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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA PSICOLOGIA AMBIENTAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: contribuições para a transformação sócio-ambiental Monique Damo Lütz Itajaí, (SC) 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

PSICOLOGIA AMBIENTAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: contribuições

para a transformação sócio-ambiental

Monique Damo Lütz

Itajaí, (SC) 2006

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Monique Damo Lütz

PSICOLOGIA AMBIENTAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: contribuições

para a transformação sócio-ambiental

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção de créditos na disciplina Supervisão de Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Prof. Msc. Lísia Regina Michels.

Itajaí (SC), 2006

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Quando o homem cortar a última árvore,

Poluir o último rio e matar o último peixe,

Ele vai perceber que dinheiro não se come.

(Provérbio Indiano)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer a Deus, Iemanjá, São Jorge, meu Anjinho da

Guarda e a todas as Forças Divinas da Mãe Natureza que me deram alegria, coragem e

iluminação.

Agradeço a ti Amada Mãe Ju que sempre me deu muito amor e compreensão e a

ti Pai, que me apoiou neste trabalho, concordando com minhas idéias “malucas”, porém

sinceras.

Às minhas amigas e amigos que conheço há tempos e que estiveram ao meu

lado em vários momentos da minha vida compartilhando muitas emoções sensacionais.

Sem palavras! E a vocês, companheiras e companheiros que vim a conhecer quando

entrei na universidade e que sempre me ajudaram muito em diversas situações. Ah,

priminha querida, valeu por tudo!

Quero agradecer a Prof. Msc. Lísia Regina Michels, por ter aceitado ser minha

orientadora e ter me orientado com muito carinho. A Prof. Msc. Maria Celina Lenzi e a

Prof. Msc. Kátia Ploner, que como minhas supervisoras de Estágio me ensinaram

muito.

Ah, devo também agradecimentos, a erva-mate que me ajudou a ficar acordada

muitas noites para realizar a pesquisa, e também a tudo que você, Mãe Terra, me

proporcionou para eu ter saúde e prosseguir este trabalho.

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SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................................06

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................07

2 REVISÃO DE LITERATURA............................ ......................................................09

2.1 Psicologia Ambiental e seus desafios contemporâneos......................................09 2.2 Educação Ambiental e a transformação sócio-ambiental...................................17 2.4 (Re) descobrindo Valores...................................................................................24 3 MÉTODO.................................................................................................................31 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................. .......................................................32

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................... ................................................36

6 ANEXO I................................................................................................................40

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RESUMO

Psicologia Ambiental e Educação Ambiental: contribu ições para a transformação sócio-ambiental Orientadora: Prof. Msc. Lísia Regina Michels. Defesa: Novembro de 2006. Resumo: Este estudo bibliográfico apresenta alguns desafios da Psicologia Ambiental diante dos problemas sócio-ambientais, causados pelo uso inadequado da natureza, pelo homem. Demonstra-se o papel da Educação Ambiental neste contexto, ressaltando a relevância do movimento dos sujeitos em coletividade, na busca de um novo paradigma e a (re) descoberta de valores, como o amor e o cuidado, contribuindo para que as pessoas repensem os valores reducionistas e materialistas impostos pela cultura dominante. Os objetivos são: analisar as contribuições da Psicologia Ambiental e Educação Ambiental, para uma melhor integração do ser humano com o meio ambiente; reconhecer os desafios contemporâneos da Psicologia ambiental; identificar as contribuições da Educação Ambiental como agente de transformação sócio-ambiental e explicitar possíveis mudanças de valores da cultura dominante para melhorar a qualidade de vida do meio ambiente. Com base na análise bibliográfica, foi possível identificar que os diversos saberes e fazeres da Psicologia ambiental e da Educação Ambiental, colaboram para a construção de uma sociedade sustentável. O psicólogo ambiental e o educador ambiental têm um papel fundamental, no sentido de auxiliarem as pessoas, por intermédio da conscientização, a optarem por um modo de vida que, não prejudique os seres humanos. Isto é possível pela proposição de valores éticos, que virão a melhorar as relações do ser humano com o Universo em sua totalidade, transformando o mundo em que vivemos. Palavras-chaves: Educação Ambiental; Psicologia Ambiental; Valores.

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1 INTRODUÇÃO

São diversos os problemas que vêm ocorrendo no Planeta Terra, gerando um

desequilíbrio sócio-ambiental decorrente dos atos inconseqüentes do ser humano que,

depreda as diversas formas de vida para suprir suas necessidades individualistas e

consumistas. Providências urgentes precisam ser tomadas, a fim de despertar a

consciência e responsabilidade deste diante da problemática.

Neste sentido, a Psicologia Ambiental (P.A.) tem um papel extremamente

importante, podendo contribuir para que ocorra uma transformação em tal situação,

sensibilizando os sujeitos para o convívio harmônico com todos os seres da Natureza,

explicitando possíveis mudanças de valores para reverter este quadro e melhorar a

qualidade de vida planetária, pois o futuro das próximas gerações depende da ação da

sociedade como um todo e “muitos são os sujeitos dessas mudanças. Elas se orientam

por um novo sentido de viver e atuar. Por uma nova experiência do Ser. Elas emergem

de um caminho que se faz caminhando” (BOFF, 1995, p.25).

Dentro desta premissa, o presente trabalho demonstrará alguns “caminhos” que o

ser humano pode percorrer para viver em um mundo mais decente, evidenciando o

papel e os desafios da Psicologia Ambiental para sensibilizar e conscientizar o ser

humano de que este é parte integrante da Natureza e ao prejudicá-la estará se

autodestruindo, ressaltando a relevância da ação em busca da transformação sócio-

ambiental. Neste contexto, será apontada a inter-relação entre Psicologia Ambiental e

Educação Ambiental (E.A.), pois,

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a Educação Ambiental tem um importante papel de fomentar a percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambiente. Uma relação harmoniosa, consciente do equilíbrio dinâmico da natureza, possibilitando, por meio de novos conhecimentos, valores e atitudes, a inserção do educando e educador como cidadão no processo de transformação do atual quadro ambiental do nosso planeta (GUIMARÃES, 1995, p.15).

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo principal, analisar

através de um estudo bibliográfico, as contribuições da Psicologia Ambiental e

Educação Ambiental para a integração do ser humano com o meio ambiente. E para a

melhor compreensão do leitor, os objetivos específicos serão respondidos em três

capítulos, respectivamente. Sendo estes, reconhecer os desafios contemporâneos da

Psicologia Ambiental, identificar as contribuições da Educação Ambiental como agente

de transformação sócio-ambiental e explicitar possíveis mudanças dos valores do ser

humano para melhorar a qualidade de vida do meio ambiente terrestre.

Nos capítulos posteriores, serão apontados os aspectos metodológicos utilizados

para realizar este trabalho, assim como, as considerações finais, em que a autora

posiciona-se a respeito do tema, expondo algumas de suas dificuldades e conclusões.

Por fim, os referenciais teóricos, contendo as bibliografias utilizadas na pesquisa.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A Psicologia Ambiental e seus desafios contempo râneos

A Psicologia Ambiental (P.A.) tem um passado recente. Na Europa, por exemplo,

teve início após a II Guerra Mundial, associada a questões arquitetônicas e de

planejamento urbano, por ser este um período de reconstrução das cidades e

reorganização social. No Brasil, teve início na década de 1960, no planejamento das

cidades (TASSARA & RABINOVICH, 2003). Mesmo tendo surgido da vinculação da

elaboração de projetos para ambientes construídos e do estudo de problemas de

degradação ambiental, a P.A. passou a interessar-se por outros problemas ambientais.

Segundo Ghünter (1991 apud Ferreira, 2004), há também o interesse da P.A. por

problemas que variam:

(...) desde a percepção e cognição do ambiente; efeito do ambiente no comportamento; ambientes diferenciados (de crianças, jovens, adultos, trabalhadores etc); ambientes específicos (como cidades), construção de determinados ambientes para obter determinados efeitos sobre o comportamento; mudanças de atitudes, percepções e comportamento frente ao ambiente; até mudanças e planejamento do ambiente e preservação do meio ambiente (GHÜNTHER, 1991, p. 01).

Porém, somente em meados da década de 1960 até meados de 1970 – um

período de agitação mudancista no mundo ocidental – a atenção dos pesquisadores

volta-se para problemas relacionados à deterioração ambiental. Então, a Psicologia

Ambiental passa a dar ênfase à perspectiva política, movimentando-se em direção ao

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processo de conscientização sobre problemáticas ambientais com ativismo e denúncia

(FERREIRA, 2004).

Na atualidade, pode-se perceber que há um certo distanciamento da Psicologia

Ambiental do caráter libertário, a busca da transformação social ainda é pouco discutida

(FERREIRA, 2004), e quando discutida, raramente é praticada. Então, abordaremos a

Psicologia Ambiental que busca colaborar para a transformação da realidade alarmante

em que se encontra o Planeta Terra, “contribuindo para a compreensão e solução da

temática humano-ambiental, considerando ambos elementos do binômio de maneira

holística, contextualizada e interdisciplinar” (WIENSENFELD, 2003, p. 07).

No século XXI – era da tecnologia e globalização – as catástrofes mais diversas

estão ocorrendo no mundo conseqüentes das ações do ser humano, que movido pelos

valores da sociedade capitalista, visa acima de tudo, a produção e a acumulação de

bens materiais. Explora de forma desordenada a Natureza e acaba prejudicando a si

mesmo, pois é parte integrante desta. Conforme Marçolla (2002, p.121):

Uma tendência marcante nas sociedades ocidentais, quando adentramos nas construções que visam a compreender a relação homem-natureza, é, portanto, aquela que diz respeito a uma dicotomia entre essas duas instâncias. De modo mais claro, podemos falar de uma tendência que compreenderia a sociedade, e portanto o humano, em oposição à Natureza.

Nesse sentido, a Psicologia Ambiental pode contribuir, através de seus saberes e

fazeres, para o processo de superação da dicotomia homem-natureza, e

conseqüentemente para a redução dos problemas ambientais da atualidade, utilizando

ferramentas que sensibilizem o ser humano para o cuidado com a Terra em sua

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totalidade, despertando o amor e a solidariedade destes pelo Planeta, pois quando se

ama, se cuida. Para Boff (2003, p.48),

de tudo o que amamos também cuidamos. [...] o cuidado assume uma dupla função: de preservação a danos futuros e de regeneração de danos passados. O cuidado possui um condão: reforçar a vida, zelar pelas condições físico-químicas, ecológicas, sociais e espirituais que permitem a reprodução da vida e de sua ulterior evolução (BOFF, 2004, p. 48).

Para despertar esse cuidado para com o Planeta são essenciais mudanças

radicais em nossas percepções, nossos pensamentos e nossos valores. Mudanças que

nos façam reconhecer a interdependência dos fenômenos e o entrosamento dos

indivíduos e sociedades nos processos cíclicos da natureza (CAPRA, 1996). Então, é

fundamental o psicólogo ambiental investigar e elucidar para as pessoas o quanto a

cultura dominante está prejudicando o meio ambiente e conseqüentemente a saúde e

bem-estar populacional, comprovando através de uma visão sócio-ambiental que “o

meio ambiente é um campo de interação entre a cultura, a sociedade e a base física e

biológica dos processos vitais no qual todos os termos dessa relação se modificam

dinâmica e mutuamente” (CARVALHO, 2004, p.37).

Segundo Moser (2003), a Psicologia Ambiental pode analisar, explicar e fornecer

informações capazes de identificar as condições envolvidas na congruência pessoa-

ambiente e no bem-estar e, portanto, ajudar a tomada de decisões em questões

ambientais.

Partindo deste pressuposto, é indispensável o psicólogo ambiental ampliar seu

contexto de estudo e orientar suas pesquisas para a solução dos problemas atuais

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(CUNHA & GÜNTHER, 2004). Um desafio complexo para a P.A. é articular clara e

coerentemente os campos de pesquisa, integrando e desenvolvendo uma teoria

compreensiva para facilitar a prática da mesma, pois uma teoria articulada

adequadamente terá mais chance de chamar a atenção do público, das autoridades e

daqueles que dão apoio financeiro para o campo, tornando-se mais política e com

maior probabilidade de ser concretizada (GIFFORD, 2005). No entanto, os psicólogos

ambientais atrelaram-se demasiadamente ao desenvolvimento teórico e acadêmico da

disciplina, desprezando, freqüentemente, a preocupação em estabelecer ligações dos

ramos de conhecimento da P.A. com os decisores da Política Ambiental e com a prática

de tal teoria (MIRA, STEA & ELGUEA, 2005).

Porém, não queremos menosprezar o desenvolvimento teórico e acadêmico da

P.A., pelo contrário, pretendemos investir forças para que exista um imenso arsenal

teórico desta, englobando as possibilidades de enfrentamento da problemática

ambiental, procurando desenvolver estratégias que mobilizem o ser humano para a

ação, mostrando a situação real a qual o Planeta Terra encontra-se, evidenciando

também que o comportamento de alguns compromete a qualidade de vida de muitos, e

assim, estimulá-los para a execução de práticas em benefício do meio ambiente.

Práticas estas, que variam desde a redução, reutilização e reciclagem do lixo - por

exemplo - até reivindicações que exijam das autoridades a implantação de um modelo

de desenvolvimento mais justo e sustentável.

Tais pesquisas precisam engajar o pensamento interdisciplinar, e juntamente

com profissionais de outras áreas, buscar uma nova organização do conhecimento,

reconhecendo a natureza holística das transações pessoa-ambiente levando em

consideração a diversidade criada pela cultura e economia, além de ampliar a atenção

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para com as questões éticas (RIVLIN, 2003); considerando ética, neste contexto, como

“uma instância crítica e propositiva do dever ser com respeito às relações humanas

conseguida através de uma ação comunicativa” (GUARESCHI, 2003, p. 32). Levando

em conta que a “ação só é útil se estiver aliada à sabedoria e aos valores humanos;

caso contrário, perde-se em ativismo cego e inconseqüente. (...) Agir eticamente é pôr

em prática o que temos de melhor para enriquecer a vida e a sociedade com pureza de

sentimentos e intenções” (MARTINELLI, 1996, p.31).

Parafraseando Carrascal (2004), os resultados das pesquisas em Psicologia

Ambiental são muito importantes para conduzir as políticas públicas e os programas de

desenvolvimento nas seguintes áreas:

processos de condicionamento do meio construído; processo de condicionamento de espaços naturais, parques e jardins; preservação do meio ambiente (comportamento ecológico); elaboração de programas de formação e de métodos pedagógicos destinados a educação ambiental; prevenção de condutas de risco, atenção em situação de desastre ambiental; condições de risco ambiental: estresse ambiental, ruído, contaminação, aglomeração (CARRASCAL, 2004, p.04).

Por conseguinte, a P.A. tem a ver com a transformação da realidade desde sua

raiz, com a modificação e a reconstrução das atitudes e padrões de comportamento

(OLQUÍN & REYES-LIRA, 2004). Sem estas transformações haverá somente medidas

ilusórias relativas ao meio material, pois a sociedade, a política e a economia não

mudarão sem uma mutação de mentalidades (GUATTARI, 1992).

Quando o desafio é mudar mentalidades e comportamentos, torna-se relevante

trabalhar a Educação Ambiental (MINC, 1997), pois uma de suas finalidades é construir

valores e atitudes que possibilitem o ser humano perceber a realidade e atuar com

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responsabilidade no ambiente (LOUREIRO, 2002). Portanto, é importante o psicólogo

ambiental trabalhar a Educação Ambiental (E. A.) não no sentido de reduzí-la apenas a

construção de conceitos e habilidades, e sim de questionar e conscientizar o ser

humano, enfocando os sentidos e emoções deste para o convívio harmônico com a

Natureza, pois se não for trabalhado este processo de conscientização, tampouco

haverá uma mudança significativa no caos em que estamos vivendo.

É conveniente enfocar os sentidos e emoções do ser humano, pois o que o

desarmonizou com a Natureza foi a sua insensibilidade, e pela perda de contato com

seus instintos passou a não saber como funcionar, como se relacionar com a vida e

como viver. Não sentindo a vida, acaba por não saber o dano que está causando ao

ambiente ou não percebe o caos que está acontecendo, pois está mais alheio diante

das situações que estão prejudicando a Natureza (SERRANO, 2004).

Então, torna-se relevante o psicólogo ambiental sensibilizar os sujeitos, sempre

que possível, através do contato corporal, enfocando os sentidos - olfato, visão, tato,

paladar - a fim de que as pessoas tenham uma experiência direta com problemas que

ocorrem no meio ambiente, como, por exemplo, mostrar os lugares poluídos que ficam

longe dos olhos da população. E também, para que se aproximem e sintam-se parte da

natureza, pois a maioria da população por viver no meio urbano perde o contato com as

belezas naturais.

Conforme aponta Bruhns (1997, p.136),

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a experiência corporal é a mais direta e imediata, sendo o corpo o primeiro referencial do homem no mundo. (...) sendo o movimento humano a expressão dessa corporeidade. O movimento humano representa, portanto, uma forma de comunicação, um diálogo entre o homem e o mundo. (...) As experiências íntimas do corpo com a natureza, numa perspectiva subjetiva, expressam em alguns casos uma busca de reconhecimento do espaço ocupado por esse corpo na sua relação com o mundo, uma revisão de valores vem como um encontro muito particular do homem com ele mesmo (BRUHNS, 1997, p.136).

Dentro deste prisma, é extremamente importante sensibilizar as pessoas para

essa problemática, possibilitando o contato destas com os mais diversos ambientes,

procurando, além disso, estimulá-las a entrar em contato consigo mesmas, resgatando

novos valores centrados no ser e não no ter, a fim de que possam sentir e agir no

ambiente de modo coerente, rompendo com os padrões cartesianos que incentivam o

ser humano a sentir, pensar e agir de maneira fragmentada, pois

(...) fomos educados – e continuamos educando – segundo uma maneira de sentir sem sentir; ensinaram-nos e continuamos ensinando a pensar desconectados do sentir e agimos desconectados da totalidade do cosmos como se o planeta Terra nos pertencesse. Em tomada de consciência nos obriga a romper com formas estereotipadas de sentir e pensar. Necessitamos recuperar e desenvolver a capacidade de sentir, de nos emocionarmos, de vibrar (GUTIÉRREZ & PRADO, 2000, p.107).

É nesta direção que a Psicologia Ambiental deve trilhar, focando as emoções das

pessoas para com suas inter-relações com todos os seres terrestres, educando e/ou

(re) educando estes para um convívio saudável entre todos , com a funcionalidade de

melhorar a qualidade vida do meio ambiente terrestre resgatando a solidariedade, o

amor e o cuidado, valores reprimidos pela sociedade urbano-industrial, que por estarem

abafados, acaba por ocasionar destruição e poluição, egoísmo e discórdia, fome e

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corrupção. A sociedade calcada em valores individuais que se sobrepõe ao social, dá

lugar às relações assimétricas, que estão refletidas na relação sociedade-natureza.

A Psicologia Ambiental, resgatando valores perdidos deve demonstrar as inter-

conexões existentes em todo o cosmos, que somos parte de uma totalidade e que nos

inter-relacionamos, despertando os sentidos mais profundos do ser humano, o único

ser depredador do Planeta Terra, que pensa e age desconectado do sentir. Conforme

Okamura, et. al (2005, p. 03), a Psicologia Ambiental pode apresentar-se como fator

primordial para o reconhecimento da teia da vida, de seu sentido e de sua dinâmica.

Portanto, a Psicologia Ambiental, pode contribuir para a formação de valores, para a

busca do Ser e para a condução do individuo a novas linguagens relativas à dimensão

da cidadania planetária.

Vale ressaltar ainda que para Gutiérrez & Prado (2000, p. 23),

A cidadania planetária tem ainda um longo caminho a percorrer no interior da globalização capitalista. A cidadania planetária deverá ter como foco a superação da desigualdade, a eliminação das sangrentas diferenças econômicas e a integração da diversidade cultural da humanidade. Não se pode falar em cidadania planetária ou global sem uma efetiva cidadania na esfera local e nacional. Ela é essencialmente uma cidadania integral, portanto, uma cidadania ativa e plena não apenas nos direitos sociais, políticos, culturais e institucionais, mas também econômicos.

Já está mais do que na hora da Psicologia Ambiental caminhar no sentido de

praticar seus diversos saberes e desafiar a “ditadura enrustida” que vivenciamos

atingindo a cidadania planetária, movimentando-se para que providências urgentes

sejam tomadas, a fim de que esta e as próximas gerações possam respirar ar puro,

comer bons frutos, beber água sem a presença de metais pesados, dentre outros

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privilégios que estão nos sendo privados pelos perigos que a pós-modernidade expõe

todo o Planeta Terra.

2.2 Educação Ambiental e a transformação sócio-ambi ental

A análise histórica das diversas sociedades leva a percepção de que a educação

seja ela formal ou informal, é a base para manter determinadas culturas. Através desta

criam-se valores com o intuito de preservar o sistema dominante, geralmente

repassando crenças e ensinando as pessoas a seguí-las fielmente.

Assim é a sociedade capitalista, domina através da educação que partindo de

uma visão de mundo fragmentada e mecanicista, educa para o bem-estar individual,

uso inadequado dos recursos naturais e o consumo exagerado, ao invés de educar o

ser humano para o convívio harmônico com o meio ambiente. Porém, é interessante

lembrar que “a educação, ambiental ou não, é um dos mais nobres veículos de

mudança na história, a conquista de um direito inalienável do ser humano, mas não age

isoladamente” (LOUREIRO, 2002, p.92).

Precisa-se de sujeitos de responsabilidade, que batalhem para a mudança

acontecer em nível histórico-cultural e sócio-ambiental, já que é difícil mudar um

sistema fortalecido. É necessário estar ciente de que não basta cada um fazer sua

parte, tem que haver coletividade; e neste contexto, é fundamental trabalhar a

Educação Ambiental (E.A.) a fim de despertar a consciência coletiva das comunidades.

Segundo Guimarães (1995, p.38):

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a Educação Ambiental postula em seus objetivos gerais uma ampliação da consciência individual para a consciência coletiva. Não só uma consciência de uma categoria social ou até mesmo de toda a humanidade, mas a ampliação para uma consciência planetária, comprometida com a melhoria da qualidade do ambiente. Entende-se aqui que a melhor qualidade de vida está intrinsecamente relacionada a um ambiente equilibrado tanto no nível local quanto no nível global (GUIMARÃES, 1995, p.38).

Para isso, a E.A. necessita educador(es) capaz(es) de debater questões em

nível global e trazer soluções em nível sistêmico, envolvendo a interdisciplinaridade

para religar o que foi disjunto pelo paradigma reducionista (TRISTÃO, 2002). Então é

preeminente trabalhar em equipe e inter-relacionar natureza e sociedade por meio dos

diversos saberes, e assim (re) significar meio ambiente. Conforme a lei nº 9.795, de 27

de abril de 1999, art.5º, I, um dos objetivos da Educação Ambiental é “o

desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas

e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos,

sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos” (ANEXO I). Dar um significado

adequado para meio ambiente, compreendendo as suas inter-relações nos mais

diversos aspectos citados acima, podem ser concretizados através de práticas

educativas voltadas para a questão ambiental que,

devem objetivar e ser perpassadas pela intencionalidade de promoção e pelo incentivo ao desenvolvimento de conhecimentos, valores, atitudes, comportamentos e habilidades que contribuam para a sobrevivência, a participação e emancipação. A educação ambiental, então, seria uma forma de intervenção na problemática ambiental, mediada por projetos definidores de programas educativos (TASSARA, et. al., 2001, p.33).

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Vale ressaltar que o(s) educador(es) ambiental(is) que executam esses

programas educativos precisa(m) repensar os métodos educacionais em prol do

desenvolvimento de uma sociedade sustentável, pois ainda são utilizadas práticas na

E.A. que visam somente informar e reforçar comportamentos (CRESPO, 1998). Estes

meios de educar, até podem trazer mudanças de curto prazo, mas dificilmente irão

ocasionar grandes transformações, pois “ensinar não é transferir conhecimento” é

“pensar certo” (FREIRE, 1996).

O autor defende que

pensar certo – e saber que ensinar não é transferir conhecimento é fundamentalmente pensar certo – é uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de assumir diante dos outros, em face do mundo e dos fatos, ante nós mesmos. (...). É difícil, entre outras coisas, pela vigilância constante que temos de exercer sobre nós próprios para evitar os simplismos, as facilidades, as incoerências grosseiras (FREIRE, 1996, p. 54).

É imprescindível na E.A. “pensar certo” revendo algumas tendências desta que

acabam reduzindo a crise ambiental à compreensão naturalista e conservacionista,

separando as dimensões sociais das dimensões naturais, pois “no Brasil,

historicamente, constata-se a descaracterização conceitual da educação ambiental que,

em geral, ainda é confundida com ‘ecologismo’, acentuando os aspectos biológicos do

meio ambiente não os relacionado ao desenvolvimento humano-ambiental”

(MACCARIELLO, 1999, p. 123).

Somente com o distanciamento destas convergências e partindo para uma

“Educação Ambiental emancipatória” – que inter-relaciona ciências naturais e sociais,

os processos de produção e consumo, os instrumentos técnicos dos princípios ético-

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políticos, a percepção das causas e dos efeitos dos problemas ambientais – poderemos

abrir caminhos para a construção da sustentabilidade e o direito a cidadania (LIMA,

2002).

A “E.A. emancipatória” é aquela que se preocupa com a transformação sócio-

ambiental, que educa o ser humano para o respeito e a igualdade. E ao mesmo tempo

em que trabalha a sensibilização, também engloba a criticidade – resgatando os valores

básicos, como o amor e o respeito, que estão se perdendo na nossa sociedade –

colaborando para a formação de cidadãos mais sensíveis, críticos, políticos que se

movimentem para concretizar o desenvolvimento sustentável.

Leff (1999, p.127) afirma que:

a educação para o desenvolvimento sustentável exige novas orientações e conteúdos; novas práticas pedagógicas, nas quais se plasmem as relações de produção de conhecimento e os processos de circulação, transmissão e disseminação do saber ambiental. Isto traz a necessidade de serem incorporados os valores ambientais e os novos paradigmas do conhecimento na formação de novos atores da E.A. e do desenvolvimento sustentável.

Incorporar novos valores ambientais é complexo na sociedade capitalista, pois a

maioria da população valoriza o dinheiro, o luxo, o lucro e para saciar suas vontades e

suprir os desejos de consumo, prejudica direta e indiretamente o meio ambiente, pois

muitas vezes não compreende que faz parte deste. Então a E.A. deve comover o ser

humano para a (re) aproximação da Natureza e,

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possibilitar a nossa realfabetização com relação ao meio ambiente e a tudo que o compõe. Temos que aprender a ter uma atitude menos consumista, principalmente com relação à natureza. [...] Perdemos a capacidade de nos indignarmos. Para fazer E.A. temos que forçosamente resgatar valores e, principalmente, o sentido de vida (DEPRESBITERIS, 1998, p. 147).

Para educar e (re) educar a população a fim de resgatar alguns valores perdidos

e permitir uma futura transformação sócio-ambiental, nada melhor que inserir a

Educação Ambiental nos currículos escolares, desde a Educação Infantil até o Ensino

Superior, sejam estas instituições públicas ou privadas. No entanto, “é preciso que se

criem instrumentos adequados tanto a realidade do aluno quanto à proposta da E.A.,

enquanto nova abordagem dos conteúdos de ensino e seus pressupostos” (ANDRADE

& LOUREIRO, 2001, p.512), considerando que a E.A. é abrangente e “extrapola as

atividades internas da escola tradicional; deve ser oferecida continuamente em todas as

fases do ensino formal envolvendo ainda a família e a coletividade. A eficácia virá na

medida em que sua abrangência vai atingindo a totalidade dos grupos sociais”

(MACHADO, et. al, 2002, p. 34).

Dentro deste prisma, alguns pontos que dizem respeito à Educação Ambiental

institucionalizada devem ser aprimorados como, por exemplo, tornar os conteúdos

curriculares mais envolventes e próximos às questões ambientais da atualidade e do

cotidiano dos alunos, inter-relacionando os conteúdos das diversas disciplinas dando

sentido e significados às informações e aproximando a escola da comunidade e da

cidadania (ZEPPONE, 1999). E na perspectiva que tem como objetivo inovar a E.A., os

recursos didáticos artísticos e criativos são os mais adequados (REIGOTA, 1998).

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Para Gonçalves (1994, p. 35), o conhecimento do mundo, feito de forma abstrata, por meio de discursos teóricos e fórmulas matemáticas, sem envolver a participação afetiva do aluno, leva-o a uma indiferença em relação à natureza. Esse aspecto torna-se mais grave, quando constatamos que, lado a lado com o distanciamento da natureza, caminha a destruição do meio ambiente.

A introdução da E.A. nos currículos escolares precisa de uma metodologia

inovadora e criativa que permita o desenvolvimento integral das potencialidades do

sujeito, visando a qualidade do ensino e construção de um novo meio de relação entre

natureza e sociedade (MEDINA & SANTOS, 1999), despertando a capacidade criativa e

a consciência integradora dos educandos acerca da problemática ambiental.

Para tanto, é importante assegurar que embora existam leis afirmando, direta ou

indiretamente, que a Educação Ambiental deve estar presente no Sistema Educacional

de nosso país, nota-se que estas dificilmente são executadas. Pode-se perceber este

aspecto na lei nº 9725, art. 2º, a qual menciona que “a educação ambiental é um

componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de

forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter

formal e não formal” (ANEXO I). Mas na maioria das vezes, na prática não é realmente

isto que ocorre.

Está tão arraigado em nossa cultura o não cumprimento das leis que as pessoas

acomodaram-se, e geralmente não percebem seus diversos direitos de cidadãos.

Então, cabe a E.A. mobilizar as pessoas para um movimento dialético em comunidade,

ou melhor, em comum unidade, a fim de que mudanças individuais e coletivas, locais e

planetárias sejam alcançadas. Porém, deve ser uma transformação brusca que implique

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em um novo modo de sentir, pensar e agir no mundo, não de alguns, mas de muitos,

especialmente dos educadores.

Marx & Engels (1989), ressaltam que:

A doutrina materialista de que os homens são produtos das circunstâncias e da educação, que homens diferentes são, portanto, produto de outras circunstâncias e de uma educação diferente, esquece que as circunstâncias são, na verdade, modificadas pelos homens e que o próprio educador deve ser educado. A coincidência da modificação das circunstâncias com a atividade humana ou alteração de si próprio só pode ser apreendida e compreendida racionalmente como práxis revolucionária.

Indo nesta direção, a E.A. pode ser entendida como uma práxis sócio-ambiental

que contribui para o processo de construção de uma sociedade mais justa pautada em

novos valores, na qual educadores e educandos passam a lutar com todas as suas

forças pela mudança de paradigma, não se atendo somente ao discurso, mas

praticando este, a fim de contribuir para formação de mais sujeitos responsáveis, para

juntos ajudar na transformação da realidade, exercendo assim, a “cidadania planetária”,

cuja função é construir

uma cultura da sustentabilidade, isto é, uma biocultura, uma cultura da vida, da convivência harmônica entre os seres humanos e entre estes e a natureza. A cultura da sustentabilidade deve nos levar a saber selecionar o que é realmente sustentável em nossas vidas, em contato com a vida dos outros (GADOTTI, 2000, p. 186).

Saber selecionar o que é realmente sustentável a nós mesmos na relação com o

outro envolve o respeito mútuo. A Educação Ambiental deve seguir essa premissa,

“educar para respeitar”, e “de fato, levar a descoberta de uma certa ética, fortalecida por

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um sistema de atitudes, valores, comportamentos destacando (...) a solidariedade”

(DIAZ, 2002, p. 37).

Esta ética que envolve a solidariedade deve voltar-se para a construção de um

mundo coletivo com pessoas que vivam para que o “bem” para si não faça o “mal” para

o outro, que engloba justamente valores como o amor e o cuidado das pessoas para

com todas as formas de vida.

2.3 (Re)descobrindo Valores

Há tempos o ser humano vem estabelecendo uma relação de dominação para

com a Natureza, e está cada vez mais cindido desta. Sua conduta depredadora está

gerando inúmeros problemas globais irreversíveis e de difícil controle. Nos telejornais,

tanto nacionais quanto internacionais, mostram-se as catástrofes mais diversas:

enchentes, ciclones, furacões, tsunami, estiagem, dentre outros desastres que

comprovam as conseqüências da ação do ser humano, mas a mídia não faz a mínima

questão de mostrar as causas de tanta desgraça.

O ser humano se considera o soberano, o racional na Natureza, porém seu

comportamento predatório e irracional está comprometendo seu habitat, seu alimento e

sua própria vida. Com suas conquistas, foi adquirindo conhecimento e distanciou-se da

Natureza criando desigualdade, poluição e doenças, promovendo o desequilíbrio em

todos os cantos da Terra (VICTORINO, 2000). Assim, foi perdendo o contato com a

natureza, e conseqüentemente, perdendo o contato com a sua própria natureza na

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dimensão sensorial, emocional e intelectual, criando dicotomias como da natureza

versus cultura, amor versus trabalho e assim sucessivamente (REICH, 2003).

Desde a Antiguidade o ser humano já estabelece tal dominação, mas a crise

sócio-ambiental começa agravar-se a partir da Revolução Industrial, com o crescimento

demográfico, o êxodo rural, a exploração desordenada dos recursos naturais

renováveis e não-renováveis e o aumento da produção e consumo de produtos.

Guimarães (2000, p. 25) corrobora:

A crise ambiental reflete a crise deste modelo de sociedade urbano-industrial que potencializa dentro de sua lógica, valores individualistas, consumistas, antropocêntricos, e ainda como componente desta lógica, as relações de poder que provocam dominação, exclusão, não só nas relações sociais como também nas relações sociedade-natureza (GUIMARÃES, 2000. p.25).

Outro fato histórico que contribuiu para a dicotomia sociedade/natureza e a

degradação de ambos foi a Revolução Científica e Mecanicista, que visa acima de tudo

a “fé” na ciência e na razão. René Descartes propôs a divisão de corpo e mente,

consagrou que o ideal da ciência seria formular uma descrição objetiva da natureza,

considerando esta uma máquina perfeita submetida às leis mecânicas exatas, e com a

colaboração da “Teoria da gravitação universal” de Isaac Newton, o mundo passa a ser

considerado quantitativo, mecânico, ilimitado (CARVALHO, 2003). Sendo que a

natureza além de ser imprecisa, opera funcionalmente, ao contrário do que o

mecanicismo postula.

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Por conseguinte, Grün (1996, p. 35) questiona:

Como posso dominar alguma coisa da qual faço parte? A resposta é que não posso; conseqüentemente, não posso fazer parte da natureza. Se pretendo dominá-la, preciso me situar fora dela. Assim, Descartes consegue legitimar a unidade da razão às custas da objetivação da natureza.

Tais acontecimentos históricos influenciaram e continuam influenciando, até hoje

os valores da sociedade em que estamos inseridos, são valores que nos afastam da

natureza, sendo estes, reducionistas, consumistas e imediatistas que geram

competição, dominação, exploração e exclusão. É a “cultura do dinheiro” buscando e

incentivando estilos de vida patológicos que precisam ser convertidos em valores mais

éticos e humanitários - que aproximem o ser humano da natureza - possibilitando todos

os seres de viver em paz com o meio ambiente. Conforme Weil (1993, p.92),

A arte de viver em paz com o meio ambiente consiste, então, em tornar o ser humano consciente de que ele é parte indissociável da natureza. O objetivo é restabelecer uma visão holística cósmica (...) Trata-se do último estágio de uma escalada evolutiva que começou pela consciência pessoal egoísta, passou pelo plano social e atingiu a dimensão planetária.

Mas para atingir esta dimensão, melhorando a qualidade de vida planetária deve

haver uma modificação do atual paradigma, (re)descobrindo valores básicos como o

amor e o respeito para com todos os seres, humanos ou não, pois tais valores estão

desaparecendo devido ao modo de pensar e agir das sociedades urbano-industriais

que têm os valores voltados para o ter ao invés de voltados para o ser.

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Podemos perceber que os paradigmas contêm valores que geram inclusão ou

exclusão, eles tendem a considerar adequado o que convém para preservar seus

princípios e inaceitável o que vai contra tais princípios, eles não vêm para explicar o

mundo, mas para organizar este mediante o uso do poder com uma tendência a resistir

à mudança (ASSMAN, 2001). Assim, o paradigma que governa o “mundo moderno

colonial” do qual fizemos parte, é aquele que mantém o pensamento das pessoas

colonizado principalmente pelos meios de comunicação de massa, cuja dificuldade é

considerar o outro nas relações, gerando exclusão de um modo geral, da maioria dos

seres, ocasionando o desequilíbrio no meio ambiente terrestre.

É urgente, a necessidade da “descolonização do pensamento”, rompendo com o

egoísmo que, persiste no modo de sentir, pensar e agir do ser humano, vítima do

pensamento que monopoliza o mundo. Esta globalização cria e preserva valores

egoístas que transformam as riquezas naturais em produto mercantil, se apropriando –

usando e abusando – de tudo o que há na Terra para sustentar este modelo de

sociedade na qual riqueza e valor estão relacionados com dinheiro. Para isso,

necessitam-se novas mentalidades e um novo modo sentir e agir no mundo para que

haja um paradigma mais solidário, porém,

conviver e produzir o novo implica em correr riscos, no sentido de se buscar novos caminhos, novas práticas. Implica perdas, dúvidas e indecisões. Envolve o desenvolvimento de uma visão sistêmica, holística, que caracteriza e engloba as relações de interdependência dos homens entre si e com a natureza, em geral (GOMES, 1997, p. 39).

Essa concepção sistêmica vê o mundo como “relações de integração”, em que

todo organismo é uma totalidade integrada e a natureza do todo é diferente da soma

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das partes. Nesta visão, o Planeta Terra é considerado um organismo, um sistema

único que não funciona isoladamente, onde a rede de inter-relações existentes se

encontra em estreita dependência (CAPRA, 1982).

Trata-se de reconhecer a unidade dentro da totalidade e vice-versa e de

perceber que somos habitantes do Planeta Terra e estamos em constante movimento,

transformando o meio ambiente e sendo transformados por ele, pois “todos somos

interdependentes uns dos outros. Coexistimos no mesmo cosmos e na mesma natureza

com uma origem e um destino comuns” (BOFF, 2003, p. 53).

Conviver e agir de maneira integrada com o sistema planetário é fundamental

para a mudança de paradigma ocorrer. O ser humano precisa estabelecer uma nova

forma de relação com a vida, desenvolvendo a capacidade de amar – de amar a si

próprio e aos outros seres da natureza (HÖFFEL & VIANA, 1998), respeitando e

mantendo a diversidade, seja ela biológica ou social, para a integridade do Planeta.

Neste sentido, temos que construir uma cultura em que a estética seja voltada

para o prazer pela vida, incluindo o amor e o cuidado, contrapondo a civilização

ocidental cuja estética da vida é o prazer, o que muitas vezes, resulta na destruição

tanto da vida quanto do prazer (PASSOS & SATO, 2002). Dentro desta perspectiva, é

importante construir uma sociedade em que os sujeitos apreciem a vida na Terra, e que

os valores destes visem o prazer de viver plenamente, incluindo e respeitando o “outro”

na relação, abandonando a falsa idéia de prazer, pois este é um sentimento profundo,

que demanda emoção. O que muitos dizem ser “prazer”, é apenas “querer”, o que

sugere egoísmo e desgasta as relações, o prazer e a vida.

Somente quando o ser humano abandonar o prazer individual – que geralmente,

está relacionado com idéias de consumo e acúmulo de bens materiais – é que a

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realidade atual transformar-se-á. Para isso, ele precisa distanciar-se dos valores

materialistas e destrutivos, que são

(...) nocivos ao equilíbrio ecológico da natureza, ameaçam a existência das espécies vegetais e animais, a liberdade de pensamento, de decisão e de ação de pessoas, grupos sociais e de nações. Favorecem a exploração econômica de populações e nações (WEIL, 2003, p.39).

Se o ser humano rever tais valores, distanciando-se da visão cartesiana

passando a pensar na inter-relação existente entre as pessoas, as coisas e os fatos,

agindo de maneira harmônica com o meio ambiente, uma mutação ocorrerá. Porém, é

necessário que cada um comprometa-se em fazer a sua parte para haver um mundo

mais igualitário, pois se esperarmos que as autoridades e as instituições mudem, a

priori, cansaremos e, provavelmente, pouquíssimas coisas mudarão.

Como assinala Brügger (2006, p.102):

(...) é preciso compreender que se cada um de nós não mudar, nada mudará. Somos, cada um de nós, vetores potencias de mudanças, fios dessa intrincada trama social, ambiental, cultural, ética e política e já não há tempo para esperar que as instituições mudem primeiro, para depois mudarmos. Quando pudermos associar essas mudanças individuais com mudanças institucionais, teremos conseguido mudar tudo. E já não será preciso dizer – como na letra da música de Sting “If I ever lose my faith in you” – que “perdemos a fé na ciência e no progresso”, porque teremos nos apropriado deles política e eticamente. Teremos outra ciência e outra noção de progresso, com pressupostos filosóficos bem distintos dos que dominam hoje.

Se cada um contribuir para que pequenas mudanças aconteçam, transformações

mais significativas virão como conseqüência, como por exemplo, uma possível

mudança no sistema de ensino, nas instituições em geral, na cultura e vice-versa.

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“Necessitamos de uma mudança, de uma reforma do pensamento que necessita,

evidentemente, de uma reforma no ensino. Há uma inteira dependência e nessa

interdependência nos tornamos, também, a possibilidade de relacionar as partes ao

todo e o todo a nós” (MORIN, 2001, p. 33).

Não podemos separar os valores adquiridos ao longo da vida, das instituições e

da educação, de um modo geral. Há uma ligação extremamente complexa e fortemente

arraigada nas sociedades capitalistas, em que as instituições são criadas

historicamente reproduzindo uma ideologia mantida através do conteúdo dos valores,

transmitidos simbolicamente com seus significados afetivos e valorativos (LANE, 1995).

Esses valores contêm significados que justificam as atrocidades cometidas em

todo o Planeta pelos mantedores deste paradigma que, valoriza o bem-estar individual

e imediatista, prejudicando a Natureza por não saber que faz parte dela – ou melhor –

que é ela. Destroem, poluem, maltratam, desrespeitam e não cuidam de si mesmos.

Enfim, não amam, pois o cuidado autêntico só pode brotar de quem tem amor e

respeito por todos os seres pertencentes a esse cosmo.

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3 MÉTODO

O procedimento metodológico utilizado para o desenvolvimento e

aprofundamento deste trabalho foi de cunho bibliográfico, enfatizando uma organização

de idéias originadas de literaturas a respeito da contribuição da Psicologia Ambiental

para a transformação sócio-ambiental e integração do ser humano com o meio

ambiente, ressaltando a importância da Educação Ambiental neste processo e o quão

necessário é (re) descobrir valores, como o amor e o cuidado, para transformar o

ambiente.

Dentre os autores utilizados para embasar o trabalho, que exercem uma grande

importância diante do tema são: Boff (2003), Capra (1996), Ferreira (2004), Gifford

(2005), Ghünter (1991), Guimarães (2000), Leff (1999), Loureiro (2002), Tassara e

Rabinovich (2003) e Weil (1992). Vale ressaltar que a revisão abrange artigos

científicos e livros publicados entre os anos de 1989 a 2006.

Conforme Gil (1996), o delineamento da pesquisa bibliográfica implica considerar

as seguintes etapas: determinação dos objetivos, elaboração do plano de trabalho,

identificação e localização das fontes, obtenção e leitura do material, assim como, a

tomada de apontamentos e redação do trabalho.

Foram realizadas pesquisas bibliográficas a respeito do tema, a leitura dos

referenciais escolhidos e a posteriori embasou-se o Trabalho de Conclusão de Curso.

Porém, devo deixar claro que embora feito deste modo, durante todo o processo

pesquisou-se livros, periódicos e artigos científicos para compreender e fundamentar de

modo adequado este.

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4 Considerações Finais

Ao finalizar o Trabalho de Conclusão de Curso, convém tecer comentários sobre

a escassez de referencial teórico a respeito da Psicologia Ambiental (P.A.) que busca a

transformação sócio-ambiental, e muito menos que relacione diretamente está com

Educação Ambiental (E.A.). Há também, poucas referências que tratam de valores,

como o amor e o cuidado, no que se refere a E.A. e P.A.. Por isso destacamos a

relevância deste estudo que vem contribuir para a produção cientifica desta área.

Mas este fato não foi motivo para desanimar, pelo contrário, aumentou o desejo

de prosseguir, a fim de expandir este conhecimento e comprovar que para viver em um

mundo mais justo e saudável devemos (re) descobrir alguns “valores esquecidos”

devido à influência da visão de mundo reducionista e materialista presente na cultura

predominante, que acaba por tornar as pessoas cada vez mais individualistas,

desrespeitando o Universo em sua totalidade.

Dentro dessa premissa, concretizando a pesquisa, comprova-se que a Psicologia

Ambiental tem um importante papel na construção de uma sociedade sustentável. Ela

pode contribuir conscientizando o ser humano, especialmente através do processo de

sensibilização que, precisamos preservar a vida, amar e cuidar de tudo o que existe no

Universo, para nos integrarmos com o meio ambiente.

Para que haja a sensibilização do sujeito frente à crise sócio-ambiental, a

Educação Ambiental é um dos fazeres que o psicólogo ambiental deve utilizar como

ferramenta de mudança. Embora, muitas vezes a educação – ambiental ou não – sirva

para alienar o ser humano, é também, um veículo indispensável para a transformação

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sócio-ambiental, sendo um importante meio para repassar valores éticos às pessoas e

questionar os valores destrutivos que o sistema capitalista insiste em reproduzir e

manter através das instituições. Nesta perspectiva, consideram-se destrutivos todos os

valores que visam o bem-estar individual e imediatista que prejudicam a Natureza.

Ao atuar na E.A., o psicólogo ambiental deve nortear seu trabalho conforme o

contexto econômico, educacional, organizacional e cultural do grupo em que ele está

inserido. Deve-se levar em consideração a faixa etária, a representação de natureza e

meio ambiente para cada sujeito e a necessidade de cada grupo ou do ambiente onde

a comunidade está inserida.

Considero de suma importância que o psicólogo ambiental atue em instâncias

organizadas (ONGs, associação de moradores, entidades assistências e filantrópicas,

sindicatos, dentre outras) para transformações mais significativas serem alcançadas e o

trabalho ser mais coerente com os objetivos da P.A., pois práticas que questionam a

crise sócio-ambiental e movimentam-se para o exercício da cidadania, muitas vezes,

são marginalizadas ou banalizadas pelas organizações privadas, pois geralmente não

são convenientes e nem geram lucro para a sociedade industrial.

Porém, qualquer que seja a organização em que o psicólogo ambiental esteja

atuando, necessita sensibilizar, enfocando as emoções e os sentidos do ser humano

para o convívio harmônico com a Natureza, pois conforme foi diminuindo sua

capacidade de sentir-se parte desta, distanciou-se do que está ocorrendo no Planeta.

Sendo viável, possibilitar aos educandos o contato direto com alguns ambientes, para

que possam vivenciar as potencialidades e os diversos problemas ambientais,

questionando a respeito dos benefícios e comprometimentos que estes podem causar à

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saúde populacional e em que aspectos o ser humano pode contribuir para reverter este

quadro.

É viável, também, expandir o campo de atuação psicólogo através de pesquisas

que reflitam e questionem os conhecimentos e fazeres na área de Psicologia Ambiental

e Educação Ambiental, visando a transformação sócio-ambiental, refletindo a respeito

dos valores éticos que devemos resgatar, para uma melhor relação entre todos os

seres.

Elaborar programas educacionais e projetos que eduquem o ser humano para a

harmonia e o respeito para com o meio ambiente tem grande relevância para mudanças

significativas ocorrerem, e assim, colaborarmos para a construção de uma sociedade

mais bela e solidária.

E através da implantação de tais praticas, devemos conscientizar as pessoas a

agirem eticamente diante da vida, amando, cuidando e preservando tudo o que há no

Universo, inclusive nós mesmos, pois somos todos fios da intrínseca “teia da vida”,

interdependemos uns dos outros e necessitamos saber disso.

Ao concluir este trabalho gostaria de citar uma poesia de minha autoria para

uma reflexão do leitor:

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Eu em Você, Você em mim,

Nós nos Outros, Os Outros em Nós.

Quem somos Nós??? Nós mesmos!

Somos todos um!

Um inseto, Uma planta! Um animal,

Uma pessoa! Um mar, Uma lua!

Todos parte de um Universo,

Inverso. Imerso num caos perverso!

Que separa: Eu de Você,

Você de mim, Nós dos Outros,

Os Outros de Nós.

Mas, se nós nos amamos, Dos outros cuidamos! E o Universo perverso, TRANSFORMAMOS!!!!

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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6 ANEXO I

Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DA EDUCAÇAO AMBIENTAL Art. 1o. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sustentabilidade. Art. 2o. A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. Art.3o. Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm o direito à educação ambiental, incumbindo: I – ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; II – às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III – aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; IV – aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V – às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente; VI – à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a preservação, a identificação e a solução de problemas ambientais. Art. 4o. São princípios básicos da educação ambiental: I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;

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III – o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI – a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII – o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. Art. 5o. São objetivos fundamentais da educação ambiental: I – o desenvolvimento de uma concepção integrada do meio ambiente e suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II – a garantia de democratização das informações ambientais; III – o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV – o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V – o estímulo à cooperação ente as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI – o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e tecnologia; VII – o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.