AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

download AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

of 85

Transcript of AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    1/85

    ~: .

    C C l L E C A O

    .ESTADolde SiTIO

    Giorgio Ag'HlIl lwn. IlIh(id" "III I ( j- + 21 1 n " idH ' I.'.'II" nom, (, 11111 d" " I'l'illl'il'lIi" iIH,'I,,('rIlHi~ , i < - , , 1 ; 1g('l'ili;fi(), i ': '\ ~Hl il ilO "" Ikid"!J,!!('I', 1""'I'OIlSlll'tdIwln "di,;:;.o ilnlin!l1' 01"" "j,n,,, ""'Ill'lclr" .I"WIIIII '1 ' 1~f'II.iall'ill, I""II,HI",. ;, 1"''''''').!llir I",l 'iOI l""" lo W, \ (,W \ 01 '1 . Llli""I"-;il) "11111"111[ ' ,111[I I'0lilka il,' "'gIII'U I H , : a 1I01"i1"11J11"I'icHII'1.SIIIIob rH , iHIIII('I)('lada pOI" \1 i..1 1 . < ' 1 1 , '0 1 1" ; '[ ,, 1 1 ( ' l l u u n. rh' \1'(11..11, ((1111'11-'" na" 1 ' < ' ) 1 1 ' ; 1 1 ' " . ' 1>1111 '

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    2/85

    SU\1AHIO

    Apresensncao , Jeane Marie Gagnebi n " 9Adverren cia 19A cestem unh a " 25

    2 o "rnuc ulrna no" 49A vergonha, au do sujei to 93

    4 o arq uivo e 0 testemunho 139RibLiografia 171

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    3/85

    C_dprt~ght @- E;'EQrgiD'Agan~geh'Copyl'igh, ti6itell1po Editodal, 2008

    (~~i}ordefl.(u;dodltoria-- t I va na ) I n: k i- ng c5~?t;Ht.[)rl.'s dSJ' istr: 'n rt"5 Ana Paula CusrcllariiJorgl;: Per'(ita -Fnh.~.Assisrenie edito'rial: LucierreLim a

    .J,j;'ld~l,r/lt;: Sch:HlO j. .Assrnaruc'/)rcpal"i1fi10 N i h . o J 1 Mouhu

    Revis f l (J 'Rosel l

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    4/85

    C_dprt~ght @- E;'EQrgiD'Agan~geh'Copyl'igh, ti6itell1po Editodal, 2008

    (~~i}ordefl.(u;dodltoria-- t I va n a ) I n: k i- n: gc 5~?t;Ht.[)rl.'s dSJ' istr: 'n rt"5 Ana Paula CusrcllariiJorgl;: Per'(ita -Fnh.~.Assisrenie edito'rial: LucierreLim a

    .J,j;'ld~l,r/lt;: Sch:H1_o j. .Assrnaruc'/)rcpal"i1fi10 N i h . o J 1 Mouhu

    Revis f l (J 'Rosel l

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    5/85

    APRESENTAQAO

    Jean ne il'f(lrie Gagrwbill

    Dritro ciavasta obra de GiorgIo Agarnben, este livro ocupa lugarimermediatio esingular, Publicado em 199'8., retorna aproblemdrica deHomo sacer (1995) I .e de Me$i senea.fine C1996}", em-,particu[at~a dis-ri!t

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    6/85

    10 0que resta de Auschwitz.Assirn afirma Agarnben em Homo sacer e ipsis lettris, em Me=i senea

    fine, antecipando UITa tdlexaosobre 0 esrado de excecao corno norma,que sera 0eixo de Esrado de exeecdo (2003)4.

    Mas 0 que resta de Auschwitz tarnberrr anuncia urria remricica teo-logico-polinca que devera se desenvolver no livro seguinte, Il tempo cheresta (2000)5, urna bela e erudira Inrerprcracaocla clirnerisao rncssianicadas Epfsrolas de sao Paulo, em parricular da Episrola aos Romanos, texrofun dame da teologia rnoderna de Lucero a KarlBarth e Jakob Taubes. Aultima pubHcac,:aode Giorgio Agamben, II regno e lag/orief,s6 vern refor-car essa vertente do pensamento de Agamben, vertente pouco recebidae corneritada no Brasil. Alias, ernbora 0 queresta de Auschwitz seja clas-.slficado sob a nurneracao Homo sacer I II, os livros subsequenres - Estadode exceyao e II regno e fa g lo ria ~ rrazern, respectivarnenre, as rrurrreros IL1e Il, 2, a que causa no leiror cerra confusao, no melhor dos casas umaexpectadva lncrtgada porum Homo sacer TIL 20u talvez IV.

    Se a palavra ''Auschwitz'' remere, erirao, a pro blernarica do Homosacer, do estado deexcecao e .da biopolftica, a expressao enigrnarlca "0que resta" reerrvia a urn nucleo teologico e messiarrico, parenre rias duasciracoes hiblicas em epigrafe ao capitulo 1 (''A testerru.mha") e nas brevesafirrnacoes finais do capitulo 4 ("0 arquivo e 0resternunho") sobre 0Reina e a tempo mess ianlcos. Agarnben desenvolve essa nocao bastanrepeculiar de "resto" a partir daquilo que ele chama, lendo sao. Paulo, de"corrtracao do tempo", de "situacao rrressianica por.excelericia", num.a lei-tura muito livre da passagem da Prirneira Epfsrola aos Corlnrios, na qualPaulo dedara: "Eis 0que vos digo, irmaos: 0tempo se fezcurro", e nu.ma

    Stazo di ecceeione: homo sacer il,1 (Turirn, Bollan Bortnghleri, 2003); ed. bras.:Estado de excecdo: ))01110 sacer n. 1 (Sao. Paulo, Boiternpo , 2004).It tempo che resea:n commenro ai la Letteraai Romani (Turim, Bol lati Borin-ghieri, 2000) (sern trad ucao em porrugues).IIregno e l.agI01ia:per una genoa/og;a teologica deflcconomia e de/governo: homosacer /1, 2 (Vicenza, Ned Pozza,2007). Agradeco a In.dicacaodcste livre a Jon-nefer F. Barbosa.1 COl'. 7,2,:), segundo a. tradu

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    7/85

    12 .. 0 'qlicresta de Auschwiczjudaicosalcmacse franceses), Sent prejulgarriern.o interesse nern 0valor.dessas reflexoes, gosrar,ia de, no rnrnlrno, assirralar sua presen,c;:aeo ernba-.raco que podem provocar nUP1,leitor mais "errgajaclo", que nao prOcur3par inte:rroga~6es rrretaflsicasvmas que se corirerrcariaccrn .insceurneritosdeanaltsee de lura..

    Ora, rrresrrro que essasreflexoessejarn rnais escancaradas nos ulrirnoscapfrulos, elassubjazem ao livro Inreiro, Segurido 0auror, oIivro nrioe urnapasqtrisa hisrocica, seria rnais urna pesqui;a' sabre etlcae testernuriho ouairrda rnais urna tenrativade "fincar cie la . algumas estacascqueeverrrtra]-mente. poderao orientar as fiaturos carrografoscia nova terra .etica", cujoprinieiro e ruaioragrirnensor, diz Agamben, continua sendo Primo Levi.

    Urn f?il;taqj))}l;Qcollsti'tu..ti'v9teget~.,pt';~ " ; ; " 4 a ooCic[ental;BI6s(;fia:;~riiOraleedca foram.s "," "do lirein~dasnortn:at, WtDe, pelarel1ex~o.~diicas6bf;i;)o;&'to .de leis!notmiSltt?ktas, ,(nrmqi) comurt&~ue,pey~r~4m'(eg'

    quando chegavam ad campo, as prfslorreiros erarri separados em doemrese silos: os primeiros iam direramenee para as carnaras de gas; mas podiaaconrecer tarnb6mque os"vagoes repjetos de presos [osserrl'aberros dosdoisIados -dos rrilhoseurr; lado ia para 0 trabalho, a ourro para a morte,

    "' ...."

    9 Ver0verbete "Erica" red'igtdo com rnuiraclareza pot Paul Ricoeur no Diciond-rio d < i -hiea eji!o.mji sa mar... t,o.rg, por M.onj~lle Canro-Sperber (5",0 Leopo ldo,Uhi"jh.os, 20:07), :2 -v; " '

    r;::~,::",;!~if!~::~":::~~~:;Fssa ausencia de riorrnasydc nomoi, fazdo campo de coriccn rracao,

    p.uad'oxal merrre, a "paradigrna btopolfrico do rnoderno" (titulo cia ter-(dra parte ae.Homo sacer), umnovo nomos, porrarrto, que. solapa -ascon-d;

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    8/85

    14 0 querest'a de Auschwitz

    que nilo"i?odro~is;~erilsl'chafrl~dalip.J"viVonem~'~;~~j:'i'e'q't1e

    ~~~~~fg~:t?1i!iit~Jf~~,rnartidaa&",~iie.t1te~;ilte"hoje. ExdusaoJ lacuna, reivindicada por rilnguemmenos que Jean Amery quando escreve, ciradoporAgamben:o assirn ch.amadoiMusel}'nann;' corrro era dehomiturdo, na Iiriguagerndo Lager, 0p rislorrel.ro que havi abandonado qu alquer cspcran.ca eque havla sidoabandon:ado pelos cornpanheh:os, J a rrao xlispurihn deurn ambito de con.lrccirrierrto capaz de Ihe perrrrlrir dlscerrrlmehro eri-tre hem e rna], entre nobreza e vileza entre espfrrcualrdadee naG espiri-tllalidade. Era urn cadaver ambulanre, urn feixe de fuhS:6esfiskas ja emagortia.Devernos, po rrn.ais dolorosa.que.rios.p areca a.escolha, excluf-Ioda nossa .c9n~i-der-ac;a9_.2.Agarnbenobserva que rarnbern nos ,HImes feitos pelos irigleses noCampo de Bergen- Belscn, logo depots da Iiberracao e para fins de docu-

    meritar 0horrorvos' operadores .filmararn os eadavere$ amoritoados (UrntQPO.s dasskoda rcpresen racao do horror desde a .anrtguidade), mas sedesviaram.quan.do esses.sernirnortos sernrosto aparcccrarndc-rcpenee nocampo de visao da cam.era: os."rrrucujrnarios" sao aqueles que nao,podemnern devern set vistas, .tarripo uco Iembradosrporque suarnera existerrciaarneaca rrossasrepresenracoesrnirrirnas do hurnano.

    A gtandeza de Primo Levi consisce ern tel' recusacio esses pro cedi-rneritos de exclusao (em particular aexclusao em. nome da"dignidadehllm

    \lC'r p. 71.-,., Esu'cve Maurlce.Blanchor sob.reo livro de Robert Anrelrne, L'i'spl:ce hutnahic,':.;"br.e 0~re;[emdnho" da Shoah: "Impossibleausal, quand orren. parle, denf,:lrlcr - et.fina[ement.i::omme .n ri'ya dena . di re . que cer,"venemem incorn-prc:'h.

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    9/85

    16 0ql,leresra de Auschwitzpoderiarn ser resrern urrhns atrrerrt icas forarri mortos - como 0fbramos "rrrucu.lrriarros" e tantos outrosl6 Cc-nstste. erra dedarat que 0 resre-rrrtrrrb.o do sqbrevivente so;nente repousa sabre essa .Irrrp.ossibil iciacle deau ren ciciclade e sobre 0recorrhecirnerrro clessa Irrrpossfbfliclade, sobre acorisclerrcia aguda de que aquila que pode - e deve -ser narrado rrao eesserrcial, pois 0essencial rraopade ser dlro. Agora, esse riao-citzfvel naoremere a bela trad.is:ao da teo1ogia negativa ou a estecica do sublime,como as ve:tes alguns reorjcos da "literaturade eesremurrho" gos_~a,iaITlde nos corivericer e a si rnesrrros. Quando sao Joao Crisosrorno, obser-va Agarnben, afinna que Deus e - indizivel e ine narravel , eIe glorifica agrandeza de Deus que. rriesrrro para as anjos, permanece irrcorrrpree n-sivel. E quando a contemplas:ao de uma ternpestade deixa sem palavrasseu espectador, falrarn-Ihe as palavras prop rias ao juizo esterico sabreo bela, mas de podera inventar .ou.tras rriarielras de .talar.N'oy~r;l9"?XOde PrilTIoLevj,ates~eI11J!nha1)ao podedlzer'isso -qi.t~ merec:~ria:serdiro , porql.!'e 'e~se "-i~~-;j~'_:p~~t:';-rrce_,.~);'l)9rte.ssa fa,li:\l.J;essa Iacu'h:a,esse d_e~l~cament:Q_,"~s~a.iao-coinc~d-.iii.da (tod.oster.riit~s de Agat!n-be~) resra ,de Aus"dhv,;ftz; essa rnarca dolodda que desn1~ncha qual-guerpleni.t.u-qe discuc~hla earrrcaca 0i6gosde de;rnoroIl~mento:

    ;;~ttii~~~!~~!!Si~ti~::Ea 'rreva.obscura' que Levi sencia crescer rraspiginas de Cdan COITlOUrnruido defundo'; e a nao-Hngua de Hurbinek (mass-kia, matisklo), que naoencontra lug.u-rrasbibliotecas do dito, rrern no arquivo dos erauriciaclos.!"

    Hurbtnek e 0nome dado pelos sobrevivenres recern-Iiberros a urnmenino de urrs tees a1)OSque se enconrra COITl des no "carripo maior"16 Nesse corrrexro, Ag4mbe)'L tern razao de colocar em quesrao 'esse pressup osrodo paradoxo quando menciorra, no firn de 0 que resradeAuschwitz, ulna se-de de "testernunhos" escrlros por ex-deponados que se corrsiderarn tarrrb ernex-"mu

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    10/85

    ADVERTENCIA.

    (;ra

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    11/85

    [".

    i1;o;.(;i.\in;;al'ealida

    '.'.:-c. '..-. .,t~~~t~:t:aa:!~~ktetF4e'i;iut~o ' :inaistr:igica~:,;iirid'ir).ais~!;p;;;1t:osa:[..J". Maisrragica, -mais espantosa. em relacaou que?Pelo rrierros por urn aspecto, porern. , Lewenral se havia engana.-

    do. Pocle-se ter ce rreza de que aquele "pequeno grupo de genre obs-oura" (obscura deve ser errcericilclo riesre caso rarrrbern no sentidoliteral de irrvisfvel, que nao se consegue perceber) nunca deixara dedar trabalho aos h.lsrortadores. A aporia de Auschwitz e realrnenre apropria aporia do conhecimento hist6rico: a nao-co inciderrcia entrefatos everdade, entre consraracao e corrrprecnsao.Entre a querer entender clern.ais e demasiadamente rapido,

    por parte de quem tern explicacaopara tuclo.:e a.recusa de enrcrider, pOl:parte dos sacralizad.ores baratos, Irasistir ncssaseparacao rros pareceu.ser 0urrico ca:minho praricavel. .Acrescerrre-se a rai dificuldade urnaourra que tern aver, especialmente, com quem esra acosrurnado a

    .Adverzerrcia .: 210 0 que resta 'de Auschwitz

    Escteve Lewental, no seu iidic:he rrruito sim.ples: Nenhurn ser hurnanopode Irnagi nar .como oco rrerarn precisarnente os acorrtecirnen cos, e, defato, e inirnagimivd que possarn serclescrtras exararnerite COUlO acorite-ce rarn nossas experienctas [.. ,J nos - 0pequeno grupo de gente obseuraque nao dad. rrruiro rrabalho para os biscoriaclores.

    vnlp;lr~se de rexros Iicerar ios ou filosoficos ..Muitos testernunhos -'~l?jiHll dos carrascos, sejarn das vftirnas - .pr-overn. de pessoas co-i)'UUS' assi.m como era gente"absc.ura" a grande rrraioria dos que seMiCeh{'hess~sen.tido que:.d~ve se.r entendida a~i1'u:n.ayaodeI;L:',,' . ' - ,_ . 'Talvez os Ieirores fiquern d.estlucliclos encontrando riesre lrvro111\11(0 pouco de novo a respei to do resrerrruriho dos sobreviverires.: 1 : ' J ; l sua forma, de e, par assirnclizer, uma especie de-cornericarto per~plfttw sabre a restcrn urrh ovNao nos pareceu passivel fazer outra co i-W - 1 , COllttido, tendo em vista que, a .uma Cerra altura, nos paTeceut"vh .knte que a testemunho continha como sua parte essencial umaItj.'L!Jl:I, OU seja, que os sobrevlvernes clavarn restemunho de algo quefHlo podia ser testem urahado, corn.en rar seu tcscernuriho sign ificou~lt:l.' t'~;sllliar:n.ententerrogar aquela lacuna - au, maisainda, tentar

    _'f;

    T;Hlih('11l (");SC e u.rn modo - quem sabe, calvezo urrico modo pos-dt"';:-;ClIUf0 nao-cl.iro .

    nuam sendo singularmente opaoos quando realmente queremoscornpreeride-Ios. Talvez nirigtrern tenha exposto .de rnarreira m.aisclaraessa dtsraricia e esscrrral-esrar do que Salmen Lewenta1, rnerri-bI;O do Sonderkommando que confiou seu. testemunho a algumasfolhinhas sepu lradas junto ao crematoria III, que vierarn a luz de-zessete anosdepots da Libcrracao de .Auschwitz.

    N:iose nata aqui, obviamente, da dificuldade que 'exper+rnen.ta-rrios rocla vez que procuramos comunicar a outros as nossasexpe-riendas rrig is intimas. A dificuldadc tern a ver corn a propria esrrururado resremuriho. P

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    12/85

    N'Hl tlcle dia,n "tenres ernpormgues. , C N . . ' 1 ;. l

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    13/85

    1A TESTEMUNHA

    .1,1No campo; uma dasr~6eS;.9.uep,Cl,45'rn impelir urn deporra-:1, '\/0breviver consisrit. ~rhtornar~se ~matestemur1ha:lrc rni nh a parte, tinha decidido Iirrnerncnre que, independente doque: H1e viesse. a aco ncecer, nao me reria tirado a vida. Queria verfndo, viver rudo, fazerexperiencia detudo, co nservar (udo clenrrode rnirn, Com que objetivo, dado qu.e nunca teria tido a possihi-Ikhde de gritar ao rnurrdo aquila que sabia? S'implesrne nre porqueI'/H) queriasai r de cena, rrao qtrerta suprtrnir a testemunha que po-d i'l [He ror nar.!(,:'::ITamente hem todos, ou melhor, so uma parte infima dos derl-

    dOliluvoca para si mesrna essa razao. D~ resro, rarnbern pode acorire-prj' que se rrate de urna razfio c6moda ("gostaria de sobreviver por~.jI!lCou aquele motivo, por esse au aquele objerivo, e se encontrarn!'t1HlC!.nasde pretextos. A verdade e que se gostaria de viver a qualquerPll~jll"').Ou enrao pode rratar-se apenas devinganca ("naturaln1enteI1Vtk-ria suicidar-rne Iancarrdo-me sobre a cerca eletrica, isso semprej"hkmos faze-Ie. Mas eu quero viver, Quem sabe acorireca urn rrrila-f1n", ,"screr r ros libertados. E erirao irei me vingar, conrarel a redo 0"i ,,, Ido 0 que aconreceu aqui denrro'P). Jusrificar a propria sob revi ...

    I L L:ulgbein ern At(Schwitz: 'Zeugnisse und Bericbi, ~rg. H. D. Adler, H. Lan-fl,lnjn.E Lingens-Reiner (l-Iarnburg, Europalsche, 1994). p. r a G .". t.cwenrhal, "Gedenkbuch", Htfte von Auschwitz, Oswiecin, n. 1,1972, p. 148.IX/:Sufsky, L'ordine delterrore: il campa-dl.conceruramenro (Rorna-Bari, Laterza,I ')'!')). p. 477.

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    14/85

    26 0 que resta de Auschwitzvencia nao e Ekil, menos ainda no campo. A l e I D disso, alguns.sobre-vivenres preferem ficar em isllenclo. "Alguns dosmeus amigos,a.migos que me sao rriuiro caros, nunca falam de Aus.chwitz."'N,oentan to, p"ra otrtrosa vntea razfio de ;'i.ver'~-!iao pennitii'qpe; .a res-rerrrurrlra morra. "Outras pessoasvpor sua-vee, falam ... i;,g:b$e!l:-t pa-rar..e Stili urn deles;""1.2 Urn cipo perfeito de resternuriha e Primo Levi. Quando vol-

    ta para casa, entre os horncns, corita sem pacar a todos 0que lhecoube viver. Faz como 0Velho Marinheiro da balada deColeridge:Voce lernbra a ceria:0VelhoMarlnbelro para os convidados ao rnarrirno-nio,que riao lhe prestam arerrcao - eles esrao pensando no proprio rnarri-monio -r-, e os obriga a escutar oseu relate. Pols errtao, logo depots de rervohad9 do campo de coricentracdo, rarnbem eu me cornporcava precisa-mente asslrn, Sentia urna riecessidade Irrefreavel de conrara rriiriha hist6riaa rodo mundo!...Toda ocaslao era boa para coritar a todos a rniriha hist6ria:ao clireror dafabrica, assim como ao operdrio, rnesmo que des rlvessernourras coisas para fazer, Fiquei preclsamenre como 0Velho Maririheiro.Depois cornecei a escrever a mdquiria durante a noire ... Todas as noites es-crevia, e iS50 .acabava serrdo corisiderado lima coisa ainda rnais Ioucal' '

    .tehl~r:h~7E ~?~ ~:t~e::~ ' t~~ ~t~1K ~j~;~~ ~;f;~~ :!i :e~;~~ ~;u:~do ja haviapublicado dois romances evarios relaros, frenrea pergt.mtase se considerava urn qufrrrico au urn escriror, respondeu sem pestane-Ja.r:"Ah, urn quirnico, sejarnos bern claros, nao confundamos ascoisas",ofato de que com a passar do tempo, e quase apesar dele, renha .acaba-do par torriar-se tal, escreverrdo Iivros que nada tern a Vel' com seu res-rernu nlro, a deixa pcoflindamenre mal: "Depois escrevi.,; adquiri 0vido de escrever". "Neste meu Ultimo Iivro, La cbiaue a Stella, clespi-mecompletamenre da rn.irrha qualidade de testemunha ... Com isso.nao re-rt.egonada; nao deixei de sec urn ex-deportado, uma tesrernuriha ...",

    6

    E Levi, Conoersaeion e lnseruisre (Torino, Eiriaudl, 1997), P: 22"4,.Idem,Ibidem, p. 224 5S.

    j.

    A rcsremurrha 27Senrindo de pecto esse rnal-esrar, e que eu 0enconrrei nasreurrioes

    da editora.Einaudi, Ele podia sentir-se culpado por rer sobrevivido, riaopot tel' resrerrrnrihado. "Estou em paz cornigoporque rescemunhel."?1.3. En;i:l~tim,b,a,doisreti1}osgara representara 'testern (inha:,O pri-mei.rb;teS~!c de' qued~dva 0nosso terrtlot;esremunha,~~iflsl~t.imo-

    logicarnenreaqueleq uese p6ecQri'lO~"2rceiro .(*ersti.s.)ce~"!l. 'tim p:.roces,s{)on ernt:ln-:r'li~Igio entre c:i?is,contenqo.~~s; 0 segurtdo'sup~~"indicaquelequeviveualgo, arravessou at e 0final'urn eventoe. podevportan-,o,dar"t: :;~p,~~unhO:. disso. Eevidente que Levi rrao e urn rerceiro; elee , em rodos os sentidos, urn superstire. Mas i550 tambcrn signiflca queo seu rescemuriho rrao rem. a ver com 0esrabelecimenro dos fatosten-do em vista urn processo (de nao e suficientemente neurro para tal,nao e u rn testis), Ern ultima analise, nao e 0ju lgamento que lhe irn-porta - rnerros ainda 0perclao, "Eu nunca coulpare

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    15/85

    28 0 que resra deAusdnvltz

    1.4. UITIdos equivoC:O$ rnais comuns -e nao s6 a p.rop osiuo docampo ~ e a t:lcita confusaoentt caregoclas eticase categ9tias ju-ridica:s (ou, pior ainda, entre categoriasj~!trdkas e categorias .too-I6g1cas: a. nova teodiceia). Qjrase 'todas ascategorias de que nosservimo$ em materia rnor-a] ou rdigio'sasao de algulTIITIodo co n-ramrnadas com o xilrei tcc culpa, responsahilidade, inocencia, ju:l-gam.en ro, absolvi.;ao". Isso ro'rria dificilusa"' :las sern. precau

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    16/85

    30 . 0 que resra de Auschwirz

    como fo' i possivel qu e Deuscenha tolerado Auschwitz. A ~C;'-'U''-'';la~ym p rocesso que nab procuradefinir as respo.nsabtl idacles dosrriens, mas aque!as de Deus. COT10 todas as reociiceias, ta11.bemacaba corn uma absolvicao.'0 inflniw (Deus) despiu-se in tefrarrrerrre da sua oriiporencia no finiro..,Ao criar 0mundo, Deus, por assirn .dizer, the confiou a sua,propria sor-te, rorriou-se impotence. E depois de ter-se dado ro talrrrerrte no rrurn-do, nada mais cern a oferecer-nbs: cabe agoraao hornem dat. 0 'homem'pode faze-Io cuidando para que nfio acortteya, ou riao acorireca corndcrnas iada frequencia que, par causa do hornern, Deus dcva lamentaro faro de ter perrnirido que ornurido exista. ..o'vfcio conciliat6rio de roda teocliceia aqui adquire uma eviciericia

    especial. Alern d e nao 110S clizer nada .de Auschwitz, riern sobre as vfti-mas, nems~bre os carrascos,nem sequer corisegue evitar 0final feliz.Por clerras da imporencla de Deus,aparece ados lrorneris, q.ue repetcrno seu pius jamais ta.', quando ja esta claro que 0ca esta par rocio Iado.1.6'. Tarnbern 0conceito de responsabilidade esra Irrernediavelrrienre

    conrarninado corn 0direiro, Sabe-o qualquer .um que rcnlra tenradoservir-se dele fora do ambito jurfdico, Em todo caso, a erica, a polftica ea religiao puderam.defintr-sz unicamenteao roubarern rerreno a respon-sabilidade jurfdlcavnao, porern, para "assumirem responsabilidades deorrtrorjpo, mas sim arnpliando zonas de nao-responsabHidade.Jsso, na-ruralmente, nao significa irnpunldade. Slgnifica, isso sirn. - pelo menosno caso da erica -, dar de frente com urna responsabilidade infinitamen-te rnaior do que aquela que algum ilia ptrdessernos assurnir, No maximo,podemos ser-Ihe fieis, au seja, reivindicar a sua nao-asssumibilidade.~desco~.t:t~Waud;it~q ~ I,;eyii'fe~ ,em ~Auscllw .:-'h .

    assuntor~~t:a~;#:io , a quafentifi~~o

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    17/85

    32 0 CJ.ueresra, de Auschwitztabilid'a..:;led,eumdano {J?oresse modvo.,' non'in,tel!~gitit.r-damnlNtZ $mti-re~g-g~p:'oq~~e.::a,4~urncausa aSiI~r6prio pOl 5i.l; culpanao t j J r idka_rh~r i t ~ ; t ~ leY

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    18/85

    34 0 que resta de Auschw-itzL8.A f ig u r a e ~ t r em aa'.'zol1a dnzenm'e o.$Qnck:t:komn34ndfjoAs S5. ~ : ~ ; ~ : a ~ ;: ;; ~ :~ : i;:~ l a ~ ~ ~ ~ :~ : p :~ ~ ~ h i ~ ~ ~ 1@ :i ~ ~

    nos crernarorios, Eles deviarn levar 'os prisiorieiros nus a rnorrc nas cama-rasde ga s emanrer a ordern entre osmesrnos; depois arras tar para foras..cadaveres, manchados de rosa e de verde em razao do acido cianidric;:lavando-os com [atos de :igua; verificar se nos otiffcias dos corpas naoestavam escorrdidos objetos preciosos; arrancar as dentes de o'uro dosrnaxilares, corrar as cabelosdas mulheres e lava-los com doreto de arno-nia; transporrar clepois os cadaveres.ate os fornoscrem.atorias e cuidar dasuacornbustao: e, finalrnerrre, rirar as cinzasresiduals des fornos.

    Sobre esses Esquaclroes, boaros vagos e rruncados ja circulavarn entrenos cluraru.c a confiriarnen ro e. forarn confirmados rnais tarde pelas ou-rras fontes rnericionudas anteriorrrrenre, mas 0horror intdnseco dessacondihumana irnp6s atodos as resreruunhos urna especie de PUdOl;;por 1S50 airida ho]e e difici] construir uma imagem do que "signincava';set forcado a excrcer esse oficio durante rneses. [ .. . J U1):1 delcs declarou:''Ao realizar esse trabalho, Oll se enlauquece no. prirneiro dia, 'ou entaose acosturria". Mas ourro disse: "Por cerro, rerla podido rnarar-rne ou rriedeixar marar; rnas eu qucria .sob revivcr, para vingar-me e pal'a dar teste-rnu.nho. Voces nao devern acreditarque nos SO'm05 mo nsrros, sornos co-mo. voces, so que rrru ito rnais Infelrzes". [...J De homens que cormecerarne s s a d e s r i t u i c a o extrema n a o se p o c l e esperar u r n depoirnerito no . s e r u i d ojurfdico do. terrno, e sirn algo que fica entre 0Iamenco, a blasfern i, a ex-p iacao e 0esforco de j usrificaciva, de recu.peracao de si rnesrnos: [ , .. J Terconcebido e organizado os Esquadr6es foi 0deliro rnais demaniaco do.nacjonal-social.ismo.!"Alias, Levi relara que uma tescerriu nha, Miklos Nyiszli, urn dos

    poueos sob reviven tes do ultirno esq u.a.drao especial de Auschwitz,conro u que assisriu, durante lima pallsa do "trabalho", a urn Jogo defutebal entre S5 e represeriranres do Sonderkotnmando.C..Ja parricla assisrern ourros soldados 5S eo resco do Esquadrao , IOJ"-cerrclo, aposrando, aplaudindo, encorajando as jogado res, como se a

    P. Levi, Os afogados e.os sobreuioenses, cic., p. 27-8,

    A testern uriha 3.5p;i ,'rida se dcsen rolasse n.ao diarire das porras do inferno, mas nu rnc;;nnpo dc.aldeia. 16J':ssaparrida podera parecer a alguern como se Fosseurna breve pau-

    lill ,Ie bumanidadeem rneio a urn horror .infin.iro, A

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    19/85

    3rS ~ 0 que resra de Auschwitz

    Oprirt1e.ito d~ziesp:eito aoW6pdo ~er!I10- grego,;qu:e"djeriva'-!;te urnverbo qu~sigxlHica Yi'e~orcfai':. ;q'~obii;_;~i~ent_~Pllepf:6 , :uo;iuma vezpara sein-p~e:"J~~tatir$n~e"pita;;q~~~6sri:io J6~se~o .,~o-rtos ..Se ';;leme pedeemtroca b,hi'es~~, 's~riata1veip~rqmi rarnbern eld'e;sp~;:~salvar;i'ipconta mjhha;rilO-~te? Ou ralvez se deverla pensar que Deuspede 0sangue dos homens precisamenre quando de rejeira 0dostouros e dos cabritos? Como poderia de desejar a rnorre de quem

    19 P. Levi, Canversaeioni e interuiste, cir,; p, 225 e 220,respectivamenre,Quinto SepnrmoPlorencio Terruliano (ca. 155-220) e urn dosmals imporranres eoriginais auto reseclesiasricos larinos. Diz-se quefoi a primeiro a,usar.o teisxvstrini-tas Cu-indade). Sernpre polernico ria lura contra pagaos, judeus, hereges, goOsticos.Tertuliano eauror de muiros. rextos ern defesa cia verdade crista, ernboratenha nofinalda vida .corriprdo 'coin a Igreja e se fiHado a seita dos rnontanistas. Scorpiace ea titulo da obra em que pl'Ocura aprescntar urn.antfdoroconrra 0veneno do eseor-piiio das heresias gn6sticas para defender, rnais urna vez, a Igreja. (N_T)

    A resrernurrha 37ntin C pecadorY2o , '!\cf9",U,}'!~~}\40}~"a.:J;ti~_i_e.;~',!~.ce'_J?.2!.t;~JltQliJ,l";i ju~-t iJ i .. : al " - 0 escandalo d~::!-l:tn.a'm6rte 111sensata,de uma carnfficlna- quenho podia deixardepa~~c~~- ab~~;d'~.Di~nte do esperaculo de urriai'l'H')rtc aparerrterriertt e sine causa, a referenda, a Lc 12, 8-9 e a Mt. 10,.;}2-33 ("todo aquele que me corifessar diante dos hornens, ram bern('1I 0 confessareidiante de meuP;ai; e aquele que me negat diantedos hornens, rarrrb.errr eu a renegarei dianre de meu Pai") permitiaIjIICse inrerpretasse 0martfrio como urn rnarrdarne nro divino e que-'ieencorrtrasse assirn uma razao para 0irracional.Mas i8S0 rem rrruiro a ver com os campos_ Com efeiro, nos cam-

    pos; 0exterminio- para 0qual ralvez.fosse possrvel ericorirrar pJ;ece-den res- apresenta-se, porern, em formasque 0ornam absolutamenteSt;1ll senrido. Tarnbern a respciro drsso os sobrevivenres se acharn con-cordes. "A nos rriesrrios, 0que setinha a dizer enrao cornecou a pare-(IcT in.imagindvel. "21 "Todas as rerirarivas de expllcacao [...] fracassararnr.idicalrnerrte" .22 "Irritam-rne as renrativas de alguns extrernistas reli-giolios que inrerpreram 0exrcrrnfrrio a maneira dos profetas: uma pu-Ili~cii.b para os nossos pecados. Nao! Isso naoo aceito. 0 faro de ser'I'I:;GHSarOorria-o rnais espantoso. "2,3o infeliz terrrio "holocausto" (frequentemente com H rnai usc u-k.) or igrna-se clessa incoriscienre exigencia de justificar a mo.rte sinecausa, de atribuir urn sentido a.o que parece rifio poder ter sentido:e'Desculpe: eu uso esse terrrro Holocausto de rna vorirade, pais naonl~' agrada. 'Uso-o, porern, para nos crrterrderrn os, Filologicamentec~r5 errado [ ... ]". "Trata-se de urn rerrno que, quando riasceu , medcixou rrruito incomodado; posrerlorrnenre eu s~ube que foi 0pro-p"io Wie;el que 0f?rjou, depois, porern, de se arreperideu disso e1(:';;1 querido retira-lo".24

    1._10.Ate ti,iesffl_0,ahi$t6rht.tl,e:u1l1"terrill\> equiYPc

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    20/85

    ~iAl:J:C:i t~C F~ ;,~~ ': :~;~d:~~!~~ t~~ ~g~,~1G ~~ f0!~~~ ~i~ifk~~ ~~ tt;~~1-pCllld.;!nte~bDlOkai.tsiohra). A h.iscoria.semanrica do rerrno e essericial-n).en;(e 'cri5ti.i,poi~ os padres cla Igreja servirarn-se dele a fim detr.aduztrcrn - na verdade sern rnuiro rigor e coerencia.-- a cernplexadoutriria sacrifica] da BibBa. (especialrnenre dos livros do Levltko edOG N{In1fQS). 0 Levrtico redu~ rodos os sacriffcios a quarro lorm:;lstlir;idarnenrak alah, hcrt:tap,sheian'/i"ji,minha:.

    Os rrorrres.ded'uasdejas sio significativos. ohatttiter:ao.s,lcr:iffdoque' serviaparricularrnentc para expiar 0 pecado char:nadQ-/;mta:; QlI hatm:!h, do quaLoLevitico rios oferece urna ckfini

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    21/85

    Dtrizes j-esrerrmriha que, no cii da cowa

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    22/85

    ~ ~ ~ J ~ i@ b ! i4 ! ~ j s ,~ ; '~ ~ i !K ~ ~ i~ ~ i i i~ tnhd,. i:;qntribu:ir p;,u:asu:i,g19t'la.N6s, pdo COTIUario, "riao nos errver-gonhantos de rnnnrer nxo 0 alhar no incnarnivel". Mes.mo }~,5'~Ri.e;as6,: ~ i : ) : ~ ~ ~ ~ ' l . ~ ~ ~ e : ; ~ ~ ~ ~ : ~ ~ i ~ / ~ ~ ~ : ~ : ~ ;ilos sobr~viWI?te:s,/{S."V~f4~9~ir~",esrernunhasvas "rcsrcmurihas Inte-

    rnodo defin'hivo o~;'lor'd~~~$~elTlUl_1ho,obrlgando ,a buscar 0 sen-'-1" _ . _ "r roo em Ulna. zona rm.prevista.

    1.13. ja tinha sido.observado que, no tesrernurrho, ha. alga sirrrilaraurna impossib.iltdade de resremurihar, Em 1983, apareceu.o [ivro deJ . - F. .Lyorard LedijJCfend,. C f ue, aeretornar irorucamcn te as. recen tesresesdos negacion.lsras, inicia com a consracacaode urn paradoxo 16gic:9:

    P Levi, - 0 . r' t l: f o$ i ll : io 5 e os _

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    23/85

    ,,4 " 0 que resta d eAuschwitzChcgarnosa saber que alguns seres hurnanos dotados de Iinguagern forarncolocados em urna si tuacao tal que nerihum ddes pode dizer algo sobre 0que elafo]. A rnaioria deles desap'irecelJ naquele rerrrpo e os sobrcviveri-res rararnenre falarn, a tespeiro. Quando Ialam, 0seu. resremunho alcancaaperias pane !nnm" de tal situa

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    24/85

    46 0 que rcsr a de Auschwirz

    tores, e, peio conrrrir io, cornparad., por Levi - por rrroti.vos sobre osquais acred.lto valcr a peria reBeri.r"- a urn balbuda, clesaniculado ouao esrerro.r d.e urn modbllndo.

    Esra treva que aurnerira de p~lgina ern p.igina, ate ao {rlril11oclesarticubdobaibucio, corister na COH100 esrerror- de u.m moribundo, e rca!nl'enre n;10 eou:ra coisa, Acossa-nos C0J110 acossam as voragcns, 111>15o rncsrno ternpodefrauda_llos de algo que devia ser dim eriao foi , e por isso nos frnsrra ef1()S alast"'. Penso qu.e Celan poera.dcv- SCI" rnais medjrado e compadecido d oque irurado. Se a sua e urna rnensagern, elu se perd no "rutdo de fi.mdo":nao e Urn" cornunica

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    25/85

    48" . ;. 0 que f'C.:-':.tfl de Ausclrwi tz

    Ll5.Hurbinek nao pode testernunhar, pOl'qac .05.0 rerh.linglla (ap-aIavra que proferee urn sam lricerro esern sentido: !174ss-kfoou ma-tisk!o). Ncenranco, elee ''testemunha po!' mei~ desxas ITIinhas pala-vras".Mas nem seguer 0 .sobreviverire pode restenmnh.ar integralrnen:te,

    resrernurrhar, ha O basta Jev~r a Hngqil , . u : e ao prDprio n5.o-sentido~~ltea pura indecidibilidade cbs letr,l.5 (rtl.-a-s~s~k-!~Q,m-;a~t-i+k~!~o); irn-portaque o sorr, scrn sentido seja, porsuavez, voz dealgo ou algllemque;,por razoes bem. cliscinras, . n a o po~etestemunhar.Asslj~&~[

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    26/85

    50 0ue resra de:Auscjrwi rzacabou caindo precisamenro nos bracos dagude das 5S, que lhe deuum gr+co e lh e des.feriu u.rn a bordoada na tabe

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    27/85

    52 0 que resrn de Auschwitznurnero e imcnso, sao des, os "rruaculmar.os", as sub.mersos, sao des aforca do campo: a mulcldao arro n.i rua., conrinuamente renovada e sern-pl'e ignaL dos riao-b omeris qile rnarcham e se esforcarn em siJencio; jase apagon neles a centelha ci.ivirra, jiesrao tao vaz.ios. que nem podernreal rrie nrc sofrer, Hesira-se ern charna-Ios vivos; hesita-se em charnar"rno rre" a sua rriorre, que des ji nern cern.ern, porquc esrao esgotadosclemais para poder cornp recrrde-Ia ..Eles povoarn rriinlra rncrrroria corn sua presenca sern rosro, e se ell pudesseconccntrar nurna imagem rodo 0 rna! do !'lOSSO tempo escolher;a essa irna-gern que me'c hlmjJjar: LIm horriern rnacilcnro, cabisbaixo, de ornbros curva-dos, ern cujo rosro, ern. cuja olhar, nih:? se possa lcr o merior pensarne.rtLo ..62.2. Sobre as origens do terrn o ivfuse/mann, as opinioes sao dis-

    cord ances. Alias, corno acont.ece com frequericia com os jarg6es, ossinorrirnos nao faltfl,ITI.

    A expressao eta 'usaria sobrctudo 'ern Auschwitz e, a .part.ir daf , passadepois a ou trostager.., Em. Majdariek, 0terrno era desconhecido, e.para indica .. 0$ "mo rros vivos" seusava a cxpressao Gmnel(gamela): emDachau., par .sua vcz; dlzia-se Kretin(:T {idioras) , ern Stutthof. Knippel{alcijado:s), em l\1\uhallsel1, Schwimmer (ou seja, quem fica boiandofingindo-se de morro}, em .Neuengamrne, !

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    28/85

    54 ~ () que rcsra de Auschwirzantes de ser liberrado gracas a intervens:ao de Eleonora Roosevelt, Bet-telheirn havJa passado Lim ano nos que, eritfio, cram os dois maiorescampos de concemra.,;:ao nazisras par.a prisioneiros politicos, Dac.haLi eBuchql'.val.d. Embora, naqueles anos, as corrdicocs de vida no Lagernao fossem companiveis as de Auschwitz, Berrelheim ririha vista osrnuculmanos COm as proprios olhos, e logo Seden conta das inaudirastransforma.;:6es que a "siruacao extrema" produzia na personalidade dosirirerrrados. Assim, 0 rnuculrnano corrverterr-sr- para de em paradigma,sobre: 0qual, rnais tarde, tendo emigrado nos Esrados Uriidos, fundouos seus escudos a respeico da escruizotrcn ia Infantil e a Orthogenic School;por de inaugllmda ern Chicago para a cura de criancas aur isrcs, limacspecie decol1rrac

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    29/85

    56 e. 0 que resrade All~chwitz

    ()u como figura nosografica, ou corno categoria erica, oualrernada-rnenre como lirnire politico e conceito anrropologico, 0rrruculrnano eurn ser indefinido, no qual nao s o a hurnanidade e a nao-humanidade,0 1 < 1 : . 5 tarrrbern a vida vegerariva ea de relacao , a f1siologia c a er.ica, a rrre-dicina e a poiftica, a vida e a rnorrc trarisirarn entre si scm solucao decontinuidade. Por i5S0 0seu "rerceiro reirio" e a cifra perfeira do cam-po, do riao-lugar onde rodas as barreiras disciplinares acabam ruinclo,[Odasas rnargens rransbordarn.

    2.4. () paradigma cia "sit uacrio extrema" au da "sicuacao-Ii mi te"fOl freqi.ientemente invocado no n0550 tempo tanto pelos fi16sofosquallW pelos rcologos. Dese-rn pcrih.; funcao sernclh.anre aquela que,segundo algu.ns juristas, corrcsporide ao esrado de excecao. AS$ilU(:01T100 estad o de c:xceq{:iop errn itc fundar e defirrir a validez do or-genarnento jurfdico normal, tarnbern e possfvel, a luz cia situacaoextrerna - que no fundo e urnaespecie da excecao - julgar e decidirsabre a situacao norrn al. Nas palavras de Kierkegaard: '~Aexcecaoexp lica o geral e a S1 rnesrna, Quando se q u e r esrudar correrarrien n-o geral, irn porra ocupar-se de Luna excecao real". Assirn, ern Bette-lheirn, ocampo, C01110siruacao exrrerria pOl' exceiencia, pcrrnite quesc decida sabre 0 que e hunnno e 0 que nao e, perrnite que se sepa ..re 0 lnu~:ulrnanl1 do h orncrn.Nq en tanto, e.corn razao, .Karl Barth observou - a respeiro do con ..

    ceiro de situacao-Iimire e, ern particular, da experi encia da segundaguerra rnundiaf-, qu e 0hornern t e r n a singular capacidade de se adap-tar tao bern a situacao extrema, a ponro de ela nao cO.i1seguir rnais de-serrrpcrrh ar, de algum modo, urna fuw;:ao de Iinha divisoria precise.De acordo com 0que podemos observar hoje -- escrcvia de em 1948 _po.de-se afinnar corn cerreza que, ate no dia dep ois do Jufzo Final, sefb5se passivel , cada bar, ou dancing, cada grupo carnavalesco, cada edi-tora avida de assi'nat.u ras e de publicidade, cada grupo de polltiqueirosfan . a r i' c ;o s , cada reun iao rntmcla na, assirn corno cad" ccnaculo crisraoagrupado ern torn.o da. SUa lmpres'cindivel xicarn de ch.i, e qualquer

    Tel'ceiro Reich , (N. T,)

    o "muculmano" ~ 57s in od o e cl es ia sc .c o, pr-ocu.rar.iarn 'r ec o n sr ru .i r da melh or fo rrna possfvelc continual' corno ant.es a sua ati 'vid"de, sem serern absolutarnenre afe-lituayao extrema que des riunca revogaral1:t 0estado de excecao qu eh.rviarri decrerado em fevereiro de 1933, no dia seguinrc it tomada depodcr, de forma que o Terceiro Reich pode ser defirudo jusrarncrrtc.01"11.0"Ulna noire de SaoBartolorneu que durou 12 anos"., Auschwitz e exatarnerire lugar ern que 0cstado de excccao,uindde, de rnarieira perfeira, corn a regra, e a situacao extrema con-vcrte-se no proprio paradigm;,), do coridiano. Mas e precisamente(:';[,1 paradoxal rendericia que se cransforrna no scu corrtrrir io, tor-Iundo iri reressa rtre a sirnacao-l imirc. Enquanto oestado de excecaoca situacao normal, conforme aco ntece ern geral, sao mancidos se-p.nados no espw;:o e no (enlpO, nesse caso, rnesrno furidando-se re-,:iprOGllnel1te ern segrcdo, coricin.uarn opacos. Mas qu.ando passamImostrar aberramen te a corrvivencia e n t r e s i , conforme o c o r r e hoje,kluaneira cad a vez mais frequerite, ilurn.inam-se urna ioutra, par;"' -: '; in1dizer, a partir do interior. Isso irnplica, coriru do , '-1uea situa-c.:l() extrema j:i niio pode serv ir de criteria de disri ncao, corn o acon-icee CIU Bettelheim, rnas que a sua J i . : ; : ao e antes de mais a dal!Hanencia absolura, a.de SCI' "t.udo ern cudo".N:essc. sen..tido, a filo-

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    30/85

    58 O'que resra de; Ausd'Wi(zsofia p'ocle sec defintda corno 0mundo vista em siruacaoque se tornou a regra (segundo alguns fil6sof05, 0riorne ciasituacaoexrrerrra e Deus).

    2.5. Aldo Carpi, professor de pinrura riaAcadernia de Brera (Mi-1:?lo)f6i deportacio para Gusen em Ieverciro de 1944, ficando hl atemaio de J 945. Conseguiu sob reviver ate porque as SS, tendo desco-berr o a protissao dele, cornecaram a encorneridar-lhe quadros e desc-nhos. Tratava-se, sobretudo, de retraros de familiares que Carpideveria fazer a partir de fotografias, .I11aO' tarnbern de paisagens iralia-nus e de "pequenos nusvenezianos" que de pinrava de memoria. Carpin.io era urn pin tor realism, conrudo, pOl' razoes cornpreensiveis, gos-raria de tel' pinrado ao natural cenas e figuras do campo; esras, porern,de m.odo algurn inreressavarn aos seus cornirenres, que nern sequcr

    -s - roleravam tais visocs. "Ningubu quer ccnas e flguras do Lage..r~ ario-ra Carpi no sell diario ~ ningucm quer ver 0Muselma!Jn. "15Ourros resternun hos confirrnam calimposslb ilidade de o.llrar pa--ra 0ruuculmano. Urn - ernbora indirero - e par ucularrnen te elo~

    qucrrre. Nao faz rnu iros a_nos que se tor.nararn publicas as pelfculasque, em 1945, os ingleses filmaram no campo de Bergen-Belsen,logo depois de sua libertas:iio. Fica diflcil suportaravisao dos milha-res de cadsiveres desriudos amonroados nas fossas CO/T1unsourraz i-dos a s costas pelos ex~guardiaes - corpos rnartirizadosque .liernscq uer as SS'cansegui,llTI riornear (sabernos pOl ' 1111l . testernunho quenao deveriam, de rriod o algurn, scr charnados de "cadaveres" ou"corpos", rnns sirnpleslnen1:e de Figuren; 5,guras, bonecos), MeS1110assim , tendo em vista que, num prirneiro 1110 merrto, os aliados sepropunham a servir-sc desras grava(;:6es como provas das atrocidadesnaz.istas pam serern difundi.das n.a prop ria A[elTlanha, uerrhurn deta-ll~e do il~grato espeta~u.b nos foi poupado,. A Luna ccrraalt ura, p.OCrem, a carnara se derem

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    31/85

    so 0 q\.lc resra de Auschwirzser humane aquilo com que de terne ser assernclhado, o rriuculrnanoe unanirnemcnre evitado porque, no campo, eodos se recorihecern noseu rosto apagado,Ernbora codas as testemunhas ue.m clisso como se Fosse urna expe~

    riervcia cenrral, trata-se de urn faro singular que 0rnuculmano seja ape~11aS men cionado nos esrucios historicos sabre a destr uicao dos judeusde Europa. Talvez s6agora, com quase cirrqficrira arios de dlstancia, decornece a torriar-se plenamenrc visfvel, e s o agora pOSSanlQS tirar ascon.sequcricias desra visibilidade. Corn cfeiro, ela irnpltca que 0 para-digrna do exrerrn inio, que ateaqui orieritou de rnarieira cxclusiva amterpreracao dos campos, seja, nfio substirufdo, rnas acornparihadopor ourro paradigma, que iarica nova 1uz sobre 0extermfnio, ternan-do~o de aJgum rnoclo ainda rriais arroz. Antes de ser 0campo da rnorre,Auschwitz 0lugar de urn cxpcrimenro. airida Irnpensado, no qual,pal~ aiern da vida e da morte, 0 judeu se transforrna em muculmano, eo hornern em nao-Horuern. E nao compreeriderernos que eAuschwitzse antes nao tivcrrnos cornpreenclido quern ou 0que e 0muculmano, senao tivcrrnos aprendido a olhar Gam ele para a Corgoria, .2.7. Urna das perifrases de que se serve Levi pam falar do rnucul-

    mana e "quem viu a G6rgona". 1\Ila50que viu 0rrruculruano? 0 que;e , no carnp o, a Gorgona?Em urn esrudo exemplar, servi ndo-se tanro. dos tcsternurrhos li-

    rcrar ios quanta daqueles cia escuhura e da pintll!"a ern vasos cerarn i-.cos, F. Fro n tisi-D'ucroux rnost rou-nos 0 que era para os gregos aGorgon.a,essahorrfvd cabeca femini!1acoroad:~ de serpcnres cujavisao produzia a morre e que, por issornesmo, Pcrscu, sern ojharpara ela, tern de corral' com a ajuda de Arenas.A G6rgona, sobrerudo, nao tern rosro, no sen r.iclo que os gre;gos

    davam ao terrno prosopon, que significa etimologicamcnte "0 queestava frente aos olh.os, a que: se faz ver". 0 rosro p roibido , imposst-vel de olharporque procluz a rnorce, e, para os gregos. urn nao-rostoe, como tal, nunca e designado COIn 0 rerrrio prasopo n, COlltudo, talvisao impossfvel e, para des, ao rnesrno rempovabsolurarnenre lne-viravel. 0 uao-rosro da G6rgona nao s6 e reprcse nrado muiras vezespas arres p lastlcas e na pintura dos vasos cerarni cos. mas 0rnais

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    32/85

    62 0 'I"" 1:

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    33/85

    passagcm para alcm do "porito sern retorno" e urna expcriencia caodesconc:ertante, torrlando-sc rresra altura, para Hetrelhein1, ulna'separ:H,:iio errtre humano e riao h urrrario , aporuo ck dhninar cia tes-temunha nao apenastodo sentido.de piedade, mas tarn bern de lu- .cidez, iilduzindo-o a coufundir 0que, de modo a lgurn, deveria sereonfundido.Por isso, H'oss, cornarrdan re de Ausclrwir-. jllstlo;:adona P:016nia ern 1947, se rransforma para de em urna csp e cie demW;:lllJnano "bemnutrido e bern vestido'' que continua a vescir-see alirnen tar-se bern:i~n)bor:! sua .morre fisica ocorresse apenas n 1 . < 1 1 s tarde, rornou-se urn ca..driver ambulante 11.a cpoca em que assum iu 0 cornancio de Auschwirv,Sf) 11['0 sc torriou urn rnaornerano porq tJCcorrtin uorr a vesrir-se .ea < 1 1 -mentar-se bern, [''ia!:.reve de .despojnr-se tao inrclr.un ente do respciro cdo arnor prop rio, de sells ~entimemos e de sua persorialidndc que, pam.

    . . rodos os efeitos, 11"0passava de lima m(quina que funcionava aperrasquando seus superiores the apcr ravam os bot6es de cQtT).alldo.26Tarnbern ()rnuculrnano torria-sc, ;)05 scus olhos, urna impnwSvd e

    morisrruosn rnaq ull1Clhiologica, isentanao apenas de qualq uer coriscien..cia moral, rrias ate rneS1HOde sensibilidade e de estfrrrujos nervosos:POt1e-se ate cspecul.u- se csses organisrnos haviarn con torrmdo 0 arr:o rc-Hexo que antes ligava 0 csrfmulo exterior OU interiQf, via.lobos fronwis,ao.s,'O.[inl.r:l1ttYe;'o a,,

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    34/85

    660 () que resra de AuschwitzOs her6i$ que conhecerrros ni l h is,6ri il e IJ~ l iten,rqra, q1JeX tennamelevado a VOf pax'l falar do "me)", "cia solidJ)), da allgl]$tja do ser e donil.o-s(Jr, ,cia virrganca, qu.ct se renharn i ':rgnidQ contra a injusr.ica o.u ahumilhacao, .nao acrediraruos quc.vco nt ucio, tenharnshln lcvarlos aex-pressar, coruo ltnici C extrema reivfndica

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    35/85

    Mas trreu colarhaho esrri lirnpo, rn.inha roupa rarrrbern, e assiin .~stou podetia crrrra.r ern qualquer co nfei tati~, ralvez nos gran desvares,rneter a rri a o c9nfiae;:lamente D U m p r a r o de doce.s e . c i r a r u m .aCharlalnnada dernals nisso, riern rue.rnandarram ernb ora, porsUIn

    afurrdamcnral arriblgutdade dogestodeRilke,ctividido en-consciencia de eel' abanclonado iqualqucr- recorihecfvel figura doe a tenraelvadeenconnear, a qualqucrpreco, trrna saida .dessafazendo.com que roda descida para 0abismo.se torne par-ade

    uma, premissada mfalfvel ascensio p~ta os hauj:s licw.; [Iugaresda poesia e darrobreza. Pelo coritrario, qque t . decisivo e 0

    de que, dianre dos"desgra

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    36/85

    do humano e a inutiHdade. do resp ei to de si perante agrada'taa. Ha tzrn fio sucil que ligaas "cascas de Irorn.errs",par Maite,aos "h.orneris-coricha' [11omini-gt(scio] de que falaa pequena vergonha do jovern pacta diantedos vagabundas dee como Be Fosse urn rrioclesto me nsageiro que anunciaainaudita vergorrha dos sob revlverrres diaritc dos subrn.ersos.

    o "rrnrcu lrriano" 710 0que rest" de AuschwitzIndo.o seu gesto - oride, dignidacle e respeiro de si riao sao de ne-

    1'1'1:1 urilidade, como tarnbem hao sao lima ajuda exrerior, Se existe,~ ' , m : J 'J I ,urna regiao do h.urnarioern que.tais corrceitos nao tern sentido,''i'I~t. $C trata de coriceicos ecicos genulno$, porque nerihurna erica podel~l ;1 preterisao de excluir do seuurnblro urna parte do humarro, por

    . 'J1'jMi~dcsagradavel, par rnals.diflcil que seja de ser coriterriplada,2.13. Irrrporra reflerir sabre essa paradoxa! situucfio erica do

    qulmano. Ele nao e tanto, COITIO acredita Bettelheilll, a cifra do pto sern volta, do umbra! para alern do gual se deixa de serem surrra, a cifra da rnorre rnoral, contra a qual se deve resisrirtoda tQt

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    37/85

    72 0 que resta de Auschwitz:gn:qua~to se fu .ndarnen tarn e.rn LlIT pressuposto taCltO (rresse

    caso, de que algwSm deve falar), todas as refuracoes deixarn rreces-sariarncn ce UIT resrd.uo , ria [orITa de uma excl'usfio. No caso de.Ariscoreles, 0resfduo exclufdo e 0 lrornern-pfanca, 0hOITern quenao fala, Rea.lrrreri ce basta que oaciversdrio silencie, radical e sim-f'lesmente, para que a refu tacao perca a sua urgerrcia. Nao querd.izer que 0rngresso na HnguagelTI cons titua para 0hOITlel11.algo.qlle de possa rcvogar ao scu bel-prazer. Mas a fato e que astrnp lesaq uisicao da faculdade de corn u.n icar rrao obriga de modo algum afalar, ou seja, a. pura preexisten cia da linguagern COTIO inscrurnen-to de .cornunicucao - 0fato de quI. :;para 0falante exista J a urnaHngua - nao inelui em SI obt"igac;:ao alguma de corrruri icar, Pdocoocrario , :s6se itHrigu agem nao far sem.prc com unicacno , s6 se elader tesrem un ho de algo de que .nao pade testemunhar, 0 falantepodera ec:perimentar algo semelhante aurna exigencia de Ialar.Ausch wirze a refu racao radical de rodo principia de comunica-

    sao obrtgaroria. E nao so porque, de acordo com 0rescernurihoconstante dos sobreviventes,a rerrtaciva deinduzir urn Kapo au LImrrierribro das SSa corrnrn icar provocava frequcnrernenre apenas ca-cetadas, ou porque, coriforrrre e Iern brnd o par Marsalelc, em certosLager tocla cornu nicacao era substitu ida pelo bastao de borrachaque, pOI'esse l110iVO, havia sido ironicamenterebatizado.como DerDoirnetsc/oer, "0lrrterprere". Nern porque 0"nao set inrerpelado"Fosse a corrdicao normal do campo, em que "a lingua se lhe esvai ernpoucos dias, e , coin a lfngua, 0perisarnenro"?". A objecao decisfva courra, E, rnais Ulna vez, 0muoul marro. Imaginemos por urn lTIO-rnerrro que, gracas a uma prodigiosa rnaqu ina do tempo, podemosm rroduzlr 0professor Apel no campO, levan do-o a ficar.frenre a tirnmuculrnario, pedi ndo-Ihe que procurasse restar rarnbern aqu.i a suaerica da cornurricacao, Acredito que, sob qualquer ponto de visra,seja preferIvel des1igar nossamaquina do renlpo'e nao prosseguir noexperirncnro, pois ha 0risco de que, apesar de coclas as boas . lnrerr-'Toes, 0muc;:ulmanofique rnais urna vez exclufdo xlo hurnano. 0rrurcu lmario e a refuracao radical de qualquer possivei refuracao, a

    P. Levi, Os afogi ldos e 'IlS sobrcuiuerues, cit., P: 54.

    o "rnuculrnano" 73(,ic,.;tTuio;:aoesses ultiITloS haluartes metafisicos que continuarn dep c pOT nao poderem ser provados direramerite, mas unicarrrerrte rie-gaocio asua negacao.

    2.15. Tendo chegadoa esse ponto, nap nos surpreende que taITI-bern oconceito de dignidade tenha origem jurfdica, que desta vez,no cntanro, nos rerrrere a esfera do d.irei to publico. Alias, ja a partirda idade repub'lica.na, 0cerrrio larin o dignitas ind ica a classe e a au-ro ridade que competem aos cargos pubficos e, por cxterisao, aospr6pdos cargos. Fala-se assirrr de umadignitas equestris, regia, impe-ratoria, Nessa perspecriva, ernu.iro . ilu .srrariva a leitura do l ivro XIIdo Codex Iustinianus, que rem por titulo De dignitat:ibus. Ele preo-('upa-se com que a ordem das diferenres "dignidades" (riao :s o dasrradi.cionais, dos seriadores e dos consulcs, mas rambern do prefeitodo pretorio, do prcposto do sagrado cubtculo, dos guardloes das ar-ea, publrcas, dos decanos, dos epidemeticos, das rnetates e dos au-IfOS gL'aus cia burocracia b.izancirra) seja respeirada nos rn Intrnosdctalhes e com que o acessoaos cargos (a porta dignitatis) seja pro i-bido para aqueles cuja vida nao correspo nda a classe alcanc;:ada(quando, par exerrrplo, Iorarn objem de uma nora de censura au deinfamia). Porern, a consrrucao de urria verdaderra reori a da d.igrricla-de deve-se aos jurisras e aoscanonistas rnedievais. Em livro que ja edassicO, Karrturowicz nlOstrou como a ciencia jurfd ica se vinculaexrreira rrrente com a ceologia a fiITl de errurrciar .urn dos p.ilares dateoria da soberania, 0do cararer perpetuo do poder politico. A dig-nidade .crnaricipa-se do seuportadar e corrverre-se ern pessoa ficti-cia, urna especie de corpo rnfstico que se poe junto do corpo real domagisrrado ou do Irrrperador, da rriesrria forma como em Cristo apessoa divina duplica seu carpa h urna.no, Tal ernancipacao cul mi na110 principia, rciterado Inurneras vezes pelos jurisras rrredievais , se-gundo 6 qualt'a dignfdade nunca rriorre" (dignitasnon rorirur; Lroi ne meurt jarnais),A separacao e, ao rnesrno tempo, a intimidade da dignidade e do

    Sell portador corporeo tern Ulna rna.nifesracdo visrosa 'rio duplo fu-ncral do irnperador romano (e, mais tarde, dos reis da Franca) . Nele,u rna imagem de eel"a do soberana .mor to , que represenrava a sua

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    38/85

    74 0 que rest" de Auschwitz"dignidade", eratratada corno uma pessoa real, receberido cuidadosmedicos e honras e sendo,por tim, queim:ada ern solene rito f(mebre(jUnus imaginarium).Paralelarnerite ados juristas, desenvolve-se a obra dos canoriistas

    Eles constroem trrna reoria corr:espondente as vadas"eclesiasticas, que culmina: nos tratados De dignitaesacerdoturn,peloscelebranres. Neste. caso, por trrn lado, a coridicao do sacerdote -enquanto seu corpo durante a rnissa setorna 0lugar da cncarnacsode Cristo - e elevada acima daquela dos anjos; pOT outro, i.nsiste-sna erica da dignidade, OUme1hor, na necessidade de que 0sacerdorernariren ha uma corrdura a altura de sua excelsa corrdicao (que se abs-tenha, porranro, da 'mala vita e.que, poxexem plo, nao toque no cor-po de Cristo depois de rer tocado as partes pudendas femininas). Eassirn como a dignidade publica sob revive a rnorre na forrrradc urnaimagem, tam bern a santidade sacerdotal sobrevive' po r rnelo da relf-..quia ("dlgAidade" e 0 nome que, sobrerudo na area francesa, indicaas reliquias do corpo santo). . .. .Quando 0 termo dignidade passa a ser 'usado nus tratados de

    moral, eles riada rnais izerarrt do que reproduzir fielmente - a iInde 0inrerlorizarem - 0modelo da reoria jurfdica, Da mesrna rna nci-ra .COInose pressupunha que 0comportarnento eo aspecto exteriordo magistrado ou do sacerdore (digtiitas desde 0inid~ indica ram-bern 0aspecto fisko adequado a uma cortdicao .eievada e e, segundoos rornanos, 0que no hornerncorresp'orrdea uenustas ferrtinina) de-veriarn estar em harmonia com a sua condic;:ao, assimrambtJ.n agoraessaespecie de forma oca da dignldade acaba sendo espiritualizadapela moral e usurpa 0 lugar e 0riorrie .da "dignidade" ausen te. E damesma forma que 0direiro havia emancipado a corrd icao dapersonafieta em relacao ao seu portador.rtarnbern a moral - por UITl processoinverse e especular - sepaxa 0 comportaluento decada individuo daposse de urn cargo. Digna e assirn Ulna pesso.a que, rriesrno privadade qualquer dignidade publica, em codas as circunsraricias se com-porta como se a tivesse. IS50 e cviderite nas classes que, depo is daqueda .do Ancien Rigime, perderam inclusive as ultrmas prerrogari-vas prrbl.icas que a rno narquia absolura Illes havia deixado. E,maistarde, nas classes hurn.ildes, exclufdas par ciefinicao de qualquer dig-

    o"muyLilmano" 0 75Ii\ldtH!c:polfrica e as quais educadores de todos os tipos come

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    39/85

    76 0 que rest-adeAuschwitzTambern pot iS50;Auschwitz rnarca fim ea rufrra de qualquer erica

    da dignldado e da adequacao a urna norma. A vida nua, a que 0hornemEolreduzido, naoexige rrem seadapra a nada: ela propria e a unica norma,. absoluramente irnaneritc. E "0sentirnenro ultirno de perrencirnenro aespecre" nao pode ser, em nenhurn caso, Ulna dignidade.obern - adrnicindo-se que no caso fa

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    40/85

    78 0 que resta de .Ausch'wirzaco nrecjclo, da. sua Lncapacidade de reccmcil ia.r-se co.ITl0tempo ecom 0 seu "assim for").o que, contudo, acorrteceu e riao cieveria tee acontedd6 e especifi-cado logo a seguir,algo tao ulrrajarrte que Arendt, depots de 0 tel' no-meado, tern Como se Fosseurn gesto de relutancia ou de ve(gonha ("Naoe riecessario queentl'e. em deralhes"): '~ fabticas:ao de cadaveres e tudornais". A ciefirricao do exterrnfnio COITIOurria cspccie de proclucao em.cadeia (am 14uftnden Band') tinha sido usada pela primeira vez pOIurnrneclico das 55, F. Entress'", e a partir de entao foi repetida.e variada rnui-tissirnas vezes, riern sern pre de rnarreira opo((una.Em todo caso, a expressao "fabr'ica

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    41/85

    s o oque resra d:" AllSCi1WitZpressao de Inciecencia que, no final, 0srrnho do carnpories de .mararosenb.or agQIiizaj1te "corn.o forcado do esrerco" parecerraduzir urnclesejo rernoco do poe til-2.20_ Martin Heidegger, rnesrre de Hannah Arendt em Friburgo

    pela metade dos.arros 1920, 'jahavia recorrido em 1949a expressao "fa-bricacao de ca&iveres"paradefiriir 6$ campos de exrerrrrfnio. E curiosa-mente a "tabrica

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    42/85

    82' 0 ql!< resru de,Allschwirz

    crcsce.o que .salva", i: precisamente na sitna9ao extrema do campo quedeveriamt.oru"t-s,e possfveis .a apropriacao e oresgate.Atazao pela qual Auschwitz esteja exclujdo da experiencls, da

    mor!:edeve ser, porranro, ourra, ;;;apaz.de por em questao a pr6prla,pbS-sibilidade da decisao aurerrtica e de, assim, ameas;ar a propria base daer1G.'1_hddeggeriaIta,.Ocampo e,de iro, 0lugar em que desapare.ceta~dicalrnenrc toda distinyabenrre proprio e impr6ptio, entre, possive! eimpossfvel. Isso se clevc ao fato qe que, nocaso, Ci prjndpios~gundo 0qual 0 urrico corrrerido do proprio e o.improprio severifica exaramcnrepelo sen irrverso, que afirma que 0ul'1ico corrtcucio do impr6pl'io e 0proprio. Eassim como, no ser~pata:-a-niorte, 0homem se apropria au-tenticatnentedo inautentlco, assirn rarnbern, no campa, os deporradosexistem cotidiqna eanoniFnamentepara amotte. A;:tproprias:aodo irnpr6~priQja nito e possfvel, porque a Improprto apossou-se Inregralrnenre doprop~o, cos-hornens vivem em cada Instanre, fatieunente, para

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    43/85

    .84 0 que resta de Auschwitz

    decer a urna ordern, E eles obedeceram, kadavergehorsam, COU1.o urncadaver, con forme dizia Eichmann. Cerramenre tarribcm. os carrascostiveram qtre.sup orrar 0que nao deveriarn (evas vezes, nao quereriam)tel' suporrado, mas, segundo a profunda observacao de Karl Valentin,em todo caso "nolo se atrcverarrr a pode-Io". Por 1SS0 conrinuaramsendo "hornens", nao fizeram experiericia do inumano. Talvez nuneatenha sido express a com cla.reza tao cega essa radical incapacidade de"pocler" do que no discurso de Hinunler em 4 de outubto de 1943:A maio ria de voces deve sabcro que significarn 100 cadaveres, ou 500ou 1000_ 0 faro de terrnos supo rrado a sicuacao e, ao mesmo rempo,apcsar de alguma excecao dcvida a fraqueza humana, terrrros continua-do serido hornens honestos, nos endureceu. I~uma paginadeglOria danossa hisrol'ia que nurica foi escrlta e nurrca.o sera.52

    o Nao e, pois, pOl' uma casualidade que as SS se mostrararn, quasesem excecao, lricapazes de resreruunhar. Enquanto as vfrirnas tesrern u-nhavam a respeiro do fato de se terern tornado inurnanos, pot terernsuporrado rudo aquilo que podiam suporrar, os carrascos, errquanrotorcuravarn e rnaravarn , contirruaram sendo "hom ens honestos", naosuporrararn aquilo que, apesar de. tudo, pocliarn suponar.E se a figura extrema da extrema porencia de sofrer e 0rnucul-

    mana; eritao sc cnrerrdc porque as SS haa renharn podldo ver 0rnu-culmarro , e,rnenos.ainda dar tesremurtho pOLde:Eram tao frageis; perrni tlarn que .selhes.fizesse qualquer coisa. Era gen-te tom quem nao exisria nenbllITl terrene cornurri, nenhuma possi-bilidade de cornuriicacao ~ e disso que .nasce 0 desprezo, nao podiacornpreerrder como pudessem cnrregar-se de tal forma. Hd.muiro pou-co, IiurnIivro sobre os coclhos das rievcs que a cada cinco ou seis anossejogam no rnar para rnorrer: isso rrie fez pensar em Treblinka.53.2.22. A ideia de que 0cadaver rncrcce urn respeito especial, ql;le ne-

    leexiste algo parecido com uma.dignidade da morre, nolo e , na verdade,parrlrnonio original da etica, Encontra, sirn..suas rafzes 11.0 estraro mais

    : 5 2 . R_ Htlberg, La distrueione deg!i ebre! di Europa, cir., p. 109l." G. Sereny, In quetle teneor, cit.. P: 313.

    o "muculrnano" 85nrcaico do 'dlrciro, que se confunde ern cada ponto corn a magia. Aslroriras e as cuidados presrados aocorpo do defunto tin ham, de fato, nasua origem 0objetivo de impedir que a alma do morto (au, antes, a suai.lnagern ou fantasma) permanecesse. no mundo dos vivos cornoiurnapresencaarneacadora (a larva doslarinos e 0eidolon ou 0phasma dosgreg6s). Os rit~s fUnebres serviam ptecisamente para transformar essexeriricorrioclo e incerto ern urn antepassado amigo e poderoso, corn 0qua! se manrinham relacoes cult uals bern defirudas,0 IIIundo arcalcoconhecia; porern, praticas que, pelo conrrario,

    procuravarn tornarduradourarnente irrrpossivel essa corrcil iacao. A s ve-zcs tratava-se apenas de neurralizar a presenc;:ahostil do fantasma, comoaconrecla .no horrendo ritual do mascalismos, no qual as exttemidadesdo cadaver de urna pessoa que foi marta (rnaos, riariz, orelhas erc.Jcrarncorradas e enfiadas em um barb ante que depois se fazia passar por de-baixo das axilas, de modo que 0rnorro riao pudesse vingru'-se da ofensa.~cifrida.Mas tambern a falta de sepultura (queesra na origem db corifli-to tr

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    44/85

    86 0 que resra de Auschwitzdar intoledvel que exala do cadaver do skareks Z6sima. Tendo emconra que entre os me-nges que seamontoan) frente a cela do santostarets, 0campo divide~se imediatamenteentte aqudes _ a rriaiorla _ quediante da evidenre l1ta de dignidade do rnorro -0qual, ao irrves de es-palhar urn odor de santidade, corrieca logo a decolupo"!'-se indecerrte-mente - questlonam a santidade da sua vida; e ospoucos que sabem queo dcstino do cadaver nao autoriz.a rira.rconsegtiencia alguma do call1pOda et.ica. 0 fedor da purrefacao que invade as cabecas dos manges In-credulos lembra, de algllUl modo, a odor nauseabundo que as charni-l1S dos fornos crernat6fios -as "carninhos do ccu" - irradlam peloscampos. Tarnbern nesse case, para alguns, a fetidez eo sinal do ulrrajeSupremo que Auschwitz desferiuconcra a dignidade dos mortals.2.23. A arnbigiridade da tei'lc;:ao q!Je a riossa cul tura tern com a

    rnorre alcarica seu patoxismo depo is de Auschwitz. 1550 fica eviden-teespecialmente em Adorno, que procurou fazer de Auschwitz umaespecie de Iiriha divisor'ia Iriscorrca, afirmandonao so que "depots deAuschwitz riao se pode escrever Ulna poesia", mas talnbeln que "to-da acultura depois de Auschwitz, inclusive a crfrica da rnesrna, eI' "55 PI', d 1' ..!XO . or urn rae 0 e e parece cornparcilhar das considera

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    45/85

    8-8 0 que resra de .Au.schwitz

    2.24. A respeito da dcgradacao da morre no nosso tempo, Mi-chel Foucault proPQ~ Lima explicacao em termos politicos, vinculan-do-a a transforrnacao do poder na idade moderna. Na sua figuratrad icional - 0 da soberania territorial - 0poder e definido essen-'cialrnente corno .direiro de vidae de rnorre. TaJ direito e, porem, parsua natureza, .ussirnerr-ico, enquanto ele se exerce, sobreruclo, do la-do da rnor te, e tern aver 56 in.direrarnentecorn a vida, COlTIOabsten-

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    46/85

    90 0ue .resrade AuschwitzTcn remos desenvolver urn po.uco rnais a analise de Foucault.

    cesura fundamental qqe divide 0ambito biopolfrico e aquda entre,vo epopulafiio, que consi.sre em fazer emergir do proprto seiopovo uma populucao, ou melhor, em, rransforrnar urn corpocialmente polfr ico em urn corpo esserrcial merrre bio!ogiCo,nose trata de corirrolar e regular natalidade e rrrorralidade, saucledoerica. Com 0nascirnerrro do biopocler, cada povo se duplicap.opulacao, cada povo democrdticae, ao mesmo tempo, umdemografico. No Reich nazista, a legislacao de 1933 sobre a "prore-~ao cias:,uide hereditaria do povo alernao marca precisarnenre essa"cesu ra originaria.A ccsuraimediaramente sucessiva e que disrtagui-1 ' : 1 , no conjunro da cidadania, os cidadaos de "ascendencia adana"dos de "ascenclericia nao-ariana"; uma cesura posterior separarri en-tre estes ulrirnos, os jucieus (vol/juden)em relacao aos Mis(:hlingepessoasque tern apenas u rn avo judeu ou que tern dois av6sjudeus,mas q~le nao sao de fe j uda ica riern tern conjuges judeus na data de1'5 de serembro de 1935). As cesuras biopoifticas sao, pois, essen-cialrncn re.m6veis e isolarn, de cada vez, no continuum da vida, urna-zoria ulterior, que corresporide a um processo de Entwii.rdigung[avilrameriro] eclc degrada

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    47/85

    3A VERG-ONHA, OU DO SUJEITO

    3.1. No mlcio de A tregua, Levi descreve 0encoritro com a primeiravanguarda russa que, par volta domeio-dia de 27 de janeiro de 1945,.;hega ao campo de Auschwi tz,abru ,donado pelos alerrraes, 0 errcoritroque sancioria a definitiva Iiberracao do pesadelo nao ocorre, porern, sob()signo da alegria, mas, curiosarnente, sob 0da vergonha:Erarn quarro jovens soldadas a caval a, que agiam cau relosos, com asmettalhadoras ernbracadas, ao lange da estrada que dernarcava os li-mites do campo. Quando chegararrt ao arame farpado, deuveram-se,trocarido palavras breves e tfrn idas, e lancarido olhares uespassados porurn estrariho ernbaraco, para observar os cadaveres decompostos, osbarracoes arruinados, e .os poucos vivos.[ . .. JNaoacenavarn, riao sorriam: pareciam sufocados, .nao sorncnee pOT pie-dade, rnas par uma confusa rcserva, que selava assuas bocas e subjugavaas:seus 011.0.5 ante 0 ceriarlo funesto. Era a rncsrna. vergonha corihecidapor' nos, a que nos esmagava apos as selecoes, e rodas as vezes quedevia-rnos assistir a Urn ulrra]e ou suporra-la: a vergonha que os alernaes naocorihcccram, .aquela que 0usta cxpcrtrnenra ante a culpa corner ida porourrcm, ese aflige que persisra, que tenha sido introduzida irrevogavel-mente rio mundo das coisas que exiscern, e que sua boa vonrade tenhasido nula au escassa, e nao lhe reriha servido de defesa. 1MaJ:s de vinte anos depots, criquarrto escreve Os afogados e as sa-

    breiJivcntes, Levi volta a pergunrar-sc sobre essa vergorrha, que sePo Levi,A tl'igtltJ, cic., P: I1 -2..

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    48/85

    94 ;; 0 quercstade Auscbwitzapresenta agora como osenrirnento dorninanre entre os sobr'eviven- :res, e procura dar-Ihes explicacoes. Nao causa espanto, por isso, queassirn comoaconrece ern qualqucr renrativa de dar explicacoes, 0 ca-pitulo do llvro que se intitula "A vergoriha" acaba no final sendo in- .satisfatorio. Sobrerudo pOl'que e a irned iara cont inuacao daquelededicado a extrao rdi nsi.ria analise da "zona cinzen ra", que se arerrrcon scien rernerice ao inexplicavel, rejeitando rerncrariarncnre qual-ql.ler explicacao. Se diante dos Kapos, dos colaboradores e dos "pree-rnirienres" de rodo ripo, dosinfelizes membros do Sonderhommando .e ate pcranre Chaim Ru rnlcowslci,0rexjudaeorum do ghetto de Lodz,o sobrevivcnre havia coriclu ldo com urn non-liquet ("peo;:oque a his-toria dos 'corvos do forno crernarorto' .seja meditada com piedade erigor, mas que a julgamen to sobre desfique susperiso'P), no capitulosobre a vergonha ele patece vincula-Ioapressadamcnre a um senti-rneriro de culpa ("que rnu itos - e eu rnesrno - reriharnos provadoverlSonha, ou se]a, senrirnerrro de culpa [...r'o). Logo depois, ria ten-tat iva de idenrificar as raizes da culpa, 0 rnesrno auror que, poucoantes, havia se arrrscado sem rernor em urn terrerio absolutamenreinexplo rado da etica, subrnete-se a urn exame de consciencia tao pue-fila ponto de deixar 0leitor incomodado. As culpas que daf erner-gem (ter encolhido, corn irnpacierrcia, as ornbros alguma vez frenteaos pedidos de outros companheiras mais jovens, ou 0episodic doflo de agua cornpartllhado com Aiberto, mas negado a Daniel) sao,naruralrnente, verilais; coriruclo, 0mal-estar do leiror nao pode, nocaso, deixar de refictir 0ernbaraco dosobrevivenre, a impossibilidade 'de ele superar a vergonha.3.2. 0 seritirnenro de culpa do sobrevivenre e urn locus classicus

    da lireracura sobre as call1pos. 0 seu carater paradoxal foi expressopot Berrelheirncorn as seguinres palavras:

    [ . . . J 0problema real; de que 0sobrevivenre com urn ser pensanre saberrruiro bern que nao e cu lpado, como eu , por exernplo, sei sobre mimIdem, Osajbgado, e (}S sobnvivel1tes, cir., P: 32.Ibidem, p. 41.

    A vergonha, Oll dosujeito 95

    rriesrno. mas isronao altera 0fato de que a hurn arriclade dessa pessoa,corno urn ser que serire, exige que de se sinta culpado. e ele se serrte.Esre e oaspecro rnais sigri.ificat[;tb dasobreviv~ocia.Nao se pode sobreviver ao campo de concenrra

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    49/85

    96 '0 que resra de Auschwitz

    indistintos devido it nevoa,tingidos de morte nos son os inquietos;de noire barern os queixossob a grave cierrrora dos sonh os,mastigando ltm,n,:;tboque nao h a : ."Para rrris, fora daqui, genre submersafVao ernbora! Nao suplantei a ninguem,nao rirei, 0pao de ninguern,ninguem morceu ern meulugac Ninguem,Voltern it nevoa de voces.Nao e m.inh a culpa se cu vivo e respiro,e como e bebo e du rrn o e re ri h o vesridos."?

    Aqui nao se trara simplesmente de uma recusa de respo nsabi-lidade, coriforrne e testemunhado pela ciracao de Dante no ulci-m'b verso. Ela provem do canto 33 do Inferno (v. 141), quedescreve 0 enCOI)HO corn Ugolino no vale dos traiclores. A ciracaotraz LUna dupla, implkita, rcfercncia ao problema da culpa dosdeportados, Por urn lado, no "poco escuro" ellcontraln-se os querrafrarn, especialmente, aos seus proprios parcnres e companhei-1;05; por ourro , corn urria alnargaalusao a propria siruacfio de 50-brevivente, '0 verso cicado refere-se a alguern que Dante acrediraesrar vivo, embora s6 0esteja aparentemente, pais Sua alma ja foiehgolida pela mane.Dois anos depots, ao escrever as t J: fO g ad a s e o s sobreuiuentes, Levi

    volta a p6~~-sea pergunta: "Porverrruj-s, te envergonhas pOl' estaresvivo no lugarde urn ou rro? Ainda rnajs, no Iugar de urn. homemmais generoso, rnais sensivei,rnais sabio, mais uril , mais digno deviver do que ru?" Tambem desta vez, porern, a resposta e drib la:

    E impossfvel evitar isso:voce se exarnina, repassatodas assuas recordacoesesperando enconrra-las codas, e que nenhurna delas se tenha rnascaradoou travestido, nao, voce nao ve rransgressoes eviclenres, nao defraudouninguern, riao espancou (mas reria forca para tanror), nao aceitou encar-gas (mas n.aothe oferecerarn ...), nao roubou 0pao de ninguern, no en-

    P Levi, HAd ora iriccrra" em Opere (Torino, Eiaaudl, 1988), v, 2:, p. 581.

    A vergoriha, ou do sujei to .. 97tanto, e impossivel evirar,E s6 tuna sirposicao au, antes a sombra de limasuspeita: a de que cada qual seja o.Cairn do seu irrnao e cada ur n de nos(mas desta vezdigo "hOS" num senrido muiro amplo, ou rnelhor, univer-sal) renha defraudado seu. proximo, vivendo em lugar dele."A propria generalizao;:ao da acusacao (ou melhor, da suspeita) apara

    de algurn modo a ponta, rorriando rnenos dolorosa a ferida. "Nin-guern rnorreu em meu lugar. Ninguem." "Nunca se esta no lugar deurn ourro.?"

    3.3. A ourra face da vergonha de quem sobreviveu e a exaltacaoda simples sobrevivencia como tal. Em 1976, Terrence Des Pres, dowcenre na Colgate University, publicou The survivor, an anatomy oflifo in the death camps. 0 livre, que obreve um sucesso irned.iato euotavel, propu.nha-se a mostrar que "a sobreviverrcia e uma experien-cia dotada de uma esrrutura definida, nern forcuica, nem regressivanern amoral" e, aO mesmo tempo, "torn a, visfvel tal csrrurura?". 0resulrado da verdadeira dissecacao anatornica da vida transcorridapelo auror nos campos consiste em que viver e, em ultima iristancia,sobreviver, e ern que, na situacao extrema de Auschwitz, essenucleornais intima da "vida em si mesma" vern a luz como tal, libertadadas travas e das deforrnacoes da cultura. Embora tambern Des Preslernbre, a certaaltura, 0espeetro do rnucu lma no , como figure dairnposstbilidade de sobreviver ("insdncia emptrlca da morre nilvida"!"), ele reclarna de Bettelheim por rer menosprezado, no seu tes-tcmuriho , a an6nima e cotidiana Iuta dos deportados pela sobreviven-cia, em nome de uma antiquada etica do her6i, de quem esta prontopara reriu nciara vida. Para Des Pres, 0verdadeiro paradigma erico donosso tempo e , pelo contrario, 0sobrevivenre que, sern buscar justifi-cacoes ideais, "escolhe a vida" e simplesmenre luta para sobreviver:

    ill

    P. Levi, Os afogados e as sobreuiuentes, cit. p. 46.Ibidem, p. 32.T des Pres, Tb survivor: an anathomy of l ift in the death camps (New York,1977), p. V.Tbidem, p. 99.

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    50/85

    98 0 'lue resta de Auschwitzo s o b r e v i v e n Lee 0 p r'i .m e i ro h01U

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    51/85

    100 0gue resca de AuschwitzEcomo se as duas figuras opostas do sobreviverin- - qllem nolo

    consegue deixar de se senrir culpado pela proprj~~sobrevivcricia, eqUC1TI,na sobrevivencia, exibe um a prerensao de inoccncia _ reve-lassern, corn seu gesto sirnerrico, uma secreta solidariedade. Elascoriscl ruem, para 0.ser vivo, as duas faces da irnp ossib ilrdade demanter separadas a inocencia e a cldpa, ou melhor, de superar, de al-gU)Yl,a man:eil'a, ;1 propria vergorrha.

    3 ,5, Nao e , de fam., segura que 0se.n rirrienro de cLdpapor viver e rnfugal' de ourrem seja ,1 explicacao correra para a vergonha do sobrevi-Vente. A rese de Bettdheim ~ segundo 'a qual qLJernsobrevivcu 'f; ino-Cente,e, conrudo, porisso rnesrnori obrigado a seocir-se culpado ~ j'le suspcita. 0 fato de assurrrir urna cujpa desse ripo ~ que diz respei to.1corid icao do sob rcviven re COIHa ral e nao ao que de, corno indivf-~uo, fez ou deixou de fazer - lembra-nos a difundida rerrdericia deassurn ir urna generica culpa coletiva roda vez que se e rnal-sucedidoria 50111.

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    52/85

    ]02 .....) qu.c r cs r a de Ausch,vit7.

    esrar conscienre disso. () direiro cia n055

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    53/85

    L04 i) () que resra de -Atlschwltzvoz atona. '~i!>, lninha. 1 d' . dcu pa - isse - e ,L e esrar aincla aqui . .Essa e arn iih a culpa,,"">Tra[~ndo~se de urn hornem que havia dirigido'a rrrorre de rnihares

    .dc .scres ':llu.nanos nas camaras de g'is a Iernbranc, alusi; , . C " , ' " ".,Iva.a Uncon-flito tr:aglco de urn tipo novo, tao inexrricavel e eriigrnatico a ponro de'que s~ arnorre pbderia re~lo resolvi do scrn injuscica, nab $i~nifica _c~n:o~me parec:: susrerirar Sercnv, ocupada exclusivamenn- corn sua~.1

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    54/85

    pOl' conseguinte, ncrn rncsrno COD)a cicattizacaob iologica 'provocada peloTdnpo. 0 que passou, passoll; tal expressao e ., an rnesrno tempo, verdadei-ra e 'contraria ;\ 1Tlo1'a1e ao espfrito . .. 0 horncrn moral exigea suspensaodo rcm.po; no nosso caso, cncravando Q rnalfeiror no sell rnalfeiro. Dessarnaneira, curnprida a inversao moral eferuada peio tempo, de pociera sercornparado COJTla vitirna enquanto.seu semelhante.x,Niio hJ. nada dissoem Primo Levi. l~verdade que de recusa a defi.-

    nicao de "perdoador" que lhe foi atribuida privadarncnre pOl' Amery,"Nao terrl io tendericia a perdoar, jarnais pcrcloei a rierihurn de DOSSOSinithigos de ent3.o."7.7Co mudo, a irnpossibiiidade de '-luerer 0 ererrio re-torn o de Auschwitz tern, para de, QlHra e bern diversa raiz, que irnplicaurria nov", inaudita corisisrcncia ol1t0kSgica do acoricec.do, Mit) se pade'Juner qU,eAtlsdnuitz rerorne eternarnenrr, porque, 1' ! IJl'rt:(t1de,rusnca.dei-

    "XOII de aconrccer, jei se cstcirepetindo Jcn- lpre.Ess; l feroz e irnplacdvelexpe-riencia, para Levi, 51:: apresenCOll na fonna de UI11 sonho.f: U111 soriho dcnrro de ourro soriho, dil'{,rClltC nos deralhes, unico na subs-l an ci a. _E -: .: ;tOU111eSa:c orn a &nl_i li a, ou co rn a rn ig os, o u no trabalho, ou naverdecarrlpincr; ern arnbienre aprazfvel e distcnclido, aparentenlCl1tc priva-do de tensao e de dor: rnesrno assiru, sinto tuna -angtt"r-hl sub! e profunda, asensacrio definida de luna amcaca qu.e pesa sobre mim. Realrncnte, a rnccii-tb qLle 00011.hoflui, pO\Jeo '1POllCO oubrutalrncnrc, tod'l vezde knn,\ dife ..ren te , (LIdo dcsaba e se desfa:t aomeu redor , 0cenririo, as parcdes, 'as P,"S.SO"s,eaangllStia se cornarnais inrensa e rnais precisa, Tudo agora rransforrnou-seerncaos: esrou so, no centro de u rn nuda C.tlYl,ClHO e tU1"VOj e, de rcpcnrc, eusei ( ) qllC isso sigl1ific, ci t., p, 83.P Levi, 'J.-'\dora incer ra", cir.. p. 254 SS.

    i\. vergonha., au do-suieiro 0 1'07

    Na variante reglscrada nurna poesia de "Ad ora incerta." [Em ho-r. incertal, a experlencia jii nao rem a fQrn1,a de urri sonho, e sim ade ; lima cerreza profcrica:

    Sorrhavarnos nas noires fer ozesson.ho$ densos e viol cnrossonhados corn alrna e corpo:voLtar, comer, con tar 0 qlle aconreccu.Ate q\.ll~'SOava breve e abafadaa voz de cOlnando do .irnarrhccer:",\'l/ sravvac":e no peiro sc rornpia Qcorao;:ao.J\gQra f"eencqtltrarno~ a casa,o nqsso estol11.;;l.go e~Ut sacLado.~acabarnos de coritar 0que aconreceu.Chcgou a hora, Logo oLlviremos ai.riclaJ_ YOL de cornando estrangeira:,U \X'sr .awac,H.29O' rob lema etico rnudou radicalmen re de forma nesse 0.'lSO; ja naoP , ' .. .' . '. "1 rsado lxuase tram de derrotar 0 esprrrto de V1Jlgan

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    55/85

    108 0que resra de Auschwitzchenwa1d ate Dachau, as SS, acossadas pelas nopas aliadas, fuzilnvamern pequenos grupos rodos os que, pelas suas coridlcoes, pocliarn atra-sa!"a marcha. As vexes, na pressa, a dizimar;:ao acoritecia ao acaso , sernnerihum criteria aparenre. lJm. d.ia, toea a urn jovern iral iario.A 55 continua chamando: Dil Ieornrne hier [Tit, uern cd}! E ou rro ial.ia-no que sai . Urn csrucla nte de 13.olpnh,1. Coriheco-o , olho pari de e vejoque seu rosro ficou verrnelho. Olhei-o arenra me.nrevaqucte surprceri -denrc rt.ibor 0 rerci sC.mpre r1.0$olhos. Tern 0 ar corifuso , e nao sabe Qque faze I' corn SU"$ maos ... Ficou vermelho logo d epo is que a 55 lhedissc: Di komrl'le hiel'! O!hou ern "alta de si antes de avesrne lhar, masera preclsame nrcc!e quc qucriam c cnrfio neou verm clho quando naoreve mais d uv.das. ASS proc urava urn hornern, urn qualguer, par,,- rna-tal ', havia "esco lh iclo" a elc, Nao se r)ergi.u1.tou por quc elite e 11.50 ourro.E riern 0 ira.liano .se perguntou "por que eu, e 1\:'\0out ro" [...]-'''E dificil esquecer 0 rubor do uno rii rno esruclarrcc de Bolonha,

    morro durarire as rnarch as, soz inho, no ulcirno inst.anrc, asolargt;nsdaestrada, co.m 0scu assassino. Ccnarnenrc, a iu ctrnldade que sescnre dian te do propr-io descon hecido assassin.oe a irtr'imidacle I1.1aiSextrema, que pocle, corno tal, provocar vergon ha. Con rucio, qual-querque seja a causa do rubor, certarnen te de riao se envergonhapar ter sob.revivi do. E sirn, de acordo corn codaaparcriclavcle sc en-vergoriha pOl' dever 1TI0rn;(", por tel ' sicio escolhido ao acaso , ele e naoout ro, para set morto. Esse e Q urrico senrido que pode rer, nos cam-pos, a expressao "rnorr er no luga.r de urn ourro": que rodos rnorrcrne vivern no Jugal' de urn ourro, sen, razao nern serrtido; ' ltle 0 =.mpo eo jugar em. que realrnerrtc nin:guem consegue rnorrer au .sobreviverno seu proprio krgar. Auschwitz significou tam.bern isso: que 0ho-rn.crn , ao morrer, nao pode errcon crar para sua rno.rre. curro senridoserrao aguele rubor, seriao aquela vergorrha.

    Bin 1;odo caso , a esuud an ce nao sc envergon.ha pOf rer sobrevivi-do. Peiocontrario. 0que the .sob revrve e a vergorrha, Tamberr; nessecaso Kafka fOl born profeta. No final de 0 processo, no momenta emqlle Josef K. est;' para morrer "como um carl", e '2faea do carrasco se

    R. Ant eln-,e, _ . . . - . t l specie umana, cir., p. 226.

    A vexgonha, ou do sujeiro 109

    afunda duas vezcs no coracao, produz-se n.ele alga pareddo COIn,urna vergonha: "era COrn0 sea vergonha the devesse sob reviver" . Deque se envergorrha Josef K.? Pot que 0estudante de Bolonha ficaverrnel.ho? E como se o ru.bor nas bochechas sirial izasse que, pal' ummomen co, se rocou 0lim ire , que se tocou, no ser vivo, aIgo comoUlna nova rnat.eria erica. Nao se trata segurarrienre de urn faro queele podcrra restemunhar de forma difcre nre, que de pu.dcsse rerrtarexpressar com palavras. De roda fortna, porern , 0rubor c como sefosse uma aposttofe muda que voa pelos anos enos alcarica , teste-munh arrcio par ele.3,9. Em 1935, Em mariuel Levinas tracou trrn esb oco exernp1ar a

    respeito da vergonha. Segllndo a filosofo , a vergonha nao deriva ,como acoritcce na doutr ina dos moralisras. cia consciencia de umaImperfetcso ou de luna carertciado nosso set;frenre Ii. qu{d tornai n.o'sdistaricia, Pelo conrrar io, ela fllndaITl.enta-se na lrnpossibifidade doriosso ser de dessolidtlriz,ty-se de si rnesrn o, na suaabsolura incapaci-dade de romper consigo proprio. Se, ria nu.dez, sentimos vergonha eporque rrao podernos esconcler a que gostadanlOs de subrrair aoolhar, pOl'que a impulso irrefreavel de fugir de sl mesmo enco ntrasell paralclo em urna impossibilidadth igualmente certa, de eva d.ir-se. Assirn como na necessidade corporal c 11.anai.rsca - que Levi nasassoc.ia a vergonha em. urn rnesmo diagn6stico - f~~ZelTI'OSa expericn-cia da nossa revolrance e, no errtarrto., nao su priru ivel presen

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    56/85

    1 J o 0 que resta de Auschwitz-da prcscnca brutal . :do seu ser: e como se fOSSf~UJ11 gravador qu.e penni-rc p6r a nuas mallifcsta

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    57/85

    'I 12 0 ql)C res.", de Auschwitzcomo rrtstemu nha do que se olha, Assirn como He itor dian re do seiodesrrudado cia rnae ("J~leit(jr, nlhq meu, serite (lii/os dianre disso!"),quern. senre vergcriha acaba 0Prlrnido pe;o pro prio faro de set sujei-(C) cia 'visao, devendo responcler par aqullo que Ihe lira a palavra.Podernos assi.m anrecipar u.m.aprimeira e provisoria definrcdo cia

    vergoriha. Eb e nada me nos que 0 sent irnenro fundamental do sersujci ro, 110S dois seririclos ~ pelo rncrios na aparencia ~ oposros do rer-)1,0, ser sujeirado e ser soberario. Ela e 0 que se prociuz nit absoluraconc()tTlitancia entre urna subjerivacao e Una dessubjetivac;iio entrelID1 perder-se e urn possui.r-se.vcnrre urn:, ..servidao e urna soberania,3..1LHA urn ambito particular em que 0cara ter paradoxal cia

    vergonba e assum i.d o coriscien rerrre.nre corno obieto, a finlde sertrarrsforrnado em prazer, ou. rneilror, ern que a ve;'gonha, par assirn21izet, e Ievad a para alern de si rriesrna. Refire-me 8.0 sad'orn aso'qu is-nio. Ne.sse caso, urn sujeiro passl',fo ~ 0maso quista - apaixo na-se deral marieira pela propr la passividade, cJuea sllpera .inJinir

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    58/85

    sern. rracarrrros nilimaginaassivo {a teste-.I)Hll)ha}, dem~lnci['a tal, pOI:cm, L,lue esta cisao n.urica Bab de si rues-ITEr,que Dullea separe (otql,lucnt;;os dois p610$] rendo scrrrpre, peloconrnl.rto, a form'\ de llJTl

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    59/85

    116.. 0 que resra de Ausc-hw i(z

    Para exphcar a setl[ido dessas forrnas verbals, Spinoza 11;1.0 consi-dera suficiente a simples - emborS!, rio caso espccinco, naa triviaL-formareHex:h'a "visitaJ:-se"; de se sen eeobrigado a forrnar 0singuiarsinraglna "constiniir-se visiranre" ou "nlostrar-sevlsltante" (pelaIne.~q3disser que nao escreverei mars. '. d. d hjeti-.. 4)Aexperiencir.lpoiticaea expcriencia i/ergonhosa e urna essu olvef;(I(aO de urna desresponsabl.lizacac integral e sern reser~as, que ~n~:;;istodo am de palavra e situa 0pretenso poera em urri p ano am al' ~0do quarto das criancas,UXQ qu~ . , .",' h fe a-le (1t ira wl'C('ched.thing to c.ot;ji:Js.);rnasa p1ll'areacc yergon oso COil e53 . . .. ' . de sex tomadalldade e que nao .h

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    60/85

    118 '0 'lLlC res ra de AuschwirzHJ Urn ' , s -tro ClI)a pOSI

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    61/85

    J 20 0 lJHC rests de Auschwitzfe(:hado. Do signo il Frase nao ha trarrsicao, riern por sinraginacao,nern por qualquer otirra forma. Urn hiaro os scpara."?"

    PO' ourro [ado, toda lingua disp6e de urna ser-ie de signos (queos Iinguisras charnarn shifters on irrdicad ores da e.riurtciacao , entre osquais, e-rn especial, OS pronomes "eu, ru; isso", os adverbtos "aqui,agora etc.") capazes de perrn irir que 0individuo se aproprie dil lin-gU'a pill':l po-Iaorn furicio narncn ro. Caracterfst ica cornumxie rodosesses s.ignos e que des nfio possuern, corrio as ourras palavrns, signi-ficado lexical definivel em termosreais, mas que 56 podem identifi-Gar seu senr iclo remet endri-r is a insraricia de discurso que os con tern.Pcrgurira BeJlveni.Ste:

    Q u a l c , p o r m n t o , a "real i d a c l e " il q u a] s e t : < ,: f e r e eu. ou tu? . U n i c a merr-etun" "realidade de drscurso", qLtC e coisa rnuito srngular. Ei so pocle de-fin ir-se C!Tl tCl'n105 de "Iocucao", i,;io ern rerrnos de objero s, coni" urnsigna rro rn irral., Bt! signiticn "a pessoa que enu ncia a pn:sente insraric iade dscurso que con cern eu" ..19Acnun

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    62/85

    1220qLlcnostadeAuscbwitz

    LUl. pura "terrene de exper-irnenracao" do Eu - e das suas possiveisirnpiicacoes ericas, seja a carra de Pessoa sob re os hetero nirnos, Aoresponder, em 13 de jarreiro de 1935, ao amigo Adolfo Casals Ivfon-teiro , que [he pede a origem de seus cantos herero nl rnos, de corrrecaapresencando-oscomo "urna teridencia organica e consranre para ad esperso rut! izac 50" ;A origem dos rncus hcreronirnos e o fundo rraco de histcrin que existe ernr ri irn. Nao s

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    63/85

    124 0 que resra de AuschwitZ-rn

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    64/85

    _ ..

    J.2G 0 que resra de Anschwitz

    consciencia nao tent ou tra consisrencia seriao a de ling~lagen1, rudoql)C a filosofia K:a pSicoJogiaacreditaram descobl'ir nada rnais e quea sornb ra da Jingu", ulna "s'Ubsdincia sorihada". A subjerivicl,}cie, aconsciericta em qLJe a nossecuinn-, pen"ou tel' encOnrtado 0 scurna is solido fundamenro, repo usa sobre 0que ha de rna i s fn- tui l t. . d '"precarro no rnun: 0 aCOntecinHmto cia palavra. /VIas esse inst.i.ve]fllndarne~lto reafirn1a"se ~ e volta a fraql.u~ja.r -- roda v c , que coloca-~10S eI11 fUl1t:ionamentD a lingua para [;.]a1', ran to na conversa rna.isJ:r.ivola, quanco ria palavrn dada uma voz par codas a si e

  • 5/10/2018 AGAMBEN, Giorgio (2000). O Que Resta de Auschwitz

    65/85

    128 e 0 que resra de Allschwirz

    ,Binswanger lirnita-se a coristarar a dualidade e a sugerir ao psi-quiarra que renha ern conra anl,bos os ponros de vista. Contudo, aaporia par de indicada e bern rnai s radical , a ponto de quesrio nara propria possibilidade deidentificar um rerrcno un irar iopara a cdns-cienC:ia. Considere-se, pOl' U1Tl lado, .fi.uxo conrirruodas fUJ1,,6es vi-rais: lespira.;:ao, circu lacao de sangue, digestao, homeotermia ~ mastarhbetn sensacao, movirn errro rnuscular, Irriracao etc. - e, par DUtro,o da l inguagern e do cu corrscien re, em que as viverrciasse orgauizamem. uma ,b.ist6ria individuaL Hri urn ponto no qual os dois Huxos searriculam ern unidade, no qual.o "5011ho"cia funcao viral se unea "vi.gili,\" cia cdnsciencia pessoal? Oride e COIT1O pode ocorrcr a introducaode urn sujeiro no Huxo bio16gico> No porrto ern que 0ocutor, ao di-zer (?U, se produz Como subjerividade, porvericura aco nrece uma espe-.,~ie decoincidenciaentre as duas series, morivo pete qual 0sujeiro quetala pode assum u, realrnerlte,C0.l110 proprias as funcoes biologi,cas, eoser vivo pode idenrificar-se no eu que f~t!ae pensa? Nada parece corisen-rir tal coincldencia, canto no di::~'senvolvilTIei'ltodclico dos 'proccssos cor-poreos. quanta na serie dos atos intencioriais cia con~cienda. Pc;:IQcorirrririo, f!:U sign ifica precisamente a separacao irredurrve! enrre fun"coes vitais e historia interior, enrre 0 rorriar-se ralante do ser vivo e 0senrir-se vivo do ser falanre. Cercamenre as dL,as series caminhamuma 010lacio cia outra e, por assirn cii7..er,em absolura inrlrnidade. rnasnao e, precisamerrre, ifUitnidade, 0nome que dames a urna proximi-dade que, ao mesrno tempo, continua serido distarrre, a Ulna prornis-cuidade que nurica se rornaidentidade?

    3,2Q, psiquiau:a japones Kimura Bin, direror do hospital psi-quiarrico de Kyoto, e tradutor de Binswanger, procurou deSei'lvofvera analise cia cernporalidade de Ser e tempo, tendo ern Vista classificar osripos fundamenrais de doerica mental. Com tal objerrvo, de recorre aformula latina post fistum (Iircralrnenre, "depois da fesra"), que irrdicaurn passado .irrcparavel, UJTlchegar sempre arrasado, a que de contra-poe sirnetricarnerire 0antefi:sTum e 0. intrafestUlI1.A remporalidade do post festum e a do melancolico, que vive

    proprio eu sel11.pre na forma de um"eu que ) , 1 . fo i", de urn passadoirrccupe-avelrncn te condl1JClo, cOITl.respeiro ao qual so se pode csrar

    A vergb.nha, au do sujeiro 0 129em debico. A tal experiericia do tempo correspo nde, emHeidegger,o ser lan.cado do. D'asein, Q seu encorrtrar-se sern.pre ja abaridoriadoem urrra sit uacao fatLlaI, para alern cia qual riu nca pode volrar. Ha,po is, LIma esp ec!e de "rnelaricol.ia" ccristi tunva do Dnsein hurria no,q\.lC csra sernpre acrasado com relacao a si ITlCsmQ, que perdcu parasempte a sua "fcsra".A terripo ralidade do arue jel'tum corresporrde a experiericia do es-