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Áreas de Preservação Permanente na bacia do Córrego São Pedro - UGRHI
Pontal do Paranapanema, São Paulo - Brasil.
Bruno Bianchi Guimarães
Graduando em Geografia – FCT/UNESP – Bolsista IC FAPESP
Raul Borges Guimarães
Professor do Departamento de Geografia – FCT/UNESP – Bolsista PQ/CNPq
Antonio Cezar Leal
Professor do Departamento de Geografia – FCT/UNESP – Bolsista PQ/CNPq
Introdução
A discussão em torno de temas sobre sustentabilidade ambiental e fatores que
possam preservar o meio ambiente é cada vez mais comum nos meios acadêmicos e na
sociedade como um todo. Ações humanas para diminuir e extinguir os impactos de suas
ações tem se tornado mais freqüente, visando à garantia de um futuro melhor no nosso
planeta para as próximas gerações. Mas ainda assim se encontram muitas barreiras para
essas idéias serem colocadas em prática, sejam barreiras políticas, econômicas e
também sociais. Essas barreiras devem ser rompidas para a manutenção da qualidade
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ambiental, ainda que as interferências levem ao caminho contrario, tendo em vista as
dificuldades em um mundo em que o mais importante é o acumulo de capital, como
observado por GONÇALVES, 1990:
“Separar o homem da natureza é, portanto, uma forma de subordiná-lo ao capital. O pior é que mais recentemente surgiram empresas que vendem ar puro, água limpa ou companhias imobiliárias que vendem paisagens despoluídas” (GONÇALVES, 1990, p. 116).
Na maioria das vezes esses fatores externos estão ligados à ação do homem, que
para obter lucro e aumentar cada vez mais sua produção, independentemente de sua área
de atuação, promove uma expansão desenfreada em relação ao meio ambiente,
desmatando áreas para a instalação de unidades produtivas de seu interesse. Essa
expansão desenfreada pode ser considerada umas das principais causas de degradação
ambiental. Áreas naturais são dizimadas e se tornam campos de produção capitalista.
Essas áreas também são substituídas por plantio de outras culturas, diferentes das que
originalmente compunham uma determinada localidade. As diferentes características
desta cultura provocam alterações no solo, e estão aliadas à poluição do ambiente, já
que nestas áreas são usados agrotóxicos que são altamente poluidores, e também afetam
a saúde das próprias pessoas que habitam localidades próximas.
Nesse sentido, segundo ALMEIDA (1993):
(...) O mais “perfeito” plano em nada resolverá as questões ambientais, se o espaço não for entendido como uma instância social e não como um mero apoio das atividades humanas. O espaço físico é reflexo não apenas dos processos naturais, como também das contradições da sociedade, na medida em que são os interesses sócio-econômicos os determinantes das formas de apropriação e exploração do espaço (ALMEIDA, 1993, p.41).
Essas são algumas situações em que se encontra a degradação do meio, como
ocorre com as áreas próximas a corpos d'água que deveriam ser preservadas em suas
formas naturais, ou o mais próximo disso possível. Isso justifica a tamanha importância
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de se fiscalizar a implementação de áreas de preservação e aplicação do Código
Florestal de forma correta.
Nesse contexto está sendo desenvolvida esta pesquisa de iniciação científica, na
qual se busca contribuir para os estudos do projeto temático “Mapeamento e Análise do
Território do Agrohidronegócio Canavieiro no Pontal do Paranapanema-São Paulo-
Brasil: Relações de trabalho, conflitos e formas de uso da terra e da água, e a saúde
ambiental” na UGRHI Pontal do Paranapanema, do qual esta pesquisa está relacionada,
por meio da análise da situação ambiental das Áreas de Preservação Permanente nesta
unidade hidrográfica, mais especificamente na bacia hidrográfica do Córrego São Pedro,
e apresentação de propostas para planejamento, resolução de conflitos e gestão dessas
APP. A pesquisa está em fase inicial, sendo apresentados resultados preliminares no que
se refere aos estudos sobre áreas de preservação permanente.
Objetivos
Neste trabalho pretende-se apresentar resultados da pesquisa que incluem a
identificação e análise da situação ambiental das Áreas de Preservação Permanente na
bacia hidrográfica do Córrego São Pedro, no município de Anhumas/SP.
Metodologia
Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico de estudos existentes
sobre as APP de modo geral, e estudos particularmente realizados na UGRHI Pontal do
Paranapanema. A revisão bibliográfica incluiu, entre outros, os seguintes temas:
legislação ambiental, Áreas de Preservação Permanente, bacia hidrográfica,
planejamento ambiental e gestão de bacias e de recursos hídricos. São realizados
constantemente reuniões com o orientador e participação nas atividades do Grupo de
Pesquisa em Gestão Ambiental e Dinâmica Socioespacial (GADIS), como grupo de
discussões sobre o tema e colóquios do projeto temático, o que agrega diversas
informações sobre o tema na pesquisa.
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Foram analisadas imagens de satélite para identificação preliminar das APP e
seleção das áreas onde, posteriormente, foram realizados trabalhos de campo. Em
seguida, foram analisados e co-relacionados estudos de geomorfologia, geologia, solos e
vegetação das áreas selecionadas para elaboração de mapas na escala 1:50.000, visando
subsidiar as análises sobre legislação ambiental, uso e ocupação da terra e os impactos
decorrentes, sempre aliadas às visitas a campo.
Para os trabalhos de campo foi escolhida a análise da bacia hidrográfica do
Córrego São Pedro, que fica no município de Anhumas/SP. Essa área é interessante
porque a bacia engloba tanto a área urbana quanto rural do município, o que possibilita
observar diferentes níveis de degradações e relações de seus moradores com os corpos
d’água presente nela. No campo foram obtidas imagens (fotografias) e realizadas
conversas com moradores da região para se ter uma perspectiva histórica de quem
acompanhou de perto possíveis mudanças nas características dos corpos d’água
analisados e seu entorno.
Os dados e informações estão sendo sistematizados, resultando na geração de
textos e mapas que serão apresentados a seguir. As informações e dados coletados
subsidiam a elaboração de mapas temáticos e de síntese das APP estudadas, que visam
mostrar a localização das APPs, uso e ocupação da terra nessas áreas, e também a
espacialização da legislação ambiental aplicada na área e os conflitos existentes.
Esses estudos são articulados com o Sistema de Informações Geográficas (SIG)
da UGRHI Pontal do Paranapanema que vem sendo desenvolvido no GADIS. Utilizou-
se o programa ArcGis 10.2 para a elaboração de mapas, delimitação automática de
APPs, identificação de áreas verdes na bacia, uso e ocupação da terra, dentre outros.
Resultados Preliminares
Após o levantamento das informações necessárias e dos trabalhos de campo
realizados, foram analisadas as situações das APP presentes ao longo de toda a bacia
hidrográfica do córrego São Pedro. Foram visitados vários pontos previamente
escolhidos, devido a alguns fatores, como grau de ocupação nas proximidades dos
corpos d’água, presença de estradas rurais ou vias de acesso ao município de Anhumas,
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pontos próximos a plantio de cana-de-açúcar, nível de inclinação do relevo, dentre
outros aspectos.
Após esse levantamento de informações pode se concluir que em alguns dos
pontos escolhidos foi possível perceber que há presença de vegetação em trechos das
APP, mas em cada ponto as características são diferentes. Para melhor entendimento da
situação podemos utilizar como base o mapa de APP gerado com 30 metros, já que em
nenhum ponto o curso d’água supera 10 metros de largura (Figura 1). De acordo com o
Código Florestal Brasileiro (LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012), corpos
d’água com menos de 10 metros de largura devem ter em seu entorno, desde a borda da
calha do leito regular, 30 metros de área verde (APP). Abaixo podemos observar o mapa
de APP delimitado automaticamente através do programa ArcGis 10.2:
Figura 1: Áreas de Preservação Permanente na bacia hidrográfica do córrego São Pedro – Anhumas/SP.
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No mapa podemos observar o que seria considerado ideal na bacia em termos de
Áreas de Preservação Permanente com vegetação, tanto próximos aos rios como em
suas nascentes, onde nesse segundo caso para o Código Florestal Brasileiro (LEI Nº
12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012), as áreas nos entorno das nascentes, qualquer que
seja sua situação topográfica, tem um raio mínimo de 50 metros.
Essa situação ocorre em alguns pontos da bacia, como se verifica no mapa de
vegetação, mas em outros casos não existe mata ciliar ao longo das margens fluviais;
essas áreas foram modificadas por ação do homem, deixando os corpos d’água
completamente desprotegidos. Em alguns casos também existem áreas com mata ciliar
em apenas um lado do leito dos córregos. Em um dos casos, em conversa com o
proprietário, observou-se que a vegetação estava ali presente por que a cerca que dividia
sua propriedade com outra não permitiu o desmatamento para ampliação de seu pasto. O
outro lado do leito do córrego estava completamente desmatado. A APP vegetada não
atendia a metragem necessária para a proteção ambiental de acordo com a lei. Isso nos
mostra como deve ser intensificada a conscientização, e não só de grandes proprietários,
mas de todos, para se chegar a um nível mais próximo possível do que seria ideal como
mostrado no mapa anterior.
A seguir temos o mapa de vegetação (Figura 2) próxima a corpos d’água, que
expõe a situação atual da bacia hidrográfica do córrego São Pedro levando em conta
dados coletados em trabalhos de campo e imagens de satélite:
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Figura 2: Áreas de Vegetação próximas a corpos d’água na bacia hidrográfica do córrego São Pedro – Anhumas/SP.
Análise da Figura 2 permite concluir: No mapa de vegetação verifica-se que
existem áreas verdes por praticamente todos os corpos d’água da bacia, mas em pontos
e tamanhos distintos. Em algumas áreas como, por exemplo, no norte da bacia, existe
uma área considerável, mas se concentrada apenas em uma área especifica. Outras áreas
do mesmo córrego estão completamente desprotegidas e sujeitas a erosões provocadas
por pisoteio de gado, uma vez que em algumas áreas não há cercamento.
Para que todas as APP estejam vegetadas e as áreas atualmente vegetadas
(incluindo as que estão fora das APP) sejam protegidas é preciso uma maior fiscalização
por parte de órgãos públicos para que a situação ideal se torne realidade, pois não tem
muita eficácia se um proprietário cumpre a lei e seu vizinho, que na maioria dos casos
tem sua propriedade como parte do mesmo rio, não faz nada para sua preservação.
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Assim, deve-se levar em conta a preservação desses corpos d’água e das APP de acordo
com a lei, fazendo com que esta seja cumprida da melhor forma possível.
Bibliografia
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