Os 13 segredos - Primeiro capítulo

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Com uma história repleta de fantasia e de mistério, Os 13 segredos, de Michelle Harrison, chega como o desfecho da trilogia Os 13 Tesouros. A série é vencedora do Waterstone's Children's Book Prize, uma das mais importantes premiações britânicas para livros infantojuvenis. No Reino Unido, as vendas dos títulos da autora já somam quase 600 mil exemplares.

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ososos

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trilogia 13 tesouros

Os 13 Tesouros

As 13 Maldições

Os 13 Segredos

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rio de Janeiro | 2014

Tradução

Carolina selvatici

ososos

Tradução

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R owaN FoX estaVa ParaDa Perto Do Portão

da escola, observando o jardim enquanto os alunos

saíam correndo, trombando uns nos outros, ansiosos por

começar as férias de verão. sem ver sinal algum do cabelo claro de

Fabian na multidão, a menina, impaciente, foi até a loja de doces

do outro lado da rua. Chacoalhando algumas moedas que haviam

sobrado do dinheiro do almoço, ela entrou e comprou duas barras de

chocolate. Quando saiu, a maior parte da multidão já havia se disper-

sado, a não ser pelos alunos que a haviam acompanhado até a loja.

a melodia de um violão começara a tocar perto dali.

Fabian ainda não havia aparecido. talvez o menino tivesse ido

para o ponto de ônibus sem ela, imaginou Rowan. Depois de enfiar

um dos chocolates na mochila, ela pegou o outro e começou a andar.

então viu a garota — a que tocava o violão.

a jovem estava sentada de pernas cruzadas em frente a uma loja

vazia, a duas entradas da loja de doces, apoiada contra a porta. sua

mão dedilhava as cordas do violão. o cabelo louro desgrenhado pre-

cisava ser lavado. ao lado dela, uma mochila velha estava apoiada em

um saco de dormir sujo.

Quando chegou àquela altura da rua, rowan parou perto da

caixa do violão da jovem, que jazia aberta no chão. Dava pena ver

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a pouca quantidade de moedas que havia dentro dela. a menina

enfiou a mão no bolso, tirou os últimos centavos que tinha e os acres-

centou à pilha escassa. Depois, olhou para a barra de chocolate que

segurava, jogou-a na caixa também e continuou andando.

— obrigada — gritou a garota.

rowan se virou. a jovem havia parado de tocar e a encarava.

— estava começando a achar que eu era invisível. Você foi a pri-

meira pessoa a me dar alguma coisa hoje.

os olhos de rowan pararam nas moedas que já estavam na caixa.

— são minhas — explicou a jovem. — Pus tudo aí para... Bom, deixe

para lá.

rowan andou até ela e pôs a mochila no chão.

— Você colocou as moedas aí para parecer que não estava sendo

ignorada — completou.

— sim.

a jovem deu uma risadinha e apoiou o violão contra a porta da

loja. Pegando a barra de chocolate, ela rasgou a embalagem e deu uma

bela mordida, fechando os olhos de prazer.

— essa cidade não é das mais simpáticas — disse, mastigando. —

Acho que não vou ficar.

— Você não deveria ficar mesmo — respondeu Rowan, olhando para

a jovem com pena. era difícil saber que idade tinha, mas não parecia

muito mais velha do que ela. Devia ter uns dezesseis anos. — Vai se

sair melhor em algum lugar maior. Mais agitado, com mais gente.

— Você fala como se já tivesse passado por isso — afirmou a jovem.

ela lambeu o chocolate do polegar e observou rowan.

— Porque eu já passei — murmurou rowan. — Foi por isso que eu

parei... — Fez uma pausa e olhou nos olhos da jovem. — Fiquei um

ano na rua. sei como é.

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— É mesmo? o que aconteceu com você?

— Meus pais morreram num acidente de carro, e eu e meu irmão

mais novo fomos levados para um orfanato. Mas meu irmão... desa-

pareceu. Por isso fugi para procurar por ele.

— e você encontrou? — perguntou a jovem.

rowan hesitou antes de responder.

— Não, nunca consegui recuperar meu irmão.

— e o que você fez?

rowan deu de ombros.

— tive sorte. Conheci umas pessoas que... se preocuparam comigo.

Moro com elas agora.

— teve sorte — repetiu a jovem, olhando para o belo uniforme

escolar de rowan com inveja. — Parece mesmo que você está bem

agora.

— Mas o que você está fazendo aqui? — perguntou rowan. — tickey

end não é um bom lugar para quem não quer ser notado. Quero

dizer, as pessoas daqui agem como se não vissem você, mas prestam

atenção em tudo que acontece.

— Vou embora antes do fim do dia — respondeu a jovem, tímida.

— Não estava planejando ficar aqui muito tempo. — Ela se inclinou

para a frente e baixou a voz. — Só o suficiente para passar um recado,

depois de encontrar a pessoa certa.

— recado? Para quem?

— Para você, red.

rowan perdeu o fôlego.

— o que você disse?

— red. esse era o seu apelido, não era?

rowan puxou a mochila para si.

— Quem é você? o que quer dizer com um recado? De quem?

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— Do Clã.

rowan se levantou.

— Me deixe em paz.

— espere!

ela se virou.

— Quem mandou você?

— o Pardal — respondeu a jovem em voz baixa.

— Por que ele mesmo não veio me dar o recado se sabia onde me

encontrar?

— o Pardal disse que você não escutaria se ele viesse. Que eu teria

uma chance melhor de... chamar a sua atenção e fazer você ouvir...

— ele estava errado.

— Me escute. ele só queria que você ouvisse.

— o que você vai ganhar com isso?

a garota ruboresceu.

— É claro. Você não mora na rua, não é? É um deles.

a jovem fez que sim com a cabeça.

— ele tinha certeza de que você pararia para conversar comigo e

estava certo. Mas eu tinha que ter certeza... só quando você falou do

seu irmão...

— Me dê logo o recado.

— Vamos fazer uma reunião no dia 13.

— eu sei — respondeu rowan. — sempre tem uma reunião no

dia 13.

— Dessa vez, eles querem que você vá. Não adianta inventar uma

desculpa.

rowan assentiu, olhando para baixo.

— ele disse que o grupo precisa avisar você do local da reunião,

mas, para fazer isso, você tem que deixar o mensageiro entrar. Pronto.

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esse é o recado. — a jovem olhou para a embalagem de chocolate em

suas mãos.

— e se eu não for?

a jovem abriu a boca para responder, mas olhou para trás de

rowan, fazendo a menina se virar. Fabian se aproximava, o rosto con-

torcido numa careta. o garoto parou ao lado de rowan, afrouxando

a gravata e resmungando.

— onde você estava? — perguntou rowan.

— Fiquei de castigo — respondeu ele, irritado.

— Por quê?

Fabian mexeu numa pedrinha com a ponta do pé.

— Por brigar com um colega.

— Brigar? Com quem?

antes que Fabian pudesse responder, rowan percebeu que a jovem

arrumava as coisas para ir embora. ela se levantou, pendurou a caixa

do violão em um dos ombros, o saco de dormir e a mochila no outro,

e acenou um adeus com a cabeça.

— até mais, red — disse, baixo, antes de ir embora.

— Com um garoto da minha sala — respondeu Fabian, distraído,

olhando fixamente para a jovem. A careta se transformou num sem-

blante de interrogação. — Quem era essa garota?

— Ninguém — afirmou Rowan. — Só uma pedinte. Dei um trocado

a ela.

Fabian franziu ainda mais a testa.

— Não sabe quem ela é?

— Não.

— Bom, ela conhecia você — disse Fabian, desconfiado. — Chamou

você de red. Ninguém mais chama você assim. Não desde que veio

morar com a gente.

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Rowan observou a figura diminuir e desaparecer ao virar a esquina

de uma das muitas ruelas tortas de tickey end.

— Falei com ela uma ou duas vezes quando morava na rua —

mentiu, lembrando a si mesma que nunca deveria subestimar o poder

de observação de Fabian. — Faz muito tempo. Nem me lembro do

nome dela. Fiquei surpresa por ela se lembrar do meu.

— entendi — respondeu Fabian, esfregando a bochecha. — Que

estranho essa garota ter aparecido justo aqui...

— Foi coincidência — afirmou Rowan, ansiosa por mudar de

assunto. os dois começaram a andar. — e aí? Por que você entrou

numa briga? — ela o observou, procurando cortes e hematomas. —

Você deve ter se saído bem. Não ficou com nenhum machucado.

— alguém separou a briga assim que começou — explicou Fabian.

— e começou pelo mesmo motivo de sempre: estavam falando umas

coisas horríveis sobre o amos. Disseram... disseram que iam até o

cemitério sujar o túmulo dele. Um dos garotos ameaçou escrever

umas coisas na lápide. eu me irritei e dei um soco nele.

— É natural que tenha ficado irritado — disse Rowan. — Mas eles

não vão fazer nada, Fabian. se estivessem realmente pensando nisso,

você seria a última pessoa para quem iriam contar. Só estão falando

isso para machucar você.

— Pois é, e funcionou. Por que não podem deixar meu avô em paz?

Mesmo depois de morto, ninguém deixa ele descansar!

rowan suspirou.

— Precisa aprender a ignorar esses caras. Quanto mais cair na pilha,

mais eles vão provocar você.

— É fácil falar — respondeu Fabian, irritado. — Não é você que pre-

cisa que aguentar os sussurros e as pessoas apontando. o que ia achar

se os outros pensassem que o seu avô tinha matado alguém?

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Rowan ficou em silêncio, pensando na história sombria do solar

elvesden, a velha casa em que morava com Fabian e a família dele.

Na época em que o avô do menino era caseiro da mansão, uma moça

chamada Morwenna Bloom havia desaparecido no bosque próximo à

casa. Por azar, o avô de Fabian fora a última pessoa a ser vista com a

moça, o que fizera com que ele fosse acusado de estar envolvido no

desaparecimento. os boatos o haviam acompanhado a vida inteira e,

pelo que parecia, continuariam após a sua morte, que acontecera dois

meses antes.

— É claro que eu não iria gostar — afirmou Rowan, por fim. —

Mas aguentaria se soubesse que não era verdade. e você sabe que

não é, Fabian. todo mundo que importa sabe que o amos era ino-

cente. lembre-se disso. — ela pôs a mão dentro da mochila. — tome.

Comprei um chocolate para você. Já está meio mole.

— obrigado. — Fabian se animou um pouco quando pegou o doce

e começou a comê-lo, lambuzando o rosto, enquanto atravessavam a

praça da cidade até o ponto de ônibus.

— De qualquer forma... — continuou rowan. — eu sei como é ouvir

os sussurros e ver as pessoas apontando. sou a garota nova, lembra?

e todo mundo sabe que agora eu também moro no solar elvesden.

então, para eles, sou tão culpada quanto você.

— imagino que sim — disse Fabian, os dentes cobertos de choco-

late. — e como você reage a tudo isso?

— Não digo nada — respondeu rowan. — eu imagino a cara das

pessoas se elas soubessem a verdade. se a gente contasse tudo: que

a Morwenna desapareceu por vontade própria no reino das fadas.

imagine só o que elas diriam.

— Iam achar que nós somos mais doidos do que já acham — afirmou

Fabian, enfiando o último pedaço de chocolate derretido na boca.

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sua expressão já estava mais tranquila quando os dois entraram no

ônibus.

rowan guiou o caminho até os fundos do veículo e se sentou,

enquanto o ônibus voltava a andar com um tranco, sacudindo-se

pelas ruas de tickey end para chegar às estradas do interior de essex.

Quinze minutos depois, eles saltaram e começaram a andar, passando

por áreas que ainda tinham a terra molhada e rachada por causas das

terríveis enchentes do inverno e da primavera.

logo os dois passaram por um grande portão de ferro, sob o olhar

atento de duas ferozes gárgulas de pedra, cada uma parada em seu

pilar. Diante delas, após um pátio de cascalho, ficava a imponente

mansão coberta de hera chamada solar elvesden. enquanto andavam

até a porta da frente, fazendo barulho ao pisar no cascalho, rowan

olhou para a casa.

— ainda não consigo acreditar que eu realmente moro aqui.

— Você diz isso toda vez que a gente entra em casa — afirmou

Fabian.

— É porque eu sempre penso isso.

rowan respirou fundo quando passaram pela porta da frente.

o saguão era escuro e cheirava a mofo — o tipo de cheiro que não sai

de um cômodo, não importa o quanto ele esteja limpo. andando até

os fundos da casa, eles passaram pela grande escadaria. No primeiro

patamar dela, um relógio de pêndulo jazia mudo, os ponteiros con-

gelados. De dentro dele, rowan ouviu os barulhos característicos de

seus moradores. Do primeiro andar, descia o som monótono e aba-

fado de um aspirador de pó.

Na cozinha, um grito agudo os recebeu.

— seu safadinho! Cortem-lhe a cabeça!

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rowan se encolheu ao ouvir o som estridente, enquanto Fabian

encarava o responsável: um papagaio cinzento, de olhos amarelos e

brilhantes, empoleirado numa grande gaiola prateada.

— Boa-tarde para você também, general Carver — murmurou o

menino, sarcástico.

a ave estreitou os olhos. em seguida, levou um susto quando a

porta dos fundos se abriu e o pai de Fabian, warwick, entrou.

— Quer dizer que vocês já estão de férias? — disse, fechando a

porta e enchendo a chaleira de água da pia. Depois de ligar o fogo e

colocá-la para ferver, tirou o longo sobretudo e o pendurou atrás da

porta. a faca de ferro que carregava no cinto do casaco fez um leve

barulho ao bater contra a madeira.

Fabian sorriu e fez que sim com a cabeça.

— Nada de escola por seis semanas inteiras!

— Por favor, não comecem a implicar um com o outro quando

estiverem sem nada para fazer.

Fabian bufou.

— Não vamos ficar sem nada para fazer. E, de qualquer forma, se

ficarmos, você pode nos levar para patrulhar o bosque. Isso nunca é

chato!

warwick levantou a sobrancelha ao ouvir a sugestão. abriu a boca

para responder, mas foi interrompido quando uma mulher magra e

de cabelos brancos, com sessenta e poucos anos, entrou na cozinha

seguida por outra um pouco mais jovem, mais gordinha e sem

fôlego.

— É o que estou dizendo, Florence — dizia a gordinha com sua voz

aguda. — essa garota tem problemas aqui em cima. — Bateu levemente

na cabeça com o dedo, para indicar o local. — entendeu? tenho até

medo de imaginar o estado do quarto dela. adolescentes não deveriam

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poder ficar com a chave dos próprios quartos. Não é... — Parou de

falar ao ver rowan e coçou o cabelo castanho despenteado, que mais parecia um esfregão.

— Você sabe por que eu tranco a porta do meu quarto — lembrou rowan, baixinho.

— Nós já falamos sobre isso, Nell — respondeu Florence, irritada. No entanto, ao olhar para rowan, tinha carinho nos olhos cinzentos. — Contanto que o quarto seja mantido arrumado, então a rowan pode deixar o cômodo trancado, se quiser.

— Mesmo assim! — continuou Nell. — Faz semanas que ela não me deixa entrar lá para limpar. Deve estar um nojo!

— Quantas vezes eu tenho que dizer isso? — disse rowan, exaspe-rada. — Meu quarto está limpo! Se você não ficasse tirando as coisas do lugar, eu não precisaria trancar a porta! será que você não entende? Certas coisas têm que ficar onde estão... do jeito que eu deixo, por uma razão específica!

— Bom, já que você insiste — respondeu Nell, grosseira.— É, eu insisto — retrucou rowan. — e, se a Florence não se importa,

por que você deveria se preocupar? a casa é dela.rowan deu as costas para a cozinha silenciosa e saiu, subindo as

escadas correndo. Ninguém a seguiu, nem mesmo Fabian. a menina ficou feliz. Parou diante de uma porta à direita, expirando com raiva, e tirou uma chave velha da mochila. Colocando-a na fechadura, ela abriu a porta, entrou e jogou a mochila num canto. Depois, se sentou diante da penteadeira e encarou o espelho.

O reflexo a encarou de volta: olhos verdes amendoados em um rosto fino e pálido, cheio de sardas. Tinha o cabelo na altura da man-

díbula quando viera morar no solar. agora, cinco meses depois, uma

massa de mechas vermelhas e macias já roçava seus ombros. ela pegou

uma delas.

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Red. Esse era o seu apelido, não era?

— red — sussurrou para si mesma, observando o quarto.

a menina não havia mentido ao dizer a Nell que tudo estava limpo.

o cômodo estava impecável, não havia nada bagunçado. Depois de

tanto tempo dormindo na rua, de não pertencer a lugar algum, ter um

quarto quente e seguro para chamar de seu era algo que rowan não

subestimaria tão cedo.

Seguro.

os olhos da menina vasculharam o espaço. era um belo cômodo,

decorado logo depois que ela se mudara. as paredes tinham sido pin-

tadas de um vermelho vivo, dando a ele uma impressão acolhedora

e confortável. os móveis gastos faziam com que rowan sentisse que

morava ali há anos. À primeira vista, tirando o fato de estar arrumado,

era como o quarto de qualquer garota de quinze anos.

No entanto, rowan não era uma garota de quinze anos qualquer.

ela se levantou e fez o mesmo ritual que repetia toda vez que entrava

no cômodo. Começando pela porta, ajoelhou-se e enrolou o tapete

gasto, expondo o assoalho. Uma linha fina de uma substância branca

e granulosa ia de um lado a outro da porta.

satisfeita, pôs o tapete de volta no lugar e conferiu a janela. ao

longo de todo o parapeito corria outra linha branca. rowan pres-

sionou o dedo contra ela, ergueu a mão e deixou parte dos grãos

caírem na língua. A forte amargura confirmou que era sal.

em seguida, checou a lareira, onde, abaixo da chaminé, havia

uma guirlanda de folhas verde-escuras e frutas vermelhas secas, blo-

queando outra possível entrada para o quarto.

Por fim, andou até a cama e passou os dedos por baixo do traves-

seiro. O frio do punhal que ali estava a acalmou, e ela finalmente se

permitiu relaxar.

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a jovem em tickey end havia abalado rowan. Depois de andar

até a janela, ela olhou para fora, para além dos muros do jardim,

na direção do bosque do Carrasco. Mas não viu as árvores nem o

pequeno riacho que corria pelo limite da floresta. Também não viu

a igreja minúscula que surgia a distância. Em vez disso, sua mente

viajou até o porão frio e úmido de um chalé de pedra, onde uma

algema de ferro prendia um pulso com a pele queimada. Palavras

amargas voltaram à sua cabeça.

Vai se arrepender disso, menina... Vou achar você. Vai pagar por isso...

uma batida repentina na janela a assustou. livrando-se das lem-

branças, ela olhou pelo vidro, apertando os olhos para conseguir ver

através do sol da tarde. Do lado de fora, uma pequena criatura alada

arranhava o vidro. era mais ou menos do tamanho de um pássaro e, à

primeira vista, podia ser confundido com um, pois usava uma roupa

de folhas e penas. No entanto, era um homem pequenino, de rosto

grosseiro, trazendo algo quadrado e branco preso entre os dentes. ela

o observou, o rosto inexpressivo. a janela havia sido deixada leve-

mente aberta para ventilar o quarto. o espaço era grande o bastante

para o homem-fada passar, mas, por mais que tentasse, rowan sabia

que ele não conseguiria atravessar a barreira de sal. era uma proteção

contra fadas, como todas as outras que ela havia instalado.

Quando o homem-fada parou de arranhar o vidro e pensou em

desistir como sempre fazia, rowan cedeu e retirou parte do sal,

criando uma pequena abertura. a criatura piscou, surpresa, depois

passou correndo pela janela, soltando a coisa que trazia na boca, que

caiu no chão.

— Já estava na hora! — resmungou, com uma voz anasalada. em

seguida, voou e foi embora, enquanto rowan colocou o sal rapida-

mente de volta no lugar.

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a menina se ajoelhou e pegou a coisa que o homem-fada havia

deixado cair. era um envelope simples, com apenas uma palavra

impressa na frente: reD. ela o observou, o nome que usara por tanto

tempo. o nome que tinha tentado esquecer.

Estava cansada de fingir. Cansada de se esconder. Passando o

polegar por baixo da aba do envelope, ela o rasgou, abrindo-o.

era hora de enfrentar o passado.

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