundongos é feito de acrílico (paredes transparentes e piso
preto, 30 x 30 x 15 cm) dividido em 9 quadrantes iguais. A metodologia de Archer (1973) foi
utilizada para avaliar a atividade exploratória do animal. Os principais parâmetros para
observação durante o teste: número de cruzamentos com as quatros patas (Atividade
Locomotora Espontânea - ALE), número de grooming e rearing, registrados durante um
tempo de 5 minutos.
Teste do Labirinto em cruz elevado: Avaliação da atividade ansiolítica
O labirinto em cruz elevado (LCE) (LISTER, 1990) consiste de dois braços abertos
opostos (30 x 5 x 25 cm) e dois fechados (30 x 5 x 25 cm), também opostos, em forma de
cruz. Os braços abertos e fechados estão conectados por uma plataforma central (5 x 5 cm). O
aparelho está elevado a uma altura de 45 cm do nível do chão. Trinta minutos após a
administração da HEC ou o veículo, os camundongos foram colocados no centro do aparelho
com a cabeça voltada para um dos braços fechados e o seu comportamento observado por 5
min. As medidas comportamentais registradas no LCE compreeenderam: frequência de
entradas e o tempo despendido nos braços abertos e nos fechados (PELOW et al. 1985).
Placa Perfurada: Avaliação da atividade ansiolítica
A placa perfurada consiste numa caixa quadrada de acrílico (50 x 50 cm) a 10 cm de
altura, com 16 orifícios e 2 cm de diâmetro, equidistantes uns dos outros e das bordas.
Registrou-se o número de vezes em que o animal introduziu o focinho nos orifícios da placa
(CLARK et al. 1971) por um período de 5 minutos.
Teste de suspensão de cauda
Utilizou-se o método descrito por Porsolt et al. (1978). Os camundongos foram
suspensos pela cauda na borda de uma plataforma 58 cm acima de uma mesa com fita adesiva
94
colocados cerca de 1 cm da ponta da cauda. A duração da imobilidade foi registrada durante
um período de cinco minutos.
Análise estatística
As análises foram realizadas por meio da análise de variância (ANOVA), usando o
software Prism 5.0. versão para Windows, GraphPad Software (San Diego, CA, EUA). Para
avaliação da significância, comparações múltiplas foram feitas com ANOVA e por Tukey
como post hoc testes. Os resultados foram considerados significativos para p <0,05 e
apresentados como média ± EPM.
95
RESULTADOS
Campo aberto
No teste de campo aberto (Tabela 1), foram avaliados a movimentação espontânea
dos animais (atividade locomotora), o número de rearings e o número de grooming. A
administração aguda ou em doses repetidas da HEC não causou nenhuma mudança
significativa na atividade locomotora espontânea (ALE) dos animais em relação ao grupos
controles. O diazepam (DZP), usado como controle positivo, causou uma redução desse
comportamento, quando comparado ao controle.
Com relação ao número de rearing, não houve diferença entre os grupos tratados
agudamente com HEC, nas quatro doses estudadas, e o grupo controle. No entanto, HEC 20
ou 40 mg/kg diminuiu o número de rearing após a administração em doses repetidas em
relação ao grupo controle. Uma diminuição desse parâmetro também foi observado após o
tratamento agudo ou em doses repetidas com o DZP.
Quanto número de grooming, apenas os animais tratados agudamente com HEC na
dose de 10 mg/kg apresentaram aumento desse comportamento em relação ao controle. A
molécula em estudo, administrada em doses repetidas, não causou mudanças significativas no
número de grooming. O DZP não alterou este parâmetro em ambos os tratamentos.
96
Tabela 1 Efeitos da administração (ip) aguda ou em doses repetidas de HEC ou DZP
no teste de campo aberto em camundongos
Grupo (mg/kg) Atividade
Locomotora Rearing Grooming
Agudo
Controle 56,11±7,25 26,22±5,47 2,55±0,66
HEC 5 52,70±5,61 28,11±4,20 3,00±0,39
HEC 10 58,70±5,20 15,00±1,49 6,37±1,16a
HEC 20 44,67±4,12 16,33±2,44 1,27±0,30
HEC 40 51,90±3,10 22,20±1,64 2,30±0,47
DZP-2 24,20±1,71a 4,10±0,76a 1,00±0,36
Doses Repetidas
Controle 35,60±3,15 22,00±1,57 2,20±0,48
HEC 20 47,60±4,56 7,40±0,76a 2,20±0,35
HEC 40 44,60±2,29 8,22±1,25a 2,77±0,36
DZP-1 20,73±2,90a 1,08±0,45a 1,77±0,27
Valores representam média±EPM do número de cruzamentos, rearing, grooming. n = 8-12 animais/grupo. acomparado com controle. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
97
Labirinto em Cruz Elevado
No teste de labirinto em cruz elevado (Figura 2A), a administração aguda da HEC,
nas doses de 10, 20 ou 40 mg/kg, causou aumento significativo no número de entradas nos
braços abertos (NEBA) - HEC 10 mg/kg: (5,62±0,96), HEC 20 (5,72±0,84), HEC 40
(5,80±0,61) – comparado ao controle (1,88±0,20). Efeito semelhante foi observado no tempo
de permanência (Figura 2B) nos braços abertos (TPBA) - HEC 20 (79,78±7,29), HEC 40
(66,70±6,30) - em relação ao grupo controle (27,22±5,25). Como esperado, o DZP, usado
como controle positivo, aumentou o NEBA (9,55±0,70) e o TPBA (116,7±11,75) quando
comparado ao controle. O FLU somente foi capaz de reverter este aumento nos animais
tratados com DZP.
Referente aos braços fechados no Labirinto em Cruz elevado (Figura 2C), HEC
somente na dose de 20 mg/kg (6,27±0,82) diminuiu o número de entradas em braços fechados
(NEBF) quando comparado ao controle (10,70±0,84). Quanto ao tempo de permanência
(Figura 2D) em braços fechados (TPBF), HEC nas duas maiores doses – HEC 20
(118,7±7,21) ou HEC 40 (120,6±6,68) - apresentou diminuição significativa neste parâmetro
em relação ao controle (208,5±20,91).
As associações FLU-2,5 + HEC 20 ou 40 mg/kg não alteraram os parâmetros
avaliados no teste do labirinto em cruz elevado, quando estes grupos foram comparados aos
grupos da HEC 20 ou 40, respectivamente. Contudo, o tratamento com FLU reverteu o efeito
do DZP, como esperado.
98
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC
20
HEC
40
DZP-1
FLU
DZP-1
+FLU
HEC 2
0+FLU
HEC 4
0+FLU
0
5
10
15
a
(A)
a a a
b
NE
BA
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
DZP
-1FLU
DZP
-1+F
LU
HEC 2
0+FLU
HEC 4
0+FLU
0
50
100
150
a
(B)
b
aa
TP
BA
(s)
Contr
ole
HEC
5
HEC
10
HEC
20
HEC
40
DZP-1
FLU
DZP-1
+FLU
HEC
20+
FLU
HEC
40+
FLU
0
5
10
15
(C)
a
a
b
NE
BF
Contr
ole
HEC
5
HEC
10
HEC
20
HEC
40
DZP
-1FLU
DZP
-1+F
LU
HEC
20+
FLU
HEC
40+
FLU
0
50
100
150
200
250
a
(D)
a a
b
TP
BF
(s)
Figura 2 – Efeitos da administração (ip) aguda da HEC nas doses de 5, 10, 20 ou 40 mg/kg no labirinto em cruz elevado em camundongos. A=número de entradas nos braços abertos (NEBA); B=tempo de permanência nos braços abertos (TPBA); C=número de entradas nos braços fechados (NEBF); D=tempo de permanência os braços fechados (TPBF). Cada barra representa média ± EPM, 8-11 animais por grupo. acomparado com controle; bcomparado com DZP. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
99
Referente ao labirinto em cruz elevado (Tabela 2), a administração em doses repetidas
da HEC (20 ou 40 mg/kg) causou aumento no NEBA quando comparado ao grupo controle.
No entanto, não houve alteração nos outros parâmetros do teste de labirinto em cruz elevado.
O DZP, usado como controle positivo, aumentou o NEBA e o TPBA. Houve ainda redução
no NEBF com o grupo tratado durante 7 dias com DZP.
Tabela 2 Efeitos da administração em doses repetidas (ip) da HEC 20 ou 40 mg/kg, DZP 1 mg/kg no labirinto em cruz elevado em camundongos.
Grupo (mg/kg) NEBA TPBA NEBF TPBF
Controle 1,88±0,42 38,88±8,64 8,00±0,53 127,4±7,13
HEC 20 4,80±0,59a 64,78±5,69 8,30±0,80 122,1±12,95
HEC 40 4,11±0,30a 54,78±3,09 8,40±0,70 149,0±7,38
DZP-1 4,57±0,99a 74,89±14,17a 4,16±0,89a 162,1±22,99
Valores representam média±EPM do número de entradas nos braços abertos (NEBA) e fechados (NEBF) e tempo de permanência (s) nos braços abertos (TPBA) e fechados (TPBF). n = 7-12 animais/grupo. acomparado com controle. Para todas as análises, p<0.05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
100
Placa Perfurada
No teste de placa perfurada (Tabela 3), após a administração aguda de HEC 20 ou 40
mg/kg ou DZP 1 mg/kg, foi observado um significante aumento do número de vezes que o
animal colocou a cabeça no orifício da placa (head dips) comparado ao controle.
Para pesquisar a participação de mecanismos gabaérgicos no mecanismo de ação da
HEC em relação ao seu efeito ansiolítico, utilizamos o flumazenil, o DZP e a própria HEC por
via intraperitoneal administrados isoladamente ou associados. Os resultados demonstraram
que o FLU somente reverteu o aumentou no número de head dips no grupo tratado
agudamente com DZP.
Neste modelo experimental, a administração em doses repetidas da HEC foi capaz de
aumentar o número de head dips somente na maior dose (40 mg/kg) em relação ao grupo
controle. O tratamento por sete dias com o DZP, controle positivo, também aumentou o
número de explorações aos orifícios da placa compado ao controle.
101
Tabela 3 Efeito da administração aguda (ip) ou em doses repetidas da HEC ou DZP no teste de placa perfurada em camundongos.
Grupo (mg/kg) Número de head dips
Agudo
Controle 7,52±0,79
HEC 20 25,89±3,74a
HEC 40 26,13±2,13a
DZP-1 60,38±4,37a
FLU 6.09±0.68
DZP+FLU 3,70±0,71b
FLU+HEC 20 21,29±5,63
FLU+HEC 40 25,67±5,67
Doses Repetidas
Controle 17,20±1,34
HEC 20 18,33±2,38
HEC 40 28,78±4,76a
DZP-1 28,00±2,05a
Valores representam média±EPM do número de head dips. n = 6-19 animais/grupo. acomparado com controle; bcomparado com DZP 1 mg/kg. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
102
Teste de suspensão de cauda
Os dados da Tabela 4 demonstram que todas as doses de HEC causou redução no
tempo de imobilidade no teste da suspensão da cauda em camundongos, em relação ao grupo
controle em ambos os tratamentos (agudo ou em doses repetidas). A imipramina (IMI)
sozinha, administrada agudamente ou em doses repetidas, diminuiu o tempo de imobilidade
comparado ao grupo de controle. Reserpina (RES), como esperado, aumentou o tempo de
imobilidade e, assim, foi utilizada como um modelo agudo de depressão. Hecogenina
administrada agudamente (5, 10, 20 ou 40 mg/kg) foi capaz de reverter o efeito depressor da
reserpina.
103
Tabela 4 Efeito da administração aguda ou em doses repetidas (ip) da HEC sobre o tempo de imobilidade (s) no teste de suspensão de cauda em camundongos.
Grupo (mg/kg) Tempo de imobilidade (s)
Agudo
Controle 104,4±8,06
HEC 5 62,80±6,61a
HEC 10 66,31±7,71a
HEC 20 66,53±8,52a
HEC 40 66,87±4,92a
IMI 10 30,50±5,59a
RES 2 154,3±10,27a
RES 2+ HEC 5 79,70±11,57b
RES 2+ HEC 10 87,00±8,28 b
RES 2+ HEC 20 101,2±13,25b
RES 2+ HEC 40 91,22±6,78b
Doses repetidas
Controle 107,5±11,05
HEC 20 51,56±7,19a
HEC 40 65,13±10,36a
IMI 10 17,17±5,30a
Valores representam média±EPM do tempo de imobilidade (s). acomparado com controle; bcomparado com reserpina. n = 6-15 animais/grupo. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
104
DISCUSSÃO
As hipóteses etiopatológicas das doenças mentais originaram-se a partir de estudos em
animais sobre os efeitos de drogas no sistema nervoso central. Os modelos animais, embora
apresentem a limitação de não se poder reproduzir fidedignamente as características dos
transtornos humanos, são responsáveis, em grande parte, pelo que se sabe atualmente sobre as
ações dos psicofármacos em diversas etapas dos processos de transmissão sináptica
(GONRENSTEIN; SCAVONE, 1999). No presente trabalho, os efeitos comportamentais da
HEC, uma sapogenina esteroidal, foram investigados em modelos animais clássicos das ações
no SNC como Labirinto em Cruz Elevado, campo aberto, placa perfurada e suspensão da
cauda.
Os transtornos de ansiedade são as doenças mentais mais comuns em todo o mundo e
tornou-se uma área muito importante de interesse de pesquisa em psicofarmacologia
(BADGUJAR; SURANA, 2010). A procura por novas ferramentas terapêuticas para o
tratamento de doenças como a ansiedade, cujos efeitos colaterais estejam ausentes ou em
menor intensidade do que seu equivalente sintético, é uma das metas de toda a pesquisa pré-
clínica e clínica da atualidade (TABACH, 2011).
Sabe-se que para que novos ansiolíticos sejam desenvolvidos, é importante que se
façam testes em animais. O modelo do LCE assenta-se no comportamento exploratório
espontâneo de roedores em um ambiente com dois níveis de maior (braços abertos) ou menor
(braços fechados com paredes) característica aversiva. Esse fato gera inicialmente um conflito
aproximação-esquiva aos braços abertos, resultado da tendência exploratória do roedor e do
medo/novidade (CAROBREZ, 2003). Diversas plantas aumentam a exploração dos braços
abertos no teste de labirinto em cruz elevado e são utilizadas para diminuir a ansiedade na
medicina popular (BADGUJAR; SURANA, 2010).
Os nossos resultados mostraram que HEC 20 ou 40 mg/kg, após administração aguda,
foi capaz de aumentar significativamente os parâmetros (NEBA e TPBA) no teste de
Labirinto em Cruz Elevado, em comparação com o grupo controle. Resultados semelhantes
foram também observados com o grupo tratado com o DZP, uma dose ansiolítica (1 mg/kg), o
que sugere um efeito ansiolítico de HEC (ARAGÃO et al., 2006; MELO et al., 2006).
A fim de elucidar o mecanismo do efeito ansiolítico de HEC foi utilizado o FLU, um
antagonista dos receptores GABAérgicos das drogas benzodiazepínicas. Os nossos resultados
mostraram que o efeito de HEC não foi revertido pela administração de flumazenil. Por outro
lado, o efeito do DZP foi antagonizado pelo flumazenil. Isso sugere que o efeito ansiolítico da
HEC não envolve receptores GABAérgicos. Na clínica, o FLU é o único antagonista dos
receptores benzodiazepínicos (BDZs), onde sua ação consiste em bloquear algumas das ações
105
dos BDZs, porém não antagoniza os efeitos de outros sedativos-hipnóticos no SNC
(KLEINGEIST et al., 1998).
Para o estudo com doses repetidas, foram selecionadas as doses que apresentaram uma
melhor resposta ansiolítica no tratamento agudo. No protocolo experimental, a HEC (20 ou 40
mg/kg), após tratamento de sete dias, também causou aumento no NEBA quando comparado
ao controle.
O efeito ansiolítico da HEC, avaliado no teste do labirinto em cruz elevado, foi
confirmado no teste de placa perfurada. Um aumento no número de explorações aos orifícios
implica numa maior atividade exploratória ou uma ação ansiolítica (CRAWLEY, 1985; FILE;
PELLOW, 1985). Neste teste, foi observado um aumento no número de explorações aos
orifícios da placa nos animais que receberam HEC nas maiores doses tanto no tratamento
agudo ou em doses repetidas. Efeito semelhante foi apresentado pelos animais tratados
agudamente ou em doses repetidas com o DZP.
Os dados da literatura demonstraram que os medicamentos que modificam a atividade
motora geral podem dar resultados falso-positivo/negativo no labirinto em Cruz Elevado
(MELO et al., 2006). Desta forma, os efeitos da HEC foram estudados no teste de campo
aberto. O teste de campo aberto permite uma avaliação das atividades depressoras ou
estimulantes de um determinado composto (ARCHER et al., 1973).
No presente estudo, HEC não alterou a atividade locomotora dos animais, em todas as
doses e em ambos os tratamentos, não apresentando efeito sedativo no campo aberto. DZP,
utilizado como controle positivo, causou uma diminuição na atividade locomotora dos
animais indicando ação depressora do SNC. Isso mostra que a atividade ansiolítica da HEC
não está relacionada com a atividade motora. No estudo de Gama et al., (2013), a
administração de acetato de hecogenina (40 mg/kg) não afetou o desempenho motor de ratos
no teste Rota rod, sugerindo que a HEC não exerce bloqueio neuromuscular periférico.
Em outro estudo realizado no nosso laboratório (SANTOS JÚNIOR et al., 2012), a
administração aguda de hecogenina, no modelo de indução de sono, não potencializou a ação
do pentobarbital de sódio (40 mg/kg, ip) na latência do sono. Isto confirma que HEC não tem
atividade depressora central.
Nossos resultados demonstraram que HEC não causou alteração no grooming nas duas
maiores doses após o tratamento agudo ou em doses repetidas. O comportamento de
autolimpeza ou grooming geralmente é aumentado na ansiedade ou presença de medo em
roedores e é um índice de adaptação emocional a uma situação de tensão (KAMETANI,
1988).
106
Drogas ansiolíticas como o DZP diminuem o rearing no teste de campo aberto (DE-
SOUZA et al., 2006). HEC, administrada em doses repetidas, diminuiu este parâmetro.
É bem demonstrado que drogas com atividade antidepressiva diminuem o tempo de
imobilidade do animal nos modelos de suspensão de causa e nado forçado. Ambos são
conhecidos como testes de desespero comportamental. Embora esses dois testes sejam
utilizados com a mesma finalidade, o teste de suspensão de cauda é mais sensível e seu
resultado não pode ser confundido com o estresse causado por uma possível hipotermia que
pode ocorrer no caso do teste de nado forçado (CRYAN et al., 2005).
Nestes modelos, os animais adotam uma postura de imobilidade após um período
inicial de agitação. A imobilidade observada se assemelha ao estado de anedonia apresentado
por pacientes depressivos durante o curso da doença (DE-SOUZA et al., 2006). Os dados do
teste de suspensão de cauda sugeriram que HEC, em todas as doses estudadas, causou um
efeito antidepressivo, uma vez que uma diminuição no tempo de imobilidade dos animais foi
observado após o tratamento agudo. A imipramina, um antidepressivo clássico, mostrou uma
diminuição no tempo de imobilidade do animal, que está de acordo com estudos,
demonstrando a sensibilidade desses ensaios a várias classes de drogas antidepressivas
(PORSOLT et al., 1978).
Hecogenina foi capaz de reverter o efeito depressor da reserpina, um inibidor
conhecido do transportador vesicular da catecolamina noradrenalina (que facilita o
armazenamento vesicular). Um processo semelhante ocorre em locais de armazenamento de
5-HT, o que pode, finalmente, resultar numa diminuição de aminas biogênicas (ARAGÃO et
al., 2006), provocando vários efeitos mensuráveis (hipotermia, bradicardia, diminuição da
atividade motora e outros), que são reduzidas por antidepressivos (RANG et al., 2007). Estes
resultados mostraram que o tratamento agudo da HEC tem efeitos antidepressivos podendo
esta ação ocorrer por vias serotoninérgicas e noradrenérgicas.
De maneira semelhante ao tratamento agudo, a administração em doses repetidas da
HEC (20 ou 40 mg/kg) causou efeito antidepressivo nos camundongos. Entretanto, este efeito
não foi superior aquele observado com a imipramina.
Autores (GONRENSTEIN; SCAVONE, 1999) explicam que as alterações metabólicas
e funcionais, observadas inicialmente nos tratamentos agudos de animais, na maioria das
vezes não só não persistem após administração repetida, como são substituídas por alterações
que podem, de fato, ser opostas às observadas agudamente. Assim, consideramos que a
administração de doses repetidas de HEC permitiu uma avaliação verdadeira sobre os efeitos
ansiolíticos e antidepressivos da molécula, tendo em vista que o tratamento da ansiedade ou
depressão é realizado cronicamente.
107
O presente estudo mostrou que a administração de hecogenina (20 ou 40 mg/kg)
apresentou efeitos ansiolíticos nos testes do Labirinto em Cruz Elevado e Placa Perfurada e
este efeito não foi relacionado aos receptores benzodiazepínicos. Este efeito também foi
desprovido de efeito sedativo significativo, tal como avaliado pelo teste de campo aberto.
Parâmetros observados no teste de suspensão da cauda apoiam a idéia de que HEC
possivelmente apresenta atividade antidepressiva sobre o SNC, onde os mecanismos
noradrenérgicos provavelmente desempenham um papel. É interessante notar que este é um
estudo pioneiro sobre a ação no SNC de HEC e será importante para futuros estudos sobre a
molécula.
108
REFERÊNCIAS
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110
Artigo 3
Determinação da concentração de aminoácidos no córtex pré-frontal, hipocampo e
corpo estriado de camundongos tratados agudamente com hecogenina
111
Determinação da concentração de aminoácidos no córtex pré-frontal, hipocampo e
corpo estriado de camundongos tratados agudamente com hecogenina
Rita Neuma D. C. de Abreua,b, José M. Barbosa Filhoc, Augusto Lopes Soutoc, Edna Maria
Camelo Chavesd, Glauce Socorro de Barros Vianad, Maria Goretti R. de Queirozd, Lissiana
Magna Vasconcelos Aguiard, Silvânia M. M. Vasconcelosd
aRENORBIO – Rede Nordeste de Biotecnologia, UECE – Paranjana, 1700 – Campus Itaperi
– 60740-000 Fortaleza, CE, Brasil; bUniversidade de Fortaleza – Avenida Washington Soares, 1321, Edson Queiroz – 60.811-
905, Fortaleza, CE, Brasil. cUniversidade Federal da Paraíba, Cidade Universitária - 58051-900 João Pessoa, PB, Brasil.
dDepartamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal
do Ceará, Rua Cel. Nunes de Melo, 1127 – 60430-270, Fortaleza, CE, Brasil.
RESUMO: Objetivou-se verificar a concentração de aminoácidos excitatórios e inibitórios no
córtex pré-frontal (CPF), hipocampo (HC) e corpo estriado (CE) de camundongos após a
administração aguda de hecogenina (HEC), isolada de Agave sisalana Perrine. Camundongos
machos Swiss, pesando de 25-35g, foram tratados com Tween 80 4% (controle), HEC 5, 10,
20 ou 40mg/kg, via intraperitoneal - ip. Para a determinação das concentrações de
aminoácidos, utilizou-se o equipamento de High Performance Liquid Chromatography com
detector de fluorescência. No CPF, de camundongos tratados com HEC, o aminoácido
excitatório glutamato (GLU) aumentou nas doses de 10, 20 ou 40mg/kg. Enquanto os
inibitórios ácido gama-aminobutírico (GABA) e Taurina (TAU) aumentaram nas doses de 20
ou 40mg/kg. No HC, em camundongos tratados com HEC, mostrou que esta molécula não
alterou o GABA. Nesta área, houve aumento de aspartato (ASP), GLU, glicina (GLI) e TAU
apenas na maior dose de HEC. No CE, ocorreu o aumento do ASP, GLU e TAU após as doses
de 20 ou 40 mg/kg de HEC. As concentrações de GLI e GABA aumentaram na maior dose de
HEC (40 mg/kg) nesta área cerebral. Os resultados sugerem que a HEC, nas maiores doses,
aumenta os níveis de aminoácidos excitatórios e inibitórios em áreas cerebrais.
Palavras-chave: Aminoácidos; sistema nervoso central; hecogenina.
112
INTRODUÇÃO
A. sisalana, popularmente conhecida como sisal, é uma planta originada do México,
fazendo parte da família Agavaceae. É bem adaptada à região semi-árida do Nordeste do
Brasil (SANTOS et al., 2009). No suco das folhas de Agave é encontrado sapogenina
esteroidal. No caso da A. sisalana, as sapogeninas (porção não glicosídica de uma saponina)
encontradas são: a tigogenina, a diosgenina e a hecogenina, registrando-se maior percentual
para esta última (PIZARRO et al., 1999).
O reconhecimento da ação farmacológica da hecogenina (HEC) no sistema nervoso
central (SNC) deve servir de estímulo para outras investigações. Uma avaliação recente sobre
o efeito antinociceptivo do acetato de hecogenina, usando expressão de Fos como um
marcador de ativação neuronal, sugeriu que a molécula induz a ativação da substância
cinzenta periaquedutal (GAMA et al., 2013). A administração aguda da HEC (5 ou 10 mg/kg,
ip) mostrou ação neuroprotetora relacionada a diminuição da peroxidação lipídica em áreas do
cérebro de camundongos (SAMPAIO et al., 2012). Em outro estudo, HEC demonstrou um
efeito antidepressivo e ansiolítico (LIMA et al., 2012).
Vários neurotrasmissores no SNC são aminoácidos tais como o Aspartato (ASP),
Glutamato (GLU), Glicina (GLI), Taurina (TAU) e o Ácido gama-aminobutírico (GABA).
Esses aminoácidos estão envolvidos em muitos processos fisiológicos importantes, desde o
desenvolvimento da formação das sinapses à aprendizagem e memória. O glutamato (GLU) é
o neurotransmissor excitatório predominante no SNC de mamíferos. Uma estimativa bruta é
que mais de 50% de todas as sinapses são glutamatérgicas (ALMEIDA, 2006). Outro
importante aminoácido no SNC é o GABA. Foi estimado que o GABA atua como transmissor
em cerca de 30% de todas as sinapses (RANG et al., 2012). A taurina, ou ácido 2-
aminoetanosulfônico, é um dos aminoácidos livres mais abundantes em diferentes tecidos,
sendo essencial para o funcionamento do sistema nervoso central dos mamíferos, atuando na
osmorregulação, estabilização e manutenção da integridade da membrana neuronal, e na
neuroproteção e controle da homeostasia do cálcio (SARANSAARI; OJA, 2007).
Visando expandir nossos estudos sobre a ação da HEC, o objetivo do presente trabalho
foi verificar a concentração de aminoácidos excitatórios (ASP e GLU) e inibitórios (GLI,
TAU e GABA) no córtex pré-frontal (CPF), hipocampo (HC) e corpo estriado (CE) de
camundongos após a administração aguda de HEC e, assim, identificar seu possível
mecanismo de ação a nível do SNC.
113
MATERIAL E MÉTODOS
Material Vegetal
A folha de Agave sisalana Perrine foi coletado de várias plantações de sisal, na
cidade de Santa Rita, Estado da Paraíba, Brasil, em abril de 2007. A exsicata, L.P. Felix
6246 (EAN) está depositada no Herbário Prof. Lauro Pires Xavier (JPB), Universidade
Federal da Paraíba, Brasil.
As amostras das folhas secas de A. sisalana (5 kg) foram extraídas com seis litros de
álcool etílico (etanol) 95% em um aparelho de Soxhlet por 24 horas. O solvente foi removido
sob pressão reduzida e o resíduo foi hidrolisado sob refluxo por quatro horas com 1,5 litros de
ácido hidroclórico etanólico 2N. A mistura reacional foi coletada e filtrada. A fração ácida
insolúvel foi lavada com água, solução de carbonato de sódio e água, até neutralizar. Depois
de seco, o resíduo ácido insolúvel foi extraído com hexano em um aparelho Soxleht por 12
horas. O extrato hexânico foi levado à um refrigerador por 24 horas. Após este período, um
precipitado foi formado. O precipitado foi filtrado e depois recristalizado em acetona,
formando 1g de hecogenina (0,02%), m.p. 256-258°C (lit.1 258 – 260°C). A hecogenina
encontrada é idêntica a uma amostra autêntica (co-TLC e mixed m.p.). 1H- e 13C-NMR (500 e
125 MHz) o espectro da hecogenina está de acordo com a literatura previamente citada
(AGRAWAL et al., 1985; JAFFER et al., 1983). O acetato de hecogenina foi obtido por
reação de acetilação da hecogenina com uma mistura de anidrido acético/piridina (KIM et al.,
2001). O sobrenadante foi concentrado e o resíduo foi submetido à cromatografia em coluna e
cromatografia líquida em camada delgada com fase fixa sílica gel produzindo mais
hecogenina (0.35 g, 0.007 %), 200 – 202 o C (lit.5 200 – 202 o C). A estrutura da hecogenina
usada neste estudo é mostra na Fig. 1.
114
Animais
Foram utilizados camundongos Swiss machos, pesando 25-35g, provenientes do
Biotério da Universidade Federal do Ceará (UFC). O projeto aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa Animal (CEPA) da UFC (Nº protocolo 44/2010).
Reagentes e drogas
Tween 80 4 % foi obtido de Vetec Química Farm. Ltda (Rio de Janeiro, Brasil).
Enquanto o Aspartato, Glutamato, Glicina, Taurina e o GABA, foram adquiridos da Sigma
Chem. Co. (St. Louis, MO, USA).
Protocolo de tratamento para Dosagem de Aminoácidos
Os animais foram tratados Tween 80 4 % (controle), HEC 5, 10, 20 ou 40 mg/kg.
Todos os grupos foram tratados por via intraperitonial (ip). Trinta minutos após a
administração dos compostos, os animais foram sacrificados por rápida decapitação e o CPF,
HC e CE foram dissecados, congelados e armazenados a -70 ºC até serem utilizados para os
ensaios, seguindo a metodologia de Pereira et al. (2009).
Dosagem de Aminoácidos
Para a determinação das concentrações de aminoácidos, utilizou-se o equipamento de
HPLC (High Performance Liquid Chromatography) com detector de fluorescência. Os
tecidos cerebrais foram sonicados em ácido perclórico (HCLO4) por 30s e centrifugados por
15 minutos em centrífuga refrigerada a 15.000 rpm. O sobrenadante foi separado e filtrado
por meio de uma membrana (millipore - 0,2 µm) e, posteriormente, associado a uma solução
de derivatização pré-coluna, para obtenção de fluorescência, em uma proporção de 1:1. Um
minuto depois do início dessa associação uma alíquota de 20 µl foi retirada e injetada no
equipamento de HPLC para a análise química.
Para a análise dos aminoácidos, uma coluna CLC-ODS (M) com comprimento de 15
cm, calibre 4,6 mm e diâmetro da partícula de 3 m, da Shimadzu-Japão foi utilizada. A fase
móvel foi utilizada em gradiente com duas fases: A- NaH2PO4 (50mM) e metanol (20%, v/v)
em pH 5,5; B- Metanol puro (100 %). Aspartato (ASP), Glutamato (GLU), Glicina (GLI),
Taurina (TAU) e GABA foram detectados com uso de um detector de fluorescência (Modelo
RF-535 da Shimadzu, Japão) com comprimento de ondas de EX-Wavelength (370 nm) e EM-
Wavelength (450 nm). Os cromatogramas foram registrados e quantificados por um
computador usando um software da Shimadzu. A quantidade dos aminoácidos foi calculada
115
por comparação da altura dos picos obtidos com a média dos padrões e os resultados
expressos em µmol/g de tecido.
Análise estatística
As análises foram realizadas por meio da análise de variância (ANOVA), usando o
software Prism 5.0. versão para Windows, GraphPad Software (San Diego, CA, EUA). Para
avaliação da significância, comparações múltiplas foram feitas com ANOVA e por Tukey
como post hoc testes. Os resultados foram considerados significativos para p <0,05 e
apresentados como média ± EPM.
116
RESULTADOS
Referente aos aminoácidos excitatórios no CPF (Figura 1A), a concentração de ASP
aumentou nesta área cerebral após a administração aguda de HEC nas duas maiores doses
(HEC 20: 67,22±10,42; HEC 40: 106,8±12,52) quando comparado com o controle
(21,95±7,29). Efeito semelhante foi observado nas concentrações de GLU nas doses de 10,
20 ou 40 mg/kg (HEC 10: 79,25±14,10; HEC 20: 133,1±7,68; HEC 40: 197,9±12,04)
comparado ao controle (19,61±3,80).
Em relação aos aminoácidos inibitórios no CPF (Figura 1B), após a administração
de HEC, a concentração de GLI aumentou nas doses de 20 (77,03±19,44) ou 40 mg/kg
(61,31±5,44) quando comparado ao controle (24,22±3,12). Efeito semelhante foi observado
nas concentrações de TAU (HEC 20: 452,3±101,0; HEC 40: 733,4±26,24) e GABA (HEC
20: 174,7±46,62; HEC 40: 204,2±8,97) quando comparado ao grupo controle
(TAU=141,4±23,78; GABA= 33,10±5,03).
117
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
0
50
100
150
200
250ASP
GLU
a
a,b,ca,b
a,b,c
a,b,c,d
A)
µµ µµm
ol/
g d
e t
ecid
o
Con
trol
e
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Con
trol
e
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Con
trol
e
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
0
200
400
600
800
TAU
GABA
GLI
a,b
b
a,b,c
a,b,c,d
a,b,
c
a,b,c
B)
a
µµ µµm
ol/
g d
e t
ecid
o
Figura 1. Efeitos da HEC na concentração de aminoácidos excitatórios (A) e inibitórios (B) em CPF de camundongos. Controle (Tween 80 4 %) ou HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg) foram administrados 30 minutos (ip) antes do experimento. Dados em µmol/g de tecido são apresentados como média ± EPM (n =4-11). a,b,c,d quando comparado aos grupos controle, HEC 5, HEC 10 ou HEC 20, respectivamente. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
118
Os resultados da Figura 2A mostram a concentração dos aminoácidos excitatórios no
HC, após administrações de HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg, ip) ou veículo sobre as
concentrações de aminoácidos (µmol/g de tecido) em camundongos. Nesta área cerebral, as
concentrações de ASP e GLU foram aumentadas na maior dose de HEC (ASP=244,8±81,21;
GLU=86,10±32,51) quando comparado aos grupos controles (ASP= 40,86±10,32; GLU=
31,04±5,35).
Efeito semelhante foi observado nessa área cerebral (Figura 2B) após a administração
de HEC, em altas doses, nas concentrações dos aminoácidos inibitórios GLI (51,88±17,84) e
TAU (341.1±110.9) quando comparado ao grupo controle (GLI= 11,94±2,35;
TAU=122,8±19,18). As concentrações de GABA não foram alteradas no HC dos animais
tratados com HEC quando comparado com o controle.
119
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
0
100
200
300
400ASP
GLU
A)
a,b,c,d
a,bµµ µµ
mo
l/g
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ecid
o
Con
trol
e
HEC 5
HEC 1
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HEC 2
0
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HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Con
trol
e
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
0
100
200
300
400
500
TAU
GABA
GLI
B)
a
a
µµ µµm
ol/
g d
e t
ecid
o
Figura 2. Efeitos da HEC na concentração de aminoácidos excitatórios (A) e inibitórios (B) em HC de camundongos. Controle (Tween 80 4 %) ou HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg) foram administrados 30 minutos (ip) antes do experimento. Dados em µmol/g de tecido são apresentados como média ± EPM (n =3-9). a,b,c,d quando comparado aos grupos controle, HEC 5, HEC 10 ou HEC 20, respectivamente. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
120
Sobre os aminoácidos excitatórios no CE (Figura 3A), a administração aguda de 20
ou 40 mg/kg de HEC aumentou a concentração de ASP (HEC 20: 63,43±10,70; HEC 40:
210,0±22,83) comparado ao controle (16,22±1,98). Efeito semelhante foi observado na
concentração de GLU (HEC 20: 215,4±22,22; HEC 40: 227,2±30,53) quando comparado ao
grupo controle (32,62±2,76).
Quanto aos aminoácidos inibitórios (Figura 3B), HEC causou aumento na
concentração de GLI e GABA no CE dos camundongos após a administração da molécula na
dose de 40 mg/kg (GLI=85,33±12,75; GABA=194,2±31,03) quando comparado ao grupo
controle (GLI=29,74±2,65; GABA= 70,74±7,61). Efeito semelhante foi observado com TAU,
porém esse aumento foi observado tanto na dose de 20 (TAU=450,5±68,69) quanto na de 40
mg/kg (TAU=812,1±109,2) comparada ao controle (TAU=157,4±25,16).
121
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
0
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300ASP
GLU
a
a,b,c,d
A)
a,b,ca,b,c
µµ µµm
ol/
g d
e t
ecid
o
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Con
trole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Contr
ole
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
0
200
400
600
800
1000
TAU
GABA
GLI
B)
a,b,c,d
a
a,b,c,d
a,b
µµ µµm
ol/
g d
e t
ecid
o
Figura 3. Efeitos da HEC na concentração de aminoácidos excitatórios (A) e inibitórios (B) em CE de camundongos. Controle (Tween 80 4 %) ou HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg) foram administrados 30 minutos (ip) antes do experimento. Dados em µmol/g de tecido são apresentados como média ± EPM (n =4-13). a,b,c,d quando comparado aos grupos controle, HEC 5, HEC 10 ou HEC 20, respectivamente. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
122
DISCUSSÃO
A avaliação das alterações provocadas por moléculas isoladas de plantas nas
concentrações de aminoácidos excitatórios e inibitórios do SNC tem despertado o interesse
dos pesquisadores nos últimos anos (ARAGÃO et al., 2006; CHAVES, 2012; PEREIRA et
al., 2009). Nestas pesquisas, foram estudadas áreas cerebrais tais como córtex pré-frontal,
hipocampo e corpo estriado que recebem informações de todas as modalidades sensitivas,
assim como sobre estados motivacionais e emocionais (AFIFI; BERGMAN, 2007).
Nossos resultados demonstraram que a administração aguda de HEC, nas duas
maiores doses, aumentou as concentrações dos principais aminoácidos GLU e GABA no
córtex pré-frontal. No corpo estriado, efeito semelhante foi observado apenas quando a maior
dose de HEC foi administrada. No HC, outra área estudada, as concentrações do GABA não
foram alteradas após a administração de nenhuma dose de HEC. Nesta área, as concentrações
de GLU foram aumentadas apenas na maior dose de HEC.
Um estudo prévio do nosso grupo (LIMA et al., 2012) sugeriu que a HEC não
apresenta um mecanismo de ação similar aos benzodiazepínicos ou não age no sítio de ação
dessa classe de fármacos pois os efeitos ansiolíticos da HEC, nos testes compostamentais, não
foram revertidos com o uso do flumazenil, um antagonista GABAérgico. Ressaltamos ainda
que no estudo de Lima et al (2012), a dose de 20 mg/kg de HEC causou também efeito
ansiolítico nos testes comportamentais. No entanto, esta dose não causou aumento na
concentração de GABA no HC e CE dos animais.
O GABA serve como transmissor de cerca de 30% das sinapses no SNC. Este
aminoácido é particularmente abundante (cerca de 10 µmol/g de tecido) no sistema
nigroestriado, porém ocorre em concentrações menores (2-5 µmol/g) em toda a substância
cinzenta (ARAGÃO et al., 2006; RANG et al., 2012). O glutamato tem um efeito modulatório
sobre o sistema gabaérgico em que um aumento de glutamato endógeno no córtex pré-frontal
está relacionado com concentrações aumentadas de GABA extracelular (DEL ARCO;
MORA, 1999). Outro autor (CAROBREZ, 2003) esclarece que o GLU pode ser encontrado
em vesículas sinápticas para ser liberado de maneira dependente de Ca++ ou como precursor
do GABA em sinapses inibitórias. Os estudos de ligação (binding) fármaco-receptor mostram
que os receptores de GLU são mais abundantes no córtex, nos núcleos da base e nas vias
sensitivas (RANG et al., 2012).
Hecogenina, apenas nas maiores doses, causou aumento de ASP nas áreas cerebrais
estudadas. Chaves (2012) explica que o entendimento do mecanismo da modulação mútua
entre os aminoácidos é complexo, pois envolve muitas vezes mais de um sistema. O ASP tem
relação com o GLU, atuando como um agonista relativamente seletivo de receptores
123
glutamatérgicos NMDA extra-sinápticos (BRADFORD; NALDER, 2004). Miyamoto et al.,
(2001), esclarece que a função dos receptores glutamatérgicos NMDA parece estar
relacionado à atividade serotoninérgica. Portanto, dados obtidos em testes comportamentais
mostraram que HEC tem efeitos ansiolíticos e antidepressivos (LIMA et al., 2012), sendo que
o efeito excitatório do glutamato pode estar sendo modulado pela atividade serotoninérgica.
O Glutamato tem ação modulatória realizada por outros neurotransmissores. Sabe-se
que, além do glutamato, a ativação dos receptores NMDA exige glicina. O GLU, ligando-se
com alta afinidade na subunidade NR2 em associação com a glicina (GLI), ligada na
subunidade NR1, promoveriam a entrada de Ca++ e Na+, contribuindo para a excitabilidade da
célula (CAROBREZ, 2003).
Portanto, a GLI junto com o GLU atua como um co-agonista de receptores NMDA,
facilitando ação da atividade excitatória dos receptores glutamatérgicos, em contraste com a
atividade inibitória da glicina (ALMEIDA, 2006), que, quando receptores de glicina são
ativados, o ânion cloreto entra no neurônio através de receptores ionotrópicos, causando um
potencial pós-sináptico inibitório (RANG et al., 2012). GLI apresenta ainda ações
antiinflamatórias, citoprotetoras e imunomoduladoras (PEREIRA et al., 2009).
Nesta pesquisa, a administração de HEC nas doses de 5 ou 10 mg/kg não alterou a
concentração de GLI nas três áreas cerebrais estudadas. Em outra pesquisa (ALMEIDA et al.,
2012) realizada em nosso laboratório foi demonstrado que as doses de 5 ou 10 mg/kg de HEC
(ip) não causaram proteção das convulsões induzidas com estricnina, esta droga age
principalmente na medula espinal e bloqueia tanto a resposta inibitória sináptica quanto à
resposta à glicina. Assim, este estudo sugeriu que estas doses menores de HEC não aumentam
GLI. No entanto, foi observado que a HEC, nas maiores doses, age nesse sistema,
aumentando as concentrações de GLI no CPF, HC e CE.
A taurina é o aminoácido livre mais abundante no cérebro, depois de GLU. Apesar de
taurina desempenhar um papel importante no desenvolvimento neural, osmorregulação e
proteção neural, as suas funções na neurotransmissão e modulação permanecem mal
compreendidos. A ausência de evidência molecular de um receptor específico e de um
antagonista específico para taurina torna difícil diferenciar os seus efeitos da GLI e do GABA.
Em muitos casos, os transportadores de TAU são encontrados em neurônios glutamatérgicos,
sugerindo que a taurina e glutamato podem ser liberados a partir dos mesmos neurônios
(BULLEY; SHEN, 2010). Portanto, o aumento de TAU nas áreas cerebrais estudadas, após a
administração aguda de HEC, pode ser parcialmente justificado pelo aumento do GLU.
124
Taurina tem várias funções protetoras contra a toxicidade do glutamato no cérebro
(BULLEY; SHEN, 2010) como, por exemplo, nas situações de isquemia cerebral e lesão
medular em que os neurônios são susceptíveis a toxicidade do glutamato (BENTON; ROSS;
MILLER, 2001).
Conforme explicitado, HEC apresentou efeito ansiolítico nos testes de labirinto em
cruz elevado e na placa perfurada (LIMA et al., 2012) e este efeito pode estar relacionado ao
aumento nas concentrações de aminoácidos como a TAU em áreas cerebrais.
Estudos farmacológicos revelaram que a microinjeção de TAU produziu uma
diminuição inicial na atividade neuronal, reduzindo o comportamento de ansiedade no teste de
labirinto em cruz elevado (MCCOOL; CHAPPELL, 2007). Outro estudo delineado por
Pereira et al (2009) mostrou que o diazepam (1 mg/kg), dose ansiolítica, administrado
agudamente causou aumento na concentração de TAU no CPF e HC de camundongos. Cabe
citar ainda o estudo de Chaves (2012) quando foi demonstrado que um composto vegetal com
ação ansiolítica foi capaz de aumentar a concentração de TAU no CPF, HC e CE dos animais.
Por meio da dosagem da concentração dos aminoácidos no CPF, HC e CE, após a
administração aguda de HEC, foi possível concluir que a HEC, nas maiores doses, age no
SNC aumentando GLU que tem um efeito modulatório sobre ASP, GLI e TAU.
125
REFERÊNCIAS
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126
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127
Artigo 4
Determinação da concentração de monoaminas no corpo estriado de camundongos
tratados agudamente com hecogenina
128
Determinação da concentração de monoaminas no corpo estriado de camundongos
tratados agudamente com hecogenina
Rita Neuma D. C. de Abreua,b, Aline Miranda Sousab, José M. Barbosa Filhoc, Augusto Lopes
Soutoc, Silvânia M. M. Vasconcelosd
aRENORBIO – Rede Nordeste de Biotecnologia, UECE – Paranjana, 1700 – Campus Itaperi
– 60740-000 Fortaleza, CE, Brasil; bUniversidade de Fortaleza – Avenida Washington Soares, 1321, Edson Queiroz – 60.811-
905, Fortaleza, CE, Brasil. cUniversidade Federal da Paraíba, Cidade Universitária - 58051-900 João Pessoa, PB, Brasil.
dDepartamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal
do Ceará, Rua Cel. Nunes de Melo, 1127 – 60430-270, Fortaleza, CE, Brasil.
RESUMO: Objetivou-se verificar a concentração das monoaminas (dopamina (DA),
norepinefrina (NA), serotonina (5-HT)), e seus metabólitos (ácido 3,4-hidroxifenil (DOPAC),
ácido homovanílico (HVA) e 5 ácido hydroxiindolacético (5-HIAA)) no corpo estriado de
camundondos após administração aguda de hecogenina (HEC), isolada de Agave sisalana
Perrine. Camundongos machos Swiss, pesando de 25-35 g, foram tratados com Tween 80 4%
(controle), HEC 5, 10, 20 ou 40mg/kg, via intraperitoneal - ip. Para a determinação das
concentrações de monoaminas, utilizou-se o equipamento de High Performance Liquid
Chromatography com detector de fluorescência. Nenhuma alteração nas concentrações de DA
foi observada após tratamento agudo de HEC nas doses estudadas. Entretanto, HEC nas
maiores doses, causou uma redução nas concentrações de DOPAC e HVA quando comparado
aos seus controles. A administração de HEC nas doses de 20 ou 40 mg/kg aumentou as
concentrações de NA, quando comparado ao controle. Quanto as concentrações de serotonina
e 5-HIAA, a HEC somente causou um aumento dessa monoamina e de seu metabólito na
maior dose estudada. O aumento nas concentrações das monoaminas estriatais pode ser
sugerir um possível mecanismo de ação do efeito antidepressivo da hecogenina.
Palavras-chave: Monoaminas; sistema nervoso central; hecogenina.
129
INTRODUÇÃO
As doenças neuropsiquiátricas têm aumentado em conseqüência do aumento da
população idosa, o que acarreta um grande problema social. Acredita-se que as monoaminas
estejam envolvidas na patogenia de muitas doenças mentais. Ressalta-se a hipótese das
monoaminas, a qual deduziu que a depressão devia estar associada à diminuição da
transmissão sináptica funcional dependente de aminas (GOLAN et al., 2010; MELO et al.,
2011).
O mecanismo de ação de grande parte dos antidepressivos clássicos é por meio da
inibição da recaptação das monoaminas, pelo bloqueio do sítio específico dos transportadores
monoaminérgicos, ou por inibição da enzima monoaminoxidase, responsável pela degradação
das monoaminas (GUIARD; MANSARI; BLIER, 2009; KATZUNG, 2007).
Estudos têm demonstrado que compostos de origem vegetal causam mudanças no
comportamento animal com potencial antidepressivo (LIMA et al., 2010; VENÂNCIO, 2009)
por alterarem a concentração das monoaminas em áreas cerebrais. Esses compostos vegetais
são promissores como alvos terapêuticos para doenças no SNC, como a depressão e a
ansiedade.
Foi iniciado, no laboratório de Neuropsicofarmacologia da UFC, estudo sobre a ação
da hecogenina, uma sapogenina esteroidal isolada de Agave sisalana Perrine, no sistema
nervoso central de camundongos (ALMEIDA et al., 2012; SAMPAIO et al., 2012;
VASCONCELOS et al., 2010). Em modelos para verificar a atividade antidepressiva de
drogas, a hecogenina apresentou efeito antidepressivo. Portanto, decidiu-se confirmar este
efeito por meio da determinação da concentração de monoaminas no corpo estriado de
camundongos.
O objetivo do presente estudo foi verificar a concentração das monoaminas (dopamina
(DA), norepinefrina (NA), serotonina (5-HT)), e seus metabólitos (ácido 3,4-hidroxifenil
(DOPAC), ácido homovanílico (HVA) e 5 ácido hydroxiindolacético (5-HIAA)) no corpo
estriado de camundondos após administração aguda de hecogenina.
130
MATERIAL E MÉTODOS
Material Vegetal
A folha de Agave sisalana Perrine foi coletado de várias plantações de sisal, na
cidade de Santa Rita, Estado da Paraíba, Brasil, em abril de 2007. A exsicata, L.P. Felix
6246 (EAN) está depositada no Herbário Prof. Lauro Pires Xavier (JPB), Universidade
Federal da Paraíba, Brasil.
As amostras das folhas secas de A. sisalana (5 kg) foram extraídas com seis litros de
álcool etílico (etanol) 95% em um aparelho de Soxhlet por 24 horas. O solvente foi removido
sob pressão reduzida e o resíduo foi hidrolisado sob refluxo por quatro horas com 1,5 litros de
ácido hidroclórico etanólico 2N. A mistura reacional foi coletada e filtrada. A fração ácida
insolúvel foi lavada com água, solução de carbonato de sódio e água, até neutralizar. Depois
de seco, o resíduo ácido insolúvel foi extraído com hexano em um aparelho Soxleht por 12
horas. O extrato hexânico foi levado à um refrigerador por 24 horas. Após este período, um
precipitado foi formado. O precipitado foi filtrado e depois recristalizado em acetona,
formando 1g de hecogenina (0,02%), m.p. 256-258°C (lit.1 258 – 260°C). A hecogenina
encontrada é idêntica a uma amostra autêntica (co-TLC e mixed m.p.). 1H- e 13C-NMR (500 e
125 MHz) o espectro da hecogenina está de acordo com a literatura previamente citada
(AGRAWAL et al., 1985; JAFFER et al., 1983). O acetato de hecogenina foi obtido por
reação de acetilação da hecogenina com uma mistura de anidrido acético/piridina (KIM et al.,
2001). O sobrenadante foi concentrado e o resíduo foi submetido à cromatografia em coluna e
cromatografia líquida em camada delgada com fase fixa sílica gel produzindo mais
hecogenina (0.35 g, 0.007 %), 200 – 202 o C (lit.5 200 – 202 o C). A estrutura da hecogenina
usada neste estudo é mostra na Fig. 1.
131
Animais
Foram utilizados camundongos Swiss machos, pesando 25-35g, provenientes do
Biotério da Universidade Federal do Ceará (UFC). O projeto aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa Animal (CEPA) da UFC (Nº protocolo 44/2010).
Protocolo de tratamento
Os animais foram tratados Tween 80 4 % (controle), HEC 5, 10, 20 ou 40 mg/kg.
Todos os grupos foram tratados por via intraperitonial (ip). Trinta minutos após a
administração dos compostos, os animais foram sacrificados por rápida decapitação e o CE de
cada animal foi dissecado, congelado e armazenado a -70 ºC até ser utilizado para os ensaios.
Determinação dos níveis de monoaminas e metabólitos
O CE foi utilizado para preparar homogenatos a 10%. Os tecidos cerebrais foram
sonicados em ácido perclórico (HCLO4) por 30 s e centrifugados por 15 minutos em
centrífuga refrigerada a 15.000 rpm. Uma alíquota de 20 µl do sobrenadante foi, então,
injetada no equipamento de HPLC com detecção eletroquímica, para a análise química.
Para a análise das monoaminas, uma coluna CLC-ODS(M) com comprimento de 25
cm, calibre 4,6 mm e diâmetro da partícula de 3 µm, da Shimadzu-Japão, foi utilizada. A fase
móvel utilizada foi composta por tampão ácido cítrico 0,163 M, pH 3,0, contendo ácido
octanosulfônico sódico, 0,69 M (SOS), como reagente formador do par iônico, acetonitrila 4
% v/v e tetrahidrofurano 1,7 % v/v. Dopamina (DA), DOPAC (Ácido diidroxifenilacético
(DOPAC), Ácido homovanílico (HVA), Serotonina (5-HT), Ácido 5-hidroxiindolacético (5-
HIAA) e Noradrenalina (NE) foram eletronicamente detectados usando um detector
amperométrico (Modelo L-ECD-6A da Shimadzu, Japão) pela oxidação em um eletrodo de
carbono vítreo fixado em 0,85 V relativo a um eletrodo de referência de Ag-AgCl. Os padrões
foram preparados em uma concentração final de 4 ng de NE, DA, 5-HT, DOPAC, HVA e 5-
HIAA (Sigma, MO, EUA). A partir da altura ou área dos picos desses padrões, as amostras
foram calculadas no programa Microsolf Excel em um computar PC e os resultados expressos
em ng/g de tecido.
132
Análise estatística
As análises foram realizadas por meio da análise de variância (ANOVA), usando o
software Prism 5.0. versão para Windows, GraphPad Software (San Diego, CA, EUA). Para
avaliação da significância, comparações múltiplas foram feitas com ANOVA e por Tukey
como post hoc testes. Os resultados foram considerados significativos para p <0,05 e
apresentados como média ± EPM.
133
RESULTADOS
As concentrações de monoaminas e seus metabólitos em corpo estriado de
camundongos após a administração aguda de hecogenina (5, 10, 20 ou 40 mg/kg, ip) estão
apresentados nas Figuras 1 e 2.
Nenhuma alteração nas concentrações de dopamina foi observada após tratamento
agudo de HEC nas doses estudadas. Entretanto, HEC, nas maiores doses, causou uma redução
nas concentrações de DOPAC (HEC 20=268,1±61,56; HEC 40=780,3±113,5) e HVA (HEC
20=218,5±38,04; HEC 40=111,2±24,30) quando comparado aos seus controles
(DOPAC=1565±266,9; HVA=600,8±76,61). Efeito semelhante foi observado nas
concentrações de HVA entre os grupos de HEC (40 mg/kg) quando comparado aos grupos
tratados com HEC de 5 ou 10 mg/kg (HEC5=554,2±74,09; HEC 10=488,3±102,4).
134
Controle
HEC 5
HEC 10
HEC 20
HEC 40
Controle
HEC 5
HEC 10
HEC 20
HEC 40
Controle
HEC 5
HEC 10
HEC 20
HEC 40
0
500
1000
1500
2000
DOPAC
HVA
DA
a
a
a,b
a,b,cn
g/g
de
teci
do
Figura 1 – Efeito da administração aguda da hecogenina (5, 10, 20 ou 40 mg/kg, i.p.) nas concentrações de DA, DOPAC e HVA (ng/g de tecido) em corpo estriado de camundongos. Os valores foram expressos como média±EPM (n =5-9). Controle (Tween 80 4 %) ou HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg) foram administrados 30 minutos (ip) antes do experimento. a,b,cquando comparado aos grupos controle, HEC 5 ou HEC 10, respectivamente. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc). Dopamina (DA); ácido 3,4-diidroxifenilacético (DOPAC) e ácido homovanílico (HVA), foram detectados eletroquimicamente através da técnica de HPLC.
135
A administração de HEC (Figura 2), nas doses de 20 ou 40 mg/kg, aumentou as
concentrações de noradrenalina (HEC 20=3102±343,4; HEC 40=2636±489,8), quando
comparado ao controle (708,1±157,0) . Quanto as concentrações de serotonina e 5-HIAA, a
HEC somente causou um aumento dessa monoamina e de seu metabólito na maior dose
estudada (5-HT=1752±359,1; 5-HIAA=2732±315,1) quando comparada aos grupos controles
(5-HT=365,7±66,64; 5-HIAA=311,5±43,23).
136
Con
trol
e
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Con
trol
e
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
Con
trol
e
HEC 5
HEC 1
0
HEC 2
0
HEC 4
0
0
1000
2000
3000
4000
5-HT
5-HIAA
NAa,b,ca,b,c
a,b
a,b,c,d
ng
/g d
e t
ecid
o
Figura 2 – Efeito da administração aguda da hecogenina (5, 10, 20 ou 40 mg/kg, i.p.) nas concentrações de NA, 5-HT e 5-HIAA (ng/g de tecido) em corpo estriado de camundongos. Os valores foram expressos como média±EPM (n =3-12). Controle (Tween 80 4 %) ou HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg) foram administrados 30 minutos (ip) antes do experimento. a,b,c,dquando comparado aos grupos controle, HEC 5, HEC 10 ou HEC 20, respectivamente. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc). Noradrenalina (NA), serotonina (5-HT) e ácido 5-hidroxindolacético (5-HIAA) foram detectados eletroquimicamente através da técnica de HPLC.
137
DISCUSSÃO
As concentrações de dopamina, serotonina e noradrenalina e metabólitos foram
estudados no CE de camundongos após a administração aguda de HEC. Esses resultados
demonstraram que a HEC apresentou um aumento nas concetrações de NE e 5-HT, porém
sem aumentar DA.
A dopamina é encontrada em quantidades mais abundandes no corpo estriado,
ocorrendo também em altas concentrações em certas partes do sistema límbico e hipotálamo.
A dopamina é, em grande parte, capturada após a sua liberação das terminações nervosas por
um transportador específico de dopamina. É metabolizada pela MAO e catecol-O-
metiltransferase (COMT), sendo os principais produtos o ácido diidroxifenilacético (DOPAC)
e o ácido homovanílico (HVA, o derivado metoxi do DOPAC) (RENARD et al., 2003;
RANG et al, 2012). Os efeitos conseqüentes à diminuição na função do sistema
dopaminérgico são, reconhecidamente, demência e depressão, enquanto uma ativação desse
sistema conduz à psicose, ansiedade, confusão e agressão (ARAÚJO et al., 2006).
O conteúdo de DA no corpo estriado de camundongos não sofreu nenhuma alteração
após a administração HEC nas quatro doses estudadas, o que é consistente com a ausência de
mudança da atividade locomotora evidenciada no campo aberto em pesquisas prévias
realizadas em nosso laboratório. Por outro lado, os níveis de DOPAC e de HVA diminuiram
de maneira significativa após a administração de HEC nas maiores doses.
Dados na literatura mostram um aumento nos níveis de DA e acompanhado de um
aumento de DOPAC decorrente do estresse induzido pelo nado forçado em animais
(RENARD et al., 2003). Em nossos resultados foi observado que a hecogenina também
diminuiu esse metabólito (DOPAC) em corpo estriado, mostrando provavelmente, um efeito
antidepressivo da molécula a nível de Sistema Nervoso Central, desde que, o teste de
suspensão de cauda apresentou este efeito em animais tratados com hecogenina.
Hecogenina, nas duas maiores doses, aumentou a concentração de noradrenalina no
CE dos camundongos. Sabe-se da participação do sistema noradrenérgico na fisiopatologia da
depressão, e esta visão é consistente com efeitos dos antidepressivos em animais. Não há
evidência consistente sobre o mecanismo específico, mas está claro que a alteração da
atividade dos neurônios noradrenérgicos está envolvida na ação de drogas antidepressivas
(VENÂNCIO, 2009).
É bem estabelecido que a depressão está relacionada a redução de noradrenalina e
serotonina e que inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina e ou serotonina
melhoram a depressão (GOLAN et al., 2010; KATZUNG, 2007).
138
Os dados demonstraram que a concentração de serotonina foi aumentada com a maior
dose de HEC. No entanto, houve aumento do seu metabólito (5-HIAA) nesta mesma dose de
HEC. A serotonina (5-HT) desempenha um importante papel no sistema nervoso, com
diversas funções, como a liberação de alguns hormônios, regulação do sono, temperatura
corporal, apetite, humor, atividade motora e funções cognitivas. Como a formação de 5-HIAA
é responsável por quase 100% do metabolismo da 5-HT no cérebro, a taxa de renovação da
serotonina é estimada ao se determinar a taxa de elevação do 5-HIAA (FEIJO, BERTOLUCI
e REIS, 2011). Segundo Venâncio et al (2009) a redução das concentrações de monoaminas,
bem como de seus metabólitos no CPF, HC e CE de camundongos sugere atividade
depressora de compostos vegetais determinada após a análise dos modelos animais
comportamentais de depressão.
Os dados apresentados permitiram concluir que HEC aumentou as concentrações de
NE e 5-HT, sugerindo que seu efeito antidepressivo pode estar diretamente ligado ao
aumento dessas monoaminas no CE de camundongos.
139
REFERÊNCIAS AGRAWAL, P.K.; JAIN, D.C.; GUPTA, R.K.; THAKUR, R.S. Carbon-13 NMR spectroscopy of steroidal sapogenins and steroidal saponins. Phytochemistry, 24, 2479-2496, 1985. ALMEIDA, A.B. et al. Efeito da hecogenina no modelo de indução de convulsão em camundongos. In: XXII Simpósio de plantas medicinais do Brasil. 2012, Bento Gonçalves, RS. Anais do XXII Simpósio de plantas medicinais do Brasil. Rio Grande do Sul, 2012. FEIJO, F de M.; BERTOLUCI, M. C.; REIS, C. Serotonina e controle hipotalâmico da fome: uma revisão. Rev. Assoc. Med. Bras. v.57, n.1, p. 74-77, 2011. GOLAN, D. E. et al. Princípios de Farmacologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. GUIARD, B. P.; MANSARI, M. E.; BLIER, P. Prospect of a Dopamine Contribution in the Next Generation of Antidepressant Drugs: The Triple Reuptake Inhibitors. Current Drug Targets, 10, 1069-1084, 2009. JAFFER, J.A.; CRABB, T.A.; TURNER, C. H.; Blunden, G. Hydroxy group substituent effects on HNMR chemical shifs in the structural elucidation of spirostanes. Journal of Magnetic Resonance, 21, p. 576-579, 1983. KATZUNG, B.G. Farmacologia básica e clínica. 10 ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2007. KIM, J.Y.; KOO, H.M.; KIM, D.S. Development of C-20 modified betulinic acid derivatives as antitumor agents. Bioorganic & Medicinal Chemistry Letters, 11, p. 2405-2408, 2001. LIMA, R.; LIMA, N.; CHAVES, E.; LEAL, L.; PATROCÍNIO, M.; LOBATO, R.; RAMOS, M.; SOUSA, F.C.F.; CARVALHO, K.; VASCONCELOS, S. Central Nervous System Activity of Acute Administration of Latex Proteins from Calotropis procera in Mice. Journal of Complementary and Integrative Medicine, 7, p. 1-9, 2010. MELO, F. H. C. et al. Antidepressant-like effect of carvacrol (5-Isopropyl-2-methylphenol) in mice: involvement of dopaminergic system. Fundamental & Clinical Pharmacology, 25, p. 362–367, 2011. RENARD, C.E.; DAILLY, E.; DAVID, D.J.P.; HASCOET, M.; BOURIN, M. Monoamine metabolism changes following the mouse forced swimming test but not the tail suspension test. Fundamental & Clinical Pharmacology. 17, 449–455, 2003. SANTOS, Í. M. de S.; FREITAS, R. L. M. de; SALDANHA, G. B.; TOMÉ, A. da R.; JORDAN, J.; FREITAS, R.M. de. Alterations on monoamines concentration in rat hippocampus produced by lipoic acid. Arq Neuropsiquiatr; v. 68, n. 3, p. 362-366, 2010. VASCONCELOS, G.S.; BARBOSA-FILHO, E.S.; BARBOSA-FILHO, J.M.; VASCONCELOS, S. M. M.; HONÓRIO JÚNIOR, J.E.R .; ABREU, R. N. D. C. Avaliação da hecogenina no controle da peroxidação lipídica no sistema nervoso central de camundongos. In: XXI SPMB (Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil), Paraíba. XXI SPMB, 2010.
140
Artigo 5
Ação da hecogenina, isolada de Agave sisalana Perrine, sobre os parâmetros do estresse
oxidativo no cérebro de camundongos
141
Ação da hecogenina, isolada de Agave sisalana Perrine, sobre os parâmetros do estresse
oxidativo no cérebro de camundongos
Rita Neuma Dantas Cavalcante de Abreua,b, José Maria Barbosa Filhoc, Euclides Sales
Barbosa Filhob, Naiara Coelho Ximenesd, Nicole Brito Cortez Limae, Caren Nádia Soares de
Sousad, José Eduardo Ribeiro Honório Júniord, Danielle Silveira Macêdod, Silvânia Maria
Mendes Vasconcelosd
aRENORBIO – Rede Nordeste de Biotecnologia, UECE – Paranjana, 1700 – Campus Itaperi
– 60740-000 Fortaleza, CE, Brasil; bUniversidade de Fortaleza – Avenida Washington Soares, 1321, Edson Queiroz – 60.811-
905, Fortaleza, CE, Brasil. cUniversidade Federal da Paraíba, Cidade Universitária - 58051-900 João Pessoa, PB, Brasil.
dDepartamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal
do Ceará, Rua Cel. Nunes de Melo, 1127 – 60430-270, Fortaleza, CE, Brasil.
RESUMO: Objetivou-se estudar os efeitos da hecogenina (HEC), isolada de Agave sisalana
Perrine, sobre os parâmetros do estresse oxidativo no sistema nervoso central (SNC) de
camundongos. Foram utilizados camundongos Swiss, pesando de 25-35g. Os efeitos da
administração aguda de HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg, via intraperitoneal - ip) ou em doses
repetidas por sete dias (20 ou 40 mg/kg, ip) foram avaliados pelos testes: avaliação da
peroxidação lípidica, atividade da catalase e concentração de nitrito. Para isto, as áreas
cerebrais córtex Pré-frontal (CPF), hipocampo (HC) e corpo estriado (CE) foram dissecadas.
Referente aos efeitos da administração aguda da HEC sobre a peroxidação lipídica, observou-
se uma diminuição no CPF, HC e CE em todas as doses, comparado com os grupos controles.
A administração em doses repetidas da HEC (20 ou 40 mg/kg) não causou alterações
relacionadas a peroxidação lipídica no CPF, HC e CE em comparação com os controles. HEC,
administrada agudamente ou em doses repetidas, não causou alterações na atividade da
catalase, nas três áreas cerebrais, em comparação com os controles. Nas duas maiores doses,
HEC causou diminuição na concentração de nitrito no CPF, HC e CE comparado ao controle.
A molécula não causou estresse oxidativo ao SNC, demonstrando neuroproteção relacionada
a diminuição da peroxidação lípidica e concentração de nitrito após a administração aguda.
Palavras-chave: Sistema Nervoso Central; Hecogenina; Antioxidantes.
142
INTRODUÇÃO
A. sisalana, popularmente conhecida como sisal, é uma planta originada do México,
fazendo parte da família Agavaceae. É bem adaptada à região semi-árida do Nordeste do
Brasil (SANTOS et al., 2009). Embora a A. sisalana tenha demonstrado atividades como
antifúngica (PIRES; PURCHIO, 1991), anti-helmíntica (DOMINGUES et al., 2010),
antiinflamatória (DUNDER et al., 2010), antimicrobiana (SANTOS et al., 2009), antitumoral
(CORBIERE et al., 2003), gastroprotetora (CERQUEIRA et al., 2012), inseticida (PIZARRO
et al., 1999; SOUZA, 2009), entre outras propriedades, pouco de sabe sobre seus efeitos em
outros sistemas, como o sistema nervosa central (SNC). No suco das folhas de Agave é
encontrado sapogenina esteroidal. No caso da A. sisalana, as sapogeninas (porção não
glicosídica de uma saponina) encontradas são: a tigogenina, a diosgenina e a hecogenina,
registrando-se maior percentual para esta última (PIZARRO et al., 1999).
Um estudo recente (CERQUEIRA et al., 2012) apresentou a propriedade antioxidante
da hecogenina, isolada de A. sisalana, na gastroproteção em camundongos. Contudo, faltam
estudos para investigação dos efeitos antioxidantes da hecogenina no SNC.
Espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ERO) e (ERN) são tradicionalmente
consideradas agentes tóxicos diretos em muitas patologias, como inflamações, doenças
cardiovasculares, neurodegenerativas, câncer e várias doenças de pele (AFANAS'EV, 2010).
ERO são moléculas contendo oxigênio que podem ser classificados como tendo radicais
(elétrons desemparelhados) ou não-radicais, e são conhecidos por serem altamente reativos,
facilmente oxidam moléculas estáveis. Em organismos aeróbios, a produção de ERO é um
processo fisiológico após o uso de oxigênio molecular na fosforilação oxidativa durante o
metabolismo mitocondrial. No entanto, enquanto que a produção moderada destas espécies é
esperada, a produção excessiva de ERO pode representar lesão neurológica grave, oxidando e
danificando alvos biológicos tais como o DNA, lípidos e proteínas, e alterando as principais
vias e sistemas de resposta celular (GOMEZ-PINILLA; NGUYEN, 2012).
As mitocôndrias são o principal local de produção de radicais livres gerando
aproximadamente 2-3 nmol de ânion superóxido O2•–/ min por mg de proteína, e, além disso,
a produção de peróxido de hidrogênio (WOJCIK; BURZYNSKA-PEDZIWIATR;
WOZNIAK, 2010). Mecanismos de defesa antioxidante, como a Glutationa (GSH), catalase,
superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPx) e vitamina E, normalmente,
previnem ou limitam a produção de ERO e os danos aos tecidos (ARMAGAN; KANIT;
YALCIN, 2011).
143
O desequilíbrio entre a produção celular de radicais livres e à capacidade de defesa
antioxidante das células é conhecido como estresse oxidativo (GILGUN-SHERKI et al.,
2002). O cérebro é vulnerável a danos oxidativos, devido à sua relativa falta de enzimas
antioxidantes e a abundância de ambos os substratos oxidáveis e metais de transição
(URÍKOVÁ et al., 2006). Além disso, o SNC tem uma capacidade limitada de regeneração.
Estas características fazem com que o cérebro seja particularmente sensível aos danos
oxidativos (ARMAGAN; KANIT; YALCIN, 2011). No entanto, as áreas do cérebro tais
como o córtex frontal, hipocampo e corpo estriado podem ter uma resposta diferente ao
estresse oxidativo (AHMAD et al., 2012).
De acordo com esse envolvimento do estresse oxidativo em doenças do SNC, os
efeitos neuroprotetores de vários fitoquímicos têm sido associados com a sua capacidade de
reduzir os níveis de estresse oxidativo (SPECIALE et al., 2011). Pesquisas foram realizadas
no campo do neuropsicofarmacologia com compostos extraídos de plantas (HONÓRIO
JUNIOR et al., 2012; LIMA et al., 2012; PEREIRA et al., 2009; SOUSA et al., 2012). Entre
eles, os estudos sobre a ação de Agave sisalana Perrine e alguns de seus constituíntes, tais
como hecogenina, no SNC de camundongos, são destacadas (LIMA et al., 2012).
Objetivou-se avaliar o efeito da hecogenina (HEC), isolada de A. sisalana, sobre
parâmetros de estresse oxidativo em córtex pré-frontal (CPF), hipocampo (HC) e corpo
estriado (CE) de camundongos após a administração aguda ou em doses repetidas.
144
MATERIAL E MÉTODOS
Material Vegetal
A folha de Agave sisalana Perrine foi coletado de várias plantações de sisal, na
cidade de Santa Rita, Estado da Paraíba, Brasil, em abril de 2007. A exsicata, L.P. Felix
6246 (EAN) está depositada no Herbário Prof. Lauro Pires Xavier (JPB), Universidade
Federal da Paraíba, Brasil.
As amostras das folhas secas de A. sisalana (5 kg) foram extraídas com seis litros de
álcool etílico (etanol) 95% em um aparelho de Soxhlet por 24 horas. O solvente foi removido
sob pressão reduzida e o resíduo foi hidrolisado sob refluxo por quatro horas com 1,5 litros de
ácido hidroclórico etanólico 2N. A mistura reacional foi coletada e filtrada. A fração ácida
insolúvel foi lavada com água, solução de carbonato de sódio e água, até neutralizar. Depois
de seco, o resíduo ácido insolúvel foi extraído com hexano em um aparelho Soxleht por 12
horas. O extrato hexânico foi levado à um refrigerador por 24 horas. Após este período, um
precipitado foi formado. O precipitado foi filtrado e depois recristalizado em acetona,
formando 1g de hecogenina (0,02%), m.p. 256-258°C (lit.1 258 – 260°C). A hecogenina
encontrada é idêntica a uma amostra autêntica (co-TLC e mixed m.p.). 1H- e 13C-NMR (500 e
125 MHz) o espectro da hecogenina está de acordo com a literatura previamente citada
(AGRAWAL et al., 1985; JAFFER et al., 1983). O acetato de hecogenina foi obtido por
reação de acetilação da hecogenina com uma mistura de anidrido acético/piridina (KIM et al.,
2001). O sobrenadante foi concentrado e o resíduo foi submetido à cromatografia em coluna e
cromatografia líquida em camada delgada com fase fixa sílica gel produzindo mais
hecogenina (0.35 g, 0.007 %), 200 – 202 o C (lit.5 200 – 202 o C). A estrutura da hecogenina
usada neste estudo é mostra na Fig. 1.
145
Animais
Foram utilizados camundongos Swiss machos, pesando 25-35g, provenientes do
Biotério da Universidade Federal do Ceará (UFC). O projeto aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa Animal (CEPA) da UFC (Nº protocolo 44/2010).
Reagentes e drogas
A Vitamina E (DL = acetato de alfa-tocoferol) foi adquirida do laboratório Teuto,
Brasil e Tween 80 4% de Vetec Química Farm. Ltda (Rio de Janeiro, Brasil).
Protocolo de administração aguda
Os animais foram divididos em 6 grupos, recebendo HEC via ip nas doses de 5, 10,
20 ou 40 mg/kg; animais controle receberam Tween 80 4% ou vitamina E (400 mg/kg) pela
mesma via. Após 30 minutos de administração, os animais foram sacrificados e as áreas do
cérebro como CPF, HC e CE isoladas e homogeneizadas para avaliação da peroxidação
lípídica, atividade da catalase e determinação de Nitrito/Nitrato.
Administração em doses repetidas
Os animais foram assim agrupados: Controle – Tween 80 4 %; HEC 20 ou HEC 40
mg/kg. Cada grupo de animais foi tratado diariamente durante um período de 7 dias. Todas
as administrações foram realizadas por via ip. No sétimo dia de tratamento, após 30 minutos
da administração dos compostos citados, os animais foram sacrificados e as áreas do cérebro
(CPF, HC e CE) isoladas e homogeneizadas.
Avaliação da peroxidação lipídica
A peroxidação lipídica foi analisada determinando-se a concentração de
malonildialdeído (MDA), uma das substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), em
homogenatos (HUONG et al., 1998). Resumidamente, as amostras foram misturadas com
tampão fosfato 50 mM de potássio (pH 7,4), e 63 µL de homogenato foram misturados com
100 µL de ácido perclórico a 35%. As amostras foram então centrifugadas (3,350 g/10 min) e
150 µL dos sobrenadantes foram recuperados e misturada com 50 µL de ácido tiobarbitúrico a
1,2%. A mistura foi, então, colocada em banho de água e aquecida por 30 minutos em 95-
146
100°C. Depois que a solução foi resfriada, a absorbância foi medida em comprimento de onda
de 532 nm e os resultados expressos como µmol MDA/g de tecido.
Avaliação da atividade da catalase
A atividade da enzima catalase foi medida por meio do método que emprega a geração
H2O e O2 a partir do peróxido de hidrogênio (MAEHLY; CHANCE, 1954). A atividade da
enzima foi medida pelo grau desta reação. Uma alíquota das amostras (20 µl) foi adicionada a
980 µl de meio reativo (H2O2 15%, Tampão Tris-HCl 1 M; EDTA 5 mM pH 8,0; H2O Milli-
Q). As absorbâncias inicial e final foram gravadas a 230 nm após o 1º e 6º minuto,
respectivamente. Uma curva padrão foi estabelecida utilizando catalase pura (Sigma, MO,
USA) sob condições idênticas. Todas as amostras foram diluídas com 0,1 mmol/l de tampão
fosfato (pH 7.0) para provocar 50% de inibição da taxa de diluente. Os resultados foram
expressos em µM/min/µg de proteína.
Determinação de Nitrito/Nitrato
A concentração de nitrito foi determinada nos cérebros dos camundongos
homogeneizados imediatamente após a decapitação em todos os grupos. Após centrifugação
(800×g/10 min), o sobrenadante do homogenato foi coletado e a produção de Óxido Nítrico
(NO) foi determinada com base na reação Griess 50 (GREEN; TANNENBAUM;
GOLDMAN, 1981). Para tanto, 100µL do sobrenadante foi incubado com 100µL do reagente
de Griess (sulfanilamine em 1% H3PO4/0.1% N-(1-naftil) etilenodiamina-dicloridrato / 1%
H3PO4 / água destilada, 1:1:1:1) em temperatura ambiente por 10 min. A absorbância foi
medida em leitor de microplaca a 550nm. A curva padrão foi preparada com várias
concentrações de NaNO2 (variando de 0,75-100 µM) e os resultados expressos em µmol/g de
tecido.
Análise Estatística
As análises foram realizadas por meio da análise de variância (ANOVA), usando o
software Prism 5.0. versão para Windows, GraphPad Software (San Diego, CA, EUA). Para
avaliação da significância, comparações múltiplas foram feitas com ANOVA e por Tukey
como post hoc testes. Os resultados foram considerados significativos para p <0,05 e
apresentados como média ± EPM.
147
RESULTADOS
Peroxidação Lipídica
A Tabela 1 mostra os efeitos da administração aguda (5, 10, 20 ou 40 mg/kg) ou em
doses repetidas (20 ou 40 mg/kg) da HEC sobre os níveis de TBARS (µmol MDA/g de
tecido) no córtex pré-frontal, hipocampo e corpo estriado de camundongos. Também foi
demonstrado o efeito da vitamina E (400 mg/kg) como controle positivo.
No CPF, HC e CE, uma diminuição na concentração de malonildialdeído (MDA) foi
observada após o tratamento agudo com HEC, em todas as doses, quando comparado com os
grupos controles das três áreas cerebrais. A administração aguda de vitamina E diminuiu a
concentração de MDA nas três áreas cerebrais, em comparação com os controles.
No entanto, a administração em doses repetidas da HEC (20 ou 40 mg/kg), não causou
alterações significativas relacionadas a concentração de MDA no CPF, HC e CE em
comparação aos controles.
Tabela 1 Peroxidação Lipídica no CPF, HC e CE de camundongos tratados com hecogenina.
Grupo (mg/kg) CPF HC CE
Agudo
Controle 34,46±5,02 39,82±3,58 44,57±4,86
HEC 5 18,58±3,98a 25,13±2,80a 29,25±4,41a
HEC 10 14,23±1,84a 19,68±1,91a 15,26±1,96a
HEC 20 15,11±1,69a 17,21±2,21a 13,47±2,99a,b
HEC 40 9,94±1,91a 14,03±2,42a,b 9,32±2,63a,b
Vit E 19,24±2,39a 12,50±2,14a 12,22±2,01a
Doses Repetidas
Controle 163,9±6,95 139,6±5,94 128,6±5,17
HEC 20 135,9±13,98 150,4±8,36 137,0±10,54
HEC 40 147,7±10,10 155,5±7,00 166,2±12,65
Valores representam média±EPM; n = 5-12 animais por grupo. Administração aguda: Camundongos tratados com HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/kg); Controles: Tween 80 4% ou Vitamina E. Administração em doses repetidas: Camundongos tratados por 7 dias com HEC (20 ou 40 mg/Kg); Controle: Tween 80 4%. acomparado com controle; bcomparado com HEC 5. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
148
Atividade da Catalase
Conforme apresentado na Tabela 2, HEC, administrada agudamente ou em doses
repetidas, não causou alterações significativas na atividade da catalase (µM/min/µg proteína)
nas três áreas cerebrais estudadas em comparação com os controles. Por outro lado, a
administração aguda de vitamina E causou uma diminuição na atividade da catalase no CPF,
HC e CE em relação aos grupos controles.
Tabela 2 Atividade da Catalase (µM/min/µg proteína) no CPF, HC e CE de camundongos tratados com
hecogenina.
Grupo (mg/kg) CPF HC CE
Agudo
Controle 4,16±0,53 4,58±0,34 4,64±0,54
HEC 5 3,65±0,18 4,21±0,45 4,01±0,38
HEC 10 3,40±0,30 4,03±0,32 4,29±0,25
HEC 20 4,80±1,04 4,65±0,58 6,14±0,59
HEC 40 4,52±0,92 2,87±0,49 3,33±0,46b
Vit E 1,30±0,11a 1,44±0,18a 1,20±0,09a
Doses Repetidas
Controle 3,08±0,36 5,31±1,10 5,21±0,75
HEC 20 6,05±1,10 5,44±1,32 7,31±0,96
HEC 40 4,70±0,78 3,45±0,44 4,34±0,40
Valores representam média±EPM; n = 4-12 animais por grupo. Administração aguda: Camundongos tratados com HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/Kg); Controles: Tween 80 4% ou Vitamina E. Administração em doses repetidas: Camundongos tratados por 7 dias com HEC (20 ou 40 mg/Kg); Controle: Tween 80 4%. acomparado com controle; bcomparado com HEC 20. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
149
Concentração de Nitrito
A administração aguda da HEC diminuiu a concentração de nitrito (µmol/g tecido) no
CPF, em todas as doses estudadas (5, 10, 20 ou 40 mg/kg), comparada ao grupo controle. Nas
doses de 20 ou 40 mg/kg, HEC, administrada agudamente ou em doses repetidas, causou
diminuição na concentração de nitrito no CPF, HC e CE em relação aos grupos controles. O
uso agudo de vitamina E, usada como controle positivo, diminuiu a concentração de nitrito
nas três áreas cerebrais estudadas quando comparado aos controles.
Tabela 3 Concentração de nitrito no CPF, HC e CE de camundongos com a administração de hecogenina.
Grupo (mg/kg) CPF HC CE
Agudo
Controle 10,65±1,92 5,01±0,43 9,03±1,58
HEC 5 6,28±0,82a 4,97±0,37 6,42±1,05
HEC 10 5,44±0,61a 5,73±0,64 5,26±0,49
HEC 20 2,42±0,24a 2,54±0,28a,b,c 2,22±0,32a
HEC 40 2,45±0,35a 2,79±0,34a,b,c 1,75±0,24a
Vit E 1,73±0,15a 1,46±0,13a 1,26±0,09a
Doses Repetidas
Controle 5,40±1,06 4,63±1,08 6,89±1,91
HEC 20 2,14±0,22a 1,65±0,28a 2,03±0,35a
HEC 40 1,57±0,18a 1,65±0,20a 1,71±0,28a
Valores representam média±EPM; n = 6-12 animais por grupo. Administração aguda: Camundongos tratados com HEC (5, 10, 20 ou 40 mg/Kg); Controles: Tween 80 4% ou Vitamina E. Administração em doses repetidas: Camundongos tratados por 7 dias com HEC (20 ou 40 mg/Kg); Controle: Tween 80 4%. acomparado com controle; bcomparado com HEC 5; ccomparado com HEC 10. Para todas as análises, p<0,05 foi considerado significativo (ANOVA seguida por Tukey como teste post hoc).
150
DISCUSSÃO
As plantas produzem muitos efeitos antioxidantes para controlar o estresse oxidativo
causado pela luz solar e oxigênio, o que pode representar fontes de novos compostos com
atividade antioxidante (CHUAN-SUNG et al., 2009; URÍKOVÁ et al., 2006). Existem poucos
estudos sobre Agave sisalana Perrine relacionados a ação dos seus constituíntes como a
hecogenina no SNC. Assim, o presente estudo demonstra as ações de hecogenina sobre
parâmetros de estresse oxidativo em áreas cerebrais.
A elevada concentração de lípidos insaturados no cérebro e o metabolismo aeróbio
neste órgão, torna este tecido mais susceptível ao dano peroxidativo (ZERVOS et al., 2011).
Os hidroperóxidos são os produtos estáveis formados durante a peroxidação de lipídios
insaturados, como ácidos graxos e colesterol. O método TBARS é um dos mais utilizados
para estudos de peroxidação lipídica, e é baseado na reação do malondialdeído (MDA), um
produto final da oxidação dos lipídios, com o ácido tiobarbitúrico (ANDRADE JÚNIOR et
al., 2005). MDA foi, portanto, medido no presente estudo para avaliar indiretamente o
conteúdo de ERO.
Os nossos resultados mostraram que o tratamento agudo com HEC (5, 10, 20 ou 40
mg/kg), uma sapogenina esteroidal, pode contribuir para uma ação protetora ao SNC, devido
a uma diminuição da peroxidação lipídica nas três áreas do cérebro investigadas (CPF, HC e
CE).
Um estudo recente (CERQUEIRA et al., 2012) demonstrou que HEC, isolada a partir
de Agave sisalana, apresenta uma propriedade antioxidante tal como avaliado pela diminuição
da peroxidação lipídica no modelo de úlcera gástrica induzida por etanol e indometacina.
Resultados de estudos confirmam a ação protetora de saponinas esteroidais no SNC
(CHUAN-SUNG et al., 2009; JADHAVA et al., 2013; TOHDA et al., 2012). Assim, referente
aos efeitos de sapogeninas esteroidais no SNC, um estudo demonstrou que o tratamento com
diosgenina exibiu melhora no desempenho da memória de reconhecimento de objetos em
modelos animais da doença de Alzheimer. Neste mesmo estudo com diosgenina, o tratamento
com a molécula reduziu significativamente placas amilóides e emaranhados neurofibrilares no
córtex cerebral e hipocampo (TOHDA et al., 2012).
Os efeitos neuroprotetores relacionados a diminuição da peroxidação lipídica de
compostos antioxidantes como o α-tocoferol (vitamina E) foram documentados em outros
estudos (MACÊDO et al., 2010; SAMPAIO, 2011). O grupo –OH fenólico do α-tocoferol
rapidamente sequestra radicais LOO•, resultando na formação de radicais tocoferil, os quais
têm uma capacidade muito menor de propagar a peroxidação lipídica (BARBOSA;
MEDEIROS; AUGUSTO, 2006).
151
Esperava-se que a administração em doses repetidas de HEC causasse também
neuroproteção. No entanto, não foi observada alteração na peroxidação lipídica nas três áreas
cerebrais. Ressalta-se que apesar da HEC, administrada em doses repetidas, não ter causado
proteção ao SNC, este tratamento não gerou estresse oxidativo. Sabe-se que os efeitos
neuroprotetores de vários fitoquímicos têm sido associados com a sua capacidade para reduzir
os níveis de estresse oxidativo. No entanto, a relação de resposta para muitos fitoquímicos
argumenta contra um mecanismo de ação antioxidante exclusivo, sugerindo vez que eles
podem estimular uma resposta adaptativa (SPECIALE et al., 2011).
Uma elevação na formação de radicais livres pode ser acompanhada por um aumento
compensatório imediato nas atividades das enzimas de eliminação de radicais livres
(BARROS et al., 2007). Catalase, uma enzima localizada em peroxissomas, catalisa a
conversão de peróxido de hidrogênio em água e oxigênio molecular (WOJCIK;
BURZYNSKA-PEDZIWIATR; WOZNIAK, 2010). Estudos têm demonstrado que as drogas
pró-oxidantes causam um aumento na atividade da catalase (SILVA et al., 2010). Outros
dados da literatura têm mostrado que a administração de vitamina E foi capaz de inverter o
aumento da atividade da catalase com o uso de cetamina, uma droga pró-oxidante
(SAMPAIO, 2011).
No nosso estudo, a ausência de alterações significativas na atividade de catalase, nas
três áreas estudadas, após o tratamento com HEC, indica que não houve necessidade de
ativação dessa enzima, visto que a molécula em estudo não gerou estresse ao SNC.
O óxido nítrico (NO•) é um radical pouco reativo, essencial para a vasorregulação e
neurotransmissão, formado pelas enzimas NO sintases (NOS). Em excesso, NO• pode inibir a
citocromo oxidase, levando ao aumento de vazamento de elétrons e formação de superóxido
(O2•-). NO• pode reagir com O2
•- formando peroxinitrito (ONOO-). A geração de peroxinitrito
in vivo pode levar à oxidação e nitração de lipídios, DNA e proteínas (BARBOSA;
MEDEIROS; AUGUSTO, 2006). No cérebro, o NO é produzido pela NOS neuronal
(SALUM; PEREIRA; GUIMARAES, 2008). Também a eNOS e a iNOS estão presentes e são
importantes nas funções fisiológicas e estão envolvidas em várias patologias do SNC
(FLORA FILHO; ZILBERSTEIN, 2000).
O hipocampo é uma das áreas de pesquisa mais promissoras da ação do NO no SNC
(FLORA FILHO; ZILBERSTEIN, 2000). Apesar dos neurônios que contêm NOS
representarem apenas 1% das células neuroniais, a ramificação de seus axônios é tão extensa
que parece atingir a grande maioria das células cerebrais (SALUM; PEREIRA;
GUIMARAES, 2008).
152
No presente estudo, a administração de HEC (20 ou 40 mg/kg) foi capaz de reduzir a
concentração de nitrito no CPF, HC e CE. Em outro estudo com HEC, a dose de 90 mg/kg foi
utilizado para estudar a sua atividade gastroprotetora, revelando que a molécula reduziu
significativamente os níveis de nitrito, no modelo de lesão gástrica induzida por etanol
(CERQUEIRA et al., 2012). Na medida em que a determinação de nitrito no cérebro está em
questão, os estudos (MACÊDO et al., 2010; SANTOS et al, 2011; SAMPAIO, 2011)
confirmam que as substâncias anti-oxidantes como a vitamina E causam uma diminuição dos
níveis de nitrito.
Em conclusão, hecogenina não causou estresse oxidativo nas áreas cerebrais estudadas
e sugeriu ação neuroprotetora aguda sobre à peroxidação lipídica. Hecogenina, principalmente
nas maiores doses, causou diminuição na concentração de nitrito, sugerindo que a molécula
em estudo poderia reduzir alguns efeitos deletérios do NO ao SNC.
153
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157
6 CONCLUSÕES GERAIS
O estudo dos efeitos da administração da hecogenina em vários modelos
comportamentais e sobre as alterações neuroquímicas permitiu as seguintes conclusões:
• A hecogenina apresentou potencial ansiolítico com a vantagem de produzir menos
sedação que o diazepam, conforme evidenciado no modelo do campo aberto;
• Indicou efeito ansiolítico nos modelos de placa perfurada e labirinto em cruz elevado;
• O efeito ansiolítico da hecogenina não parece envolver a participação dos receptores
GABAérgicos;
• No modelo de suspensão de cauda, hecogenina apresentou efeito antidepressivo, que
foi confirmado com a determinação da concentração de monoaminas no corpo
estriado, supostamente envolvidas neste efeito;
• Por meio da dosagem da concentração dos aminoácidos no CPF, HC e CE, após a
administração aguda de HEC, foi possível concluir que a HEC, nas maiores doses, age
no SNC aumentando GLU que tem um efeito modulatório sobre ASP, GLI e TAU;
• Hecogenina não causou estresse oxidativo nas áreas cerebrais estudadas e demonstrou
ação neuroprotetora aguda sobre à peroxidação lipídica e, nas maiores doses, causou
diminuição na concentração de nitrito, sugerindo que a molécula em estudo poderia
reduzir alguns efeitos deletérios do NO ao SNC.
158
REFERÊNCIAS
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