Noradrenalina, Dopamina e Serotonina

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Noradrenalina, Dopamina e Serotonina por Galeno Alvarenga | 4 de fevereiro de 2010 | 3 comentários Imagem - Neurotransmissores Classificação dos neurotransmissores Os neurotransmissores de maior interesse para o comportamento têm sido divididos em duas amplas categorias: 1.Catecolaminas: DA (dopamina), NA (noradrenalina) e AD (Adrenalina) 2.Indolaminas: incluindo histamina e 5HT (serotonina)

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Noradrenalina, Dopamina e Serotonina

por Galeno Alvarenga | 4 de fevereiro de 2010 | 3 comentrios

Imagem - Neurotransmissores

Classificao dos neurotransmissores

Os neurotransmissores de maior interesse para o comportamento tm sido divididos em duas amplas categorias:

1. Catecolaminas: DA (dopamina), NA (noradrenalina) e AD (Adrenalina)2. Indolaminas: incluindo histamina e 5HT (serotonina)

Para facilitar as explicaes, descreverei, seguindo uma outra ordem, apenas os neurotransmissores noradrenalina (NA), serotonina (5HT) e dopamina (DA).

1) Noradrenalina; sistema noradrenrgico, lcus cerleos; grupo das catecolaminas

O lcus cerleo (lugar azul) contm a maioria, mas no todos os neurnios noradrenrgicos do crebro. O lcus cerleo um par de pequenos ncleos localizados na parte rostral (rostro, extremidade anterior frente) da ponte, na orla da formao reticular dorsolateral, perto do aqueduto cerebral. Esses neurnios pigmentados enviam projees para o crtex cerebral, tlamo, hipotlamo, cerebelo, crebro mdio e medula espinhal. Este o mais disperso (espalhado) de todos os sistemas de moduladores difusos, e potencialmente pode estar envolvido, de algum modo, na ateno, no alerta, sono, memria, aprendizagem, ansiedade, dor, humor e no metabolismo cerebral. Contudo, experimentos com macacos sugerem que os eventos especficos que a maioria dessas clulas ativa a presena do novo, do estmulo sensorial inesperado.

2) Serotonina e sistemas serotoninrgicos: grupo das indolaminas

H mais de uma dezena de receptores isolados de serotoninas divididos em 7 famlias principais. As alteraes nesses neurotransmissores ocorrem numa variedade de transtornos psicolgicos que vo desde transtorno de personalidade, a ansiedade, depresso, transtorno da alimentao, esquizofrenia, psicoses induzidas por drogas e, tambm, sensibilidade dor e transtornos do sono.

Parece haver, alm disso, uma relao entre os nveis de 5HT (serotonina) e o poder. Foi constatado que no sangue do macaco macho verver dominante h duas vezes mais serotonina que nos macacos dominados. Parece que um aumento da noradrenalina fornece uma postura oposta de dominncia: a de submisso. No macaco lder, a 5HT elevada parece ser mantida pela conduta submissa recebida de seus seguidores. Tudo indica que o mesmo acontece entre os homens.

Se o macaco lder removido do grupo, sua serotonina cai para o normal. Mas caso o lder seja afastado e, ao mesmo tempo, a produo e a liberao da serotonina seja aumentada em um dos subordinados, fornecendo a ele triptofano, que um precursor da serotonina (5HT), mais algum medicamento que funciona como inibidor seletivo da recaptao de serotonina (fluoxetina, sertralina, paroxetina e outros), o macaco medicado tende a adquirir o poder que estava nas mos do macaco dominante e, assim, o antigo dominante torna-se um Joo ningum qualquer. O mesmo evento foi demonstrado nas lagostas. Entre os animais, o mais poderoso e dominante, ao contrrio da sabedoria popular, no o mais forte e mais agressivo. Entre os lobos, o macho dominante muitas vezes poltico e constri coligaes para receber cooperao dos outros em suas caadas e na defesa de predadores.

H estudos que especulam que as mulheres, por serem mais submissas, apresentam mais transtornos depressivos que os homens. A postura submissa da mulher ao homem, defendida e incentivada por vrias religies, como sendo a maneira correta do casal viver, foi pensada como principal fator da queda da liberao da serotonina (como relatado nos macacos) e, consequentemente, do aparecimento da depresso (tristeza, apatia, cansao, dores diversas, irritabilidade e impulsividade, insnia, etc.).

Mas, alm disso, uma serotonina baixa associa-se impulsividade. Esta nada mais que uma menor habilidade e abertura de ateno s diversas possibilidades de aes diante de problemas; o mesmo acontece com uma baixa em dopamina.

Foi sugerido tambm que uma 5HT baixa funcionaria produzindo maior sensibilidade rejeio. Nessa condio, descrita mais frequentemente entre as mulheres, a pessoa fica altamente vulnervel no aceitao ou perda. Esses sintomas e outros deram origem ao Transtorno da Personalidade Borderline ou Personalidade Limtrofe. Esses pacientes geralmente apresentam tambm outros transtornos ao mesmo tempo, como os Transtornos da Personalidade Histrica, Narcisstica e Anti-Social.

Os pacientes denominados limtrofes, bem como os chamados de anti-sociais, narcisistas e histricos, parecem ter um fator comum: uma extroverso extrema. Se essa idia correta, podemos especular que esses transtornos emocionais e cognitivos se associam ao fracasso dos extrovertidos para estabelecerem ligaes apropriadas com as pessoas desejadas. Podemos ento deduzir que o fracasso em conseguir ligaes com essas pessoas, mais do que a extroverso em si, que deve estar associado a uma baixa da serotonina produzida ou liberada nas sinapses neuronais dessas pessoas.

A idia supe que o meio social normal de todo dia (principalmente os relacionamentos entre pessoas queridas) mantm continuadamente um nvel apropriado de liberao de serotonina. Ora, se a pessoa amada e respeitada pelos que tm importncia para ela, seus nveis de 5HT tendem a ficar mais elevados e, talvez, devido taxa mais alta de serotonina, torn-la menos extrovertida; caso isso acontea, ela se torna mais introvertida que extrovertida. Agora, pensando o oposto do acima descrito: caso a pessoa no consiga as ligaes desejadas, ou seja, haja rejeio, os nveis normais de serotonina abaixam-se diante do fracasso em manter os contatos sociais desejados. Ao mesmo tempo, h uma tendncia ao aparecimento de condutas associadas agresso impulsiva, a maior sensibilidade rejeio, ao pavor de ficar s e outros diversos sinais e sintomas descritos entre os pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline. H um livro sobre os Borderlines com um ttulo interessante, que eu no me lembro de modo exato, mas lembro-me da mensagem: Odeio-te, mas no posso viver sem voc. Esses pacientes, eu j tive alguns, so hipersensveis a qualquer fato mnimo, que so interpretados como rejeio, pouco caso. Nestes casos, caso o casal brigue e os cnjuges se separem, o paciente entra em profundo desespero pela perda; muitas vezes, parte para a agresso do cnjuge e ou para agredir a si mesmo, como, por exemplo, tentando o suicdio; algumas vezes, acaba por suicidar-se.

As idias acima imaginadas como hipteses buscam relacionar os fatores situacionais sociais (perda de contatos importantes) com fatores biolgicos importantes (queda da serotonina liberada) no controle do comportamento. A sabedoria convencional sugere que a conduta est sob controle do inato e do aprendido, ora um, ora outro, o mais forte ou mais poderoso. Se uma pessoa pobre apresenta um nvel baixo de 5HT, algum poderia argumentar que sua pobreza biologicamente fundada. Entretanto, correlao no prova causalidade e possvel que fatores associados pobreza, como a falta de poder, a privao (misria, falta do necessrio vida) das crianas, a dieta pobre, o isolamento social e o emprego que exige grande esforo com baixa deciso, tudo isso poder contribuir para um baixo nvel da serotonina cerebral.

3) Dopamina: sistema dopaminrgico

a) Introduo

A dopamina faz parte dos organismos vivos h perto de um bilho de anos. As idias atuais colocam o sistema dopaminrgico assentado na expectativa de algo, isto , a busca de algo pretendido, inclusive o trmino de uma tarefa no desejada ou desagradvel, como tomar um banho frio ou, pior ainda, terminar a declarao do imposto de renda.

A dopamina liberada nas sinapses neuronais em diversas circunstncias, indo do encontro ansiosamente desejado e esperado at a entrega da declarao do imposto de renda, por ficar livre do mal-estar que ela nos causa. A dopamina, relacionada expectativa de algo, mais liberada quando o animal sai procura de alimento, do sexo ou de qualquer outra coisa pretendida; tambm liberada quando estamos envolvidos numa tarefa chata e desagradvel que queremos ou precisamos terminar, como terminar o trabalho na sexta-feira tarde.

Mas ela liberada ainda quando a mente representa - ainda sem agir - o que se deseja alcanar, ou seja, quando criamos uma viso interna do que pretendemos. Nesse caso, antes do comportamento concreto, ns antecipamos mentalmente o roteiro a ser seguido atravs de uma ou outra conduta. Por isso agimos indo atrs do imaginado, idealizado ou pretendido. A pessoa que produz pouca dopamina tem dificuldade de seguir um caminho determinado por muito tempo.

A funo atual da dopamina do homem - esperar alcanar algo - , seguramente, um desenvolvimento evolucionrio de outros sistemas neuroqumicos mais primitivos que lhe deram origem. Possivelmente, de outras catecolaminas arcaicas como a adrenalina, que antes servia como mediador do alerta do organismo e ou do despertamento metablico. O alerta do organismo nada mais que a demonstrao clara de que o animal est vivo, isto , pronto para agir.

A DA promove respostas no s para a iniciao de aes positivas, mas tambm das negativas; do mesmo modo a NA (noradrenalina) pode aumentar a sensibilidade tanto para os estmulos negativos como para os positivos. De outro modo, diante de uma atividade atraente, como terminar um curso, encontrar a namorada pretendida, casar-se, etc., o organismo aumenta seus nveis de DA e NA nas sinapses neuronais; do mesmo modo, diante de atividades ruins, como estudar para o vestibular, fazer ginstica e, depois, tomar um banho frio, etc., o organismo tambm aumentar os nveis desses dois neurotransmissores para possibilitar as aes do organismo antevendo o trmino da conduta desagradvel, isto , ficar feliz por terminar a tarefa ruim. Portanto, a produo de dopamina sentida pelo organismo como agradvel. No para admirar perceber que sua produo aumenta ao fugirmos de um fato ruim, pois ficamos alegres quanto mais distantes estivermos do fato insuportvel.

Os sentimentos fazem parte da vida diria das pessoas; talvez todos os processos da cognio e da motivao estejam misturados ou comandados pelos estados emocionais experimentadas pelo indivduo. Vrias pesquisas mostraram que a produo mais acentuada de noradrenalina e de dopamina, que elevam o afeto positivo, orienta nossa maneira de pensar, como obter uma melhor e maior criatividade na soluo de problemas, e, tambm, torna mais interessante e agradvel os envolvimentos com pessoas e eventos.

Quando h nveis baixos de competio ou de desafios e exigncias, o aumento de NA (noradrenalina) tende a ser agradvel, entretanto, nos nveis altos de exigncia, o aumento de NA poder causar ansiedade, ou seja, um aumento exagerado ir produzir uma baixa eficincia da conduta e, geralmente, ansiedade.

b) Dopamina; sistema de recompensa e ncleo acumbente

Embora diferentes neurotransmissores se liguem em srie durante o mecanismo de recompensa do crebro humano, talvez a mais importante interao seja a da dopamina do ncleo acumbente, um grupo de neurnios que tem uma relao especial com as recompensas e motivaes; nele se encontra uma das mais elevadas reservas de dopamina de todo o crebro.

O ncleo acumbente localiza-se logo abaixo da parte frontal do estriado, uma parte dos gnglios da base. Os gnglios basais so estruturas importantes do setor subcortical do crebro envolvidas nos movimentos, nas cognies e nas emoes, bem como outras funes. Se o ncleo acumbente lesado em ratos, que normalmente calcam uma alavanca para receber drogas, tais como a cocana, os ratos param de calcar, pois no mais sentem o prazer fornecido provisoriamente pela cocana. A perda de dopamina nos neurnios da substncia negra produz a diminuio dos movimentos, vistos na Doena de Parkinson

O que os anatomistas chamam de rea tegmentar ventral, a literatura psiquiatra chama de sistema mesolmbico dopaminrgico. O que ambos se referem a projeo dopaminrgica das clulas na rea ventral tegmentar (mesolmbica) do crebro mdio (situada medial para a substncia negra) para o estriado ventral, o gnglio basal do sistema lmbico.

Pois bem. Depois dessa srie de termos que voc no precisa memorizar, vamos retornar s explicaes mais teis. Pensa-se que essa projeo est envolvida nos sistemas de recompensa que de algum modo reforam certas condutas. Aparentemente, o alto (T numa boa) produzido pelas drogas est tambm correlacionado com a ativao dessas projees. Alguns pensam que a adio a uma droga pode possivelmente refletir uma contnua escalada na quantidade da droga necessria para ativar a projeo da dopamina (onde os estoques cada vez mais diminuem e, assim, mais estmulos sero necessrios); mas h outras explicaes tericas, como a teoria do defeito semelhante ao transtorno obsessivo compulsivo.

Uma recente pesquisa mostrou que no interior do ncleo acumbente existe mais de uma diviso de funo: a capa e seu miolo, onde cada um desses setores tem funes diferentes. A capa exterior do ncleo acumbente parece estar envolvida sobretudo nas emoes, motivao e dependncia (apetitivo); uma rea com conexes diretas com estruturas do sistema lmbico (sistema emocional). Essa parte (capa) do ncleo acumbente descrita como fazendo parte da amgdala ampliada, formando uma rea importante para a aprendizagem (memria), em parte porque marca a informao vivenciada com um sinal de intensidade que diz ao resto do crebro para prestar ateno e procur-la ou, o contrrio, fugir do encontro. Assim, ora ativado o medo (atravs da amgdala), ora ativada a aproximao (atravs da liberao da dopamina e noradrenalina).

Macacos com leses no ncleo acumbente so incapazes de manter a ateno, o que os impede de executarem tarefas que no os recompensam, afetando, portanto, a motivao. Os macacos com leses buscam o prazer imediato ao comer nozes descascadas, no prevendo os benefcios futuros caso guardem algumas nozes para serem ingeridas posteriormente e no de imediato.

Esse tipo de caracterstica observado nos obesos (comem e no queriam comer), drogaditos (usam drogas sabendo que sero prejudicados), anti-sociais diversos e pacientes com leses em certas regies enceflicas. A meta de longa durao de fazer reserva de alimentos para os perodos de escassez (o que , em ltima anlise, mais importante) incapaz de competir com o irresistvel e desinibido sistema de recompensa que instrui o macaco para buscar o prazer e comer imediatamente a noz descascada; como gastar todo o dinheiro que recebemos com qualquer coisa e depois ele nos faltar para as mercadorias essenciais; comer exageradamente e depois se arrepender pois no queria engordar. O independente (ou impulsivo e dominante) sistema de recompensa dos macacos derrotou (abafou) os sinais sobre o que era o melhor para sobreviver por muito tempo.

A estimulao eltrica dessa rea provoca uma facilitao dos ratos para aprenderem mais depressa e usarem mais reas extensas do crtex durante a aprendizagem (talvez por maior despolarizao e maior descarga de potencial). O sistema de recompensa produz sensaes de prazer e, por isso, atribui um valor emocional positivo a um determinado estmulo (o sorvete; a companhia), e, ao mesmo tempo, nossa memria ativada no instante que estamos nos sentindo bem. De outro modo, ao mesmo tempo armazenado o estmulo da viso do saboroso sorvete e, tambm, o prazer do seu sabor agradvel.

Esses dois estmulos (sabor e viso) so reunidos ou associados e guardados em nossa memria passando a ser procurados conforme nossa fome e dinheiro. Se mais tarde o mesmo estmulo reaparece (sorvete), a memria dessas emoes viscerais fornece uma resposta de alegria (no caso do sorvete) ou de repugnncia (diante do alimento estragado comido que nos levou a uma gastrenterite), isto , conforme o organismo detecta, ao lembrar do caso ou diante dele, o prazer ou o sofrimento tambm aparece. Nesses casos, as sensaes antecipadas do fato, ajudadas pela memria, iro nos levar a produzir um plano de ao para aproximarmos ou fugirmos do alvo cobiado ou temido.

Os viciados em cocana e ou crack tm a sensao interna de que esto alcanando alguma meta, terminando algo difcil. Entretanto, eles esto sendo enganados; obtm apenas a sensao de estar realizando metas importantes, quando realmente no esto fazendo nada. o prprio conto do vigrio, comem gato por lebre, pois na realidade esses viciados em drogas esto se afastando de metas possveis e que poderiam fornecer dopamina e noradrenalina natural, produzidas pelo prprio organismo do indivduo, nas dosagens adequadas.

c) Dopamina e companheiros: afeto positivo e negativo

Alguns autores consideram o afeto positivo e o negativo como extremos de um mesmo continuum. Outros afirmam que durante o afeto negativo a pessoa tem baixos nveis de dopamina. Essas idias esto erradas.

Podemos especular que: 1- o afeto positivo (nimo, satisfao, alerta) est associado ao aumento dos nveis de dopamina cerebral (alm de outros neurotransmissores como a noradrenalina e a serotonina) embora no se possa afirmar que a dopamina cerebral causa os sentimentos de prazer associado ao afeto positivo; 2 - tem sido observada mudana no processamento cognitivo associado ao aumento do afeto positivo; 3 - as pessoas com afeto positivo mais elevado percebem as tarefas de um modo mais agradvel, interessante e mais fceis. A riqueza da tarefa relaciona-se com a sua complexidade, variedade e diversidade e supe-se que o afeto positivo possibilita mais associaes para um mesmo fato; 4 - um afeto positivo mais expressivo ir facilitar a probabilidade de tentar outras solues para um mesmo problema, o que poder obter um melhor resultado final.

De outro modo, o afeto positivo, um pouco elevado (no muito), aumenta a variedade de procuras entre alternativas mais saudveis e agradveis, mais do que entre as perigosas; melhora a performance em diversas tarefas que so indicadoras de criatividade ou inovao na soluo de problemas e cria uma maior memria disponvel (mais lembranas) para agir diante de situaes semelhantes. Por outro lado, o afeto positivo baixo ou achatado provoca o oposto do relatado acima. Uma pessoa pode ter o afeto positivo baixo (pouca dopamina) e o afeto negativo alto (ansiedade devido aos estresses), pode ter os dois afetos altos (animado e nervoso) e, tambm, os dois baixos.

O afeto positivo muito elevado, por exemplo, devido ao efeito de algumas drogas, bem como de algumas psicoses, como o Transtorno Bipolar Manaco, apresenta uma conduta de altssima euforia (alto grau de afeto positivo, de nimo) devido a uma grande produo da dopamina. Nesses casos h um exagero nas aes e metas ao mesmo tempo, o que torna a conduta pouco ou nada eficiente, pois no h um objetivo claro e continuado a ser perseguido.

Ora, se a liberao de dopamina das clulas na rea ventral tegmentar correlaciona-se ao afeto positivo, podemos deduzir que o afeto positivo (entusiasmo pela ao) dever seguir as mesmas regras, isto , ele ser maior quando a recompensa no provvel de acontecer, ou seja, um ganho no rotineiro ou inesperado. H evidncias na literatura cientfica para isso: a produo e elevao do afeto positivo envolvem acontecimentos improvveis de ocorrerem, como receber um presente no esperado, ganhar na sena, ter xito num acontecimento incerto, realizar uma conquista difcil, etc.

A alegria dura pouco. Aps a percepo de entusiasmo e euforia, o organismo produz um freio na produo dos neurotransmissores do afeto positivo. Isso vai impedir o organismo de continuar a gozar indefinidamente o prazer inicial. O prprio organismo produz essas substncias/freios, ou seja, os antagonistas das substncias liberadas. Esses tm como funo inibir o prazer obtido. H, nesses casos, uma diminuio das aes j em andamento visando o objetivo inicial e queda no prazer obtido pelo alvo (alimento, sexo, conversa) consumido.

No difcil lembrar de situaes que mostram o descrito acima. Uma comida saborosa torna-se, depois de algum tempo, indigesta, uma gua apetitosa intragvel aps alguns goles, etc. Aps certo tempo de consumao o alimento desejado ardentemente (a gua, o sexo, o esporte, o bate-papo, etc.), bem como o prazer sentido, interrompido e passamos a ter mais vontade de escapar do antes desejado. Todos ns percebemos que um relacionamento altamente cobiado provoca grandes emoes de prazer no seu incio (maior liberao de dopamina). Entretanto, aos poucos, ele vai ficando pfio e sem graa (menor produo de dopamina). Alguns crem que um amor muito intenso inicial, uma paixo avassaladora (acredito que, tambm, outras paixes, como ser mdico, ser proprietrio de um stio, a compra do primeiro carro, etc.), associa-se a uma alta produo de dopamina no seu incio, alm de uma baixa liberao de serotonina, levando o indivduo a se tornar impulsivo e obsessivo (ficar pensando obsessivamente na amada ou no carro). Entretanto, logo aps os primeiros encontros (ou os primeiro dias no belo stio, praia, consultrio), ao aumentar a serotonina, a paixo diminui e, muitas vezes, termina.

H estudos mostrando que os obesos poderiam ter, geneticamente, transtornos em alguns dos neurotransmissores e ou nos receptores, semelhante ao explicado anteriormente. Suspeita-se que nesses casos haveria pouca ou nenhuma produo dos antagonistas do prazer, isto , haveria uma ausncia da produo do freio; o obeso continuaria o prazer de comer muito. Uma segunda hiptese acerca dos obesos a de que, apesar dos antagonistas serem produzidos e liberados nas quantidades normais, eles teriam pouca ou nenhuma ao em virtude de um defeito nos receptores, isso , esses no responderiam s ordens de frear. O receptor o local onde o neurotransmissor liberado ir agir, ou melhor, interagir. A substncia qumica do neurotransmissor interage com a substncia do receptor, dando origem, neste ltimo, a estimulaes ou inibies. Parece ocorrer um fato semelhante com alguns alcolatras; eles s sentem o bem-estar da bebida.

De todos os rgos dos sentidos, o olfato parece ser o que mais direta e imediatamente produz uma resposta afetiva. Estudos mostraram que os odores agradveis no induzem, necessariamente, afetos positivos. Por outro lado, os odores agradveis ajudam a conduta e melhoram a atuao em tarefas variadas, da mesma maneira como outras estratgias produzem afetos positivos, como ouvir certa melodia ou poesia, assistir a uma bela dana, a um jogo e, ainda, receber um presente, de preferncia no esperado... O odor desagradvel e a dor podem produzir a emoo raiva, por isso comum xingar um nome feio aps bater o joelho na mesa ou cortar o dedo ao descascar a laranja e ficar mais agressivo num ambiente com mau cheiro.

Um outro aspecto diz respeito ao tempo de durao da descarga de dopamina aps sua liberao. A dopamina nas clulas VTA (projeo dopaminrgica das clulas na rea ventral tegmentar (mesolmbica)) so liberadas apenas por alguns segundos diante de uma recompensa. Entretanto, a elevao do afeto positivo causado pelo presente permanece por 30 minutos ou mais. As explicaes falam que a estimulao de uma rea cerebral por 10 segundos aumenta a liberao de dopamina na rea do ncleo acumbente por mais de 30 minutos. Desse modo, a dopamina continua a ser liberada aps a parada da estimulao.

No caso do sistema dopaminrgico ser danificado, o animal exibir, como resultado, um comportamento de inrcia. Por outro lado, se o sistema intacto for estimulado, eltrica ou farmacologicamente, diversas aes e mudanas fisiolgicas so revigoradas. Podemos afirmar que a excitao desses circuitos altera a sensibilidade habitual dos sistemas sensoriais importantes e essenciais para que haja ordem e coerncia nos comportamentos provocados ou despertados.

A excitao eletricamente induzida do sistema dopaminrgico leva a um processamento cortical mais efetivo relacionado s reas despertadas, como a da alimentao, sexo, companheirismo, perigo, etc. O contrrio verdadeiro. A diminuio, como a existente no Transtorno de Dficit de Ateno, leva o portador a uma constante mudana da ateno por no conseguir fix-la no objetivo pretendido ou iniciado. Parece haver, tambm, uma menor capacidade para fixar, ao mesmo tempo, diversas metas possveis.

O afeto negativo (AN) ou desagradvel no simplesmente o oposto do afeto positivo (AP) na conduta ou na cognio; ele parece ser mediado por sistemas diferentes dos relacionados ao afeto positivo. A diminuio da dopamina relaciona-se, sim, com anedonia (com a menor intensidade da emoo ou afeto positivo), isto , com um afeto achatado, com a perda do prazer e sem vontade (ablico), com a depresso. A pessoa deprimida, mesmo levemente, tem sua habilidade diminuda ao resolver dificuldades, pois pensa lentamente, tem suas representaes mentais mais pobres e uma imaginao mais negativa. Os antidepressivos, quando produzem resultados, transformam a maneira de enxergar e decifrar o mundo do deprimido. O leitor deve ficar ciente que essa hiptese acerca da depresso catecolaminrgica limitada e incompleta.

No afeto negativo ocorrem emoes ou afetos diversos, todos eles desagradveis, geralmente associados aos eventos estressantes enfrentados como ansiedade (medo), fobia, raiva, dentre outros.

No raro ocorrer esse quadro de indiferena, preguia e pouca produtividade nos indivduos que usam medicamentos para hipertenso arterial, para diminuir o colesterol, para combater a ansiedade, insnia e para alergia (anti-histamnicos), bem como outros. Por fim, chamo a ateno, especificamente, para algumas drogas receitadas por todos os psiquiatras; algumas delas conhecidas tambm pelo pblico. Essas drogas so medicamentos que tm efeito oposto ao da cocana e da anfetamina, isto , eles provocam, no uma euforia e bem-estar, mas sim o mal-estar, o desnimo. Esse quadro de apatia provocado pela depleo (queda do neurotransmissor) da dopamina no ncleo acumbente. Entre esses medicamentos psiquitricos esto os utilizados nos tratamentos de pacientes portadores de esquizofrenias, manias e outras agitaes: Haldol ou Haloperidol, Amplictil, Stelazine e diversos outros.

Esses medicamentos, alm de bloquearem os efeitos da dopamina (antagonistas), tambm produzem efeitos bizarros, como os de movimentos disfuncionais, aumentando a dificuldade para aprender e recordar, levando esses pacientes, com frequncia, a serem menos motivados. Em todos esses casos nota-se, frequentemente, uma diminuio do afeto positivo e, portanto, desnimo, cansao, menor capacidade fsica e cognitiva; esses sintomas e sinais variam com a pessoa e a dosagem. Esse quadro melhora diminuindo ou interrompendo a medicao e, tambm, atravs do uso de algumas substncias, entre elas o biperideno, usado tambm para o tratamento da Doena de Parkinson. Este medicamento tem como funo aumentar a liberao da dopamina.

Os circuitos emotivos podem ser estimulados por percepes de coisas, fatos ou eventos do meio que ficaram condicionados (ligados) ou associados ao prazer ou sofrimento no instante do fato. O sistema mesolmbico dopaminrgico exibe uma liberao vigorosa de dopamina durante a fase antecipatria do comportamento condicionado apetitivo, isto , antes do indivduo alcanar a meta desejada, como o bife suculento. Nesse caso, vrios fatores do meio, que antes eram neutros, se tornam ligados aos prazeres ou aos sofrimentos surgidos. No caso do bife a pessoa pode lembrar dele diante de um cheiro semelhante, ao passar pelo restaurante onde comeu o bife, ao conversar sobre comida gostosa, etc. Todos ns temos nossas recordaes alegres, tristes ou de entusiasmo ao escutar certas melodias que foram ouvidas durante nossos perodos de felicidade ou de sofrimento.

d) Dopamina; Memria, Hipocampo e Acetilcolina

O hipocampo uma estrutura do lobo temporal que necessria para a consolidao da memria episdica (memria de episdios como o primeiro dia de aula, etc.). O funcionamento normal do hipocampo (desse setor da memria) depende criticamente dos neurotransmissores acetilcolina e dopamina. Os estudos mostram que a diminuio desses neurotransmissores (uso de medicamentos antipsicticos, Doena de Parkinson, Alzheimer) produz problemas de memria. Tudo indica que a dopamina - liberada durante o aumento do afeto positivo -, por sua vez, leva a um aumento da liberao da acetilcolina no hipocampo.

Parece que o material neutro que armazenado na memria organizado em torno do afeto positivo ou negativo, especialmente nos casos extremos. Lembramos dos fatos devido s emoes que eles nos provocaram. Entretanto, em circunstncias normais, a maioria das pessoas utiliza, muito mais, os afetos positivos e no os negativos para organizar e armazenar a memria. Se bem que muitas pessoas aparentemente gostam das emoes chamadas negativas, como as provocadas pela viso dos filmes de horror, aventura e ao, assistir jornais na TV ou mesmo ao vivo e catstrofes de arrancar lgrimas, todas essas podem despertar as pessoas. Nos filmes h quase sempre a provocao de ansiedade, medo, horror, raiva, tristeza e mesmo de desgosto. possvel que esses estados liberem mais dopamina.

Se esses estudos so corretos abre-se uma nova hiptese de melhorar nossa memria: basta aumentar as nossas fontes de prazer e diminuir as nossas emoes negativas. De modo simples, converse com seu organismo, faa um plano: procure as tarefas e as companhias que pem voc numa boa e calmo e, por outro lado, fuja das tarefas que te causam mal-estar e, principalmente, extermine todos os chatos de sua vida, isto , no mais se emocione com eles, trate-os distncia e com absoluta calma. Tudo muito fcil. No ?

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