Musica Fiata + La Capella Ducale Vésperas de Monteverdi

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Vespro della Beata Vergine (1610), de Monteverdi, é uma genial combinação entre a tradição e a inovação. Ao mesmo tempo que herdeira da polifonia quinhentista, lança as bases do pleno estilo barroco. O coro La Capella Ducale e o ensemble Musica Fiata interpretam esta obra apaixonante quatro séculos depois da publicação da partitura em Veneza.

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Musica FiataLa Capella DucaleRoland Wilson direcção

segunda 29 Novembro 201019:00h — Grande Auditório

Claudio Monteverdi Vespro della Beata Vergine

Deus in adiutorium / Domine ad adiuvandumPsalmus 109: Dixit DominusConcerto: Nigra sumPsalmus 112: Laudate pueri DominunConcerto: Pulchra esPsalmus 121: Laetatus sumConcerto: Duo SeraphimPsalmus 126: Nisi DominusConcerto: Audi coelumPsalmus 147: Lauda JerusalemSonata sopra Sancta MariaHymnus: Ave maris stellaMagnificat

Este concerto não tem intervalo.

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No Outono de 1608, Claudio Monteverdi bateu à porta da casa do seu pai, em Cremona. Chegava severamente perturbado e doente, precisado de um recolhimento longe de Mântua, onde compunha para a corte do duque Vincenzo Gonzaga. Durante todo esse ano, tinha carregado aos ombros a pesada e extenuante tarefa de escrever uma série de obras que celebrassem o casamento do filho do duque.Uma dessas obras, a ópera Arianna, foi escrita de jacto, num delírio obsessivo, tendo sido quase inteiramente passada ao papel durante os últimos dois meses de 1607, logo a seguir à morte da mulher de Monteverdi. Mas a morte não se ficaria por aí e continuaria a ensombrar a ópera. Meses mais tarde, Caterina Martinelli, a cantora que ensaiava para o papel principal, apagou-se vítima de doença súbita. A cabeça de Monteverdi parecia já não ter espaço para

mais desarrumações, numa altura em que se debatia ainda com a dificuldade em cobrar os seus serviços junto da corte e acumulava anos de acesas trocas de palavras com o teórico Giovanni Artusi, altamente crítico das suas composições.Quando chegou a casa do seu pai, Monteverdi era um homem desesperadamente à procura de paz e de um renascimento. Procurou então desligar-se da corte ou, em alternativa, dedicar-se apenas à música sacra. Meses mais tarde voltou a Mântua, decidido a arranjar um emprego enquanto maestro di capella. Simplesmente, havia tanto tempo que não publicava música litúrgica que o seu currículo parecia pálido neste particular. Algo que mudaria em Setembro de 1610, ao publicar Missa in illo tempore e Vespro della Beata Vergine. Em Agosto de 1613, foi nomeado maestro di capella da importante Basílica de São Marcos, em Veneza.

História ao Ladopor gonçalo frota

O renascimento de Monteverdi

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Monteverdi entrou ao serviço dos duques de Mântua em 1590. Trabalhou para os Gonzaga como violinista, organista e, por fim, como director da música da corte. Tido por aqueles como um mero serviçal a quem sobrecarregavam de trabalho e de ordenados em atraso, mudou-se para Veneza em 1612 na sequência da morte do duque Vicenzo (1562-1612). Ali tomou o posto de maestro di cappella da Basílica de São Marcos (1613). Terá sido com este objectivo em mente que se lançou, poucos anos antes, na elaboração do conjunto de obras, rico e variado estilisticamente, em que encontramos as Vésperas, uma espécie de portefólio musical demonstrativo das suas capacidades e talento, sobretudo para alguém que procurava novo emprego.Quando fez publicar a antologia em que se

incluíam as Vésperas, em Veneza, no ano de 1610, era já um compositor consagrado de música profana, muito concretamente nos domínios do madrigal1 e da ópera. A obra, que saiu impressa das oficinas do editor R. Amadino (fl. 1572-1621), foi dedicada ao Papa Paulo V (1605-1621) e ostentava o generoso título Cantus Sanctissimae Virgini missa senis vocibus ac vesperae pluribus decatandae cum nonnulis sacris concentibus, ad sacella sive principum cubicula accomodata («Canção para a Mais Sagrada Virgem: Missa para seis vozes e Vésperas para serem cantadas por muitos, com alguns concertos sacros, adaptados às capelas e aposentos de príncipes»). Tratava-se de uma colecção que incluía também uma missa de estilo conservador (Missa in illo tempore), e um conjunto

Claudio Monteverdicremona, 15 de maio de 1567veneza, 29 de novembro de 1643

Vespro della Beata Verginepublicação: 1610duração: c. 90’

1 Claudio Monteverdi fez editar oito colecções de madrigais entre 1587 e 1638. Ao longo destes anos, o sentido dramático da composição foi crescendo, sobretudo a partir do Quarto Livro. O uso expressivo de dissonâncias no estilo de recitativo coral, o diálogo polifónico, a liberdade rítmica são disposições novas que lhe trarão, quando edita o Quinto Livro, em 1605, duras críticas. A Seconda Pratica é a expressão que utiliza para marcar o contraste com uma prática de composição tão rígida como a da polifonia religiosa renascentista.

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de peças de estética modernizante como são a sonata (Sonata sopra Sancta Maria) e os quatro motetes para vozes solistas (Nigra Sum, Pulchra es, Duo Seraphim, Audi coelum).As Vésperas são um dos serviços litúrgicos do Divino Ofício e decorrem ao fim da tarde. Nele estão incluídas várias rubricas cantadas e rezadas. As Vésperas de Monteverdi apresentam a componente musical do serviço pelo que encontramos a introdução, (Deus in adiutorium), os cinco salmos consagrados para o serviço, todos precedidos de antífonas, e unidos pela mesma melodia de cantochão, (Salmo 109 Dixit Dominus, Sl. 112 Laudate pueri Dominum, Sl. 121 Laetatus sum, Sl. 126 Nisi Dominus, e Sl. 147 Lauda Jerusalem), o hino Ave Maris stella e o cântico finalizante, Magnificat. Todos estes números fazem parte da liturgia do Ofício de Vésperas para as festas de Nossa Senhora, sendo as mais importantes a Anunciação, a Natividade e a Assunção. Acontece que

Monteverdi intercalou quatro motetes entre os salmos, finalizando-os com uma sonata, ainda antes do hino. Estes cinco números não fazem parte da liturgia e a sua inclusão tem motivado amplo debate musicológico no sentido de perceber a sua função na estrutura da obra. O resultado é o de uma grande diversidade o que, aliás, está de acordo com o carácter polivalente expresso no extenso título da colecção a que pertencem.Deus in adiutorium é a invocação inicial e o texto compõe-se de duas partes: o primeiro versículo do Salmo 69, cujo primeiro hemistíquio é dado em cantochão e a segunda, responsorial, de acordo com a técnica vocal de falsobordone, ou seja, um acorde dado pelo coro para o segundo hemistíquio, cujo ritmo segue o do discurso falado. Esta segunda parte, facilmente identificável pela inclusão da célebre tocatta da abertura de L’Orfeo (1607), a primeira ópera de Monteverdi, continua com

vista de mântua. the hebrew university of jerusalem © dr

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a doxologia, isto é, a fórmula de louvor que se inicia em Gloria Patri e termina, com uma extensa cadência, em Alleluia.Dixit Dominus é precedido de uma antífona, que ilustra o sentido do texto seguinte, e decorre em estilo concertado misto. As forças orquestrais variam regularmente entre seis estilos diferentes: o início imitativo, típico da polifonia renascentista; recurso à textura homofónica, em que todas as vozes cantam as mesmas palavras simultaneamente no mesmo ritmo; falsobordone, típico do canto de Vésperas em Veneza; dança de métrica ternária; uma secção imitativa de ritmo muito vivo e uma outra, mais curta, apenas para os instrumentos. Tudo isto é ligado pela melodia de cantochão que, embora muito discreta, tem a função de dar consistência à autêntica miríade de estilos presentes no andamento.Nigra sum é o primeiro dos quatro motetes que intercalam os salmos e seguem o estilo

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novo da monodia, isto é, a melodia dada pelo solista, sendo este acompanhado por baixo continuo. O grau de licenciosidade do texto é surpreendente dado o contexto em que se aplica, uma vez que junta várias passagens do Cântico dos Cânticos. Monteverdi aplica um tratamento musical do texto muito expressivo recorrendo aos madrigalismos, ou seja, fazendo reflectir, na melodia, os aspectos físicos do texto.Laudate pueri utiliza a técnica da policoralidade típica da produção musical veneziana, desenvolvida sobretudo por A. Gabrieli (ca. 1532-1585) para a Basílica de S. Marcos. O efeito é o de uma dramatização conseguida pela exploração espacial do som, uma vez que os diferentes coros estavam separados. Por outro lado, a alternância entre duos e trios enriquece bastante o salmo, em que uma voz contribui com a melodia de cantochão, restando às outras a função de a ornamentar. Mais uma vez estas diferentes técnicas sucedem-se em várias secções.

virgem da anúnciação. antonello da messina, 1475. museo nazionale, palermo © dr

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Pulchra es é outro dos motetes e volta a utilizar o estilo da monodia, recorrendo a dois sopranos. Os madrigalismos estão presentes e, prova disso, é a bem notória inflexão sobre a palavra suavis. A fonte é, novamente, o Cântico dos Cânticos.Laetatus sum recorre à policoralidade e tem a melodia de cantochão dada pelo órgão. O contraste entre secções, com diferentes estilos de escrita, estabelece-se entre os trios e quartetos que se formam apoiando-se no falsobordone que ornamentam.Duo Seraphim contrasta com os textos anteriores pela evocação que faz ao mistério da Trindade. Embora não fazendo parte do conjunto de textos admissíveis numa festividade mariana, este era, aliás, um conjunto de versos muito popular, à época, para a elaboração de motetes. O tratamento musical exige uma prestação virtuosística dos três tenores. Os primeiros dois chamam o terceiro, juntando-se em uníssono sobre as palavras unum sunt.Nisi Dominus é construído sobre a mesma melodia de cantochão, dada pelos tenores, com notas de longa duração. Monteverdi utiliza esta base para desenvolver as vozes cimeiras por via de uma escrita rápida, plena de ornamentos, intercalando secções imitativas e homofónicas.Audi coelum é o último dos motetes e, seguramente, um dos pontos altos das Vésperas. Em estilo moderno, a textura monódica utilizada compreende uma série de efeitos muito representativos da nova estética madrigalista, assim como do desenvolvimento da música veneziana. Para além das dissonâncias expressivas, a intercalação de secções a que correspondem mudanças métricas e do reforço estratégico do coro, aproveita também o efeito de eco.Lauda Jerusalem é o último salmo e baseia-se no diálogo veneziano tradicional com

o contraste entre dois grupos, convocando todos os recursos numa espécie de peroração finalizante e construindo o clímax triunfante das Vésperas.Sonata sopra Sancta Maria é uma peça de índole instrumental, mas que utiliza o texto e a melodia de cantochão. A frase Sancta Maria ora pro nobis é repetida onze vezes pelo soprano sobre diversas variações instrumentais e rítmicas. Segue o esquema tripartido da canzona, com a forma da capo em que a primeira secção é repetida após a segunda, constituindo uma das peças mais longas e elaboradas do seu tempo. Ave maris stella é o hino mariano que Monteverdi compõe atendendo à construção tradicional deste género, em que o texto é dividido em estrofes de quatro versos e é assente numa melodia fácil de memorizar. Esta forma padronizada servia para o envolvimento musical da assembleia. Entre cada uma das sete estrofes, excepto nas duas últimas, surge um ritornello que varia expressivamente a instrumentação em cada intervenção. Daquelas, as três primeiras estão a cargo do coro e as seguintes contam com um solista para vir a terminar com o coro novamente. Magnificat termina as Vésperas e diz respeito ao cântico específico do Ofício vespertino. São utilizadas todas as técnicas anteriores numa súmula de estilos, e também de recursos, que eleva as qualidades do próprio texto. É retirado do episódio da Visitação (Lc 1: 39-45), em que a Virgem visita a sua prima Isabel e esta a saúda por se aperceber que se encontra grávida do Messias. Em resposta, entoa o cântico de Maria (Lc 1: 46-55). Na verdade, Monteverdi escreveu duas versões do Magnificat, uma a seis e outra a sete vozes.

joão pedro louro

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I. Versiculus

V. Deus in adiutorium meum intende:R. Domine ad adiuvandum me festina.Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.Sicut erat in principio et nunc et semperet in saecala saeculorum. Amen.Alleluia.

II. Psalmus 109: Dixit Dominus

Dixit Dominus Domino meo:sede a dextris meis,donec ponam inimicos tuos,scabellum pedum tuorum.Virgam virtutis tuaeemittet Dominus ex Sion:dominare in medio inimicorum tuorum.Tecum principium in die virtutis tuaein splendoribus sanctorum:ex utero ante luciferum genui te.Juravit Dominus, et non paenitebit eum:Tu es sacerdos in aeternumsecundum ordinem Melchisedech.Dominus a dextris tuisconfregit in die irae suae reges.Judicabit in nationibus, implebit ruinas:conquassabit capita in terra multorum.De torrente in via bibet:propterea exaltabit caput.Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.Sicut erat in principio, et nunc et semperet in saecula saeculorum. Amen.

III. Concerto: Nigra sum

Nigra sum, sed formosa,filiae Jerusalem.Ideo dilexit me Rexet introduxit me in cubiculum suumet dixit mihi:Surge, amica mea, et veni.Iam hiems transiit,imber abiit et recessit,flores apparuerunt in terra nostra.Tempus putationis advenit.

V. Apressa-te, ó Deus, a libertar-me!R. Apressa-te, Senhor, a socorrer-me!Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.Como era no princípio e agora e semprepelos séculos do séculos. Ámen.Aleluia.

O Senhor disse ao meu Senhor:senta-te à minha direitaaté que faça dos teus inimigoso escabelo dos teus pés.O Senhor estenderá de Siãoo ceptro do teu poder:Domina entre os teus inimigos.Serás o príncipe entre os teus no dia da tua forçapor entre os esplendores dos Santos:gerei-te no meu seio antes da aurora.O Senhor o jurou e não se arrependerá.És sacerdote para sempresegundo a maneira de Melquisedeque.O Senhor, à tua direita,julgará os reis no dia da sua ira.Julgará os povos e espalhará morte e ruína:esmagará contra a terra o crânio de muitos.Beberá água da torrente no caminho:por isso erguerá a sua cabeça.Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.Como era no princípio e agora e semprepelos séculos do séculos. Ámen.

Sou negra, mas formosa,ó filhas de Jerusalém.Por isso o Rei me amou e me fez entrar na sua câmarae me disse:Ergue-te, ó minha amada, e vem!O Inverno já passou,a chuva terminou e afastou-se,as flores surgem sobre a nossa terra.Chegou o tempo de podar as vinhas.

Claudio MonteverdiVespro della Beata Vergine 1610

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IV. Psalmus 112: Laudate pueri Dominum

Laudate pueri Dominum,laudate nomen Domini.Sit nomen Domini benedictum,ex hoc nunc, et usque in saeculum.A solis ortu usque ad occasum,laudabile nomen Domini.Excelsus super omnes gentes Dominus,et super caelos gloria ejus.Quis sicut Dominus Deus noster,qui in altis habitat;et humilia respicitin coelo et in terra?Suscitans a terra inopem,et de stercore erigens pauperem,ut collocet eum cum principibus,cum principibus populi sui?Qui habitare facit sterilem in domo,matrem filiorum laetantem?Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.Sicut erat in principio et nunc et semperet in saecula saeculorum. Amen.

V. Concerto: Pulchra es

Pulchra es, amica mea,suavis et decora filia Jerusalem.Pulchra es, amica mea,suavis et decora sicut Jerusalem,terribilis sicut castrorumacies ordinata.Averte oculos tuos a mequia ipsi me avolare fecerunt.

VI. Psalmus 121: Laetatus sum

Laetatus sum in his, quae dicta sunt mihi:In domum Domini ibimus.Stantes erant pedes nostriin atriis tuis Jerusalem.Jerusalem, quae aedificatur ut civitas:cujus participatio ejus in idipsum.Illuc enim ascenderunt tribus,tribus Dominitestimonium Israelad confitendum nomini Domini.Quia illic sederunt sedes in judicio,sedes super domum David.Rogate quae ad pacem sunt Jerusalém:Et abundantia diligentibus te.Fiat pax in virtute tua:et abundantia in turribus tuis.

Louvai, servidores, o Senhor,louvai o nome do Senhor!Bendito o nome do Senhor,agora e por todo o sempre!Do nascer ao pôr do Sol,louvado seja o nome do Senhor!O Senhor está acima de todas as nações,a sua glória está para lá dos céus.Quem se assemelha ao Senhor nosso Deusque habita nas alturas;e desce o seu olhar sobre as coisas humildesno céu e na terra?Que ergue do pó o miserávele tira o pobre do monturopara o fazer sentar-se entre os grandes,entre os grandes do seu povo?Que faz a mulher estéril habitar em sua casae ser mãe feliz de muitos filhos?Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.Como era no princípio e agora e semprepelos séculos do séculos. Ámen.

És bela, ó minha amada,filha doce e amável de Jerusalém.És bela, ó minha amada,doce e amável como Jerusalém,terrível como um exércitoem linha de batalha.Afasta de mim os teus olhosque me perturbam.

Alegrei-me quando me disseram:Vamos à casa do Senhor!Os nossos pés detiveram-seàs tuas portas, Jerusalém.Jerusalém, construída como uma cidadecujas partes se interligam.Aí sobem as tribos,as tribos do Senhorsegundo a lei de Israelpara celebrar o nome do Senhor.Aí foram estabelecidos os tronos para o julgamento,os tronos da casa de David.Rogai para que a paz seja com Jerusalém:Aqueles que te amam viverão em prosperidade.Que haja paz entre as tuas muralhas:e prosperidade nas tuas fortalezas.

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Propter fratres meos et proximos meos,loquebar pacem de te:Propter domum Domini Dei nostri,quaesivi bona tibi.Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.Sicut erat in principio et nunc et semperet in saecula saeculorum. Amen.

VII. Concerto: Duo Seraphim

Duo Seraphim clamabant alter ad alterum:Sanctus, Dominus Deus Sabaoth.Plena est omnis terra gloria ejus.Tres sunt, qui testimonium dant in coelo:Pater, Verbum et Spiritus Sanctus.Et hi tres unum sunt.Sanctus Dominus Deus Sabaoth.Plena est omnis terra gloria ejus.

VIII. Psalmus 126: Nisi Dominus

Nisi Dominus aedificaverit domum,in vanum laboraverunt qui aedificant eam.Nisi Dominus custodierit civitatem,frustra vigilat qui custodit eam.Vanum est vobis ante lucem surgere:surgite postquam sederitis,qui manducatis panem doloris.Cum dederit dilectis suis somnum;ecce haereditas Domini filii:merces, fructas ventris.Sicut sagittae in manu potentis,ita filii excussorum.Beatus vir qui implevit desiderium suum ex ipsis:Non confundetur cum loqueturInimicis suis in porta.Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.Sicut erat in principio et nunc et semperet in saecula saeculorum. Amen.

IX. Concerto: Audi coelum

Audi coelum, verba mea,plena desiderioet perfusa gaudio.– audio. –Dic, quaeso, mihi:Quae est ista,quae consurgens ut aurora rutilatut benedicam?– dicam. –

Por amor dos meus irmãos e dos meus próximoste digo: a Paz seja contigo!Por amor à Casa do Senhor nosso Deus,peço para ti a felicidade.Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.Como era no princípio e agora e semprepelos séculos do séculos. Ámen.

Dois serafins exclamavam um para o outro:Santo é o Senhor Deus dos Exércitos!Toda a terra está cheia da sua glória!Há no céu três que dão testemunho:o Pai, a Palavra e o Espírito Santo.E estes três são um.Santo é o Senhor Deus dos Exércitos!Toda a terra está cheia da sua glória!

Se o Senhor não edificar a casa,aqueles que a edificam trabalham em vão.Se o Senhor não guardar a cidade,aquele que a guarda vela inutilmente.Em vão vos levantais antes do nascer do dia:levantai-vos depois de repousardes,vós que comeis o pão da dor.Ele dá o sono aos que ama:assim os filhos são a herança do Senhor:o fruto do ventre é a sua dádiva.Como flechas numa mão poderosa,assim são os filhos gerados na juventude.Feliz o homem que deles encheu a sua alijava:não se confundirá quando falaraos seus inimigos à sua porta.Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.Como era no princípio e agora e semprepelos séculos do séculos. Ámen.

Escuta, ó céu, as minhas palavras,cheias de desejoe repletas de alegria.– escuto. –Diz-me, peço-te:Quem é estaque resplandece, subindo como a aurora,para que eu a celebre?– Vou dizer-to. –

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Dic nam ista pulchraut luna electa,ut sol replaet laetitiaterras, coelos, maria.– Maria. –Maria Virgo illa dulcis,praedicata de propheta Ezechielisporta Orientalis.– talis. –Illa sacra et felix porta,per quam mors fuit expulsa,introducta autem vita.– ita. –Quae semper tutum est mediuminter homines et Deum,pro culpis remedium.– medium. –Omnes hanc ergo sequamurquae cum gratia mereamurvitam aeternam.Consequamur.– sequamur. –Praestet nobis Deus,Pater hoc et Filius et Mater,cujus nomen invocamus dulcemiseris solamen.– Amen. –Benedicta es, Virgo Maria,in saeculorum saecula.

X. Psalmus 147: Lauda Jerusalem

Lauda, Jerusalem, Dominum:lauda Deum tuum, Sion.Quoniam confortavit seras portarum tuarum:benedixit filiis tuis in te.Qui posuit fines tuos pacem,et adipe frumenti satiat te.Qui emittit eloquinum suum terrae:velociter currit sermo ejus.Qui dat nivem sicut lanam:nebulam sicut cinerem spargit.Mittet cristallum suum sicut bucellas:ante faciem frigoris ejus quis sustinebit?Emittet verbum suum, et liquefaciet era:flabit spiritus ejus, et fluent aquae.Qui annuntiat verbum suum Jacob:justitias et judicia sua Israel.Non fecit taliter omni nationi:et judicia sua non manifestavit eis.Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.Sicut erat in principio et nunc et semperet in saecula saeculorum. Amen.

Diz-me, porque ela é bela,é única como a Luae como o Sol enche de alegriaa terra, os céus e os mares.– Maria. –Aquela doce Virgem Maria,anunciada pelo profeta Ezequielcomo a porta do Oriente.– Essa. –Aquela porta sagrada e feliz,por onde a morte foi expulsae por onde entrou a vida.– A mesma. –Que é sempre mediadora seguraentre os homens e Deus,para remissão das nossa culpas.– A mediadora. –Sigamo-la, pois, todos,porque pela sua graça obteremosa vida eterna.Sigamo-la.– Sigamo-la. –Que Deus nos proteja,o Pai e o Filho, e a Mãecujo doce nome invocamos,conforto dos miseráveis.– Ámen. –Bendita és tu, Virgem Mariapelos séculos dos séculos.

Louva, Jerusalém, o Senhor:louva o teu deus, Sião.Pois reforçou os ferrolhos das tuas portas:abençoou os teus filhos no teu seio.Estabeleceu a paz nas tuas fronteirase saciou-te com o melhor do trigo.Ele envia as suas ordens à terra:e a sua palavra corre velozmente.Faz cair a neve com flocos de lã:e espalha a geada como cinza.Lança o granizo como migalhas:quem pode resistir ao Seu frio?Envia a Sua palavra e elas derretem-se:faz soprar o Seu vento e as águas correm.Anunciou a Sua palavra a Jacob:as Suas leis e ordens a Israel.Não fez assim com as outras nações:e não lhes manifestou as Suas ordens.Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.Como era no princípio e agora e semprepelos séculos do séculos. Ámen.

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XI. Sonata sopra Sancta Maria, ora pro nobis

Sancta Maria, ora pro nobis.

XII. Hymnus: Ave maris stella

Ave maris stella,Dei Mater alma,Atque semper VirgoFelix caeli porta.

Sumens illud AveGabrielis ore,Funda nos in pace,Mutans Evae nomen.

Solve vincla reis,Profer lumen caecis,Mala nostra pelle,Bona cunctis posce.

Monstra te esse matrem,Sumat per te preces,Qui pro nobis natus,Tulit esse tuus.

Virgo singularis,Inter omnes mitis,Nos culpis solutos,Mites fac et castos.

Vitam praesta puram,Iter para tutum,Ut videntes Jesum,Semper collaetemur.

Sit laus Deo Patri,Summo Christo decus,Spiritui SanctoTrinus honor unus.Amen.

XIII. Magnificat

Magnificat anima mea Dominum.

Et exultavit spiritus meusin Deo salutari meo.

Quia respexit humilitatem ancillae suae:Ecce enim ex hoc beatam me dicentomnes generationes.

Quia fecit mihi magna qui potens est:et sanctum nomen ejus.

Santa Maria, rogai por nós.

Ave, estrela do mar, Doce mãe de DeusE sempre virgem,Feliz porta do céu.

Recebendo aquele AveQue ouviste da boca de Gabriel,Firma-nos na pazPor esta mudança do nome de Eva. [Eva-Ave]

Desata os laços dos pecadores,Dá luz aos cegos,Afasta os nossos males,Obtém-nos todos os bens.

Mostra que és nossa mãePara que ele receba por ti a nossa oração,Ele que por nósQuis ser teu filho.

Virgem sem igual,Doce entre todos os seres,Faz com que, livres das nossas culpas,Sejamos doces e castos.

Concede-nos uma vida pura,Protege o nosso caminho,Para que, vendo a Jesus,Sempre rejubilemos.

Louvado seja Deus Pai,Glória a Cristo supremo,E ao Espírito SantoHonra sem igual aos três.Ámen.

A minha alma glorifica o Senhor.

E o meu espírito rejubila em Deus,meu Salvador.

Porque desceu o seu olhar sobre a condição humilde da sua serva:Por isso todas as gerações me chamarão bem-aventurada.

Porque o Todo-Poderoso fez por mim grandes coisas:e o seu nome é santo.

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Et misericordia ejus a progenieIn progenites timentibus eum.

Fecit potentiam in brachio suo:dispersit superbos mente cordis sui.

Deposuit potentes de sede,et exaltavit humiles.

Esurientes implevit bonis:et divites dimisit inanes.

Suscepit Israel puerum suum,recordatus misericordiae suae.

Sicut locutus est ad patres nostros,Abraham et semini ejus in saecula.Gloria Patri et Filio et Spiritui Sancto.

Sicut erat in principio et nunc et semperet in saecula saeculorum. Amen.

tradução de rui vieira nery

E a sua misericórdia estende-sede geração em geração sobre os que o temem.

Usou a força do seu braço:e dispersou os que tinham no coração pensamentos orgulhosos

Depôs os poderosos dos seus tronos,e elevou os humildes.

Cobriu de bens os famintos:e mandou embora de mãos vazias os ricos.

Socorreu Israel, seu servidor,recordando-se da Sua misericórdia.

Como fora dito aos nossos pais,a Abraão e à sua posteridade, para sempre.Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

Como era no princípio e agora e sempre,Pelos séculos dos séculos. Ámen.

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Notas Biográficas

Roland Wilson estudou trompete no Royal College of Music, em Londres. O seu interesse pela música dos séculos XVI e XVII impulsionou-o a explorar este universo musical de forma autodidacta, prosseguindo posteriormente estudos especializados no Conservatório de Haia. Como membro inicial e líder do grupo instrumental Musica Fiata, apresentou-se em importantes festivais por toda a Europa, sendo também convidado frequente de prestigiados agrupamentos de música antiga.As suas actividades estão actualmente centradas nos agrupamentos Musica Fiata e La Capella Ducale, incluindo a pesquisa dos instrumentos e das práticas de interpretação originais e a edição de obras durante muito tempo desconhecidas ou esquecidas. O seu trabalho está documentado em muitos discos que realizou para a Sony Classical, Deutsch Harmonia Mundi, CPO e Pure Classics. As suas interpretações são caracterizadas pela combinação de rigor histórico e inspiração artística. Das Cantatas de Johann Schelle aos monumentos da música barroca alemã, Roland Wilson tem contribuído decisivamente para a edificação de uma nova visão histórica da música antiga.

Roland Wilson

roland wilson © dr

Fundado em 1976, Musica Fiata é um agrupamento especializado na interpretação da música dos séculos XVI e XVII em instrumentos da época. Um estudo profundo e detalhado das fontes musicais, dos instrumentos e das práticas de execução originais, permitiu o apuramento de um som característico que colocou em evidência estruturas até então ocultas, tornando-se mais transparentes por via da interpretação especializada.Em função das suas cativantes e virtuosas actuações, o Musica Fiata foi convidado a apresentar-se em importantes festivais como os de Bruges, Praga, Copenhaga, Utrecht, Barcelona, Veneza, Ravenna, Israel, Ansbach, Graz e Breslau. Além das numerosas prestações para a rádio e a televisão, gravaram 25 CDs para as editoras Sony Classical, Deutsche Harmonia Mundi, Pure Classics e CPO, tendo vários sido distinguidos com prémios internacionais.

Musica Fiata

musica fiata © dr

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La Capella Ducale foi fundada em 1992 por Roland Wilson como complemento ao grupo instrumental Musica Fiata. Esta decisão teve como objectivo assegurar a unidade estilística na interpretação de obras de música antiga de maiores dimensões. Um desígnio que viria a ser cumprido e confirmado no âmbito de apresentações públicas e gravações, colocando em evidência a extrema homogeneidade dos conjuntos e a confluência do trabalho vocal com as sonoridades instrumentais. O sucesso da primeira gravação, para a Sony Classical, com música da Selva Morale de Cláudio Monteverdi, repetiu-se nas apresentações em festivais por toda a Europa. Outras gravações muito elogiadas se seguiram, dedicadas à música de Johann Schelles, Giovanni Gabrieli, Heinrich Schütz, Michael Praetorius e Heinrich Biber.Nos últimos anos, Musica Fiata e La Capella Ducale abordaram a música coral da Thomasschule, em Leipzig, anterior a J. S. Bach, obtendo grande sucesso em concerto e em CD com a redescoberta das peças sacras de Johann Hermann Schein e dos Concertos Sacros e Cantatas de Johann Schelle. Deram em primeira audição moderna o Requiem de Johann Rosenmüller e O dulcis Amor Jesu (Vésperas da Corte de Viena) de Giovanni Valentini, obras gravadas para a Sony Classical.

La Capella Ducale

la capella ducale © dr

sopranosMonika MauchUlrike HofbauerConstanze BackesVeronika Winter

altosRolf EhlersAlexander Schneider

tenoresJulian PodgerHermann OswaldGeorg PoplutzAchim Kleinlein

baixosHarry van der KampStephan Schreckenberger

Musica Fiata

La Capella DucaleRoland Wilson director

violinosAnette Sichelschmidt, Christine Moran.

viola alto e violinoChristiane Volke

viola tenorAndreas Pilger

viola baixoOlaf Reimers

violone / lironeHartwig Groth

cornetosFrithjof SmithJosue Melendez

trombonesDetlef ReimersPeter StelzlPeter Sommer

chitarroniUllie WedemeierMichael Freimuth

harpa duplaJohanna Seitz

órgãoKlaus Eichhorn

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Johann Sebastian Bach Variações Goldberg, bwv 988

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András Schiff piano

quarta 27 Dezembro 201019:00h — Grande Auditório

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orquestra gulbenkian

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Orquestra Gulbenkian

Lawrence Foster maestroRudolf Buchbinder piano

Franz Joseph Haydn Sinfonia nº 97, hob.i:97Concerto em Ré maior, hob.xviii:11

Richard StraussBurlesca, para Piano e OrquestraAs alegres travessuras de Till Eulenspiegel, op. 28

quinta 2 Dezembro 201021:00h — Grande Auditório

sexta 3 Dezembro 201019:00h — Grande Auditório

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Agenda

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