MARX Democrito e Epicuro

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    EiHbora escrlea numa lingua-gem perfeltamente hege-han a .f. multo influe.nciada ainda ,pela filosof.ia

    de Hegel, esta obra deixa ja entrever a ortgmatldadede Marx: em relacao ao pensamento do c(mestre. Afllosofia ea reltgiao sao mccmpattvers e aquela, mse-rlda 110 peal eo empenhada na destruicao dos mites,encaminha-se ja ao sentido de um.a praxis actuante.

    Revela-nos este texto a profunda acuidads crittcae 0 rigor intelectuai que i:riio caracterizar as pbraf:;de maturudade do autcr.

    Aoempreender a edi~ao dsste prtmelro tr8!BalhOde Kat! Marx - a tese 'die doutoramentc que, em 15de Abril de 1841, apresentou na Unlversrdade de rena-- fOI nos sa .inte.nl;ao tornar publtoo um docurnentocuio interesse nao nos. parece merarnente aeademtco ;vemos nele pelo contrarto, urn clemente iroportantepara uma compresnsao oorrecta da evolucao do pen-sarnento de Marx.

    r-!CLASSICOS

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    COLECQAO CLASSICOS

    ),

    KARL MARX

    DIFEREN(_;AENTRE

    AS FILOSOFIAS DA NATUREZAEMDEMOCRITO E EPICURO

    Tra4uC;c'io deCONCEI

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    Desculpar-rne-a, meu muito querido amigo pa-ternal, por colocar 0 vosso tao querido nome numaobra insignificante. Nao conseguiria esperar por umaoutra ocasiao para vas dar um fraco testemunho ci aminha afeicao.Possam todos aqueles que duvidam da ideia ter,como eu, a felicidade de adrnirar um anciao cheiode forca juvenil, que saada cada progresso ci a nossaepoca com 0 entusiasmo e a prudencia que caracteri-zam 0 amor a verdade e que, irnbuido desse idealismoprofundarnente seguro e lurninoso que conhece averdade e perante 0 qual comparecem todos os espi-ritos do mundo, nunea recuou frente a s sombrasdos fantasmas retrogrades ou ao ceu par vezes cheiode sombrias nuvens cia nossa epoca, mas que, comuma energia divina e um olhar resoluto, nuncadeixou de contemplar 0 cmplreo que, apesar dosseus disfarces, arde no coracao do mundo, Vo s , meupaternal amigo, fostes sempre para mim urn vivoargumentum ad oculos 1 de que 0 idealismo nao euma ficcao mas sim uma verda de.

    Nao 6 necessario desejar-vos 0 bem-estar fisico.Foi ao espirrto, esse grande e rnaravilhoso medico,que v6s vas confiastes.

    1argumentum ad octl-los,' expreesao latina quss1gnlflca edemonstracuo evidente. (N. d08 T.)

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    PREFACIO

    A forma do presente estudo teria sido mais rigo-rosamente cientiiica e, por outro [ado, menos pedant eem certas passagens, se 0 seu obiectivo nao fosse ade constituir uma tese de doutoramento. Porem, houverazoes que me levaram a imprimi-la; julgo ter resol-vido um problema, a t e aqui insoluvel, da historicda [ilosoiia grega.Os entendidos sabem que nao existem trabalhosanteriores que possam ser utilizados como base paraeste estudo. As tagarelices de Cicero e de Plutarcoioram incessaniemente repetidas ate ao dia de hoje.Gassendi, que libertou Epicuro do ostracismo a quetinha sido votado pelos padres da Igreja e par toda aIdade Media, a epoca do irracionalismo, s o apresentaem toda a sua exposicdo esse aspecto interessante.Procura conciliar a sua t e cotolica com a ciencia pagii,Epicure com a Lgreja, 0que e certamente tempo per-dido. E"como se se quisesse vestir 0 corpo esplendidoe [lorescerue de uma Lais grega com 0 hdbitode uma irdra crista. Em ve z de nos cnsinar alga sabrea [ilosoiia de Epicuro, e dele que Gassendi recebelicoes de filosofia.Devera considerar-se este traballio como urn es-boca de uma obra mais importante mule exporeidetalhadamerue a ciclo das [ilosoiias epicuristas, es-toica e ceptica, lUIS SIMS relacoes com 0 coniunto daespeculaciio grega. As falhas deste estudo relativa-mente a forma, etc., seriio eniao suprimidas.

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    E verdade que Hegel detcrminou no scu conjunto,e com exactidao, 0 elcmento geral dcstes sistemas;mas a admiravel grandeza e audacia da sua hisioriada [ilosoiia, que marca 0 nascimeruo propriamentedito dessa rnesma historia, impedia-o de entrar emdetalhes. Par outro {ado, a sua concepcao do quechamava espcculativo par excellence ~ ndo permitiaque este glgantesco pensador reconhecesse nesses sis-tenias. a enorme importdncia que tern para a historiada iilosoiia grega e para 0 espirito grego em geral.Tais sistemas sa o a chave da verdadeira historic do.iilosoiia grega; e sobre as suas relacoes com a vidagrega pode=encorurar-se um esboco bas/ante pro-[undo ITa obra do sell amigo Koppen intituladaFrederico a grande e os sells adversaries.Se acrescenteiem apendice LN11Q critica do. pole-mica de Plutarco contra a teologia de Epicuro, [oiporque esta polemica nao constitui urn [enomeno iso-lado; e, pelo corarario, urn born exemplo daquiloque ulna mentalidade teologizante pode [azer it [ilo-sofia.Entre outras coisas, ndo nos preocupamos coma [alsidade generica do ponto de vista de Plutarcoquando arrasta a filosofia para 0 tribunal da reli-giiio a tim de a iulgor. Tudo 0que dissermos sobreiszo pode ser substituido pela seguinte passagem deDavid Hume: E certamente uma inuuia obrigar a[ilosoiia, cuja autoridade soberana deveria ser reco-nhccida em todo 0 Iado, a defender a Sua causasempre que se ndo aceitam as consequencias queorigina ou a iustijicar-se perante toda a arte ouclencia que possa cltocar. E 'Como se acusdssemosum rei de ter otraicoado as sew: proprio interessesA [ilosojia, enquanto lhe restar lIlIna gota de san-gue para [azer baler 0 sell coraciio absolutament e

    Em rrances no texto original. (N. doe T.)

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    livre que submete a univcrso, nunca deixard de lancaraos seus adversdrios 0 grito de Epicuro: 0 impioniio (; aquele que [a: tdbua rasa dos deuses do. mul-tidiio mas aquele que [abrica os deuses. das represen-tacoes da multidaos [Diog. X 123].A iilosoiia nao se esconde; [az sua a proiissiiode f( ; de Prometeu:Numa palavra, odeio todos os deuses (PrometeuAgrirhoado) [Esqujlo 975]: esta proiissdo de Ii Ii a

    divisa que opoe a todos os deuses do Cell e da terraque niio reconhecam como divindade suprema a cons-ciencia de si que Ii propria dos homens. Esta cons-ciencia de si nd o tem qualquer rival.Mas aqueles que [ubiiam com 0 espectaculo daaparente degradadio da situacdo social da [iloso[ia,esta responde com 0 que Prometeu disse a Hermes,servidor dos deuses:Fica a saber que ndo trocaria a minha desgracapela tua servidao. Mais vale estar preso a este rochedodo que ser 0 iiel mensageiro de Zeus, tell pai!(Prometeu Agrilhoado) [Esquilo 966].No calendario [ilosotico, Prometeu ocupa 0 pri-

    meiro luger entre os santos e os mdrtires.

    B e rlim , M a r 'Y ode 1841.

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    ESBOCO DE UM NOVO PREP ACIO

    A dissertacao que dou a conhecer ao publicoe urn trabalho antigo e 56 devia ter lugar nurnaexposicao de conjunto das filosofias epicurista, estoicae ceptica.

    Ocupacoes pollticas e filos6ficas de urn outro tipoimpediram-rne de pensar na execucao dessa obra,

    S6 agora chegou a altura de cornpreender ossistemas dos epicuristas, dos estoicos e dos cepticos.Foram os fil6sofos da consciencia de si. Estas linhasrevelarao pelo mC'IlOS 0 pouco que conhecemos deles.

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    SUMARIOPRIM EIRA PARTE

    DIFERENCA, DE UM PONTO DE VISTAGENERICO, ENTRE AS FILOSOFIAS DANATUREZA EM DEM6CRITO E EPICURO1- Objecto do Estudo.II - Opinioes sabre a relacao existente entre afisica de Democrito e a de EpicureIII - Dificuldade de identificacao da filosofia daNatureza de Democrito com a de EpicuroIV - Diferenca generica entre os principios dasIilosofias ci a Natureza de Democrito e de

    EpicureV - ResultadoSEGUNDA PARTE

    DlFERENCA CONSIDERADA NOS SEUSPORMENORES ENTRE AS FILOSOFIAS DANATUREZA EM DEM6CRITO E EPICUROPRIMEIRO CAPiTULO: A declinacao do atorno cia

    linha recta.SEGUNDO CAPITULO: As qualida de s do atorno.TERCEIRO CAPITULO: Atornos principios e ato-

    rnos elementos).QUARTO CAPiTULO: 0 tempo.QUINTO CAPiTULO: Os Meteoros.

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    APNDICE

    CRtTICA DA POLE-MICA DE PLUT ARCOCONTRA A TEOLOGIA DE EPICURO

    NOTA PR~VIA:

    I-A relacao do homem com Deus1. 0 rnedo e 0 ser transcendente2. 0 culto e 0 mdividuo3. A providencia e 0 Deus degradado

    II-A imortalidade individual1. Sobre 0 Ieudalismo religiose. 0 infernoda populaca2. A nostalgia da multidao3. 0 orgulho dos eleitos

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    PRIMEIRA PARTE

    DIFERENCADE UM PONTO DE VISTA GENERICO,ENTRE AS FllOSOFIAS DA NATUREZA

    EM DEM6CRITO E EPICURO

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    IOBJECTO DA DISSERTACAO

    Parece acontecer a filosofia grega aquilo 'que naodeve acontecer numa boa tragedia: urn desenIacesufocado 3, Com Aristoteles, 0 Alexandre d a Mace-donia da filosofia grega, parece terminar, na Grecia,a hist6ria objectiva da filosofia; mesmo os estoicos,apesar da sua decisao viril, nao conseguem, tal comoo fizeram os Espartanos nos seus templos, prenderAteneia a Heracles de forma suficientemente solidapara que aquela nao pudesse Iugir.Os epicuristas, os est6icos e os cepticos sao con-sider ados como lJ[U apendice quase incongruente, semrelacao alguma com aquilo que afinal constitui assuas poderosas .premissas. A Iilosofia epicurista seriaurn agregado sincretico da flsica de Democrito e damoral cirenaica; 0 estoicismo uma mistura ci a espe-culacao sobre a natureza no estilo heraclitiano, daconcepcao cinico-etica do mundo e de uma pequenaquantidade de 16gica aristotelica; 0 cepticismo, final-mente, constituiria 0 mal necessario que se teriaoposto a esses dogmatismos, Sem 0 saber, relacio-

    8 Depois de 'desenlace', encontra-ss a seguinte pas-sagem, rasurada : um final mcoerente'. (N. da ed~a;oaJ.t1mii,)

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    narn-se assim aquelas filosofias com a filosofia ale-xandrina, dando-lhes uma aparencia de ecleotisrnounila teral e t en de nc i os o, Quanto a Ii lo so fi a a le xa n-dr ina , e considerada como ur n simples devaneio euma total desagregacao - urna embrulhada onde sepoder ia quanta muito reconhecer a universalidaded a in tencao.Constitui urna verdade banal a afirrnncao de queo nascirnento, 0 desenvolvimento e a morte formamo circulo de bronze a que estao confinadas todasas coisas humanas e que estas devem percorrer inte-gralrnente, Nao adrnira entao que a Iiiosofia grega,depois de ter atingido 0 seu cume mais elevadocom Arist6teles. tenha em seguida decaido. Mas amorte dos herois assemelha-se ao por do sol e naoao rebentar de uma r a que tenha inchado.Mais ainda: 0' nascirnento, 0 desenvolvirnentoe a morte sao representacoes dernasiado gener icas,demasiado vagas, nas quais se pode incluir tudo masque nfio dao a conhecer asparticularidades de coisanenhuma, A pr6pria morte forrna-se a partir dovivo; a figura da rnorte deveria portanto, tal como ada v ida . set compreendida como caracter especlfico,o epicurismo, 0 estoicismo e 0 cepticismo seraohistoricarnente fen6menos particulates? Nao seraoos prototipos dO ' espirito romano? A forma sob aqual a Grecia ernigra para Roma? Nao terao urnaessencia de tal modo caracteristica, intensiva e etemaque 0 proprio mundo moderno foi obr igado a con-ceder-lhes direitos de cidadania intelectual?

    S6 insisto neste ponto para recordar a impor-tancia historica destes sistemas; mas 0 que preten-demos tratar aqui nao tern que ver com essa irnpor-t:mcia para a civilizacao om geral m as sim com asrelacoes entre eles e a Iilosofia grega anterior.NaO ' deveriarnos ser incitados a investigar esS.3.Spossiveis relacoes ao verificarrnos que a filosofia gregatermina em dois grupos diferentes de s is te m as e cle c -

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    ticos, urn dos quais constitui 0 cicIo das filosofiasepicurista, esto ica e ceptica e 0 outro e conhecidosob 0 nome de especulacao alexandrina? Por outroIado, nao sera bastante notorio 0 facto de, apos asfilosofias de PIa tao e de Aristoteles, que se desen-volvern ate alcancar a totalidade, entrarem em cenanovas sistemas que em vez de se apoiarem nessasricas construcoes do espirito vao olhar mais paratras, para a s escolas mais simplistas - as filosofiasda natureza para a fisica, a escola socratica para aetica? Qual a razao de os sistemas posteriores aAristoteles encontrarern num passado tao remote osseus elementos fundamentals, per assirn dizer, jaclaborados e prontos? Que aproxirna Democrito dosCirenaicos e Heraclito dos Cinicos? Sera por acasoque para os epicuristas, 0& estoicos e os cepticostodos os mementos da consciencia de si sejam repre-sentados na sua integral ida de, mas cada mementocomo uma existencia particular? Que esses sistemastornados em conjunto forrnem a construcao com-pleta da consciencia de si? E quanta ao caracterque da a Iilosofia grega a sua tendencia miticaconcretizada nos Sete Sabios, 0 caracter que, en-quanta ponto central desta Iiiosofia. se encarna emSocrates, seu demiurao, isto e . 0 caraoter do sabio-do sophos - sera por acaso que de e afirmadonestes sistemas como sendo a realidade efectiva daverdadeira cicncia?

    Parece-rne que. se os s is temas anteriores sao ma i ssignificativos e mais interessantes para a analise doconteudo da filosofia grega, os sistemas pos-aristo-telicos, e sobretudo 0 cicio das escolas epicurista,estoica e ceptica 0 sao ainda mais para 0 estudoda forma subjectiva .. 0 caracter desta filosofia. Foijustamente a forma subjectiva, 0 suporte espiritual Idos S iS tOO1a .Silosoficos. que a te agora se e sq ue ce u Itotalmente em proveito das determinacoes metafi-sicas desses sistemas.

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    Reservo este ponto para urn estudo mais deta-Ihado que apresentara as filosofias epicurista, estoicae ceptica no seu conjunto e na totalidade das suasrelacoes com a filosofia grega anterior e posterior .Limitar-me-ei aqui a desenvolver 0 estudo destasrelacoes atendo-me a urn unico aspecto, a sua re-lacao com a especulacao anterior, e tomando porassirn dizer urn exemplo.

    \Escolho como exernplo a relacao e~tre a !ilosof!ada natureza de Epicuro e a de Dernocrito. Nao creio

    que este seja 0 ponto de partida mats comedo, ComI efeito, por urn lado, adquiriu-se 0 h~bito de identi-I 'flcar as fisicas de Dem6crito e de Epicure, ao pontode apenas ver nas modificacoes realizadas por Epi-curo simples iniciativas arbitrarias: por outro lado,sou obrigado a entrar, no que que diz respeito aosdetalhes, em a pa rentes micrologias. Mas e justa-mente por este habito, este preconceito, ser ta oantigo como a historia da filosofia, por as diferencasestarem tao escorididas que s6 se revelam aD micros-copio, que 0 resultado sera tanto mais importantese conseguirrnos demonstrar a existencia de urnadiferenca essencial, estendendo-se ate aos porme-nores, entre as fisicas de Democrito e de Epicure - eisto apesar das suas conexoes, Aquilo que se podedemonstrar ao nive) dos detalhes pode se-lo aindamais facilmente quando se consideram as relacoesnum sentido mais amplo; inversarnente, as consi-deracoes dernasiado genericas deixam subsistir a du-vida de que 0 resultado se confirme no pormenor.

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    nOPINIOESSOBRE A RELACAO EXlSTENTEENTRE A FtSICA DE DEM6CRITO

    E A DE EPICURO

    As diferencas genericas entre a minha opiniao eas opinioes precedentes saltarao aos 01b05 se obser-varmos rapidamente aquilo que os antigos pensa-yam sobre as fisicas de Dernocrito e de Epicuro.Possidonio 0 estoico, Nicolau e Socion criticamEpicuro por ter dado como sua a teoria de Demo-crito sobre os atomos e a de Aristipo sobre 0 prazer .Cotta, 0 acadernico, pergunta numa obra de Cicero:Havera alguma coisa na flsica de Epicure que naopertenca a Dernocrito? E certo que Ihe rnuda a .] ,gUl~sdetalhes mas, no essencial, repete-a v. E 0 pr~pfloCicero afirma: Na fisica, onde e mais pretensioso,Epicuro torna-se urn perfeito barbaro, A maior partee obra de Democrito: e onde se afasta deste, onde 0quer rnelhorar, corrompe-o e altera-o 0_ No en~nto,se bern que muitos critiquem Epicuro por ter insul-

    D!6g. X 4. (N. do Autor)~ Cicero, De; natura deorum I, XXVI 73. (N. doAutO'l") .

    o Cicero. De finibuS bonorum malorum I, VI 21.17. 18. (N. do Autor)

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    tado Democrito, Leoncio afi rma , baseando-se emPlutarco, que Epicuro considerava Dem6crito comotendo antes dele professado a verdadeira doutrinae descoberto os principios cia natureza T. Na sua obraDe placitis philosophorum, diz que Epicure e , emfilosofia, discipulo de Dem6orito 6. Plutarco, no seuColoten, vai rnais longe, Cornparando Bpiouro a De-mocrito, Empedocles, Parrnenidcs, Platiio, Socrates,Estilpon, aos cirenaicos e aos academicos, procurademonstrar que, de toda a filosofia grega, Epicurose apropriou do falso e nao compreendeu 0 verda-deiro ": 0 tratado De eo quod secundum Epicurumnon beate vivl POSSil formula igualmente insinuacoesmalevolas deste tipo.

    Reencontramos esta opiniao desfavoravel dosautorcs antigos nos padres c ia Igreja, Apenos cito,em nota, uma passagern de Clemente de Alexandria 10,urn padre da Igreja que merece ser referido em par-ticular na medida em que interpreta o preconceitodo apostolo Paulo contra a filosofia como urn pre-concerto contra a filosofia epicurista por esta nuncater deiirado com a providencia e outras coisas domesmo tear 11. Mas a tendencia para acusar Epicurode plagio surge da forma mais chocante em SextusEmpiricus, que considera como fontes principals da

    T Plutarco, Adversu.s Coloten 1108,3 (cf. 1111,8)(N. do Autor).

    B Pseudo-Plutarco, De placitis philosophorum 877 D.(N. do Autor).

    o Plutarco, Adversus Colo ten. 1111, 1112, 1114, 1115,1117, 1119, 1120 e segs. (N. do Autor )10 Clemente de Alexandria, Stronata. VI 2, 27.

    (N. do Autor).11 eb., 1, 11, 50, 5 e segs. (N. do Autor)

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    filosofia epicurista algumas passagens cornpletamenteinadequadas de Romero e de Epicarrno 12.Como se sabe, Q .S escritores rnodernos tambernconsideram Epicure, enquanto filosofo da natureza,como urn simples plagiador de Democrito, A seguintefrase de Leibniz traduz bern a opiniao de todos eles:Nous ne savons presque de ce grand hornrne(Democritc) que ce qu'Epicure en a emprunte,qui rr'etait pas capable rl'en prendre toujours lerneilleur 13-14.

    Se portanto, segundo Cicero, Epicuro corrompea doutrina de Democrito conservando embora a von-tade de a melhorar e de Ihe vcr os defeitos, sePlutarco 16 0 acusa de inconsequencia e de umapropensiio para 0 erro, indo ao ponto de suspeitardas suas intencoes, Leibniz chega mesmo a negar-lhecapacidade para Iazer extract os de Dernocrito.Mas todos concord am num ponto: Epicure foibuscar a sua flsica a Dernocrito.

    12 Sextus Ep,il'icus, Adversu.,s Mathematicos I 273.(N. do Anto'r).

    l' Leibniz, Die phHo80phischen Schrilien, p. 536.(N. do A1dor).

    14 "Grande parte da.quilo que conhecemos dessegrande homem (Dem6crito) e que Epicuro deleaproveitou, e est nero sernpre a,proveitou melhor.Em fr-ances no texto origina.l. (N. dos T.)15 Plutarco, Adv6rsus Colci en, 1111,8. (N. do Auto.,.)

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    IIIDIFICULDADE DE JDENTIFICA(::AODA Fll...OSOFIA DA NATUREZADE DEM6CRITO COM A DE EPICURO

    Alern destes testemunhos historicos, M nume-rosos argumentos que apoiam uma identificacao dasfisicas de Democrito e de Epicure, Os principios-atomos e vazio - sa o incontestavelrnente os mes-mos: e so em alguns detalhes parece exisair umadiferenca arbitraria que, por isso rnesmo, nao eessencial.Mas aparece-nos entao urn enigma estranho e in -soluvel, Embora os dois filosofos ensinem precisa-mente a mesma ciencia e 0 facam de forma bastantesemelhante, eles opoem-ss diametralmente - que in-consequencial - em tudo 0 que diz respeito a ver-dade, a certeza, a aplicacao dessa ciencia e a srelacoes entre 0 pensamento e a rea 1ida de em geral,Afmno que &e opoem diametralmente; vou agoratentar demonstra-Io,

    A) A opiniao de Dem6crito sobre a verdadee a certeza do saber humano parece difieil de des-cobrir. Encontrarn-se passagens contraditorias; oumelhor, as ideias de Dernocrito e que sa o contradito-rias, Com efeito. a afirmacao de Trendelenburg noseu comentario a psicologia de Aristoteles segundo a143

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    qual este pensador ignora essa contradicao e. so DSautores que the SaD posteriores tern conhecimentodela, e inexacta. Le-se na Psicologia de Aristoteles:Dernocrito considera a alma e 0' entendimento comouma mesma coisa, dado que para ele 0' fen6meno eo verdadeiro IG; e na Metaiisica afirrna-se 0 con-trario: Democrito diz que nada e verdadeiro, ouque 0 verdadeiro nos e escondido 17. Estas passa-(lens de Aristoteles nao se coutradizem? Se 0 Ieno-~eno e 0 verdadeiro, como podera 0 verdadeiroset-nos escondido? 0 set-escondido s6 corneca ondeo Ienorneno e a verdade se separarn. Ora Diogenes.Laercio relata-nos que Democrito foi consideradocomo ceptico. E cita as suas palavras: No que dizrespeito a verdade nao sabemos nada, pois ela en-contra-se no fundo do PD~O')} l~ Podemos ler amesma afirrnaciio ern Sextus Empiricus 1P,Esta opiniao de Dernocrito, ceptica, vaga e nofundo contraditoria consigo mesma, s6 e desenvol-vida mais amplamente na mancira como e detcrmi-nada a relacao do tuomo com 0 mundo dos [eno-menos sensiveis.Por urn lado, 0 fen6meno sensivel e extrinsecoaos atomos. Ele nao e um [enomerto obiectivo massirn urna aparencia subiectiva. O s princlpios verda-deiros sao os atomos e 0 vazio; tudo 0 rcsto e opiniaa,aparencia 20. 0 frio so e frio e 0 quente so equentz segundo a opiniao; pelo contrario, os atomos

    16 Arrstoteles, de anima 401 a 28 e segs. (N. doAutor ) .17 Arist6teles metajisica 1009 b 11 e segs, [notade Marx: nest a pa.8sagem. eXp1'ime-sc alias a contraJi--

    9ao da pl'6pria meta/is/,ca] (N, do Attior).lS Di6g. IX 72. (N, do Auto?').19 Ritter, Gcsclviclite des Plnloeopliie alter Zeit,p, 57l. (N. do Autor ),20 Di6g. IX 44. (N, do Autor ),

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    e 0 vazio sao-no de verdade 21. Nao se deve afir-mar que uma coisa resulta da pluralidade dos a tomosmas sim que, pela combinacao dos atornos, toda acoisa parece tornar-se una n. Logo. a razao so deveconsiderar os principios que, devido a sua pequcnez,sao inacessiveis a vista; e por isso que se lhes chamaideias 23_ Mas por outro lado 0 fen6meno sensivel6 o vunico objecto verda dei ro, e a aisthesis e aphronesis (percepcao sensivel.i. opiniao); mas esteverdadeiro transforma-se, Ie instavel, e urn feno-meno. Ora dizer que 0 fenomeno constitui 0 ver-da deiro e contraditorio 24_ Assim, cada um dessesdois aspectos se torn a ., alternadamente, subjectivee objective. Os dois termos dacontradi~ao pa-recem manter-se separados pelo

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    to's do verdadeiro 21. Nada [lode rejutar a percepcaosensivel; 0 semelhante na,o pode refutar aquilo quese lhe assemelha pois ambos tern uma validadesernelhante, 0 dissernelhante nao refuta 0 disseme-lnante pois nao se referem a rnesma coisa e, quantoao conceito. tarnbem nao 0 faz vis to que dependedais percepcoes sensiveis 2S. Mas enquanto Democritoreduz 0 mundo sensivel a aparencia subiecti va, Epi-curo faz dele urn [enomeno obiectivo. E Epicuro. fa-Io conscientemente, pais afirrna partilhar os mes-mos principios mas nao [azer da s qualidades sensl-veis simples objectos da opiniiio 2~,Se 6 entao verdadeiro que a percepcao sensivelfoi 0 criterio de Epicure e que 0 fen6meno objectivolhe corresponde, teremos de considerar como exactaa consequencia que fez Cicero encolher as oznbros.0 sol parecegrande a Democrito porque este e urnsabio e urn hornem versado em geornetria; e parece aEpicuro ter dois pes de diametro, pois este julgaque ele e tao grande quanto pareces 30.

    B) Esta. dijerenca nos iuizos teoricos de Demo-crito e de Epicure sobre a certeza da ciencia e averdade dos seus objectos realiza-se ejectivamentena disparidade da energia e da prdtica ciemijicade ambos.Democrito, para quem 0 0 principia nao entra nofen6meno, mantendo-se sem efectividade e sem exis-

    Z1 Cicero, De natura. Deorum I, XXV 70; cr. De!inibus bonoTum malorum I, VII 22; Pseudo-Plutarco,De placitiB philosophorum, 899F. (N. cl D Autor)

    ZS Di6genes X 31 e segs. (N. do Autor)29 Plutarco, Adversus Ooloten. 1111,8. (N. do Autor)90 Cicero, De finibus bonorum malorum I, VI 20;

    Pseudo-Plutarco, De placitis philosophorum, 890C. (N,do Autor).

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    tencia, tern pelo contrario a . sua frente a mundo dapercepcao sensivel enquanto mundo real e cons-ciente. Este mundo 16 uma aparencia subjectiva e,por 1SS0 mesmo, afastada rlo principio e deixa~ .nasua realidade independente; mas e tambem 0 umcoobjectoreal e possui enquanto tal valor e signi-ificado. E por esta razao que Democrito e levadoa observar;ao empirica. Nao encontrando plena sa-tisfaya:o na filosofia, entrega-se ao saber positivo .Ja vimos que Cicero lhe chama urn vir eruditus[homern cultivado]. E versado em fisica, em etica,em maternatica, nas disciplinas enciclopedicas eem todas as artes n, ,A sua bibliografia, dada acorrhecer por Diogenes Laercio, testemunha essaerudicao 02, Mas a erudicao caracteriza-se por umincessante acumular e realizar de experiencias novas;e par isso que Democrito percorre metade do mundoa fim de comparar experiencias, conhecimentos eobservacoes. Fui em>, vangloria-se, quem, entretodos os rneus contemporaneos percorreu a maierparte ci a Terra, perscrutando os lugares mais afas-tados: vi a maior parte das regioes e dos paisese ouvi a rnaior parte dos .hornens instruidos: na com-posiciio de figuras com demonstracao ninguem meultrapassou, nero mesrno aqueles a que os Egipcioschamavam os Arsipedonaftas ~3,Demetrio nos omoniimois e Antistenes nosdiadokhais contam que de foi ao Egilpto aprendergeometria com os padres, que falou com os Caldeusna Persia e que chegou ate ao Mar Vermelho. Algunsafirmam ainda que ele seencontrou com os gymno-sophistas nas Indias e que ohegou a . Etiopia ~4. E 0

    al Di6g. IX 37, (N. do Autor)32 Ibid., 46 e segs. (N, do Autor)33 Eusebio, X 472, (N. do Autor)HD16g. IX. 35. (N. do Autor)

    14 7

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    gosto pelo saber que nao 0 deixa em repouso: mase tarnbern 0 facto de nao encontrar satisjaciio naciencia verdadeira, a iilosoiia, que 0 leva mais longe.o saber que de considera verdadeiro nao tern con-teudo; e aquele que Ihe transmite 0 seu conteudoe desprovido de verdade. Por mais que isto seassemelhe a uma fabula. para os antigos ela e umaIabula autentica porque descreve 0 caracter contradi-t6rio do seu ser. Dernocrito ter-se-ia cegado commedo de que a luz senslvel lhe obscurecesse a acui-dade do espirito M Este e 0 mesrno homem que,como afirrna Cicero. percorreu rnetade do mundo:mas nao encontrou 0que procurava.Epicuro compoe urn personagem totalrnente dife-rente.Epicuro encontra a sua satisiaciio e [elicidadena filosofia. E a filosofia, diz, que deves servirpara que alcances a verdadeira Hberdade. Aquele quese Jh ~ submete e a ela se entrega ja nao tern queesperar; e imediatamente ernancipado. Pois a liber-dade consiste precisamente em servir a filosofia "".Que 0 jovem, aconselha, nao hesite em filosofar,e que a velho a isso nao renuncie. Porque ninguerne demasiado verde nem demasiado maduro para teruma alma s a . Mas aquele que afirrna que 0 tempode filosofar ainda nao chegou ou ja passou asse-melha-se aos que entendem que 0 tempo de ser feliztarnbem a inda na o chegou ou ja passou 37. EnquantoDe rn oc ri to , i ns a ti sf ei to com a filosofia, se Janca nosbra OS do saber empirico 3S, Epicure despreza asciencias positivas, pois elas em nada contribuem

    3~ Cicero, Tusulanes V 39; cf. De finibus bon. mal.V. XXIX 87. (N. do ATttor)30 Seneca, Bpistolae ad Lucili1tm 8. (N. do Auto?")37 Di6g. X 122; cf. Clemente de Alexandria, strom.,IV 8, 69,2 segs. (N. do Autor)38 ,Sxtus EmpirJclls, Ibid., I 1. (N. a o Autor )

    14 8

    para a verdadeira perieicdo. Cha.mam.lhe inimigoda ciencia, depreciador da gramatica 39. Acu~am:nornesmo de ignorancia; mas, afirma um epicunstana obra de Cicero,

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    Na reciprocidade generica que 0 filosofo estabeleceentre 0 rnundo e 0 pensarnento, objectiva-sa a rna-neira como a sua consciencia .particular se relacionacom 0 rnundo reai.Ora Democrito emprega a necessidade como formade reflexao sobre a realidadc efectiva H Aristotelesafirma que tudo nele remete para a necessidade 15.Di6gcnesLaerclo acrescenta que 0 turbilhfio dosatomos, que da origem a todas as coisas, e a necessi-dade de Dernocrito". 0 autor do De placitis philo-sophorum da-nos algumas explicacoes mais satisfa-torias sobre este ponte: a necessidade seria para De-m6crito 0 destino e 0 direito, a providencia e a cria-dorado mundo. Mas a subsrancia dessa necessida deseria a antipatia, 0 movimento, a impulsao cia mate-ria '17. Encontrarnos uma passagem semelhante naseclogas [lsicas de Estobeo v e no livro VI cia Praepa-ratio evangelica de Eusebio ')9. Nas eclogas eticas deEstobeo e mencionada a seguinte opiniao de Demo-crito " 0 . que de resto e quase integralrnente repro-duzida 110 Iivro XIV de Eusebio 61: os homens inven-taram 0 fantasma do acaso, que e apenas uma man i-festacao do seu proprio embaraco; pois urn pensa-menta forte delle ser inimigo do acaso, Do mesmomodo, Simpiicio atribui a Democrito uma passagem

    HCicero, De Fato X 22,23; De n.atura Deorurn. I,XXV 69; Eusebio I 23 esegs. (N. do Autor)~o Ar.istoteles, Dr'} gencratione animalium 896. (N.do Autor).

    'G Diog. IX 45.t7 PseUid!o-PlutaI'lco, Dc placitis philosop'horum,884E. (N. do Alltor)18 Estobeo, Ec7.oga6 pMJs-icae et etlucae I, IV Tc

    ( 158 e 160) - (N. do Autor ),40 Euse.bio VI 257. (N. do Auior )60 Estobeo, Eclogue physicue et etbicae II, vm,16 ( 345). (N. dO Autor)51 Eusebio XIV 782 e segs. (N. do Autor )

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    onde Aristoteles se refere a velba doutrina que su-prime 0 acaso 52. . .Mas Epicuro escreve:

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    sobre este assunto em Sirnplicio 57, uma faz suspeitarda outra pois mostra de rnaneira evidente que naofoi Dernocrito quem fez uso

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    tacao ou uma dificuJdade.POllCO importa que estaposslbilidade tarnbem seja real, pois que 0 motivede interesse nao e 0 objecto de entendimento en-quanto tal,E por esta razao que Epicure e bastante negli-gente na explicacao dos diversos fen6menos fisicos.A carta a Pitocles, que examinaremos mais adiante,esclarecera este assunto, Basta-me aqui chamar aatencao para a sua atitude sobre as opinioes dosfisicos anteriores, Nas passagens onde 0 autor doDe placitis phllosopborum e Estobeo citarn a's di-versas opinioes des filosofos sobre a substancia dosastros, as dimens6es e a forma do Sol. etc., afirrna-sede Epicuro que nunca rejeita qualquer dessas opi-nioes, podendo todas ser verdadeiras: segundo eles,Epicuro atem-se ao p os siv el " ', Mais ainda, Epicuropolemiza contra 0 modo de explicacao pela possibi-lidade real. que avalia de acordo com 0 entendimentoe e . justamente por isso, unilateral.seneca. declara nas suas Quaestiones naturales:Epicure afirma que todas estas causas podem ser ver-dadeiras e fomece ainda muitas outras explicacces;insurge-se contra aqueles que, de entre todas estascausas, afirmam que so uma delas tern raziio de ser,pois acha temerario fazer urn julgarnento apodicticosobre aquilo que 's6 se pode deduzir de conjec-turas 02.Ve-se que nao !hi nnteresse algurn em procuraras causas rea is dos objectos, mas sim em satis-Iazer 0 sujeito que explica. Pelo facto de todoo possivel ser admitido .como possivel, 0 que corres-ponde ao caracter da possibilidade abstracta, torna-se

    61 Pseudo-Plutarco, De placiti$ philosoph-arum, 888Fe 890C; Estobeo Eclo qac physicae et ethicae I, XXIV10 ( 514). (N. do Antor)ez .Seneca, Naturau quoestiones VI 20,5. (N. do

    Autor)

    15 4

    evidente que 0acaso do se r e pura e simplesmentetraduzido pelo acaso :do pensamenio.A unica regra prescrita por Epicuro, a saberque a explicacao nao deve ser cOl1'trari,ada pelapercepcao sensivel, compreende-se em 51 mesrna.Com efeito, e caracteristico do possi.veil abstractoestar livre de tOiOOa contradicao; deveremos assimprevenir-nos contra. ela 03. Finalmente, Epicure reco-nhece que 0seu modo de expl ica.c; :ao tern por objectivea ataraxia da consciencia de si e nao 0 reconheci-menio da natureza em si e par si 61.Nao temos necessidade de desenvolver mais esteponte: ainda aqui Epicuro se opoe totalmente aDemocrito.Verificarnos assim que os do is homens se opoemsistematicamente, Urn e ceptico e 0 outro dogrnatico;urn considcra 0 mundo sensivel como uma aparenciasubjective e 0 outro como um Ienorneno objective.Aquele que atribui ao mundo sensivel a qualidade deaparencia subjectiva entrega-se a ciencia empirica danatureza e aos conhecimentos positives. e representaa inquietude da observacao que exporimen.ta, aprendee erra pelo mundo, 0 outro, que considera real 0mundo dos fenomenos, despreza 0 ernpirismo; en-carna 0 repouso dopensamento que encontra a satis-facao em si mesmo, a indeperrdenoia que cria 0 seusaber a partir de urn principia inierno (principiointerior). Mas a contradicao vai mais longe ainda.o ceptico e empirico, que toma a natureza sensivelpor uma aparencia subjectiva, consi~era-a d~ p,on~ode vista da necessidade, procura explicar a existenciareal das coisas e compreende-la, 0 {ilosoio e dogma-tico, que pelo contrario considera real 0 feno-

    G3 Ct. a segunda parte, capitulo V; D16g. X 88.(N. do Autor)

    01 Ibid. 80. (N. do Autor)

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    meno, ve apenas 0 acaso e 0 seu modo de explicacaotende a supriznir toda a realidade objectiva da na-tureza. Estas contradicoes parecem encerrar urnabsurdo.E drficil pensar que estes dois homens, sempreem contradicao, defendam urna mesma doutrina. Noentanto, parecem relacionados urn com 0 outro.o estudo generico dessa relacao constitui 0 ()Ib-jecto do proximo capitulo O~.

    M Os oapttulos IV e V a que se rerere 0 Sumartonao foI\9.TII. conservados, (N. MS T.)

    156

    o . f f ! - r 1 0 r-~ I e { ' ~ UA I V f' / ! ' . ' f . I, 'l,. v

    '7 < r : Uuu / t Z . 1 L . t A _ ./.hl.'Y., t:1-:; l(/vio ) 1:)'1 - r J .J. / j.: (00 r r r . t...u.Jf. / J . . < J Sf?tJeu co : () {I r-ceo ; l.t i ~

    /}{(I / ? ~( t ~ ' ) ) . Iu(.,iv L ;,t J Y _ d ,d . , ._!DlFERENCA GENERICAENTRE OS PRINCiPIOSDAS FILOSOFIAS DA NATUREZADE DEM6CRITO E DE EPICURO

    1. Quanta ao facto de este procedsnento moralveneer todo 0 des interesse teorico ou pratico, encon-trarnos uma estarrecedora prova historica na bio-grafia de Marins escrita por Plutarco. Depois dedescrever 0 terrivelfirn dos Cirnbros, conta-nos queo numero de cadaveres era tal que os Massaliotaspodiam utiliza-los como adubo nas SUM vinhas.Acrescenta que, tendo chovido posteriormente, esseano .se tornou 0rnais Iertil em vinho e em frutos.Quais s a o as reflexoes a que se entrega 0 nobrehistoriador a proposito da desaparicao tragica dessepovo? Plutarco acha moral que Deus tivesse deixadomorrer e apodrecer .todo urn nobre povo a fim dedar aos pobres de espirito marselheses uma ricacolheita de .frutos. Assim, ate rnesmo a transforma-s;ao de urn povo num monte de estrume pede cons-tituir uma ocasiao para osdeleites do devaneio moral!2. Mesmo no que diz respeito a Hegel. e umaprova de ignorancia da parte dos seus discipulosentenderem qualquer deterrninacao do seu sistemacomo uma adaptacao comoda, numa palavra, moral-

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    que ela propria, encontrando-se os factores simples-mente invertidos,Este e 0 primeiro aspecto, 0 que resulta de consi-derarrnos a questao de urn ponto de vista puramenteobiectivo, como a realizacao imediata da filosofia.Mas apresenta igualmente urn aspecto subjectivo.E a relacao do sistema [ilosotico, efectivamenterealizada, com os seus suportes espirituais, comas consciencias de S1 particulates que refJeotem 0seu progresso: e uma consequencia da relacao quefaz com que a filosofia, na sua realizacao imediata.se oponha ao rnundo, que as consciencias .de si parti-culares ten-ham duas exigencias opostas, uma contrao mundo e outra contra a propria filosofia, Comefeito, 0 que aqui surge como uma relacao invertidae para elas uma exigencia e urn acto duplos, emcontradicao consigo mesrnos. Libertando 0 mundoda nao-filosofia, essas consciencias libertam-se a siproprias da filosofia que, enquanto sistema deter-minado, asacorrentava. Mas como elas s6 sao coo-cebidas no acto e na energia imediata do desen-volvimento e nao ultrapassararn ainda, sob 0 pontede vista teorico, esse sistema, apenas se ressentemda contradicao com a identidade-a-si-mesma plasticado sistema; e nao se apercebem de que, revoltando-secontra ele, nfio fazem mais do que realizar-lhe efec-tivarnente as diversos mementos,

    Finalmente, este ser-desdobrado da conscienciade si filos6fica apresenta-se como a lura de duastendencias que se opoem da forma mais extrema,e ern que uma, a parte liberal, tal como apodemosdesignar genericamente, se atern, como determinacaoprincipal. ao conceito e ao principia da filosofia, eo-quanta que a outra detende 0 niio-conceito, 0 rno-mente da realidade, Es.ta segunda tendencia e a daiilosoiia positiva. A actividade da primeira consiste160

    na critica, isto e , no voltar-se-para-o-exterior da filo-sofia; a actividade c ia segunda e a tentativa de filo-sofar, au seia, 0 acto de se-voltar-para-si d a filosofiapois concebe 0 deteito como sendo imanente it fila-sofia enquanto a primeira concebe como defeitodo mundo que e necessario tornar filosofico, Cadauma delas Iaz precisamente aquilo que nao querfazer; e acaba por realizar 0 que a Dutra sepropoe.Mas a primcira tern consciencia. no seio da suapropria contradicao, do principio em geral e doseu objectivo. Na segunda surge 0 capricho, porassim dizer a loucura, como tal. No que respeita aoconteudo, so a parte liberal, a que defcnde 0 con-ceito, pode chegar a progressos rea is. enquanto quea filosofia positiva apenas consegue elaborar exi-gencias e tendencias cuja forma contradiz 0 signi-ficado.Logo, 0 que nos surge como uma relacao inver-tida e uma divisao hostil da filosofia e do mundotorna-se em seguida uma cisao da consciencia desi particular contida ern si mesma e, finalmente, umaseparacao exterior e um ser-desdobrado d a filosofia,sob a forma de duas tendencias filos6ficas opostas.E logico que surja ainda uma rnultidao de for-maciies subordinadas, lamuriaotes, sern individuali-dade, que se abrigam .por tras de uma gigantescafigura filosofica do passado ~ mas nao tarda queno'S apercebarnos do asno sob a pele do leao, POolsavoz lacrirnejante de um manequim dO' presente e dopassado transparece, num contraste cornice, sob a po-derosa voz que atravessa as seoul os (a de Aristoteles,por cxemplo) e da qual ela se arvorou desproposi-tadamente em arauto; e como se um rnudo preten-desse arranjar voz socorrendo-se de urn enorme alll i -falante - ou coma 5e um liiiputiano de binoculos,instalado num cantiuho do traseiro de urn gigante,anunciasse ao mundo, todo maravilhado, a extraor-donaria perspeotrva que alcanca do Sell punctum

    16111

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    visus (lpon,Lade vista). e fazendo os mais ridiculesesforcos para explicar que nao e no coracao palpi-tante mas na solida e firme regiao onde se encontraque se situa o ponto de Arquimedes (pit sto:no qual devo estar), ponto do qual 0 mundo estasuspenso por dobradicas. Assirn nascem iI6sofos--cabelos, filosofos-unhas. f ilosofos-dedos, filosofos--excrementos, etc., que no homem-mundo mistico deSweden borg ainda ocupariarn urn lugar inferior. Masde acordo com a sua essencia, todos estes mini--moluscos caem, como 5e estivessem no seu elemento,nas duas direccoes que indiquei. Quamto a essasdirecr;:6es, explicarei noutro local e de forma maiscompleta as suas relacoes reciprocas e com a fila-sofia hegeliana, assim como os diversos mementoshistoricos nos quais se verifica este desenvolvimento.

    3. Diog. IX 44 e X 38 .4. Arist6teles, Ftsica, 187 b.5. Temistio, Scholia in Aristotelem, p. 326.6. Aristoteles, Metaffsjca. 985 b 4 e segs.7. Temistio, ibid., p, 326.8. Simpllcio, Scholia in Arlstotelem, p. 488.9. Ct. ib id .. p. 514.10. Diog. X 40; Estobeo, Eclogas I, XVIII 4 a( 388).11. Estobeo, Eclogas I, X 14 ( 306).12. Simplicio, Scholia in Aristorelcm, p. 405.13. Aristoteles, De generations et corruptione,316 a.14. Di6g. IX 40.

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    II

    SEGUNDAPARTE

    DIFEREN

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    PRIMEIRO CAPlTULO

    A DECLINA(:AO DO A .TOMODA LINEA R,ECTA

    Epicure admire urn movimento triplo dos ato-mos no vazio 1, 0 primeiro movirnento 6 0 da quedaem linha recta; 0 segundo consiste no facto de 0atomo se desviar da linha recta; e 0 ter.ceiro e 0 darepulsiio dos diversos atomos entre si. Democritoadmite, tal como Epicuro, a existencia do primeiroe do ultimo destes movimentos; mas Epicure dis-tingue-se dele por reierir ainda a declinaciio do atomoda linha recta ~.Este movimento de declinacao foi muito escar-necido. Cicero, sobretudo, e intransigente quandoaborda este lema. Escreve, entre outras coisas: Epi-curo pretende que os atomos sao empurrados peloseu peso de cima para baixo e em Iinha recta, e aindaque este movimento e 0 movimento natural dos

    1 Estobeo. "Bclogas I XIV, 1 e sega, (~ 346); cf.Cicero, De [inibus I, VI 18 e segs.: Pseudo - Plutarco,De. placito philos. 883 A e segs.: Estobeo, };)clogas I.XlX 1 ( 394) (N_ do A-utor).2 Cicero, De natUTa. Deoricm. I, XXVI 73 (N, do

    Autor).

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    conpos. Mas pensa em seguida que, se todos osatomos fossern ernpurrados de cima para baixo. elesnunca se poderiam encontrar. 0 nosso homem encon-trou portanto a sua salvacao numa mentira, dizendoque a atomo solria urn pequeno desvio, 0 que noentanto e absolutamente impossivel, Deste desvionasceriarn as combinacoes, as copulacoes e as ade-soes dos atomos entre si e, a lfJartir del as. 0 mundoe todas as partes do mundo, assim como 0 que elecontem. Alem de esta ficcao ser pueril, Epicuronao atinge 0 seu objectivr 3. Podemos encontraruma outra versao de Cicero no livro I do seu tratadoSobre a natureza dos deuses: Quando Epicuro seapercebeu de que se os atomos fossem empurradospara baixo devido ao seu proprio peso nada poderia-mos fazer porque 0 seu movimento seria determi-nado e necessario, encontrou urn meio de escapara necessidade, meio esse que escapara a Dem6crito.Afirma que 0 atomo, se bern que seja empurrado decima para baixo devido ao seu peso. se desvia urnpouco. Afirmar tal coisa e ainda mais vergonhosodo que nao conseguir defender 0 seu ponto devista -.

    Pierre Bayle e da mesma opiniao: Avant lui(c'est-a-dire Epicure), ou n'avait admis dans les ato-roes que le mouvement de pesanteur et celui dereflexion. Epicure supposa que meme au milieu duvide les atomes declinaient un peu de la ligne droite;etde la venait la liberte, disak-il.i. Remarquonsen passant que ce ne fut pas le seul motu qui Ieporta a inventer ce mouvernent de declinaison; il lefit servir aussi a expliquer la rencontre des aromes,

    i\ Cicero, De nnibu..s bonorum malorum (N. doAuior ) . Cicero, De nat. Deorltm I, XXV 69; ct. De FatoX Z2 e segs. (N. do Autor).166

    car il vii bien qu'en supposant qu'ils se mouvaientavec une egale vitess.epar des !ignes droites qui too-daient toutes de haut en bas, il ne ferait jamais com-prendre qu'ils eussent pu se rencontrer, et qu'ainsila production du monde aurait ete impossible. nfallut done qu'il supposat qu'Ils s'ecartaient de laligne droite 5-6.Desprezarei de memento 0 laconismo destas refle-xoes, Mas 0 que todos poderao notar e que Schau-bach. a critieo mais recente de Epicure, compreendeumal Cicero quando afirma: O s atomos seriam todosempurrados para baixo devido ao peso, pelo queseguiriam linhas paralelas, por razoes Iisicas, masreceberiarn tarnbern, como consequencia de uma re-pulsao reciproca. uma Dutra direccao, que segundoCicero (de natura Deorum I 25) seria urn movi-

    mento oblique, devido a causas fortuitas, e quenunca deixaria de se verificar 7. Em primeiro lugar,Cicero. na passagern citada, nao diz que a razao dadireccao obliqua e a repulsiio, mas que, pelo con-trario, a ratio cia repulsao 6 a direccao obliqua.

    6 Bayle (N. do Autor).6 Antes dele (Epicuro) apenas se admitiam nos

    atomos os movimentos resuetantes do peso e da repul-sao. Epicuro supos que, rnesmo no vazio, os atornos searastavam um pouco do. linha recta: e daqui resultaa llberdade, a.firmava... Note-so que este nao fol 0unico motive que 0 levou a mventar aquele movi-mente: ft-lo tambern .para expllcar 0 encontro dosatomos, pols soube ver que se eles .se movessem s.~-gundo Iinhas rectas com Igual velocidade, todas diri-gidas de cima para baixo, nunca conseguma expll-car que eles S8 encontrassern, sendo assim lmpoasivelde explicar a producao do mundo, Foi portanto neces-sarto super que eles se atastavam da linha recta>'.Em frances no texto original. (N. dos T.).

    1 Schaubach, Uber EpiknTS Mtronomi.8che Be-grin 11. 549 (N. do Alttor).

    1 6 7

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    Tambem nao se refere a causas fortuitas, mas desa-prova sim 0 facto de nao Se indicarem quaisquercausas; seria alem do rnais urna contradicao em si epara si, admitir simultuneamente a repulsao e aexistencia de causas Iortuitas como razao d a direccaoobliqua. Quando muito, poderia por-se o problemadas causas Iortuitas da repulsao, mas nao da di-r e c c ao obliqua.As reflexoes de Cicero e de Bayle contern umaextravagancia de tal modo clara que e impossiveldeixar de a por imediatarnente ern evidencia. Comefeito, eles emprestarn a Epicuro motives que seexcluem mutuamente, Epicure deve admitir a decli-nacfio dos atomos ora para explicar a repulsao, orapara explicar a liberdade. Mas se os atornos so seencontram quando se verifica a declinacao, esta esuperflua como fundamento da liberdade, pois, comoafirma Lucrecio s, a contrario da libcrdade s o comecacom 0 encontro deterrninista e Iorcado dos atomos,Se, por outro Iado, os atomos Se encontram semdeclinacao, essa declmacao torna-se suoerflua comofnndamento da repulsao. Ora eu afirmo que estacontradicao apenas tern lugar quando as razoes dadeclinacao do a torno c ia linha recta sao compreen-didas de uma forma tao exterior e incoerente comoo Iazem Cicero e Bayle. Lucrecio, que entre todos osantigos foi 0unico a compreender a fisica de Epi-curo, dedica-lhe uma anilise mais profunda.

    Iremos agora ana l i s a r este desvio .Assim como o ponto e suprimido dialecticarnentena linha, todo 0 COIipO que cai e suprimido na linharecta que descreve, A sua qualidade especifica naointeressa ser aqui considerada, UIDa may a descreve,ao cair, a mesma linha recta que urn bocado de

    8 Lucreclo II, 251 e segs. (N_ do Aut'or).16 8

    ferro. Todo a corpo, ao ser considerado no movi-mento de queda, nao e mais do que urn ponto emmovimento, urn ponte sem autonomia que abandonaa sua singularidade num ser-ai determinado, a linharecta que descreve, E por isso que Aristoteles seinsurge contra as pitagoricos: Dizeis que .0 rnovi-mento da linha e a superficie e a do ponto a linha;portanto, os movimentos das m6nadas serao tambemlinhas 9_ A consequencia a tirar seria, tanto no casodas monadas como no xlos Mamas, que estao emrnovimento continuo e que nem uns nem outrosexistern na medida em que se confundem com alinha recta; se 0 que conhecemos do atomo e apenaso facto de se mover em linha recta, ainda nao pede-m os a firrna r que tenha qualquer solidez. Em pri-meiro lugar, se representarmos 0 vacuo como urnespa co va zio , 0 a to rno sera a negaciio imediata doespaco abstracto, isto e , 11m ponto especial, A solidez,a intensidade, que se afirmam contra a falta decoesao do espaco em S1 , sopodem ser concebidos apartir de urn principio que negue 0 espaco em todaa sua extensao, tal como acontece com 0 temporelativarnente a natureza efectivamente real. Alerndisto, e adrnitindo a possibilidadc de alguern naoconcordat com 0que flea dito, verificamos que 0atorno, na medida em que 0 seu movirnento e umalinha tecta, {:;apenas determinado pelo espaco: e-lheatribuivel urn ser-ai relativo e a sua existencia cons-titui uma pura existencia material. Mas vimos queur n dos mementos no conceito do atomo e 0 de seruma forma pura, a negacfio de toda a relatividade,de toda a relacao com urn outro ser-ai, Vimos aomes.mo tempo que Epicure cbjectiva os dois mo-

    9 ArhstOteles, De anima 409 a 10 e segs, (N, doAutor).

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    me_ntos q~e na verdade se contradizem mas queestiio contidos no conceito de atomo.. CO!Do pode Epicuro realizar de facto a deter-mma~ao puramen.te formal do atorno, chegar aoconcett? da PUnt smgularidade que nega todo 0 ser-aideterrninado por urn outro?Como 0 seu pensamento se move no dominio

    do ser imediato, todas as detenninac ; :oes sao imedia-tas. As deterrninacoes opostas opoern-se assirn rnu-tuamente como realidades irnediataxMa~ a existencia relativa, que se op6e ao atomo,

    o_ser~Gl q~{e de deve negr:r, e a linha recta. A nega-cao imediata deste movimento , e um Dutro movi-me1Z~o, ~sto e , e representando-o espacialmenre, adeclinacao da linha recta.Os atornos sao conpos purarnente autonomos oumelhor, constituern 0 corpo considerando-o na abso-luta autonornia de que podem ser exemplos os cor-

    pas celestes. Tal como estes ultimos, as atornos nfio~ e mo;Y eJ _U e rn linha recta. 0 movimento da quedaC 0 movtmento do nao-autonom'a.

    Portanto, se Epicuro representa no rnovimenrodo ~tomo em linha_recta a materialidade desse atomo,r:~ltza na decl.inacao da linha recta a sua determina.cao formal: e estas delerminac ; :oes opostas sao repre-senudas c_-omo.movimentos imediatamcntc opostos,Lu.crec_:o afirma portanto, e a justo titulo, quea d~c1ma

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    nos xleve afastar desse circulo. Par ouero lado, 0alamo ainda nao esta elaborado antes de comer adeterm.nacao da declinacao. Perguntar a causa. destedesvio corresponderia assim a perguntar a causaque faz do atorno urn principio, pergunta evidente-mente privada de sentido [para quem .pensa que 0aloma e a causa de tudo e que, portanto, n a o pedeter uma c ausa .Quando Bayle, !por outre Indo, apoiando-se naautoridade de Santo Agostinho 19, segundo 0 qualDem6crito atribuiu aos atomos urn principio espi-ritual (autoridade perfeitarnente desprovida de im-portaucia dada a sua oposicao a Aristoteles e aosoutros antigos), critica Epicure por ter apresentadoa dcclinacao em vez desse principio espiritual, tor-na-se necessario afirmar que, com a hipotese dadeclinacao, fica representada a verdadeira alma doatorno, 0 conceito da singularidade abstracta; en-quanto que. com a alma do atorno, ter-se-ia quandomuito inventado uma expressao nova.

    Antes de considerar as consequencias da decli-nacao do atorno da linha recta, e necessario subli-nhar um aspecto de grande importancia e sistemati-camente ignorado ate hoje.A declinaciio do dtomo da linha recta ndo e,com cjeito, uma determinacao particular que surgeocasionalmeme na iisica de Epicuro. A le-ique etaexprime e uma constatue na iilosoiia epicurista;encoruramo-la scm-pre que 0 exige a esiera onde eapllcada.

    Com eteito, a singularidade abstracta s6 podeafirrnar 0 seu conceito, a sua determinacao formal.o pure ser para si, a independencia relativaments a

    I I

    II

    19 Santo Agostinho, carta 118, 28. (N. do Autor).172

    todo 0 ser-a! imediato, 0 ser desprovido de toda arelatividade, abstraindo do ser-ai que se the opoe, narnedida em que seria forcada a idealiza-la paraatingir os seus fins; e isto so pode ser efectuadopela universalidade.Assim como 0 atorno se liberta da sua existenciarela ti va , isto e , da l.nha rec ta , a bstra indo deja, des-viando-se dela, tambem a filosofia epicurista se des-via do ser-ai que a l imita sernpre que 0 concertoda singularidade abstracta, a autonornia e a negacaode todas as relacces com urn outre, deva ser repre-sentado na sua existencia,E por isso que 0 objectivoda accao e 0 acto dese abstrair, de desviar a dor e a inquietacao. ouseja, a ataraxia. 20. Deste modo, 0 bern e a fuga aomal ne 0 prazer e 0 afastamento da dor Z2. Final-mente, quando a singularidade abstracta aparece emtoda a sua liberdade e indepcndencia, 0 ser-a; deque nos estamos a desvia r e Iogicarnente todo 0ser-ai; e por isso que os deuses se afastam do mundo,deixam de se preocupar com ele e habitam foradele 2J.

    Escarneceu-se dos deuses de Epicure que, serne-lhantes aos homens, habitarn nos interrnundos domundo real, niio tern corpo mas sirn urn quasecorpo, nao tern sangue mas sim urn quase sanguee que, vivendo num repouso oem-aventurado, naoacolhern ncnhuma suplica, nao se preocuparn con-nosco ou com 0 mundo e sa o honrados pela sua

    20 Di6g. X 128. (N. do Autorj.11 Pluta.reo, De eo quod secundum Epi.curum

    non beatc vivi. poesit: 1091, 7. (N. do Al~tor j., ,- Clemente de Alexandria, Strom. II 21, 127, 1.(N. do Autor).

    ~3 Seneca, De Benejicu IV. (N. do Autor j.

    173

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    beleza, a sua majestade, a sua natureza excelsa,e nao par interesse.No entanto, esses deuses nao sa o invenc ao deEpicuro, Eles existiram. Sao os deuses plasticos daarte grega. Cicero, a Romano, tem razao quandoescarnece deies 21; mas 0 Grego Plutarco esqueceutodas as concepcoes gregas quando pensa que estadoutrina sobre os deuses sup rime 0 medo religiosee a supersticao, que nao lhes da 110m alegria nemfavores e que estabelece entre nos e os deuses arnesrna relacao que temos com os peixes de Hircania,de que nao esperarnos qualquer dano ou proveito 2~.A calma contemplativa e urn aspecto fundamentaldo caracter das divindades grcgas, como afirma 0proprio Aristoteles: Aquele que e 0 melhor njionecessita de actuar, pols ele e 0 seu propria fim 20.Vamos agora considerar a consequencia irnediatada declinacao do s atomos. Ela exprime 0 facto dea atomo negar qualquer movimento ou relacao emque esteja deterrninado como urn ser-a! particularpara um outro. Isso acontece de tal modo que 0atomo abstrai do ser-ai que se lhe apresenta eescapa-ihe, Mas a sua negaciio de todas as relacoescom tun Outro deve ser reaiizada eiectivamente,posta de uma forma positiva. Isto s6 se pede fazerse 0 ser-ai com que 0 alamo estiver relacionadofor elf proprio, portanto igualmente (fin alamo; ou ,como este e determinado imediatamente, uma mul-tidao de dtomos. Assim, a relaciio mutua dos vdriosdtomos e a realizacao eiectiva e necessaria da lex

    24 Cicero, De nat. Deorumv XL 112 e XLI 115e segs. (N. do Autor).2J Ptutar-co, i.bid" 1100 e segs. 20. (N, do Autor).2C Arlstoteles, De coelo 292 b. (N, do Autor ),

    174

    aiomi 27, de acordo com 0nome dado por Lucreciaa . declinacao. Mas porque aqui toda a determinacaoe considerada como urn ser-ai particular, a repulsaojunta-se na qualidade de terceiro movimento aos daisrnovimentos primitivos. Luc rec io tern ra zao ao dizerque. se as atomos nao t ivessem 0 habito de se des-viarem, nao teria nascido a possibilidade de chequeentre eles e 0 mundo nunca teria sido criado Z3,pois as a i o rnos constituem 0 seu proprio e unicoobiecto e ndo se podem reportar a si mesmosau, se usarmos uma expressdo espacial, encon-trarem-se senao quando negam toda a existenciarelat iva que os pudesse r e l a c i ona r com ur n Outre,existencia essa que, como vim os, e 0 seu movimentode origem. 0 da queda em linha recta, Deste modo,eles apenas se encontram quando se desviam dessalinha. Nao se trata aqui da fragmeutacao pura-mente material.".E de facto a singularidade imediata s6 e realizadaefectivarnente de acordo com 0 seu conceito na me-dida em que esteja relacionada com urn Outro, quee ela-propria, mesmo que esse Outro se lhe oponhana forma de existencia imediata. Assim, 0 hornernso deixa de ser um produto natural quando 0 Outrocom quem se relaciona for urn homem singular,mesmo que nao seja ainda 0 espirito, e nao umaqualquer existencia diferente. Mas para que 0 ho-mem enquanto homern se tome, para si mesmo, 0seu unico objecto efectivamcnte real, e necessarioqu e tenha negado 0 seu ser-ai relative, 0 poderdos seus apetites e da simples natureza. A repulsdoe a primeira jorma da consciencia de si: como tal.

    ~7 EXipressao que slgnlfica Let do atomco. (N _dos T.),es Lucrecio IT 221 e segs. (N, do Autor).29 Ibid" 234 e segs. (N. do Autor)_

    175

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    \.1 \I\ ', .

    ela corresponde a consciencia de S 1 . concebendo-seesta como algo de imediatarnente-sendo e de abs-tractamente-singular.A repulsao e pois a realizacao efectiva do con-ceito de atomo segundo 0 qual ele constitui a formaabstracta: mas e igualmente a realizacao do contrariodesse conceito, segundo 0 quaJ de e materia abs-

    tracta, pois 0 atorno relaciona-se de facto comatomos, mas com outros aIOmOS. Mas, se me reportoa mim mesmo como a um imediatamente-Outro,a minha relacao e uma relacao material. E este eo maior grau de exterioridade que pode ser pen-sado. Assirn, 0 que se une sintecticarneme na re-pulsao dos atomos e a sua materialidade, que foraconsiderada na queda em linha recta, e a sua deter-[rninaca formal, que fora considerada na declinacao.

    Contrariameme a Epicuro, Dernocrito transforrnaem movirnento Iorcado, em acto de cega necess.dade,o que para Epicure e a realizacao efect iva do eon-ceito de atorno. Vimos mais atras que aquele con-sidera o turbilhao (dine) que nasce c ia repulsao edo choque entre os atomos como a substancia ci anecessidade. Portanto, s6 considera na repulsao 0lado material. a dispersao, a modificacao, e nao 0Iado ideal, segundo 0 quaJ a repulsao nega quaisquerrelacoes com urn Outre e 0 movimento e consideradocomo autodeterrninacao. Isto ve-se clara mente nofacto de ele representar de uma forma material urnunico e rnesmo corpo dividido pelo espaco vazionuma rnultidao de COf_POS, tal como a outre que epartido em bocados '0 Deste modo, e-lhe dificilpensa r que a unida dc e 0 conceito do atorno.

    Aristoteles tinha ra z i io na sua polem iea contraDem6crito. E por 1-SS0 que Leucjpo e Democrito,

    ,0 Aristoteles, ibid., 275 b. (N. do Autor J.176

    que afinmam qu e O S corpos primordiais se movemcontinuamente no vacuo e no Infinite, nos deveriamdizer de que tipo e este movimento equal e 0 movi-menta adequado a sua natureza. Vista que cada u r ndos elementos e necessariamente posto em mov i-mento iPor urn outro, torna-se tambem necessarioque cac ia urn deles tenha igualrnente urn movimentonatural, a que 0 movirnento forcado seja exterior;e esse primeiro rnovimento tera de ser natural. e naoIorcado. De outre modo. 0 processo seria infinito, .n.A declinacao epicurista dos atomos modificouportanto 0 eonjunto d a construcao interna do mundodos atomos, tendo feito prevalecer a deterrninacaoda forma e reaJizado efectivamente a contradicaoinerente an conceito do atomo, Epicure foi assim 0primeiro a ter concebido, se bern que nurna repre-sentacao sensivel, a essencia d a repulsao, enquantoque Democrito s6 se apercebeu da sua existenciamaterial.Encontramos igualmente em Epicuro formas maisconeretas da repulsao; em materia politica enaltececomo bern supremo 0 contrato ~2, e em materia sociala amizade n.

    31 Ibid., 300 b. (N. do Autor).82 Di6g. X 150. (N. do Autor).33 [Ma.rx nao escreveu nada sobre esta nota].(N. dos T.).

    17712

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    .I

    SEGUNDO CAPITULO

    AS QUALIDADES DO ATOMO

    E c ontra dito rio CDm a noc a o de M DrnD 0 terquaisquer propriedades: pois, como afirma Epicure,toda a propriedade e rnodificavel, enquanto que DSatornos nao se modificarn HMas 00 atribuir-lhe essaspropriedades nao deixa de ser uma consequencianecessaria, pais a pluralidade dDS atomos em re-pulsao, que estao separados pelo espaco sensivel,devem ser imediatamente diierentes entre si e dis-tintos da sua essencia pura, isto e . devem possuirqualidades.

    Portanto, nos desenvolvimentos seguintes na D te-rei em conta a atirmacao de Schneider e de Nurn-berger segundo 0 0 5 quais Epicure nao atribuiu qua-lidades aos atomos e os 44 e 54 da carta aHerodoto, em Diogenes Laercio, estao trocados,Mesmo que assim fosse, poderiamos tirar todo 00valor aos testemunhos de Lucrecio, de Plutarco, en-fim, de todos os autores que se ref'erern a Epicuro?Alem disto. nao e apenas em dois paragrafos que

    H Di6g. X 54; Lucrecio II 861 e segs. (N. doAutor).

    ] 7 9

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    Diogenes Laercio menciona as quaJidades dos Mo-mos. mas sim em dez: 42. 43, 44, 54. 55. 56.57. 58, 59 e 61. A razao apresentada por essescriticos, ou seja que.niio saberiam fazer concordaras qualidades do atomo com 0 seu conceito, ebastante fraca; Spinoza diz que a ignorancia naoconstitui argumento. Se todos quisessem rasurar nosAntigos as passagens que nao compreendem, depressachegariamos a uma tabula rasa!o a tomo adquire atraves das su as q ua li da de suma existencia que contradiz 0 seu conceito; e COH-siderado como um ser-ai alienado, dlierente c sepa-rado da sua essencia. E nesta contradicao que resideo enorme interesse de Epicuro. Assim que considersuma propriedade, dai tirando como consequencia anatureza material do atomo, imediatamente contra-poe deterrninacoes que de novo negam esta pro-priedade na sua propria esfera e fazem prevalecer.pelo contrario, 0 conceito de atomo. Determinaportanto todas as qualidades de tal muneira que elasse coruradizem a si mesmas. Pelo c ontra rio , D em 6-crito nao considera em parte alguma as propriedadesrela t ivarnente ao proprio atorno. e nunca objectivaa contradicao, que elas contem, entre conceito eexistencia. A (mica coisa que th e interessa e apre-sentar as qualidades relativamente a natureza con-creta que delas se forma. Sa o para ele meras hipo-teses queservem para explicar a diversidade feno-rnenica. Deste modo , 0 conceito de atorno nao ternnada que ver com elas.

    Para demornstrar as nossas afirmacces, conviraantes de mais referir as Io nte s q ue p are ce rn contradi-zer-se neste ponte. Podernos ler na obra De placitisphilosophorum: Epicure afirma que estas tres qua-Iidades pertencem aos atomos: a grandeza, a forma,o peso. Democrito s6 admitia duas delas: a grandezae a forma; e Epicuro juntou-lhe a terceira, isto e,180

    o peso 3~. Surge-nos a mesma passa rgem, repetidapalavra por palavra, na Praeparaiio evangelica deEusebio = .Esta afirmacao {:, confirmada pelo testernunhode Simplicio 37 e de Philipon 3", segundo 0 qualDemocrito s6 atribuiu aos atomos diferencas dezrandeza e de forma. Aristoteles opoe-se a estesb testemunhos: no primeiro Iivro do De generauoneet corruptione assinala nos atornos de Dernocrlto aexistencia de ditferenyas de peso 30. Noutro local(no .primeiro livro do De Caeto). Arist6t.eles e V3J~Oquanto a questao de saber se Dem6cnto atribuiuou nao peso aos atomos. Com efeito, podernos ler:Assim nenhum dos corpos sera absolutamente Ieve,pois todos tern peso; mas ~e todos tern Ieve:-a.. ne-nenhum sera pesado '0. RItter. na sua Historia da[ilosoiia aruiga, rejeita os dados de Plutarco, deEusebio e de Estobeo apoiando-se na autoridadede Aristoteles: e nao tem em conta os testernunhosde Simplicio e de Philipon. .Vejamos se estas passagens sao realmente ta ocontraditorias como parecem. Nelas, Aristoteles naose refere ex proiesso (tormalmente) a s qualidades dosatomos. Le-se rnesmo no livro setimo da Metaiisica:Democrito considera tres diferencas nos a tomos ,

    ~~ Pseudo - Plutarco, DB placito phil., 877; cf.Sextus EmplriClULS,AdveTsus dogmaticos, IV 240. (N. doAutoT).

    3G Eusebio XIV 749. (N. do AutOT).37 S.imip'llclo. Schoha in ATistotelem, p. 362. (N.do AutOT).a~ Phillip. scholia 'in Ari8totelem, p. 362 (N. do

    AutOT).J~ Arlstoteles, De geneTatione et corruptione

    362 a. (N, do Autor).~o Aristoteles, De caelo Z7S a. (N. do AutoT).

    18 1

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    Segundo ele, 0 corpo fundamental e do ponte devista material urn unico e mesmo corpo; mas elediferencia-se pelo rhiismos, que significa a forma,pel a trope, que significa a si1U'~O. au pella diathigueque significa 0 arranjo H Decorte imediatamentedesta passagem 42 0 facto de nao ser mencionadocomo uma qualidade dos atomos de Democrito. Osfragmentos da materia. disperses e mantidos sepa-rados uns dos outros, devern ter Iormas particulatese essas f'ormas vern-Ihes unicarnente do exterior. seconsiderarmos 0 espaco. Esta conclusao ressalta aindamais clararnente da seguinte passagem de Aristoteles:Leucipo e 0 seu cornpanheiro Democrito a.firmamque os elementos sao 0 cheio e 0 vazio ... que eles,enquanto materia. sa o a razao do que existe. Ora damesrna . forma que aqueles que apenas consideramuma substancia fundamental unica fazern nasceraquilo que constitui 0 Outro dessa substuncia dassuas afeicoes, assim tarnbern ambos, ao suporerncomo principios das qualidades 0 tenue e 0 denso,ensinam que as diferencas entre os atornos sao ascausas de tudo 0 que existe para alem deles: poiso ser que constitui 0 Iundamento 56 se diferenoiapor rhiismos, diaihigue, trope. Assim, A diferen-cia-se de N pela forma. AN de NA pelo arranjo,Z de N pela 'PoS'i~ao)}43.

    Conclui-se evidentemente desta passagem que De-mocrito so considera as propriedades dos atomosrelativamente a formacao das diferencas no rnundoIenornenico e nao relativamente ao proprio atorno.

    41 Artstoteles. metaffsica 1042 h 12 e segs. (N. doAutor ),

    42 Ed. :MEGA. Depots de 'passagern', riscado:eDemocrito nao considera a contradtcao entre v a quali-dade do atorno e 0 seu conceitos. (N. dos T.).~~ Ibui., 985 b 4 e segs, (N. do Autor ),

    182

    Por outro lado, constata-se que Democrito nao assi-nala 0 peso como propriedade essencial dos atomos,Par a ole, esta propriedade esta implicita na medidaem que tudo 0 que e corpora] tem peso. Do mesrnomodo, a grandeza nao e para de uma qualidadefundamental; sera antes uma deterrninacao acidentalque O S atomos receberarn simultanearnente com aforma. 56 0 estado-difererrciado das form as - poisnada mais esta contido na forma. na posicao eno arranjo - interessa Democrito. A grandeza, aforma e 0 peso. tornados em con junto tal como 0 fazEpicuro, sao diferencas que 0 Morna tern em simesmo: forma e arranjo ja s a o diferencas que'lhe advern do facto d e estar em relacao comurn Outre, Assim, enquanto vemos em Democritosimples determinacoes hipoteticas que pretendern ex-plicar 0 mundo fenornenico, em Epicuro encontra-mos a consequencia do proprio principio. E por estarazao que vamos analisar detalhadamente as suasdeterminacoes das qualidades .do atomo,

    Em primeiro lugar, os atomos tern urna gran-deza H Mas por outro lado, a grandeza e-lhes igual-mente negada. Com efeito, eles nao tern uma qual.qua grandeza 4C,; pelo contrario, s6 podernos admitirneles algumas variacoes de grandeza 16. Melhor ainda,s o Illes devemcs atribuir a negacao da grandeza, apequenez H; e nero sequer a pequenez minima. poisseria uma determinacao puramente espacial, e simo infinstarnente pequeno, que exprirne a contradi-c ; : ao18. Rosinius, na s sua s a nota c oes ao s fra gm entos

    .. Diog. X 44. (N. do Au-tor).1~ IbW., 56. (N. do Autor).1'; Ibid" 55. (N. do Autor).47 tua., 59. (N. d.o Autor).'" Cf. Ibid., 58; Estobeo, Ecloga8, I, X 14 ( 306).

    (N. do Au-tor).

    183

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    de Epicure, traduz portanto Ialsamente urna passa-gem e esquece completamente uma outra quandoafirma: Hujus modi autem tenuitatem atomorumincredibili parvitate arguebat Epicurus, utpote quasnulla magnkudioe praeditas aiebat teste Laenio,X 44 '9-~V_Nao terei em conta 0 facto de. segundo Eusebio,

    Epicuro ter sido 0 primeiro a atribuir aos atomosuma pequenez intinita 51, enquanto Democrito admi-tia atomos en ormes - grandes como 0 mundo,afirrna mesmo Estobeo .z .Por urn lado isto contradiz 0 testemunho deAristoteles 53; por outro lado, Eusebio, ou entao 0bispo aiexandrino Denys, que ele resume, contradiz-sea si proprio. Com efeito, le-se no mesmo livro queDemocrito considerava como principios da naturezacorpos invisiveis concebidos pela ramo G '. Mas urn

    ponto e claro: Dernocrito nao tern consciencia dacontradicao: esta nao 0 preocupa, se bern que cons-titua 0 interesse principal de Epicure.

    A segundo propriedade dos atornos de Epicure ea forma 55. Mas esta determinacao contradiz igual-mente 0 conceito do atomo, devendo-se portanto

    ~9 Rosslnl, IDptcuri e rragmenta J,i,brorum de Na-tum II et XI, p. 26. (N. do Auto.,.).5,) Mas, dsste modo, Ep

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    Finalmenre, e da maior importancia a facto deEpicure mencionar 0 peso como terceira quatidade a "visto que e neste ponto de gravidade que a materiapossui a singularidade ideal que constitui uma deter-miaacao principal do atorno. A partir do momentaem que as atornos sao transportados para 0 dominicda representacao, eles devem necessariamente possuirpeso,Mas 0 peso e igualrnente contraditorio com ano~o de aloma; com efeito, ele constitui a singu-Iaridade da materia enquanto ponto ideal exteriora, essa materia. Ora e 0 proprio atorno que e essasingularidade: per assirn dizer, ele constitui umponto de gravidade representado como existenciasi~gular. Assim, 0 peso 56 existe para Epicuro comodiierenca de peso, e os atomos sao em si mesmospontos de gravidade substanciais, tal como os corposcelestes. S e se aplicar isto ao concreto resulta ime-diatamenre aquilo que 0 velho Brucker acha taoespantoso U~ , e que nos e confirrnado PO[ Lucrecia GS :a terra nao tern um centro para 0 qual tude ten-deria nem antipodas. Como, por outro lado, 0 pesos6 e caracteristico do atomo diferencia do dos outrosportanto alienado e dorado de propriedades, (\ logicoque desapareca a determinacao do peso quando osatomo~ nao forem concebidos como multiples nasua diferenca mas apenas relativarnente ao vazio.Logo, por muito que a massa ou a forma desatomos possa diferir, estes movem-se sempre no~spac,:o vaZI? com a mesma velocidade 00, E o porlSSO que Epicure 56 aplica a teoria do peso no que

    e s D16g. X 44,54, (N, do Autor)M Brucker,;P, 224, (N, do Autor),a~Lucreoio I 1052 e segs. (N, do A,dor)61l Dlog. X 43,61; Lucrecio Il 235 e segs. (N. do

    Autor )

    186

    I,

    diz respeito it repulsao e a s cornposicoes que nascemdessa repulsao, 0 que coum,itui pretexto para afir-mar que so os aglomerados de atomos sao dotadosde peso 67, nao 0 sendo os ,pr6priors atornos.Gassendi louva Epicure por se ter adiantado,somente guiado pela razao, it experiencia que rnos-tra que todos os corpos. apesar cia sua grande dife-renca de peso e de massa, passu em a mesrna velo-cidade quando oaern verticalmente OA .A consideracao das propriedades des atomos can-duz-nos assim ao mesmo resultado que a da dedi-nacao: Epicuro objectivou a contradicao. incluida noconceito do atomo, entre essen cia e existencia,criando assirn a ciencia do atornismo, enquanto emDernocrito nao se en contra nenhuma realizacao doprincipio e sim a mera defesa do lade material e aproducao de hipoteses empiricas.

    G7 Ct. capitulo Ill, (N, do Au-tor)e8 ,F,euerbach - Geschkhte der neuen Philosophie

    von Bacon. von Vent-lam bis Benedikt Spinoza, pg. 120,(N, do Au-tOT),

    187

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    TERCEIRO OAPITULO

    (< A TOMOS~PRINC1PIOSE ATOMOS-ELBMENTOS)

    Schaubach, na sua Dissertacao, ja citada, sabreos conceitos astronomicos de Epicuro, afirrna:

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    a Herodoto (Diogenes Laercio X 44. 54), afirmaque as Mamas tern nao s6 peso como ainda formae grandeza ... Considero portanto estes atomos, quenascerarn dos primeiros mas que sa o no entantoconsiderados ainda como particulas elernentares doscorpos 71, como pertencendo a . segunda especie.Consideremos mais detashadamente a passagomde Di6genes Laercio citada por Schaubach. Ei-Ia:Por exernplo que 0 Todo e corpo e natureza impal-pavel (quer dizer espaco vazio), que os atomos saoos elementos, e todas as outras afirmacoes do mesmogenero (Diogenes L. X 86). Epiouro ensina destemodo a Pitocles, a quem escreve, que a doutrina dosMeteoros se distingue de todas as outras doutrinasfisicas, por exemplo, que 0 todo e constituido porcorpos e .por vazio, que existern principios funda-mentais indivisiveis, Ve-se que nao ha aqui nenhumarazao para admltir a existencia de uma segundaespecie de atornos. Talvez pareca que a disjnncaoentre (0 Todo e corpo e natureza impalpavel.i. (e)que os Momos sa o os elementos ... estaoelece umadiferenca entre soma e atoma stoikheia designandotalvez 0 terrno soma as atomos do primeiro generopar oposicao aos aloma stoikheia. Mas e preferivelnao pensar deste modo, Soma significa 0 corporal,por oposicao ao vazio, 0 qual e per esta razao igual-mente denominado 0 assomaton (incorporal) 72. Emsoma estariio portanto cornpreendidos tonto O'S ato-mos como os corpos cornpostos. Assim, por exem-plo, afirrna-se na carta a Herodoto: 0 Todo ecorpo ... mas se nao existisse aquila a que chamarnoso vazio, 0 lugar e a natureza irnpalpavel. .. Alguns doscorpos sa o composicoes, e os outros sa o aquilo queconstitui essas cornposicoes. Estes ultimos s a o indi-

    7' Schau bach, ibid., p. 550. (N. do AutOT)72 Di6g. X 67. (N. do Autor)

    L9 0

    v!si.veis,. e .0s;:ca:veis. e tais que devem ser os prin-CIPIOS indivisivek que constituem a natureza doscorpos. Na .pa~em acima refer ida , Epicure falaaSSLm em pnmei r o lugar, e g e ne ri c a rn en te , do cor.poral por oposicao ao vazio; depois refere-se aocorporal em particular. aos atornos,. A roferencL;t de Schaubach a Arist6teles provaigualrnente muito pouco, A distincao entre arkhee stoikheion que e norrnalmente usada pel o s estoi-cos 73, encontra-se realrnente em Aristoteles 14 masesse nao deixa de referir a identidade das duase~press6es 7~. Afirma rnesmo que stoikheion de.s~gna sobretudo 0 atomo 70. Do rnesmo modo, Lou-cipo e Dernccrito charnam igualrnente stoikheionao pleres kai kenon (0 cheio e 0 vazio).

    Em Lucrecio, nas cartas de Epicure que encon-trarnos em Diogenes Laercio, no Coloten de Plu-~rco 77 . e ,em Sextus Empiricus 78, a'S propriedadessao_ atribuidas aos proprios atomos e e por essarazao que des foram determinados como se sesuprirnissem a si mesmos., Mas se, p~rce antinomico 0 facto de os corposso .pcrcephv.e~~p~la r~zao serem dotados de quali-da:des esp.aclals, e-o ~l~da mais 0 facto de as pro-

    PPIM qualidades espaciais 56 poderem ser apreendidaspelo entendirnento 7~.. Par~ basear rnelhor a sua opiniao, Schaubachetta . fmalme?te a seguinte passagem de Estobeo:Epicure (diz) que os CDf.pOS primordiais sao sim-

    73 Ibid., VII 134. (N. do A?~tOT)7. Arlst. meta/tstca V 13 (lOUb 34-1013a 23 e 1014a 26-1014b 15). (N. do AutOT)75 Cf. ibid. (N. do Autor)76 iua., V 3 (1014 a. 26-1014b 15) (N. do Autor)77 Di6g. X 54; Plut., Adversus Ooloten 1111,8.(N. do Autor)18 Sext. Emp., Adv. dogm., IV 42. (N. do Autor)_19 Eusebio XIV 773. 749. (N. do Autor).

    191

    ples, mas que aqueles que resultam da sua compo-

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    5 1 9 1 0 possuem todos peso. Poder-se-ia ainda juntara esta passagem de Estobeo algumas outras em . queos atoma stoikheia s a o menoionados como urna es-pecie particular de atornos (Plutarco: De placitisPhilosophorum, I 246 e 249, e Estobeo: Eclog, Phys.I, p. 5) BO . Al ia s , nao se afirma de modo algum nessaspassagens que os atomos originais nao tenham gran-deza, figura e peso. Pelo contrario, nelas se refereo peso como caraoteristica que perrnite diferenciar osatomoi arkhai e os atoma stoikhela. Mas ja fizemosnotar no capitulo precedente que a categoria depeso so e aplicada a proposito ci a repulsao e dosconglomerados que dela resultam,Al ia s , a mtroducao dos aroma stoikheia naonos permite avancar: e tao dificil passar dos atomoiarkhai para os aloma stoikheia como atribuir ime-diatarnente propriedades aos primeiros. No entanto,nao nego absolutamente esta distincao. A unicacoisa que nego e a existencia de dois tipos fixes ediferentes de atomos, Trata-se antes de duas deter-minacoes diferentes de urna unica e mesrna especie.Antes de analisar e sta d if er en ca , yOU ainda cha-mar a atencao para urn procedimento de Epicuro:este autor concebe facilmente as diferentes determi-nacoes de urn conce i to como existencias diferentese autonornas, Da mesma forma que 0 seu principioe 0 atorno, 0 metodo do Sell conhecimento e ato-mism. Cada passagem de um seu desenvolvimentotransforma-se imediatamente numa realidade Iixa,por assirn dizer separada da relacao em que se in-sere pelo espaco vazio: cada deterrninacao recebea forma e m singularidade isolada,

    80 Pseudo-Plut., I 7, 882A e I 12, 883A; Estobeo,Eclogas I XXII 3a ( 496) e I, 29b ( 66). (N. doAutoT.

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    o seguinteexe.mplo esclarecera melhor este as-pecto,o 1nfill1i.to,T o apciron ou 0 iniinitio, como t r aduzCicero, e muitas vezes empregue por Epicuro comose se tratasse de uma natureza particular; e precisa-mente nas passagens em que encontrarnos os stoikheiadeterrninados como uma Substancia fundamental fixaque encontrarnos igualmente 0 dpeiron, tornadoa u to n orno Rl.No entanio, e de acordo com as proprias deter-minacoes de Epicure, 0' infinite nao e nem urnasubstancia particular nem a lgo exterior aos atomose ao vazio, mas antes uma deterrninacao acidentaldestes dois elementos. Com eieito, podernos encon-trar tres significado'S de apeiron.Em .primeiro lugar, 0 apeiron exprime paraEpicure uma qualidade comum aos atornos e aovazio. Nesta acepcao, significa a infinidade do todo,que sera infinito atraves da infinita pluralida de dosatomos, d a infinita dirnensao do vazio 82.Em segundo lugar, 0 apeiria (0 estado-ilimitado)e a pluralidade dos atomos, de tal modo que naoe 0' atorno e sim a pluralidade infinita dos atomosque se opoe ao vazio SS.Finalrnente, se fo r licito relacionar Epicure comDemocrito, apeiron significaiogualmente 0' contra-rio imed ia to , 0 vazio infinite, que e oposto aoatomo deterrninado em si e limitado por si mesmo 8' .Em todos estes significado'S - que sao os unicos,e mesmo os unicos possiveis para 0 atornismo - 0infinite e apenas um a deterrninacao do a torno e doB1 Cf. ibid., Cicero, De f'inibus bon. mal., I VI21. (N. do AutoT).f:Z Di6g. X 41. (N. do Antor).~~ Plut. , ibid., 1114 E, 13. (N. do AutOT).M Simplicio, Bcliolia in Aristotelem, p. 488. (N. do

    Autor )193

    "

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    vazio, No entanto, ele torna-se autonomo e assumeuma existencia particular, sendo ate consideradocomo uma natureza especifica ao lado dos principioscuja deterrninacao exprime.Entao. quer terrha sido Epicure quem fixou adeterminacao na qual 0 aromo se torna stoikheioncomo urna especie independente e originaria de lito-mos, que alias nao e correcto de acordo com apreponderancia historioa de uma das fonles sobrea outra, ou quer tenha sido Metrodoro, seu disctpulo(0 que nos parece rnais aceitavel), 0 pr imeiro a trans-format a deterrninacao diferenciada numa existenciadiferenciada ~r., devemos atrjbuir a automatizacao daspassagens singulares ao modo subjective da cons-ciencia atomista. Niio e pelo facto de dar a deter-minacoes diferentes a forma de existencias diferentesque se concebe a sua diferenca.o atorno so tern para Democrito 0 significadode urn stoikhelon, de urn substracto material. A dis-tincao entre 0 atomo como arkhe e 0 atorno comostoikheion, entre 0 atorno como principio e 0 atomocomo elemento, pertence a Epicuro: e 0 que sesegue demonstrara a importancia desta distincao.A contradicao entre a existencia e a essencia,entre a materia. e a forma. que esta contida no con-ceito de atorno e considerada como exist indo noproprio atomo singular. pelo simples facto de lheserem atribuidas qualidades, Atraves da qualidade,o atorno e alienado do seu conceito e sirnultanea-mente e terminada a sua construcao. 0 rnundc sen-sivel nascera directamente da repulsao e dos con-glomerados conexos de atomos qualificados.E com esta passagem do mundo da essencia aomundo do fenorneno que a contradicao incluida no

    '.

    S~ Pseudo-Plut., 879 B-C (I 5); Estobeo, 1!:cl.ogasI, XXII 3 a ( 496). N. do AutOT.194

    conceito de atomo atinge rnanitestamente a sua rea-lizacao rnais categorica, Pois 0 atomo e , de a.cordocom o seu conceito, a forma absolute, essencial danatureza. Esta forma absoluta e agora baixada aonivel da materia absolute, ao subslracto iniorme domundo [enomenico.Os atomos constituent a Slubstfrncia da natureza so,

    d J 87aquela de onde tude sai e onde tudo se ISSO ve. .Mas a destruicao perpetua do mundo fenomenlc,onao alcanca qualquer resultado. Formam-so Ieno-menos novos mas 0 atorno mantem-se eternarnentecomo sedirnerrto RS. A9Sim. quando se pensa 0 atomode acordo com 0 seu conceito, conclui-se que a suaexistencia sera 0 espaco vazio, a nature~ destruid~;mas quando cle passa a reali~de efectiva, e rebai-xado ao estado de base material que, cnquanto su-porte de urn mundo onde existern mul~ipl~s ~ela90es,so pede existir nas Iormas que l~le.sao rndlf;r.entese exteriores. Esta 6 uma consequencia necessaria namedida em que 0 atomo, press.upos1~ como urn s.erabstractamente-singular-e-aca~ado.. n~o pode. afi-:-mar-se como potencia que Idealizana e dominariaessa IDultiplicidade.A singularidade abstracta co~stitui a Jiberdad::relativamente ao ser-ai e nao a Iiberdade no ser-ai.Nunca pede ser ilurninada pelo ser-ai, pois .com ajunciio deste elemento ela perde 0 seu caracter _etorna-se material. E por esta razao que 0 atomo naose revela no Ienomeno "': ou melhor, quando surge

    80 Lucrecio I 820 e segs.; Di6g. X 39. (N. doAutOT).

    87 Ibui., 73; Lucr'ecio V 108 e eegs. e 3703e segs.(N. do Autorj.

    g~ Simplic1o, Scholia in Aristotelem, p. 425. (N.do Autor).

    69 Lucre cio, II 7%. (N. do AutOT).195

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    6 apenas no estado de base material. 0 atomo comotal s o existe no vazio. Deste modo. e a morte danatureza que Se tornou a sua substancia imortal;e Lucrecio tern razao ao afirrnar:mortalem vitam mors immortalis ademit 90

    [III 869].o facto de Epicuro isolar e objectivar a contra-dicao no seu nivel mais elevado, distinguindo 0atorno que. como stoikhelon, se torna a base dofenomeno, do atorno que, enquanto arkhe existeno va zio , c onstitu i p rec isa mente a quilo que 0 dis-tingue de Dernocrito no plano da filosofia, pois estes6 objectiva um desses aspectos. E encontramos amesma dferenca entre Democrito e Epicure nomundo da essencia, no dominio dos atornos e dovazio. 0 atorno qualificado e 0 un i co completarnente

    elaborado e 0 mundo Ienomenico s6 pode gerar-sea pa rtir do atomo elaborado e alienado no seuconceito, 0 que Epicure exprime dizendo que s6o atorno qualificado se torna stoikheion, ou queapenas 0 dtomon stoikhelon e dotado de qualidades.

    co cA morte imor tal tirou-nos a vida mortal.(N. d08 T.).

    1 9 6

    QUARTO CAPITULO

    o TEMPO

    Como, no atomo, a materia esta, enquanto purarelacao consigo mesma, dispensada de toda a rnuta-bilidade e relatividade, conclui-se irnediatarnente queo tempo deve ser excluido do conceito de atorno,do rnundo ci a essencia. Pois a materia so e eterna eautonorna na medida em que nela se abstrai da tern-poralidade. Epicuro e Democrito estao ainda deacordo neste ponte: mas ja diferem pela maneiracomo determinam 0 tempo, assim afastado domundo dos atomos, e pela esfera para onde 0 trans-portam.Segundo Democrito, 0 tempo nao tern impor-ta n cia alzuma e nao e necessar io ao seu sistema.

    b .'Quando este autor explica 0 tempo, e para 0 supn-mir; e quando 0 determina como etemo, e para que,como afirmam Aristoteles D1 c Simplicio n, 0 nasci-mento e a morte, ou seja 0 temporal, sejam afasta dosdos atomos, E 0 proprio tempo que deve Iornecer

    91 Aristoteles, Fisica 251 b. (N. do Auior ),DZ Simplicio, scuou in Aristotel(;..'1n, p. 426. (N.

    do Autor).19 7

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    urna prova de que nero tudo teve necessariarnenteuma origem, urn memento em que se iniciasse.E necessario reconhecer aqui alga de mais pro-fundo. 0 entendimento imaginative, que nfio con-cebe 0 ser-autonomo da substancia, coloca 0 pro-blema do devir temporal dessa substancia. Nao notaporem que, ao fazer da substancia algo de temporal,transforma simultaneameute 0 tempo em qualquercoisa de substancial, destruirrdo-lhe 0 seu conceitona medida em que 0 tempo absolute nao e temporal.

    Mas, por outro lade, esta solucao nao e satisfa-toria, 0 tempo, ao ser excluido do mundo da essen-cia e transferido para a consciencia de si do sujeitoque filosofa mas nao tom a contacto com 0 propriomundo.

    Ja nao acontece 0 mesmo em Epicure. Segundoeste, quando 0 tempo 6 excluido do mundo da essen-cia torna-se a forma absoluta do [enomeno, Comefeito, 0 tempo e definido como sendo 0 acidentedo acidente. 0 acidente e a rnodificacao da subs-tancia em geral: 0 acidente do acidente e a modi-Iicacao que reflecte sobre si mesma, e a mudancaenquanto mudanca. 0 tempo e agora esta formapura do rnundo dos fenornenos 03.A composicao e a forma .puramente passive danatureza concreta e a tempo e a sua forma activa.Se se considerar a composicao a partir do seu ser-ai,o atomo existira por tras deja, HO vazio, no imagi-nario: se se considerar 0 atorno de acordo com 0seu conceito, au nao existe composicao ou entaoso existe na representacao subjectiva. Isto aconteceporque ela e uma relacao na qual os atomos inde-pendentes, techados sobre si proprios, em certa me-

    D , Lucrecio I 459. 461 e segs., 479 e segs.:Sex. Emp., Adv. dogm. IV Z19; cf. 'E..~tob~, ibi4 ..19 3

    dida desinteressados U'DS dos outros, njio estao rela-cionados uns com os outros, Pelo contrario, 0 tempo,enquanto variacao do finito e pelo facto de serconcebido como variacao, constitui ainda a formaefectivamente real que separa 0 fen6meno d a essen-cia, oaracterizando 0 fen6meno na medida em quea reconduz a essencia. A cornposicao exprime agoraa materialidade dos atornos e a da natureza. quenasce desses atomos: enquanto que a tempo e , nomundo do Ienomeno, aquilo que 0 conceito de atomoe no mundo da essencia, isto e , a abstraccao, adestruicao e 0 retorno ao ser para si de todo 0 ser-aideterrninado.Tiram-se destas consideracoes algumas conse-quencias: em primeiro lugar, Epicure faz da contra-dicao entre a materia e a forma 0 caracter da natu-reza Ienomenica, a qual se torna deste modo aquilopara que tende a natureza essencial, do atomo. Istodeve-se ao facto de 0 tempo ser considerado emoposicao ao espaco e a forma activa do movimentoem oposicao a forma passiva, Em segundo lugar,56 em Epicuro podemos encontrar 0 fen6rneno con-cebido como Ieno.neno, isto e , como uma alienacaoda essencia que se afirma, enquanto alienacao, nasua realidade efectiva. Em Dem6crito,pelo con-trario, que pensa a composicao como unica formada natureza Ienornenica, 0 Ienomeno nao se apre-senta na sua qualidade de fen 6men 0, de algo dife-rente da essencia, Assim, se considerarmos 0 feno-meno a partir da f>UJ. existencia, a essencia confun-dir-se-a totalmente com ele: e se 0 considerarrnosde acordo com 0 seu conccito, aquela separar-se-adele d lpesa r de 0 fenomeno ter descido a urn estadode aparencia subjectiva. A composicao mostra-seindiferente e material relativarnente aos seus funda-mentos essenciais; pelo contrario, 0 tempo e 0 fogoda essencia que consome eternamente a fen6menoe the imprime as marcas da dependencia e da ines-

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    sencialidade. Finalrnente, na rnedida em que para Pelo contrario, em Lucrecia, Sextus Empiricus

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    Epicuro 0 tempo e a mudanca enquanto mudanca,a reflexao do fen6meno sobre si mesmo, e logicoque a natureza f'enomenica seja considerada objectivae que a percepcao sensivei seja tomada para criterioreal da natureza concrcta se bern que 0 seu funda-men to. 0 atomo, so seja contemplado pela razao.Efectivamente, e devido ao facto de 0 tempoconstituir a forma abstracta da percepcao sensivelque existe a necessidade, segundo 0 metcdo ato-mista da consciencia epicurista, de a fixar como na-tureza dotada de uma existencia particular no inte-rior da natureza. Mas a mutabllidade do rnundosensivel enquanto rnutabilidade, a sua mudanca en-quanto mudanca, esta reflexao do fenorneno sobresi mesmo que constitui 0 conceito do tempo. ternuma existencia distinta na sens