13181D-NUTRIRE v36 n1
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NutrireR E V I S T A D A S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E A L I M E N T A Ç Ã O E N U T R I Ç Ã O
J O U R N A L O F T H E B R A Z I L I A N S O C I E T Y O F F O O D A N D N U T R I T I O N
36 n. 1,
abr.
2011
ISSN
1519
-892
8
NUTRIRE: REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
Comissão Editorial / Editorial CommitteeCélia Colli - Editor Científi co / Scientifi c editor
Faculdade de Ciências Farmacêuticas daUniversidade de São Paulo
Elizabete Wenzel de Menezes - Faculdade de CiênciasFarmacêuticas da Universidade de São Paulo
Fernando Salvador Moreno - Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo
Franco Maria Lajolo - Faculdade de CiênciasFarmacêuticas da Universidade de São Paulo
Hélio Vannucchi - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
Conselho Editorial / Editorial BoardÁlvaro Oscar Campana - Faculdade de Medicina
de Botucatu da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho
Amalia Antezana Valera - Depto de Biologia / Laboratorio de Servicos Academicos Y de Investigacion Universidad Mayor de San Simon, Facultad de Ciencias Y Tecnologia - BOLIVIA
Anita Sachs - Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina
Dirce Maria Sigulem - Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina
Elizabeth de Souza Nascimento - Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidadede São Paulo
Elizabeth Aparecida Ferraz Silva Torres - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Emma Witting de Penna - Universidad do Chile
Felix Reyes - Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas
José Augusto de Aguiar Taddei - Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina
José Alfredo Gomes Arêas - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Júlio Cesar Moriguti - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
Júlio Tirapegui - Faculdade de CiênciasFarmacêuticas da Universidade de São Paulo
Lilian Cuppari - Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina
Luiz Antonio Gioielli - Faculdade de CiênciasFarmacêuticas da Universidade de São Paulo
Maria de Fátima N. Marucci - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Maria de Lourdes Pires Bianchi- Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
Maria Lúcia Rosa Stefanini - Instituto de Saúde da Secretaria da Saúde de São Paulo
Maria Sylvia de Souza Vitalle - Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina
Marina Vieira da Silva - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ/Piracicaba da Universidade de São Paulo
Olga Maria S. Amancio - Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina
Ralf Greiner - Federal Research Institute of Nutrition and Food - Germany
Regina Mara Fisberg - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Rejane Andréa Ramalho - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rui Curi - Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
Semiramis Martins Álvares Domene - Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Silvia Berlanga de Moraes Barros - Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo
Silvia Eloiza Priore - Universidade Federal de Viçosa
Sonia Tucunduva Philippi - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Sophia Cornbluth Szarfarc - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Tasso Moraes e Santos - Universidade Federal de Minas Gerais
Thais Borges Cesar - Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho
Tullia M. C. C. Filisetti - Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo
Normalização e indexação / Normalization and indexingBibliotecária Maria Cláudia Pestana
À Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição reservam-se todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção Panamericana e da Convenção Internacional sobre os direitos autorais. Não nos responsabilizamos por conceitos emitidos em matéria assinada e também não aceitamos matéria paga em nosso espaço editorial.Os pontos de vista, as visões políticas e as opiniões aqui emitidas, tanto pelos autores como pelos anun ciantes, nem sempre refl etem a orientação desta revista.
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Revisores: Alvaro Augusto Feitosa Pereira(inglês), Benedita E. S. de Oliveira (português),Maria Oriana del Reyes Figueiroa (espanhol).
NutrireR E V I S T A D A S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E A L I M E N T A Ç Ã O E N U T R I Ç Ã O
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO-SBAN
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-197, abril 2011
ISSN 1519-8928
© Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição-SBANPublicação quadrimestral/ Published three times to the yearTiragem/Print-run:1000Impresso no Brasil/Printed in BrazilCapa: Ademar AssaokaDiagramação: Jotacê Desenhos Gráfi cos
ISSN1519-8928 CDD 612.305 664.005
É permitida a reprodução de resumos com a devida citação da fonte/ Reproduction of abstracts is allowed as long as the right source is quoted.
A Revista Nutrire é indexada pelas seguintes bases de dados: CAB, Chemical Abstracts, Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Peri (Esalq), Periódica e Latindex.
Nutrire: revista da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição=Journal of the Brazilian Society of Food and Nutrition, São Paulo, SP. v.1, (1990) - São Paulo, SP: SBAN, 2000 -
Quadrimestral. Resumos em português, inglês e espanhol. Continuação dos Cadernos de Nutrição, a partir do v. 19/20 (2000). A partir do v. 31 de 2006 a revista passou a ter periodicidade quadrimestral.
1. Alimentos e alimentação – Periódicos. 2. Nutrição – Periódicos. I. Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição-SBAN
ii
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr, São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-197, abr. 2011
V Editorial
Artigos Originais/Original Articles 1 Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos
recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar Impact of different protein sources on the development of hepatic cells in newly-weaned
rats submitted to a restriction diet followed by food repletionDenise Aparecida Gonçalves de OLIVEIRA; Valdemiro Carlos SGARBIERI
23 Impacto da complementação alimentar fornecida por um banco de alimentos, no estado nutricional de crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/Minas Gerais
Impact of food complement supplied by a food bank on the nutritional status of children aged 1 to 6 years in a daycare center in Ibirité/Minas Gerais
Bruna Carla SILVEIRA; Sandra Aparecida Vieira Neiva NOLASCO; Valéria Aparecida Alves LOPES; Michele Pereira NETTO; Fabiana Maria da COSTA
37 Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição
Occurrence of Staphylococcus spp. and S. aureus on surfaces used for preparing food in a food service
Heloísa Maria Ângelo JERÔNIMO; Rita de Cássia Ramos do Egypto QUEIROGA; Ana Caroliny Vieira da COSTA; Isabella de Medeiros BARBOSA; Maria Lúcia da Conceição; Evandro Leite de SOUZA
49 Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe
Socio-economical characteristics and nutritional status of children and adolescents in rural settlements in Pacatuba, Sergipe
Diva Aliete dos Santos VIEIRA; Dayanne da COSTA; Jamille Oliveira COSTA; Fernando Fleury CURADO; Raquel Simões MENDES-NETTO
71 Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo
Quality of food preparation in restaurants in the district of Cerqueira César, São PauloLívia da Cruz ESPERANÇA; Dirce Maria Lobo MARCHIONI
85 Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve
Relationship of weight gain before and during pregnancy with fetal macrosomia in gestation complicated by diabetes and mild hyperglycemia
Camila Pereira BRAGA; Felipe André dos SANTOS; Elaine Gomes da SILVA; Humberto Sadanobu HIRAKAWA; Ana Angélica Henrique FERNANDES; Iracema de Mattos Paranhos CALDERON
99 Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade Coronary risk in adolescents as estimated by the Conicity index
Marcela Pinheiro MARQUES; Clélia de Oliveira LYRA; Severina Carla Vieira Cunha LIMA; Liana Galvão Bacurau PINHEIRO; Paulo Roberto de Medeiros AZEVEDO; Ricardo Fernando ARRAIS; Ana Lúcia MIRANDA; Lucia de Fátima Campos PEDROSA
SUMÁRIO/CONTENTS
iii
111 Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba
Epidemiological profi le of the nutritional status in children assisted in daycare centers in the state of Paraíba
Carolina Pereira da Cunha SOUSA; Mayana Pereira da Cunha SOUSA; Ana Carolina Dantas ROCHA; Dixis Figueroa PEDRAZA
127 Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo Validity of weight and height informed by adult women in the city of São Paulo
Maria Fernanda Petroli FRUTUOSO; Fernanda Ávila FALSARELLA; Ana Maria Dianezi GAMBARDELLA
137 Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento
Effect of the dietary glycid/lipid calorie ratio on the nitrogen balance and body composition of bodybuilders
Raquel Simões MENDES-NETTO; Nailza MAESTÁ; Erick Prado de OLIVEIRA; Roberto Carlos BURINI
Artigos de Revisão/Revision Articles 151 Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento
do diabetes mellitus tipo 1 Metabolic and nutritional aspects of carbohydrate counting in the treatment of type 1
diabetes mellitusAna Carolina Pereira COSTA; Mariana THALACKER; Nathália BESENBRUCH;
Rosana Farah SIMONY; Fernanda Castelo BRANCO
163 Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular Effects of wine components on cardiovascular function
Daniela Cristina Seminoti Jacques DOMENEGHINI; Suélem Aparecida de França LEMES
177 Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas Iron-defi ciency anemia and obesity: a new look at old problems
Ursula Viana BAGNI; Gloria Valeria da VEIGA
iv
A alteração dos padrões de alimentação, e o aumento da dependência de monoculturas levaram a importantes mudanças sociais, culturais e políticas, especialmente até o começo do século XX, época em que as questões de saúde eram, em sua maioria, associadas à desnutrição e às doenças infecciosas.
Assim, do ponto de vista da evolução, as mudanças que afetam a saúde da população humana, e que vem sendo muito discutidas, incluem o aumento do consumo de carboidratos provenientes de grãos altamente processados e refi nados; o aumento do consumo de açúcar refi nado; a redução do consumo de frutas e vegetais de um modo geral. Somam-se a esses, fatores como o aumento da densidade populacional e a distribuição desigual de alimento. o uso crescente de pesticidas e fertilizantes, e sua possível ligação com a exaustão do solo e outros tantos.
Sob essa perspectiva evolucionária, alguns pesquisadores chamam a atenção para as adaptações do organismo humano a alterações de sua dieta. A dieta primitiva era crua, rica em fi bras pouco digeríveis e hipocalóricas. Eram grandes, portanto, os volumes ingeridos. Em consequência, um trato gastrointestinal longo e volumoso era necessário para acomodar e processar alimentos volumosos e extrair nutrientes a partir da celulose. Assim, os animais herbívoros têm intestinos mais longos do que os carnívoros.
Entre os seres humanos e outros primatas, aqueles que comem alimentos de baixa qualidade nutricional, têm trato gastrointestinal maior. Como a qualidade da dieta melhorou, concomitantemente ao desenvolvimento de cérebros maiores, houve também uma diminuição do tamanho do trato gastrointestinal. A dieta moderna tornou-se hipercalórica, pobre em fi bras e extremamente fácil de ser absorvida. Após uma refeição com essas características, a absorção ocorre rapidamente, em picos, na porção proximal do intestino. A absorção, no intestino distal, tende a ser mínima, o que pode causar uma falta de produção de hormônios anorexígenos E tem sido descrito que tanto os indivíduos diabéticos como os obesos têm menor produção pós-prandial desses hormônios. Artigo de Santoro S e cols., publicado no periódico São Paulo Medical Journal, em 2006, apresentava essa hipótese para a questão da obesidade: os obesos seriam aqueles, na população, que teriam o intestino delgado maior.
O artigo Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas, publicado neste número da Nutrire, traz a anemia ferropriva para a pauta dessa discussão sobre a obesidade e suas causas.
Célia ColliEditora Científi ca
EDITORIAL
v
1
Artigo original/Original Article
Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentarImpact of different protein sources on the development of hepatic cells in newly-weaned rats submitted to a restriction diet followed by food repletion
DENISE APARECIDA GONÇALVES DE OLIVEIRA1;
VALDEMIRO CARLOS SGARBIERI2
1Doutoranda em Alimentos e Nutrição - Faculdade de Engenharia de Alimentos/
FEA/UNICAMP. 2Professor Titular da
Faculdade de Engenharia de Alimentos/FEA/UNICAMP.
Endereço para correspondência:Denise Aparecida
Gonçalves de OliveiraRua Aparecida
D’Oeste, 464 – Eldorado IICEP 13421-650Piracicaba- SP.
E-mail: [email protected]
Baseado na tese de doutorado:
em Alimentos e Nutrição defendida em 31/05/2004,
Faculdade de Engenharia de Alimentos/ FEA –
Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP.
Agradecimentos:aos funcionários e
pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL/Campinas, SP, Brasil).
Especialmente ao Centro de Química de Alimentos
e Nutrição Aplicada, setor de bioquímica por permitir
a utilização dos seus laboratórios.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impact of different protein sources on the development of hepatic cells in newly-weaned rats submitted to a restriction diet followed by food repletion. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
The aim of this study was to evaluate the effect of different protein sources with different amino-acid profi les on liver cell development in “Wistar” rats submitted to a food restriction and recovery model. The food restriction model was based on a 50% ingestion restriction for the rats fed with the control diet (21 days) and “ad libitum” recovery (a period of 21 days). The protein sources used in this study were: Yeast autolysate (YA), whey protein concentrate from bovine milk (WPC), a mixture containing the YA and WPC in the proportion of 64:36 (protein base), commercial casein (CC) which was used as the experimental treatment (EC) and control treatment (CP). The following parameters were evaluated in this study: the amino-acid profi le of the protein sources, the development of liver cells (liver weight and growth rates - RNA, DNA, protein), weight and number of hepatocytes in the whole organ. The results showed that the treatment with (YA) was the most affected by the food restriction, showing an incomplete (leucine-defi cient) amino-acid profi le, a lower development of liver cells, lower growth of the liver due to a lower growth by cellular hyperplasia (number of cells), lower capacity of cell division and DNA synthesis. However, it showed a higher ability for RNA synthesis, thus indicating that growth in the restricted phase was mainly due to increase in the size of hepatocytes (cell hypertrophy). During the repletion period, all food treatments showed normal liver development, i.e. cell growth and organ hyperplasia and hypertrophy.
Keywords: Liver. Food Restriction. Cell Hyperplasia. Cell Hypertrophy.
ABSTRACT
2
RESUMORESUMEN
El objetivo de este estudio fue evaluar el efecto que diversas fuentes de proteínas con diferentes perfi les de aminoácidos ejercían en el desarrollo de las células hepáticas en ratas “Wistar” sometidas a restricción y reposición de la ingestión de alimentos. El modelo de restricción alimentar consistía en disminuir 50% del consumo de los animales control (periodo de 21 días) y la recuperación con ingestión “ad libitum” (período de 21 días). Las fuentes de proteínas utilizadas en este estudio fueron: autolisado de levadura (ATL); concentrado proteico de suero de leche bovino (CPL); mezcla de CPL y ATL, en la proporción de 64:36 (base proteica), caseína comercial (CC), que fue utilizada como tratamiento experimental (CE) y como estándar (CP). Fueron evaluados el perfi l de aminoácidos de las proteínas, el desarrollo de la célula hepática (peso del hígado y las tasas de crecimiento: ARN, ADN y proteína total), el peso y número de hepatocitos en el órgano. Los resultados mostraron que el grupo tratado con (ATL) fue el más afectado por el proceso de restricción de alimentos, la proteína presenta un perfi l incompleto de aminoácidos (defi ciente en leucina). Había menor desarrollo de las células del hígado, menor crecimiento del hígado debido a un menor crecimiento por hiperplasia celular (número de células), menor capacidad de división celular y de síntesis de ADN, sin embargo, mostraron una mayor capacidad para sintetizar ARN indicando que el crecimiento en la fase de restricción se debió principalmente al aumento en el tamaño de los hepatocitos (hipertrofi a celular). Durante la fase de recuperación alimentar de todos los tratamientos hubo un desarrollo hepático normal, o sea crecimiento de las células y del órgano por hiperplasia e hipertrofi a.
Palabras clave: Hígado. Restricción alimentícia. Hiperplasia celular. Hipertrofi a celular.
O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de diferentes fontes proteicas com diferentes perfi s de aminoácidos sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos “Wistar” submetidos à restrição e recuperação alimentar. O modelo de restrição alimentar foi baseado na restrição de 50% da ingestão dos animais controle (período de21 dias), e recuperação ad libitum (período de21 dias). As fontes proteicas utilizadas neste estudo foram: autolisado de levedura (ATL), concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), mistura contendo CSL e ATL na porcentagem de 64:36 (base proteica), caseína comercial (CC), a qual foi utilizada como tratamento experimental (CE) e como tratamento padrão (CP). Avaliou-se,neste estudo, o perfi l de aminoácidos das fontes proteicas, o desenvolvimento celular hepático (peso do fígado e dos índices de crescimento - RNA, DNA, proteína total), peso dos hepatócitos e número de hepatócitos em todo órgão. Os resultados mostram que o tratamento com (ATL) foi o mais afetado pelo processo de restrição alimentar, apresentando um perfil de aminoácido incompleto (deficiência em leucina); apresentou menor desenvolvimento celular hepático; menor crescimento do fígado em função do menor crescimento por hiperplasia celular (número de células), menor capacidade de divisão celular e síntese de DNA. Entretanto, apresentou maior capacidade de síntese de RNA, indicando que o crescimento na fase de restrição ocorreu principalmente por aumento no tamanho dos hepatócitos (hipertrofia celular). Durante o período de restauração alimentar todos os tratamentos apresentaram desenvolvimento hepático normal, ou seja, crescimento de células e do órgão por hiperplasia e hipertrofi a.
Palavras-chave: Fígado. Restrição alimentar. Hiperplasia celular. Hipertrofi a celular.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
O estado nutricional estabelece efeitos importantes na vida de um indivíduo,
desde o momento de sua concepção até a sua morte. Entre os nutrientes necessários
para equilíbrio dinâmico do organismo estão as proteínas, defi nidas como moléculas de
estruturas complexas que constituem cerca de 50% do peso celular. Partes das moléculas das
proteínas funcionam como biocatalisadores (hormônios e enzimas), controlando processos
importantes como: crescimento, digestão, absorção e transporte (PELLEY, 2007).
De acordo com Faria, Franceschini e Ribeiro (2010), o estado nutricional expressa
o grau no qual as necessidades fi siológicas por nutrientes são alcançadas para manter as
funções adequadas do organismo, resultando do equilíbrio entre ingestão e necessidade
de nutrientes. A ingestão de nutrientes como proteínas, lipídios, minerais e vitaminas em
quantidade e qualidade adequadas é importante para a manutenção do estado nutricional.
Quando a ingestão de proteínas é defi ciente, o organismo defende-se reduzindo a
eliminação urinária de nitrogênio na tentativa de reequilibrar-se. Se a defi ciência for muito
grande e prolongada, essa redução chega até um mínimo e o corpo entra em desequilíbrio
proteico, iniciando-se um processo catabólico proteico. O estado de desnutrição proteica
é caracterizado pela redução das reservas proteicas do organismo e pela alteração do
ritmo metabólico dos aminoácidos (MARTÍNEZ, 2001).
O fígado é o órgão que desempenha papel fundamental no metabolismo corporal,
envolvendo múltiplos processos como a regulação do metabolismo das proteínas, dos
carboidratos e dos lipídios, principais macronutrientes responsáveis pelo fornecimento
de energia ao organismo vivo. No fígado, a desnutrição proteica calórica provoca um
grande impacto nutricional, prejudicando o seu funcionamento (FERREIRA et al., 2009).
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de cana-de-açúcar. Em consequência
da grande produtividade da cultura de cana-de-açúcar e do amplo parque sucro-
alcooleiro, a biomasssa de levedura, tornou-se um grande excedente desta indústria.
O autolisado de levedura é um subproduto da biomassa da levedura, obtida por indução
de autodigestão ou rompimento mecânico e consiste no conteúdo total da célula lisada,
incluindo os componentes hidrossolúveis, as proteínas solúveis e a parede celular.
A caracterização química do autolisado de levedura proveniente de destilarias de etanol
apresenta um teor de proteína na faixa de 40-46%; lipídios totais ao redor de 3,5%; cinzas
entre 7-8% e fi bra alimentar total de 24-25% (CABALLERO-CÓRDOBRA; SGARBIERI, 1997;
HISANO et al., 2008).
O autolisado de levedura é considerado uma boa fonte de proteína e podemos
destacar que os aminoácidos mais abundantes encontrados nessa proteína são: o ácido
glutâmico, ácido aspártico, lisina, alanina, serina e treonina, entretanto dependendo
da forma de obtenção do autolisado de levedura ele pode apresentar defi ciência nos
aminoácidos sulfurados (metionina + cisteína) e, por vezes a leucina, quando comparados
com padrões internacionais como o da FAO/WHO, conforme citado por Vilela, Sgarbieri
e Alvim (2000).
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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Além do valor nutritivo, a levedura e seus derivados apresentam alguns componentes
com propriedades funcionais importantes. Dentre esses componentes, podemos citar:
nucleotídeos e nucleosídeos, glicanas e mananas, minerais (zinco e selênio) e vitaminas
(complexo B). Essas substâncias têm, em comum, a propriedade de proteger o organismo,
atuando como moduladores do sistema imunológico, tanto celular como humoral
(SGARBIERI et al., 2002).
Os nucleotídeos de pirimidina e purina estão envolvidos em quase todos os
processos celulares e desempenham papel muito importante na função estrutural,
energética e na regulação de vários processos metabólicos. Alguns anos atrás,
acreditava-se que os nucleotídeos não eram necessários para o crescimento e
desenvolvimento normal, não eram considerados essenciais no aspecto nutricional, pois
eram sintetizados no organismo pela “via de novo”, que utilizavam aminoácidos como
precursores, ou ainda pela “via de salvamento”, a partir da degradação de aminoácidos
e nucleotídeos da dieta. Sabe-se que em indivíduos sob situações de crescimento rápido,
consumo limitado de nutrientes ou distúrbio endógeno, os nucleotídeos dietéticos
passam a ter uma importância fundamental no organismo, pois disponibilizam bases
e nucleosídeos para serem utilizados imediatamente na síntese de nucleotídeos, pela
“via de salvamento” (KEHOE et al., 2008).
A via de salvamento é extremamente importante em tecidos e órgãos onde a síntese
de nucleotídeos é efi ciente e, portanto, necessária quando se inclui nucleotídeos na dieta.
Os nucleotídeos dietéticos participam dos processos de divisão e crescimento celular,
como ativadores intermediários na síntese de glicogênio, glicoproteínas e fosfolipídios,
e atuam como doadores de grupos metilo e sulfato; estruturalmente são componentes
de inúmeras coenzimas e também funcionam como efetores alostéricos para as enzimas
(ROSSI; XAVIER; RUTZ, 2007, SOMMER, 1998).
O leite bovino é um fl uído biológico complexo cuja composição média apresenta
87% de água, 3,5 a 3,7% de lipídios, 4,9% de lactose, 0,7% de cinzas e 3,5% de proteína,
que são divididas em 2,9% pela proteína caseína e 0,6% pela proteína do soro de leite
(LOURENÇO, 2000). A principal propriedade nutricional das proteínas do soro de leite
é fornecer energia e os aminoácidos essenciais para o desenvolvimento e crescimento.
As proteínas do leite possuem propriedades fi siológicas importantes como fornecer
peptídios bioativos, que favorecem a imunorregulação e regulação da microfl ora intestinal
e a regulação da digestão, que irão facilitar a assimilação de nutrientes como: as vitaminas
(ribofl avina, tiamina e ácido pantotênico) e minerais (cálcio e fósforo), os quais são
importantes para o crescimento celular e o restabelecimento tecidual (ANTONIONE
et al., 2008; SGARBIERI, 2005).
As caseínas constituem a classe quantitativa principal do leite, representa 76 a 85%
da proteína total, e são química e estruturalmente mais complexas que as proteínas do
soro bovino, que representam cerca de 20% da proteína do leite. Os concentrados de
proteína do soro de leite são considerados uma fonte de proteína de alto valor biológico,
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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contendo elevado teor de proteína (30 a 90%) com teores de aminoácidos superiores
aos da caseína. Também é considerada uma proteína de digestão e absorção rápida,
o que determina, uma rápida disponibilidade de aminoácidos plasmáticos na corrente
sanguínea, favorecendo com isso a síntese proteica (LUIKING et al., 2005; WALZEM;
DILLARD; GERMAN, 2002). Outras propriedades fi siológicas funcionais importantes das
proteínas do leite são: desenvolvimento e proteção do sistema imunológico, proteção
contra carcinógenos, atuam como alimentos prebióticos por promoverem o crescimento
de populações de bactérias benéfi cas à microbiota intestinal e melhoram as condições
de saúde de indivíduos sob estresse nutricional e doenças neuro-degenerativas (LIEN,
2003; SGARBIERI, 2005).
O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos de diferentes fontes proteicas com
diferentes perfi s de aminoácidos sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos
recém-desmamados submetidos a uma dieta calórica restritiva, seguida de um período
de recuperação. Os índices de desenvolvimento celular do fígado avaliados neste estudo
foram: RNA, DNA, proteína total, peso dos hepatócitos e número de núcleos em todo
o órgão.
MATERIAL E MÉTODOS
AUTOLISADO TOTAL DE LEVEDURA (ATL)
O ATL foi preparado de acordo com Sgarbieri et al. (1999) a partir das células
íntegras de levedura (Saccharomyces cerevisae) provenientes de destilaria de álcool etílico.
O processo de produção e desidratação do ATL foi realizado no setor de bioquímica
do Centro de Química de Alimentos e Nutrição Aplicada, do Instituto de Tecnologia de
Alimentos (ITAL / Campinas, SP, Brasil).
CONCENTRADO PROTEICO DE SORO DE LEITE BOVINO (CSL)
O CSL foi obtido a partir do leite bovino tipo B desnatado e pasteurizado adquirido
da Cooperativa dos Produtores de Leite da Região de Campinas. Todo o procedimento para
a obtenção do CSL foi realizado na planta piloto do Centro de Tecnologia de Laticínios
(TECNOLAT), Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL- Campinas, SP, Brasil), segundo
processo desenvolvido por Borges et al. (2001).
MISTURA (CSL64: ATL36)
A mistura foi obtida pela combinação do concentrado proteico de soro de leite
e autolisado total de levedura (64:36g proteína por 100g de dieta) em base proteica,
respectivamente.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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CASEÍNA
A caseína foi adquirida da empresa M.Cassab Comércio e Indústria Ltda, localizada
no município de São Paulo, SP, Brasil.
PROTOCOLO EXPERIMENTAL
Os animais experimentais foram adquiridos no Centro de Animais de Laboratório
(CEMIB) da Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP - Campinas, SP, Brasil. Os
animais escolhidos para o experimento foram ratos albinos da linhagem “Wistar”, livre de
patógenos e parasitas específi cos (SPF) que são criados dentro de um efi ciente sistema de
barreiras que impedem contaminações microbianas, aumentando com isso a confi abilidade
do experimento. O protocolo experimental foi conduzido com 55 ratos recém-desmamados,
divididos em três tempos; tempo zero (T0) instituído como animais que não passaram pelo
processo de restrição e recuperação, tempo 21 (animais que sofreram restrição) e tempo
42 (animais em recuperação). Cinco animais foram sacrifi cados no início do experimento
denominado tempo zero (T0), foram utilizados como controle. Os 50 animais restantes
foram distribuídos em 5 tratamentos, com 10 animais por grupo. Durante os primeiros
21 dias do experimento, os animais experimentais receberam dietas com 50% de restrição
em relação à dieta padrão (CP) à qual recebeu oferta ad libitum. No período de 21 a
42 dias, todos os grupos foram alimentados ad libitum. O protocolo nas fases de restrição
e de realimentação encontra-se na fi gura 1. Este estudo foi aprovado e certifi cado pela
Comissão de Ética na Experimentação Animal (CEEA/UNICAMP), por estar de acordo
com os Princípios Éticos na Experimentação Animal adotado pelo Colégio Brasileiro de
Experimentação Animal recebendo protocolo no. 114-2.
As dietas foram preparadas segundo as recomendações do American Institute of
Nutrition (AIN-G), como descritas por Reeves, Nielsen e Fahey (1993) contendo 17g
de proteína/100g de dieta. Utilizou-se como fonte de proteína: caseína padrão (CP)
concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), autolisado total de levedura (ATL)
e mistura (CSL64: ATL36). Com objetivo de verifi car a qualidade proteica da caseína esta
também foi incluída como dieta experimental, recebendo a denominação de caseína
experimental (CE).
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
Onde: T0 = Início do experimento; T21=Amostras coletadas no 21º dia do experimento e T42 = Amostras coletadas no 42º dia do experimento.
Figura 1 – Protocolo experimental do processo de restrição e restauração alimentar em ratos recém-desmamados da linhagem “Wistar”.
55 ratos
05 animais sacrifi cados(idade 21 dias)
T0
50 ratos
Dietas com 17% de proteínaRESTRIÇÃO ALIMENTAR (50%)/ T2
10 ratosCP
10 ratosCCE
10 ratosCSL
10 ratosATL
10 ratosCSL64:ATL36
Controle (50%) (50%) (50%) (50%)
(25 animais sacrifi cados, 05 por tratamento, coleta do fígado)
Dietas com 17% de proteínaRESTAURAÇÃO ALIMENTAR (100%) /T42
“ad libitum”
05 ratosCP
05 ratosCCE
05 ratosCSL
05 ratosATL
05 ratosCSL64:ATL36
(25 animais sacrifi cados, 05 por tratamento, coleta do fígado)
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COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS FONTES PROTEICAS
A determinação da proteína bruta dos tratamentos contendo caseína, concentrado
proteico de soro de leite (Nx6, 38), mistura (Nx6, 25) e autolisado de levedura (Nx5,
8) e a determinação das cinzas foram realizadas de acordo com os procedimentos da
Association of Offi cial Agricultural Chemists (1998). Lipídios totais foram determinados
pelo método de Bligh e Dyer (1959). Fibras alimentares, solúveis e insolúveis foram
identifi cadas pela técnica de Asp et al. (1983). Os carboidratos totais foram obtidos
por diferença (entre 100% e a soma dos demais macronutrientes). A composição em
aminoácidos foi determinada por hidrólise ácida (HCL 6N, 110°C, 22h) em aparelho
HPLC (Dionex Dx-300), com separação em colunas de troca catiônica e reação pós-
coluna com ninidrina. A quantifi cação foi realizada com base numa mistura de padrões
de aminoácidos (Pierce kit 22). A determinação do triptofano foi realizada segundo
metodologia descrita por Spies (1967).
COLETA DE FÍGADO E ANÁLISES HEPÁTICAS
Os fígados dos animais foram retirados, pesados, congelados e liofi lizados para a
dosagem de RNA, DNA e proteína total. A extração dos órgãos ocorreu nos tempos zero
(T0), período de restrição (0-21 dias/T21) e período de recuperação (21 a 42 dias/T42).
A extração do ácido ribonucleico (RNA) foi realizada de acordo com Schimidt
e Thannauser; modifi cado por Munro (1966) e, a leitura foi realizada a 670nm em
espectrofotômetro. A extração do ácido desoxirribonucleico (DNA) foi realizada de
acordo com procedimento de Burton (1956), cuja leitura da absorbância foi a 600nm
em espectrofotômetro. A proteína total foi analisada de acordo com Bradford (1976) e
a leitura da absorbância foi a 595nm, em espectrofotômetro.
NÚMERO DE NÚCLEOS E PESO DOS HEPATÓCITOS
Com os resultados obtidos de DNA, RNA e proteína total foi realizado o cálculo
matemático, para determinar o número de núcleos (número de células em milhões) e peso/
núcleo (peso celular em mµg) no fígado, de acordo com os critérios citados por Enesco
e Leblond (1962), conforme expressões abaixo:
Número de Núcleos =DNA total no órgão x 1000
= número de células (milhões)7,3/9,3
Peso / Núcleo =Peso do fígado x 1000
= peso de hepatócitos (mµg)Número de Núcleos
Onde: 7,3 = conteúdo de DNA por núcleo em animais com idade entre 17 e 34 dias e
9,3= conteúdo de DNA por núcleo em animais com idade entre 35 e 94 dias.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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ANÁLISE ESTATÍSTICA
O delineamento experimental estatístico utilizado no ensaio biológico foi o
inteiramente ao acaso. Para a análise dos resultados obtidos, foi utilizada a análise de
variância (ANOVA), e o teste de Tukey para diferença entre médias ao nível de signifi cância
de 5% (GOMES, 1982). O pacote estatístico utilizado foi Statistic (Basic Statistics and tables
Program - Statsoft, 1995).
RESULTADOS
A caracterização química, em base seca, das diferentes fontes proteicas (CP, CSL, ATL
e CSL64: ATL36), encontra-se na tabela 1. Os resultados mostraram que o CP apresentou
teor de proteína elevado, diferindo estatisticamente dos demais tratamentos experimentais
ao nível de 5% de signifi cância. Entre os tratamentos estudados, observamos que: o CSL
apresentou o maior teor de lipídios totais, o ATL apresentou o maior teor para cinzas,
fi bras totais e carboidratos diferindo estatisticamente dos demais.
Tabela 1 – Característica química das principais fontes proteicas utilizadas neste estudo: caseína (CP), concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), autolisado de levedura (ATL) e mistura composta por concentrado proteico de soro de leite + autolisado de levedura (CSL64: ATL36)
ComponentesProteína
(%)
Lipídios
totais (%)
Cinzas
(%)
Fibra total
(%)
Carboidrato*
(%)
CP 83,0±0,01a 1,9±0,01c 3,5±0,01c nd 11,6±0,01d
CSL 81,3±0,03b 3,2±0,00a 3,5 ±0,01c nd 12,0±0,02c
ATL 39,5±0,04d 1,2±0,00d 6,6 ±0,01a 32,4±0,00a 20,3±0,01a
Mistura 66,2±0,01c 2,5±0,01b 4,6±0,01c 11,7±0,01b 15,0±0,00b
(*) Cálculo por diferença (somatória dos componentes estudados-100); nd=não determinado.
Em relação ao Escore de Aminoácidos Essenciais (EAE), observa-se na tabela 2 que
as proteínas estudadas (caseína, CSL e mistura/CSL64: ATL36) apresentaram EAE igual ou
superiores a um, confi rmando seu elevado valor proteico e não apresentando nenhum
aminoácido limitante, tendo como única exceção o tratamento com ATL que apresentou
como aminoácido limitante a leucina (EAE 0,91).
Para o valor de PDCAAS, as proteínas dos tratamentos experimentais caseína e CSL,
apresentaram os melhores perfi s de aminoácidos essenciais, resultado esse esperado
para proteínas de alto valor biológico que apresentam grande capacidade de promover
crescimento e desenvolvimento no organismo vivo.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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Tabela 2 – Aminoácidos essenciais (AAE), escores de aminoácidos essenciais (EAE) e PDCAAS para as diferentes fontes proteicas estudadas(+)
AAEFAO/WHO
(g/100 g P)
EQ (CP)
(g/100 g P)
EQ(CSL)
(g/100 g P)
EQ(ATL)
(g/100 g P)
EQ(mistura)
(g/100 g P)
Treonina 3,4 1,38 2,00 1,53 1,94
Met+cisteína 2,5 1,20 1,96 1,00 1,52
Valina 3,5 1,77 1,54 1,54 1,60
Leucina 6,6 1,53 1,59 0,91* 1,50
Isoleucina 2,8 1,71 2,04 1,50 2,00
Fen+tirosina 6,3 1,83 1,05 1,03 1,02
Lisina 5,8 1,50 1,71 1,50 1,59
Histidina 1,9 1,47 2,89 2,21 2,00
Triptofano 1,1 1,36 1,82 1,18 1,45
EAE ≥ 1,00 ≥ 1,00 ≥ 1,00 0,91 (Leu) ≥ 1,00
PDCAAS (%) 100 97 95 82 91
(+) - Amostras em duplicata;(*) - Aminoácido limitante; EQ - Escore químico sem correção.
EAE =mg de aa/g N da proteína teste
x 100mg de aa/g da proteína padrão
PDCAAS (%) = EAE x digestibilidade aparente.
Na fi gura 2A, observa-se o ganho de peso (GP), de ratos submetidos ao período de
restrição alimentar (0-21dias), seguido de recuperação alimentar (ad libitum) com diferentes
fontes proteicas. Durante o período de restrição, o grupo de animais com consumo de
caseína padrão (CP) apresentou alta ingestão de dieta e, consequentemente ganho de peso
elevado. Para o período de recuperação com a liberação da dieta ad libitum, observamos
que o grupo com ingestão ATL apresentou menor poder de recuperação (p ≥ 0,05).
Em relação ao consumo total de dieta/CD (Figura 2B) observamos que durante
o processo de restrição alimentar, os tratamentos experimentais não diferiram entre si,
enquanto que no período de recuperação alimentar (ad libitum), o restabelecimento da
ingestão alimentar, provocou um aumento da velocidade de crescimento para todos os
tratamentos, apesar do grupo ATL apresentar a menor taxa de crescimento.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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Valores expressos como média (± desvio padrão) de 05 animais por tratamento, onde: caseína padrão (CP), caseína experimental (CE), concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), autolisado total de levedura (ATL) e mistura (CSL64: ATL36). (a,b,c) Médias seguidas por letras distintas (colunas) diferem entre si (p ≤ 0,05) dentro de cada período de tempo.
Figura 2 A – Ganho de peso (GP) de ratos submetidos a períodos de restrição (0-21dias) e recuperação ad libitum alimentar (21-42dias) com diferentes fontes proteicas.
Valores expressos como média (± desvio padrão) de 05 animais por tratamento, onde: caseína padrão (CP), caseína experimental (CE), concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), autolisado total de levedura (ATL) e mistura (CSL64: ATL36). (a,b,c) Médias seguidas por letras distintas (colunas) diferem entre si (p ≤ 0,05) dentro de cada período de tempo.
Figura 2 B – Consumo total de dieta (CD) de ratos submetidos a períodos de restrição (0-21dias) e recuperação ad libitum alimentar (21-42 dias) com diferentes fontes proteicas.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
A - Ganho de Peso (GP)
GP (21-42 dias)
GP (0-21 dias)
300
250
200
150
100
50
0
Pes
o (
g)
CCE CSL ATL MisturaCP
ab
bc cbc
a
b b b b
CD (21-42 dias)
CD (0-21 dias)
B - Consumo Total de Dieta (CD)
500
250
200
150
100
50
0
Co
nsu
mo
(g)
CCE CSL ATL MisturaCP
ab bc c bc
a
b b b b
300
350
400
450
12
Os tratamentos com ATL e mistura (Figura 3) durante o período de restrição
apresentaram um peso do fígado inferior aos demais tratamentos (p ≥ 0,05), todavia durante
o período de recuperação não ocorreu diferença entre eles.
Valores expressos como média (± desvio padrão) de 05 animais por tratamento, onde: caseína padrão (CP), caseína experimental (CE), concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), autolisado total de levedura (ATL) e mistura (CSL64: ATL36). (a,b,c) Médias seguidas por letras distintas (colunas) diferem entre si (p ≤ 0,05) dentro de cada período de tempo.
Figura 3 – Peso do fígado (PF) de ratos submetidos a períodos de restrição(0-21dias) e recuperação ad libitum alimentar (21-42dias) com diferentes fontes proteicas.
Na tabela 3, encontram-se os resultados referentes ao desenvolvimento celular
hepático (RNA, DNA e PT). Observamos que durante o período de restrição alimentar o
conteúdo de RNA (fígado) dos tratamentos com CSL, ATL e mistura foram semelhantes e
não diferiram da dieta padrão (CP). Em relação ao período de restauração, o grupo com
ingestão de ATL apresentou maior conteúdo de RNA.
Em relação ao conteúdo de DNA, durante o período de restrição, o tratamento com ATL
apresentou resultado inferior aos demais tratamentos (p ≥ 0,05). No período de recuperação
alimentar (ad libitum), não ocorreu diferença entre os tratamentos experimentais, a
liberação da dieta permitiu a normalização do crescimento e desenvolvimento celular, ou
seja, foi restabelecida a capacidade de síntese de DNA e a multiplicação celular.
Quanto ao teor de proteína total (PT) nos hepatócitos durante o processo de restrição
e recuperação, não houve diferença estatística entre as dietas estudadas.
Em relação aos resultados das relações RNA/DNA e PT/DNA (Tabela 4) nos períodos
de restrição alimentar e recuperação alimentar (ad libitum), observamos que o tratamento
com ATL apresentou resultados superiores aos demais tratamentos. O que sugere uma
maior capacidade de síntese de RNA e proteína em relação à síntese de DNA.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
Peso do fígado (Depleção-Repleção calórica)
PF (21-42 dias)
PF (0-21 dias)
15
12
9
6
3
0
Pes
o (
g)
CCE CSL ATL MisturaCP
a
b bc cb
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Tabela 3 – RNA (mg/g), DNA (mg/g) e Proteína total (PT/mg/g) de fígado de ratos submetidos a períodos de restrição (0-21dias) e recuperação ad libitum alimentar (21-42dias) com diferentes fontes de proteínas
Período de restrição
(0-21 dias)
Período de recuperação
(21=42 dias)
Tratamento
RNA DNA PT RNA DNA PT
TO* 8,6±1,1b 4,2±0,2a 711,1±107,8a 8,6±1,1b 4,2±0,2a 711,1±107,8a
CP* 12,4±1,2a 4,5±0,6a 625,5 ±29,4a 8,1±1,2b 3,6±0,4a 717,5±9,2a
CE* 8,3± 0,7b 4,0± 0,4a 622,0±110,8a 8,0 ±1,0b 4,2±0,7a 687,0±66,7a
CSL* 9,8±1,5ab 4,10±0,5a 577,0± 93,4a 9,6±0,8ab 4,2±0,8a 634,6±113,4a
ATL* 11,0±1,5ab 2,6± 0,7b 680,4±26,0a 10,0±0,6a 3,9±0,3a 707,0±49,4a
Mistura* 11,0±1,2a 3,8±0,5a 670,1±37,4a 8,6±0,3ab 3,9±0,5a 712,3±52,8a
(*) Valores expressos como média (± desvio padrão) de 05 animais por tratamento, onde: caseína padrão (CP), caseína experimental (CE), concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), autolisado total de levedura (ATL) e mistura (CSL64: ATL36).
(a,b, c) Médias seguidas por letras distintas (colunas) diferem entre si (p ≤ 0,05) dentro de cada período de tempo.
Tabela 4 – Relação RNA/DNA e PT/DNA (por grama) de fígado de ratos submetidos a períodos de restrição (0-21dias) e recuperação ad libitum alimentar (21-42dias) com diferentes fontes proteicas
Período de Restrição
(0-21 dias)
Período de Recuperação
(21- 42 dias)
Tratamento RNA/DNA PT/DNA RNA/DNA PT//DNA
TO* 2,0±0,3b 167,3±30,5b 2,0±0,3b 167,3±30,5b
CP* 2,7±0,5b 139,0±14,1b 2,3±0,3ab 199,3±25,0a
CE* 2,1±0,1b 155,5±17,8b 1,9±0,2b 162,0±24,0a
CSL* 2,4±0,3b 140,7±37,9b 2,3±0,5ab 149,7±32,0a
ATL* 4,2±1,7 261,7±85,5 2,6±0,1 181,3±20,5
Mistura* 2,9±0,5b 176,3±25,0b 2,2±0,2ab 179,8±34,6a
(*) Valores expressos como média (± desvio padrão) de 05 animais por tratamento, onde: caseína padrão (CP), caseína experimental (CE), concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), autolisado total de levedura (ATL) e mistura (CSL64: ATL36). (a,b, c). No grupo com ingestão de ATL, não ocorreu diferença estatística entre as variáveis estudadas. Médias seguidas por letras distintas (colunas) diferem entre si (p ≤ 0,05) dentro de cada período de tempo.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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Na tabela 5, encontram-se os cálculos para número de núcleos e peso por núcleo,
segundo os critérios de Enesco e Leblond (1962). No período de restrição alimentar, nota-se que
os animais do grupo com ATL apresentaram menor número de células diferindo estatisticamente
dos demais, isto ocorreu pela baixa qualidade proteica que interferiu provavelmente com a
velocidade de divisão celular e com a síntese de DNA. No período de recuperação alimentar
(ad libitum), com a restauração da ingestão calórica, ocorreu provavelmente uma normalização
na velocidade de divisão celular e na síntese de DNA, com isso observa-se que não houve
diferença estatística entre as dietas estudadas.
Tabela 5 - Determinação de número de hepatócitos (número células/órgão) e peso dos hepatócitos (mµg) de ratos submetidos a períodos de restrição (0-21dias) e recuperação ad libitum alimentar (21-42dias) em diferentes fontes proteicas
Tratamento
Período de Restrição
(0 - 21 dias)
Período de recuperação
(21 - 42 dias)
Nº hepatócitos
(milhões)*
Peso/
hepatócitos
(mµg)*
Nº hepatócitos
(milhões)*
Peso/
hepatócitos
(mµg)*
T0 686,0 ± 41,1a 3,7 ± 0,5c 685,8 ± 41,1a 3,7 ± 0,5b
CP 612,3 ± 83,6ab 11,0 ± 1,4a 385,8 ± 45,1b 21,9 ± 1,5a
CE 550,7 ± 53,7 ab 8,1 ± 1,2b 456,1 ± 72,3b 18,7± 4,3a
CSL 557,0 ± 75,6ab 8,7 ± 1,4ab 455,7 ± 89,5b 18,5 ± 4,1a
ATL 353,1 ± 99,3c 11,4 ± 2,8a 416,8 ± 31,7b 18,7 ± 1,9a
Mistura 517,0 ± 72,3b 7,6 ± 0,9b 425,6 ± 52,5b 18,4 ± 3,5a
(*) Valores expressos como média (± desvio padrão) de 05 animais por tratamento, onde: caseína padrão (CP), caseína experimental (CE), concentrado proteico de soro de leite bovino (CSL), autolisado total de levedura (ATL) e mistura (CSL64: ATL36). (a,b, c) Médias seguidas por letras distintas (colunas) diferem entre si (p ≤ 0,05) dentro de cada período de tempo.
DISCUSSÃO
Em relação à característica química das diferentes fontes proteicas estudadas,
observamos uma alta concentração de cinzas no ATL devido à adição de cloreto de
sódio durante o processo de obtenção do produto, enquanto que o elevado teor de
carboidrato é explicado pela adição de maltodextrina no processo de secagem em spray
drier. A composição da mistura (CSL64: ATL36) apresentou valores intermediários de
proteína, fi bra total e cinzas, resultados estes de acordo com Santucci et al. (2003) e
Vilela, Sgarbieri e Alvim (2000).
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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Os valores nutritivos das proteínas dependem principalmente da capacidade
destas em suprir as necessidades do organismo de todos os aminoácidos dieteticamente
indispensáveis. A qualidade proteica, a quantidade e a digestibilidade são de extrema
importância para a dieta, por serem indicadores do fornecimento de quantidades
signifi cativas de aminoácidos essenciais e retenção nitrogenada. A efi cácia da proteína é
afetada por alguns fatores como: baixo consumo proteico, baixo consumo calórico e o
estado fi siológico do organismo, sendo que na ausência do aporte calórico efi ciente, os
aminoácidos serão utilizados como substrato da via gliconeogênese, para manutenção
dos níveis de glicose sanguínea (GOBATTO, 1991).
O ATL apresenta um perfi l de aminoácidos incompleto, defi ciência no aminoácido
leucina. Essa defi ciência afetou diretamente o valor de PDCAAS (91%), mostrando que o
ATL apresenta menor valor biológico em comparação às demais fontes proteicas estudadas
por Pádua et al. (1997) e Pires et al. (2006).
O fígado funciona como um laboratório químico realizando diversas funções
vitais do organismo, dentre elas podemos citar: o armazenamento de diversas vitaminas;
liberação de glicose para os vários órgãos; transformação do excesso de glicídios e
proteínas em lipídios; fabricação de várias proteínas do sangue; a desaminação dos
aminoácidos para que possam ser oxidados ou transformados em glicídios ou lipídios;
fabricação dos demais aminoácidos do corpo, a partir dos aminoácidos essenciais; e
ação desintoxicante; entre outras (MALAFAIA; MARTINS; SILVA, 2009). No período de
restrição alimentar, o grupo (CP) mostrou crescimento hepático elevado, indicando
um catabolismo e anabolismo normal, entretanto, o grupo com ATL, por apresentar
defi ciência em leucina, apresentou um crescimento reduzido em relação ao peso corporal,
ocorrendo nesta fase o crescimento provavelmente por aumento celular (hiperplasia).
O crescimento de qualquer órgão pode ser causado pelo aumento no número de
células (hiperplasia), por aumento no tamanho das células já existentes (hipertrofi a) ou
por ambos. A repercussão da restrição alimentar sobre o fígado depende das condições
experimentais no período em que foi provocada a condição de carências e, principalmente,
o tempo de duração desta condição. Os resultados apresentados, neste estudo, estão
de acordo com os resultados apresentados por Mazeti e Furlan (2008), que mostram
que a restrição alimentar reduz a taxa de crescimento ponderal e linear de ratas Wistar.
Nossos resultados são superiores aos apresentados no estudo de Naves et al. (2006), que
encontraram um peso médio de fígado de 3,3g em ratos que ingeriram diferentes fontes
proteicas (caseína, gelatina e mistura de ambas).
De acordo com Voltarelli e Mello (2008) e Winick (1970) há três fases de crescimento
para todos os órgãos: na primeira fase ocorre um aumento no número de células
(hiperplasia) e os tamanhos das células (hipertrofi a) permanecem constantes, portanto,
ocorre um crescimento hiperplásico; na segunda fase o número de células continua
aumentando, mas com menor velocidade do que na primeira fase, ocorre um aumento
de tamanho das células que é caracterizado por crescimento hiperplásico e hipertrófi co.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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Na terceira fase, observa-se apenas o aumento no tamanho das células, ou seja, um
crescimento hipertrófi co.
Segundo Giacomelli e Natali (1999), as fases de crescimento dos ratos estão
distribuídas da seguinte forma: de zero a 21 dias de vida ocorre a hiperplasia celular
em todos os órgãos, com 21 a 42 dias continua a hiperplasia em todos os órgãos exceto
no cérebro e pulmão, e de 65 a 86 dias ocorre a hipertrofi a das células em todos os
órgãos, exceto no tecido linfoide. Neste estudo, observamos que durante o período de
restrição alimentar o peso do fígado dos animais experimentais apresentou uma redução
por crescimento hiperplásico (número de células), mas o tamanho celular permaneceu
constante (hipertrofi a).
A restrição energética estimula processos hepáticos de glicogenólise e gliconeogênese
na intenção de manter a glicemia e disponibilizar a glicose para órgãos mais nobres como o
cérebro, fígado, pâncreas e intestino. Para realizar a gliconeogênese, o fígado utiliza como
substrato a glicose (hepática), os lipídios (dos adipócitos) e os aminoácidos provenientes
de proteólise da massa muscular esquelética. Assim, tanto o tecido adiposo quanto o tecido
muscular esquelético são consumidos objetivando a manutenção da homeostase. Como
consequência, há liberação de aminoácidos a partir do consumo muscular, com a fi nalidade
de serem utilizados por órgãos como fígado, pâncreas e intestino. Portanto, o grupo com
ATL que apresentou defi ciência no aminoácido essencial leucina foi o mais afetado pelo
processo de restrição calórica. Esses resultados estão de acordo com os encontrados por
Oliveira, Paulo e Fujimori (2000) e Boza et al. (1996), que observaram que a restrição
calórica interfere e reduz a síntese de proteínas devido à redução na disponibilidade de
aminoácidos essenciais e não essenciais.
Na etapa de recuperação (ad libitum) com a normalização da ingestão calórica, os
grupos de animais rapidamente entraram em equilíbrio homeostático aprimorando seu
peso e alcançando o peso do grupo (CP), isso ocorreu provavelmente devido ao aumento
na massa muscular. A desnutrição proteica promove uma redistribuição funcional das
proteínas musculares, para disponibilizar nitrogênio necessário para a síntese de proteínas
teciduais. Neste estudo, o teor de proteína foi elevado 17g/100g de dieta, provavelmente, o
elevado teor de proteína e a qualidade no perfi l dos aminoácidos essenciais apresentados
pelas fontes proteicas utilizadas, funcionaram como uma barreira contra perdas drásticas
de tecido muscular. A única exceção foi o ATL, que apresentou um perfi l dos aminoácidos
inferior devido à defi ciência no aminoácido leucina.
Os resultados para o desenvolvimento celular hepático indicaram que a restrição
alimentar realizada após o desmame, não comprometeu drasticamente os constituintes
celulares (DNA, RNA e proteína total), talvez porque, ela não tenha ocorrido durante o
período mais intenso de divisão celular, que caracteriza-se 10 dias antes do nascimento
e até 17 dias após o nascimento, ou seja, fase do crescimento hiperplásico (ENESCO;
LEBLOND, 1962). Resultados semelhantes foram encontrados por Albanes et al. (1990),
que observaram que uma restrição calórica (40%) imposta por três semanas em ratos
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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recém-desmamados resultou em uma redução na síntese de DNA, quando comparado
com os animais controle.
Os índices de RNA apresentados neste trabalho foram superiores aos resultados
obtidos por Barbosa e Santiago (1994), que observaram o efeito da restrição alimentar sob
crescimento de ratas adultas (6,7mg/g).
O tratamento com ATL apresentou a menor capacidade de crescimento por hiperplasia
(multiplicação celular) ou menor número de células, devido à menor capacidade de divisão
celular e síntese de DNA, mesmo sendo o ATL uma fonte de nucleotídeos que atuam na
replicação de DNA e na síntese de DNA. De acordo com Rossi, Xavier e Rutz (2007), os
nucleotídeos têm um papel fi siológico importante no organismo como fonte de energia
na forma de ATP e GTP, funcionando como cofatores na reação de oxidação e redução
(FAD, NAD+, NADP+) e interferindo na divisão de tecidos aumentando a replicação de
DNA e a síntese de RNA, sendo que a participação dos nucleotídeos na síntese de RNA,
regeneração de novos tecidos após lesão ou relativa defi ciência nutricional é aumentada.
Neste estudo, o menor conteúdo de DNA e o aumento na síntese proteica indicam
que o crescimento do fígado no grupo com ATL ocorreu, principalmente, por aumento
da massa tecidual sem aumento no número de células, conforme indicam os resultados
dos quocientes RNA/DNA e PT/DNA. Sendo assim, não houve aumento na demanda
por nucleotídeos durante a divisão celular e crescimento (VOLTARELLI; MELLO, 2008).
O perfi l incompleto de aminoácidos na dieta e a escassez de energia durante
a fase de restrição alimentar indicou menor divisão celular no grupo com ATL, e
consequentemente menor síntese de DNA e divisão dos hepatócitos. Neste período, a
relação PT/DNA não diferiu entre os tratamentos, diferindo apenas de T0. Os resultados
do estudo estão de acordo com os realizados por Carrillo et al. (1996), Goodman e
Ruderman (1980), Lourenço (1975) e Morgan e Peters (1971).
Durante o período de recuperação alimentar (ad libitum), observamos uma
normalização na velocidade de divisão celular e na síntese de DNA, indicação de uma redução
no processo de hiperplasia (aumento no número de células) e um aumento no processo de
hipertrofi a (aumento no tamanho celular) pela normalização da energia e maturidade dos
animais. A indicação de que os números de núcleos/órgão diminuíram e o tamanho dos
núcleos aumentaram, na passagem da restrição para a recuperação alimentar (ad libitum),
sugere que o crescimento do órgão se deu principalmente pela hipertrofi a celular.
CONCLUSÕES
Do presente estudo resultaram os seguintes resultados:
– A análise centesimal das fontes proteicas estudadas evidenciou que, o concentrado
proteico de soro de leite bovino (CSL) e a caseína comercial (CC) são excelentes
fontes de proteína, que o autolisado de levedura (ATL) apresentou bons teores
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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de fi bras totais, cinzas e carboidratos em relação aos demais tratamentos
experimentais.
– Os teores de aminoácidos dos concentrados proteicos mostraram-se adequados,
quando comparados ao padrão teórico da FAO/WHO, exceto o autolisado de
levedura que mostrou ligeira defi ciência no aminoácido leucina, apresentando
um escore de aminoácidos essenciais (EAE) de 91%.
– Em relação aos PDCAAS todas as fontes proteicas estudadas apresentaram
resultados superiores a 1, exceto o ATL (inferior a 1), devido à defi ciência no
aminoácido leucina.
– Para os índices de desenvolvimento celular (peso do fígado, RNA, DNA, proteína
total, peso dos hepatócitos e números de núcleos), durante o período de restrição
alimentar o grupo de animais com ingestão de ATL foi o mais afetado pelo
processo de restrição alimentar, devido à qualidade proteica que interferiu com a
velocidade da divisão celular, portanto apresentou menor peso de fígado, menor
desenvolvimento celular por hiperplasia celular e menor capacidade de síntese
de DNA. O crescimento do grupo com ATL foi pelo aumento do tamanho celular
(hipertrofi a celular) e maior capacidade de síntese de RNA. Durante o processo
de restauração, o desenvolvimento dos animais experimentais foi por hiperplasia
+ hipertrofi a celular.
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Recebido para publicação em 14/07/09.Aprovado em 04/02/11.
OLIVEIRA, D. A. G.; SGARBIERI, V. C. Impacto de diferentes fontes proteicas sobre o desenvolvimento celular hepático de ratos recém-desmamados submetidos à dieta restritiva seguida de recuperação alimentar. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 1-21, abr. 2011.
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Artigo original/Original Article
Impacto da complementação alimentar fornecida por um banco de alimentos, no estado nutricional de crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/Minas GeraisImpact of food complement supplied by a food bank on the nutritional status of children aged 1 to 6 years in a daycare center in Ibirité/Minas Gerais
BRUNA CARLA SILVEIRA1; SANDRA APARECIDA
VIEIRA NEIVA NOLASCO1; VALÉRIA APARECIDA
ALVES LOPES1; MICHELE PEREIRA NETTO2; FABIANA
MARIA DA COSTA3
1Nutricionista pelo Centro Universitário UNA.
2Nutricionista e Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa, Doutora
em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais, Docente
do Curso de Nutrição da Universidade Federal de
Juiz de Fora. 3Nutricionista,
Coordenadora do Prodal Banco de Alimentos.
Endereço para correspondência:
Bruna Carla SilveiraRua Vesta, Bairro Alto dos
Pinheiros, nº 50, Belo Horizonte - MG.
E-mail: [email protected]
Instituição vinculada ao trabalho:
Centro Universitário UNA – Belo Horizonte/MG.
SILVEIRA, B. C.; NOLASCO, S. A. V. N.; LOPES, V. A. A.; NETTO,
M. P.; COSTA, F. M. Impact of food complement supplied by a food bank on the nutritional status of children aged 1 to 6 years in a daycare center in Ibirité/Minas Gerais. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 23-35, abr. 2011.
Among the existing food and nutrition programs, an outstanding one is Prodal Food Bank, which aims to take food and redistribute it to registered philanthropic entities. The objectives of this study are to study the availability of food and the impact of the Food Bank donations on the nutritional status of children aged 1 to 6 years at a daycare center in the city of Ibirité, State of Minas Gerais, Brazil. The research was carried out in a cohort with 45 children. The following parameters were evaluated during three consecutive days: weight, height, and control of the menu given to the children. The indices assessed – weight/height, weight/age, body mass index/age, height/age – were infl uenced by food donations, even as in menu, since there was an expressive improvement in the supply of nutrients. The conclusion is that the Food Bank has emphasized the menu variety, making it possible to reach micro- and macronutrient adequacy. In fact, this is very relevant, since it is believed that in the long term, a positive impact on the nutritional status of the children will be rendered.
Keywords: Child. Feeding. Nutritional Status. Nutrients.
ABSTRACT
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RESUMORESUMEN
Entre los programas de alimentación y nutrición existentes sobresale el Prodal, Banco de Alimentos, que tiene como objetivo aprovechar alimentos y distribuirlos entre instituciones fi lantrópicas registradas. El objetivo del estudio fue evaluar la disponibilidad de alimentos y el impacto de la distribución de alimentos por el Banco de Alimentos en el estado nutricional de niños de 1 a 6 años de un jardín infantil en Ibirité, MG, Brasil. La investigación fue conducida con un grupo de 45 niños; los datos utilizados fueron peso, altura y registro de los alimentos ofrecidos a los niños de la institución durante tres días consecutivos. Los índices evaluados: peso/estatura, peso/edad, IMC/edad, estatura/edad se modifi caron por la distribución de alimentos y también el menú ofrecido, ya que la oferta de nutrientes sufrió una mejoría signifi cativa. La conclusión es que el Banco de Alimentos permitió variar el menú posibilitando el alcance de niveles adecuados de macro y micronutrientes. Esta observación es de extrema relevancia, puesto que se espera que a largo plazo provoque un impacto positivo en el estado nutricional de los niños.
Palabras clave: Niños. Alimentación. Estado nutricional. Nutrimentos.
Dentre os programas de alimentação e nutrição existentes, ressalta-se o Prodal Banco de Alimentos, que tem como objetivo aproveitar alimentos e distribuí-los às entidades filantrópicas cadastradas. O objetivo desse estudo foi avaliar a disponibilidade dos alimentos e o impacto das doações fornecidas pelo Banco de Alimentos, no estado nutricional das crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/MG. A pesquisa foi realizada em uma coorte de 45 crianças. Foram utilizados peso, altura e averiguação do cardápio oferecido às crianças da creche durante três dias consecutivos. Os índices avaliados peso/estatura, peso/idade, índice de massa corporal/idade, estatura/idade sofreram interferência após as doações de alimentos, assim como no cardápio, uma vez que houve expressiva melhora de oferta de nutrientes. Conclui-se que o Banco de Alimentos promoveu um cardápio variado, possibilitando atingir a adequação de micro e macronutrientes. Tal fato é de extrema relevância, pois acredita-se que, a longo prazo, seja constatado um impacto positivo no estado nutricional das crianças.
Palavras-chave: Criança. Alimentação. Estado nutricional. Nutrientes.
SILVEIRA, B. C.; NOLASCO, S. A. V. N.; LOPES, V. A. A.; NETTO, M. P.; COSTA, F. M. Impacto da complementação alimentar fornecida por um banco de alimentos, no estado nutricional de crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/Minas Gerais. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 23-35, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
Os programas de alimentação e nutrição são extremamente relevantes, pois visam
à prevenção de defi ciências alimentares, que por sua vez determinam agravos à saúde
das populações mais vulneráveis, principalmente na faixa etária infantil (MARTINS et
al., 2007). Nesta idade, a alimentação equilibrada possui um papel expressivo para o
crescimento e desenvolvimento adequados (GIUGLIANI; VICTORA, 2000). Diante da
magnitude das defi ciências nutricionais e da importância da alimentação adequada na
infância, os programas de alimentação do Governo Federal destinados ao grupo infantil,
visam oferecer alimentos seguros e acessíveis em quantidade e qualidade sufi cientes
(BRASIL, 2005; VASCONCELOS, 2005).
De acordo com o Tribunal de Contas da União, Betto (2003) e Brasil (2005), o
Banco de Alimentos é um dos programas de alimentação e nutrição existentes, que tem
como objetivo aproveitar os alimentos sem valor comercial, mas que ainda são próprios
para o consumo. Para tal, estes são selecionados, higienizados, embalados e distribuídos
gratuitamente às entidades fi lantrópicas cadastradas.
Na infância, assim como em todo o ciclo vital, além de uma alimentação segura, é
importante que esta seja adequada tanto do ponto de vista energético quanto na quantidade
de macronutrientes e micronutrientes. A adequação do estado nutricional é refl exo do
equilíbrio da alimentação e para que seja avaliada necessita-se conduzir uma investigação
nutricional (ARAÚJO; CAMPOS, 2008; VELHO et al., 2008). Cabe destacar ainda que, o
estado nutricional também está relacionado com as características socioeconômicas,
presença ou ausência de enfermidades, condições ambientais, entre outras.
Na avaliação nutricional de determinada população ou grupo social, o método
mais utilizado é a antropometria, pela facilidade e baixo custo (SIGULEM; DEVINCENZI;
LESSA, 2000). Atualmente, emprega-se a referência da Organização Mundial de Saúde
(OMS) (2006/2007), utilizando-se os índices peso/idade, estatura/idade, peso/estatura e
IMC/idade na avaliação de crianças e IMC/idade e estatura/idade para adolescentes
(LEONE; BERTOLI; SCHOEPS, 2009). Dentre os demais métodos de avaliação
nutricional, ressalta-se a avaliação dietética que pode revelar as inadequações de micro
e macronutrientes (CRUZ et al., 2001).
O presente trabalho tem como objetivo avaliar a disponibilidade dos alimentos e o
impacto da complementação alimentar fornecida por um Banco de Alimentos no estado
nutricional de crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/MG.
METODOLOGIA
Realizou-se um estudo experimental do tipo coorte em uma creche fi lantrópica
em Ibirité, Minas Gerais, Brasil, no ano de 2009; instituição selecionada para receber
doações pelo Prodal Banco de Alimentos.
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Todas as crianças de um a seis anos presentes no dia da avaliação antropométrica
foram avaliadas, correspondendo a um total de 45 crianças. Os dados antropométricos
coletados foram peso e altura. As crianças foram pesadas descalças (com o mínimo
de roupa possível) por meio de uma balança digital, marca Welmy®. A estatura foi
medida através da fi ta inextensível, marca Sanny® com as crianças em pé, encostadas
na parede e com a postura ereta. As medidas das crianças menores de dois anos
foram obtidas com a mesma na posição horizontal (BRASIL, 2004). Na avaliação
dos dados antropométricos, foram utilizados os parâmetros da OMS 2006/2007,
por meio do programa WHO ANTRHO versão 3.0.1. Os dados antropométricos foram
apresentados em escore-z. Para os parâmetros peso/idade, peso/estatura e IMC/idade,
consideraram-se inadequados os valores inferiores a -2 ou superiores a +2 escore-z; já
para estatura/idade, a inadequação foi caracterizada quando os valores eram inferiores
a -2 escore-z.
Para análise dietética, acompanharam-se em período integral, durante três
dias consecutivos e com registro fotográfi co, por meio da câmera digital, marca
Sony®, no momento em que eram servidas as porções em medidas caseiras, de todas
as refeições (desjejum, almoço, lanche e jantar) oferecidas às crianças da creche.
O registro fotográfi co das porções foi realizado com objetivo de facilitar, em momento
posterior, a conversão da porção de medidas caseiras para os valores em gramas ou
mililitros de alimentos.
Para a análise dos dados dietéticos, foi utilizado o Software Avanutri® para
quantifi car vitamina A, vitamina C, ferro, cálcio, proteínas, carboidratos, lipídios e energia
de todas as refeições presentes no cardápio. Na verifi cação da melhoria do cardápio
após a doação do Banco de Alimentos, foram determinados os percentuais de aumento
dos nutrientes entre o primeiro e último dia de avaliação. Utilizou-se as DRIs como
referência (INSTITUTE OF MEDICINE, 1997, 2000, 2001, 2002). Cabe destacar que
foram feitas avaliações de disponibilidade e não consumo de alimentos pelas crianças,
visto que não se procedeu à avaliação individual da dieta e sim a avaliação do cardápio
da creche.
O levantamento de dados ocorreu em duas etapas, sendo a primeira antecedente
às doações de alimentos e a segunda, aproximadamente, quarenta dias após o início das
doações.
Utilizou-se o teste de Wilcoxon para verifi car as diferenças antes e após as doações
de alimentos e o teste de Qui-Quadrado para avaliar mudanças nas frequências de
inadequação do estado nutricional nos diferentes momentos do estudo. As análises
estatísticas foram feitas nos programas Epi Info 6 e Sigma Stat.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário UNA
– União de Negócios e Administração. A participação das crianças, no estudo, ocorreu
após autorização e consentimento dos pais ou responsáveis, por meio da assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
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RESULTADOS
As doações fornecidas pelo Prodal Banco de Alimentos são baseadas em alimentos não
perecíveis e perecíveis. Por se tratar de um Banco de Alimentos da Central de Abastecimento
de Minas Gerais - CEASAMINAS, as principais categorias de gêneros recebidas pelo banco
são as doações de frutas e hortaliças − recebidas em sua maioria dos doadores do entreposto
da CEASAMINAS, com boa qualidade, mas sem valor comercial – posteriormente distribuídas
às entidades cadastradas, após todo processo de higienização. O recebimento e distribuição
das doações são realizados diariamente pelo Banco de Alimentos.
Dentre as 51 crianças matriculadas, 45 (88,2%) participaram da pesquisa, sendo 19
(42,2%) do gênero feminino e 26 (57,8%) do gênero masculino, na faixa etária de um a
seis anos. A participação das crianças na pesquisa não foi integral, pois, nem todos os
pais assinaram o Termo de Livre Consentimento.
A tabela 1 mostra que as médias e medianas encontram-se na faixa de eutrofi a (valores
entre -2 e +2 escore-z) dos índices peso/estatura, peso/idade, índice de massa corpórea
(IMC)/idade, embora os valores mínimo e máximo tenham apresentado desvios nutricionais
como: baixo peso e sobrepeso. Ao analisar os indicadores peso/estatura, peso/idade, IMC/
idade e estatura/idade após o recebimento das doações e compará-los com os valores
iniciais, evidenciou-se que houve melhoria das médias, inclusive nos valores mínimos e
máximos de escore-z, apesar da permanência dos desvios nutricionais.
Tabela 1 – Medidas de tendências centrais dos índices antropométricos estabelecidos em escore-z nas crianças de 1 a 6 anos, antes e após o recebimento de doações pelo Banco de alimentos
ÍndiceMédia Mediana DP Min Máx
Antes Após Antes Após Antes Após Antes Após Antes Após
P/E* 0,26 0,27 0,55 0,47 0,53 0,21 -1,84 -1,43 2,05 1,54
P/I 0,10 0,28 0,18 0,32 1,10 1,01 -3,65 -1,4 2,6 2,6
IMC/I 0,15 0,16 0,14 0,42 0,90 0,88 -2,17 -1,4 1,93 1,7
E/I -0,08a 0,09b -0,23 0,02 1,42 1,28 -5,12 -2,26 5,16 5,38
DP = Desvio padrão, Min = Valor mínimo, Máx = Valor máximo, Antes = valores antes do recebimento das doações, Após = valores após recebimento das doações do Banco de Alimentos. *Apenas para as crianças menores de 5 anos. a≠b: teste de Wilcoxon.
Comparando a evolução das medianas entre a primeira e a segunda avaliação pelo teste
de Wilcoxon, percebeu-se que houve uma mudança signifi cativa no índice estatura/idade
(p = 0,008), entretanto, para os demais índices não se encontraram diferenças estatísticas.
Na tabela 2, pode-se observar as frequências de inadequação encontradas, de acordo
com os índices peso/idade, peso/estatura e IMC/idade. Já a baixa estatura esteve presente
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em 4,4% (n=2) das crianças tanto antes quanto após a doação de alimentos. A inadequação
do estado nutricional não diferiu estatisticamente entre as duas avaliações e nem entre os
sexos, para todos os índices antropométricos.
Tabela 2 – Estado nutricional segundo índices antropométricos das crianças de 1 a 6 anos antes e após o recebimento das doações pelo Banco de Alimentos
Estado nutricional
Peso/idade Peso/estatura IMC/idade
Antes Após Antes Após Antes Após
Baixo peso (%) 2,2 0 0 0 2,2 0
Eutrofi a (%) 95,6 93,4 97 100 97,8 100
Sobrepeso (%) 2,2 6,6 3 0 0 0
Antes = valores antes do recebimento das doações; Após = valores após recebimento das doações do Banco de Alimentos.
A tabela 3 evidencia que houve uma melhora expressiva no percentual de adequação,
após o recebimento das doações de alimentos. Verifi cou-se que o percentual de adequação de
vitamina C passou de 114,3% para 726,3%, o ferro de 143,3% para 204,3% e proteínas de 220,8%
para 275,5%, permanecendo acima das recomendações da Necessidade Média Estimada - EAR
após as doações de alimentos. Em relação ao percentual de adequação de vitamina A, constatou-se
uma mudança de 91,1% para 291,3%, o que confi rma que, após o recebimento das doações de
alimentos, a adequação ultrapassou satisfatoriamente as recomendações estabelecidas pela EAR.
Para os nutrientes: vitamina A, vitamina C e ferro, as diferenças nos valores oferecidos antes e após
a doação do Banco de Alimentos foi estatisticamente signifi cante, demonstrando claramente que
a inclusão dos alimentos doados obtiveram impacto positivo.
A tabela 4 demonstra que os valores referentes à vitamina A passou de 83,8% para
229,9%, vitamina C de 97,7% para 567,4%, ferro de 105,6% para 131,7%, proteína de 123,13%
para 165,6%, apontando uma melhora signifi cativa; destaca-se que para os nutrientes
vitamina A e C, as diferenças foram estatisticamente signifi cantes. Já os nutrientes, cálcio,
carboidrato e aporte energético, apresentaram valores abaixo do recomendado, segundo
Ingestão Adequada - AI, Necessidade Média Estimada - EAR e Estimativa da Necessidade
Energética - EER, respectivamente, tanto antes quanto após as doações. Tais resultados são
semelhantes aos representados na tabela 3, pois os alimentos oferecidos são os mesmos
para ambas as faixas etárias, porém para as crianças de 1 a 3 anos é acrescida a mamadeira.
Observou-se também que o VCT do cardápio das crianças de 1 a 3 anos apresenta valor
superior em relação ao cardápio das crianças de 4 a 6 anos, como demonstrado na tabela 4.
É importante ressaltar que as recomendações nutricionais estabelecem valores diários
de referência, já a alimentação oferecida na creche não objetiva atender ao mesmo período;
desta forma, espera-se que a criança tenha sua alimentação complementada em casa.
SILVEIRA, B. C.; NOLASCO, S. A. V. N.; LOPES, V. A. A.; NETTO, M. P.; COSTA, F. M. Impacto da complementação alimentar fornecida por um banco de alimentos, no estado nutricional de crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/Minas Gerais. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 23-35, abr. 2011.
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Tabela 3 – Análise do valor nutricional do cardápio oferecido às crianças de1 a 3 anos referente à média de três dias consecutivos, antes e após orecebimento das doações de alimentos
NutrientesMédia Antes
Média Após
EAR%Adequação
Antes%Adequação
Após
Vit. A (µg/d) 191,4a 611,93b 210 91,1** 291,3
Vit. C (mg) 14,86c 94,43d 13 114,3 726,3
Ca (mg) 250,43 293,36 500* 50,08** 58,67**
Fe (mg) 4,3e 6,13f 3 143,3 204,3
PTN (g) 24,29 30,31 11 220,8 275,5
CHO (g) 88,64 103.05 130 68,1** 79,26**
LIP (g) 26,07 25,46 ND ND ND
VCT (Kcal) 686,42 762,52 1.000,46# 68,6** 76,2**
Antes = valores antes do recebimento das doações; Após = valores após recebimento das doações do Banco de Alimentos. * = AI (Ingestão Adequada), ND = Não determinado; # = EER- Estimativa da necessidade energética (obtido com os valores médios de idade, peso e altura); ** = % de Adequação abaixo da EAR. a≠b, c≠d, e≠f: teste de Wilcoxon.
Tabela 4 – Análise do valor nutricional do cardápio oferecido às crianças de 4 a 6 anos referente a média de três dias consecutivos, antes e após o recebimento das doações de alimentos
NutrientesMédia Antes
Média Após
EAR%Adequação
Antes%Adequação
Após
Vit. A (µg/d) 230,53a 632,26b 275 83,8** 229,9
Vit. C (mg) 21,5c 124,83d 22 97,7 567,4
Ca (mg) 238,46 300,83 800* 29,80** 37,60**
Fe (mg) 4,33 5,4 4,1 105,6 131,7
PTN (g) 18,47 24,84 15 123,13 165,6**
CHO (g) 81,3 102,89 130 62,5** 79,14
LIP (g) 19,86 20,39 ND ND ND
VCT (Kcal) 577,66 694,44 1.378,8# 41,89** 50,36**
Antes = valores antes do recebimento das doações; Após = valores após recebimento das doações do Banco de Alimentos. * = AI (Ingestão Adequada); ND = Não determinado; # = EER- Estimativa da necessidade energética (obtido com os valores médios de idade, peso e altura); ** = % de Adequação abaixo da EAR. a≠b, c≠d: teste de Wilcoxon.
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DISCUSSÃO
De acordo com Batista Filho (2003), apesar de o crescimento mundial da produção
de alimentos, no Brasil, esse fato não assegurou o desaparecimento da fome e da
desnutrição.
As políticas públicas de combate à fome, existentes no Brasil, visam à segurança
alimentar e nutricional das pessoas que vivem em situação de maior vulnerabilidade social,
garantindo-se, por lei, o direito humano à alimentação. O Banco de Alimentos é um dos
programas de alimentação que tem por fi nalidade evitar o desperdício e combater a fome
(BELIK; SILVA; TAKAGI; 2001; COUTINHO; LUCATELLI, 2006; HIRAI; ANJOS, 2007; SOARES
et al., 2006), contribuindo para a melhoria da alimentação e do estado nutricional e de
saúde da população benefi ciada.
O conjunto de ações de tais políticas implica também a melhoria do aspecto social,
conduzindo ao bem estar. É importante ressaltar que todos os programas voltados para a
segurança alimentar do país devem estar interligados devido à alta complexidade destas
ações (PESSANHA, 2004).
A acessibilidade alimentar deve ser baseada em três pilares: quantidade, qualidade e
a regularidade, a fi m de obter resultados satisfatórios para os benefi ciários (BELIK, 2003).
Os resultados obtidos no estudo mostram que os índices antropométricos, peso/
estatura, peso/idade, IMC/idade e estatura/idade, sofreram pouca interferência após as
doações de alimentos, provavelmente devido ao curto tempo entre as avaliações; sendo
as mudanças ponderais mais signifi cativas que as estaturais, fato esperado, pois a primeira
ocorre mais precocemente que a segunda. Apesar da pouca interferência, é importante
lembrar que os índices antropométricos podem ser considerados indicadores benéfi cos
para a saúde, pois possibilitam analisar a evolução física alcançada (FERNANDES; GALLO;
ADVÍNCULA, 2006).
Embora não tenham sido notados valores estatisticamente signifi cativos para todos
os índices antropométricos, perceberam-se pequenas diferenças como a melhora nos
percentuais de inadequação e das médias de escore-z.
Já na avaliação do cardápio oferecido pela creche, houve um aumento signifi cativo
tanto de macro e micronutrientes, o que pode impactar positivamente no estado nutricional
das crianças e diminuição dos problemas nutricionais. Destaca-se a importância da
avaliação dietética na detecção de situações de risco alimentar e nutricional para grupos
populacionais (TUMA; COSTA; SCHIMITZ, 2005). Outros estudos também relatam o papel
relevante da averiguação do consumo dietético na infância, pois a alimentação infl uencia
de forma expressiva na promoção da saúde e na prevenção de doenças (BARBOSA et al.,
2006; MELNIK et al., 1998; SUBAR, et al., 1992).
Apesar de não terem sido avaliados os parâmetros bioquímicos nas crianças da creche,
é de extrema importância estudos que versem sobre a ingestão de nutrientes adequados e
SILVEIRA, B. C.; NOLASCO, S. A. V. N.; LOPES, V. A. A.; NETTO, M. P.; COSTA, F. M. Impacto da complementação alimentar fornecida por um banco de alimentos, no estado nutricional de crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/Minas Gerais. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 23-35, abr. 2011.
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os benefícios que estes representam à infância, a fi m de prevenir defi ciências nutricionais.
Conforme revelado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF (1998) e Tonete,
Carvalhaes e Trezza (2003), a defi ciência, em longo prazo, implica a imunossupressão do
sistema imunológico e limita a capacidade de aprendizagem e a socialização. Além disso,
a alimentação, nesta fase da vida, consiste em fornecer inovações ao paladar (BARBOSA
et al., 2005).
Com o recebimento das doações, houve uma variabilidade na ingestão de frutas
e hortaliças no cardápio da creche, fato que contribuiu para o aumento signifi cativo de
vitamina A e vitamina C e que pode acarretar um papel relevante para o desenvolvimento
das crianças. Tal afi rmativa é demonstrada no estudo de Silva et al. (2000) no qual se aponta,
que o fornecimento de uma alimentação adequada na infância, tanto em quantidade quanto
em qualidade, auxilia no crescimento, desenvolvimento cognitivo e fi siológico, além de
favorecer o sistema imunológico promovendo a saúde nesta faixa etária.
Na análise do cardápio oferecido às crianças da creche, observou-se um aumento
relevante de vitamina A, após o recebimento das doações de alimentos. A vitamina A
é um nutriente essencial, importante para o sistema imunológico, visão, reprodução,
metabolismo, crescimento, formação dos ossos e dentes (GERMANO; CANNIATTI;
BRAZACA, 2004; RAMALHO et al., 2004). A defi ciência desse nutriente é considerada um
dos principais distúrbios nutricionais presentes em grande parte da população dos países
subdesenvolvidos, atingindo principalmente crianças (ODORIZZI; MATOS; HENN, 2008;
PAIVA et al., 2006). Segundo Ramalho (2008), estima-se que existam 2,2 milhões de crianças
brasileiras, em idade pré-escolar, com níveis inadequados de vitamina A.
No Brasil, mesmo sendo um país rico em frutas, vegetais e hortaliças, evidenciam-se
consideráveis desigualdades sociais e econômicas, levando a inacessibilidade a
estes alimentos, fato que pode justifi car a ocorrência da defi ciência da vitamina C
(COSTA et al., 2001). A distribuição de frutas e hortaliças é foco principal do Banco
de Alimentos relatado neste estudo, e a partir desta evidenciou-se aumento no
aporte de vitamina C, o que contribui, além de outros benefícios, para uma melhor
biodisponibilidade de ferro.
No presente estudo, verifi cou-se que, na faixa etária de 1 a 3 anos, houve uma melhora
expressiva na disponibilidade média de ferro, ao comparar a primeira avaliação com a
segunda. As crianças em idade pré-escolar estão entre as populações de risco com mais
probabilidade de defi ciência de ferro, o que contribui para prejuízos no seu desenvolvimento
e propicia um problema de saúde pública (CASTRO et al., 2005; SCHIMITZ et al., 1998).
Diante da importância do ferro na alimentação das crianças, sua defi ciência, mesmo em
quantidade moderada, é preocupante porque poderá ter como consequência a anemia,
acarretando prejuízos ao crescimento e desenvolvimento cognitivo (BARBOSA; SOARES;
LANZILLOTTI, 2007). E mais, a defi ciência de ferro é considerada de maior prevalência
entre as carências nutricionais existentes, sendo assim, torna-se importante a presença desse
nutriente na alimentação da população (BRUNKEN; SZARFARC, 1999).
SILVEIRA, B. C.; NOLASCO, S. A. V. N.; LOPES, V. A. A.; NETTO, M. P.; COSTA, F. M. Impacto da complementação alimentar fornecida por um banco de alimentos, no estado nutricional de crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/Minas Gerais. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 23-35, abr. 2011.
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Na análise do cálcio oferecido às crianças, evidenciou-se que não houve um aumento
entre as avaliações, já que os alimentos doados pelo Prodal Banco Alimentos não são fontes
ricas desse componente; constatou-se assim, a manutenção dos níveis de cálcio abaixo do
recomendado. Outro estudo, que avaliou a oferta desse mediador celular em seis creches,
também demonstrou que as crianças ingerem quantidades inadequadas do mineral, o que
prejudica a formação de sua massa óssea (SANTOS et al., 2001). Porém, o pequeno aumento
proporciona benefício para essas crianças, uma vez que o cálcio é um mineral essencial
para o organismo, devido ao seu papel no fortalecimento de ossos e dentes, além de ser
importante para o funcionamento correto do sistema nervoso e imunológico, bem como
para a contração muscular, coagulação sanguínea e pressão arterial (FELIPE et al., 2006).
A ingestão de proteína, na dieta das crianças menores de dois anos no Brasil, é
superior à recomendada, como mostrado no estudo multicêntrico de consumo alimentar
(BRASIL, 2002; BRIGHENTI; FERNANDEZ; SALADO, 2003). Isso confi rma os dados
obtidos neste estudo, em que se observou um consumo proteico acima das necessidades
recomendadas, para todas as faixas etárias. De acordo com Fidelis e Osório (2007) e o
Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (1977) esses valores de proteína acima do
recomendado, reforçam os dados do Brasil que apontam a defi ciência de energia mais
constante do que a defi ciência proteica.
CONCLUSÃO
O Banco de Alimentos teve um papel relevante na alimentação oferecida às crianças
da creche, visto que, no início da pesquisa, a creche disponibilizava pouca variedade de
alimentos no cardápio; e, após as doações de frutas e hortaliças houve uma melhora nos
valores dietéticos. Do ponto de vista antropométrico, a evolução foi pequena, entretanto
percebeu-se diminuição nos índices de distrofi a, corroborando, assim, com o impacto
positivo no estado nutricional das crianças assistidas.
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Recebido para publicação em 15/12/09.Aprovado em 03/03/11.
SILVEIRA, B. C.; NOLASCO, S. A. V. N.; LOPES, V. A. A.; NETTO, M. P.; COSTA, F. M. Impacto da complementação alimentar fornecida por um banco de alimentos, no estado nutricional de crianças de 1 a 6 anos de uma creche em Ibirité/Minas Gerais. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 23-35, abr. 2011.
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Artigo original/Original Article
Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutriçãoOccurrence of Staphylococcus spp. and S. aureus on surfaces used for preparing food in a food service
HELOÍSA MARIA ÂNGELO JERÔNIMO1; RITA DE
CÁSSIA RAMOS DO EGYPTO QUEIROGA2; ANA
CAROLINY VIEIRA DA COSTA1; ISABELLA DE
MEDEIROS BARBOSA1; MARIA LÚCIA DA
CONCEIÇÃO1; EVANDRO LEITE DE SOUZA1
1Laboratório de Microbiologia de Alimentos, Departamento de Nutrição,
Centro de Ciências da Saúde, Universidade
Federal da Paraíba2Laboratório de
Bromatologia, Departamento de Nutrição,
Centro de Ciências da Saúde, Universidade
Federal da ParaíbaEndereço para
correspondência: Evandro Leite de Souza
Universidade Federal da Paraíba
Centro de Ciências da Saúde
Departamento de NutriçãoCampus I - CEP 58051-900,
Cidade Universitária, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail: evandroleitesouza@
ccs.ufpb.br
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Occurrence of Staphylococcus spp. and S. aureus on surfaces used for preparing food in a food service. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
This study aimed to assess the occurrence and population kinetics of Staphylococcus spp. and S. aureus on surfaces used for preparing foods in ten food services in the city of João Pessoa, State of Paraíba, Brazil. Out of 160 samples collected from ten different food services, 70 (43.5%) were collected from surfaces used for preparing meat, 67 (41.87%) from surfaces used for preparing vegetables, and 14 (8.75%) from surfaces used for handling ready-to-eat food items. The counts of Staphylococcus spp. ranged from < 101 (15%) from > 106 CFU/cm2 (13.75%), while for S. aureus the counts oscillated between <1.0 x 101 (81.25%) and 105 CFU/cm2 (7.5%). In the 48 surface samples collected in three food services at different times on the same day, 100% were contaminated by Staphylococcus spp. (< 101 - 5.0 x 101 CFU/cm2). For S. aureus, these counts were in a range from <101 - 4.0 x 105 CFU/cm2 to <1.0 x 101 - 3.6 x 103 CFU/cm2 on surfaces used for preparing vegetables and meat over the day, respectively. Generally, the highest counts for Staphylococcus spp. and S. aureus over a day were found on surfaces used for preparing vegetables. These results show a possible ineffi cacy of the hygiene methods in the food production environment, as well as the need for more adequate recommendations regarding the microbiological control of food-processing surfaces.
Keywords: Staphylococcus.Food and Nutrition Services. Contamination.
ABSTRACT
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RESUMORESUMEN
Este trabajo ha evaluado la ocurrencia y la dinámica poblacional de Staphylococcus spp. y S. aureus en superficies de unidades de alimentación y nutrición de la ciudad de João Pessoa, Paraíba, Brasil. De 160 muestras recogidas en diez unidades distintas de alimentación y nutrición, 70 (43,75%) fueron de superficies de preparación de carnes; 67 (41,87%) de superficies de preparación de vegetales; 14 (8,75%) de superficies de preparación de alimentos variados y 9 (5,63%) de alimentos procesados. El conteo de Staphylococcus spp osciló entre < 101 (15%) y > 106 UFC/cm2 (13,75%), mientras que el conteo de S. aureus estuvo entre <101 (81,25%) e 105 UFC/cm2 (7,5%). También fueron recogidas 48 muestras de superfi cies de preparación de carnes y vegetales en diferentes momentos de un mismo día y que presentaron 100% de contaminación por Staphylococcus spp (<101 – 2,9 x 105 UFC/cm2). Para S. aureus la variación del conteo estuvo entre < 101 e 4,0 x 105 UFC/cm2 en superfi cies de preparo de vegetales y para las superfi cies de preparación de carnes < 101 e 4,0 x 105 UFC/cm2 y < 101 e 3,6 x 103 UFC/cm2, durante el día. Los más altos niveles de contaminación por Staphylococcus spp y S. aureus fueron encontrados en las superfi cies de preparo de vegetales. Estos resultados muestran una posible ineficacia dos procedimientos de higienización del ambiente y también, la necesidad de recomendaciones más adecuadas para lo control microbiológico de superfi cies en que se manipulan alimentos.
Palabras clave: Staphylococcus.Servicios de alimentación y nutrición. contaminación.
Este trabalho objetivou avaliar a ocorrência e dinâmica populacional de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos de unidades de alimentação e nutrição da Cidade de João Pessoa, Paraíba. Do total de 160 amostras coletadas de 10 diferentes unidades de alimentação e nutrição, 70 (43,75%) foram de superfícies de preparo de carnes, 67 (41,87%) de superfícies de preparo de vegetais, 14 (8,75%) de superfícies de preparo de alimentos em geral e 9 (5,63%) de superfícies de alimentos prontos. A contagem de Staphylococcus spp. variou entre < 101 (15%) e > 106 UFC/cm2 (13,75%), enquanto que a contagem de S. aureus oscilou entre < 101 (81,25%) e 105 UFC/cm2 (7,5%). Também foram coletadas 48 amostras de superfícies de preparo de vegetais e carnes em diferentes momentos do mesmo dia, das quais 100% apresentaram contaminação por Staphylococcus spp. (< 101 – 2,9 x 105 UFC/cm2). Para S. aureus as contagens variaram entre < 101 e 4,0 x 105 UFC/cm2 em superfícies de preparo de vegetais, enquanto para as superfícies de preparo de carnes as contagens oscilaram entre < 101 - 4,0 x 105 UFC/cm2 e < 101 e 3,6 x 103 UFC/cm2. As mais altas contagens de Staphylococcus spp. e S. aureus foram encontradas nas superfícies de preparo de vegetais. Estes resultados evidenciam uma possível inefi cácia dos procedimentos de higienização do ambiente, bem como a necessidade de recomendações mais adequadas para o controle microbiológico de superfícies de processamento de alimentos.
Palavras-chave: Staphylococcus. Unidade de alimentação e nutrição. Contaminação.
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
Com o passar do tempo, a vida moderna imprimiu um ritmo acelerado no cotidiano
dos indivíduos. O deslocamento da população para os grandes centros urbanos, jornadas
de trabalho contínuas, difi culdade de locomoção para casa, provocaram mudanças no
estilo de vida dos indivíduos, e no que diz respeito à alimentação, teve como repercussão
a mudança de hábitos alimentares com a introdução de refeições rápidas (BENEVIDES;
LOVATTI, 2004; LIMA; OLIVEIRA, 2005; ROSSI et al., 2005).
Com o aumento do número de empresas no setor de refeições coletivas, cujo
crescimento é de cerca de 20% ao ano, aumentam também as perspectivas de ocorrência
de doenças de origem microbiana transmitidas por alimentos, pois, observa-se que
os alimentos tornaram-se mais expostos a uma série de perigos ou oportunidades de
contaminação em decorrência da utilização de práticas incorretas de manipulação e
processamento de alimentos (ALMEIDA et al., 1995; ANDRADE; SILVA; BRABES, 2003).
Diante do conhecimento desta realidade, torna-se essencial que ocorra um rigoroso controle
das condições higiênico-sanitárias nos locais onde os alimentos são manipulados para o
consumo humano (ZACCARELLI; COELHO; SILVA, 2000).
Em Serviços de Alimentação é bem estabelecida à relação do potencial de transmissão
de microrganismos patogênicos para os alimentos durante o seu processamento e
distribuição. Muitas bactérias patogênicas e deteriorantes de importância em alimentos
são capazes de aderir a superfícies de ambientes de preparo e distribuição de alimentos, e
permanecerem viáveis mesmo após a limpeza e desinfecção (AMMOR et al., 2004; RODE
et al., 2007). A rota de contaminação através das superfícies é reconhecida como de grande
necessidade de controle nas atividades rotineiras dos serviços de alimentação, de modo
que tal controle pode ser alcançado através da implantação de um adequado programa de
sanitização (REIJ; DEN AANTREKKER, 2004; VASSEUR et al., 2001).
S. aureus é reconhecido como sendo o microrganismo patogênico mais comumente
isolado de superfícies de serviços de alimentação (KUNIGK; ALMEIDA, 2001; SHALE et
al., 2005). O gênero Staphylococcus, em especial a espécie Staphylococcus aureus, tem
sido citado como a terceira mais importante causa de doenças microbianas transmitidas
por alimentos notifi cadas em todo o mundo (ARAGON-ALEGRO et al., 2007; PELES et al.,
2007), sendo responsável por quase 45% de todas as toxinfecções registradas (NORMANNO
et al., 2005).
Por apresentar características ubiquitárias, a ocorrência de surtos é favorecida, já
que S. aureus se encontra amplamente disseminado nos ambientes de circulação do ser
humano, fazendo do homem seu principal reservatório devido à colonização das vias
nasais, garganta, pele e cabelos, atingindo de forma persistente 20 a 30% dos indivíduos
saudáveis (NORMANNO et al., 2007). Assim, a transmissão de S. aureus aos alimentos se
torna facilitada por meio de manipuladores assintomáticos ou não (STAMFORD et al., 2006),
e por equipamentos e superfícies dos ambientes de produção de alimentos onde estes
indivíduos realizam suas funções de trabalho (CHMIELEWSKI; FRANK, 2003).
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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Por suas características inerentes, S. aureus é reconhecido como possuidor de
destacável virulência, desencadeando ampla gama de enfermidades que podem resultar em
invasão direta dos tecidos, em bacteremia primária ou em intoxicação em decorrência da
ação de suas enterotoxinas (AYCECEK; CAKIROGLU; STEVENSON, 2005). As enterotoxinas
termoestáveis estão entre os mais notáveis fatores de virulência associados a S. aureus, visto
que a sua estabilidade ao calor se constitui em uma das propriedades mais importantes
em termos de segurança alimentar (BALABAN; RASOOLY, 2000; SANDEL; McKILLIP, 2004).
De acordo com Lawrynowicz-Paciorek et al. (2007), atualmente são reconhecidos 20 tipos
de EE, os quais se subdividem em dois grupos: as clássicas, compostas por cinco tipos:
EEA, EEB, EEC1, 2, 3, EED e EEE; e as novas, formadas por EE e toxinas semelhantes à
enterotoxinas (EE1), a saber: EEG, EEH, EEI, EE1J, EE1K, EE1L, EE1M, EE1N, EE1O,
EE1P, EE1Q, EE1R, EE1U. Recentemente, foram identifi cados os tipos EE1U2 e EE1V e
seus genes correspondentes descritos (KÉROUANTON et al., 2007).
A atuação dos profi ssionais responsáveis pela qualidade dos alimentos produzidos
em unidades de alimentação e nutrição deve ser eminentemente preventiva. Fundamentado
em planos de amostragem bem defi nidos, o monitoramento por meio da avaliação
microbiológica do ambiente, dos equipamentos, dos utensílios e dos manipuladores pode
melhorar sensivelmente a qualidade dos alimentos servidos aos comensais (ANDRADE;
SILVA; BRABES, 2003).
Considerando a importância da qualidade higiênico-sanitária na alimentação diária e a
grande utilização de estabelecimentos de alimentação coletiva por parte da população, este
estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência e dinâmica populacional de Staphylococcus
spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos de origem animal e vegetal de
diferentes unidades de alimentação e nutrição da Cidade de João Pessoa, Paraíba.
METODOLOGIA
COLETA DE AMOSTRAS
Um total de 160 amostras de superfícies de preparo de alimentos de dez unidades de
alimentação e nutrição, incluindo serviços públicos e privados, da cidade de João Pessoa,
Paraíba, Brasil, foram analisadas para o grau de contaminação por Staphylococcus spp. e
S. aureus.
As amostras das superfícies de preparo de alimentos das diferentes unidades
de alimentação e nutrição foram coletadas sempre durante o período da manhã,
compreendendo o horário de preparação de refeições (almoço). As amostras foram
obtidas através da utilização de swabs (02 por superfície) umidifi cados em solução
salina 0,85% estéril, os quais foram friccionados em quatro pontos distintos (área de
25 cm²) de cada superfície. Após esta etapa, as porções fi nais dos swabs que entraram em
contato com as superfícies foram assepticamente cortadas, utilizando-se bisturi esterilizado,
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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e acondicionadas em tubos de ensaio adicionados de 9mL de solução salina esterilizada.
O sistema foi transportado em recipiente isotérmico até o local de realização das
análises microbiológicas. O início das análises microbiológicas ocorreu dentro de um
período máximo de 6 horas após a coleta das amostras.
CONTAGEM DE STAPHYLOCOCCUS SPP. E S. AUREUS
A metodologia empregada para a contagem de Staphylococcus spp. e S. aureus a
partir das amostras de superfícies foi a descrita por Downes e Ito (2001), que consistiu em:
preparação de diluições seriadas (10-1 – 10-4) das amostras das superfícies utilizando-se água
peptonada 0,1% esterilizada como diluente; plaqueamento (alíquota de 100µL) das diluições
seriadas em ágar Baird-Parker (meio seletivo diferencial para o gênero Staphylococcus)
adicionado de telurito de potássio a 1% e emulsão de gema de ovo (50mL para cada
1L de ágar); isolamento das colônias características do gênero Staphylococcus (colônias
circulares, pretas, pequenas, lisas, convexas, com bordas perfeitas, apresentando massa de
células esbranquiçadas nas bordas, rodeadas por uma zona opaca e/ou halo transparente
se estendendo para além da zona opaca) em tubos inclinados contendo ágar Nutriente.
Em seguida, foram submetidas aos testes de identifi cação de S. aureus através de
provas bioquímicas (coloração de Gram positiva, atividade de catalase positiva, reação de
coagulase positiva, teste de produção de termonuclease positivo, teste de fermentação do
manitol positivo e teste de fermentação de glicose positiva). Os resultados foram expressos
em Unidades Formadoras de Colônia por centímetro quadrado (UFC/cm2).
DINÂMICA POPULACIONAL DE STAPHYLOCOCCUS SPP. E S. AUREUS NAS SUPERFÍCIES
Neste estudo, foi realizada a contagem de Staphylococcus spp. e S. aureus nas
superfícies de preparo de carnes e superfícies de preparo de vegetais de três diferentes
unidades de alimentação e nutrição em diferentes momentos de um mesmo dia, a fi m de se
verifi car as alterações de carga microbiana ao longo de um período de atividades. Para tal,
fez-se a coleta de amostras antes do início das atividades de preparo de alimentos, durante
o período das atividades de preparo (dividido em dois subperíodos) e após a execução
do procedimento de higienização próprio de cada unidade. Para a coleta e transporte das
amostras, bem como para a realização das análises microbiológicas foi utilizada a mesma
metodologia citada no item anterior, sendo os resultados das contagens nos diferentes
períodos expressos em UFC/cm2.
RESULTADOS
Na tabela 1, é apresentada a distribuição das amostras das diferentes superfícies de
preparo de alimentos das dez unidades de alimentação e nutrição, as quais perfi zeram um
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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total de 160 amostras. Dentre estas, 70 (43,75%) foram de superfícies de preparo de carnes,
67 (41,88%) de superfícies de preparo de vegetais, 14 (8,75%) de superfícies de preparo
de alimentos em geral (incluindo o preparo de alimentos de origem animal e vegetal
na mesma superfície) e 9 (5,63%) de superfícies de manipulação de alimentos prontos.
Tabela 1 – Distribuição das amostras de superfícies coletadas em unidades de alimentação e nutrição da Cidade de João Pessoa-PB, de acordo com o tipo de alimento manipulado
Tipo de superfície (alimento manipulado)
Número de superfícies
Representação percentual
Carnes 70 43,75
Vegetais 67 41,88
Preparo de Alimentos em Geral* 14 8,75
Alimentos Prontos 9 5,63
Total 160 100%
* quando a unidade de alimentação e nutrição não apresentava superfícies de preparo diferentes para vegetais e carnes.
Os resultados relativos à distribuição de frequência das contagens de Staphylococcus
spp. e S. aureus em 160 amostras de superfícies de preparo de alimentos de unidades de
alimentação e nutrição estão apresentados na tabela 2. Observa-se, que a contagem de
Staphylococcus spp. variou entre < 101 (15%) e > 106 UFC/cm2 (13,75%), enquanto que
a contagem de S. aureus, apresentou uma variação entre < 101 (81,25%) e 105 UFC/cm2
(7,5%).
Tabela 2 – Distribuição de frequência das contagens de Staphylococcus spp. e Staphylococcus aureus em superfícies de preparo de alimentos em diferentes unidades de alimentação e nutrição da Cidade de João Pessoa-PB
Intervalo de contagem (UFC/cm2)
Staphylococcus spp. Staphylococcus aureus
Número de superfícies
Representação percentual
Número de superfícies
Representação percentual
< 101 24 15 130 81,25
101 – 102 2 1,25 1 0,63
102 – 103 12 7,5 9 5,62
103 – 104 36 22,5 8 5
104 – 105 28 17,5 12 7,5
105 – 106 36 22,5 0 0
> 106 22 13,75 0 0
Total 160 100% 160 100%
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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Nas tabelas 3 e 4, são mostrados os resultados da contagem de Staphylococcus
spp. e S. aureus em superfícies de preparo de vegetais e carnes, respectivamente, de
unidades de alimentação e nutrição em diferentes momentos de um mesmo dia. Todas
as 48 amostras analisadas apresentaram contaminação por Staphylococcus spp., de modo
que o período que apresentou as mais altas contagens foi aquele relacionado ao intervalo
de manipulação dos alimentos.
Tabela 3 – Dinâmica populacional (UFC/cm2) de Staphylococcus spp. e Staphylococcus aureus em superfícies de preparo de vegetais de Unidades de alimentação, em diferentes momentos em um mesmo dia, em diferentes unidades de alimentação e nutrição da Cidade de João Pessoa-PB
Coleta Períodos
Unidade 01 Unidade 02 Unidade 03
Staphylococcus spp.
S. aureusStaphylococcus
spp.S. aureus
Staphylococcus spp.
S. aureus
Coleta 01
Antes 5 x 101 < 101 1,0 x 102 < 101 1,9 x 102 < 101
Durante 1 1,9 x 103 < 101 1,0 x 105 1,0 x 104 2,9 x 105 < 101
Durante 2 1,2 x 103 < 101 4,8 x 104 < 101 5,6 x 102 1,6 x 102
Após sanitização 1,0 x 102 < 101 4,0 x 103 1,0 x 104 5,0 x 102 < 101
Coleta 02
Antes 4,0 x 101 < 101 4,0 x 102 3,0 x 103 4,0 x 101 < 101
Durante 1 1,6 x 104 < 101 4,0 x 104 4,0 x 105 1,0 x 103 < 101
Durante 2 5,2 x 103 5,2 x 104 1,7 x 104 1,0 x 105 1,9 x 104 < 101
Após sanitização 4,0 x 103 < 101 2,0 x 102 2,0 x 103 1,4 x 103 < 101
Tabela 4 – Dinâmica populacional (UFC/cm2) de Staphylococcus spp. e Staphylococcus aureus em superfícies de preparo de carnes de Unidades de alimentação, em diferentes momentos em um mesmo dia, em diferentes unidades de alimentação e nutrição da Cidade de João Pessoa-PB
Coleta Períodos
Unidade 01 Unidade 02 Unidade 03
Staphylococcus spp.
S. aureusStaphylococcus
spp.S. aureus
Staphylococcus spp.
S. aureus
Coleta 01
Antes 4,0 x 101 < 101 1,5 x 103 < 101 4,0 x 101 < 101
Durante 1 3,1 x 104 < 101 4,0 x 105 < 101 4,0 x 101 < 101
Durante 2 1,0 x 103 < 101 2,6 x 102 < 101 1,7 x 103 < 101
Após sanitização 1,1 x 104 < 101 1,2 x 103 < 101 2,0 x 102 < 101
Coleta 02
Antes 1,4 x 102 < 101 1,5 x 103 3 x 102 9,0 x 101 < 101
Durante 1 2,2 x 103 < 101 1,9 x 104 3,6 x 103 7,5 x 103 < 101
Durante 2 5,0 x 102 < 101 6,6 x 104 < 101 7,3 x 103 < 101
Após sanitização 1,0 x 103 < 101 4,1 x 103 < 101 2,3 x 104 < 101
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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Com relação à dinâmica populacional de S. aureus nas superfícies de preparo de
vegetais, a Unidade 01 e a Unidade 03, apresentaram resultados semelhantes, onde 07
amostras apresentaram contagens inferiores a 101 UFC/cm2, enquanto somente 01 amostra
de cada unidade (01 e 03) apresentou contagem de 5,2 x 104 e 1,6 x 102 UFC/cm2,
respectivamente. Na Unidade 02, 06 amostras apresentaram contagens variando entre
2,0 x 103 e 4,0 x 105 UFC/cm2. Ainda, 02 amostras de superfícies de preparo de vegetais
coletadas na Unidade 02 apresentaram contagens inferiores a 101 UFC/cm2.
Considerando a dinâmica populacional de Staphylococcus spp. nas superfícies
de preparo de carnes, a unidade 02 apresentou as mais elevadas contagens (2,6 x 102
– 4,0 x 105 UFC/cm2). Para as unidades 01 e 03, as contagens de Staphylococcus spp.
apresentaram-se inferiores ao longo dos diferentes períodos de coleta durante o dia.
Na Unidade 02, também foram verifi cadas contagens de S. aureus entre <101 e 3,6 x 103
UFC/cm2. Nas demais unidades, as contagens de S. aureus foram sempre <101 UFC/cm2
nos diferentes intervalos de análise.
Outro fato observado, é que mesmo após a sanitização das superfícies, 100% das
amostras apresentaram contaminação por Staphylococcus spp., atingindo contagens de
2,0 x 103 e 2,3 x 104 UFC/cm2 para superfícies de vegetais e carnes, respectivamente.
DISCUSSÃO
A detecção de microrganismos em altas contagens em superfícies e bancadas dos
setores de preparo de alimentos demonstra a importância desses locais como fontes
potenciais de disseminação de microrganismos para o ambiente de unidades de alimentação
e nutrição, principalmente através da contaminação cruzada de alimentos. Cabe ressaltar,
que a contaminação cruzada tem sido frequentemente relatada como fator responsável
pela ocorrência de enfermidades de origem alimentar (BRYAN, 1998; SILVA JÚNIOR, 2002).
Com relação à ocorrência de S. aureus em superfícies de unidades de alimentação
e nutrição (Tabela 2), as contagens obtidas para 30 (contagens superiores a 101 UFC de
S. aureus por cm2) das amostras analisadas apresentaram resultados superiores àqueles
encontrados por Martins et al. (2007), que analisando superfícies de preparo de dieta
enteral, obtiveram contagens de S. aureus < 0,4 UFC/cm2. Ao analisar as condições
higiênico-sanitárias do preparo da merenda escolar em escolas da rede estadual de ensino
de Curitiba (Paraná, Brasil), Piragine (2005) verifi cou a ausência de S. aureus nas amostras
analisadas do ambiente (equipamentos e utensílios) de produção. Silva (2006) obteve
contagem de Staphylococcus coagulase positiva variando entre < 102 e 2,3 x 102 UFC/
cm2, em estudo de avaliação da qualidade microbiológica de utensílios e superfícies de
manipulação de alimentos de unidade de alimentação.
Um estudo de análise de risco desenvolvido em um restaurante universitário por
Nascimento (1992), levou a concluir serem as bancadas do setor de pré-preparo de frutas e
hortaliças um ponto crítico expressivo na contaminação destes alimentos. Esses resultados
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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corroboram àqueles relatados por Rêgo, Guerra e Pires (1997), nos quais se evidenciou
que dentre as áreas que apresentaram elevados graus de contaminação por bactérias
aeróbias mesófi las destacaram-se as áreas de preparo de frutas e hortaliças.
De acordo com Silva Júnior (2002), existem critérios que refl etem a realidade de
alguns países economicamente desenvolvidos e que servem como base para determinar
valores relativos às condições de manipulação que se aproximem da realidade brasileira.
A American Public Health Association (1984) estabelece que contagens até 2 UFC/cm2
de bactérias aeróbias mesófi las são consideradas satisfatórias, enquanto que contagens
acima desse valor são reconhecidas como insatisfatórias. No entanto, Silva Júnior (2002)
preconiza uma contagem menor ou igual a 50 UFC/cm2 de bactérias aeróbias mesófi las
como limite para equipamentos e utensílios, em razão principalmente das condições de
temperatura ambiental do Brasil. Considerando este último padrão, suas limitações de
aplicação, e tomando como base o fato de bactérias do gênero Staphylococcus serem
aeróbias facultativas mesófi las, verifi ca-se uma inadequação de mais de 70% (contagem
superior a 102 UFC/cm2 de Staphylococcus spp.) das superfícies de preparo de alimentos
analisadas no presente estudo (Tabela 2).
As superfícies de preparo de vegetais apresentaram maiores contagens de
Staphylococcus spp. e Staphylococcus aureus quando comparadas às superfícies de
manipulação de carnes. De acordo com Nascimento, Silva e Cantanozi (2003), os vegetais
apresentam potencial de risco na transmissão de agentes patogênicos relacionados a surtos de
doenças transmitidas por alimentos. A contaminação de alimentos vegetais por S. aureus pode
ocorrer principalmente naqueles que sofrem intensa manipulação durante o seu pré-preparo
e preparo, ou naqueles que são produzidos em ambientes que possuem equipamentos e
utensílios não devidamente higienizados. Ressalta-se também, que as condições inadequadas
de higiene dos manipuladores e do ambiente de produção favorecem, em particular, os
pontos de perigo na produção quando o produto é consumido in natura.
Segundo Silva Júnior (2002), a higiene pessoal é um dos fatores mais importantes
relacionados à higiene dos alimentos, pois o homem é direta ou indiretamente responsável
por contaminar matérias-primas, superfícies ou mesmo diretamente os alimentos durante
a manipulação.
Germano, Germano e Karnei (2000) ressaltam que saúde e alimentos estão
estritamente relacionados, e que os avanços tecnológicos na produção e o aumento no
consumo resultaram na mudança dos padrões sanitários de toda a cadeia, com vistas a
evitar ou diminuir os riscos de doenças transmitidas por alimentos, particularmente aquelas
de origem microbiana, por meio da qualidade e segurança dos alimentos.
CONCLUSÃO
Considerando-se os valores de contagem para Staphylococcus spp. e S. aureus
obtidos no presente estudo, constata-se uma possível inefi cácia das práticas higiênico-
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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sanitárias adotadas pelas unidades de alimentação e nutrição em estudo. Ainda, tais achados
repercutem em uma necessidade de conscientização dos gestores de serviços de alimentação
em formular e colocar em prática estratégias efi cazes de capacitação dos manipuladores de
alimentos produzidos em seus estabelecimentos, evitando assim à contaminação cruzada
dos alimentos, e consequentemente a ocorrência de surtos de intoxicação alimentar
estafi locócica.
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Recebido para publicação em 27/01/10.Aprovado em 03/12/10.
JERÔNIMO, H. M. A.; QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, A. C. V.; BARBOSA, I. M.; CONCEIÇÃO, M. L.; SOUZA, E. L. Ocorrência de Staphylococcus spp. e S. aureus em superfícies de preparo de alimentos em unidades de alimentação e nutrição. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 37-48, abr. 2011.
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Artigo original/Original Article
Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, SergipeSocio-economical characteristics and nutritional status of children and adolescents in rural settlements in Pacatuba, Sergipe
DIVA ALIETE DOS SANTOS VIEIRA1; DAYANNE
DA COSTA1; JAMILLE OLIVEIRA COSTA1;
FERNANDO FLEURY CURADO2; RAQUEL
SIMÕES MENDES-NETTO1
1Núcleo de Nutrição – Universidade Federal
de Sergipe2Centro de Pesquisa
Agropecuária dos Tabuleiros Costeiros - EMBRAPA/CPATC Depto. onde foi realizado:
Núcleo de Nutrição – Universidade Federal
de SergipeEndereço para
correspondência: Raquel Simões Mendes Netto
Núcleo de Nutrição daUniversidade Federal
de SergipeCidade Universitária Prof. “José Aloísio de Campos” Av. Marechal Rondon, s/n
Jardim Rosa ElzeSão Cristóvão – SE
CEP 49100-000E-mail: [email protected]
Agradecimentos:os autores agradecem o apoio da EMBRAPA,
AGROSALUD, HAVERST PLUS, SEIDS/GOVERNO DO
ESTADO DE SERGIPE.
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Socio-economical characteristics and nutritional status of children and adolescents in rural settlements in Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
Nutritional evaluation is an essential tool for the measurement of population health status. The aim of the present study was to point out the socio-economic, dietary and anthropometric profi les in school-age residents of rural settlements in Pacatuba (State of Sergipe, Brazil). Nutritional status was assessed through Body Mass Index (BMI)/age (weight evaluation) and height/age (growth evaluation) using z-score. Food intake was assessed by a 24-hour recall method and analyzed using Dietary Reference Intakes. The participants included 145 children and teenagers, whose legal guardians had informal jobs (79%) (agriculture and handicraft) and received less than a minimum wage per month (82%), also 35% of the participant’s mothers had attended school for less than 3 years. According to BMI/age and height/age indexes, the studied population presented a weight and growth defi cit (children, 7.1%, and teenagers, 14.8%; P>0.05). According to gender, the girls presented a higher prevalence of weight defi cit (P>0.05). The energy intake of children and teenagers was considered inadequate (72.6% and 63.9%, respectively, of the daily value recommendation). The analysis of micronutrients showed a high probability of inadequate consumption of iron, zinc, vitamin A and calcium in both studied groups. These fi ndings indicate that the socioeconomic and nutritional status are factors which determine the nutritional situation of this population, thus justifying the relevance of the scholar’s nutrition surveillance.
Keywords: Nutritional Status. Food Consumption. Rural Settlements.
ABSTRACT
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RESUMORESUMEN
La evaluación del estado nutricional es un parámetro clave para medir la salud de una población. Este estudio tuvo como objetivo caracterizar el perfi l socio-económico, dietético y antropométrico de estudiantes de una región de asentamientos rurales en la ciudad de Pacatuba, SE, Brasil. Para la evaluación del estado nutricional se adoptaron los índices IMC/I (evaluación ponderal) y talla/edad (evaluación del crecimiento) y para la clasificación, el escore Z. La evaluación del consumo alimentar se llevó a cabo por medio de la aplicación del recordatorio de 24 horas que fue analizado según las Ingestiones Dietéticas de Referencia. Fueron evaluados 145 niños y adolescentes y cuyos responsables: 79% tenían trabajos informales (jardinería y artesanía), 82% recibía menos de un salario mínimo al mes y 35% de las madres tenía menos de tres años de escolaridad. Según el índice IMC/A y T/E, el 10,3% de la población estudiada presentaba défi cit ponderal y de estatura, siendo el 7,1% en los niños y el 14,8% en los adolescentes (p> 0,05). Cuando analizamos en relación al género, las niñas presentaron mayor prevalencia de défi cit ponderal (p <0,05). El consumo de energía fue insufi ciente para los niños y adolescentes que mostraron respectivamente solo el 72,6% y 63,9% de las necesidades diarias suplidas. Cuando evaluamos los micronutrientes se percibe una alta probabilidad de inadecuación de consumo de hierro, zinc, vitamina A y calcio en los dos grupos estudiados. Los resultados indican que las condiciones socio-económicas y el perfi l alimentar son factores determinantes de la situación nutricional de esta población, justifi cando así la importancia de vigilar el estado nutricional de los estudiantes.
Palabras clave: Estado nutricional. Consumo de alimentos. Asentamientos Rurales.
A avaliação da situação nutricional é um parâmetro essencial para aferição das condições de saúde de uma população. O presente estudo tem como objetivo caracterizar o perfi l socioeconômico, dietético e antropométrico de escolares de uma região de assentamento rural no município de Pacatuba-SE. Na avaliação do estado nutricional, foram adotados os índices IMC/I (avaliação ponderal) e Altura/idade (avaliação do crescimento), utilizando a classifi cação por escore Z. A avaliação do consumo alimentar foi realizada através da aplicação do recordatório de 24h e analisada segundo as Ingestões Dietéticas de Referência. Foram avaliadas 145 crianças e adolescentes em que 79% dos seus responsáveis tinham trabalhos informais (roça e artesanatos), 82% recebiam menos de um salário mínimo por mês e 35% das mães tinham menos de três anos de escolaridade. Segundo os índices IMC/I e A/I, 10,3% da população estudada apresentou défi cit ponderal e estatural, sendo 7,1% em crianças e 14,8% em adolescentes (p>0,05). Quando os dados foram analisados quanto ao gênero, as meninas apresentaram maior prevalência de déficit ponderal (p<0,05). O consumo de energia foi insuficiente para crianças e adolescentes, apresentando, respectivamente, 72,6% e 63,9% das necessidades diárias. Quando avaliados os micronutrientes houve uma alta probabilidade de inadequação de consumo para ferro, zinco, vitamina A e cálcio para os dois grupos analisados. Os resultados apresentados indicam que as condições socioeconômicas e o perfi l alimentar sejam fatores determinantes da situação nutricional desta população, justifi cando assim a importância da vigilância do estado nutricional de escolares.
Palavras-chave: Estado nutricional. Consumo de alimentos. Assentamentos rurais.
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
A investigação sobre estado nutricional de crianças e adolescentes é um importante
instrumento que refl ete as condições de saúde e vida da população. Em uma análise de cinco
estudos sobre a situação nutricional da população brasileira, realizados em 1974-1975, 1989,
1996 e 2002-2003, 2008-2009 percebeu-se que houve uma melhora no estado nutricional
das crianças e adolescentes residentes na zona rural em relação à zona urbana, o que pode
ter ocorrido devido a um maior acesso dessa população ao serviço básico de saúde. No
entanto, tais resultados ainda carecem de fundamentação, pois, notadamente, as condições
de vida na zona rural são piores, desenhando um quadro nutricional mais desfavorável do
que o observado na zona urbana. Apesar da queda na prevalência de desnutrição infantil
nos cinco estudos, esta redução se deu de forma diferenciada no território nacional, o
que intensifi cou as desigualdades entre as regiões Sul e Sudeste em relação ao Norte e
Nordeste. Sendo importante relatar que apesar de a região Nordeste ser a mais acometida
pela desnutrição no país, entre os anos de 1996 e 2008-2009, a nutrição infantil evoluiu de
forma particularmente favorável no meio rural (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA, 2010; VEIGA; BURLANDY, 2001).
Nesta refl exão acerca do urbano e do rural encontra relevância o debate sobre o papel
da reforma agrária e os aspectos da alimentação e nutrição da população de assentamentos
rurais na compreensão sobre a segurança alimentar das famílias benefi ciadas pela política
de terras no Brasil. Neste sentido, ganha visibilidade as discussões sobre a abordagem do
direito humano à alimentação adequada, especialmente no que se refere à “qualidade dos
alimentos ingeridos do ponto de vista nutricional, higiênico, biológico, tecnológico e da
ausência de produtos nocivos à saúde (agrotóxicos, hormônios, aditivos, etc.)” (VALENTE,
2002). Tal discussão aponta para a importância de estudos que permitam uma melhor
compreensão sobre as transformações ocorridas na realidade alimentar e nutricional de
famílias em diferentes localidades no País, quando uma nova situação de vida se desenvolve
com o ingresso nos assentamentos rurais.
As diversas situações que se descrevem na conformação de assentamentos rurais,
moldadas pelos diferentes contextos socioeconômicos e ambientais que se pode observar
nas regiões brasileiras, carecem de informações sobre o quadro nutricional das crianças,
adolescentes e gestantes no sentido de orientar ações de políticas públicas com estratégias
bem defi nidas no sentido de se assegurar a segurança alimentar e nutricional nestes novos
espaços de vida e produção.
A luta pela reforma agrária no País remonta os anos 50 do século passado, porém,
foi nos anos 80 que os assentamentos rurais ganham expressividade no cenário nacional
(MEDEIROS, 1989; MEDEIROS; ESTERCI, 1994). O Assentamento Rural é defi nido
pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA como uma unidade
empresarial associativa, de base familiar, autônoma e gerida pelos trabalhadores, que
visa o desenvolvimento econômico e social do conjunto de assentados (INSTITUTO
NACIONAL E REFORMA AGRÁRIA, 1996). No Brasil, a defi nição de assentamento rural
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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“esteve atrelada a uma atuação estatal direcionada ao controle e à delimitação do novo
‘espaço’ criado e, por outro lado, às características do processo de luta e conquista pela
terra, encaminhados pelos trabalhadores rurais” (LEITE, 2005).
O assentamento rural representa um espaço que expressa conteúdos históricos, no
qual se materializam relações sociais, sendo neste local onde ocorrem as atividades dos
trabalhadores rurais que conquistaram esse espaço e transformam em um território com
identidade própria, transformando-o em seu meio de sobrevivência. Os assentamentos
rurais vêm crescendo no Brasil, especialmente nas últimas décadas. No período de
1986/2005, foram criados, somente em Sergipe, 131 assentamentos rurais pelo INCRA,
sendo assentadas 6.329 famílias (LOPES, 2008).
De acordo com Paulilo (1994), as famílias assentadas possuem melhores condições
de vida se comparadas aos marginalizados urbanos. No entanto, não se observa uma
uniformidade entre a comunidade assentada do país apresentando grande variabilidade
nas condições socioeconômicas entre eles e entre as famílias residentes em um mesmo
assentamento (GUANZIROLI, 1994).
Em Sergipe, a ação dos movimentos sociais de luta pela terra teve início no começo
dos anos 80, com a conquista do primeiro assentamento de reforma agrária a partir do
confl ito social envolvendo posseiros e a Seragro Serigy Agroindustrial Ltda no povoado
Santana do Frades, município de Pacatuba (RAMOS FILHO, 2009).
Em Sergipe, ainda, são escassos os estudos de avaliação nutricional, porém um
levantamento feito a partir dos dados disponíveis no DATASUS (Tecnologia de Informação
a Serviço do SUS) mostrou cerca de 9% de desnutrição em Sergipe e de 20,7% no município
Pacatuba, sendo considerado o maior do Estado (MORAIS; JAGUAR; MENDES-NETTO,
2008). Em relação às carências nutricionais de micronutrientes, o estudo realizado pelo
governo do Estado de Sergipe em 1998, numa amostra representativa de crianças de 0 a
5 anos, mostrou que a anemia acometia cerca de 31,4% das crianças e a hipovitaminose
A, 32,1% (SERGIPE, 2001). Estes dados descrevem a necessidade de se traçar medidas
emergenciais e permanentes na recuperação do estado nutricional desta população.
A fortifi cação de alimentos com Vitamina A e Ferro, bem como a distribuição de
suplementos destes micronutrientes para a população alvo, têm sido as estratégias mais
utilizadas na maioria dos países em desenvolvimento, como o Brasil, para combater
estas carências (BRASIL, 2006). Outro método que vem recebendo a atenção e o
desenvolvimento de pesquisas para sua aplicação é o de biofortifi cação de alimentos.
A introdução de produtos agrícolas biofortifi cados, nada mais é do que variedades de
plantas obtidas em programas de melhoramento genético vegetal e que foram selecionados
por apresentarem maiores concentrações de micronutrientes. Esse tipo de alimento visa
complementar as intervenções em nutrição existentes, proporcionando uma maneira
sustentável e de baixo custo para as populações com limitado acesso aos sistemas formais
de mercado e de saúde. Variedades biofortifi cadas apresentam o potencial de fornecer
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benefícios contínuos em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, a um custo
recorrente inferior ao da suplementação e da fortifi cação pós-colheita. Alimentos como
arroz, milho, trigo, feijão e mandioca já estão sendo melhorados geneticamente para altas
concentrações de ferro, zinco e vitamina A (WELCH, 2002).
É essencial para o planejamento e execução de estratégias de intervenção efi cazes o
conhecimento prévio das condições socioeconômicas, bem como da situação nutricional
e alimentar da população, especialmente no que se refere à qualidade e quantidade de
alimentos consumidos.
A falta de dados sobre as condições de vida, saúde e nutrição dos assentados,
particularmente da região de Sergipe, levou a realização do presente estudo que teve
como objetivo descrever características socioeconômicas das famílias e avaliar o estado
nutricional das crianças e adolescentes fi lhos de agricultores residentes na área de
assentamento rural no município de Pacatuba, Sergipe.
METODOLOGIA
A INSERÇÃO DO PROJETO EM UMA PESQUISA MULTIDISCIPLINAR
Este estudo é do tipo transversal e faz parte de um projeto de pesquisa intitulado:
“Combatendo a Fome Oculta na América Latina: Cultivos Biofortifi cados com Melhor
Qualidade Proteica e Maiores Teores de Vitamina A e Minerais Essenciais”, sob a
coordenação da EMBRAPA Agroindústria de Alimentos (no âmbito nacional) e EMBRAPA
Tabuleiros Costeiros (âmbito regional) e parceria com a Universidade Federal de Sergipe
e instituições estaduais (Secretarias de Educação, Saúde, Inclusão Social - SEIDES e a
Empresa de Desenvolvimento Agropecuário do Estado de Sergipe - EMDAGRO).
O projeto piloto em Sergipe, no qual o presente estudo está inserido, está dividido
em duas fases complementares e simultâneas: a primeira etapa envolve um levantamento
do estado nutricional e de consumo e hábitos alimentares da população a ser estudada, e
a segunda referente à validação das cultivares e a produção dos alimentos biofortifi cados
em Sergipe. O presente trabalho servirá como base para a introdução dos produtos
biofortifi cados na alimentação dentro de uma estratégia de intervenção nutricional, visando
a prevenção do desenvolvimento de carências nutricionais de crianças e adolescentes.
CASUÍSTICA
A amostra foi composta por 84 crianças (faixa etária de 3 a 9 anos e 11 meses) e
61 adolescentes (faixa etária de 10 a 18 anos e 11meses), matriculados no ano corrente
em duas escolas da rede pública de ensino e pertencentes a 95 famílias de quatro
assentamentos rurais do município de Pacatuba. Os assentamentos rurais são: 1) Santana
dos Frades (93 famílias assentadas); 2) Independência Nossa Senhora do Carmo (90 famílias
assentadas); 3) Nossa Senhora Santana (36 famílias assentadas) e Cruiri (35 famílias).
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Estes assentamentos surgiram, em diferentes momentos, a partir da experiência dos
posseiros de Santana dos Frades no início dos anos 80. A área desapropriada em 1982 era
de 1.201 hectares e foi destinada a 93 famílias (SILVA, 2002).
O Município de Pacatuba, historicamente com alta concentração fundiária, destacou-se,
portanto, no movimento de luta pela terra em Sergipe, graças ao apoio da Igreja Católica e
do Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais. Tornou-se, nesse sentido, um território
que tem passado por mudanças socioculturais e econômicas que refl etem este processo.
Pacatuba está localizada no litoral Norte do Estado de Sergipe, a 116km de Aracaju.
Possui uma área de 364km², com 11.536 habitantes, sendo 21,96% da população residente
na zona urbana e 78,04% na zona rural (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2001). O Índice de Desenvolvimento Humano - IDH deste município em
2000, segundo dados da Confederação Nacional de Municípios é de 0,584. O IDH é um dos
índices que avaliam o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida
às populações. Em relação ao Estado de Sergipe, o município ocupa a 61ª posição, num
total de 75 municípios nesta Unidade Federativa (SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DO
ESTADO DE SERGIPE, 2009). Devido à sua localização, Pacatuba dispõe de uma rica fl ora
e fauna, possuindo atratividade turística devido à existência de lagos que fazem com que a
região seja considerada o “Pantanal de Pacatuba”, com características semelhantes àquelas
do Pantanal do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Nesta pesquisa, os pais/responsáveis das crianças dessas comunidades foram
convidados a participar de uma reunião na qual receberam informações sobre os objetivos do
estudo, os benefícios e os possíveis efeitos não desejáveis das avaliações, antes de assinarem
o Termo de Consentimento Livre e Informado. Assim, foi assegurado aos participantes o
anonimato nos achados levantados e que a recusa à participação no projeto não implicaria
em nenhum prejuízo para a criança e para a família.
A coleta dos dados ocorreu no período de junho a setembro de 2008, por meio de
entrevistas com as mães ou responsáveis, os quais foram convocados a comparecer na
escola em dias pré-estabelecidos e de acordo com a sua disponibilidade de horário. Os
entrevistadores aplicaram dois questionários, um para avaliação socioeconômica, e outro
relativo ao consumo alimentar das crianças. Em paralelo, foi conduzida a aferição das
medidas antropométricas nas crianças e adolescentes, durante o período de aula, de forma
que estes não fi cassem prejudicados quanto ao conteúdo dado em sala.
CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA
Na aplicação do questionário socioeconômico foram obtidas informações referentes
à renda mensal familiar, escolaridade do responsável, grau de parentesco (em relação à
criança ou adolescente), número de moradores em cada domicílio e a participação em
algum tipo de programa de transferência de renda do governo. Na análise das frequências
destas variáveis, os percentuais foram calculados sobre o total de resposta dos pais e não
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sobre o número de crianças ou adolescentes, já que algumas vezes existiam mais de uma
criança ou adolescente pertencente a uma mesma família.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
A avaliação nutricional das crianças e adolescentes foi realizada com base nos dados
antropométricos (na aferição das medidas antropométricas de peso e estatura) e dietéticos
(recordatório de 24 horas). Para as crianças menores de dez anos, o recordatório foi
determinado em entrevista com o responsável, visando a coleta de informações sobre o
consumo alimentar da criança na sua residência, enquanto que para os adolescentes com
dez anos ou mais a entrevista foi feita diretamente com eles.
O método recordatório 24 horas é um instrumento de avaliação da ingestão de
alimentos e nutrientes de indivíduos e grupos populacionais. É um instrumento validado,
frequentemente utilizado em estudos epidemiológicos, capaz de avaliar a ingestão atual
de indivíduos, em geral, bem aceito pelos entrevistados, de baixo custo e não demora
muito tempo na aplicação, mas requer um nutricionista ou entrevistador bem treinado
para realização de coleta de dados (FISBERG; MARTINI, 2005).
A aplicação do método recordatório 24 horas consiste em obter informações escrita
ou verbais sobre a ingestão alimentar das últimas 24 horas, com dados sobre os alimentos
atualmente consumidos e informações sobre peso/tamanho das porções. Assim, optou-se por
esse método, pelo fato de a aplicação ser feita em uma população a qual os investigadores
não tinham tido contatos prévios, já que na aplicação de outros métodos como o questionário
de frequência alimentar é necessário ter um conhecimento anterior dos hábitos alimentares
da população afi m da elaboração do questionário a ser aplicado (PEREIRA; SICHIERI, 2007).
As informações dos alimentos consumidos foram anotadas seguindo a ordem das
refeições principais, intercaladas pelos lanches, incluindo a primeira até a última refeição.
Registraram-se primeiro a hora e o lugar referido as refeições. Em seguida, perguntou-se
o que a criança comeu e bebeu, o tipo do alimento e a forma de preparo, registrando a
quantidade de cada alimento relatado em medidas caseiras. Dessa forma, os alimentos
foram transformados em gramas e mililitros, com o auxílio de uma tabela para avaliação
de consumo alimentar apropriada para esse fi m (FISBERG; MARTINI, 2005).
O registro fotográfi co, dietético, composto de desenhos de alimentos nas três
dimensões normais: pequena, média e grande – utensílios e medidas – foi utilizado como
recurso padrão para auxiliar o entrevistado a recordar-se da porção do alimento servido
à criança ou adolescente, aumentando assim a confi abilidade das informações fornecidas
(ZABOTTO; VIANNA; GIL, 1996).
Para quantifi cação da alimentação realizada na escola, buscou-se as informações
referentes ao cardápio do dia anterior e, em seguida, com as merendeiras o detalhamento
da receita/preparação e a quantifi cação do porcionamento da alimentação escolar para
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as crianças e adolescentes. Estes valores foram somados ao recordatório de 24h sendo
considerado o consumo completo da refeição servida, uma vez que era o observado por
todas as merendeiras e professoras.
Os cálculos para quantifi car o consumo de energia, proteínas, carboidrato, lipídios,
ferro, cálcio, zinco e vitaminas A foram realizados com o auxílio do software Nutwin versão
(3.0) (PROGRAMA DE APOIO A NUTRIÇÃO, 2005). Segundo Salles-Costa et al. (2007), apesar
de o banco de dados do Nutwin ser proveniente da tabela norte-americana de composição
de alimentos (USDA), e apresentar valores de ferro, vitamina C e zinco superiores a outras
tabelas brasileiras, este é o mais adequado para estimar o consumo alimentar de crianças.
Assim, os alimentos inexistentes no banco de dados foram acrescentados e os com valores
superestimados foram corrigidos com base na análise da composição de alimentos da Tabela
Brasileira de Composição de Alimentos - TACO (NEPA-UNICAMP, 2004), e as preparações
quando não encontradas foram adicionadas ao software e analisadas pelo mesmo.
A avaliação de ingestão dietética foi realizada com base nas Ingestões Dietéticas de
Referência (Dietary Reference Intakes - DRI). As DRI são valores de referência de ingestão
de nutrientes que reúnem conceitos e conhecimentos científi cos mais atualizados e,
basicamente, são utilizados no planejamento e avaliação das dietas, estimando a ingestão
alimentar de indivíduos e grupos populacionais (PADOVANI, et al., 2006).
Para o cálculo das necessidades energéticas estimadas (NEE), utilizou-se as equações
preditivas proposta pelas Institute of Medicine (2005), respectiva para cada faixa etária e
sexo, considerando o nível de atividade física pouco ativo, tendo em vista que as atividades
diárias das crianças e dos adolescentes do estudo eram caracterizadas por reduzida
locomoção e escassas atividades de lazer. Em seguida, o valor energético total da dieta
(VET) foi comparado em relação às NEE em porcentagem das necessidades.
A avaliação dietética do consumo dos micronutrientes foi realizada por meio de
comparação da ingestão individual contra valores de referências de nutrientes que compõe
a DRI. A análise qualitativa dos nutrientes foi classifi cada em três grupos: (1) abaixo da EAR
(Estimated Average Requirement): provável inadequação do consumo; (2) entre EAR e RDA
(Recommended Dietary Alowances): risco de inadequação; (3) acima da RDA: provável
adequação. Já o cálcio por não apresentar a EAR não foi possível fazer a avaliação de ingestão
desse micronutriente, afi nal segundo as DRI, o parâmetro de referência utilizado por esse
mineral é a Ingestão Adequada (AI), a qual não deve ser utilizada para avaliar adequação
de consumo (INSTITUTE OF MEDICINE, 2005).
As crianças e adolescentes foram pesados e medidos segundo técnicas preconizadas
pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008b). Para aferição da altura foi utilizado um
estadiômetro portátil SECA, de PVC rígido com fi ta métrica metálica retrátil, escala de 0 a
220cm, resolução de 0,1, fi xo na parede com parafuso. O peso foi medido utilizando uma
balança digital da marca Plenna, do tipo digital futura, bateria de litium interna, visor em
cristal líquido, com capacidade de 150kg, graduação de 100g. Ambos os equipamentos
foram previamente calibrados.
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Os índices antropométricos IMC/idade e altura/idade foram adotados para avaliar o
estado nutricional das crianças e adolescentes sendo expressos em escore-Z ou unidades
de desvio padrão de afastamento da mediana da população de referência da World
Health Organization (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006, 2007). Os pontos de
cortes adotados para baixo peso foi o índice IMC/idade menor que escore-z -2, eutrófi co
escore-z entre -2 e 1 e excesso de peso escore-z acima de 2. Já para a avaliação estatural
utilizou-se os valores menores que escore-z -2 para classifi car baixa estatura para idade
e os maiores que escore-z -2 para classifi car estatura adequada para idade. O uso dos
dois documentos da WHO é recomendado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008a).
ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Os dados socioeconômicos e antropométricos foram processados e analisados em
banco de dados criado por meio do software Epi Info versão 6.04. Foram calculadas as
frequências absoluta e relativa das respostas e aplicado o teste de qui-quadrado para
análise das associações entre as variáveis. Na análise descritiva dos dados de consumo
alimentar, foram calculadas a média e o desvio padrão. Por meio do Teste “t” Student foram
verifi cadas as diferenças entre as médias do consumo de energia e nutrientes entre crianças
e adolescentes. O nível de rejeição da hipótese de nulidade foi 0,05 ou 5%.
RESULTADOS
Os resultados obtidos referem-se a dados preliminares de um estudo piloto
realizado junto a 145 indivíduos, entre crianças e adolescentes, pertencentes a 95 famílias
de assentados da zona rural do município de Pacatuba, no Estado de Sergipe, sendo o
primeiro estudo da região.
As características socioeconômicas das famílias das crianças e adolescentes estão
descritas na tabela 1.
Analisando estes dados pode-se observar que existiu uma maior proporção de homens
como chefes de família (52,63%), porém as mães têm uma grande representatividade com
40%, sendo que parte dessas são viúvas ou separadas. Além disso, 62,2% das famílias são
constituídas por mais de cinco pessoas.
A maior parte da renda familiar é advinda de trabalhos informais que representaram
78,95% das atividades desenvolvidas por essas famílias, a maioria apresentando também
renda inferior a R$250,00 (66,31%). Vale ressaltar que programas de auxílio do governo
como bolsa família é a base da renda de 78,9% das famílias, sendo complementado pelos
trabalhos informais, como o trabalho no campo e o artesanato, através da confecção de
redes de pesca (tarrafas) e bolsas, feitas da fi bra da taboa (Typha domingenis), um recurso
natural que coletam de forma sustentável nas lagoas próximas ao assentamento.
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Quanto à escolaridade materna, cerca de 35% das mães tinham escolaridade inferior a
3 anos. Vale destacar também que, 16,8% das mães declararam não saber a sua escolaridade,
o que pode refl etir em nenhum ou poucos anos de estudo.
Tabela 1 – Características socioeconômicas de 95 famílias assentadas de povoados da zona rural de Pacatuba, SE
Variáveis n %
Chefe da famíliaPaiMãeAvósSem informação
503861
52,6340,006,321,05
Ocupação do chefe de famíliaTrabalhos formaisTrabalhos informaisNão sabe
11759
11,5878,959,47
Escolaridade materna (anos)0 – 34 – 78 – 1011 ou +Não sabeSem informação
332573
1611
34,7426,327,373,16
16,8411,51
Total de rendimentos (R$)< 100,00100,00 – 250,00251,00 – 415,00> 415,00Não sabe
293415107
30,5235,7915,7910,527,37
Número de moradores por domicílio< 4 pessoas5 a 8 pessoas> 9 pessoas
36518
38,353,78,50
Na tabela 2, são apresentados dados do estado nutricional das crianças e adolescentes.
A população estudada apresentou défi cit ponderal (segundo IMC/I) e estatural (segundo
A/I), sendo 7,1% em crianças e 14,8% em adolescentes para ambos os índices, porém sem
diferença estatística entre os grupos (p>0,05). Quando os dados foram comparados em
relação ao gênero, os meninos apresentaram um défi cit ponderal signifi cativamente superior
às meninas, 17,5% e 4,9% (p<0,05) respectivamente. Já em relação ao índice estatura/
idade, verifi cou-se que 6,3% e 13,4% apresentaram baixa estatura para meninas e meninos
respectivamente, porém sem diferença estatística entre os grupos.
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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Tabela 2 – Frequência absoluta e relativa de crianças e adolescentes escolares de acordo com a classifi cação ponderal (baixo peso, eutrófi co e com excesso de peso) e estatural (défi cit e adequação). Pacatuba, SE
Estado nutricional
Crianças (n=84) Adolescentes (n=61) Todos (n=145)
n % n % n %
IMC/IdadeBaixo PesoEutrófi coExcesso de peso
6753
7,1489,303,57
9511
14,7583,611,64
15126
4
10,3486,902,76
Altura/IdadeDéfi cit estaturalEstatura adequada
678
7,1492,86
952
14,7585,25
15130
10,3486,65
As análises descritivas do consumo atual de energia, macro e micronutrientes,
estimadas pela aplicação de um recordatório de 24hs, são descritas na tabela 3. Tendo em
vista os resultados apresentados, observou-se maior consumo de macro e micronutrientes
entre os adolescentes em relação às crianças, porém sem diferença signifi cativa entre os
grupos e gênero (p>0,05).
Tabela 3 – Média (X) e desvio padrão (DP) do consumo energético, macro e micronutrientes de crianças e adolescentes escolares da zona rural de Pacatuba, SE
NutrientesCrianças (n=84)
X (DP)Adolescentes (n=61)
X (DP)Todos (n=145)
X (DP)
Energia (kcal) 1116,65 (373,59) 1219,19 (376,95) 1167,43 (372,06)
%NEE 72,56 (22,46) 63,92 (20,57) 69,10 (21,65)
Proteínasg totais%VET
77,41 (33,90)28,00 (10,29)
80,64 (33,93)26,26 (9,21)
79,11 (33,73)27,36 (9,73)
Carboidratosg totais%VET
172,49 (65,04)60,68 (10,36)
191,42 (66,88)61,77 (12,02)
181,62 (65,80)61,58 (10,11)
Lipídiosg totais%VET
30,55 (26,45)25,44 (26,57)
29,85 (14,67)21,55 (7,32)
30,30 (21,95)23,79 (20,40)
Ferro (mg/d) 6,99 (2,78) 7,59 (2,90) 7,29 (2,82)
Cálcio (mg/d) 194,58 (86,83) 215,56 (128,67) 204,98 (107,86)
Zinco (mg/d) 5,10 (3,89) 5,25 (3,19) 5,17 (3,59)
Vit. A (µgER) 347,74 (417,60) 498,98 (582,67) 413,43 (503,89)
NEE = Necessidade Energética Estimada, VET = Valor Energético Total, g totais = gramas totais.
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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A classifi cação qualitativa da ingestão de micronutrientes em relação às DRIs foi
descrita na tabela 4, esses valores representam as frequências absolutas e relativas de
crianças e adolescentes que apresentaram consumo de micronutrientes menor que a EAR,
entre a EAR e a RDA e acima da RDA. Para o cálcio, considerou-se apenas a classifi cação
segundo a AI. Em relação a este mineral todos os indivíduos estão abaixo da AI e para
os demais nutrientes a maioria destes encontra-se abaixo da EAR, com exceção para o
ferro, no qual a maioria das crianças (61,9%) está entre a EAR e a RDA, estando porém,
numa área de incerteza da avaliação.
Tabela 4 - Frequência absoluta e relativa de crianças (n=84) e adolescentes (n=61) escolares de acordo com a interpretação qualitativa de ingestão em relação à EAR. Pacatuba, SE
Nutrientes*< EAR EAR-RDA > RDA
n % n % n %
FerroCriança
Adolescente
16
25
19,05
40,99
52
14
61,90
22,95
16
22
19,05
36,06
ZincoCriança
Adolescente
48
47
57,14
77,05
16
3
19,05
4,9220
11
23,81
18,03
Vitamina ACriança
Adolescente
55
44
65,48
72,13
16
4
19,05
6,56
13
13
15,48
21,31
DISCUSSÃO
Quando analisada a situação econômica das famílias, verifi cou-se que 82% destas,
possuem renda inferior a um salário mínimo, vale destacar que 30,5% recebem menos
que cem reais por mês (Tabela 1). Esse dado é preocupante, visto que em estudo
realizado em escolas públicas de Salvador, adolescentes que proviam de famílias que
recebiam menos do que um salário mínimo tinham maior probabilidade de serem
anêmicos (BORGES et al., 2009).
Segundo Castro et al. (2004), em um estudo realizado em um assentamento rural
do Vale do Rio Doce (MG), foi observado que a escolaridade materna foi inferior a média
nacional, que é de 6,8 anos. Da mesma forma, no presente estudo, foi verifi cada uma
baixa escolaridade dos responsáveis das crianças e adolescentes investigados, o que pode
estar relacionada ao abandono precoce da escola, já que há uma necessidade de mão de
obra no trabalho rural, pois é deste que advém o sustento da família, além da falta de
incentivo do governo em tempos passados.
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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A baixa escolaridade materna pode representar implicações severas no estado
nutricional dos fi lhos. Em um estudo de revisão realizado por Wachs (2008), no qual relaciona
a educação materna com o consumo alimentar de crianças, observou-se que quanto maior
a escolaridade materna melhor a qualidade e a quantidade da dieta infantil. Já Guimarães,
Latorre e Barros (1999), em investigação sobre a situação nutricional de pré-escolares, em
Cosmópolis, São Paulo, verifi caram que crianças cujas mães possuíam apenas o primário
incompleto apresentaram mais chance (OR= 2,1; IC=95% = [1,1-3,8]) de ter desnutrição, em
relação àquelas cujas mães possuíam maiores níveis de escolaridade.
Em relação ao estado nutricional, pode-se observar elevada proporção de adolescentes
e crianças com défi cit estatural (10,3%) e ponderal (10,3%) (Tabela 2). A condição
socioeconômica dessas famílias pode responder a situação nutricional das crianças e dos
adolescentes. Segundo Monteiro et al. (2000), variações estaturais podem refl etir problemas
nutricionais associados às diferenças socioeconômicas entre grupos populacionais, sendo
comum a presença de défi cit estatural em adolescentes brasileiros de classes econômicas
menos favorecidas. Eisenstein (1999) considera que, no Brasil, o diagnóstico de desnutrição
é diferencial obrigatório para a avaliação de adolescentes com problemas de crescimento
e atraso puberal. Dessa forma, analisar o crescimento linear implica considerar, além dos
fatores hereditários, a história nutricional (desnutrição pregressa) e alimentar, doenças,
atividade física e estresse, principalmente quando essa infl uência é exercida nos períodos
de maior velocidade de crescimento (PRIORI, 1998; WATERLOW, 1976).
A comparação do estado nutricional entre os gêneros indicou que os meninos foram
mais comprometidos do que as meninas, especialmente em relação ao baixo peso. A inserção
destas crianças no trabalho rural é uma prática comum e os meninos normalmente são os
que mais exercem estas atividades enquanto que as meninas, envolvem-se mais com os
trabalhos manuais e artesanais. Desta forma, pode-se inferir que a maior demanda energética
das atividades realizadas pelos meninos esteja contribuindo para o não acompanhamento
do canal de crescimento.
Muitos são os estudos conduzidos com o objetivo de avaliar o estado nutricional de
crianças menores de 5 anos, visto que é o grupo de maior vulnerabilidade às defi ciências
nutricionais. No entanto, o mesmo não acontece com os escolares, tornando limitado o
número de estudos, principalmente, no Nordeste brasileiro. Considerados sobreviventes
daquela fase, sofrerão alterações no crescimento, tornando-se adultos com baixa estatura
(ANJOS, 1989; LAURENTINO; ARRUDA; ARRUDA, 2003) e, conforme afi rmam Corso, Buralli
e Souza (2001), a idade escolar é o estágio da vida em que melhor se avalia a desnutrição
pregressa, nos últimos 7 a 8 anos.
Estudo conduzido em São Luís (MA) com 1.130 crianças e adolescentes entre 6 e
16 anos mostrou que a prevalência de desnutrição atual resultou em 14,8%, e o défi cit
estatural de 4,2%, atingindo mais os estudantes da rede pública de ensino (CONCEIÇÃO,
2006). Resultados semelhantes foram observados em outros estudos, como o realizado
por Burlandyr e Anjos (2007), no qual 1.177 crianças na faixa etária de 7 a 10 anos
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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foram avaliadas no Nordeste e Sudeste do Brasil e observou-se que 13,2% apresentaram
desnutrição pregressa, sendo a maior prevalência no Nordeste Rural (21,9%), e a menor
no Sudeste Rural (8,4%). Outro estudo feito em um assentamento do Rio de Janeiro
com 273 crianças e adolescentes entre 0 e 17,9 anos, mostrou que oito crianças (4,0%)
apresentaram inadequação estatural, sendo que sete eram adolescentes, correspondendo
a 6,7% do total de adolescentes (VEIGA; BURLANDYR, 2001).
Para todas as crianças e adolescentes, o consumo de energia e de nutrientes
foi insuficiente em atingir as necessidades energéticas e recomendações diárias,
respectivamente (Tabela 3). No Brasil, principalmente na Região Nordeste, o défi cit
energético sempre se revelou como um importante marcador dos problemas nutricionais
da população (ROMANI; AMIGO, 1986). A avaliação do consumo energético em relação
às necessidades estimadas pelas equações propostas pelas DRI mostrou que a maioria
das crianças (76,2%) e dos adolescentes (80,3%) encontra-se abaixo do recomendado
para a sua faixa etária (Tabela 3); o que implica em um défi cit energético na maior parte
dos indivíduos estudados, sendo mais um fato que confi rma o comprometimento do
desenvolvimento estatural dos mesmos. Resultado semelhante pode ser encontrado no
estudo de Castro et al. (2005), no qual ao avaliar pré-escolares de Viçosa (MG) encontrou
que 75,7% apresentaram défi cit energético.
Sabe-se que, durante a puberdade, ocorrem os processos de crescimento e maturação
sexual. Para que estes ocorram de maneira ideal é importante que os fatores ambientais
sejam favoráveis, e a nutrição destaca-se nesse processo. Cerca de 50% do peso e 20-25%
da estatura de um indivíduo são adquiridos na adolescência, e o papel da nutrição em
nível populacional serve como determinante altamente signifi cativo da variabilidade
desse processo. A secreção dos hormônios gonadais pode ser inibida por quantidades
insufi cientes de nutrientes, retardando o início do desenvolvimento da puberdade, o que
pode comprometer o ganho estatural (SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA, 2000).
Quando avaliados os micronutrientes (Tabela 4) houve uma grande probabilidade de
inadequação de consumo para ferro, zinco, vitamina A e cálcio entre as crianças e adolescentes
(Tabela 4), visto que poucos foram os indivíduos que apresentaram ingestão satisfatória
destes nutrientes (> RDA ou AI). A ingestão diminuída de cálcio torna-se preocupante,
considerando a sua importância na adolescência. A menor ingestão desse mineral pelos
adolescentes pré-púberes merece ainda maior destaque, tendo em vista a maior necessidade
de cálcio nessa fase, para garantir o crescimento adequado. Segundo Jackman et al. (1997),
a reduzida ingestão desse mineral nesta fase resulta em menor mineralização óssea, quando
comparada a indivíduos da mesma faixa etária que tiveram ingestão adequada de cálcio.
Observa-se, com base na tabela 4, que cerca de 69% das crianças e adolescentes
apresentaram consumo de vitamina A insufi ciente (< EAR), sendo a maior prevalência de
inadequação entre adolescentes (72,1%). As necessidades vitamínicas estão aumentadas em
período de anabolismo intenso. A vitamina A é um nutriente essencial ao funcionamento
normal do sistema visual, sistema imunológico, crescimento e desenvolvimento, proliferação
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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e divisão celular, e na reprodução. Sua defi ciência pode desencadear cegueira noturna,
perda da visão, alterações dermatológicas e menor resistência a infecções (BRASIL, 2007;
MOREIRA, 2007).
Em estudo desenvolvido por Santos et al. (2005), com 241 crianças de 6 a 14
anos, matriculadas em escolas rurais do município de Novo Cruzeiro, em Minas Gerais,
verifi cou-se que 63,1% dos estudantes investigados apresentaram consumo de vitamina
A abaixo das recomendações preconizadas. Assim também, o estudo realizado no
assentamento rural do município de Promissão no Estado de São Paulo, com 95 alunos entre
6 e 13 anos, mostrou resultado semelhante no qual o consumo de vitamina A encontrava-
se abaixo da adequação (entre a EAR e RDA) para todas as faixas etárias (SILVA, 2006).
Resultados semelhantes foram obtidos em estudo realizado com adolescentes matriculados
na rede pública de ensino de Guarapuava (PR), no qual houve um consumo abaixo da
porcentagem de adequação entre ambos os sexos, sendo a maior parte do sexo masculino
(52,93%) (RUVIARO; NOVELLO; QUINTILIANO, 2008).
É preocupante a situação encontrada nas crianças e adolescentes de Pacatuba, haja
vista a hipovitaminose A ser considerada como um problema de saúde pública no Brasil,
sobretudo na região Nordeste. Por ser uma vitamina de depósito, as manifestações clínicas
da doença expressam a privação alimentar ostensiva. O consumo insufi ciente, junto ao
grupo em estudo, pode refl etir, provavelmente, o baixo consumo de alimentos fonte da
vitamina, como o fígado e ovo, além das frutas e hortaliças regionais como abóbora, manga,
caju amarelo e vermelho e goiaba.
Os resultados da tabela 4 apontam que 30% das crianças e adolescentes apresentaram
consumo alimentar de ferro insufi ciente (<EAR). Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL,
2007) essa carência, que desencadeia a anemia, é atualmente um dos mais graves problemas
nutricionais mundiais em termos de prevalência, sendo determinada, quase sempre, pela
ingestão defi ciente de alimentos ricos em ferro que são muitas vezes substituídos por
carboidrato e gordura. Para crianças e adolescentes, a carência no consumo de ferro pode
representar também sérias complicações para estes indivíduos em consequência da maior
velocidade de crescimento e da menstruação nesta fase (GAMBARDELLA; FRUTUOSO;
FRANCHI, 1999).
Alguns estudos conduzidos entre crianças e adolescentes apontam resultados
satisfatórios na ingestão deste nutriente (ALBANO; SOUZA, 2001; ALBUQUERQUE;
MONTEIRO, 2002 ), no entanto, é evidente em outros estudos que existe uma associação
entre a maior prevalência de baixo consumo de ferro com as classes sociais mais
desfavorecidas (GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003). Segundo Borges et
al. (2009), em estudo realizado em escolas públicas de Salvador (BA), a maioria dos
adolescentes (54,31%) possuía consumo inadequado de ferro. Dados semelhantes foram
encontrados em estudo realizado no Centro de Juventude da cidade de São Paulo, com
153 adolescentes, no qual 59,8% dos homens e 83,6% das mulheres estavam com o
consumo de ferro inadequado (GARCIA; GAMBARDELLA; FRUTUOSO, 2003).
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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A provável hipótese para a elevada prevalência da baixa ingestão de ferro pelas
crianças e adolescentes da zona rural deve-se ao baixo poder aquisitivo para a compra
de alimentos proteicos de origem animal (carnes, vísceras). Estes possuem concentrações
maiores de ferro e custo mais elevado que os demais produtos alimentícios básicos. O
consumo insufi ciente de hortaliças fontes de ferro e de feijão também pode contribuir para
esta condição nutricional. Na população do presente estudo, a fonte proteica principal era
o feijão, presente quase que diariamente no almoço. Como fonte de origem animal apenas
o peixe adquirido da própria pesca no Rio Poxim, que atravessa o Assentamento Santana
dos Frades, sendo a oferta da carne vermelha observada principalmente na alimentação
escolar, referentes aos dias da avaliação dietética.
No que diz respeito ao zinco, mineral que está envolvido em etapas metabólicas
relevantes para o bom funcionamento do sistema imune e para o crescimento (DOMENE;
PEREIRA; ARRIVILLAGA, 2008), observou-se que 57,14% e 77,05%, respectivamente, das
crianças e adolescentes estudados apresentavam consumo inadequado (<EAR) deste
micronutriente. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo de Urbano (2002), que
avaliou a adequação do zinco durante o estirão do crescimento. A avaliação dietética em uma
amostra de 47 adolescentes atendidos em ambulatório de adolescência clínica mostrou que a
maioria apresentou ingestão inadequada sendo justifi cado pelo autor pela composição da dieta
brasileira, que é à base de arroz com feijão, portanto pobre em proteína de origem animal. Essa
justifi cativa também pode ser vista nesse estudo, já que quando analisado qualitativamente a
dieta das crianças e adolescentes percebeu-se que somente 27,12% consumiam carnes, uma
das principais fontes deste micronutriente, não sendo relatado consumo de outras fontes.
Por meio da análise qualitativa dos recordatórios de 24h, os alimentos mais
consumidos pelas crianças e adolescentes foram particularmente o feijão, arroz, pão e
açúcar. Já as hortaliças e as carnes bovinas tiveram um consumo representativo apenas
quando fornecidos pela alimentação escolar. As frutas e o leite tiveram baixo consumo por
essa população, observando um maior consumo de sucos industrializados ou em pó, em
detrimento dos sucos naturais. Segundo Fisberg et al. (2004), tal comportamento refl ete uma
“dieta ocidental”, na qual há um baixo consumo de frutas e hortaliças e um alto consumo
de açúcares e produtos industrializados.
Um aspecto importante identifi cado na subsistência desta população foi a existência
de um sistema de troca direta de coco por certos gêneros alimentícios. Tal alimento tem uma
ampla distribuição pelos povoados. No momento da estruturação do assentamento Santana
dos Frades, antiga fazenda de produção de coco para industrialização, o INCRA destinou
a cada família de agricultores assentados o número de 80 plantas para gerenciamento da
produção, assim como para comercialização dos frutos. Os principais alimentos utilizados
na troca pelo coco foram o pão, a mortadela e o geladinho (picolé), os quais apresentaram
uma frequência relativamente constante na alimentação. A população estudada tem um
consumo alimentar baseado na sazonalidade da produção local ou nos alimentos obtidos
a partir da troca de alimentos como o coco, o que caracteriza uma baixa variabilidade
nos alimentos consumidos, caracterizando uma monotonia alimentar.
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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O presente estudo também avaliou a participação da alimentação escolar na
alimentação das crianças e adolescentes e confi rmou sua importância na oferta de nutrientes
diários. Verifi cou-se que a alimentação escolar contribuiu com 17,1% do valor energético
total (VET) diário e 16,5%, 36,9%, 16% da ingestão de carboidrato, lipídios e proteína
respectivamente. Em relação aos micronutrientes, 54,6% de vitamina A, 22,3% de ferro,
22,3% de zinco, e 11,4% de cálcio também eram fornecidos pela mesma.
Assim, a alimentação escolar é representativa na quantidade de energia e
micronutrientes consumidas por estas crianças e adolescentes, contribuindo para que estes
percentuais não sejam ainda mais baixos do que os encontrados. Além disso, a alimentação
escolar desempenha um papel essencial principalmente em comunidades carentes, nas
quais muitas vezes se torna a única ou a principal refeição realizada pelo estudante.
O programa de biofortifi cação de alimentos no Brasil vem sendo desenvolvido com
o objetivo de melhorar geneticamente alimentos tipicamente regionais como a macaxeira,
a batata-doce e a abóbora com maior conteúdo de carotenoides e, ainda, o feijão, arroz,
com maiores conteúdos de ferro e zinco. O melhoramento destes produtos tem como
meta aumentar em pelo menos 50% do conteúdo original que, dentro de uma perspectiva
alimentar, representaria mais uma estratégia a se somar nas intervenções em andamento,
proporcionando uma maneira sustentável e de baixo custo para alcançar as populações
carentes e incentivar a agricultura familiar e a oferta de produtos biofortifi cados para
alimentação escolar.
CONCLUSÕES
Verifi cou-se que as famílias dos assentamentos rurais estudados estão em situação
de vulnerabilidade socioeconômica e que as crianças e adolescentes destas famílias
apresentam défi cit antropométrico e dietético. Destaca-se a inadequação na ingestão dos
micronutrientes como ferro, zinco e vitamina A.
Diante disto, constata-se a importância da realização de ações destinadas a esse
grupo para que este tenha oportunidade de expressar todo seu potencial de crescimento.
A introdução dos produtos biofortifi cados na alimentação escolar, além de auxiliar na
melhora do estado nutricional das crianças pela oferta de alimentos como maior teor de
vitamina A, ferro e zinco, irá estimular também a agricultura familiar, sendo um meio viável
de geração de renda.
REFERÊNCIAS/REFERENCES
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66
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Recebido para publicação em 24/02/10.Aprovado em 25/02/11.
VIEIRA, D. A. S.; COSTA, D.; COSTA, J. O.; CURADO, F. F.; MENDES-NETTO, R. S. Características socioeconômicas e estado nutricional de crianças e adolescentes de assentamentos rurais de Pacatuba, Sergipe. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 49-69, abr. 2011.
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Artigo original/Original Article
Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São PauloQuality of food preparation in restaurants in the district of Cerqueira César, São Paulo
LÍVIA DA CRUZ ESPERANÇA1; DIRCE
MARIA LOBO MARCHIONI11Faculdade de Saúde
Pública – Universidade de São Paulo
Endereço para correspondência:
Dirce Maria Lobo MarchioniDepartamento de Nutrição
- FSP/USPAvenida Dr. Arnaldo, 715
Cerqueira CésarSão Paulo/SP
E-mail: [email protected]ção:
trata-se de trabalho de Iniciação Científi ca,
realizado com Bolsa do Programa “Ensinar com
Pesquisa”, da Pró-Reitoria de Graduação
da Universidade de São Paulo. Recebeu o
“3º Prêmio de Incentivo à Pesquisa” categoria
Iniciação Científi ca, da Faculdade de Saúde
Pública, da Universidade de São Paulo, em 2007.
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Quality of food preparation in restaurants in the district of Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
The intense urbanization and industrialization started in the second half of the twentieth century has stimulated growth and development of the market segment that provides meals outside home. To evaluate the management of quality for the production of commercial meals in restaurants, 22 commercial restaurants were analyzed in the region of Cerqueira Cesar, Sao Paulo. A check list based on the existing health legislation was used for scoring the following items: the sanitary-hygiene conditions, processes and products, pest control, good manufacturing practices and management. The restaurants were ranked according to the scores obtained: excellent (91-100), good (81-90), regular (61-80); poor (up to 60). To investigate the relationship between variables, tests of correlation were made (Pearson and Spearman). The restaurants were categorized according to the distribution of prices into tertiles, number of employees and number of meals served. For the verifi cation of differences regarding the fi nal score in these categories, the test of the Kruskal-Wallis was used. The validity of internal constructs (items), verifi ed by Cronbach’s alpha statistic, was 0.73. No restaurant was rated as good or excellent, 91% were classifi ed as poor and 9% as regular. The average score achieved was 41, which corresponds to the poor rating. The item which had the worst scores was “Good Manufacturing Practices”, 9.2%, while the “Pest Control” was best scored, 71%. The results demonstrate the poor quality of services offered by the restaurants evaluated, and suggest the need for interventions to improve the sanitary-hygiene quality in the production of meals.
Keywords: Quality Control. Sanitary Profi les. Restaurants.
ABSTRACT
72
RESUMORESUMEN
La intensa urbanización y el creciente desenvolvimiento industrial que acontecieron en la segunda mitad del siglo XX provocó aumento del número de personas que hacen sus comidas fuera del hogar con el consiguiente crecimiento el mercado de oferta. Para evaluar la gestión de calidad en la producción comercial de comidas, 22 restaurantes fueron analizados en la región de Cerqueira César, Sao Paulo, Brasil. Fue utilizada la guía basada en la legislación sanitaria vigente, con destaque para los siguientes temas: instalaciones sanitarias, condiciones de higiene, procesos y productos, control de plagas, buenas prácticas de fabricación y gestión. Los restaurantes fueron clasifi cados en función de los resultados obtenidos: excelente (91-100), bueno (81-90), regular (61-80); malo (hasta 60). Para investigar la relación entre las variables, se realizaron pruebas de correlación (Pearson y Spearman). Los restaurantes fueron clasifi cados conforme los terciles de distribución de precios, número de empleados y número de comidas servidas. Para verifi car las diferencias en la puntuación fi nal fue utilizada la prueba de Kruskal-Wallis. La fi delidad de los atributos, verificada por medio del alfa de Cronbach, fue 0,73. Ningún restaurante fue clasifi cado como bueno o excelente, 91% eran malos y 9% regulares. La puntuación media obtenida fue 41, que corresponde a clasifi cación defi ciente. El atributo con peor puntuación fue el de “Buenas Prácticas de Manufactura”, 9,2%, mientras que “Control de Plagas” fue el que mostró mejor resultado, 71%. Los resultados permiten evidenciar la baja calidad de los servicios ofrecidos por los restaurantes evaluados, sugiriendo la necesidad de intervenciones para mejorar la gestión y de esta forma, la calidad de los alimentos vendidos.
Palabras clave: Control de calidad. Perfi le sanitario. Restaurantes.
A intensa urbanização e industrialização ocorridas a partir da segunda metade do século XX estimularam o crescimento e desenvolvimento do segmento do mercado que oferece refeições fora do lar. Com o objetivo de avaliar as condições do processo de produção de refeições em restaurantes comerciais, situados na região de Cerqueira César, de acordo com a legislação sanitária vigente no país, foram analisados 22 restaurantes. Utilizou-se roteiro baseado na legislação sanitária vigente, pontuando-se os seguintes itens: condições higiênico-sanitárias, processos e produtos, controle de pragas, boas práticas de fabricação e gestão. Os restaurantes foram classificados segundo a pontuação obtida: excelente (91-100); bom (81-90); regular (61-80); defi ciente (até 60). Para verifi car a relação entre as variáveis, foram feitos testes de correlação (Pearson ou Spearman). Os restaurantes foram categorizados segundo tercis da distribuição dos preços praticados, número de funcionários e número de refeições servidas. Para a verifi cação das diferenças quanto à pontuação fi nal nestas categorias, utilizou-se a prova de Kruskal-Wallis. A consistência interna dos constructos (itens), verifi cada pelo α de Cronbach, foi de 0,73. Nenhum restaurante foi classifi cado como bom ou excelente, 91% foram classifi cados como defi ciente e 9% como regular. A pontuação média obtida foi 41, que corresponde à classifi cação defi ciente. O item que apresentou pior pontuação foi “Boas Práticas de Fabricação”, 9,2%; enquanto o “Controle de Pragas” foi o que obteve melhor pontuação, 71%. Os resultados encontrados demonstram a qualidade defi ciente dos serviços oferecidos pelos restaurantes avaliados, e sugerem a necessidade de intervenções para que se melhore a qualidade higiênico-sanitária da produção das refeições vendidas.
Palavras-chave: Controle de qualidade. Perfi s sanitários. Restaurantes.
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
A alimentação do indivíduo e da população sofreu intensas modifi cações a partir
da segunda metade do século XX, em virtude de fatores como a intensa urbanização,
o acelerado desenvolvimento tecnológico, a globalização da economia, a inserção da
mulher no mercado de trabalho e a distância entre o domicílio e o local de trabalho. Nesse
contexto, exacerbou-se a necessidade de refeições práticas, de baixo custo e de fácil
aquisição, criando uma demanda por locais que ofereçam este tipo de serviço (AKUTSU
et al., 2005; DE DEUS et al., 2005; LIMA; OLIVEIRA, 2005). No segmento de refeições fora
do lar, destacam-se os restaurantes de autosserviço, que podem ser bufê ou por peso,
e a opção à la carte. Em 2009, este mercado serviu cerca de 8,5 milhões de refeições
por dia, com um faturamento de 9,8 bilhões de reais (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS
EMPRESAS DE REFEIÇÕES COLETIVAS, [2010]). Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (2007) – há cerca de 800 mil restaurantes por peso no Brasil,
sendo pelo menos 2,5 mil restaurantes somente na capital paulistana. Entretanto, este
tipo de serviço está relacionado à ocorrência de enfermidades relacionadas à alimentação
(MORAES et al., 2005). Segundo Benevides e Lovatti (2004), mais de 50% dos surtos
de toxinfecções alimentares de origem bacteriana, no Brasil, são de responsabilidade
de restaurantes, que possuem ambiente, manipuladores, equipamentos e utensílios
inadequados.
Os principais fatores relacionados à ocorrência de surtos e doenças de
origem alimentar estão relacionados às falhas múltiplas e peculiares no controle
de qualidade na produção da refeição, desde o recebimento, processamento,
armazenamento, distribuição e consumo. Pode-se incluir nas falhas de processos e
produtos, entre outros, o uso incorreto do binômio tempo-temperatura, refrigeração
inadequada, uso de produtos clandestinos, grande intervalo entre o preparo e o consumo,
além de más condições de armazenamento e de conservação dos alimentos. Já nas
falhas de higiene, podem-se incluir as más condições de higiene na manipulação dos
alimentos, manipuladores infectados ou contaminados, alimentos contaminados, utilização
de sobras, falta de adequação e conservação da estrutura física dos estabelecimentos,
que contribuem para a ocorrência de contaminação cruzada (NOLLA; GENY, 2005; SILVA
FILHO, 1996).
Para minimizar tais problemas, órgãos governamentais como o Ministério da Saúde e
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), no uso de suas atribuições, conferem
normas e procedimentos técnicos que devem ser seguidos rigorosamente, para a garantia
da higiene e segurança de todo o processo de produção de alimentos. No entanto, ainda
é escassa a literatura sobre a adequação dos restaurantes comerciais à legislação sanitária.
Assim, este trabalho tem como objetivo avaliar as condições do processo de produção de
refeições em restaurantes comerciais, situados na região de Cerqueira César, de acordo
com a legislação sanitária vigente no país.
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
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METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo transversal. Foram analisados 22 restaurantes (18 de
autosserviço por peso e 4 à la carte), localizados em Cerqueira César, no Município de São
Paulo. Neste bairro, a atividade econômica é caracterizada pela prestação de serviços e é
grande a utilização diária dos restaurantes. O critério de seleção dos restaurantes foi não
possuir como responsável técnico o nutricionista, biomédico ou veterinário. A coleta dos
dados foi feita em 2007 por acadêmicos do curso de Nutrição de uma universidade pública,
devidamente treinados, a fi m de padronizar e garantir a qualidade dos dados. Foi aplicado
um roteiro padronizado, adaptado do proposto pela Associação Brasileira das Empresas de
Refeições Coletivas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE REFEIÇÕES COLETIVAS,
2003), tendo por base a legislação da área, especialmente a Portaria nº 1428/1993 (BRASIL,
1993), e a Resolução RDC nº 216/2004 (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA,
2004). Nas visitas, previamente agendadas, a avaliação das condições foi observacional e
as informações necessárias ao preenchimento do roteiro foram prestadas pelo gerente ou
responsável técnico. O roteiro avaliou os seguintes itens: Higiene (dos manipuladores,
das instalações, da água utilizada, dos utensílios e equipamentos, das sobras e coleta de
amostras); Processos e Produtos (recebimento de matéria-prima, armazenamento de matéria-
prima e de pós-manipulados, higienização e distribuição e botijões de gás); Controle de
Pragas (controle); Boas Práticas de Produção (boas práticas) e Gestão (gestão operacional
e recursos humanos), cada subitem teve quatro opções de resposta: “conforme” – quando
o restaurante apresentou conformidade ao item observado, “não conforme” – quando não
atendeu ao item observado, “não aplicável” – quando o item observado não se aplicava
à realidade do restaurante, “não verifi cável” – quando não foi possível verifi car se o item
estava em conformidade. Para a pontuação fi nal de cada item, foram consideradas as
respostas “conformes” e “não conformes”, enquanto as respostas “não aplicadas” e “não
verifi cadas” fora desconsideradas. Para o cálculo da pontuação de cada item, de acordo
com seu número de questões, atribuíram-se um peso e uma constante, conforme quadro 1.
Bloco Constante (nº de questões) Peso
Higiene B1 58 25
Processos e produtos B2 23 30
Controle de pragas B3 5 10
Gestão B4 11 10
Boas Práticas de Fabricação B5 7 25
Quadro 1 – Peso de cada bloco e constante.
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
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A Pontuação de cada bloco foi calculada de acordo com a equação:
PB = TS X P
TQ – (TNA + TNV)
Onde: PB – Pontuação do Bloco; TS – soma das respostas “sim” obtidas;
TQ – Total de questões; TNA – Total de respostas “não aplicável”;
TNV – Total de respostas “não verifi cável”; P – Peso de cada bloco.
A pontuação máxima em cada bloco foi, respectivamente, 25, 30, 10, 25 e 10. Para o
cálculo da pontuação total, foi feita a soma da pontuação dos cinco itens, com pontuação
máxima de 100. A seguir, os restaurantes foram classifi cados em: excelente (91-100); bom
(81-90); regular (61-80); defi ciente (até 60). Os dados foram tabulados no programa Epi data
e as análises estatísticas foram feitas no programa Stata, os dados foram descritos em medidas
de tendência central e dispersão. Para verifi car a relação entre as variáveis, foi feito teste
de correlação de Pearson, para as variáveis com distribuição normal, e teste de Spearman,
para Boas Práticas de Produção, única variável que não apresentou distribuição normal.
O nível de signifi cância considerado foi de 5%. Os restaurantes foram ainda categorizados
segundo tercis da distribuição dos preços praticados, número de funcionários e número
de refeições servidas. Para a verifi cação das diferenças quanto à pontuação fi nal nestas
categorias, utilizou-se a prova de Kruskal-Wallis.
A consistência interna dos constructos (itens) foi verifi cada pelo α de Cronbach,
medida que permite quantifi car o nível de confi abilidade de uma escala criada a partir
de uma dimensão não observável, construída a partir de n variáveis observadas, como
é o caso do roteiro elaborado para este estudo. Valores superiores a 0,70 denotam boa
confi abilidade do instrumento.
RESULTADOS
A descrição dos restaurantes, segundo categorização em tercis, pode ser verifi cada
na tabela 1. Aproximadamente, 75% dos estabelecimentos serviam até 300 refeições; 77%
possuíam de 11 a 32 funcionários. O preço por quilo da refeição, na ocasião da pesquisa
situou-se entre R$14,00 a R$20,00. A maioria dos restaurantes analisados (82%) servia a
refeição na modalidade por peso.
Dos 22 restaurantes analisados, nenhum restaurante foi classifi cado como excelente
ou bom. Em contrapartida, 20 restaurantes foram classifi cados como defi cientes, o que
corresponde a 91% da amostra analisada, e 2 foram classifi cados como regulares (9%).
A pontuação média de cada um dos itens e do total pode ser observada na tabela 2.
A pontuação total média encontrada foi de 41 (dp=14,3), correspondente à classifi cação
defi ciente. O percentual de adequação variou de 9,2, no item “boas práticas”, a 70,9, no
item “controle de pragas”. A mediana da pontuação no item “boas práticas” foi zero.
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
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Tabela 1 – Categorização das variáveis, segundo seus tercis. São Paulo, 2008
Variável Frequência (%)
Número de refeições
até 200
de 201 a 300
de 301 a 600
9
7
6
41
32
27
Número de funcionários
<10
11 a 13
14 a 32
5
11
6
23
50
27
Preço por quilo da refeição*
R$14,00 a R$17,99
R$18,00 a R$20,00
acima de R$20,00
7
7
4
39
39
22
Tipo de serviço
à la carte
Por peso
4
18
18
82
Total 22 100
*18 restaurantes neste sistema de serviço.
Tabela 2 – Pontuação média dos itens que compõe o Índice e do Total dos restaurantes avaliados. São Paulo 2008
Item Média dp MedianaIntervalo
Interquartil% de
Adequação
Higiene 13,1 3,8 13,0 11,1 - 14,7 52,4
Processos e Produtos 14,1 5,5 13,9 11,5 - 15,7 46,9
Controle de Pragas 7,1 2,6 8,0 6,0 - 8,0 70,9
Boas Práticas 2,3 5,3 0,0 0,0 - 0,0 9,2
Gestão 4,7 2,6 5,0 2,7 - 6,0 46,9
Total 41,3 14,3 38,2 32,0 - 53,5 41,3
Ao analisar a correlação do item Gestão com a pontuação total e os demais itens,
encontrou-se uma correlação positiva, porém não signifi cativa estatisticamente, conforme
apresentado na tabela 3.
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
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Tabela 3 – Correlação entre o item Gestão e os demais componentes do roteiro padronizado. São Paulo, 2008
Variável r1 p
Higiene 0,18 0,43
Processos e Produtos 0,30 0,18
Controle de Pragas 0,12 0,61
Boas Práticas 0,45 0,21
1 Coefi ciente de correlação de Pearson, com exceção da variável Boas Práticas que se utilizou Coefi ciente de Correlação de Spearman.
A pontuação total não diferiu nas categorias de preço, número de funcionários e
número de refeições servidas quando estas foram divididas em tercis.
Na análise de confi abilidade da escala, foi obtido um α de Cronbach de 0,73.
DISCUSSÃO
Neste trabalho, que objetivou avaliar as condições higiênico-sanitárias em restaurantes
comerciais em região central do Município de São Paulo, correspondendo a uma área com
intensa atividade comercial, verifi cou-se que 90% dos estabelecimentos foram classifi cados
como defi cientes.
A média encontrada, 41 pontos, demonstra a defi ciente qualidade higiênico-
sanitária dos restaurantes avaliados. Estudo feito por Cardoso et al. (2005) sobre as
condições higiênico-sanitárias de panifi cadoras, relataram pontuação média igual a 68, que
correspondeu à classifi cação regular, superior ao presente estudo. No entanto, ambas as
investigações retratam situação inadequada às exigências da legislação.
Resultados semelhantes aos do presente estudo foram encontrados por Yamamoto
et al. (2004) ao caracterizar as condições higiênico-sanitárias dos restaurantes tipo fast
food de dois shopping centers em diferentes regiões do município de São Paulo, pois os
restaurantes localizados na periferia apresentaram-se classifi cados, em sua maioria como
“defi ciente” e “regular”. Da mesma forma, Franco e Ueno (2010), avaliaram 119 pontos
de venda de comida de rua em Taubaté, relatando que tanto as condições ambientais e
edifi cações quanto as condições higiênico-sanitárias de utensílios e equipamentos eram
insatisfatórias. Também em Taubaté, Torres e Ueno (2010), em estudo observacional
realizado em restaurantes self-service, verifi caram que, no bloco sobre as condições de
manipulação e manipuladores de alimentos, foram considerados satisfatórios apenas 33%
dos estabelecimentos. Situação semelhante foi observada por Carrijo et al. (2010) em um
restaurante universitário do Rio de Janeiro. Ferraz (2010), analisando buffets na região
do ABC paulista relatou que 85% foram classifi cados como parcialmente satisfatórios ou
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insatisfatórios. Este quadro pode ajudar a justifi car o número de surtos que ocorrem no Brasil,
uma vez que mostra os problemas identifi cados nos diversos segmentos de estabelecimentos
produtores de alimentos. De acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) (BRASIL, 2010), de 1999 até 2009 foram notifi cados 6.349 surtos de DTAs, com
123.917 doentes e 70 óbitos. Esses dados refl etem a importância de melhorar a qualidade
dos restaurantes, pois os mesmos podem apresentar um risco potencial à saúde pública.
O item que apresentou a pior pontuação foi o de Boas Práticas (9,2%). O Manual
de Boas Práticas de Produção contém processos que servem para garantir a qualidade e a
identidade dos alimentos e dos serviços, além da saúde do consumidor (ABREU; SPINELLI;
PINTO, 2009), e, entretanto, 85% dos restaurantes avaliados não o possuíam. Barreto e
Sturion, 2010, ao traçar o perfi l epidemiológico dos surtos de toxinfecções em Limeira, São
Paulo, verifi caram que os surtos ocorreram em locais nos quais a média percentual de itens
não conformes às boas Práticas de Higiene variou de 30,4 a 76,9. Ferraz, 2010, em estudo
citado anteriormente, verifi cou no item fl uxo de produção, que compreendia basicamente
a presença e implantação de Boas Práticas, 47% dos estabelecimentos classifi cados como
defi cientes. Cavalli e Salay (2004) ao avaliarem a segurança do alimento e recursos humanos
em restaurantes comerciais, obtiveram que 33% dos restaurantes de autosserviço analisados
desconheciam as Boas Práticas de Fabricação e Produção. Akutsu et al. (2005) concluíram,
ao avaliarem a adequação às boas práticas de fabricação em serviços de alimentação, que
a presença do nutricionista foi essencial para adequação dos itens imprescindíveis da
verifi cação proposta, a fi m de garantir a qualidade das refeições servidas.
O item que obteve maior adequação foi “Controle de Pragas” com 71%, o controle
adequado desse item tem como fi nalidade garantir a ausência de insetos, roedores ou
qualquer tipo de animais. Os dados de Rossi (2006), que avaliou as condições higiênico-
sanitárias de restaurantes do tipo self-service de Belo Horizonte, MG estão de acordo
com os encontrados nessa pesquisa, pois o item controle de pragas apresentou 90% de
efi ciência na adequação.
Os blocos que apresentaram percentuais médios de adequação foram “Processos e
Produtos”, 47%; “Gestão”, 47% e “Higiene”, 52%. Os resultados para os itens “Processos
e Produtos” e “Higiene” guardam relação com os obtidos por Bricio, Leite e Viana (2005)
que encontraram, ao analisar salpicão de frango e salada de maionese com ovos, 73,3%
das amostras fora do padrão para Estafi lococos e 80% fora do padrão para coliformes,
além de 20% contaminados por salmonela. De Deus et al. (2005) também encontraram
qualidade insatisfatória ao avaliar preparações alimentícias à base de carne em restaurantes
de autosserviço em Natal (RN). Os maus hábitos de higiene dos manipuladores foram a
maior causa de contaminação das carnes e é o segundo maior motivo de DTA notifi cadas
no Rio Grande do Sul, o que reafi rma a necessidade da capacitação dos manipuladores
(BARROS et al., 2007; SILVA JR, 2007).
O treinamento de pessoas sobre procedimentos de higiene e conservação dos
alimentos, tendo em vista as características semiartesanais da produção de refeições em
restaurantes, é fundamental para prevenção da ocorrência de surtos de toxinfecções
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
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alimentares. Pansa et al. (2006) verifi caram um aumento de 13% dos itens em conformidade
com a legislação, após treinamento em restaurante comercial. Southier e Novello (2008)
verifi caram expressiva melhora na higiene e manipulação de higiene em um serviço de
alimentação, após o treinamento. A implantação de um sistema de controle higiênico-
sanitário também pode ser um diferencial para a prevenção das doenças transmitidas por
alimentos. Kraemer, Brandão e Silva (2010) observaram melhoras progressivas nas avaliações
semestrais, ao analisarem os resultados de três anos de programa com estas características,
implantado em cantinas de uma universidade pública.
O bloco sobre gestão diz respeito à gestão operacional e de recursos humanos. No
primeiro, é investigado a existência de fi chas técnicas ou receituário padrão; a política
de compras e de acompanhamento de custos e existência de metodologia para aferir
a satisfação do cliente. O segundo engloba itens como política de gestão de pessoas
e existência de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (NR-9). A gestão de um
restaurante comercial, incluindo a gestão de pessoas e gestão dos processos produtivos de
forma a garantir a sanidade da refeição e preservação da saúde e satisfação dos clientes, é
um aspecto fundamental para o sucesso do negócio, podendo ser determinante para sua
sobrevivência em longo prazo.
No entanto, poucos estudos têm considerado outras dimensões da gestão, além da
conformidade dos processos higiênico-sanitários com a legislação. Trabalhos recentes
apresentando propostas de check-list, focam na verifi cação e classifi cação higiênico-
sanitária de restaurantes (AVEGLIANO et al., 2010), não apresentando bloco específi co para
avaliar as dimensões de gestão de pessoas e sustentabilidade. No entanto, como pontuam
Kraemer e Aguiar (2009), o momento atual exige dos trabalhadores de alimentação coletiva,
não somente preparar refeições, mas monitorar a segurança alimentar, habilitar-se em
novas tecnologias, operar novos equipamentos, desenvolver seu potencial cognitivo para
preencher as condições necessárias ao desempenho de suas funções e suas interações sociais
entre sujeitos de diferentes mundos, culturas e práticas alimentares e sociais. Portanto, é
exigido um novo tipo de trabalhador, capaz de compreender e participar de um ambiente
no qual as decisões são mais complexas e as interações sociais mais numerosas, o que
ressalta a importância das empresas buscarem conhecer as competências que devam ser
desenvolvidas.
Dessa forma, o gerenciamento de pessoas deve se basear na formação profi ssional
segundo o conceito de desenvolvimento sistemático de habilidades, reunidas sob o nome
de competências, e não somente no treinamento para operação (KRAEMER; AGUIAR, 2009).
Cavalli e Salay (2007), também concluem, em trabalho desenvolvido em Campinas, SP e
Porto Alegre, RS, que é necessário qualifi car a gestão de pessoas no segmento de restaurantes
comerciais, de modo a favorecer as condições de segurança alimentar para a população
consumidora. A sustentabilidade, por sua vez, refere-se aos esforços e movimento em prol
de ações voltadas para o meio ambiente e para a qualidade de vida (LIMA, 2003; MONTEIRO;
BRUNA, 2004). A preocupação com as questões ambientais, como adequação da cozinha ao
uso racional da água, aproveitamento energético e destino apropriado para o lixo, devem
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
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se traduzir em ações programáticas e contínuas. No presente estudo, os aspectos de gestão
correlacionaram-se positivamente com os demais itens analisados, o que pode apontar que
maiores investimentos nos processos de gestão resultem em melhoria do desempenho dos
demais aspectos, fundamentais para garantia da qualidade sanitária dos produtos.
As condições higiênico-sanitárias dos restaurantes analisados no presente estudo não
diferiram de acordo com características de atendimento, resultado similar ao de Torres e
Ueno (2010), que relataram que restaurantes analisados em Taubaté se assemelham em
relação à higiene dos manipuladores, independente da classe social que atendem. Entretanto,
Baltazar et al. (2006) ao fazerem a avaliação higiênico-sanitária de estabelecimentos da rede
fast food no município de São Paulo, encontraram que as condições socioeconômicas dos
estabelecimentos interferiram nas suas condições higiênico-sanitárias.
A confi abilidade dos dados é resultado da qualidade dos instrumentos de coleta
de dados, e a checagem da consistência interna é um dos passos da validação de um
instrumento. Uma vez que o coefi ciente obtido foi igual a 0,73, pode-se concluir que o
roteiro utilizado no presente estudo possui boa consistência interna e boa confi abilidade.
O controle sanitário dos alimentos se constitui em um conjunto de normas e técnicas
utilizadas para verifi car se os produtos estão sendo produzidos, manipulados e distribuídos
de acordo com as boas práticas de manipulação e fabricação de alimentos. No Brasil, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é o órgão que considera a necessidade
constante de aperfeiçoamento das ações de controle sanitário na área de alimentação,
visando à proteção à saúde da população. Stargarlin, Delevati e Saccol, 2008, verifi caram
em Santa Maria, RS, falta de conhecimento dos responsáveis em relação a RDC 216/04, e
que 72,5% dos estabelecimentos não haviam sido fi scalizados em relação a esta resolução.
Tal situação denota que, apesar dos inegáveis avanços que foram alcançados no
país desde a década de 80, com a defi nição do papel da ANVISA em intervir nos riscos
decorrentes da produção e do uso de produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária, em
ação coordenada com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, de acordo com os
princípios do Sistema Único de Saúde, são ainda necessárias ações e programas para redução
dos riscos de doenças transmitidas por alimentos, decorrente de falhas no processamento
e manipulação, com ênfase particular na divulgação dos textos da lei e na educação dos
atores envolvidos no processo de produção e comercialização de refeições.
CONCLUSÃO
Destaca-se que nenhum restaurante foi classifi cado como bom ou excelente, o que
sugere a necessidade de intervenções para que se melhore a gestão da qualidade na produção
das refeições vendidas, uma vez que os resultados sugerem risco potencial de ocorrência
de doenças transmitidas por alimentos (DTA) tendo em vista, especialmente, as condições
higiênico-sanitárias encontradas. A presença efetiva de um responsável técnico devidamente
capacitado, possivelmente, garantiria a melhoria na qualidade dos serviços encontrados.
ESPERANÇA, L. C.; MARCHIONI, D. M. L. Qualidade na produção de refeições em restaurantes comerciais na região de Cerqueira César, São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 71-83, abr. 2011.
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Recebido para publicação em 26/02/10.Aprovado em 03/12/10.
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Artigo original/Original Article
Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leveRelationship of weight gain before and during pregnancy with fetal macrosomia in gestation complicated by diabetes and mild hyperglycemia
CAMILA PEREIRA BRAGA1; FELIPE ANDRÉ DOS
SANTOS2; ELAINE GOMES DA SILVA3; HUMBERTO
SADANOBU HIRAKAWA3; ANA ANGÉLICA HENRIQUE
FERNANDES4; IRACEMA DE MATTOS PARANHOS
CALDERON5
1Graduanda do Curso de Nutrição da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”Campus de
Botucatu – UNESP.2Pós-graduando do
Programa de Biologia Geral e Aplicada do Instituto de
Biociências - UNESP.3Pós-graduando do
Programa de Pós-graduação em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia da Faculdade
de Medicina de Botucatu.4Professora Doutora do
Departamento de Química e Bioquímica - Instituto de
Biociências - UNESP.5Professora Doutora da
Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP.
Trabalho foi desenvolvido:no Hospital das Clínicas
de Botucatu da Faculdade de Medicina de
Botucatu – UNESP.Endereço para
correspondência: Camila Pereira Braga
Av. Camilo Mazzoni, 1055, ap. H 22. Botucatu/SP
CEP 18610-285E-mail:
[email protected],[email protected]
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.;
FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relationship of weight gain before and during pregnancy with fetal macrosomia in gestation complicated by diabetes and mild hyperglycemia. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
The aim of this study was to evaluate the nutritional status of pregnant women complicated by gestational diabetes mellitus (GDM) and mild hyperglycemia and associate them to the diagnosis of fetal macrosomia. We conducted a retrospective, descriptive study, where the curves were analyzed for weight gain of pregnant women who were diagnosed with diabetes or gestational mild hyperglycemia and received prenatal care in the service of Obstetrics at the Botucatu Medical School in 2005 and 2006. Half (49,51%) of the women were obese before the beginning of pregnancy, and Body Mass Index (BMI) before pregnancy was the only index that was related to the weight of the newborn at birth. The highest rate of overweight and obese women (adding up the two ratings) and a lower rate of low weight were detected by the Atalah’s curve, whereas the curve recommended by the Institute of Medicine (IOM) revealed a higher percentage of women with weight gain below the recommended levels and a lower percentage of pregnant women in the range of appropriate-gain curve and the curve of the Latin American Centre for Perinatology (CLAP) detected a higher percentage of pregnant women with adequate weight and a lower percentage of women with obesity and overweight. The prevalence of macrosomia was 11.21% as compared with other populations of concern in the study. However, the pre-pregnancy weight and weight gain during pregnancy of the diabetic patients or patients suffering from mild hyperglycemia were above the recommended levels, and the pre-pregnancy weight affected the weight of the newborn at birth.
Keywords: Weight gain. Pregnancy. Gestational diabetes. Fetal macrosomia.Hyperglycemia.
ABSTRACT
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RESUMORESUMEN
El objetivo del estudio fue evaluar el estado nutricional de mujeres embarazadas complicado por diabetes mellitus gestacional (DMG) o hiperglucemia leve y asociarlos con el diagnóstico de macrosomía fetal. Se realizó un estudio retrospectivo descriptivo, en el que se analizaron las curvas de ganancia de peso de las mujeres embarazadas que fueron diagnosticadas con diabetes o hiperglucemia gestacional leve y recibian atención prenatal en el servicio de Obstetricia de la Escuela de Medicina de Botucatu en 2005 y 2006. La mitad de las mujeres (49,51%) eran obesas antes del comienzo del embarazo, y el Índice de Masa Corporal (IMC) pregestacional fue el único que estaba relacionado con el peso del recién nacido. La curva de Atallah fue la que demostró la tasa más alta de mujeres con sobrepeso y obesas (suma de las dos clasifi caciones) y menor tasa de peso bajo, ya la curva recomendada por el Instituto de Medicina (IOM), reveló mayor porcentaje de mujeres con aumento de peso abajo de los niveles recomendados y un menor porcentaje de gestantes en el rango de ganancia apropiada y el Centro Latinoamericano de Perinatología (CLAP) detectó un mayor porcentaje de mujeres embarazadas con peso adecuado y un menor porcentaje de mujeres con obesidad o sobrepeso. La prevalencia de macrosomía fue 11,21% en comparación con otras poblaciones de interés en el estudio. Sin embargo, el peso pregestacional y el aumento de peso durante el embarazo de gestantes diabéticas o portadoras de hiperglucemia leve están por sobre la recomendación siendo que el peso pregestacional infl uye en el peso del recién nacido.
Palabras clave: Aumento de peso.Embarazo. Diabetes gestacional. Macrosomía fetal. Hiperglucemia.
O objetivo do presente estudo foi avaliar o estado nutricional de gestantes que sofreram complicações pelo diabetes mellitus gestacional (DMG) e por hiperglicemia leve e associá-las ao diagnóstico de macrossomia fetal. Foi realizado um estudo retrospectivo, descritivo, onde foram analisadas as curvas de ganho de peso de gestantes que tinham o diagnóstico de diabetes gestacional ou hiperglicemia leve, que fi zeram pré-natal no serviço de Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu, nos anos de 2005 e 2006. Metade (49,51%) das gestantes apresentaram obesidade antes do início da gestação, e o Índice de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional foi o único que se relacionou com o peso do recém-nascido. A curva de Atalah foi a que detectou maior índice de gestantes obesas e sobrepeso (somando-se as duas classifi cações) e menor índice de baixo peso, já a curva recomendada pelo Instituto de Medicina (IOM) detectou maior porcentagem de gestantes com ganho de peso abaixo do recomendado e menor porcentagem de gestantes na faixa de ganho adequado e a curva do Centro Latino Americano de Perinatologia (CLAP), detectou maior porcentagem de gestantes com peso adequado e menor porcentagem de gestantes com obesidade/sobrepeso. A prevalência de macrossomia foi de 11,21%, dado preocupante comparado com outras populações em estudo. Contudo, o peso pré-gestacional e o ganho de peso durante a gestação das portadoras de diabetes ou de hiperglicemia leve apresentaram-se acima do recomendado, sendo que o peso pré-gestacional interferiu no peso do recém-nascido.
Palavras-chave: Ganho de peso. Gravidez. Diabetes gestacional. Macrossomia fetal. Hiperglicemia.
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
O peso obtido na primeira hora após o nascimento, refl ete as condições nutricionais
do recém-nascido e da gestante, sendo considerado um indicador apropriado de saúde
individual. Este indicador infl uencia o crescimento e o desenvolvimento da criança e a
longo prazo pode repercutir nas condições de saúde do adulto (AMERICAN DIABETES
ASSOCIATION, 2004). Deste modo, crescente importância vem sendo dada à macrossomia,
devido aos riscos de mortalidade e morbi dade materno-infantil dela decorrentes e ao
incremento da sua incidência no Brasil (BRASIL, 2001).
A defi nição clássica para macrossomia é o peso ao nascimento igual ou superior a
4.000g (independente da idade gestacional ou de outras variáveis demográfi cas) (BRASIL,
2006), porém há estudos que a defi ne como o peso ao nascer superior a 4.000g (GROSS;
SILVÉRIO; CAMARGO, 2002) ou ainda o peso ao nascer igual ou superior a 4.500g
(INSTITUTE OF MEDICINE, 1990). De forma alternativa, pode ser considerado o peso fetal
relacionado à idade gestacional, classifi cando como macrossômicos os recém-nascidos de
peso para idade gestacional superior ao percentil 90 (ABRAMS; ALTMAN; PICKETT, 2000).
A prevalência da macrossomia depende do critério utilizado e da população
estudada. Os recém-nascidos com peso igual ou superior a 4.000g correspondem a 10%
e aqueles com 4.500g ou mais, a 1% da população geral. A macrossomia é a característica
mais comum entre mulheres multíparas, com idade mínima de 30 anos, maior estatura
e índice elevado de massa corporal (IMC), além da presença de antecedentes familiares
de diabetes e obstétricos de macrossomia fetal, de intolerância à glicose ou diabetes, no
pós-datismo e nos fetos do sexo masculino (CHAUNHAN et al., 2005).
A macrossomia pode aumentar o risco de complicações tanto para a mãe como para
o concepto, mas esse risco está associado à presença ou não de diabetes (KERCHE et al.,
2005). Fetos macrossômicos apresentam maior risco de morte intrauterina, distocia de
ombro, fratura umeral e clavicular, paralisia facial e do plexo braquial, asfi xia, aspiração
de mecônio, hipoglicemia e hiperbilirrubinemia neonatal, cardiomiopatia hipertrófi ca e
uso da unidade de terapia intensiva por tempo prolongado (CROMI et al., 2007; MAHONY
et al., 2007). O risco parece ainda maior com peso ao nascer superior a 4.500g ou ao
percentil 97 (GOLBERT; CAMPOS, 2008). Além disso, recém-nascidos macrossômicos
ou grandes para a idade gestacional também podem apresentar importantes efeitos em
longo prazo, com sequelas neurológicas, obesidade, dislipidemia, resistência à insulina
e diabetes mellitus, assim como alterações do metabolismo antioxidante (EVANGELIDOU
et al., 2006). Essas alterações parecem ter importante papel no desenvolvimento da
doença aterosclerótica na idade adulta (HALAC et al., 2008).
O diagnóstico antenatal de macrossomia fetal é difícil porque, apesar dos avanços
na área da ultrassonografi a obstétrica, a acurácia do peso fetal estimado permanece
em torno de 38 e 67% (HACKMON et al., 2007). Sugere-se, para aumentar a acurácia,
a associação de conhecidos fatores de risco maternos (peso pré-gestacional, ganho
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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ponderal durante a gravidez), com um adequado exame clínico e corretas mensurações
ultrassonográfi cas (incluindo, além dos parâmetros biométricos, análise do índice
de líquido amniótico e da área seccional do cordão umbilical). Com esta abordagem,
pode-se aumentar o valor preditivo positivo para até 85% (PATES et al., 2008).
Em estudos populacionais, a prevalência de macrossomia foi confi rmada em 5,3%
da população geral, em 15,4% das gestações pós-termo e em 10% dos casos de obesidade
mórbida (EVERS et al., 2002). Especifi camente associadas ao diabetes, as cifras variam
de 28,5 até 48,8% (SCHWARCZ et al., 1996). Neste contexto, ensaio clínico randomizado,
incluindo 1000 gestantes com intolerância à glicose, evidenciou que o não-tratamento de
qualquer grau de hiperglicemia materna representa risco de peso fetal aumentado, além
de outros resultados perinatais adversos (BRASIL, 2000).
Estudo recente, comparando 886 gestações de fetos macrossômicos com 26.075
gestações de fetos com peso adequado para o termo da gestação, confi rmou como fatores
de risco independentes para a macrossomia o diabetes prévio (OR=4,6) ou gestacional
(OR=1,6), o antecedente de feto macrossômico (OR=3,1), o pós-datismo (OR=3,1)
e a obesidade materna (OR=2,0). Na população de gestantes brasileiras, o IMC superior
a 25kg/m2 se relacionou a risco aumentado de macrossomia fetal e diabetes gestacional
(DAS; SYSYN, 2004). Nas gestações complicadas por diabetes ou hiperglicemia diária,
o ganho de peso superior a 16kg (OR=1,79), o IMC 25kg/m2 (OR=1,83), o antecedente
pessoal de diabetes (OR=1,56) e de macrossomia (OR=2,37) e a média glicêmica no terceiro
trimestre 120mg/dL (OR=1,78) também foram identifi cados como risco independente
para o crescimento fetal exagerado (DAS; SYSYN, 2004). Independente do IMC, a
hiperinsulinemia e os níveis anormais das frações do colesterol, HDL e LDL-colesterol,
indicativos da síndrome metabólica, também foram relacionados ao risco aumentado de
macrossomia fetal (CLAUSEN et al., 2005).
A presença destes marcadores, em gestações associadas ou não ao diabetes materno,
deverá alertar para o risco perinatal e destacar a importância do diagnóstico de macrossomia
ainda na gestação. Com isso, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o estado nutricional
de gestantes que sofreram complicações pelo diabetes mellitus gestacional (DGM) e por
hiperglicemia leve e associá-las ao diagnóstico de macrossomia fetal.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo observacional, retrospectivo, descritivo, onde foram
analisados os prontuários de gestantes com diagnóstico de DMG ou hiperglicemia leve
que fi zeram pré-natal no serviço de Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Botucatu,
nos anos de 2005 e 2006 e possuíam gestação única. O presente trabalho foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu, em 05 de março
de 2007 (OF. 20/2207-CEP).
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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Foram obtidos os primeiros dados de peso materno na primeira consulta de
pré-natal, onde as gestantes tiveram seu estado nutricional avaliado pelo IMC (Atalah)
(ATALAH; CASTILHO; CASTRO, 1997) e foram classifi cadas em: baixo-peso, peso
adequado, sobrepeso e obesa. Com base na avaliação do estado nutricional na primeira
consulta foram calculados os ganhos de peso durante a gestação segundo preconização
da IOM (INSTITUTE OF MEDICINE, 1990). E a cada consulta a gestante: era pesada,
calculado o seu IMC e preenchidas as curvas do CLAP (ATALAH; CASTILHO; CASTRO,
1997; SCHWARCZ et al., 1996).
DEFINIÇÃO DAS CURVAS DE PESO
• Curva de Ganho de Peso padronizada pelo Centro Latino Americano de
Perinatologia (CLAP) – o ganho de peso, calculado em relação ao peso pré-
gestacional, é colocado em um gráfi co de percentis (SCHWARCZ et al., 1996). As
curvas foram construídas e analisadas, sendo consideradas como de comportamento
normal quando fi cou ascendente e não ultrapassou o percentil 90. O comportamento
da curva foi considerado anormal, quando se manteve sempre acima do percentil
90, ultrapassou o percentil 90, quando manteve um platô ou houve perda de peso.
• Curva de IMC (Atalah): curva baseada na classifi cação do estado nutricional na
primeira consulta do pré-natal (baixo peso, normal, sobrepeso e obesa) e calculada
em cima do IMC atual e idade gestacional, que indicará o estado nutricional atual
através de faixas de IMC (ATALAH; CASTILHO; CASTRO, 1997). As curvas foram
construídas e analisadas, sendo consideradas como de comportamento normal
quando esta foi ascendente e se manteve dentro dos limites determinados para sua
faixa de IMC. Foram consideradas como anormal quando a curva foi ascendente,
mas ultrapassava os limites determinados para sua faixa de IMC, quando esta não
apresentou incremento mantendo um platô durante a gravidez e quando a curva
foi decrescente.
PARÂMETROS MATERNOS ANALISADOS
Em relação aos parâmetros maternos foram analisados: a idade materna, em anos
completos; a raça (branca, negra ou parda); o grau de escolaridade (ausente ou ensino:
fundamental, médio ou superior); presença de tabagismo (quantos cigarros/dia); a
paridade, relacionada ao número de partos anteriores, nulípara ou multípara; a idade
gestacional no parto, calculada pela data da última menstruação (DUM) e confi rmada
pela ultrassonografi a; estado nutricional pré-gestacional de sobrepeso e obesidade (IMC
acima de 25 e 30kg/m2, respectivamente); ganho de peso (GP) gestacional, calculado
em kilogramas (kg), por trimestre e total. Foram obtidos os antecedentes de diabetes –
considerados os pessoais e obstétricos, isolados ou em associação; os antecedentes de
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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macrossomia – confi rmação (sim) ou negativa (não) de recém-nascido com peso superior
a 4.000g na anamnese de admissão do pré-natal; o tipo de diabetes – relacionado ao
momento do diagnóstico, prévio (diabetes clínico) ou durante a gestação (diabetes
gestacional).
PARÂMETROS NEONATAIS ANALISADOS
Em relação aos parâmetros neonatais: os recém-nascidos foram classifi cados quanto à
adequação do peso ao nascimento com os valores normais esperados pela idade gestacional.
Foram classifi cados como Pequenos para a Idade Gestacional (PIG) aqueles recém-nascidos
com peso abaixo do percentil 10, Adequado para a Idade Gestacional (AIG), quando entre
os percentis 10 e 90 e Grandes para a Idade Gestacional (GIG) os que se encontravam acima
do percentil 90 (LUBCHENCO et al., 1963).
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Foram realizadas análises descritivas das características demográfi cas da população
do estudo, e calculado os respectivos intervalos de confi ança (considerado intervalo de
confi ança de 95%) das curvas de ganho de peso de CLAP e de IMC. A análise estatística
foi feita com orientação do Grupo de Apoio à Pesquisa (GAP) da Faculdade de Medicina
de Botucatu-UNESP.
RESULTADOS
Foram analisados 150 prontuários de gestantes com diagnóstico de diabetes
gestacional ou hiperglicemia leve, entre o período de janeiro 2005 a dezembro 2006.
A idade média encontrada das gestantes foi de 30,19 ± 7,18 anos, sendo a idade
mínima apresentada de 15 anos e a máxima de 54 anos; a idade gestacional média do
parto foi de 37,71±2,42 semanas. As características gerais da população estudada estão
apresentadas na tabela 1, verifi ca-se o predomínio de mulheres de raça branca, casadas,
com escolaridade primária, profi ssão do lar, não tabagistas e multíparas.
O IMC pré-gestacional médio foi de 30,18±7,87kg/m2. Verifi cou-se que quase
metade das gestantes apresentavam obesidade antes do início da gestação e 23,3%
apresentavam-se sobrepeso. Apenas 24,27% das gestantes estavam eutrófi cas e 2,9% com
baixo peso. Foi constatado que 73% das gestantes receberam pelo menos uma orientação
nutricional pelo nutricionista do serviço durante o pré-natal.
Em relação ao ganho de peso foi observado maiores médias em kg no 2º e 3º
trimestre gestacional, e ganho de peso total médio durante a gestação de 10,63±7,20kg,
como mostra a tabela 2.
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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Tabela 1 – Características gerais das gestantes estudadas (n=107)
Variáveis (%)
Idade (anos) <20
20-35
>35
3,84
64,42
31,73
Raça Branca
Negra
Parda
75,7
11,21
13,08
Estado Civil Solteira
Casada
União estável
13,08
56,07
30,84
Escolaridade Primário (completo/incompleto)
Secundário (completo/incompleto)
Universitário (completo/incompleto)
52,88
39,42
7,69
Profi ssão Do lar
Empregada doméstica
Outras
47
11
42
Tabagistas Sim
Não
19,44
80,56
Paridade
Primíparas
Multíparas
17,59
82,23
Tabela 2 – Caracterização das médias de ganho de peso total e ganho de peso por trimestre gestacional
Ganho de Peso (kg) Média e Desvio Padrão
Ganho de peso total 10,63±7,20
Ganho de peso no 1º trimestre 5,20±2,56
Ganho de peso no 2º trimestre 8,92±5,18
Ganho de peso no 3º trimestre 11,46±7,31
A tabela 3 mostra valores de ganho de peso recomendados durante o 1º, 2º e 3º
trimestre da gestação pela preconização do IOM, levando em conta a avaliação do estado
nutricional na primeira consulta de pré-natal, avaliados pelo IMC (ATALAH; CASTILHO;
CASTRO, 1997) e o ganho de peso apresentado pelas gestantes do estudo, segundo
classifi cação do estado nutricional.
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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Tabela 3 – Comparação do ganho de peso durante a gestação de 107 gestantes, diabéticas gestacionais, e a recomendação de ganho de peso para gestantes saudáveis segundo preconizado pela IOM7
Estado Nutricional
pré-gestacional
Ganho de peso observado no1º trimestre
Recomendação de ganho de
peso no 1º trimestre
Ganho de peso observado nos
2º e 3º trimestres (semanal)
Recomendação de ganho de
peso nos 2º e 3º trimestres
(semanal)Baixo peso 3,18kg (n=18) 2,3 Kg 0,33g (n=26) 0,5gPeso adequado 4,55kg (n=46) 1,6Kg 0,32g (n=40) 0,4gSobrepeso 2,71kg (n=26) 0,9Kg 0,20g (n=24) 0,3gObesidade 1,6kg (n=13) – 0,53g (n=13) 0,3g
Dentre as características obstétricas e perinatais, verifi ca-se que em relação ao tipo
de parto, 55,21% das gestantes tiveram parto tipo cesárea e a incidência de óbito fetal foi
de 5,76%. Dos resultados perinatais, observou-se que a média de peso dos recém-nascidos
foi de 3200 ± 720,4 gramas, a distribuição do peso ao nascer das crianças foi de: 10,22%
com peso menor que 2.500 gramas (PIG - Pequeno para a Idade Gestacional), 77,92% com
o peso entre 2.500 e 4.000 gramas (AIG - Adequado para a Idade Gestacional) e 11,22%
com o peso acima de 4.000 gramas (GIG - Grande para a Idade Gestacional) (Tabela 4).
Tabela 4 – Características perinatais e obstétricas das gestantes diabéticas estudadas
Variáveis Frequência (%)
Diabetes IB
IIB
IIA
39,56
58,24
13,18
Tipo de parto Cesárea
Vaginal
55,21
44,79
Classifi cação dos recém-nascidos PIG
AIG
GIG
10,22
77,92
11,22
Óbito Fetal 5,76
A tabela 5 apresenta a correlação entre o IMC pré-gestacional nos trimestres
gestacionais (14ª, 28ª e 37ª semana) e o peso do recém-nascido. Observa-se que o IMC
pré-gestacional foi o único que infl uenciou signifi cativamente no peso do recém-nascido.
Em relação às curvas de ganho de peso, temos que a curva de CLAP foi a que detectou
maior número de gestantes obesas quando comparada com a de Atalah, e a de IOM no
decorrer dos trimestres: (34,61% x 24,03 x 13%) no 1º trimestre, 23% x 13,07% x 13,46% no
2º trimestre e 26% x 19,23 x 13,46% no 3º trimestre. Porém, deve-se considerar que a curva
de Atalah apresenta uma classifi cação diferenciada para sobrepeso.
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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Tabela 5 – Média e desvio padrão dos Índices de Massa Corporal em cada trimestre gestacional e correlação com o peso do recém-nascido
Índice de Massa Corporal (kg/m2) Média e Desvio Padrão Correlação p<0,05
IMC pré-gestacional 30,18±7,87 0,003
IMC 14ª semana gestacional 32,31±8,23 0,191
IMC 28ª semana gestacional 33,77±8,09 0,162
IMC 37ª semana gestacional 34,77±7,71 0,131
Comparando a curva de CLAP com a de IOM, apenas no 1º trimestre a curva do
IOM indicou maior frequência de obesidade, apresentando as seguintes frequências
(CLAP e IOM respectivamente): 34% x 51,88% no 1º trimestre, 23% x 11,3% no 2º trimestre
e 26% x 24,5% no 3º trimestre. Para baixo peso, a curva de CLAP e IOM foram as que
detectaram maior número de gestantes com baixo peso quando comparada com a de
Atalah: 24,03% x 22,04% x 17,3% 1º trimestre, 44,2% x 70,75% x 25% no 2º trimestre e
39,4% x 54,7 x 28,8% no 3º trimestre (Gráfi cos 1, 2 e 3).
Gráfi co 1 – Porcentagem de gestantes com diabetes gestacional ou hiperglicemia leve, classifi cadas em baixo peso, segundo as curvas de Clap, Atalah e IOM
Gráfi co 2 – Porcentagem de gestantes com diabetes gestacional ou hiperglicemia leve, classifi cadas em adequadas, segundo as curvas de Clap, Atalah e IOM
60
50
40
30
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02º Trimestre 3º Trimestre1º Trimestre
70
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CLAP
IOM
ATALAH
30
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151050
2º Trimestre 3º Trimestre1º Trimestre
35
50
CLAP
IOM
ATALAH
40
45
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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Gráfi co 3 – Porcentagem de gestantes com diabetes gestacional ou hiperglicemia leve, classifi cadas em obesas, segundo as curvas de Clap, Atalah e IOM e sobrepeso pela curva de Atalah
DISCUSSÃO
A literatura aponta que a gravidez e o pós-parto são períodos do ciclo reprodutivo
associados com o excesso de peso (CASTRO et al., 2009). As novas recomendações do
Institute of Medicine publicadas em 2009 levaram em conta o aumento da prevalência de
obesidade e sobrepeso, assim como o ganho de peso excessivo na gravidez, baseando-se
principalmente em dados de coortes de gestantes americanas (INSTITUTE OF MEDICINE,
2009). No Brasil, o ganho ponderal gestacional excessivo confi gura-se também como um
problema de saúde pública (DREHMER et al., 2010; RODRIGUES et al., 2010).
No presente estudo, a média de ganho de peso por trimestre gestacional foi acima
do recomendado, levando-se em conta que o perfi l das gestantes era de obesidade e o
ganho trimestral observado nos mostra ganho de peso menor no 1º trimestre, aumento
acentuado no 2º trimestre e aumento mais lento no terceiro trimestre. Esses valores são
coincidentes com os reportados por Nucci et al. (2001) para uma amostra de mais de 3.000
mulheres estudadas em seis capitais brasileiras. Nucci et al. (2001) sugerem que fatores
psicossociais e estilo de vida podem estar associados ao maior ganho de peso semanal
durante a gestação entre as gestantes com maior IMC inicial e associa esta ocorrência às
mulheres com menos atitudes favoráveis ao ganho de peso e menor conhecimento sobre
a importância de não ganhar peso excessivo durante a gravidez, quando comparadas às
mulheres com ganho de peso adequado ou abaixo do recomendado.
A macrossomia é o resultado adverso mais comumente observado nas gestações
complicadas por diabetes ou hiperglicemia diária (GOLBERT; CAMPOS, 2008). Tal condição
é geralmente associada a controle glicêmico inadequado, mas algumas características
maternas, tais como: idade, multiparidade, obesidade, antecedentes de diabetes e de
recém-nascidos grandes para a idade gestacional também podem contribuir para este
desvio do crescimento fetal (RUDGE; CALDERON, 2000). No presente estudo, a variável
60
50
40
30
20
10
02º Trimestre 3º Trimestre1º Trimestre
CLAP
IOM
ATALAH (sobrepeso e obesas)
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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que se correlacionou positivamente com a presença de recém-nascido macrossômico foi
o IMC pré-gravídico com p=0,003.
Na literatura, são encontradas associações consistentes entre o IMC pré-gestacional
e os desfechos maternos e fetais, como por exemplo, a relação entre excesso de peso
pré-gestacional e risco de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, cesária, macrossomia e
prematuridade (INSTITUTE OF MEDICINE, 2009).
A frequência observada de macrossomia foi de 11,21%, esse valor pode ser
considerado baixo se comparado a estudos com populações nativas americanas, onde
a incidência atinge valores altos, entre 16 e 31%, ou mesmo representativo quando
comparados à população americana em geral, que apresenta taxas da ordem de 10%
(CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 1996). E em países europeus, como a Alemanha
(10,1%) e a Dinamarca, ambas em 1999 (20,0%). No Brasil, ainda são escassos os estudos
sobre a magnitude ou mesmo sobre os determinantes da macrossomia fetal (CONSELHO
NACIONAL DE SAÚDE, 1996).
Na década de 90, o IOM, órgão americano, a partir de inúmeras evidências, elaborou
recomendações para o ganho de peso na gestação. Essas recomendações são diferenciadas
segundo o estado nutricional pré-gestacional, com o objetivo de restabelecer os estoques de
gordura corporal em mulheres desnutridas e minimizar os ganhos de gordura em mulheres
obesas, além de levar em conta aspectos específi cos do pré-natal, estado nutricional materno
e curso gestacional (crescimento fetal e peso ao nascer) (INSTITUTE OF MEDICINE, 1990).
As faixas de recomendação de ganho de peso estão associadas a menores prevalências de
baixo peso ao nascer (<2.500g), macrossomia (>4.000g) e recém-nascidos pequenos ou
grandes para a idade gestacional. Porém, essas relações parecem ser mais evidentes em
mulheres com baixo peso pré-gestacional e eutrófi cas do que em mulheres com sobrepeso
e obesidade pré-gestacional (DAVIS; OLSON, 2009).
Em meados da década de 1990, a partir de uma pequena casuística de 43 gestantes
uruguaias, o CLAP propôs um modelo de avaliação nutricional da gestante, utilizando o
aumento de peso a partir da 12ª semana gestacional através de quatro curvas correspondentes
aos percentis 10, 25, 50 e 90. As principais críticas ao método baseiam-se no pequeno
número de observações do estudo original e na recomendação de peso fi nal de 8 a 16kg,
sem considerar o estado nutricional pré-gestacional (COELHO; SOUZA; FILHO, 2002;
PADILHA et al., 2009).
Em 1997, Atalah, Castilho e Castro propuseram um novo método de avaliação
antropométrica de gestantes baseado no IMC por idade gestacional entre as semanas 12 e
42 de gravidez. Essa curva foi elaborada com uma amostra de 665 gestantes uruguaias com
idades entre 18-35 anos, com paridade menor do que quatro, sem doenças crônicas que
afetam o crescimento fetal. A avaliação do IMC por semana gestacional tem a vantagem de
realizar o diagnóstico nutricional diretamente através da tabela com valores correspondentes
e fazer o monitoramento através da visualização direta do traçado dos valores de IMC no
gráfi co (ATALAH; CASTILHO; CASTRO, 1997; CASTRO et al., 2009).
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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Atualmente, o Ministério da Saúde (MS) associa duas metodologias para a avaliação
do ganho de peso gestacional: Atalah, Castilho e Castro (1997) e Institute of Medicine
(1990). O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) publicou em 2004
as normas para classifi cação do ganho de peso gestacional de grávidas brasileiras
mediante combinação entre o modelo proposto por Atalah, Castilho e Castro (1997) e
as recomendações propostas pelo IOM (INTITUTE OF MEDICINE, 1990). Por associar
duas metodologias distintas, que consideram diferentes indicadores, com origem em
duas populações internacionais de mulheres grávidas, as recomendações do MS geram
muitas controvérsias. Algumas discordâncias podem ser verifi cadas, por exemplo, entre
o ganho de peso fi nal entre os dois métodos.
Em nosso estudo, a curva de Atalah foi a que detectou maior índice de gestantes
obesas e sobrepeso (somando-se as duas classifi cações) e menor índice de baixo peso,
diferentemente dos resultados obtidos no estudo de Andreto et al. (2006), com gestantes
de baixo risco obstétrico, onde aproximadamente metade destas apresentou estado
nutricional adequado para a idade gestacional e 26,3% sobrepeso/obesidade.
A curva recomendada pelo IOM detectou maior porcentagem de gestantes com
ganho de peso abaixo do recomendado e menor porcentagem de gestantes na faixa de
ganho adequado. Já a curva de CLAP detectou maior porcentagem de gestantes com peso
adequado e menor porcentagem de gestantes com obesidade/sobrepeso.
O controle de ganho de peso é adequado para acompanhar as mulheres grávidas,
para prevenir e controlar o aparecimento de condições indesejáveis materno-fetal, como
a macrossomia que é o resultado adverso mais comumente observado nas gestações
complicadas por diabete ou hiperglicemia diária.
CONCLUSÃO
O peso pré-gestacional e o ganho de peso durante a gestação das portadoras de
diabetes ou de hiperglicemia leve apresentaram-se acima do recomendado, sendo que o
peso pré-gestacional interferiu no peso do recém-nascido.
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Recebido para publicação em 01/04/10.Aprovado em 01/03/11.
BRAGA, C. P.; SANTOS, F. A.; SILVA, E. G.; HIRAKAWA, H. S.; FERNANDES, A. A. H.; CALDERON, I. M. P. Relação do ganho de peso, antes e durante a gravidez, com a macrossomia fetal em gestações complicadas pelo diabetes gestacional e hiperglicemia leve. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 85-98, abr. 2011.
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Artigo original/Original Article
Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de ConicidadeCoronary risk in adolescents as estimated by the Conicity index
MARCELA PINHEIRO MARQUES1; CLÉLIA
DE OLIVEIRA LYRA2; SEVERINA CARLA VIEIRA
CUNHA LIMA2; LIANA GALVÃO BACURAU PINHEIRO2; PAULO
ROBERTO DE MEDEIROS AZEVEDO3; RICARDO
FERNANDO ARRAIS4; ANA LÚCIA MIRANDA1; LUCIA
DE FÁTIMA CAMPOS PEDROSA2
1Curso de Nutrição, UFRN.2Depto. de Nutrição, UFRN.
3Depto. de Estatística, UFRN.4Depto. de Pediatria, UFRN.
Endereço para correspondência:
Clélia de Oliveira LyraUniversidade Federal do Rio Grande do Norte - Centro de Ciências da Saúde - Depto.
de NutriçãoRua General Gustavo
Cordeiro de Farias, s/nº Petrópolis Natal – RN
CEP 59012-570. E-mail:
[email protected], [email protected]
Agradecimentos: Secretaria Municipal
de Educação, Natal-RN, pelo acesso às escolas; aos alunos do Curso de
Graduação em Nutrição e aos residentes do Hospital
de Pediatria daUFRN pela colaboração na
coleta de dados.
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.;
AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C.
S. Coronary risk in adolescents as estimated by the Conicity index. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP,v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
The objective of this study was to estimate the prevalence of coronary risk using the conicity index and to compare this index with other indicators of body adiposity in adolescents. This was a cross-sectional study with 185 adolescent students from public schools in Natal, Brazil, selected by random sampling in two stages, considering the two health districts of the city. The corporal adiposity was assessed using conicity index, abdominal circumferences, waist-height ratio and body mass index. Sexual maturity was clinically assessed according to Tanner. Measures of central tendency and dispersion (mean, median and standard deviation) and percentiles distribution of the corporal adiposity are compared according to sex. The correlation between conicity index and other variables of the corporal adiposity was performed using Pearson’s partial correlation, considering age, sex and sexual maturation. These fi ndings verifi ed that 27.6% of adolescents have high coronary risk, regardless of sex (p=0,764). The low/medium and high categories of coronary risks were respectively 1.16 and 1.20, for the median values of conicity index concerning both sexes. Strong correlations were found between conicity index and the waist-height ratio (0.732), followed by moderate correlations with abdominal circumferences and the body mass index. All correlations were signifi cant (p < 0.0001). Therefore, the prevalence of high coronary risk rates was considerable. The conicity index is strongly correlated with the waist-height ratio. This index can be used in adolescent coronary disease screening.
Keywords: Conicity Index. Anthropometry. Adolescent. Risk Factors.
ABSTRACT
Fonte de Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq), processo nº 478287-06-2, como parte integrante do projeto “Fatores de risco para doenças cardiovasculares entre adolescentes benefi ciários do PNAE-Natal/RN”.
100
RESUMORESUMEN
El objetivo de este estudio fue estimar la prevalencia de riesgo coronario en adolescentes mediante el índice de conicidad y evaluar su relación con otros indicadores antropométricos de grasa corporal. Es un estudio transversal con 185 adolescentes de escuelas públicas en dos distritos de salud de la ciudad de Natal, RN, Brasil, seleccionados mediante muestreo estratificado en dos etapas. La adiposidad corporal fue evaluada por el índice de conicidad, las circunferencias de la cintura, relación cintura / talla e índice de masa corporal. La madurez sexual fue clínicamente evaluada de acuerdo a Tanner. Todas las variables relacionadas con la adiposidad se analizaron mediante medidas de tendencia central y de dispersión, según el sexo. El coefi ciente de correlación parcial de Pearson fue utilizado para verifi car la relación entre el índice de conicidad y otras variables antropométricas, ajustado por edad, sexo y madurez sexual. Los resultados mostraron que 27,6% de los adolescentes presentan alto riesgo coronario, independientemente del sexo (p = 0,764). Los valores promedio de este índice, por categoría de riesgo: bajo/medio y alto fueron 1,16 y 1,20, respectivamente para ambos sexos. Se observó una elevada correlación entre el índice de conicidad y el de cintura-altura (0, 732) y correlaciones moderadas con la circunferencia de la cintura y el IMC, todas estadísticamente signifi cativas (p <0,0001). Por lo tanto, el alto riesgo coronario estimado por el índice de conicidad mostró elevada correlación, positiva y signifi cativa, con el de cintura-altura. Este índice puede ser utilizado en adolescentes para detección de enfermedades coronarias.
Palabras clave: Índice de conicidad. Antropometría. Adolescente. Factores de riesgo.
Objetivou-se estimar a prevalência de risco coronariano em adolescentes, utilizando o índice de conicidade e avaliar sua relação com outros indicadores antropométricos de excesso de adiposidade corporal. Trata-se de um estudo transversal, realizado com 185 adolescentes de escolas públicas municipais de dois distritos sanitários de Natal, selecionados por amostra estratifi cada, em dois estágios. A adiposidade corporal foi avaliada pelo índice de conicidade, circunferências abdominais, razão cintura-altura e índice de massa corporal. A maturação sexual foi avaliada conforme classificação de Tanner. Todas as variáveis relacionadas à adiposidade corporal foram analisadas por medidas de tendência central e de dispersão, segundo o sexo. A correlação parcial de Pearson foi utilizada para verifi car a relação entre o índice de conicidade e as demais variáveis antropométricas, ajustadas por idade, sexo e maturação sexual. Os resultados indicaram que 27,6% dos adolescentes apresentaram risco coronariano elevado, sem associação com o sexo (p = 0,764). Os valores médios deste índice, segundo as categorias de risco baixo/médio e elevado foram 1,16 e 1,20, respectivamente para ambos os sexos. Constatou-se uma forte correlação entre o índice de conicidade e a razão cintura-altura (0,732) e correlações moderadas com as circunferências abdominais e o índice de massa corporal, todas signifi cantes estatisticamente (p<0,0001). Dessa forma, o risco coronariano avaliado pelo índice de conicidade apresentou alta magnitude e mostrou correlação positiva e signifi cante com a razão cintura-altura. Destaca-se, portanto, que este índice pode ser utilizado na triagem para a detecção precoce de eventos cardiovasculares em adolescentes.
Palavras-chave: Índice de conicidade. Antropometria. Adolescente. Fatores de risco.
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.; AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C. S. Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
101
INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares (DCV) representam a primeira causa de mortalidade
no Brasil (BRASIL, 2010) e no mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009). O
processo aterosclerótico tem início na infância, com gravidade proporcional ao número
de fatores de risco apresentados pelo indivíduo durante a vida (FREEDMAN et al., 2001;
MENDES et al., 2006; MONEGO; JARDIM, 2006; SOROF; DANIELS, 2002). Muitos destes
fatores estão associados à obesidade e ao excesso de adiposidade abdominal, que
favorecem a intolerância à glicose, hiperinsulinemia, diabetes, hipertensão e alterações
nas concentrações de lipídios e lipoproteínas plasmáticas (BOZZA et al., 2009; FREEDMAN
et al., 1999; JANSSEN et al., 2005; KLEIN et al., 2007).
Poucos estudos têm avaliado o risco coronariano por meio do índice de Conicidade
(Índice C) em adolescentes. Classicamente, os indicadores antropométricos utilizados
nesta fase da vida são o Índice de Massa Corporal (IMC), como indicativo de obesidade
generalizada e as circunferências da cintura (CC) ou do abdômen (CA) e razão cintura/
altura (RCA), como marcadores de obesidade central, estando as últimas mais associadas
às doenças cardiovasculares (ALVAREZ et al., 2008; BOZZA et al., 2009; KLEIN et al., 2007;
SAVVA et al., 2000; TAYLOR et al., 2008).
Em adultos, verifi ca-se que o Índice C constitui-se em um indicador mais específi co
para avaliar fatores de risco coronariano, devido estar fortemente relacionado com as
alterações das concentrações séricas de lipídios e lipoproteínas, glicemia e pressão arterial
(PITANGA; LESSA, 2007).
O Índice C está baseado no princípio que o corpo humano muda do formato de
um cilindro para o de um “cone duplo”, com o acúmulo de gordura ao redor da cintura
(VALDEZ, 1991). Esta medida apresenta vantagens, tais como informações da adiposidade
geral e central; maior comparabilidade entre pessoas com mesmo peso e altura, bem
como de diferentes biótipos e etnias (VALDEZ et al., 1993). Confi gura-se então, como
uma medida independente da circunferência do quadril, aspecto importante em se
tratando de adolescentes, devido às variações corpóreas próprias da fase puberal (PEREZ;
LANDAETA-JIMÉNEZ; VASQUÉZ, 2000; VELDHUIS et al., 2005). Em adicional, trata-se de
uma ferramenta antropométrica de baixo custo e de fácil padronização.
Neste sentido, o estudo teve como objetivo estimar a prevalência de risco coronariano
em adolescentes utilizando o índice de Conicidade e avaliar sua relação com outros
indicadores de adiposidade corporal.
MÉTODOS
DELINEAMENTO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO
Estudo transversal realizado no período de 2007 a 2008, com subamostra de
adolescentes na faixa etária de 10 a 16 anos, provenientes de escolas municipais dos
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.; AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C. S. Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
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distritos sanitários Norte e Sul, no âmbito do projeto “Fatores de risco para DCV entre
Adolescentes Benefi ciários do Programa Nacional de Alimentação Escolar - Natal/Rio
Grande do Norte”. O plano amostral foi determinado por amostragem aleatória estratifi cada
em dois estágios, com base na população alvo de 19.270 alunos no distrito Norte e 4.128,
no Sul, e prevalências estimadas de pressão arterial elevada, conforme estudo piloto com
oito escolas (ρ̂ Norte = 14,6% e ρ̂ Sul = 8,8%). O limite de erro de estimação foi de 2,5% e
20% de previsão para perdas amostrais, resultando no tamanho de amostra n = 224 alunos e
amostragem estratifi cada com alocação de Neyman para defi nição dos tamanhos de amostra
por distritos, resultando em: nNorte = 192 , nSul = 33. A pressão arterial elevada foi utilizada
para o cálculo amostral por ser o fator de risco cardiovascular de menor prevalência nesta
população. Esses dois distritos sanitários foram escolhidos por se tratar de localidades
dispares do ponto de vista de infraestrutura urbana e populacional, e representa 52% da
amostra total pesquisada.
Para determinação do número de escolas, foi considerado o número médio de alunos
por escola, supondo-se aproximadamente igual a variância desse número nos distritos. O
tamanho da amostra resultou em 12 escolas e, de acordo com a alocação proporcional por
distrito obteve-se nove escolas no distrito norte e três no sul. A seleção das escolas foi feita
por sorteio aleatório sistemático, com amostra distribuída de forma proporcional aos totais
de alunos das escolas sorteadas.
Foram incluídos os adolescentes que frequentavam regularmente a escola, na faixa
etária de interesse defi nida no momento da primeira coleta de dados; e excluídos aqueles
com síndromes genéticas associadas à obesidade ou a outras doenças, gestantes e os
que apresentavam necessidades especiais. Todos os participantes ou seus responsáveis
apresentaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, conforme protocolo aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (nº 112/06).
ANTROPOMETRIA
As medidas antropométricas foram aferidas em duplicata por estudantes de
Nutrição devidamente capacitados. Para registro dos dados foi preenchido um formulário
padronizado, contemplando informações de identifi cação e dados antropométricos. Na
aferição da altura, da CC e da CA, quando houve diferença superior a 0,5cm entre as duas
primeiras mensurações, realizou-se uma terceira medida e considerou-se a média das duas
mais próximas. A reprodutibilidade das medidas antropométricas foi verifi cada e a diferença
média entre cada uma das duas medidas variou de -0,0016±0,29cm a -0,0281±0,28cm.
ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC)
O IMC foi calculado a partir da relação do peso (em kg) e da altura (em metros)
ao quadrado. O peso foi aferido com o auxílio de uma balança Tanita®, do tipo solar,
modelo HS301, com capacidade de 150kg e precisão de 100g; a estatura foi obtida com
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.; AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C. S. Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
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um estadiômetro portátil do tipo altura exata (precisão de 1mm). Ambas as medidas foram
mensuradas conforme as técnicas recomendadas pela World Health Organization (1995).
CIRCUNFERÊNCIAS ABDOMINAIS
As circunferências corporais foram medidas conforme as técnicas recomendadas pela
World Health Organization (1995), com o auxílio de uma fi ta antropométrica de material
não elástico, com precisão de 1mm. A circunferência do abdômen (CA) foi aferida no ponto
médio entre a última costela e a crista ilíaca. Enquanto que a circunferência da cintura foi
mensurada na parte mais estreita do tronco, entre a última costela e a crista ilíaca.
ÍNDICE DE CONICIDADE
O Índice C foi calculado a partir da circunferência do abdômen, peso corporal e altura.
Foi realizada uma adaptação metodológica em relação ao uso da medida de circunferência
abdominal, considerando que seria a mais próxima do referencial anatômico proposto
originalmente para o cálculo do Índice C. O Índice C foi calculado a partir da fórmula
(VALDEZ, 1991):
Índice C =C . Abdômen (m)
0,109Peso Corporal (kg)
Altura (m)
O risco coronariano avaliado pelo Índice C foi categorizado em elevado, quando maior
ou igual ao percentil 75 (P≥75) e baixo e/ou médio quando apresentou valores inferiores ao
percentil 75 (P<75). Optou-se pelo P75 da distribuição do Índice C da população estudada
considerando que a partir deste centil foi possível identifi car diferença entre médias de IMC,
circunferências da cintura e do abdômen e razão cintura/altura, indicadores antropométricos
clássicos relacionados ao risco cardiovascular.
RAZÃO CINTURA / ALTURA
A razão cintura/altura (RCA) foi avaliada a partir da divisão entre a circunferência
do abdômen (cm) e a altura (cm), segundo Savva et al. (2000). Apesar de ter sido utilizada
a circunferência do abdômen, optou-se em utilizar a nomenclatura padronizada na
literatura.
DESENVOLVIMENTO PUBERAL
Uma equipe de pediatras procedeu a avaliação da maturação sexual, utilizada como
variável controle, segundo método de Tanner, considerando o desenvolvimento das
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.; AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C. S. Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
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mamas (MARSHALL; TANNER, 1969) e genitais (MARSHALL; TANNER, 1970) em estágios
do 1 ao 5, respectivamente para meninas e meninos.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
O banco de dados foi construído no software EPI-INFO versão 6.04, no qual as
variáveis foram pré-codifi cadas. A análise foi realizada nos softwares Microsoft Offi ce
Excel 2007 e SPSS 9.0.
Todas as variáveis antropométricas foram apresentadas por meio de medidas de
tendência central e de dispersão (média, mediana e desvio padrão) e distribuição em
percentil considerando o P75. A associação do risco coronariano elevado com o sexo foi
verifi cada pelo teste de qui-quadrado (χ2).
A correlação entre o Índice C e variáveis de adiposidade corporal foi verifi cada
pelo coefi ciente parcial de Pearson, ajustado por idade (como variável contínua), sexo
e maturação sexual (cinco estágios).
As diferenças entre as médias das variáveis antropométricas em relação ao sexo e
ao risco coronariano medido pelo Índice C (elevado e baixo/médio) foram verifi cadas
pelo teste t-Student. Para comparar as médias entre as circunferências abdominais nos
dois pontos anatômicos aferidos (cintura e abdômen), utilizou-se o teste t-pareado.
Todas as análises estatísticas foram consideradas signifi cantes quando o p-valor foi
menor que 5%.
RESULTADOS
Participaram efetivamente do estudo 185 adolescentes, resultando em 17,4%
de perda do universo amostral inicial, já prevista no cálculo do tamanho da amostra.
Destes, 50,8% (n=94) eram do sexo masculino e a média da idade, peso e altura dos
adolescentes estudados foi de 11,8 anos, 39,4 kg e 146,0cm; sem diferenças entre médias
em relação ao sexo (p=0,630; p=0,175; p=0,135; respectivamente). Conforme avaliação do
desenvolvimento puberal, a maioria dos meninos (71,7%) encontrava-se nos estágios 1 e
2, ao passo que 50% das meninas, nos estágios 4 e 5 de maturação sexual. A prevalência
de elevado risco coronariano medido pelo Índice C foi de 27,6%, sem associação com o
sexo (p = 0,764) (dados não apresentados em tabelas).
As características antropométricas da população estudada estão representadas na
tabela 1. Observou-se que não houve diferença estatística dos valores médios das variáveis
antropométricas (IMC, CC, CA, RCA e Índice C) entre os sexos.
A análise dos coefi cientes de correlação parcial entre o Índice C e IMC, CC, CA e RCA,
ajustados pela idade, sexo e maturação sexual revelaram que o Índice C se relacionou de
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.; AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C. S. Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
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maneira positiva e signifi cativa com todas as variáveis (p<0,0001), como mostra a tabela 2,
sendo mais forte para a RCA.
Tabela 1 – Características antropométricas de adolescentes de escolas municipais
de Natal, RN (2007-2008)
VariáveisMasculino Feminino
x ±DP P50 P75 x ±DP P50 P75 p-valor*
IMC (kg/m2) 17,9±3,3 17,10 18,84 18,4±3,7 17,65 19,96 0,290
CC (cm) 63,3±8,2 61,2 66,5 63,2±7,4 61,6 67,5 0,917
CA (cm) 65,0±9,0 63,1 68,3 66,2±9,1 63,4 70,4 0,350
RCA 0,45±0,05 0,43 0,46 0,45±0,05 0,43 0,47 0,907
Índice C 1,17±0,05 1,16 1,20 1,17±0,06 1,16 1,20 0,673
*p-valor refere-se a diferença entre masculino e feminino.CC: circunferência da cintura; CA:circunferência do abdômen; RCA: Razão cintura-altura; Índice C: índice de conicidade.
Tabela 2 – Coefi cientes de correlação parcial* entre o Índice C e as variáveis antropométricas de adolescentes, ajustados por idade, sexo e maturação sexual. Natal (RN), 2007-2008
Variáveis Antropométricas Índice C
Índice de Massa Corporal (kg/m2) 0,423
Circunferência da Cintura (cm) 0,624
Circunferência do Abdômen (cm) 0,685
Razão Cintura-Altura 0,732
*p<0,0001 para todos os coefi cientes de correlação.
Índice C: índice de conicidade.
Os valores médios e desvio padrão das variáveis antropométricas, de acordo com as
categorias de Índice C foram semelhantes entre os sexos e signifi cativamente maiores nos
adolescentes que apresentaram elevado risco coronariano (Tabela 3).
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.; AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C. S. Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
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Tabela 3 – Valores médios (±DP) das variáveis antropométricas de adolescentes, conforme risco coronariano medido pelo Índice C, segundo o sexo. Natal, RN, 2007-2008
Variáveis
Índice C
≥ P75Elevado
< P75Baixo/moderado
Masculino n=25 n=69
Índice de Massa Corporal (kg/m2) 20,3±5,0* 17,0±1,7
Circunferência da Cintura (cm) 70,1±11,2* 60,8±4,9
Circunferência do Abdômen (cm) 72,7±12,4* 62,2±5,2
Razão Cintura-Altura 0,50±0,06* 0,43±0,02
Feminino n=26 n=65
Índice de Massa Corporal (kg/m2) 21,1±4,8* 17,3±2,5
Circunferência da Cintura (cm) 70,0±8,1* 60,4±5,1
Circunferência do Abdômen (cm) 75,3± 9,5* 62,6±5,9
Razão Cintura-Altura 0,50±0,06* 0,43±0,03
Total n=51 n=134
Índice de Massa Corporal (kg/m2) 20,7±4,9* 17,2±2,1
Circunferência da Cintura (cm) 70,0±9,6* 60,6±5,0
Circunferência Abdômen (cm) 74,0±11,0* 62,4±5,5
Razão Cintura-Altura 0,50±0,06* 0,43±0,03*Teste t-Student, p < 0,0001.
DISCUSSÃO
O estudo pioneiro relacionando o índice C e o risco cardiovascular foi realizado
por Valdez et al. (1993), que verifi cou a relação deste índice e o perfi l lipídico em adultos.
No Brasil, Pitanga e Lessa (2007) realizaram estudo de validação utilizando o escore de
Framingham, em população de adultos de Salvador, Bahia, denominando o risco como
coronariano. No presente estudo, optou-se em utilizar a nomenclatura deste último autor.
O Índice C tem sido utilizado como alternativa para avaliar distribuição da
adiposidade em adolescentes (PEREZ; LANDAETA-JIMÉNEZ; VASQUÉZ, 2002; PITANGA;
LESSA, 2007). A maturação sexual foi utilizada neste estudo como variável de ajuste,
uma vez que a puberdade desencadeia modifi cações antropométricas e de composição
corporal, portanto, deve ser considerada na avaliação do estado nutricional, e não
somente quanto à idade cronológica e sexo (BARBOSA; FRANCESCHINI; PRIORE, 2006;
VELDHUIS et al., 2005).
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.; AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C. S. Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
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Cuidados também foram direcionados quanto ao conhecimento da variação da CA
e da CC, que resultou em diferença média de 2,35±2,25cm (p<0,0001, t-pareado). Apesar
de estas medidas serem aferidas em pontos anatômicos distintos, tem sido frequentemente
utilizadas para compor os critérios de classifi cação de obesidade central, com o mesmo
termo técnico ou signifi cado. Portanto, para identifi car a obesidade central a partir das
circunferências abdominais é necessário primeiramente defi nir o critério de classifi cação
a ser utilizado, para então escolher o referencial anatômico adequado para a pesquisa.
Neste estudo, a prevalência do elevado risco coronariano foi preocupante e superior
ao observado em adolescentes venezuelanos, que foi de 14% no sexo masculino e 15%, no
feminino. A mediana do Índice C foi semelhante em ambos os sexos e seu valor diminuiu à
medida que a idade aumentou, especialmente para os meninos. Além disso, para as distintas
idades, os meninos apresentaram valores mais elevados de Índice C (1,02 – 1,18) que as
meninas (0,99 – 1,14) (PEREZ; LANDAETA-JIMÉNEZ; VASQUÉZ, 2000).
Uma pesquisa realizada na ilha de Chipre com adolescentes de 10 a 14 anos também
investigou a média dos indicadores IMC, CC e RCA, segundo os percentis 50 e 75 da
distribuição. Os resultados mostraram que todos os valores obtidos foram mais elevados
do que os encontrados na presente pesquisa. Além disso, esses autores verifi caram que os
adolescentes que excederam o percentil 75 para esses três indicadores, apresentaram valores
médios mais elevados de outros fatores de risco cardiovascular (colesterol total, triglicérides,
high-density lipoprotein cholesterol - HDL-C, low-density lipoprotein cholesterol - LDL-C, e
pressão arterial sistólica e diastólica) (SAVVA et al., 2000).
O Índice C forte e positivamente relacionado à RCA refl ete a pertinência desta
medida pelo fato da RCA estar relacionada com a predição de vários fatores de risco
cardiovasculares (HO; LAM; JANUS, 2003; HSIEH; YOSHINAGA; MUTO, 2003; LIN et al.,
2002). Em outros estudos, também foi observado que as circunferências abdominais estão
mais relacionadas aos fatores de risco cardiovasculares do que o IMC (ALVAREZ et al.,
2008; FERNÁNDEZ et al., 2004; FREEDMAN et al., 1999).
Verifi cou-se como limitação a escassez de estudos utilizando o Índice C em adolescentes,
difi cultando a interpretação dos resultados fundamentada em análises comparativas. Além
disto, pesquisas de delineamento transversal não permitem identifi car a precedência no
tempo entre a exposição e o desfecho. No entanto, estas limitações não comprometem os
achados diante do embasamento conceitual e metodológico explorados.
CONCLUSÕES
O Índice C indicou uma relevante prevalência de elevado risco coronariano nos
adolescentes avaliados. A forte correlação entre este índice e a RCA reforça a predição de
risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares nesta população.
Recomenda-se que outras investigações sejam realizadas, visando a determinação
de pontos de corte mais adequados para a avaliação do Índice C em adolescentes.
MARQUES, M. P.; LYRA, C. O.; LIMA, S. C. V. C.; PINHEIRO, L. G. B.; AZEVEDO, P. R. M.; ARRAIS, R. F.; MIRANDA, A. L.; PEDROSA, L. F. C. S. Risco coronariano em adolescentes estimado pelo índice de Conicidade. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 99-109, abr. 2011.
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Recebido para publicação em 03/04/10.Aprovado em 09/02/11.
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110
111
Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq), Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ). N° do Processo: 35.0210/2007-1.
Artigo original/Original Article
Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da ParaíbaEpidemiological profi le of the nutritional status in children assisted in daycare centers in the state of Paraíba
CAROLINA PEREIRA DA CUNHA SOUSA¹; MAYANA
PEREIRA DA CUNHA SOUSA²; ANA CAROLINA DANTAS ROCHA¹; DIXIS
FIGUEROA PEDRAZA³1Estudante de Iniciação
Científi ca PIBIC/CNPQ/UEPB, Curso de Enfermagem
da Universidade Estadualda Paraíba.
2Estudante Colaboradora de Iniciação Científi ca, Curso
de Fisioterapiada Universidade Estadual
da Paraíba.3Doutor em Nutrição.
Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Núcleo
de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas
da Universidade Estadualda Paraíba.
Endereço para correspondência:
Carolina Pereirada Cunha Sousa
Rua Dorinha de Vasconcelos, 155, Santa Rosa. Campina
Grande-PB. CEP 58416-340.E-mail: carolina_pcs@
hotmail.comAgradecimentos:aos dirigentes da
Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Humano por viabilizarem o desenvolvimento da
pesquisa. Às estudantes, dos cursos da área de saúde da
Universidade Estadual da Paraíba, pela colaboração no
estudo. Aos pais, crianças e funcionários das creches,
que participaram do estudo.
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA
PEDRAZA, D. Epidemiological profi le of the nutritional status in children assisted in daycare centers in the state of Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1,p. 111-126, abr. 2011.
This was a cross-sectional study to evaluate the nutritional status of children younger than 6 years old from daycare centers in the state of Paraíba and its association with food intake and health condition. The nutritional status was evaluated by height-for-age and weight-for-height anthropometric indices. Children presenting such ratios with values of 2 z scores below the standard population according to the World Health Organization were diagnosed with malnutrition. In the case of overweight/obesity, children presenting values of 2 z scores above the standard population were considered overweight/obese. The food consumption was monitored through a 24-hour dietary recall. The health condition of children was analyzed, considering the presence of signals and symptoms of infection. Statistical analyses were carried out using software SPSS-8.0, considering a signifi cance level of 5%. The prevalence of stunting, wasting and overweight/obesity, from a total of 353 children, were 7.36%, 1.13% and 6.23%, respectively. The variables vaccination schedule, birth weight, blood in the feces, number of rooms at home, per-capita income and maternal stature were statistically associated with stunting. The weight-for-height index was associated with the variables child’s age vaccination schedule, supplementation with vitamin A, the participation of macronutrients in the total-energy value and the mother’s age. Expressive prevalence of stunting and overweight/obesity was verifi ed, thus justifying the need for a nutritional intervention in order to prevent and control these problems.
Keywords: Nutritional Status. Child Malnutrition. Daycare Centers.
ABSTRACT
112
RESUMORESUMEN
Estudio transversal con el objetivo de evaluar el estado nutricional de niños menores de6 años que frecuentan jardines infantiles del Gobierno de Paraíba, Brasil, y su asociación con el consumo de alimentos y las condiciones de salud. Para la evaluación del estado nutricional fueron analizados los índices estatura/edad y peso/estatura, considerándose con déficit nutricional los niños que presentaron índices con puntaje z abajo del valor mediano del patrón de crecimiento infantil de la Organización Mundial de la Salud. Para el caso de sobrepeso/obesidad fue considerado el índice peso/estatura con puntaje z sobre la referencia. La evaluación de la ingestión de alimentos fue realizada por recordatorio de 24 horas. La condición de salud de los niños fue analizada considerando la presencia de señales y síntomas de infección. Fueron realizadas análisis estadísticas para proporciones con el programa SPSS-8.0, ponderando un nivel de signifi cancia de 5%. La prevalencia de défi cit de estatura, défi cit de peso y sobrepeso/obesidad en un total de 353 niños estudiados, fue de 7,36%, 1,13% y 6,23% respectivamente. Las variables esquema de vacunación, peso al nacer, sangre en las heces, número de cuartos en el domicilio, renta familiar per cápita y estatura materna se relacionaron estadísticamente con el défi cit de estatura. El peso/estatura mostró relación con las variables edad del niño, esquema de vacunación, suplementación con vitamina A, adecuación de macro nutrientes en el valor energético total de la dieta y edad materna. Fueron detectadas prevalencia expresiva de défi cit de estatura y sobrepeso/obesidad, justifi cando la necesidad de intervenciones nutricionales para la prevención y control de estos problemas.
Palabras clave: Estado nutricional. Desnutrición infantil. Jardines infantiles.
Realizou-se estudo transversal com o objetivo de avaliar o estado nutricional de crianças menores de seis anos assistidas nas creches do Estado da Paraíba e sua associação com o consumo de alimentos e as condições de saúde. Para a avaliação do estado nutricional, foram analisados os índices estatura/idade e peso/estatura, considerando-se com défi cit nutricional, as crianças que apresentaram índices dois escores z abaixo do valor mediano do standard de crescimento infantil da Organização Mundial da Saúde. Para o caso do sobrepeso/obesidade, foi considerado o índice peso/estatura dois escores z acima da referência. A avaliação do consumo de alimentos foi realizada por recordatório de 24 horas. A condição de saúde da criança foi analisada considerando a presença de sinais e sintomas de infecção. Foram realizadas análises estatísticas para proporções com o programa SPSS-8.0, ponderando um nível de signifi cância de 5%. As prevalências de baixa estatura, défi cit de peso e sobrepeso/obesidade, de um total de 353 crianças estudadas, foram de 7,36%, 1,13% e 6,23%, respectivamente. As variáveis esquema de vacinação, peso ao nascer, sangue nas fezes, número de cômodos no domicílio, renda per capita e estatura da mãe se associaram estatisticamente com o défi cit de estatura. O peso/estatura mostrou-se associado com as variáveis: idade da criança, esquema de vacinação, suplementação com vitamina A, adequação da participação de macronutrientes no valor energético total da alimentação e idade da mãe. Verifi caram-se prevalências expressivas de défi cit de estatura e sobrepeso/obesidade, justificando a necessidade de intervenções nutricionais para a prevenção e controle destes agravos.
Palavras-chave: Estado nutricional. Desnutrição infantil. Creches.
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
113
INTRODUÇÃO
O estado de nutrição, particularmente no caso das crianças, refl ete mais do que
qualquer outra condição do espectro saúde/doença o processo de ajustamento de indivíduos
e populações ao seu ambiente físico, biótico e social. Sob essa perspectiva, as defi ciências
nutricionais expressam um desequilíbrio na relação hospedeiro/habitat mediado por
restrições no consumo de alimentos, nas disfunções relacionadas com o aproveitamento
biológico de energia e nutrientes ou, o que é mais comum, pela interação sinérgica dessas
duas vertentes (RISSIN et al., 2006). Ao contrário, se o consumo energético excede as
exigências biológicas acima dos níveis toleráveis, a tendência é a instalação da chamada
patologia dos excessos nutricionais (FIDELIS; OSORIO, 2007).
A desnutrição na infância, expressa pelo comprometimento do crescimento linear
e/ou ponderal, é ainda um dos principais problemas de saúde enfrentados pelos países
em desenvolvimento, quer pela elevada prevalência, quer pela carga de morbidade que
se associa a esse evento (OLIVEIRA et al., 2007). Segundo Romani e Lira (2004), o retardo
estatural constitui, atualmente, a característica antropométrica mais representativa do quadro
epidemiológico do crescimento de crianças no Brasil e no mundo. Diversos estudos têm
demonstrado que o Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, convive com a
transição nutricional, determinada frequentemente pela má-alimentação. Ao mesmo tempo
em que se assiste à redução contínua dos casos de desnutrição, são observadas prevalências
crescentes de excesso de peso, contribuindo com o aumento das doenças crônicas não
transmissíveis (COUTINHO; GENTIL; TORAL, 2008).
De forma simplifi cada, a desnutrição e o excesso de peso são representações de
dois modelos bem distintos e até antagônicos, justifi cando a conduta de enfoques clínicos
e epidemiológicos diferenciados (BATISTA FILHO et al., 2008). A natureza multicausal do
crescimento infantil, além de estar centrada na interação sinérgica entre o consumo inadequado
de alimentos e o desenvolvimento de enfermidades infecciosas, compreende outras variáveis
que devem ser destacadas pela sua relevância: i) biológicas: sexo, peso e comprimento ao
nascer; ii) maternas: idade, peso e estatura da mãe; iii) condições de saneamento ambiental:
abastecimento e tratamento da água, destino do lixo e esgotamento público; iv) acesso aos
serviços de saúde: imunizações, internações hospitalares, pré-natal; vi) socioeconômicas:
renda per capita familiar, ocupação/trabalho feminino fora do lar, escolaridade materna,
tipo de moradia, número de irmãos pequenos, coabitação com o pai da criança, número de
equipamentos domésticos no lar; vii) nutricionais: estado nutricional de micronutrientes (zinco,
ferro, vitamina A) (ROMANI; LIRA, 2004). O sobrepeso/obesidade apresenta principalmente
fatores biológicos e comportamentais de risco. Entre esses fatores, destacam-se as variáveis
nutricionais, representadas pela alimentação hipercalórica e seus desvios específi cos: consumo
excessivo de açúcares simples, de gorduras animais, de ácidos graxos saturados, de gorduras
trans, ao lado do sedentarismo crescente, tabagismo, uso imoderado de bebidas alcoólicas
e outras práticas de vida não saudáveis (BATISTA FILHO et al., 2008).
Nos últimos anos, poucos estudos de base populacional sobre o estado nutricional e
fatores associados têm sido realizados, no Brasil (VITOLO et al., 2008). Dados resultantes
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
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da avaliação do Programa Bolsa Alimentação, ao estudar crianças menores de sete anos
de idade de municípios do Nordeste do Brasil, indicam a tendência de manutenção das
altas prevalências de défi cit no crescimento linear (15,1%) e ponderal (10,7%) e sustentam
também o diferencial da distribuição dos défi cits do crescimento na infância entre as regiões,
especialmente nas populações de baixa renda (BRASIL, 2004). Nesse contexto, a utilização das
creches por crianças em condições socioeconômicas menos favorecidas é considerada uma
das estratégias dos países subdesenvolvidos para garantir o crescimento e desenvolvimento
das mesmas, demonstrado associação positiva entre a permanência de crianças em creches
e seu estado nutricional. Entretanto, o aumento de episódios de doenças infectocontagiosas
e de outras doenças de maior gravidade associado à institucionalização, pode repercutir
negativamente no estado nutricional das crianças (ZÖLLNER; FISBERG, 2006).
Com base no supracitado, e considerando a infl uência decisiva do estado nutricional
nos riscos de morbi-mortalidade, é de fundamental interesse investigar a etiologia da
desnutrição infantil em crianças assistidas em creches. É nesta perspectiva que o presente
estudo se propõe a avaliar o estado nutricional de crianças assistidas nas creches do Governo
da Paraíba e sua associação com o consumo de alimentos e as condições de saúde, a fi m
de subsidiar a formulação e/ou reformulação das ações nutricionais correspondentes.
MÉTODOS
Realizou-se estudo transversal, integrado a um projeto mais amplo intitulado “Desnutrição
crônica e defi ciência de zinco em crianças pré-escolares de similar vulnerabilidade social do
Estado da Paraíba, Brasil”. O estudo foi desenvolvido em creches da Secretaria de Estado
do Desenvolvimento Humano do Governo da Paraíba. Ao todo funcionam 45 creches em
bairros distintos das cidades benefi ciadas, situadas, geralmente, em áreas carentes que
abrigam crianças de famílias de baixa renda (percebem uma renda familiar entre um e dois
salários mínimos). O benefício está presente em oito municípios paraibanos: João Pessoa
(30 creches), Campina Grande (9 creches), além das cidades de Areia, Bayeux, Mamanguape,
Itaporanga, Soledade e Umbuzeiro (cada uma delas com uma creche). O universo é de
4.000 crianças benefi ciadas, distribuídas, aproximadamente, em 2.800 no município de João Pessoa,
750 no município de Campina Grande e 450 nos outros municípios.
Foi selecionada uma amostra probabilística de creches da Secretaria de Estado do
Desenvolvimento Humano do Governo da Paraíba, utilizando-se um procedimento de
amostragem por conglomerados em duas etapas. Para garantir a representatividade dos
municípios, o sistema de referência para a primeira etapa de amostragem foi ordenado
segundo estratos (João Pessoa, Campina Grande, outros municípios), possibilitando a
obtenção de um tamanho amostral apropriado para cada estrato. Considerou-se também
o porte da creche (número de crianças por creche). Na segunda etapa de amostragem,
foram sorteadas, nas 14 creches selecionadas de forma aleatória na primeira etapa, as
crianças a serem avaliadas. A opção para determinar o tamanho da amostra do estudo
foi através do procedimento de amostragem para proporções:
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
115
n =
N * Z2α * p * q
=
4000 * 3,8416 * 0,105 * 0,895
= 364,65d2 * (N – 1) + Z2α * p
* q0,0009 * 3999 + 3,8416 * 0,105 * 0,895
onde N é o total da população, Zα2 = 1.962 (se a confi ança é do 95%), p é a proporção
esperada, q = 1 – p, d é a precisão arbitraria (erro de estimação). Considera-se p = 10,5
(média do défi cit de altura para o Brasil, PNDS 1996) (SOCIEDADE CIVIL BEM-ESTAR
FAMILIAR NO BRASIL, 1997) e d = 3%, totalizando 365 crianças entre 6 e 72 meses que
foram sorteadas de forma aleatória no momento do trabalho de campo.
A coleta de dados foi realizada nas creches, de forma transversal, por entrevistadores
treinados (estudantes da área de saúde e três professores pesquisadores da Universidade
Estadual da Paraíba). Eles foram treinados pelo coordenador do projeto para aplicar um
questionário, contendo informações sobre as crianças (características biológicas, condições
de saúde e consumo de alimentos) e sobre outras variáveis de interesse (características
ambientais e antecedentes maternos). O treinamento também incluiu a obtenção do peso
e estatura das crianças e das mães, seguindo as recomendações de padronização da
Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995).
As informações obtidas, mediante entrevista realizada com as mães ou responsáveis
pelas crianças, através do questionário, previamente testado incluíram: sexo; ocorrência
de diarreia, sangue nas fezes, febre ou problemas respiratórios nos 15 dias anteriores à
entrevista; e cuidados durante a gravidez (suplementação com sulfato ferroso, imunização
antitetânica e realização de três ou mais consultas de pré-natal). Para obter os dados sobre
a data de nascimento, peso ao nascer e situação vacinal durante o primeiro ano de vida
foi utilizado o cartão de saúde da criança. Para os dados socioeconômicos, foi utilizada a
informação fornecida na fi cha da criança, exceto a dos dados sobre a renda. O cartão de
saúde da criança e a fi cha da criança são de uso obrigatório em todas as creches. A renda
familiar foi estimada considerando a soma dos salários dos membros da família com outros
benefícios (doação ou pensão alimentícia, remessas e programas assistenciais). O salário
da família sempre foi conferido com aquele fornecido na fi cha da criança.
Para obtenção do peso corporal das crianças, foi permitida apenas uma peça íntima leve.
No caso de crianças que usavam fraldas, estas foram retiradas. Utilizou-se balança eletrônica
do tipo plataforma com capacidade para 150kg e graduação em 100g (Tanita UM-080®). O
processo de pesagem das crianças menores foi por verifi cação de diferenças: o adulto era
pesado, a balança eletrônica era zerada e, em seguida, pesava-se a criança no colo daquele
adulto. A mensuração do comprimento das crianças menores de 24 meses foi realizada na
posição deitada com antropômetro infantil de madeira (construção própria) com amplitude
de 130cm e subdivisões de 0,1cm. A estatura das crianças entre 25 e 72 meses e das mães foi
realizada utilizando estadiômetro (WCS®) com escala em milímetros (mm), devendo a pessoa
estar em pé e descalça. Para a obtenção do comprimento e da estatura, foram removidos
enfeites e prendedores de cabelo e os indivíduos foram colocados na posição certa (pernas e
pés paralelos, braços relaxados ao lado do corpo, corpo encostado na superfície vertical do
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
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estadiômetro e cabeça no plano de Frankfurt). As medidas de peso e estatura foram tomadas
nas creches no momento em que as mães deixavam ou pegavam as crianças.
Para a avaliação do estado nutricional, foram considerados os índices estatura/idade
e peso/estatura, comparados com o standard de crescimento infantil da OMS (ONIS et
al., 2004), utilizando o programa WHO Anthro 2005 versão beta. Foram consideradas com
défi cit nutricional todas as crianças que apresentaram índices dois escores z abaixo do valor
mediano da população de referência (<-2 escores z como ponto de corte para classifi car
défi cit nutricional). Para o caso do sobrepeso/obesidade, foi considerado o índice peso/
estatura dois escores z acima da referência.
A baixa estatura materna foi defi nida pelo ponto de corte 155,0cm. Esse valor
corresponde ao percentil 5 da relação estatura para idade, onde idade é igual a 20 anos
do National Center for Health Statistics (2000), assumindo que a essa idade perde-se a
capacidade de crescer (segundo a OMS, a adolescência corresponde às idades de 10
a 19 anos) (NATIONAL CENTER FOR HEALTH STATISTICS, 2000; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2007). O índice de massa corporal (IMC), calculado pela razão entre a
massa corporal (em kg) e a estatura (em metros) ao quadrado, também foi utilizado para
a classifi cação do estado nutricional materno empregando os pontos de corte indicados
pela World Health Organization (1995).
A avaliação do consumo de alimentos foi realizada por recordatório de 24 horas,
considerando a alimentação no dia anterior em casa e o consumo de alimentos na
creche. Durante a aplicação do recordatório de 24 horas foi utilizado o álbum de registros
fotográfi cos com o fi m de diminuir erros (viés de memória, tamanho de medidas caseiras
e estimação das porções) e obter resultados mais confi áveis (CAVALCANTE; PRIORE;
FRANCESCHINI, 2004). A avaliação do consumo de alimentos na creche baseou-se no
cálculo do valor nutricional dos cardápios do dia da avaliação oferecidos nas creches
(sugeridos pelo núcleo de creches: um cardápio para cada dia da semana, mudando de
um mês para outro), considerando a quantidade de alimento pronto servido, segundo a
faixa etária da criança em cada creche. Os cálculos para quantifi car o valor energético total
da dieta e de macronutrientes foram realizados com o auxílio do software Virtual Nutri.
Foi estimada a adequação das recomendações de energia, considerando os parâmetros
da Organización de las Naciones Unidas para la agricultura y la Alimentación (2001), e a
adequação da distribuição percentual dos macronutrientes em relação ao valor energético
total, considerando o preconizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL 2002, 2006). No caso
dos cardápios oferecidos nas creches, estes também foram avaliados para estimar sua
adequação às recomendações, ponderando que a alimentação nas creches deve suprir,
no mínimo, 50% das necessidades nutricionais diárias, visto que nas mesmas as crianças
recebem duas refeições (desjejum e almoço) e um lanche diariamente.
A digitação dos dados foi realizada com dupla entrada e após o término da
digitação, os dois bancos de dados foram cruzados com a utilização do aplicativo Validate
do programa Epi Info v. 6.04b (NATIONAL CENTER FOR HEALTH STATISTICS, 2000),
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
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possibilitando assim verifi car a consistência dos dados e gerando o banco fi nal que foi
usado para análise estatística. Para analisar a infl uência das variáveis no estado nutricional
(défi cit de estatura, sobrepeso/obesidade) foi considerado (y) = estatura/idade ou peso/
estatura (≥ -2z = 0; <-2z = 1), como variável dependente. A identifi cação de diferenças
entre proporções foi realizada através do teste de qui-quadrado de Pearson. As análises
estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa SPSS. O nível de signifi cância
estatística considerado foi de 5% (p< 0,05, α = 0,05).
Todas as diretrizes éticas da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
foram contempladas e o projeto maior foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual da Paraíba, protocolado sob o número 4232.0.000.133-07.
Após o resultado do estado nutricional, os pais foram contactados para esclarecimentos
acerca do estado de saúde das crianças e correspondentes orientações nutricionais.
RESULTADOS
Da amostra de 365 crianças, registrou-se um total de 12 perdas, sendo devido ao
não comparecimento das mães ou pessoas responsáveis pelas crianças, no momento da
coleta de dados ou por recusas para participar.
A tabela 1 apresenta a distribuição das crianças segundo o estado nutricional (défi cit
de estatura, baixo peso e sobrepeso/obesidade) e a associação com as características
biológicas das crianças, condições de saúde e consumo de alimentos. A distribuição por
sexo foi de 197 (55,8%) meninos e 156 (44,2%) meninas. A avaliação do estado nutricional
segundo os índices antropométricos apontou prevalências de 7,36% de défi cit de estatura,
1,13% de baixo peso e 6,23% de sobrepeso/obesidade. O percentual de meninas e meninos
que apresentaram défi cit de crescimento linear foi de 7,6% e 7,1%, respectivamente. Para
o caso do índice peso/estatura, a prevalência de sobrepeso/obesidade foi maior entre os
meninos (7,1%) quando comparado com as meninas (5,1%), o baixo peso só foi encontrado
em crianças do sexo feminino.
Os dados que abordam aspectos relacionados com a situação de saúde da criança
revelaram que os problemas respiratórios apresentaram destaque no contexto dos processos
infecciosos, sendo 68,6% da população afetada. A perda de peso e os estados febris foram
os outros sintomas de maior importância em relação aos processos infecciosos. Por sua
vez, referindo o consumo de alimentos, os resultados evidenciaram, para a maioria das
crianças, adequação energética (71,7%) e adequação da participação dos macronutrientes
no valor energético total.
Quanto aos antecedentes maternos (Tabela 2), nota-se que 5,1% das mães tinham
menos de 20 anos, 43,9% com défi cit de estatura e 35,9% com sobrepeso/obesidade. A maior
parte das mães entrevistadas obteve expressos percentuais no que se refere a cuidados
durante a gravidez: suplementação com sulfato ferroso (84,4%), imunização com vacina
antitetânica (88,9%) e três o mais consultas de pré-natal (91,2%).
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
118
Tabela 1 – Distribuição das crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba, segundo o estado nutricional e características das crianças (biologia humana, condições de saúde e consumo de alimentos). Paraíba, 2008
VARIÁVEISTotal
ESTATURA/IDADE
p
PESO/ESTATURA
pDéfi cit de estatura(n = 26)
Estatura adequada(n = 327)
Baixo peso
(n = 4)
Peso adequado (n = 327)
Sobrepeso/ obesidade (n = 22)
(N=353) % % % % % %SexoMasculinoFeminino
197156
55,844,2
7,67,1
92,492,9
0,8410,0v2,6
92,992,3
7,15,1
0,061
Idade da criança (meses) 6 – 12 13 – 3637 – 72
985259
2,524,173,4
0,010,66,6
100,089,493,4
0,32422,21,20,4
55,689,495,0
22,29,44,6
<0,001
Esquema de vacinaçãoCompleto IncompletoSem informação
321257
90,97,12,0
6,224,00,0
93,876,0100,0
0,0040,64,014,3
93,584,085,7
5,912,00,0
0,004
Suplementação com vitamina ASim Não Sem informação
248987
70,227,82,0
6,510,20,0
93,589,8100,0
0,3650,81,014,3
94,887,885,7
4,411,20,0
0,002
Peso ao Nascer Baixo (<2500 g) Normal Sem informação
3230417
9,186,18,0
18,86,60,0
81,393,4100,0
0,0213,10,75,9
87,593,194,1
9,46,30,0
0,148
Diarreia*Sim Não
50303
14,285,8
8,07,3
92,092,7
0,8530,01,3
90,093,1
10,05,6
0,362
Sangue nas fezes*Sim Não
2351
0,699,4
50,07,1
50,092,9
0,0211,10,0
92,6100,6
6,30,0
0,923
Febre*Sim Não
128225
36,363,7
8,45,5
91,694,5
0,3031,60,9
90,693,8
7,85,3
0,544
Problemas respiratórios*Sim Não
242111
68,631,4
9,96,2
90,193,8
0,2151,20,9
91,395,5
7,43,6
0,365
Adequação de energia InadequadoAdequado
100253
28,371,7
7,57,0
93,092,5
0,8691,01,2
89,094,1
10,04,7
0,183
Participação dos Carboidratos no VETInadequado abaixo AdequadoInadequado acima
6424742
18,170,011,9
10,96,57,1
89,193,592,9
0,476
0,70,47,1
92,295,178,6
7,14,514,3
<0,001
Participação das Proteínas no VETInadequado abaixoAdequadoInadequado acima
39166148
11,147,041,9
10,36,08,1
89,794,091,9
0,596
5,11,20,0
79,595,293,2
15,43,66,8
0,004
Participação dos Lipídios no VETInadequado abaixoAdequadoInadequado acima
5125349
14,471,713,9
6,73,914,3
93,396,185,7
0,106
5,90,40,0
82,494,991,8
11,84,78,2
0,003
* Condição referida nos 15 dias anteriores à entrevista.VET: Valor Energético Total.
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
119
Tabela 2 – Distribuição das crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba, segundo o estado nutricional e outras variáveis de estudo (características ambientais e antecedentes maternos). Paraíba, 2008
VARIÁVEISTotal
ESTATURA/IDADE
p
PESO/ESTATURA
pDéfi cit de estatura(n = 26)
Estatura adequada(n = 327)
Baixo peso
(n = 4)
Peso adequado(n = 327)
Sobrepeso/ obesidade(n = 22)
(N=353) % % % % % %
Renda familiar per capita1 >= 1 SM 1/2 SM ≤ Renda/pessoa < 1 SM< 1/2 SM Sem informação
4502963
1,114,283,90,8
0,04,08,066,7
100,096,092,033,3
0,0010,00,01,40,0
100,086,693,5100,0
0,014,05,10,0
0,321
Número de cômodos no domicílio < 3 >= 4
69284
19,580,5
13,06,0
87,094,0
0,0441,41,1
92,892,6
5,86,3
0,950
Nº de indivíduos por domicílio>= 6< 6
97256
27,572,5
8,27,0
91,893,0
0,6961,21,0
91,495,9
7,43,1
0,320
Bolsa famíliaNão recebeBenefi ciário
189164
53,546,5
5,89,1
94,290,9
0,2330,61,6
94,591,0
4,97,4
0,415
Sulfato ferroso*Sim NãoSem informação
298478
84,413,32,3
7,48,50,0
92,691,5100,0
0,6950,74,30,0
93,387,2100,0
6,085,00,0
0,214
Vacina antitetânica*Sim NãoSem informação
314318
88,98,82,3
6,57,60,0
93,592,4100,0
0,7010,01,30,0
93,592,3100,0
6,56,40,0
0,901
Três o mais consultas de pré-natal*Sim NãoSem informação
322247
91,26,82,0
4,27,80,0
95,892,2100,0
0,6090,01,20,0
95,892,2100,0
4,26,50,0
0,894
Idade da mãe (anos) >= 30 25 ≤ Idade < 30 20 ≤ Idade < 25 < 20 Sem informação
12112089185
34,334,025,25,11,4
5,88,37,911,10,0
94,291,792,188,9100,0
0,8431,70,00,011,10,0
92,695,092,183,380,0
5,85,07,95,620,0
0,007
Estatura para idade da mãeBaixa (< 155,0 cm)NormalSem informação
1551908
43,953,82,3
10,35,325,0
89,794,775,0
0,0461,90,50,0
94,890,5100,0
3,39,00,0
0,147
IMC da mãe (Kg/m2)Obesidade (≥ 30)Sobrepeso (25 |– 30)Normal (20 |– 25)Baixo peso (< 20)Sem informação
3394199198
9,326,656,45,42,3
12,17,46,015,825,0
87,992,694,084,275,0
0,0720,01,10,01,50,0
84,891,594,794,0100,0
15,27,45,34,50,0
0,521
* Condição referida durante a gravidez. 1 Considerando o valor do salário mínimo da época (R$416,00).SM: Salário Mínimo.
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
120
Em relação às variáveis para medir as condições socioeconômicas, os dados
destacaram que a maior parte das crianças residia em ambientes favoráveis indicado por
frequências maiores de moradia com quatro cômodos ou mais (80,5%) e com menos de
seis pessoas por domicílio (72,5%). A média da renda familiar foi de 2,76 salários mínimos,
sendo que 83,9% das crianças pertenciam a famílias com renda familiar per capita abaixo
de 0,5 salário mínimo.
Na análise estatística (Tabelas 1 e 2), os fatores que se associaram de forma estatística
ao défi cit de estatura foram: esquema de vacinação (p = 0,004), peso ao nascer (p = 0,021),
sangue nas fezes (p = 0,021), estatura materna (p = 0,046), número de cômodos no domicílio
(p = 0,044) e renda familiar per capita (p = 0,001). Para o caso do baixo peso e o sobrepeso/
obesidade diferenças estatisticamente signifi cativas, foram encontradas nas variáveis: idade
da criança (p<0,001), esquema de vacinação (p = 0,004), suplementação com vitamina A
(p = 0,002), idade da mãe (p = 0,007), adequação dietética de carboidratos (p<0,001),
adequação dietética de proteínas (p= 0,004) e adequação dietética de lipídios (p = 0,003).
DISCUSSÃO
Avaliar o estado nutricional de crianças implica na análise da situação alimentar, de
saúde e dos cuidados. Sugere-se que o esquema “alimento-saúde-cuidados” seja utilizado
como instrumento analítico da interação dos vários determinantes da desnutrição. Nesse
esquema, a desnutrição infantil é mostrada como resultado de dieta inadequada e doenças
que resultam de falta de segurança alimentar, de cuidados inadequados da mãe para com a
criança, e de serviços de saúde defi cientes (MONTE, 2000). No presente estudo, descrevem-se
variáveis relacionadas com as condições de saúde e adequação energética que infl uenciam
o estado nutricional de crianças, assim como variáveis indiretas da capacidade das mães
ou responsáveis pelas crianças para prestar cuidados.
A população estudada apresentou uma alta prevalência de má nutrição, sendo o
défi cit linear e o sobrepeso/obesidade os mais prevalentes. Estes resultados manifestam a
tendência de outros estudos em contextos similares, assim como em outros estudos locais
e nacionais. Os resultados encontrados no estudo de Zöllner e Fisberg (2006) evidenciaram
que o défi cit nutricional mais prevalente foi o estatural (5,2%) seguido pelo sobrepeso
(5,0%), sendo baixa a prevalência de crianças com emagrecimento (0,9%). Alencar et
al. (2008) obtiveram em seu estudo sobre a desnutrição infantil no Estado do Amazonas
percentuais superiores de inadequação no índice estatura/idade (17%). Em seu estudo, Lira
et al. (2003) constataram que a avaliação do estado nutricional das crianças aos 12 meses
de idade revelou percentual de défi cit de 6,8%, 11,0% e 0,6% para os índices peso/idade,
comprimento/idade e peso/comprimento, respectivamente. Os dados referentes à Pesquisa
Nacional sobre Demografi a e Saúde da Criança e da Mulher (CENTRO BRASILEIRO DE
ANÁLISE E PLANEJAMENTO, 2008) indicam que 7,0% das crianças brasileiras apresentam
défi cit de estatura, sendo a mais importante manifestação da desnutrição energético-proteica
na população brasileira infantil.
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
121
A distribuição das crianças por sexo evidenciou uma maior proporção de défi cit de
peso entre as meninas quando comparado com os meninos. O contrário aconteceu para o
sobrepeso/obesidade e para o défi cit de estatura que resultou em maiores prevalências no
sexo masculino. Diversos autores apontam resultados similares. Guimarães e Barros (2001)
referem que, com respeito ao retardo do crescimento linear, os meninos são, em geral,
mais susceptíveis que as meninas às condições desfavoráveis de vida. A Pesquisa Nacional
sobre Demografi a e Saúde da Criança e da Mulher (CENTRO BRASILEIRO DE ANÁLISE E
PLANEJAMENTO, 2008) indicou prevalência de défi cits de estatura/idade de 8,1% e 5,8%
para meninos e meninas, respectivamente.
Com relação à faixa etária, observou-se que o défi cit de estatura e o sobrepeso/obesidade
ocorreram com maior frequência em crianças cujas idades variaram entre 13-36 meses para
o caso da estatura e entre 6-12 meses para o sobrepeso/obesidade. Além disso, a faixa etária
da criança esteve associada estatisticamente com o índice peso/estatura. Outros estudos
corroboram com os resultados encontrados. O estudo de Fisberg, Marchioni e Cardoso (2004)
encontrou associação entre a idade da criança e o défi cit de crescimento linear, atingindo
especialmente as crianças menores de 24 meses. Similar resultado ocorreu no estudo de Vitolo
et al. (2008), pois neste observou-se associação estatística entre a idade da criança e o défi cit
linear, sendo a chance de baixa estatura maior para a faixa etária de até 36 meses (10,7%). Na
Pesquisa Nacional sobre Demografi a e Saúde da Criança e da Mulher (CENTRO BRASILEIRO
DE ANÁLISE E PLANEJAMENTO, 2008), a frequência do retardo de crescimento mais do
que duplicou do primeiro para o segundo ano de vida, quando alcançou seu pico (12,3%),
reduzindo-se progressivamente nas idades posteriores. Assim, as maiores prevalências de
défi cit de estatura foram encontradas nas faixas etárias de 12-35 meses com valores de 19,5%.
Para o caso do sobrepeso/obesidade a pesquisa apontou a faixa etária de 36-59 meses com
valores mais prevalentes (14,5%), diferente do encontrado no presente estudo.
O peso ao nascer se mostrou estatisticamente signifi cante para o índice estatura/idade.
A condição de nascer com peso inferior a 2500 gramas se constitui um expressivo fator de
risco relacionado ao crescimento e desenvolvimento, difi cultando a amamentação dessas
crianças e tornando-as mais vulneráveis à ocorrência de doenças infecciosas frequentes
(principalmente diarreia e infecções respiratórias), repetidas e prolongadas com sequelas de
fundamental importância, muitas vezes, conduzindo à morte (ROCHA et al., 2007; ROMANI;
LIRA, 2004). O baixo peso ao nascer mostrou-se altamente associado com o défi cit no
crescimento linear, quando comparado com o peso adequado ao nascimento em crianças
menores de dois anos do Estado da Bahia (OLIVEIRA et al., 2006), em crianças de 4 meses
a 6 anos de idade residentes em favelas da cidade de Maceió (SILVEIRA et al., 2010), e em
crianças pré-escolares da Bahia e de São Paulo (OLIVEIRA et al., 2007).
Da mesma maneira que o peso ao nascer pode repercutir no crescimento infantil, por
ser um fator associado com o desenvolvimento de doenças infecciosas, ações preventivas
como as imunizações também repercutem no crescimento e desenvolvimento infantil por
sua importância no sistema imune e na resistência às infecções (ROMANI; LIRA, 2004).
Constatou-se que a maioria das crianças (90,9%) tinha completado o esquema de vacinação
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
122
aos doze meses de idade e que a variável em questão, se mostrou estatisticamente signifi cante
tanto com o índice estatura/idade, da mesma forma que o estudo de Oliveira et al. (2007),
quanto com o índice peso/estatura.
Para Santos et al. (2008), as intercorrências infecciosas (especialmente diarreia e
as infecções respiratórias) pertencem ao grupo de fatores conhecidamente associados à
desnutrição e quanto maior a frequência e a gravidade dos episódios, maior o efeito deletério
sobre o estado nutricional da criança. Maiores prevalências de desnutrição foram encontradas
nas crianças do presente estudo com problemas respiratórios e que apresentaram episódios
de diarréia, entretanto sem associação estatística. Oliveira et al. (2006) e Oliveira et al.
(2007), encontraram resultados similares ao avaliar a associação entre o défi cit de estatura
e a presença de morbidade nos 15 dias anteriores à entrevista.
Apesar de que a adequação energética e o aporte de macronutrientes no valor
energético total da alimentação não mostraram associação estatística com o índice estatura/
idade, a inadequação dos carboidratos, proteínas e lipídios no valor energético total da
alimentação se mostraram associados estatisticamente com o índice peso/estatura. Esses
resultados reforçam a importância do padrão alimentar de energia e de macronutrientes
no desencadeamento dos défi cits ponderal e estatural, constituindo, mesmo que seja
indicadores indiretos do estado nutricional, o primeiro indicador de risco nutricional
(MENEZES; OSÓRIO, 2007).
O crescimento infantil é um evento altamente sensível às condições do ambiente social
e econômico em que vive a criança e sua família, indicando a importância epidemiológica
destes determinantes básicos na conformação do estado de saúde e nutrição na infância. A
condição de pobreza, avaliada pela renda per capita das crianças envolvidas neste estudo,
associou-se ao défi cit do índice estatura/idade. Assim, o patamar de renda per capita situado
em <1/2 do salário mínimo, seguramente restringe o poder de compra e a satisfação das
necessidades materiais de vida, colocando as crianças que vivem nesse nível de pobreza
em condição de alta vulnerabilidade para o défi cit estatural. Esse patamar de renda limita
também o acesso a bens e a situação de moradia, o que explica a produção do défi cit no
crescimento linear das crianças no presente e em outros estudos (OLIVEIRA et al., 2006;
OLIVEIRA et al., 2007). O número de cômodos no domicílio foi a variável que expressou
de forma signifi cativa esta associação no estudo em questão.
Referente aos programas sociais de complementação de renda, especifi camente o
benefício da bolsa família, os resultados apontam maior frequência do benefício entre as
crianças que apresentaram défi cit de crescimento linear. Isto pode ser analisado de duas
maneiras diferentes: o direcionamento não adequado dos recursos envolvidos ou reduzida
efetividade das ações. Para um melhor entendimento, faz-se necessário o desenvolvimento
de pesquisas que possibilitem o fornecimento de dados sufi cientes para a avaliação de
impacto do programa (VIANNA; SEGALL-CORRÊA, 2008).
A alta prevalência de défi cit de estatura encontrada nas mães do presente estudo
e a forte associação encontrada entre a baixa estatura da mãe com a da criança, também
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
123
foram resultados de outros estudos com populações em risco de fome crônica (MARINHO
et al., 2007; SILVEIRA et al., 2010). É importante ressaltar que estes estudos também
coincidem na ausência de associação entre a obesidade da mãe e o défi cit estatural das
crianças. Esses resultados enfatizam a estatura dos pais, mais especifi camente da mãe,
como importante indicador de maior severidade de défi cit estatural entre as crianças.
A correlação positiva quanto ao estado nutricional de pais e fi lhos, condicionada
por compartilharem tanto informações genéticas quanto condições socioeconômicas
e ambientais, permitem presumir que os agravos nutricionais na gestação, levando à
desnutrição fetal, sejam um dos principais determinantes desta observação. Portanto, é
evidente que tanto a informação genética e as condições socioeconômicas e ambientais
oferecidos por parte dos pais são transmitidas e têm impacto sobre o estado nutricional de
seus fi lhos. Esse representa um dos principais dilemas da saúde pública contemporânea,
centrado no ciclo da desnutrição infantil, baixa estatura, obesidade e comorbidades na
vida adulta, processo iniciado ainda no período intrauterino (COUTINHO; GENTIL;
TORAL, 2008; MARINHO et al., 2007; SILVEIRA et al., 2010).
Considerando os resultados acerca dos agravos nutricionais mais prevalentes nas
creches do Estado, destacando a magnitude do problema, a distribuição e principais
fatores de suscetibilidade, espera-se contribuir com as discussões e o conhecimento sobre
o processo de crescimento infantil. Porém, cabe ressaltar que os resultados de estudos
descritivos conformam uma linha de base para a análise do crescimento infantil. Assim,
torna-se importante a complementação dos dados com estudos longitudinais, pois o
crescimento e desenvolvimento infantil é um processo dinâmico e de rápidas mudanças.
Estudos prospectivos representam uma melhor possibilidade de proporcionar elementos
para um entendimento mais adequado e concepção mais consistente das possíveis ações
a serem implementadas.
A necessidade de maior quantidade de estudos e de forma continuada sobre o défi cit
de estatura e o sobrepeso/obesidade centra-se no fato desses agravos constituírem as
características antropométricas mais representativas das afecções do crescimento infantil,
no Brasil. Porém, deve ser considerado que as creches oferecem a possibilidade das
crianças desnutridas ou em risco nutricional serem facilmente identifi cadas e monitoradas.
Destarte, estas instituições podem estabelecer um sistema simples de vigilância alimentar
e nutricional que forneça subsídios para promover intervenções nutricionais adequadas.
Do ponto de vista metodológico, a principal limitação do presente estudo,
importante a ser considerada no desenvolvimento de outros similares, esteve coligada
com as atividades correspondentes à avaliação do consumo de alimentos. A proposta
inicial era de aplicar o questionário de recordatório de 24 horas por três vezes, fato que
foi totalmente impossível por questões fi nanceiras e pela não disponibilidade das mães
para um segundo encontro. Sendo assim, a alternativa encontrada foi avaliar também os
cardápios da alimentação que a criança recebe na creche, no intuito de ter resultados
que pudessem expressar melhor a alimentação da criança (o rejeite insignifi cante da
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
124
alimentação oferecida nas creches foi referido pelas diretoras e merendeiras das creches
e, posteriormente conferido pelos entrevistadores por observação durante o trabalho
de campo, atribuindo-se isso à importância da alimentação nas creches de crianças cuja
família apresenta problemas de acessibilidade aos alimentos). Considerando que, segundo
Menezes e Osório (2007), a avaliação da ingestão de alimentos por um único recordatório
de 24 horas tende a subestimar em até 30% o consumo de energia, em comparação
com outros métodos, houve preocupação em preservar a qualidade dos dados através
da padronização do trabalho, conduzido e supervisionado por uma nutricionista.
Acredita-se que este fator somado à avaliação da alimentação oferecida nas creches
(cardápios) possa ter contribuído de maneira positiva na diminuição de possíveis vieses.
Considerando que existem poucos estudos que indicam o questionário de frequência
de consumo alimentar para estudos em crianças, o recordatório de 24 horas continua
representando o mais apropriado para estudos populacionais, principalmente de cunho
transversal e em população infantil. Assim, fi ca evidente a necessidade de contar com
questionário de frequência de consumo alimentar validado para crianças menores de cinco
anos (CAVALCANTE; PRIORE; FRANCESCHINI, 2004; COLUCCI; SLATER; PHILIPPI, 2004).
A pesagem direta dos alimentos, método que garante melhores resultados do consumo
alimentar de crianças assistidas em creches (CAVALCANTE; PRIORE, FRANCESCHINI, 2004),
não foi utilizado no presente estudo devido à grande quantidade de dados a serem coletados,
implicando em longos tempos de trabalho de campo e em altos custos fi nanceiros, sendo
utilizado como alternativa a avaliação dos cardápios.
CONCLUSÕES
Baixa estatura e sobrepeso/obesidade foram os principais desvios antropométricos
observados neste trabalho, constituindo condições que devem ser consideradas na
formulação e/ou reformulação das ações de saúde e nutrição correspondentes e no
monitoramento dos principais fatores de risco.
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Recebido para publicação em 04/05/10.Aprovado em 15/12/10.
SOUSA, C. P. C.; SOUSA, M. P. C.; ROCHA, A. C. D.; FIGUEROA PEDRAZA, D. Perfi l epidemiológico do estado nutricional de crianças assistidas em creches no Estado da Paraíba. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 111-126, abr. 2011.
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Artigo original/Original Article
Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São PauloValidity of weight and height informed by adult women in the city of São Paulo
MARIA FERNANDA PETROLI FRUTUOSO1;
FERNANDA ÁVILA FALSARELLA2; ANA MARIA
DIANEZI GAMBARDELLA3
1Docente do curso de Nutrição da Universidade
Federal de São Paulo – campus Baixada Santista.
2Universidade de São PauloFaculdade de Saúde Pública
– Departamento de Nutrição.
3Docente do Departamento de Nutrição da Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Endereço para correspondência:
Maria FernandaPetroli Frutuoso
Departamento de Ciências da Saúde da Universidade
Federal de São Paulo – campus Baixada Santista
Av. Ana Costa, 95Santos - SP - Brasil -
Departamento de realização do trabalho:
Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validity of weight and height informed by adult women in the city of São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
This study aimed to evaluate the validity of weight and height values self-reported by women in the city of São Paulo. The study used weight and height values which were self-reported by 167 mothers of public and private schools’ students in the city of Sao Paulo. To evaluate the differences between measured and self-reported values, Pearson coeffi cient of correlation and Bland-Altman analysis were used. Sensitivity and specifi city were used for agreement between self-reported and measured nutritional status according to the Body Mass Index (BMI). The correlation between measured and informed weight and height values was 0.99, thus showing a high correlation between BMI values. A high agreement was found for overweight and obesity, with a high sensibility and specifi city. The analysis of maternal education and per-capita income showed no differences for the nutritional status classifi cation. It is possible to use the self-reported information of weight and height in similar populations, as the values present high agreement and validity.
Keywords: Body Weight. Height. Body Mass Index. Anthropometry.
ABSTRACT
128
RESUMORESUMEN
El objetivo del estudio fue evaluar la validez de la información autorreferida de peso y estatura de mujeres en el municipio de São Paulo, SP, Brasil. Fueron utilizadas informaciones autorreferidas de peso y estatura de 167 mujeres, madres de alumnos de escuelas públicas y privadas, del municipio de São Paulo. Para evaluar las diferencias entre el valor medido y el valor autorreferido, se utilizó el coefi ciente de correlación de Pearson y análisis gráfi co. Fue utilizada la sensibilidad y especifi cidad para evaluar el estado nutricional por medio del índice de masa corporal (IMC). La correlación entre los valores medido e informado, tanto de peso como de estatura fue 0.99, mostrando una elevada concordancia entre los valores de IMC. Los datos mostraron alta sensibilidad y especifi cidad para el diagnóstico de sobrepeso y obesidad. El análisis de la escolaridad y renta per cápita materna, no mostró diferencias para la clasifi cación del estado nutricional. Es posible utilizar el peso y estatura autorreferidos en poblaciones similares, porque los datos presentaron elevada concordancia y validez.
Palabras clave: Peso corporal. Estatura. Índice de Masa Corporal. Antropometría.
O estudo objetivou avaliar a validade das informações autorreferidas de peso e estatura em mulheres no município de São Paulo. Foram utilizadas informações autorreferidas de peso e estatura de 167 mães de alunos de escolas públicas e privadas, do município de São Paulo. Para avaliar as diferenças entre valores medidos e autorreferidos, utilizou-se coefi ciente de correlação de Pearson e análise gráfi ca. Utilizou-se sensibilidade e especifi cidade para avaliar a classifi cação nutricional a partir dos valores de índice de massa corporal (IMC). A correlação entre valor aferido e informado, tanto de peso como estatura foi igual a 0,99, evidenciando elevada concordância entre valores de IMC. Os dados apontaram elevada sensibilidade e especifi cidade para o diagnóstico tanto de excesso de peso quanto de obesidade. A análise, segundo escolaridade e renda per capita maternas, não apresentou diferenças, para a classifi cação do estado nutricional. É possível utilizar as informações autorreferidas de peso e estatura; em populações semelhantes, pois os valores apresentam elevada concordância e validade.
Palavras-chave: Peso corporal. Estatura. Índice de Massa Corporal. Antropometria.
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
O peso e a estatura autorreferidos podem ser obtidos facilmente, no que diz respeito
à técnica e custo, para utilização no monitoramento do estado nutricional, simplifi cando
o trabalho de campo e favorecendo a economia de recursos em estudos epidemiológicos
(CHOR; COUTINHO; LAURENTI, 1999). No entanto, o peso e estatura autorreferidos
apresentam limitações, com tendência de subestimar o valor do peso e superestimar o
valor da estatura, sendo sua validade dependente do gênero, da idade e das condições
socioeconômicas do grupo estudado (FONSECA et al., 2004).
De fato, segundo Nakamura et al. (1999), as mulheres tendem a subestimar o peso,
muitas parecem desconfortáveis e se negam a informar tal dado, mesmo em ambientação
anônima. Em contrapartida, os homens, geralmente, superestimam a estatura (NIEDHAMMER
et al., 2000; VILLANUEVA, 2001).
Os extremos de idade parecem infl uir nos dados de peso e estaturas corporais, o que
pode ser corroborado pelo resultado de várias pesquisas. Gunnell et al. (2000) trabalharam
com indivíduos idosos e adolescentes e detectaram maior diferença entre valores informados
e aferidos nestas populações, quando comparadas aos adultos.
No que se refere ao diagnóstico nutricional a partir de informações de peso e estatura
referidos, Kuczmarski, Kuczmarski e Najjar (2001), analisando dados de indivíduos norte-
americanos acima de 20 anos de idade que participaram do NHANES III, verifi caram elevada
sensibilidade e especifi cidade, associadas inversamente à idade, porém, sugerindo limitação
na sua utilização para idosos.
Nível de renda e escolaridade podem limitar a informação correta sobre peso e
estatura. De acordo com Jeffery (1996), indivíduos com menor nível socioeconômico
apresentariam menor acesso a obtenção desses dados e, em decorrência prestariam
informações menos precisas.
Entretanto, estudos indicam elevada concordância entre peso corporal informado e
aferido, com maior concordância entre as mulheres do que entre os homens, independente
de idade e nível de escolaridade. Em relação à estatura, esses mesmos estudos mostram
concordância elevada entre os valores informados e referidos, com diferenças signifi cativas
segundo faixas etárias e escolaridade (FONSECA et al., 2004).
Fonseca et al. (2004) estudaram 3.713 indivíduos, selecionados entre funcionários nas
carreiras técnico-administrativas de uma universidade, tendo encontrado elevada correlação
entre valores aferidos e informados de peso (0,977) e de estatura (0,943), além de tendência
leve e uniforme à subestimação do peso e à superestimação da estatura informados, em
ambos os sexos. Não observaram diferenças entre os valores aferidos e informados de
acordo com idade, escolaridade, renda e categorias de índice de massa corporal - IMC.
Pesquisa realizada por Chor, Coutinho e Laurenti (1999) com 1.183 funcionários
de um banco, verifi cou que homens e mulheres tenderam a subestimar o peso, sendo
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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este comportamento mais marcante entre os homens de peso mais elevado. Em relação
à estatura, as diferenças entre informação e medida foram irrelevantes. Ao se considerar
o IMC, as diferenças médias entre medida e informação foram menores do que no caso
isolado do peso.
Villanueva (2001) analisou dados disponíveis de 15.944 indivíduos que participaram
do US Third National Health and Nutrition Examination Survey, verifi cando que a idade,
escolaridade e IMC associam-se a valores não concordantes de peso aferido e informado,
para ambos os sexos.
No Brasil, Silveira et al. (2005), investigando a validade do IMC, calculado por
intermédio do peso e estatura informados para predizer o estado nutricional de adultos
do Sul do país, verifi caram melhor concordância para o peso que para estatura, tendo
observado subestimação somente para mulheres, sugerindo a necessidade de correção
destes valores referidos.
Entretanto, estudo com população adulta da região Centro-Oeste verificou
superestimativa da estatura tanto para homens quanto mulheres, fato infl uenciado pela
idade, escolaridade, altura e IMC. Os autores afi rmam, ainda, que as medidas aferidas e
relatadas apresentaram alto grau de concordância, com sensibilidade e especifi cidade do
IMC elevadas (PEIXOTO; BENÍCIO; JARDIM, 2006).
O conhecimento da validade de informações referidas de peso e estatura, bem como
a criação de modelos de correção, quando necessários, é imprescindível para sua utilização,
em estudos epidemiológicos, para obtenção de estimativas aproximadas sobre o estado
nutricional de populações e monitoramento de fatores de risco.
Devido à escassez de estudos sobre a concordância de dados colhidos e informados
referentes à população adulta brasileira, o presente estudo teve como objetivo avaliar a
validade da informação auto-referida de peso e estatura.
METODOLOGIA
Este trabalho é parte de projeto (Fatores associados ao sobrepeso e obesidade de
indivíduos de 8 a 18 anos de idade), que teve como objetivo avaliar os fatores associados ao
excesso de peso e obesidade de adolescentes. Os dados para este estudo foram obtidos por
meio de questionário enviado para as mães de todos os 660 adolescentes matriculados em
uma escola pública e uma privada do Município de São Paulo, participantes da investigação.
Nesse questionário, encaminhado junto ao termo de consentimento, solicitavam-se
informações sobre a renda familiar, escolaridade, peso e estatura dos pais.
Dos 660 questionários, retornaram 499 completamente respondidos. Todas as
mães (n=660) foram convidadas pela escola para reunião de pais e destas, 167 estiveram
presentes em reunião realizada nas próprias escolas, e participaram da validação dos dados
referidos. Não foi possível validar as informações paternas dado ao baixo comparecimento
da população masculina nas reuniões.
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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Após a reunião foram realizadas as medidas de peso e estatura das mulheres
para comparação com as medidas informadas. Para a mensuração do peso corporal, foi
utilizada balança eletrônica do tipo plataforma (Tanita®), com capacidade para 150 kg e
graduação em 100g e para a da estatura foi utilizado antropômetro (Seca®), com escala em
milímetros, fi xado em suporte de madeira, adotando metodologia proposta por Gordon
et al. (1988). Na análise utilizou-se o programa Stata® 9.0.
Com base no valor do IMC calculado (peso/estatura2) procedeu-se a
classifi cação nutricional das mulheres de acordo com os critérios recomendados
pela World Health Organization (1990), sendo IMC < 18,5kg/m2 baixo peso;
18,5 ≥ IMC < 25,0kg/m2 eutrofia; 25,0 ≥ IMC < 30,0kg/m2 excesso de peso;
IMC ≥ 30kg/m2 obesidade.
Foi calculado o teste t de Student pareado para análise das médias entre os grupos.
A comparação dos valores referidos e medidos foi realizada por meio do coefi ciente de
correlação de Pearson e análise gráfi ca por Bland e Altman (1986).
Calculou-se a sensibilidade e especifi cidade do índice de massa corporal referido
para classifi cação de mulheres com excesso de peso e obesidade, em relação ao IMC
medido. Realizou-se análise de variância para determinar as diferenças entre valores
referidos e medidos segundo renda e escolaridade.
O projeto de pesquisa está de acordo com as normas da Resolução 196 de
10/10/1996 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta as pesquisas envolvendo
seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo com protocolo número 421. Todos os participantes
assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando com a participação
neste estudo.
RESULTADOS
A mediana de escolaridade das mães estudadas e a renda per capita familiar foi de
11 anos e 1,4 salários mínimos, respectivamente.
Comparando os dados das mães, as médias (desvios padrão) do peso materno
referido e medido foram, respectivamente 66,0kg (10,24) e 66,3kg (9,99). Para estatura, as
médias foram de 161,3cm (6,53) e 160,8cm (6,21) para referida e medida, respectivamente.
Conforme nota-se na tabela 1, as médias das variáveis apresentaram valores semelhantes
entre os dados medidos e referidos para todas as variáveis estudadas, sendo a diferença
de estatura e IMC estatisticamente signifi cantes (p<0,000).
A correlação entre valor aferido e informado foi de 0,99, tanto para peso como
estatura corporal das mulheres estudadas. A fi gura 1 ilustra a elevada correlação entre as
medidas aferidas e informadas. A diferença média observada foi 0,227kg, o que sugere,
no geral, ser o peso referido inferior ao medido.
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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Tabela 1 – Distribuição das médias (desvio padrão) das variáveis estudadas, São Paulo (2009)
VariávelMediana
Média (desvio padrão)Valor
mínimoValor
máximo
Peso referido (kg)65,0
66,0 (10,24)45,0 105,0
Peso medido (kg)66,2
66,3 (9,99)42,2 103,0
Estatura referida (cm)161,0
161,3 (6,53)145,0 185,0
Estatura medida (cm)160,4
160,8 (6,21)145,9 183,4
IMC - dados referidos (kg/m2)24,9
24,7 (3,55)18,4 37,9
IMC - dados medidos (kg/m2)25,1
25,6 (3,53)18,8 36,6
Escolaridade (anos) 11 0 12
Renda per capita (salários mínimos) 1,4 0,2 9
Figura 1 – Diferença entre peso aferido e peso informado, São Paulo (2009).
Conforme pode ser observado na fi gura 2, foi detectada elevada correlação entre a
estatura medida e referida com diferença média de - 0,468cm, indicando estatura aferida
inferior à informada.
Diferença(peso aferido – peso referido)
4.3
-5.1
43.6 104
Média(peso aferido + peso referido)/2
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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Diferença(estatura aferida – estatura informada)
3
-3.10001
145.45 184.2
Média(estatura aferida – estatura informada)/2
Figura 2 – Diferença entre estatura aferida e estatura informada, São Paulo (2009).
Análise segundo a renda e escolaridade aponta que as mulheres com menor
escolaridade (até ensino fundamental), tendem a subestimar o peso e superestimar a estatura,
enquanto as com maior nível de escolaridade (nível superior, completo ou incompleto)
superestimam tanto o peso quanto a estatura. Mulheres com renda per capita menor ou
igual a um salário mínimo subestimam o peso em comparação àquelas que recebem dois
salários mínimos ou mais. Os valores referentes à estatura foram superestimados em todas
as classes de renda, sendo maior em mulheres com dois salários mínimos ou mais (p = 0,04).
Seguindo os achados para peso e estatura, evidenciou-se elevada concordância entre
valores de IMC (Figura 3), sendo a diferença média entre valores aferidos e medidos de
0,234kg/m2.
Figura 3 – Diferença entre IMC aferido e IMC informado, São Paulo (2009).
Diferença(IMC aferido – IMC referido)
2.04124
-2.30661
18.6904 36.7239Média
(IMC aferido – IMC referido)/2
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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Conforme observa-se na tabela 2, verifi cou-se 38,3% e 40,7% de mulheres com
excesso de peso segundo IMC referido e medido, respectivamente. Os achados apontaram
10,2% de mulheres obesas segundo IMC informado e 11,4% segundo o aferido. Para o
excesso de peso, a sensibilidade e especifi cidade foram, respectivamente, 88,2% e 96%.
Para obesidade, observou-se sensibilidade de 84,2% e especifi cidade de 99,3%. A análise,
segundo escolaridade e renda per capita maternas, não apresentou diferenças, para a
classifi cação do estado nutricional.
Tabela 2 – Distribuição (%) das mulheres estudadas com excesso de peso e obesidade segundo valores de índice de massa corporal referidos e medidos, São Paulo (2009)
Referido
Medido
TotalBaixo peso e eutrofi a
Excesso de peso
Obesidade
n % n % n % n %
Baixo peso e eutrofi a 79 98,7 7 10,3 – – 86 51,5
Excesso de peso 1 1,3 60 88,2 3 15,8 64 38,3
Obesidade – – 1 1,5 16 84,2 17 10,2
Total 80 47,9 68 40,7 19 11,4 167 100,0
Quanto ao baixo peso, apenas 2 mulheres (1,2%) foram classifi cadas segundo IMC
referido e nenhuma segundo IMC medido.
DISCUSSÃO
A comparação gráfi ca entre os valores de peso e estatura, medidos e referidos, sugere
elevada concordância entre as medidas informadas e aferidas na população estudada,
apontando, de modo geral, tendência de subestimar o peso e superestimar a estatura, uma
vez que a diferença média entre os valores medidos e referidos foram de 0,227 e -0,468,
respectivamente.
Resultado semelhante foi encontrado por Fonseca et al. (2004) que detectaram elevada
concordância entre a aferição e a informação do peso e da estatura em adultos de ambos
os sexos. Verifi caram ainda, tendência leve e uniforme à subestimação da informação do
peso e a superestimação da estatura, em ambos os sexos.
Gunnell et al. (2000) estudando indivíduos de 56 a 78 anos, verifi caram que a
estatura autorreferida foi superestimada e o IMC, baseado em peso e estatura autorreferido,
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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foi subestimado. Os autores sugeriram que os mais baixos e mais velhos tendem a
superestimar a estatura, enquanto indivíduos com excesso de peso subestimam o peso.
De acordo com Jeffery (1996), indivíduos com menor nível socioeconômico
poderiam apresentar menor acesso à obtenção desses dados e, em decorrência, prestar
informações menos precisas. Entretanto, estudos indicam elevada concordância entre
peso corporal informado e aferido, com alta concordância especialmente entre as
mulheres, independente do nível de escolaridade. Em relação à estatura, estudos mostram
concordância elevada entre os valores informados e referidos, com diferenças segundo
escolaridade (FONSECA et al., 2004).
Não houve fonte de erro importante neste estudo, uma vez que no momento de
preenchimento do questionário, os participantes não sabiam do objetivo de comparação
entre os dados informados e mensurados.
Segundo Bland e Altman (1986), o coefi ciente de correlação aponta somente a força
da relação entre duas variáveis e não sua concordância, além de depender do tamanho da
amostra, fato que levou a utilização da proposta gráfi ca destes autores para a avaliação da
concordância entre os dados. Tal proposta consiste na apresentação gráfi ca da diferença
entre as medidas contra sua média, possibilitando a verifi cação de tendências entre as duas
medidas, no caso aferida e referida.
A título de ilustração, os dados antropométricos referidos e aferidos, de peso e
estatura das mães, foram utilizados para a formulação de modelos de correção, sendo a
equação para peso: Peso referido = -0,97 + 1,01 x peso medido e para a estatura: Estatura
referida = -6,07 + 1,04 x estatura medida.
Uma das limitações deste estudo é a impossibilidade de extrapolação dos resultados
para a população geral, pelo fato de incluir apenas mulheres em idade adulta. Outra
limitação consiste na falta da variável idade, uma vez que esta pode ter infl uência nas
variáveis antropométricas, bem como no seu relato.
Em relação à classifi cação nutricional, os dados apontaram elevada sensibilidade e
especifi cidade para o diagnóstico tanto de excesso de peso quanto de obesidade, sendo
que a especifi cidade foi maior que a sensibilidade para ambas as classifi cações, sugerindo
a possibilidade de utilização de informações referidas de peso e estatura para estudos
populacionais, especialmente na detecção das mulheres eutrófi cas.
CONCLUSÃO
Com esses resultados, pode-se concluir que as informações referidas de peso e estatura
podem apresentar boa concordância e validade, quando comparadas com suas respectivas
aferições. Apesar da boa concordância, ressalta-se, de modo geral, tendência de subestimar
o peso e superestimar a estatura.
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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Recebido para publicação em 21/05/10.Aprovado em 04/02/11.
FRUTUOSO, M. F. P.; FALSARELLA, F. A.; GAMBARDELLA, A. M. D. Validade de peso e estatura informados por mulheres adultas no Município de São Paulo. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 127-136, abr. 2011.
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Artigo original/Original Article
Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamentoEffect of the dietary glycid/lipid calorie ratio on the nitrogen balance and body composition of bodybuilders
RAQUEL SIMÕES MENDES-NETTO1; NAILZA
MAESTÁ2; ERICK PRADO DE OLIVEIRA2,3; ROBERTO
CARLOS BURINI21Universidade Federal de
Sergipe, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde,
Núcleo de Nutrição2Centro de Metabolismo
em Exercício e Nutrição (CeMENutri) –
Departamento de Saúde Pública – Faculdade de
Medicina de Botucatu (UNESP)3Pós-graduação pelo
Departamento de Patologia – Faculdade de Medicina de
Botucatu (UNESP)Endereço para
correspondência: Roberto Carlos BuriniUNESP Faculdade de
Medicina - Departamento de Saúde Pública, CeMENutriDistrito de Rubião Jr, s/nº
CEP 18618-970Botucatu (SP)
E-mail: [email protected]
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI,
R. C. Effect of the dietary glycid/lipid calorie ratio on the nitrogen balance and body composition of bodybuilders. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1,p. 137-150, abr. 2011.
The aim of this study was to determine the effect of the carbohydrate/fat ratio on body composition, body weight, muscle mass and nitrogen retention in young bodybuilders. This was a prospective, randomized cross-over study with eleven voluntary males undergoing bodybuilding training. The volunteers were randomly divided in two groups; one receiving a dietary carbohydrate/fat ratio of 4.0 (D1) and the other one receiving a dietary carbohydrate/fat ratio of 8.0 (D2); both groups receiving a high-protein diet (1.5g protein/kg/d). Muscle mass, fat mass, nitrogen retention and biochemical analyses were assessed. Both diets promoted weight and fat mass gain and positive nitrogen retention. However, D2 showed a higher muscle mass gain. Thus, the higher carbohydrate/fat ratio resulted in a greater muscle mass gain.
Keywords: Resistance Exercise. Energy Intake. Protein Intake. Nitrogen Balance.
ABSTRACT
138
RESUMORESUMEN
El objetivo del estudio fue comparar los efectos de dos dietas isoproteicas e isocalóricas, con diversas proporciones de carbohidratos y lípidos, sobre la composición corporal y retención de nitrógeno en jóvenes practicantes de entrenamiento de fuerza. El estudio fue prospectivo, randomizado cruzado, con 11 culturistas jóvenes del sexo masculino. Fueron formados dos grupos diferenciados por recibir relación calorías glúcidos/lípidos de valor 4,0 (D1) o 8,0 (D2), ambos con dieta hiperproteica (1,5g/kg/d). Se evaluaron masa muscular, masa gorda, retención de nitrógeno y análisis bioquímico. Ambas dietas promovieron aumento de peso y de masa adiposa y el balance nitrogenado positivo, sin embargo, la dieta D2 provocó mayor aumento de masa muscular. Se concluye que la mayor relación calórica glúcidos/lípidos promovió un mayor aumento de masa muscular.
Palabras clave: Entrenamiento de fuerza. Ingestión de energia. Ingestión proteica. Balance nitrogenado.
O objetivo do estudo foi comparar os efeitos de duas dietas isoproteica-isocalóricas diversificadas na proporção carboidratos e lipídios sobre a composição corporal e retenção nitrogenada de jovens praticantes de treinamento de força. O estudo foi prospectivo, randomizado cruzado, com 11 culturistas jovens do sexo masculino. Foram formados dois grupos diferenciados por receberem relação calorias glicídicas/lipídicas de valor 4,0 (D1) ou 8,0 (D2), ambos com dieta hiperproteica (1,5g/kg/d). Massa muscular, massa gorda, retenção nitrogenada e análise bioquímica foram avaliadas. Ambas as dietas promoveram ganho de peso e massa adiposa e positivação do balanço nitrogenado, no entanto, a dieta D2 resultou em maior ganho de massa muscular. Conclui-se que a maior relação calórica glicídica/lipídica promoveu maior ganho de massa muscular.
Palavras-chave: Treinamento de força. Ingestão de energia. Ingestão proteica. Balanço nitrogenado.
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
As necessidades proteicas e energéticas de praticantes de treinamento de força,
principalmente para hipertrofi a muscular, são maiores do que as de sedentários (MAESTÁ
et al., 2008; RODRIGUEZ; DI MARCO; LANGLEY, 2009). Isto porque a proteólise decorrente
do esforço, seguida do aumento da síntese de proteína, é determinante para força e
desencadeamento da hipertrofi a muscular (WOLFE, 2000).
O predomínio da síntese em relação ao catabolismo proteico muscular representa
a base metabólica da hipertrofi a. O ganho muscular ocorre pela positivação do balanço
proteico durante a recuperação. O aumento da síntese proteica ocorre em resposta ao
catabolismo aumentado durante o esforço exaustivo (WAGENMAKERS, 1999).
Vários fatores, como a ingestão proteico-energética, níveis de leucina e o exercício
físico podem alterar o turnover proteico (BIOLO et al., 2003). A combinação de carboidrato
e proteína, antes e após a sessão do exercício, promove a liberação de hormônios,
anabólicos como hormônio do crescimento (GH), insulin like growth factor 1 (IGF-1),
insulina e testosterona. Estes mediadores interagem com os receptores celulares do músculo
esquelético, aumentando a transcrição gênica, além de facilitar a entrada de nutrientes
(glicose e aminoácidos), promovendo a redução do catabolismo e o aumento da síntese
proteica (GLYNN et al., 2010; VOLEK, 2004).
A oferta de calorias provenientes de carboidrato (calorias não proteicas) infl uencia
a positivação do balanço nitrogenado, em decorrência do aumento da glicose e insulina
plasmáticas, diminuição do catabolismo proteico miofi brilar e excreção da ureia urinária,
com aumento da síntese proteica muscular (BISSCHOP et al., 2003; HULMI et al., 2005;
ROY et al., 1997; TIPTON et al., 2001). Maestá et al. (2008) sugerem a ingestão de 1,5g
de proteína/kg de peso/dia com ajuste do consumo energético para 30kcal/g de proteína
para síntese proteica ideal em atletas culturistas. Adicionalmente, o efeito hipertrófi co do
exercício (intensidade de 75 a 85% 1RM) apresenta associação com a ingestão energética,
particularmente de carboidratos (BORSHEIM et al., 2004). Os carboidratos são maiores
poupadores de proteínas do que as gorduras (ROY et al., 1997; ZAWADZKI et al., 1992),
mas desconhece-se a melhor proporção da relação glicídica/lipídica sobre o ganho de
massa muscular.
Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da relação das calorias glicídicas/
lipídicas sobre a composição corporal, avaliando ganho de peso corporal, massa muscular
e retenção nitrogenada de praticantes de treinamento de força.
CASUÍSTICA E MÉTODOS
O estudo foi prospectivo, randomizado cruzado, com 11 jovens saudáveis em
treinamento com pesos, sexo masculino, com mais de dois anos de experiência em
treinamento de força, idade entre 18 e 35 anos.
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.
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Estes indivíduos foram recrutados em academias da cidade de Botucatu (SP).
Foram selecionados adultos jovens, saudáveis e excluídos os indivíduos que ingeriam
suplementos (com exceção de maltodextrina), usuários de esteroides anabolizantes,
vegetarianos, fumantes e elitistas. Todos foram informados sobre a proposta do estudo,
os procedimentos a que seriam submetidos e assinaram a declaração de consentimento
esclarecido, após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa em 03 de abril de 2000
(Of. nº 269/98).
O estudo teve duração de seis semanas em que as duas primeiras foram de adaptação
à dieta e ao treinamento e as 4 últimas com intervenção dietética associada ao treinamento
para hipertrofi a.
PROTOCOLO DIETÉTICO
Inicialmente, foi realizada investigação dos hábitos alimentares, por meio do registro
alimentar de três dias, sendo dois no meio da semana e um no fi nal de semana para análise
das quantidades relativas de macronutrientes e total de calorias ingeridas (CINTRA et al.,
1997), duas semanas antes do início da intervenção nutricional. As análises nutricionais foram
realizadas por meio do software de nutrição NutWin, versão 1,5 (ANÇÃO et al., 2002). Foram
prescritas dietas individuais para o período de pré-experimento (D0 2 semanas de duração),
compostas por 1,5g de proteína/kg/dia, 60-70% de carboidratos e 20-30% de lipídios.
Encerradas estas duas semanas, foram realizadas as avaliações (M0) e oferecidas aos
atletas, duas dietas (D1 e D2) em sequência alternada (2 semanas cada dieta), por período
de quatro semanas, ambas com conteúdo proteico fi xo de 1,5g/kg/dia e isoenergéticas. O
diferencial das dietas foi a razão energética carboidratos/lipídios. Na primeira dieta (D1),
a relação calorias de carboidratos/calorias de lipídios foi de 4,0, enquanto que na D2 essa
relação foi de 8,0.
Os atletas foram distribuídos, aleatoriamente, em dois grupos, um recebendo a dieta
D1 (n=5) e o outro a dieta D2 (n=6), com duração de 2 semanas. Após este período, houve
a troca do tratamento dietético entre os grupos, ou seja, aquele que estava com a dieta D1
recebeu a D2 e quem estava coma D2 recebeu D1, por mais 2 semanas (Figura 1).
Não houve dieta controle (normocalórica, lipídica e normoglicídica), pois os
indivíduos consumiam dieta adaptada para hipertrofi a muscular para ambos grupos e por
se tratar de estudo cruzado.
As dietas continham, aproximadamente, 34kcal não proteicas/g proteína/dia. A
contribuição dos carboidratos foi estimada em 70-80% do consumo calórico total, ingeridos
na forma de amido (45%), maltodextrina (40%) e carboidratos simples (15%). As calorias
lipídicas correspondiam aproximadamente a 18% do total da dieta D1, e cerca de 9% das
calorias lipídicas da dieta D2. A dieta foi fracionada em sete vezes ao dia (desjejum, almoço,
jantar, três lanches e ceia), com ingestão de água ad libitum. A duração total do estudo de
intervenção dietética foi de 28 dias (M0/M2).
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Figura 1 – Delineamento do estudo e ingestão da dieta D1 e D2.
PROTOCOLO DE EXERCÍCIO FÍSICO
O protocolo de treinamento utilizado constou de duas fases, com a primeira fase
(2 semanas) correspondendo ao pré-experimento (sem tratamento dietético), tendo como
fi nalidade a equiparação do protocolo de treinamento físico, pois como já eram praticantes
há mais de dois anos, essas duas semanas foram sufi cientes para nivelamento do treino.
A segunda fase visou a hipertrofi a muscular, envolvendo programação de quatro dias não
consecutivos, intercalados por um de descanso.
Cada programação constou de três exercícios para cada grupamento muscular, com
quatro séries para cada exercício, com exceção dos grupamentos dos braços, ombros e
pernas, com dois exercícios cada. O número de repetições utilizadas em cada série foi
12/10/8/6, utilizando o método de cargas variáveis conhecido como pirâmide. Para a
panturrilha, foram realizadas 15-20 repetições e abdome 20-30 (KRAEMER; FRY, 1995).
As cargas utilizadas foram compatíveis com o número de repetições máximas
estipuladas para cada exercício, correspondendo em 75-85% de uma repetição máxima
(1 RM). Antes de iniciar o teste de RM, os jovens fi zeram aquecimento com carga subjetiva
e 15 repetições para cada exercício. Após a pausa de um minuto foi iniciado o teste de
1RM com adição de carga subjetiva e individual, com maior número possível de repetições.
Foram realizadas de três a cinco tentativas para obtenção da carga máxima com pausa de
três a cinco minutos entre as elas (KRAEMER; FRY, 1995).
Foram realizadas quatro sessões de treinamento (A e B). A primeira sessão (A) de
treinamento foi composta por exercícios para os grupamentos musculares do peitoral, costas,
panturrilha e abdome, repetida no primeiro e quarto dia da semana. A segunda sessão
D1 (n=5)
1,5g/kg/dia de proteína e isoenergéticas
2 semanas
D2 (n=6)
2 semanas
D1 (n=6)
2 semanas
D2 (n=5)
2 semanas
(D1) relação carboidratos/lipídios = 4,0(D2) relação carboidratos/lipídios = 8,0
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(B) envolveu exercícios para os grupamentos musculares do braço (anterior e posterior),
ombros e coxas, repetida no segundo e quinto dia (KRAEMER; FRY, 1995).
O intervalo de recuperação entre as séries, durante cada exercício, foi de sessenta
a noventa segundos, e entre os exercícios de um mesmo grupamento muscular, de dois a
três minutos. O intervalo de recuperação entre os exercícios para grupamentos musculares
diferentes nunca foi inferior a cinco minutos.
AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL
A avaliação da composição corporal foi realizada antes do início do estudo dietético
(M0), ao fi nal dos primeiros 14 dias (M1) e no fi nal dos 28 dias (M2).
Para a avaliação do peso corporal e altura, foi utilizada balança antropométrica
provida de estadiômetro (Filizola®, Brasil), com precisão de 0,1kg para peso e 0,1cm para
altura, com o indivíduo descalço e mínimo de roupa (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000).
As circunferências do braço (CB), antebraço (CAT), abdominal (CA), quadril
(CQ), coxa (CC) e panturrilha (CP), e as dobras cutâneas triciptal (DCT), biciptal (DCB),
subescapular (DCSE), suprailíaca (DCSI), abdominal (DCA), coxa (DCC) e panturrilha
(DCP) foram utilizadas o cálculo da massa gorda e massa muscular do corpo. As medidas
foram realizadas por um único avaliador com adipômetro científi co da marca Lange
(Cambridge Scientifi c Instruments, Cambridge, MD) (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000).
Para o cálculo da densidade corporal, utilizou-se equação (JACKSON; POLLOCK, 1978)
e com a densidade foi calculado o percentual de gordura corporal (%G) (SIRI, 1961).
Para o cálculo da massa muscular (kg), utilizou-se a equação proposta por Martin et
al. (1990), que leva em consideração a estatura (cm), circunferências (cm) do antebraço,
coxa e panturrilha e as dobras cutâneas da coxa e da panturrilha (MARTIN et al., 1990).
AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA
As amostras de sangue venoso foram colhidas após repouso e jejum de 8-12h, com
quantidade de 10mL de sangue, em tubo seco com gel separador.
Foram determinadas no plasma as proteínas totais, albumina, creatinina e ácidos
graxos livres, por método colorimétrico; glicose, ureia, ácido úrico, triacilglicerol, colesterol
total, HDL-colesterol por método enzimático. A insulina e a testosterona total e livre foram
analisadas por radioimunoensaio (DWENGER, 1984).
AVALIAÇÃO DO BALANÇO NITROGENADO
O período de coleta de urina foi de 24 horas. Foram dosadas ureia urinária (método
urease), amônia (extração em Conway) e nitrogênio total pelo método micro-Kjeldahl para
o cálculo do balanço nitrogenado (BN) (DICH; DICH; BURINI, 1997).
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.
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As amostras de urina foram coletadas em frasco contendo solução de HCl 1N (para
manter o pH < 2) e conservadas em refrigerador. O período de coleta foi de 24 horas. Foi
dosada ureia (método Urease) para o cálculo do balanço nitrogenado (BN): nitrogênio
ingerido (NI) – (0,46 x ureia urinária (g/24h) +4), com NI expresso em g de N.d-1 (DICH;
DICH; BURINI, 1997).
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os resultados estão apresentados como média ± desvio padrão.
Para cada indivíduo foi calculada a variação relativa das variáveis, defi nida por:
D1 = X15 dias – X0dias
X0dias
D2 = X30dias – X15dias
X15dias
Foi aplicado o teste de Kolmolgorov-Smirnov para verifi car a homogeneidade da
amostra. Para comparação entre dieta habitual, efeito dos tratamentos (dietas D1 e D2) foi
feita análise de variância (ANOVA – one way), seguida de teste post hoc HSD de Tukey.
Para comparação entre os dois tratamentos dietéticos (D1 e D2) foi aplicado teste
t de Student pareado.
O nível de signifi cância adotado foi de p<0,05 (5%). O tratamento estatístico foi
realizado com software STATISTICA 5.0.
RESULTADOS
Os indivíduos eram jovens, com percentual de gordura e massa muscular (kg)
adequados para a idade (Tabela 1).
Tabela 1 – Características basais da idade e da composição corporal dos praticantes de treinamento com pesos
Variáveis n = 11
Idade (anos) 24,5+4,9
Estatura (m) 1,79+0,07
Peso (kg) 76,8+7,5
Gordura (%) 16,1+2,5
Massa Muscular (kg) 47,2+6,1
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Apesar das diferentes proporções glicídicas/lipídicas de 4,0±0,04 (D1) e 8,0±0,01
(D2), a ingestão energética, por unidade de peso corpóreo, foi semelhante entre os grupos
nas duas dietas. Assim, como esperado, a diferença entre as dietas D1 e D2 ocorreu na
proporção carboidratos/gorduras, resultando em diferença (p<0,05) de participação no
valor calórico total da dieta (VCT) de 8%. A oferta proteica diária, por unidade de peso, foi
semelhante nos dois grupos dietéticos, assim como a ingestão calórica (não-proteica) por
grama de proteína (Tabela 2).
Tabela 2 – Consumo proteico-energético habitual, dietas D1 e D2 dos praticantes de treinamento com pesos (n=11)
Dietas
Habitual D1 D2
Calorias totais 3.372±715,1 4.463±319,0 4.393±357,0
kcal/kg 44,0±10,2 59,0±4,2 58,0±4,7
kcalNP/g ptn 24,0±9,2 34,0±1,1 34,0±0,55
kcal CHO/kcal GORD 3,3±2,3 4,0±0,04 8,0±0,01*
Proteínas totais (g) 124,0±48,5 118,0±11,0 117,0±11,0
Proteínas/kg (g/kg) 1,7±0,75 1,5±0,15 1,5±0,14
% Proteína 14,9±5,7 10,5±0,3 10,6±0,14
Carboidratos totais (g) 518,0±174,0 803,0±53,0 883,0±70,0
CHO/kg (g/kg) 6,7±2,0 10,5±0,7 11,6±0,9
% CHO 61,0±12,0 72,0±0,5 80,0±0,21
Gorduras totais (g) 88,0±39,8 89,0±6,5 49,0±4,0
Gorduras/kg (g/kg) 1,2±0,6 1,2±0,1 0,6±0,05
% Gorduras 24,0±9,2 18,0±0,1 10,0±0,02
* p<0,05 (diferença entre D1 e D2); D1 (CHO/GORD: 4,0); D2 (CHO/GORD: 8,0); kcalNP/g ptn: calorias não proteicas por grama de proteína.
As variações de peso e gordura corporal, decorrentes do consumo das dietas D1
e D2 foram semelhantes. O tratamento dietético mostrou-se efetivo (p<0,05) no ganho
de massa muscular apenas na dieta D2 (Delta MM (kg) = -0,1±1,7 e 1,5±1,5, D1 e D2,
respectivamente) (Tabela 3).
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.
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Ambas as dietas promoveram redução na excreção do nitrogênio urinário e
apresentaram balanço nitrogenado positivo, mas sem diferença estatística entre as dietas
(Tabela 4).
A dieta de maior proporção lipídica (D1) promoveu aumento dos ácidos graxos
livres (AGL). Fato inverso foi verifi cado para a colesterolemia total (Delta = -3,91±16,9
e 12,2±10,8mg/dL, D1 e D2, respectivamente) e fração LDL (p<0,05) (Delta = -6,0±11,6
e 12,1±6,8mg/dL, D1 e D2, respectivamente), onde o estímulo hipercolesterolêmico foi
da dieta D2. A oferta de proporções glicídicas/lipídicas diferentes em dietas isoproteicas
não resultou em alterações signifi cativas dos outros parâmetros bioquímicos em ambas as
dietas (Tabela 5).
Tabela 3 – Variação absoluta (kg) e relativa (%) da composição corporal dos praticantes de treinamento com pesos submetidos à dietas isoenergéticas, com variação na razão calorias glicídicas/lipídicas
Variação absoluta Variação Relativa
D1 (kg) D2 (kg) D1 (%) D2 (%) p
Peso 1,3±1,1 1,6±0,9 1,7 2,1 0,65
MM -0,1±1,7 1,5±1,5* 0,01 3,0 0,05
Gordura 0,9±1,1 0,3±0,8 6,4 2,6 0,29
* p<0,05 (diferença entre D1 e D2); MM: massa muscular; D1 (CHO/GORD: 4,0); D2 (CHO/GORD: 8,0); p<0,05 (diferença signifi cativa).
Tabela 4 – Variação absoluta (g/d) e relativa (%) do nitrogênio ingerido (NI), nitrogênio ureico (NU) e balanço nitrogenado (BN) dos praticantes de treinamento com pesos submetidos à dietas isoenergéticas, com variação na razão calorias glicídicas/lipídicas
Variação absoluta Variação Relativa
D1 (g/d) D2 (g/d) D1 (%) D2 (%) p
NI 2,9±6,4 3,1±5,3 41,3 28,5 0,16
NU -1,1±5,9 -3,4±6,0 -4,3 -13,6 0,47
BN 4,0±10,3 8,44±8,4 34,0 191,0 0,33
P<0,05: diferença signifi cativa; D1 (CHO/GORD: 4,0); D2 (CHO/GORD: 8,0).
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.
146
Tabela 5 – Variação absoluta e relativa (%) dos parâmetros bioquímicos e hormonais dos praticantes de treinamento com pesos submetidos à dietas isoenergéticas, com variação na razão calorias glicídicas/lipídicas
Variação absoluta Variação Relativa
D1 D2 D1 (%) D2 (%) p
Prot (g/dL) -0,1±0,3 0,1±0,2 -1,1 1,0 0,19
Alb(g/dL) 0,05±0,2 0,1±0,13 1,0 1,6 0,54
Creat (mg/dL) 0,03±0,05 0,03±0,05 3,3 3,5 0,96
U (mg/dL) -1,0±9,9 -0,7±9,7 3,2 0,6 0,10
Ac.U (mg/dL) 0,5±0,6 0,3±0,6 10,9 6,7 0,09
Gli (mg/dL) 1,4±4,15 3,45±6,2 1,6 3,9 0,11
TGL (mg/dL) 26,4±40,3 11,7±52,6 37,9 19,5 0,35
CT(mg/dL) -3,91±16,9 12,2±10,8 -1,1 7,4 0,05
HDL(mg/dL) -3,2±8,4 -2,4±9,3 -4,6 -3,3 0,52
LDL(mg/dL) -6,0±11,6 12,1±6,8 -4,2 14,0 0,004
AGL(mm/L) 0,11±0,33 -0,42±0,35 32,9 -39,0 0,01
Insulina (µUI/mL) 0,13±4,34 1,8±5,0 25,6 53 0,56
GH (ng/mL) 0,25±0,9 -0,1±0,2 535,0 4,2 0,40
TT (ng/mL) 6,75±148 25,0±145 13,9 2,7 0,60
TL (pg/mL) -0,85±4,8 1,8±7,6 1,0 16,8 0,26
Prot: proteínas totais; alb: albumina; creat: creatinina; U: ureia; ac. U: ácido úrico; gli: glicose; TGL: triglicerídios; CT: colesterol total; AGL: ácidos graxos livres. p<0,05: diferença signifi cativa; D1 (CHO/GORD: 4,0); D2 (CHO/GORD: 8,0).
DISCUSSÃO
O principal achado do estudo foi que a maior relação CHO/GORD resultou em maior
ganho de massa muscular e positivação do balanço nitrogenado em atletas culturistas.
Alguns estudos mostram que nos exercícios com levantamento de pesos, a alta
ingestão de carboidrato melhora o balanço proteico, possivelmente por redução do
catabolismo proteico (BORSHEIM et al., 2004). No presente estudo, a D2 que apresentava
relação CHO/GORD:8,0 mostrou maior ganho de MM quando comparada a D1 (relação
CHO/GORD:4,0).
A associação de aminoácidos essenciais com carboidrato estimula o balanço
proteico (aumento da síntese e redução do catabolismo proteico) (DORRENS;
RENNIE, 2003; TIPTON et al., 2001). Sabe-se que a oferta concomitante de substratos
energéticos é necessária para melhorar a síntese proteica muscular (TARNOPOLSKY;
MACDOUGALL; ATKINSON, 1988; VOLPI et al., 2000). Assim, a introdução proteica
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.
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associada à ingestão de carboidrato potencializa a resposta anabólica do treinamento
físico (MENDES-NETTO; BURINI, 2000).
A dieta com maior razão CHO/GORD (8,0) reduziu a excreção nitrogenada e
promoveu aumento do BN em 191%, sem diferença signifi cativa da dieta D1.
O efeito signifi cante e mensurável da troca isoenergética de gordura por carboidratos
sobre o metabolismo proteico, foi mostrado neste estudo com praticantes de treinamento
com pesos em fase de treinamento (Tabela 5). As razões energéticas de CHO:GORD
(8,0 e 4,0) foram selecionadas por se enquadrarem dentro de variação que poderia ser
aplicada às dietas destes atletas e que permitiria ampla variedade de alimentos com melhor
palatabilidade. A maior oferta de calorias glicídicas por lipídicas (8,0) dobrou a retenção
nitrogenada (pela menor excreção de nitrogênio ureico).
Como o desempenho físico é dependente de diversas funções musculares, o balanço
nitrogenado pode ser utilizado para avaliar o metabolismo proteico (TARNOPOLSKY;
MACDOUGALL; ATKINSON, 1988). Sabe-se que a excreção de nitrogênio aumenta com
exercício e quando a ingestão proteica e energética (principalmente de carboidrato) é
reduzida, o balanço torna-se negativo, indesejável para estes atletas (MENDES-NETTO;
BURINI, 2000).
O consumo proteico associado ao de carboidratos resulta em aumento da síntese
proteica muscular nos períodos de uma hora e duas horas após o treino (MILLER et al.,
2003), período que coincide com o pico da síntese e catabolismo proteico muscular nas
condições de repouso (pós-treino) (PITKANEN et al., 2003; WOLFE, 2002).
As necessidades proteicas-energéticas de praticantes de musculação são maiores que
dos sedentários (MAESTÁ et al., 2008). No presente trabalho, o consumo proteico de ambas
dietas foi em média 1,5g por kg de peso por dia, com calorias glicídicas entre 72% (D1) e
80% (D2) e lipídicas entre 18% (D1) e 10% (D2), com diferença signifi cativa somente entre
a razão de calorias glicídicas por calorias lipídicas (D1 4,0±0,04 e D2 8,0±0,01).
A massa muscular dos atletas do presente estudo correspondia a aproximadamente
62% do peso corporal, valor semelhante ao encontrado em atletas culturistas observado
em outro estudo, que compara culturistas com outras modalidades esportivas e não atletas
(SPENST; MARTIN; DRINKWATER, 1993).
Apesar de ser utilizado método duplamente indireto para avaliação da massa muscular
e adiposa do corpo, os dados antropométricos são confi áveis desde que as equações sejam
adequadas ao grupo estudado. No entanto, no presente estudo a equação para densidade
corporal (JACKSON; POLLOCK, 1978) é específi ca para pessoas fi sicamente ativas (REZENDE
et al., 2006). Além disso, a equação utilizada para quantifi cação da massa muscular utilizada
no estudo é específi ca para o sexo masculino (MARTIN et al., 1990).
A insulinemia não apresentou maior resposta à oferta de calorias glicídicas (D2),
entretanto, a suplementação exclusivamente glicídica ou associada com proteínas estimula
a resposta favorável ao crescimento muscular em função do aumento das concentrações
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.
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de insulina e GH durante o período de recuperação após exercício de força (CHANDLER
et al., 1994).
Dietas hiperglicídicas podem induzir dislipidemias, favorecer a formação de partículas
de LDL pequenas e densas e reduzir as concentrações de HDL plasmático, principalmente
pelo aumento da síntese de triglicerídios, e consequente produção e liberação aumentadas
de LDL e VLDL (PARK; LEE; PARK, 2010).
Como a dieta D2 é mais hiperglicídica (80%) e menos lipídica (9% das calorias da
dieta), isso pode explicar o maior aumento da LDL e a redução dos ácidos graxos livres,
no grupo dos praticantes de treinamento com pesos que recebeu essa dieta.
CONCLUSÃO
A oferta de dietas isoenergéticas e isoproteicas, com maiores proporções de calorias
glicídicas/lipídicas (D2), promoveu maior ganho de massa muscular, sem alteração da
adiposidade corporal e ambas positivaram o balanço nitrogenado.
Sendo assim, as dietas hiperglicídicas para praticantes de treinamento com pesos,
com objetivo de hipertrofi a muscular, apresentam maior efeito anabólico que dietas
hiperlipídicas.
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Recebido para publicação em 29/07/10.Aprovado em 14/12/10.
MENDES-NETTO, R. S.; MAESTÁ, N.; DE OLIVEIRA, E. P.; BURINI, R. C. Efeito da relação de calorias glicídicas/lipídicas da dieta sobre o balanço nitrogenado e composição corpórea de praticantes de musculação em treinamento. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 137-150, abr. 2011.
151
Artigo de Revisão/Revision Article
Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1Metabolic and nutritional aspects of carbohydrate counting in the treatment of type 1 diabetes mellitus
ANA CAROLINA PEREIRA COSTA1; MARIANA
THALACKER1; NATHÁLIA BESENBRUCH1; ROSANA
FARAH SIMONY2; FERNANDA CASTELO
BRANCO3
1Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo.
2Docente dos Cursos de Nutrição do Centro
Universitário São Camilo e da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.3Nutricionista da Associação
de Diabetes Juvenil. Endereço para
correspondência: Ana Carolina Pereira CostaRua Tucuna, 270, apto. 44,
Pompéia. São Paulo, SP. CEP 05021010.
E-mail: [email protected]
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R.
F.; BRANCO, F. C. Metabolic and nutritional aspects of carbohydrate counting in the treatment of type 1 diabetes mellitus. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
Type 1 diabetes mellitus, the incidence of which has been considerably increasing in the world, is characterized by the defi ciency in the production and secretion of insulin by the pancreas, resulting in hyperglycemia and disorders in the metabolism of the macronutrients. Therefore, it is known that the presence of the nutritionist in the health-care team that deals with diabetic patients is essential for the maintenance of a good metabolic control, encouraging modifi cations in the eating habits and the practice of physical activity. Evidences show that the amount of carbohydrate may be more important than its quality in determining the postprandial glycemic levels. In this context, carbohydrate counting is a dietary method that allows the patients to choose the food they wish to eat in each meal, and adjust the insulin doses according to the sum of the carbohydrate grams ingested. The goal of this study was to review the literature for the nutritional aspects of this dietary method, which has been used with patients with type 1 diabetes. Studies verifi ed a decrease in the levels of glycosylated hemoglobin and a higher compliance with the treatment in patients using carbohydrate counting, as it allows more fl exibility in the food choices. The nutritionist’s role in the education of the patient who chooses to start counting carbohydrates is further discussed.
Keywords: Nutritional Therapy. Diabetes mellitus, Type 1.Carbohydrates.
ABSTRACT
152
RESUMORESUMEN
La diabetes mellitus tipo 1 (DM1) se caracteriza por una defi ciencia en la producción y secreción de insulina por el páncreas, lo que resulta en hiperglucemia y alteraciones en el metabolismo de macronutrientes. Su incidencia mundial ha aumentado considerablemente y se sabe que la actuación del nutricionista en el cuidado de los portadores de DM1 es esencial para la mantención de un control metabólico adecuado, por medio del estimulo a cambio de hábitos alimentarios y a la práctica de actividad física. Hay evidencias mostrando que la glucemia pósprandial es más afectada por la cantidad total que por el tipo de carbohidratos ingeridos en una comida. En este contexto el cálculo de los carbohidratos es un método que permite al paciente seleccionar los alimentos que desea consumir en cada comida, y de acuerdo con los gramos de carbohidratos contenidos en cada alimento, ajustar la dosis de insulina regular o ultra rápida. El objetivo de este trabajo fue hacer una revisión bibliográfi ca de los aspectos nutricionales de este método, utilizado actualmente en el control de la DM1. Los estudios encontraron una disminución en los niveles de hemoglobina glucosilada y una mejor adherencia al tratamiento en pacientes que utilizan el cálculo de carbohidratos, debido a que permite una mayor fl exibilidad en la elección de alimentos. Se plantea la participación de nutricionistas en la educación de los pacientes que deseen comenzar este cálculo.
Palabras clave: Terapia nutricional. Diabetes mellitus tipo 1. Hidratos de carbono.
O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) caracteriza-se pela deficiência na produção e secreção de insulina pelo pâncreas, resultando em hiperglicemia e distúrbios no metabolismo dos macronutrientes. Sua incidência vem aumentando consideravelmente no mundo, e sabe-se que a atuação do nutricionista no cuidado de pacientes com DM1 é essencial para a manutenção de um bom controle metabólico, através do incentivo de alterações nos hábitos alimentares e da prática de atividade física. Evidências relatam ser mais importante a quantidade de carboidratos ingeridos numa refeição do que seu tipo na determinação da resposta glicêmica pós-prandial. Nesse contexto, a contagem de carboidratos é um método dietético que permite ao paciente escolher os alimentos que deseja consumir em cada refeição, e a partir da soma dos gramas de carboidrato contidos em cada alimento, ajustar as doses de insulina regular ou ultrarrápida. O objetivo deste trabalho foi fazer uma revisão bibliográfi ca dos aspectos nutricionais desse método dietético, usado atualmente no controle do DM1. Estudos verifi caram diminuição nos níveis de hemoglobina glicosilada e maior adesão ao tratamento em pacientes utilizando a contagem de carboidratos, já que ela permite maior fl exibilidade nas escolhas alimentares. Discute-se a participação do nutricionista na educação do paciente que deseja iniciar a contagem.
Palavras-chave: Terapia nutricional. Diabetes mellitus tipo 1. Carboidratos.
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R. F.; BRANCO, F. C. Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
153
INTRODUÇÃO
O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) caracteriza-se pela defi ciência na produção e secreção
de insulina pelo pâncreas, resultando em hiperglicemia e distúrbios no metabolismo dos
macronutrientes. O diagnóstico se traduz clinicamente pelo aparecimento de sintomas como
poliúria, polidipsia, polifagia, astenia e perda de peso (COSTA; FRANCO, 2005). O tipo 1
da doença pode ser dividido em tipo 1A (origem autoimune), que é mais comum, e tipo 1B
(origem idiopática, ausência de anticorpos) (IMAGAWA et al., 2000). Em ambos os casos,
as consequências comuns de um mau controle metabólico incluem danos neurológicos,
macro e microvasculares, além de aumento no risco de morte por doenças cardiovasculares
(DCCT RESEARCH GROUP, 1993; HIRSCH; BROWNLEE, 2005).
Estudos in vitro indicam que constantes variações glicêmicas parecem danifi car mais
as células do que a hiperglicemia por si só (HANEFELD; BORNSTEIN; PISTROSCH, 2009).
Estudo com humanos identifi cou que o valor de hemoglobina glicada (que refl ete a média de
glicemia mantida num período de três meses) defi ne somente 25% o risco de intercorrências
microvasculares em pacientes com DM1, ressaltando que um bom controle metabólico
deve apresentar redução na variabilidade glicêmica (DCCT RESEARCH GROUP, 1995).
Outro autor chegou a afi rmar que a variação glicêmica é um fator de risco independente
para complicações do diabetes (BROWNLEE; HIRSCH, 2006).
A incidência do DM1 no mundo vem aumentando cerca de 3% ao ano e pode ser
bastante variável. Tal variação ocorre por conta de fatores genéticos e ambientais, e dentre
estes podemos citar a dieta como fator de risco importante (DIB; TSCHIEDEL; NERY, 2008;
LEITE et al., 2008). Dados do estudo multicêntrico DIAMOND revelam incidências anuais
variando de 0,6/100.000 na Coréia e no México a 35,3/100.000 na Finlândia (KARVONEN
et al., 1993). Em São Paulo, entre os anos de 1987 e 1991, a incidência anual de DM1
entre jovens com até 14 anos foi de 7,6/100.000 (FERREIRA et al., 1993). Nos próximos
dois anos, a incidência deverá ser 40% superior à do ano de 1997, com maior incidência
(6,3%) entre crianças de 0 a 4 anos (EISENBARTH; JEFFREY, 2008). Observa-se o aumento
da frequência da fi guração da doença nas estatísticas de mortalidade, tanto como causa
básica ou contributiva, especialmente associada à doenças renais, cardiovasculares e
cerebrovasculares. Tais associações representam uma enorme sobrecarga para a Saúde
Pública (FONTBONNE, 1997).
Pelo fato de o DM1 estar diretamente relacionado ao metabolismo dos macronutrientes,
a nutrição desempenha importante papel no seu controle. Sabe-se que a atuação do
profi ssional nutricionista no cuidado de pacientes com DM1 é essencial para a manutenção
de um bom controle metabólico, através do incentivo de alterações nos hábitos alimentares
e da prática de atividade física (BATISTA et al., 2005).
Até o advento da terapia insulínica, pela ausência de outros recursos disponíveis,
apenas o tratamento dietético viabilizava o controle da doença. Acreditava-se que a restrição
de diversos alimentos seria a melhor forma de tratamento, pois preveniria a elevação
glicêmica. Tal conduta, porém, provocava desnutrição grave, conduzindo os indivíduos à
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R. F.; BRANCO, F. C. Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
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morte precoce (HISSA; ALBUQUERQUE; HISSA, 2004). As recentes diretrizes publicadas
pela American Diabetes Association (2010) refl etem uma abordagem mais fl exível em
relação às intervenções nutricionais e ao conteúdo de carboidratos da dieta, possibilitando
ao paciente ajustar sua própria insulina baseando-se no conteúdo ingerido desse nutriente.
Este é o fundamento básico da contagem de carboidratos. Assim sendo, o objetivo deste
trabalho foi verifi car os aspectos nutricionais desse método dietético, usado atualmente
no tratamento e controle do DM1. Foi feita uma revisão de artigos científi cos publicados
entre 1991 e 2010 e indexados nas bases de dados Lilacs, SciELO e PubMed. Os descritores
usados na busca foram: terapia nutricional/nutritional therapy, dieta/diet, diabetes mellitus,
carboidratos/carbohydrates, contagem de carboidratos/carbohydrates counting.
INSULINOTERAPIA NO DM1
As primeiras insulinas comercializadas eram extraídas de porcos e bois, mas com o
desenvolvimento da bioengenharia genética passou-se a produzir quimicamente insulinas
humanas sintetizadas por técnicas de recombinação de DNA, a partir de bactérias ou de
células de outros tecidos. Estas insulinas sintéticas não apresentam impurezas e possuem
uma menor ação antigênica (COSTA; ALMEIDA NETO, 1998). Um dos marcos na terapêutica
em diabetes ocorreu a partir do clássico estudo Diabetes Control and Complication Trial
(DCCT RESEARCH GROUP, 1993), que demonstrou que níveis de glicemia próximos da
normalidade diminuem drasticamente, ou até previnem, as complicações decorrentes do
DM1.
A insulinoterapia no DM1 pode ser realizada através de múltiplas injeções diárias, num
esquema chamado de basal/bolus, ou através do uso de bombas de infusão contínua de
insulina subcutânea, que mimetiza com mais precisão a liberação fi siológica do hormônio
pelas células beta (PIRES; CHACRA, 2008).
O esquema basal/bolus consiste na aplicação alternada de insulinas de longa e curta
duração, de maneira individualizada para cada paciente. As insulinas de longa duração
são utlizadas a fi m de se manter a glicemia nos períodos de jejum (madrugada) e entre as
refeições. São três os tipos mais utilizados: NPH, de ação intermediária, com pico de ação
cerca de 8 a 10 horas após a aplicação; glargina, que não apresenta pico de ação; e detemir,
que é semelhante à anterior e possui pico de ação pouco pronunciado. Já as insulinas de curta
duração são responsáveis pela metabolização dos carboidratos consumidos nas refeições
e pela correção de glicemias elevadas. As mais conhecidas são: regular (ação rápida), que
apresenta pico de ação após 3 horas de aplicação, devendo ser aplicada meia hora antes
da refeição; lispro, asparte e glulisina, (ação ultrarrápida), que apresentam picos de ação
após aproximadamente uma hora de aplicação, devendo ser aplicadas imediatamente antes
ou após a refeição (PIRES; CHACRA, 2008).
O uso da bomba de insulina requer treinamento mais elaborado por parte dos
pacientes e profi ssionais, além do custo maior associado à sua operacionalização. Estudos
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R. F.; BRANCO, F. C. Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
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colocam que seu uso é mais efi caz do que as múltiplas injeções diárias de insulina no
controle glicêmico a longo prazo, bem como na prevenção da hipoglicemia em diabéticos do
tipo 1. Ainda assim, a indicação para o uso do equipamento deve ser avaliada individualmente
pela equipe responsável pelo cuidado do paciente (SCHEINER et al., 2009; SILVERSTEIN
et al., 2005).
É importante que os profi ssionais de saúde e pacientes conheçam bem os tipos de
insulina e seus mecanismos de ação, já que estes relacionam-se intimamente com o método
da contagem de carboidratos.
CONTAGEM DE CARBOIDRATOS
Os carboidratos são os principais nutrientes que infl uenciam os níveis glicêmicos de
indivíduos saudáveis e com diabetes. Evidências relatam ser mais importante a quantidade de
carboidratos ingeridos numa refeição do que seu tipo na determinação da resposta glicêmica
pós-prandial (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2010; WOLEVER et al., 1999).
A contagem de carboidratos ganhou destaque a partir de um estudo realizado pelo
DCCT Research Group (ANDERSON et al., 1993), que comparou a efi cácia de quatro
métodos dietéticos no controle do DM1 – Healthy Food Choices, sistema de substituições,
glicose total disponível e contagem de carboidratos – e verifi cou que este último era uma
alternativa inovadora e motivadora para os pacientes.
A contagem permite que o paciente, com o auxílio de um nutricionista, escolha
os alimentos que deseja consumir em cada refeição e, a partir da soma dos gramas de
carboidrato contidos em cada alimento, realize o ajuste do chamado bolus prandial, isto é,
a dose de insulina rápida ou ultrarrápida a ser utilizada para metabolizar os carboidratos
contidos naquela refeição. Há também o bolus de correção, que é uma dose extra de
insulina rápida ou ultrarrápida utilizada nos casos em que a glicemia pré-prandial excede
o limite desejado. O cálculo do bolus prandial e do bolus de correção, bem como os
horários de aplicação de insulina, devem levar em consideração os seguintes itens: nível
de glicose pré-prandial; meta glicêmica (prescrita pelo médico); fator de sensibilidade
(também determinada pelo médico, representa quanto uma unidade de insulina rápida
ou ultrarrápida reduz a glicemia do indivíduo); realização de atividade física posterior
à refeição; experiências alimentares prévias e quantidade de carboidratos ingeridos na
refeição. Geralmente, uma unidade de insulina é capaz de metabolizar de 10 a 20g de
carboidratos em adultos, dependendo do peso corporal, do horário do dia, da resistência
à insulina e do grau de atividade física. Em crianças, como a sensibilidade ao hormônio é
maior, a relação insulina:carboidrato é normalmente considerada como sendo 1:30 (AHERN
et al., 1993; GILLESPIE; KULKARNI; DALY, 1998; HISSA; ALBUQUERQUE; HISSA, 2004;
LOTTENBERG, 2008; SCHEINER et al., 2009).
Uma estratégia interessante para nutricionistas que trabalham com diabéticos é
possuir em consultório manuais fotográfi cos ou mesmo instrumentos culinários (colheres,
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R. F.; BRANCO, F. C. Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
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tigelas, copos, xícaras) para exemplifi car e auxiliar o paciente no controle das porções
alimentares (GILLESPIE; KULKARNI; DALY, 1998).
O IMPACTO DA CONTAGEM NO TRATAMENTO DIETÉTICO DO DM1
Um estudo inglês acompanhou durante doze meses 169 adultos diabéticos do
tipo 1, com idade média de 40 anos, e mostrou diminuição nos valores de hemoglobina
glicada (HbA1c) e aumento na satisfação em relação ao tratamento após um período de
seis meses utilizando a contagem de carboidratos (DAFNE STUDY GROUP, 2002). De
forma análoga, um estudo brasileiro de oito meses com dez adolescentes diabéticos
realizando contagem de carboidratos revelou ser possível a redução dos níveis de
HbA1c, mesmo com a introdução da sacarose no lanche da tarde, consumida na forma
de um doce (COSTA; FRANCO, 2005). A American Diabetes Association (ADA), após
a análise de diversos estudos clínicos, concluiu que a sacarose pode ser utilizada por
indivíduos diabéticos do tipo 1 em substituição aos carboidratos da dieta (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2010). Entretanto, é recomendável que seu consumo não
ultrapasse 10% do total calórico diário da dieta, segundo recomendação da OMS para
indivíduos saudáveis (LOTTENBERG, 2008).
Um estudo brasileiro (HISSA; ALBUQUERQUE; HISSA, 2004) usou um questionário
para verifi car a aceitação da contagem de carboidratos, que foi respondido por 50 pacientes
entre 9 e 59 anos, que vinham utilizando a técnica havia seis meses. Os resultados indicaram
boa aceitação, principalmente nos quesitos relacionados à escolha do número de refeições,
comer fora de casa, horário das refeições, planejamento das atividades sociais e diárias,
realização de testes de glicemia e leituras de rótulos dos alimentos.
Um estudo italiano com 48 adultos portadores de DM1, com idade média de
27 anos, revelou que a educação nutricional em contagem de carboidratos melhorou a
reação e a conduta frente aos episódios de hipoglicemia (BRUTTOMESSO et al., 2001).
Tais episódios podem ser sintomáticos ou não e normalmente são identifi cados através
de um valor de glicemia capilar abaixo de 70mg/dL (MAIA; ARAÚJO, 2008), constituindo
fator limitante para a adequação e adesão terapêuticas, especialmente em crianças. A
correção ideal, caso o indivíduo esteja consciente, é a ingestão de 15g de carboidrato
de rápida absorção (balas de goma, refrigerante normal, mel, água com açúcar), que
tende a aumentar a glicemia em 40 a 50mg/dL em até 15 minutos. Após esse período, é
recomendável a realização de novo teste de glicemia capilar e a repetição do processo
caso haja necessidade (NERY, 2008).
Na prática clínica, sabe-se que também as proteínas e gorduras da dieta podem ser
transformadas em glicose, num período que varia de 4 a 6 horas, infl uenciando os níveis
glicêmicos. O estudo americano de Ahern et al. (1993), com amostra de oito pacientes
diabéticos com idade média de 35 anos, verifi cou que episódios de hiperglicemia
tardia após a ingestão de pizza estavam relacionados à sua composição dietética, e não
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R. F.; BRANCO, F. C. Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
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somente ao consumo exagerado desse alimento. A importância da monitoração glicêmica
frequente é justamente identifi car as possíveis reações individuais ao consumir esses
nutrientes e servir de embasamento para possíveis alterações dietéticas medicamentosas
e no padrão de atividade física do paciente. A monitoração glicêmica é comumente
realizada através da medição da glicemia capilar (GILLESPIE et al., 2009).
Um estudo australiano com 31 crianças e adolescentes entre 9 e 16 anos revelou
que a insulina pré-prandial (bolus) calculada individualmente para um lanche contendo
60g de carboidrato conseguiu manter a glicemia pós-prandial em níveis adequados
quando o mesmo lanche continha 50 ou 70g, indicando que uma quantidade fi xa de
insulina ultrarrápida é capaz de cobrir uma determinada faixa glicêmica (SMART et al.,
2009). Ainda assim, a contagem de carboidratos trata-se de um planejamento alimentar
que requer certa precisão na quantifi cação de porções dos alimentos e, por isso, pode
aumentar a ansiedade e a obsessão por comida, fazendo com que os pacientes sintam
que o diabetes controla suas vidas.
A adoção de práticas como omitir a aplicação de insulina e restringir severamente
a alimentação é comum em pacientes adolescentes, tanto do gênero feminino como
masculino, e sabe-se também que a prevalência de transtornos alimentares é alta na
população diabética, tanto nos portadores do tipo 1 quanto do tipo 2 da doença. Atitudes
alimentares inadequadas e práticas errôneas de controle do peso têm um impacto negativo
sobre o controle metabólico do diabetes, especialmente do tipo 1. É importante, portanto,
atentar às atitudes alimentares dos pacientes, especialmente daqueles que apresentam
muita difi culdade no controle glicêmico, a fi m de se detectar precocemente sinais de
um possível transtorno alimentar (AZEVEDO; PAPELBAUM; D’ELIA, 2002; JONES et al.,
2000; NEUMARK-SZTAINER et al., 2002; PAPELBAUM et al., 2004; PEREIRA; ALVARENGA,
2007; WALDRON, 1996). Já existe um questionário específi co para detectar a presença
de atitudes alimentares inadequadas em crianças com DM1; entretanto, este ainda não
foi traduzido e validado (MARKOWITZ et al., 2010).
Faz parte da educação nutricional, dentro do contexto da contagem de carboidratos,
incentivar o consumo diário de 20 a 35g de fi bras, segundo recomendação da ADA
(AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2010). As fi bras da dieta retardam a absorção de
glicose, melhoram a sensibilidade à insulina e estão associadas à diminuição nos níveis
plasmáticos de colesterol (GARG; SIMHA, 2007; O’KEEFE; GHEEWALA; O’KEEFE, 2008).
O uso do índice e carga glicêmicos, segundo a ADA, fornecem benefícios modestos no
controle e tratamento do DM, por conta de variações inter e intraindividuais (AMERICAN
DIABETES ASSOCIATION, 2010).
Gilbertson et al. (2001) obtiveram resultados interessantes ao avaliar a aplicabilidade
do índice glicêmico no controle metabólico de pacientes diabéticos. Ao longo de um
ano, comparou-se o uso da contagem de carboidratos versus uma orientação nutricional
baseada na pirâmide, com ênfase em alimentos de baixo índice glicêmico (IG), em
104 crianças com DM1. Aquelas do grupo de baixo IG reduziram de forma signifi cante os
níveis de HbA1c e obtiveram redução nos episódios de hiperglicemia. Entretanto, não foram
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R. F.; BRANCO, F. C. Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
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feitos ajustes de insulina em ambos os grupos, que é justamente uma das vantagens da
contagem de carboidratos, e os próprios autores colocaram que não se poderia atribuir os
baixos valores de HbA1c somente ao uso da dieta com baixo IG.
É importante orientar os pacientes quanto aos exageros alimentares que podem
surgir com a quebra dos antigos mitos relacionados à alimentação do diabético, já que tais
exageros também podem gerar danos à saúde. O estudo multicêntrico e multiétnico de Liu
et al. (2009), nos Estados Unidos, analisou 3.953 jovens diabéticos e 7.666 não-diabéticos,
com idades entre 3 e 19 anos. Houve maior prevalência de obesidade em jovens com
DM2 e em jovens não diabéticos, mas em jovens com DM1 a prevalência de sobrepeso
ultrapassou a de jovens saudáveis. Sabe-se que indivíduos diabéticos do tipo 1 também
podem apresentar resistência insulínica e síndrome metabólica, o que implica na piora do
controle metabólico e da qualidade de vida do paciente (BÁEZ et al., 2009). Entretanto,
um grande estudo de coorte realizado nos EUA, que acompanhou 655 indivíduos com
DM1 durante 20 anos, obteve resultados interessantes. O primeiro deles é que a relação
entre índice de massa corpórea (IMC) e mortalidade não foi linear nem no baseline e
nem durante o follow-up. O segundo achado do estudo é que o ganho de peso ao longo
dos anos se mostrou protetor nos indivíduos diabéticos, e a faixa de IMC associada à
mortalidade mínima foi entre 20 e 29kg/m2. Já valores altos de HbA1c representaram
fator de risco importante para mortalidade (CONWAY et al., 2009; SHANKAR et al., 2007).
O estudo qualitativo de Mehta et al. (2009) avaliou a percepção de alimentação
saudável e a infl uência do controle do diabetes na escolha alimentar apresentada
por 35 crianças e adolescentes com DM1 e suas famílias. Todos os participantes
reconheceram que frutas e vegetais são saudáveis, enquanto que fast food e outros
alimentos que tendem a aumentar mais a glicemia pós-prandial não são. Muitos pais
e jovens admitiram a importância da determinação da quantidade de carboidratos
dos alimentos para um controle adequado do diabetes, e relataram preferir muitas
vezes alimentos industrializados pela facilidade nessa determinação, através da leitura
de rótulos. Importante ressaltar que alguns pais e poucos jovens associaram a maior
fl exibilidade de um regime insulínico basal-bolus a um pior comportamento alimentar,
como por exemplo maior tendência a “beliscar” alimentos durante o dia e corrigir com
insulina depois. Já as famílias que seguiam um regime fi xo de aplicação de insulina
apresentaram a visão equivocada de que não é saudável consumir lanches para prevenir
hipoglicemia nos momentos de pico de ação do hormônio. As crenças e mitos acerca
da alimentação saudável para diabéticos também devem ser abordadas no processo
de educação nutricional dos pacientes e familiares.
No contexto da contagem de carboidratos, o uso de produtos diet deve ser avaliado,
pois grande parte deles apresenta maior teor de gorduras (FARIA et al., 2007) e quantidades
semelhantes de carboidrato, alterando a glicemia do paciente da mesma forma que um
produto convencional. Confi rmando que alimentos dietéticos são bastante usados por
indivíduos com diabetes, Castro e Franco (2002) encontraram que somente 24,2% de uma
amostra de 389 pacientes não utilizavam produtos diet.
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R. F.; BRANCO, F. C. Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
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Finalmente, é necessário que o profi ssional nutricionista também auxilie o
paciente a aceitar melhor a doença e a conviver em paz com ela e com si próprio. A
saúde deve ser vista não só em um contexto puramente biológico, mas sua promoção
deve favorecer acima de tudo o bem-estar do paciente, e o nutricionista deve levar em
conta que as escolhas alimentares derivam de fatores fi siológicos e psicossociais. Dessa
forma, o profi ssional é capaz de incentivar uma melhor aderência à dieta (MACLEAN,
1991; WALDRON, 1996).
CUIDADOS IMPORTANTES NA CONTAGEM DE CARBOIDRATOS
O paciente que deseja adotar a contagem de carboidratos deve estar disposto a
passar por treinamento específi co, a conhecer tamanhos de porções alimentares e a
se habituar à leitura de rótulos e tabelas de alimentos (AHERN et al., 1993; GILLESPIE;
KULKARNI; DALY, 1998; HISSA; ALBUQUERQUE; HISSA, 2004; LOTTENBERG, 2008;
SCHEINER et al., 2009). Os profi ssionais devem dominar a técnica da contagem de
carboidratos, bem como outros aspectos relativos ao tratamento, e devem se tornar
mais empáticos com os problemas enfrentados pelos pacientes (ZANONI et al., 2009).
Isso possibilita que eles tenham maior confi ança em seu autocuidado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A contagem de carboidratos é um método dietético que apresenta diversas vantagens
aos pacientes diabéticos do tipo 1, na medida em que possibilita maior liberdade e fl exibilidade
na escolha dos alimentos, bem como melhor controle metabólico, prevenindo episódios
de hipo e hiperglicemia. O acompanhamento multiprofi ssional contínuo desses pacientes
e o auxílio do nutricionista na escolha de alimentos mais saudáveis e adequados são
extremamente relevantes. O nutricionista deve atentar-se às atitudes alimentares dos indivíduos
com DM1, a fi m de detectar precocemente práticas inadequadas de controle do peso.
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Recebido para publicação em 22/05/10.Aprovado em 04/02/11.
COSTA, A. C. P.; THALACKER, M.; BESENBRUCH, N.; SIMONY, R. F.; BRANCO, F. C. Aspectos metabólicos e nutricionais da contagem de carboidratos no tratamento do diabetes mellitus tipo 1. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 151-162, abr. 2011.
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DANIELA CRISTINA SEMINOTI JACQUES
DOMENEGHINI1; SUÉLEM APARECIDA DE
FRANÇA LEMES2
1Nutricionista. Av. Marcolino Pereira Vieira, 1665. Bairro
Centro, CEP 95310-000, André da Rocha - RS
2Nutricionista, Doutoranda do Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde da Universidade
Federal de Mato Grosso – UFMT. Departamento
de Química. Laboratório de Bioquímica Pesquisa.
Endereço para correspondência: Suélem Aparecida de França Lemes
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.
Departamento de Química. Laboratório de Bioquímica
Pesquisa. Av. Fernando Corrêa da Costa, n. 2367,
Bairro Boa Esperança. CEP 78060-900
Cuiabá, MT, Brasil. E-mail:
[email protected] de conclusão
de curso apresentado à Faculdade de Nutrição da
Universidade de Cuiabá-MT em 2009.
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Effects of wine components on cardiovascular function. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
Cardiovascular diseases are among the leading causes of death around the world. The prevention of these diseases is directly related to the consumption of certain foods, such as wine, which may bring benefi ts to the body and the cardiovascular system. Original articles and reviews were used in this essay which aims to investigate the effects of wine consumption, especially on the cardiovascular system. Wine is an alcoholic beverage obtained from the processing of organic grapes, it has substances called polyphenols which are the major compounds responsible for these benefi cial effects. Among polyphenols, we can emphasize resveratrol, a substance which is mainly present in red grapes, reduces platelet aggregation and helps in the prevention of atherosclerosis. Like the wine, the grape juice also contains these substances, but the effects are not the same because of the difference in the absorption of these polyphenols. The types of grapes also contain different amounts of this substance. Studies highlight that the Sangiovese, Merlot and Tannat varieties have higher concentrations of resveratrol and consequently a greater cardio-protective effect. The consumption of wine must be regular and moderate to avoid risks to health, though. In regular and moderate doses, wine can act benefi cially in the body. The benefi ts of wine consumption to the cardiovascular system cannot be denied, but further studies must be conducted to clarify questions like which is the ideal amount of resveratrol recommended and what are other possible effects of its consumption.
Keywords: Wine. Phenolic Compounds. Flavonoids. Cardiovascular diseases.
ABSTRACT
Artigo de Revisão/Revision Article
Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascularEffects of wine components on cardiovascular function
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RESUMORESUMEN
Las enfermedades cardiovasculares están entre las principales causas de óbito en el mundo. El consumo de algunos alimentos esta directamente ligado a la prevención de estas enfermedades, como es el caso del vino, que puede producir efectos benéfi cos al organismo y al sistema cardiovascular. En este análisis fueran utilizados artículos originales y de revisión, y el objetivo fue pesquisar los efectos causados por el consumo de vino, principalmente en el sistema cardiovascular. El vino es una bebida alcohólica resultante de la transformación biológica de la uva, posee sustancias denominadas polifenoles que son los grandes responsables por los efectos benéfi cos. Entre los polifenoles se destacan el resveratrol, sustancia presente principalmente en las uvas tintas y que actúa previniendo la ateroesclerosis por disminuir la agregación plaquetaria. Así como el vino, el jugo de uva posee estas sustancias, pero los efectos no son los mismos porque la absorción de los polifenoles es diferente. Los tipos de uvas también poseen diferentes cantidades de estas sustancias. Los estudios destacan las variedades Sangiovese, Merlot y Tannat con mayores concentraciones de resveratrol y, consecuentemente, mayor efecto en la protección cardiovascular. Pero el consumo de vino debe ser regular y moderado para que no traiga riesgos a la salud, en dosis regulares y moderadas el vino puede actuar benéfi camente en el organismo. Son innegables los benefi cios del consumo de vino al sistema cardiovascular, pero más estudios deben ser realizados para aclarar las dudas acerca de la cantidad ideal recomendada de resveratrol así como otros efectos del consumo.
Palabras clave: Vino. Compuestos fenólicos. Flavonoides. Enfermedades cardiovasculares.
As doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte no mundo. O consumo de alguns alimentos está diretamente ligado à prevenção dessas doenças, como é o caso do vinho, que pode produzir efeitos benéfi cos ao organismo e ao sistema cardiovascular. Neste levantamento bibliográfico, foram utilizados artigos originais e de revisão com o objetivo de abordar os efeitos causados pelo consumo de vinho, principalmente ao sistema cardiovascular. O vinho é uma bebida alcoólica resultante da transformação biológica da uva. Possui substâncias denominadas polifenóis, responsáveis pelos efeitos benéfi cos. Entre os polifenóis destaca-se o resveratrol, substância presente principalmente nas uvas tintas e que age prevenindo a aterosclerose por diminuir a agregação plaquetária. Assim, como o vinho, o suco de uva possui tais substâncias, porém os efeitos não são os mesmos, diferenciando-se na absorção dos polifenóis. Os tipos de uvas também possuem quantidades diferentes desta substância. Estudos destacam as variedades Sangiovese, Merlot e Tannat com maiores concentrações de resveratrol e, consequentemente, maior efeito cardioprotetor. O consumo de vinho deve ser regular e moderado para que não traga riscos para a saúde, dessa forma o vinho pode atuar benefi camente no organismo. São inegáveis os benefícios do consumo de vinho ao sistema cardiovascular, porém mais estudos devem ser realizados para esclarecer dúvidas em relação à quantidade ideal recomendada de resveratrol, assim como outros efeitos do seu consumo.
Palavras-chave: Vinho. Compostos fenólicos. Flavonoides. Doenças cardiovasculares.
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares (D.C.V.) estão entre as principais causas de morte
no Brasil, representando 30% dos óbitos para todas as faixas etárias (SANTOS FILHO;
MARTINEZ, 2002; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009). Dentre essas doenças,
a arterial coronariana (D.A.C.), a insufi ciência cardíaca (I.C.) e o acidente vascular
cerebral (A.V.C.) são as causas principais de mortalidade no mundo segundo dados da
Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009). Elas são
responsáveis por 29% do total de óbitos e, curiosamente, 80% desse total ocorre em
países em desenvolvimento (ANDRADE, 2006; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009).
Entre os fatores de risco para as D.C.V. está a má qualidade da alimentação
(CERVATO et al., 1997). Uma dieta rica em vegetais como a Dieta Mediterrânea, pode
trazer benefícios ao organismo e diminuir fatores de risco. Uma das características
dessa dieta, assim como de outras, é incluir o vinho como elemento fundamental na
promoção de saúde, longevidade e proteção ao sistema cardiovascular. Existem vários
estudos que abordam dados relativos à ação de vinho no sistema cardiovascular. Muitas
dessas pesquisas, naturalmente, procuraram demonstrar os possíveis efeitos benéfi cos
do consumo do vinho em relação a acidentes cardiovasculares, entre outras doenças
(ANDRADE, 2006; DA LUZ, 2006; GIEHL et al., 2007). Contudo, há um consenso de que
o consumo moderado de vinho tinto está inversamente associado ao desenvolvimento
de doenças cardiovasculares (ANDRADE, 2006; SOUZA FILHO; MONFRÓI, 2005).
O vinho é uma bebida alcoólica resultante da transformação biológica da uva. Durante
a fermentação um conjunto de reações químicas provocadas por leveduras age sobre os
açúcares da uva, transformando-os em álcool, dando origem ao vinho. Em algumas vinícolas
as leveduras utilizadas são selecionadas e cultivadas em laboratório (NASCIMENTO, 2005).
O vinho possui substâncias, inicialmente protetoras da uva e da videira conhecidas como
polifenóis ou compostos fenólicos, que acompanham a fermentação do vinho e até são
acentuadas neste processo. Essas substâncias exercem uma forte ação antioxidante em
humanos e animais, melhorando a função endotelial e reduzindo a pressão arterial, além
de outros efeitos (ANDRADE, 2006; GIEHL et al., 2007; MAMEDE; PASTORE, 2004).
Os flavonoides e não-flavonoides são grupos de polifenóis que têm um
importante papel na prevenção e tratamento da aterosclerose, pois atuam como agentes
antiaterogênicos (ANDRADE, 2006). Esta propriedade foi descoberta a partir do Paradoxo
Francês, onde foi observada baixa taxa de mortalidade por D.A.C. na população francesa
que consumia uma dieta rica em gordura saturada, mas apresentava também um alto
consumo de vinho, em especial o tinto (GIEHL et al., 2007). O suco de uva também é um
antioxidante poderoso, porém existem controvérsias quanto à sua efi cácia. Como o vinho,
o suco de uva possui polifenóis que agem na prevenção de D.C.V., porém os efeitos não
são os mesmos do vinho, o qual possui melhor absorção de polifenóis. A quantidade
de polifenóis também é variada em diferentes tipos de uva. Estudos demonstram que
variedades como Sangiovese, Merlot e Tannat apresentam as maiores concentrações de
substâncias benéfi cas (FREITAS, 2006; SOUTO et al., 2006).
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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Uma substância benéfi ca presente na uva que tem sido estudada recentemente
é o resveratrol. Ela seria responsável pela redução da viscosidade do sangue além de
prevenir a aterosclerose. Estudos afi rmam que o resveratrol, da mesma forma que os
outros compostos fenólicos, atuam como agente antioxidante prevenindo fenômenos
aterogênicos e trombogênicos (ABE et al., 2007; ANDRADE, 2006; BERTAGNOLLI et
al., 2007; DUDLEY et al., 2009; PENNA; HECKTHEUER; 2004; SAUTTER et al., 2005;
SOUSA NETO; COSENZA, 1994; SOUTO et al., 2001). Além dessas substâncias, outros
fatores tem infl uência sobre os benefícios causados pela ingestão de vinho ao sistema
cardiovascular.
Diante disso, este artigo tem por objetivo fazer um levantamento bibliográfi co sobre
os benefícios do consumo de vinho para a saúde humana, assim como os seus efeitos
sobre o sistema cardiovascular.
Trata-se de um levantamento bibliográfi co, utilizando livros, teses, artigos originais
e de revisão selecionados em bases de dados como Lilacs, Bireme, Pubmed e Scielo,
no período de fevereiro a junho de 2009. Foram incluídos estudos realizados em seres
humanos (adultos e idosos) e estudos experimentais envolvendo animais (ratos e coelhos)
publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, no período de 1994 a 2009. Para a
busca, os termos de indexação utilizados foram: doenças cardiovasculares, hipertensão
arterial, vinho, vinho tinto, uva, compostos fenólicos, fl avonoides, polifenóis, resveratrol,
vino, red wine e cardiovascular disease.
VINHO E SAÚDE
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as doenças cardiovasculares são
consideradas uma das principais causas de morte (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2009). Os tipos mais comuns incluem doenças coronárias, cerebrovascular, cardíaca
reumática, arterial periférica, hipertensão arterial, cardiopatia congênita e insufi ciência
cardíaca (SANTOS FILHO; MARTINEZ, 2002; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009). A
hipertensão arterial é considerada um dos principais fatores de risco de morbi-mortalidade
cardiovascular e um dos principais agravantes à saúde no Brasil (BRASIL, 2004).
Os fatores de risco para as D.C.V. estão relacionados ao estilo de vida, maus hábitos
alimentares, consumo excessivo de bebida alcoólica e tabagismo (CERVATO et al., 1997;
SIPP; SOUZA; SANTOS, 2008). Estes são chamados de fatores de risco modifi cáveis e
podem levar a fatores de risco intermediários como: hipertensão arterial sistêmica (H.A.S.),
hiperglicemia, dislipidemias, sobrepeso e obesidade. Os fatores de risco modifi cáveis
são responsáveis por cerca de 80% das doenças coronarianas e cerebrovasculares. Há
também uma série de determinantes de doenças crônicas, ou as chamadas “causas
das causas”, como os fatores socioeconômicos e culturais entre eles a globalização, a
urbanização, bem como o envelhecimento da população. Além disso, a pobreza e o
estresse também estão relacionados ao surgimento das D.C.V. (BRASIL, 2004; WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2009).
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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Se não houver mudanças, as D.C.V. tendem a continuar sendo a principal causa de
morte (GIEHL et al., 2007). Segundo a Organização Mundial de Saúde (WORLD HEALTH
ORGANIZATION , 2009), no ano de 2005, 17,5 milhões de pessoas morreram de D.C.V.
representando 30% de todas as mortes no mundo. Desses óbitos 43% foram devido a ataques
cardíacos e 32% devido a A.V.C. Cerca de 80% destas mortes ocorreram em países de rendas
média e baixa. Estima-se que 20 milhões de pessoas morrerão de D.C.V. principalmente
por infarto agudo do miocárdio (I.A.M.) e A.V.C. até o ano de 2015.
No Brasil, as estimativas não são diferentes. As mortes por doenças do aparelho
circulatório passam dos 60% segundo dados do Ministério da Saúde de 2004, sendo as de
maior incidência as doenças cerebrovasculares (31,8%), isquêmicas do coração (30,4%) e
I.A.M. (22,9%) (BRASIL, 2004).
Estudos prospectivos indicam que o controle de alguns dos fatores de risco
independentes pode reduzir de forma importante a morbi-mortalidade secundária à
aterosclerose (RIQUE; SOARES; MEIRELLES, 2002; SANTOS FILHO; MARTINEZ, 2002). O
controle de dislipidemias é um fator importante na prevenção de D.C.V., assim como o de
H.A.S. (SIPP; SOUZA; SANTOS, 2008). Pode-se dizer que as dislipidemias são distúrbios do
metabolismo lipídico que podem contribuir para o desenvolvimento das D.C.V. (SPOSITO
et al., 2007). A lipoproteína de baixa densidade (LDL) tende a se depositar nas artérias e
está associada ao início e à aceleração do processo aterosclerótico. Já as lipoproteínas de
alta densidade (HDL) são de extrema importância, pois ajudam a remover o colesterol já
depositado, reduzindo o risco de aterosclerose e de infarto (ANDRADE, 2006; PENNA;
HECKTHEUER, 2004; SIPP; SOUZA; SANTOS, 2008; SOARES; MEIRELLES, 2002; SPOSITO
et al., 2007). Segundo Santos Filho e Martinez (2002), a redução do LDL em cerca de 30%
diminuiria o risco de I.A.M. em 33%, o A.V.C. em 29% e a mortalidade cardiovascular em
28%. Da mesma forma, a diminuição da H.A.S. reduziria o A.V.C. cerca de 40% e a doença
isquêmica do coração em 15% (SANTOS FILHO; MARTINEZ, 2002).
Para prevenir doenças, principalmente as de origem cardiovascular, várias estratégias
são sugeridas, sobre modifi car o estilo de vida através da prática de atividades físicas,
redução do tabagismo, ingestão de uma dieta saudável e inclusão do consumo de vinho,
especialmente o tinto. Estudos desenvolvidos no mundo todo comprovam que o vinho,
ingerido em quantidade moderada, contribui para a saúde do organismo humano,
melhorando a qualidade e aumentando o tempo de vida (ABE et al., 2007; NASCIMENTO,
2005; SOUSA NETO; COSENZA, 1994; SOUZA FILHO; MONFRÓI, 2005). As pesquisas
relacionam o consumo moderado de vinho a benefícios à saúde humana no que diz respeito
às D.C.V., à quimio-prevenção de vários tipos de câncer e outras doenças (ANDRADE, 2006;
BERTAGNOLLI et al., 2007; DUDLEY et al., 2009; GIEHL et al., 2007; PENNA; HECKTHEUER,
2004; SOUTO et al., 2001). Os compostos aos quais foram atribuídas as possíveis ações
terapêuticas do vinho são conhecidos como compostos fenólicos ou polifenóis. Dentre
estes compostos, cabe destacar o resveratrol, que é classifi cado como a substância que
mais benefi cia o organismo com proteção à doenças (ANDRADE, 2006; BERTAGNOLLI et
al., 2007; DUDLEY et al., 2009; GIEHL et al., 2007; PENNA; HECKTHEUER, 2004; SOUTO
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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et al., 2001). O vinho é considerado um alimento funcional (AMERICAN DIETETIC
ASSOCIATION, 2009; ANJO, 2004). Alimentos funcionais são defi nidos como qualquer
substância ou componente de um alimento que proporciona benefícios para a saúde,
inclusive a prevenção e o tratamento de doenças. Possuem compostos fi toquímicos bioativos
que, quando ingeridos diariamente em determinadas quantidades, mostram potencial para
modifi car o metabolismo humano de maneira favorável à prevenção do câncer e de outras
doenças degenerativas. Essas substâncias bioativas presentes nas uvas, também podem ser
encontradas em frutas e verduras (ANJO, 2004).
A baixa incidência de doenças em alguns povos chamou a atenção para a sua
alimentação. Populações que consomem dietas ricas em frutas, legumes, frutos secos e
vinho tinto regularmente e com moderação, têm uma vida mais longa e com menos doenças
crônicas do que outras populações ocidentais (MEZZANO, 2004; URQUIAGA et al., 2004).
Esse tipo de alimentação é característica da Dieta Mediterrânea. Estudos intervencionais
realizados em seres humanos objetivando comparar os efeitos de dietas mediterrâneas e
ocidentais, suplementadas com vinho tinto, observaram uma diminuição no percentual
de ácidos graxos saturados e aumento no percentual de ácidos graxos monoinsaturados
(MUFA) e polinsaturados (PUFA) no plasma. Isto sugere que o vinho tinto reduz o risco de
doença cardiovascular (URQUIAGA et al., 2004).
Durante os anos de 1985 a 1993, a OMS desenvolveu o Projeto MONICA
(“MONItoring system for CArdiovascular disease”) com o objetivo de estudar as
características populacionais, regionais e temporais de 37 países. Este projeto demonstrou
menor incidência de D.A.C. na França, Bélgica e Espanha, em comparação a outras
regiões, devido ao consumo de álcool (ANDRADE, 2006; MAMEDE; PASTORE, 2004).
Estudos posteriores surgiram evidenciando uma relação benéfi ca entre álcool e D.A.C.
(ANDRADE, 2006; DA LUZ, 2006; MAMEDE; PASTORE, 2004).
Dados do Projeto MONICA levaram ao surgimento do famoso “Paradoxo Francês”, onde
afi rma que os franceses, quando comparados com outros povos do mesmo nível socioeco-
nômico-cultural, são mais sedentários, fumam mais e consomem mais gorduras saturadas e,
no entanto, têm a metade dos problemas cardiocirculatórios (ABE et al., 2007; ANDRADE,
2006; ARAÚJO et al., 2005; GIEHL et al., 2007; MAMEDE; PASTORE, 2004; NASCIMENTO,
2005; PASTEN; GRENETT, 2006; PENNA; HECKTHEUER, 2004; RIQUE; SOARES; MEIRELLES,
2002; SOUSA NETO; COSENZA, 1994; SOUZA FILHO; MONFRÓI, 2005; URQUIAGA et
al., 2004). Diante desse resultado pode-se observar que a ingestão moderada de bebidas
alcoólicas, sobretudo vinho tinto, reduzia o risco de morbi-mortalidade cardiovascular em
40 a 60% (ARAÚJO et al., 2005). Vários outros estudos surgiram a partir desta descoberta
exaltando o vinho como uma bebida com atividades antioxidante, anti-infl amatória,
antimicrobiana, anticarcinogênica e vasodilatadora (ABE et al., 2007; ISHIMOTO; FERRARI;
TORRES, 2006; MAMEDE; PASTORE, 2004; SOUSA NETO; COSENZA, 1994).
Diferentes bebidas alcoólicas também foram avaliadas em algumas pesquisas
epidemiológicas na prevenção das D.C.V. (ANDRADE, 2006; GIEHL et al., 2007; SOUSA
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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NETO; COSENZA, 1994; SOUZA FILHO; MONFRÓI, 2005). Em uma metanálise envolvendo
209.418 indivíduos mostrou que o risco relativo para o desenvolvimento de D.C.V. foi
menor no consumo de vinho do que para o consumo de cerveja quando comparados aos
abstêmios. Ainda neste mesmo estudo foi encontrada uma associação benéfi ca signifi cativa
com o consumo diário de 150mL de vinho. Estes dados corroboram a associação inversa
entre o consumo frequente, de leve a moderado, de vinho com o risco de doença vascular.
Uma associação semelhante, porém menor foi sugerida com o consumo de cerveja por
Di Castelnuovo et al. (2002). Acredita-se que a ingestão de quantidades moderadas de
álcool, de até 30 gramas por dia (DA LUZ, 2006), tenha efeito protetor nas coronariopatias,
através do aumento da HDL e redução do fi brinogênio (ANDRADE, 2006; DA LUZ, 2006;
DI CASTELNUOVO et al., 2002). O álcool age no fígado e assim aumenta os níveis de HDL
(ANDRADE, 2006). O vinho tinto demonstrou ter um benefício maior entre as bebidas
alcoólicas nesta prevenção (ANDRADE, 2006; DI CASTELNUOVO et al., 2002).
COMPOSTOS FENÓLICOS DO VINHO
Outros estudos pormenorizaram os benefícios do vinho e descobriram uma série
de substâncias que teriam maiores e melhores efeitos do que o álcool ao organismo
(ANDRADE, 2006; GIEHL et al., 2007; NASCIMENTO, 2005; SOUSA NETO; COSENZA,
1994; SOUZA FILHO; MONFRÓI, 2005). Uma série de pesquisas sugeriu que os compostos
fenólicos, presentes no vinho tinto associados com o álcool eram os responsáveis por
limitar o início do processo aterosclerótico (ANDRADE, 2006; DA LUZ, 2006; DA LUZ;
COIMBRA, 2001; DI CASTELNUOVO et al., 2002). As ações fi siológicas exercidas pelos
polifenóis foram relacionadas à prevenção de D.C.V., neurodegenerativas, câncer, entre
outras, principalmente em função da elevada capacidade antioxidante (ABE et al., 2007;
FALLER; FIALHO, 2009; MAMEDE; PASTORE, 2004; PASTEN; GRENETT, 2006). Nos
vinhos, os compostos fenólicos apresentam comprovados efeitos anticarcinogênicos
in vitro e in vivo, constituindo promissores alimentos funcionais para a prevenção
do câncer (FERRARI; TORRES, 2002). Além disso, reduz a interação plaquetária com a
parede vascular, o que é considerado benéfi co do ponto de vista de risco cardiovascular
(MEZZANO, 2004). O consumo moderado de vinho tinto melhora a função cardíaca
no miocárdio isquêmico através da proteção da função endotelial (ANDRADE, 2006;
GIEHL et al., 2007; DAS; SANTANI; DHALLA, 2007) e, também tem sido relacionado à
redução da ocorrência de câncer e doenças degenerativas, como Alzheimer e demência
(BERTAGNOLLI et al., 2007).
Polifenóis são substâncias que tornam o vinho uma bebida diferente de todas as
outras. São conhecidos mais de 8.000 tipos desses compostos químicos presentes nos
vegetais (ARAÚJO et al., 2005; MAMEDE; PASTORE, 2004). A eles cabe proteger essas
plantas dos ataques físicos como a radiação ultravioleta do sol e dos ataques biológicos por
fungos, vírus e bactérias. Nos vinhos, já foram identifi cados cerca de 200 polifenóis com
importantes efeitos antioxidantes (ANJO, 2004; ARAÚJO et al., 2005; MAMEDE; PASTORE,
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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2004) e estão distribuídos nas folhas da videira, nas sementes e principalmente na casca
das uvas. É por isso que os vinhos tintos, que são fermentados na presença das cascas
e sementes, têm cerca de 10 vezes mais polifenóis que os vinhos brancos, fermentados
na ausência delas, atribuindo ao tinto melhores benefícios para a saúde (ANDRADE,
2006; FERRARI; TORRES, 2002; SOUSA NETO; COSENZA, 1994). Os compostos fenólicos
representam um constituinte importante para a produção de vinhos tintos porque
contribuem para os atributos sensoriais e, principalmente, para a coloração do vinho.
Apesar de os vinhos brancos possuírem polifenóis em menor número, autores afi rmam
que esses têm uma ação antioxidante mais potente (SAMUEL et al., 2008).
Os polifenóis compreendem o maior grupo dentre os compostos bioativos nos
vegetais, sendo subdivididos em classes de acordo com a estrutura química de cada
substância (FALLER; FIALHO, 2009). Estes polifenóis, presentes no vinho tinto, são
subdivididos em duas categorias: fl avonoides e não-fl avonoides. Dentre a classe dos
fl avonoides podemos encontrar a antocianina, catequina, epicatequina e a quercetina.
Todas essas substâncias são antioxidantes derivadas geralmente das sementes e da casca
da uva (ANDRADE, 2006). As mesmas são responsáveis pelo sabor, cor e adstringência
de vinhos e sucos de uva (ABE et al., 2007; GIEHL et al., 2007). As antocianinas, em
especial, são responsáveis pela maioria das cores azul, violeta e todas as tonalidades de
vermelho presente em fl ores e frutos. Em uvas tintas, as antocianinas contribuem para
os atributos sensoriais e, principalmente, para a coloração do vinho. As catequinas e
epicatequinas presentes, sobretudo em sementes de uvas, são os principais compostos
fenólicos responsáveis pelo sabor e adstringência de vinhos e sucos de uva. Os compostos
fenólicos também são encontrados em uvas brancas, porém em baixas concentrações,
mesmo assim infl uenciam no aroma e gosto dos vinhos brancos (ABE et al., 2007).
Apesar de a classe de fl avonoides ser a mais estudada e possuir mais de 5.000
compostos identifi cados (FALLER; FIALHO, 2009), o resveratrol pertence ao grupo de não-
fl avonoides, e foi apontado em estudos científi cos como o principal fator de proteção à
saúde encontrada em vinhos (GIEHL et al., 2007; PENNA; HECKTHEUER, 2004). O tanino
é outra substância polifenólica presente no vinho. Os que apresentam alto peso molecular
são responsáveis pelo sabor adstringente, já os de baixo peso molecular tendem ao
sabor amargo (ANJO, 2004). Sobre sua classifi cação, não há consenso na literatura.
Estudos apontam que os taninos estão inseridos na classe de fl avonoides (MALACRIDA;
MOTTA, 2005; MAMEDE; PASTORE, 2004), outros mostram que eles pertencem à classe
de não-fl avonoides (SOUSA NETO; COSENZA, 1994), todavia é consenso de que são
responsáveis também pelo sabor e cor do vinho (FREITAS, 2006; MALACRIDA; MOTTA,
2005; MAMEDE; PASTORE, 2004; SOUSA NETO; COSENZA, 1994). Segundo Giehl et al.
(2007), os polifenóis do vinho tinto apresentam vários efeitos antiaterogênicos atuando
como antioxidantes no colesterol LDL, inibindo agregação plaquetária, induzindo a
liberação de óxido nítrico e promovendo a vasodilatação. Estes efeitos, porém, estão
limitados ao vinho, já que não são claros em estudos com sucos de uva (ANDRADE,
2006; GIEHL et al., 2007; MIYAGI; MIWA; INOUE, 1997).
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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Em alguns países da Europa, o vinho é considerado um complemento alimentar, pois
contém carboidratos, vitaminas e minerais, provenientes da uva (PENNA; HECKTHEUER,
2004). Possui em sua composição de 80 a 85% de água e de 10 a 13% de álcool dependendo
da variedade, pois o mesmo é formado a partir de açúcares presentes na uva. Entre os
minerais presentes destacam-se potássio, cobre, zinco, fl úor, magnésio, alumínio, iodo,
boro e silício que, mesmo em quantidades pequenas, são indispensáveis ao organismo.
O vinho ainda fornece energia na forma de açúcares, como glicose e frutose, vitamina C e
vitaminas do complexo B (B1, B3, B5 e B8) (DAUDT; PENNA, 2004; KROGH et al., 2004;
PENNA; HECKTHEUER, 2004).
O RESVERATROL
Dentre todas essas substâncias polifenólicas destaca-se uma em especial: o resveratrol.
Estudos recentes mostraram que os efeitos benéfi cos do vinho provêm principalmente
desta substância (ABE et al., 2007; ANDRADE, 2006; FERRARI; TORRES, 2002; PENNA;
HECKTHEUER, 2004; SAUTTER et al., 2005; SOUSA NETO; COSENZA, 1994). O resveratrol
(3,5,4’-triidroxiestilbeno) é uma substância natural produzida por diversas plantas como
eucalipto, amendoim, amora, porém a principal fonte são as uvas e seus derivados (ABE
et al., 2007; SAUTTER et al., 2005). Os compostos fenólicos são encontrados em espécies
Vitis vinifera, conhecidas como uvas fi nas como Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Merlot,
Tannat, Sangiovese e outras produtoras de vinhos fi nos, e também em Vitis labrusca que
são uvas rústicas, Concord, Herbemont, Isabel e Niágara, de vinhos comuns, porém existem
diferenças nas quantidades de resveratrol (ABE et al., 2007; PENNA; HECKTHEUER, 2004).
Na uva, essa substância é sintetizada na casca como resposta ao estresse causado por
ataque fúngico na videira, por dano mecânico ou por irradiação de luz ultravioleta (ABE
et al., 2007; PENNA; HECKTHEUER, 2004; SAUTTER et al., 2005). Ou seja, sempre que a
planta sofrer agressões, o resveratrol é produzido como uma defesa. Quanto mais intensa
a coloração da uva, maior conteúdo de compostos fenólicos e capacidade antioxidante
ela apresenta (ABE et al., 2007; GUTIÉRREZ MAYDATA, 2002; SOUTO et al., 2001).
O resveratrol da uva aumenta no processo de transformação em vinho pela ação
de contato com a casca (BERTAGNOLLI et al., 2007; SAUTTER et al., 2005; SOUTO et al.,
2001). No grão de uva, a síntese de resveratrol é concentrada na casca e está ausente ou
presente em baixíssima quantidade na polpa da fruta (BERTAGNOLLI et al., 2007). É por
isso que em vinhos provenientes de uvas tintas, as quantidades que aparecem são maiores
do que em sucos de uva ou em vinhos brancos e rosados, pois na produção de vinhos
tintos a casca participa do processo de fermentação, diferente dos demais (ANDRADE, 2006;
BERTAGNOLLI et al., 2007; DUDLEY et al., 2009; PENNA; HECKTHEUER, 2004; SAUTTER et
al., 2005; SOUTO et al., 2001). As concentrações de resveratrol encontradas nos diferentes
tipos de vinhos variam em função da infecção fúngica, cultivo da uva, origem geográfi ca,
tipo de vinho e práticas enológicas (BERTAGNOLLI et al., 2007; PENNA; HECKTHEUER,
2004; SOUTO et al., 2001).
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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Esta proteção dada inicialmente à videira é transmitida pelo vinho e benefi cia o
organismo através do consumo regular e moderado (ABE et al., 2007; ANDRADE, 2006;
BERTAGNOLLI et al., 2007; PENNA; HECKTHEUER, 2004). Estudos confi rmam que
o resveratrol diminui a agregação plaquetária, através da interferência na síntese das
prostaglandinas, que são mediadores infl amatórios, juntamente com outros polifenóis o
que inibe certos fatores de risco para D.C.V., o mesmo não sendo confi rmado no suco de
uva (ANDRADE, 2006; GIEHL et al., 2007). O resveratrol também seria responsável pela
redução da viscosidade do sangue, como anticoagulante e vasodilatador, diminuindo assim
riscos de aterosclerose (BERTAGNOLLI et al., 2007; GUTIÉRREZ MAYDATA, 2002; SOUSA
NETO; COSENZA, 1994; SOUTO et al., 2001). Estudo realizado com ratos alimentados com
resveratrol por 14 dias mostrou uma melhor recuperação pós-isquêmica e redução de I.A.M.
comparado ao controle (DUDLEY et al., 2009).
Os efeitos benéfi cos do resveratrol vão além do sistema cardiovascular. Apresenta
também capacidade antitumoral através da indução da morte de células neoplásicas, inibição
da atividade dos receptores de hormônios andrógenos em células tumorais prostáticas
(DUDLEY et al., 2009; FERRARI; TORRES, 2002; GUTIÉRREZ MAYDATA, 2002; PENNA;
HECKTHEUER, 2004; SOUTO et al., 2001), e atividade anti-infl amatória (BERTAGNOLLI et
al., 2007; PENNA; HECKTHEUER, 2004).
Um estudo inédito no Brasil realizado por Souto et al. 2001 avaliou os teores
de resveratrol de vinhos brasileiros comparados aos importados. Foram analisadas 36
amostras de diferentes variedades de vinhos e observou-se uma média superior aos valores
apresentados na literatura para vinhos da Califórnia, Portugal, Grécia, Japão, Canadá, Chile
e Argentina. Os vinhos brasileiros analisados com maiores concentrações de resveratrol
foram Sangiovese (5,75mg/L) e Merlot (5,43mg/L). Este estudo verifi cou também que as
concentrações de resveratrol em vinhos Merlot e Cabernet Sauvignon vêm aumentando
nas últimas safras, podendo posteriormente mudar esta classifi cação atual.
Outro estudo, realizado também no Brasil, analisando vinhos tintos avaliou quantidade
de compostos fenólicos e quantifi cação de cor das variedades Vitis vinifera: Cabernet
Sauvignon, Tannat e Merlot. Entre eles o vinho que apresentou maior teor de compostos
fenólicos e intensidade de cor foi o Tannat, devido ao maior teor de antocianina presente
nessa variedade de uva (FREITAS, 2006).
Apesar de possuir quantidades menores de resveratrol, o vinho branco é considerado
tão cardioprotetor quanto o tinto (SAMUEL et al., 2008). Esta propriedade se deve pela
identifi cação do tirosol em vinhos brancos. Ou seja, além do resveratrol, esta substância
é capaz de induzir proteção contra isquemias e prolonga a longevidade de substâncias
benéfi cas (SAMUEL et al., 2008).
Estudo realizado com coelhos demonstrou que o vinho tinto diminuiu placas
ateroscleróticas macroscopicamente nos animais alimentados durante 3 meses com dieta
hipercolesterolêmica, além de haver uma diminuição quando comparados somente com
a dieta, ou com a dieta mais produtos não alcoólicos do vinho. Assim, o vinho tinto
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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parece fornecer maiores benefícios do que qualquer outro tipo de bebida alcoólica,
provavelmente devido aos polifenóis. Além de induzirem o relaxamento vascular os
fl avonoides e não-fl avonoides inibem muitas das reações celulares associadas com
aterosclerose e infl amação, tais como a expressão endotelial de moléculas de adesão
vascular (DA LUZ; COIMBRA, 2001).
Comparando os efeitos do consumo de vinho aos do suco de uva, Miyagi et al. em
estudo realizado com 20 voluntários (8 homens e 12 mulheres) que consumiram 300mL
de ambas as bebidas, mostrou uma signifi cativa inibição da oxidação de LDL colesterol
com vinho tinto, mas não com o suco de uva, embora o suco tenha apresentado maiores
quantidades de fl avonoides. Este resultado deve-se à melhor absorção dos fl avonoides
do vinho pelo intestino do que os do suco de uva (MIYAGI; MIWA; INOVE, 1997).
Assim como o vinho, o suco de uva melhora os fatores de risco relacionados ao
desenvolvimento da aterosclerose, como a diminuição da agregação plaquetária, reduz a
pressão arterial e melhora a função endotelial, porém não evita a oxidação do colesterol
LDL (GIEHL et al., 2007). Os conteúdos de compostos fenólicos totais encontrados para os
sucos de uva são semelhantes aos encontrados para o vinho tinto. Diante disso, o suco de
uva pode ser considerado uma boa fonte de compostos fenólicos (MALACRIDA; MOTTA,
2005; MIYAGI; MIWA; INOUEL, 1997). A presença do álcool atesta benefícios, como na
redução da pressão arterial, a outras bebidas alcoólicas e não somente o vinho (ANDRADE,
2006; MALACRIDA; MOTTA, 2005; MIYAGI; MIWA; INOUEL, 1997).
Há controvérsias quanto aos benefícios atribuídos ao vinho serem maiores do que
os do suco de uva, pois outros estudos afi rmam a maior efi cácia do suco aos benefícios à
saúde. Provenientes da uva, os polifenóis estão presentes nos seus derivados, porém em
quantidades diferentes. O suco de uva contém mais compostos fenólicos do que o vinho
(GIEHL et al., 2007; MALACRIDA; MOTTA, 2005), esses são mais facilmente absorvidos
pelo organismo quando provenientes do vinho. Por outro lado, a presença de etanol no
vinho aumenta a absorção de compostos fenólicos, pois previne a precipitação destes no
trato digestivo. (MALACRIDA; MOTTA, 2005).
VINHO: OUTROS BENEFÍCIOS X MENOR RISCO DE D.C.V.
Em doses moderadas, o vinho pode atuar benefi camente no organismo além dos
efeitos relatados ao aparelho cardiovascular. São atribuídos ao vinho ações como a melhoria
da qualidade de vida dos idosos, relaxante com alteração do humor e alívio do estresse,
além do prazer sensorial e do seu alto valor nutritivo (SOUSA NETO; COSENZA, 1994).
Argumenta-se ainda que a menor incidência de D.C.V. em consumidores moderados e
habituais de vinho pode estar associada a um estilo de vida mais descontraído (GIEHL et
al., 2007; SOUSA NETO; COSENZA, 1994). Porém, o consumo de vinho deve ser regular
e moderado de uma a duas taças ao dia (300mL), para oferecer efeitos benéfi cos sem
comprometer a saúde do organismo e proteger o sistema cardiovascular (ABE et al, 2007;
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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DA LUZ; COIMBRA, 2001; DAS; SANTANI; DHALLA, 2007; ISHIMOTO; FERRARI; TORRES,
2006; MAMEDE; PASTORE, 2004; PASTEN; GRENETT, 2006; PENNA; HECKTHEUER, 2004;
SAMUEL, et al., 2008; SOUSA NETO; COSENZA, 1994; SOUZA FILHO; MONFRÓI, 2005).
Na dose correta, o vinho pode ser indicado como tratamento e prevenção das D.C.V.,
porém o consumo de doses elevadas e uso indiscriminado de álcool, assim como de
vinho, estão associados à H.A.S. e, portanto, deve ser evitado (DA LUZ; COIMBRA, 2001;
SOUSA NETO; COSENZA, 1994). Em indivíduos que ingerem álcool em excesso, há risco
de oclusão vascular, arritmias, cirrose hepática, câncer gastrintestinal, síndrome alcoólica
fetal, assassinatos, crimes sexuais, acidentes industriais e de tráfi co, roubos e psicose, além
da dependência alcoólica que é um grave problema de saúde (DA LUZ, 2006; DA LUZ;
COIMBRA, 2001; PENNA; HECKTHEUER, 2004). Assim o vinho, como todas as outras
bebidas alcoólicas são contraindicadas em casos de transtornos no aparelho digestivo,
para menores de idade, em casos de alcoolismo, fi brilação arterial, insufi ciência hepática
e diabetes (DA LUZ, 2006; PENNA; HECKTHEUER, 2004).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O vinho pode ser considerado mais do que uma bebida alcoólica, sendo de
complemento alimentar a alimento. As características sensoriais atraem o consumo do
vinho, porém são os compostos fenólicos os dignos de mérito quanto aos benefícios
à saúde. Tal como o vinho, o suco de uva traz benefícios, porém menos signifi cativos
que os do vinho. O consumo de vinho deve ser cuidadosamente indicado em caso de
prevenção à D.C.V., observando as contraindicações que dependem de cada indivíduo, de
sua condição psicológica e de saúde em geral. Assim, o consumo excessivo de qualquer
bebida alcoólica, inclusive o vinho, por razões de saúde não deve ser incentivado. No
entanto, se os riscos forem avaliados, o consumo regular e moderado traz benefícios
à saúde e principalmente ao sistema cardiovascular. Sugerem-se mais estudos para o
esclarecimento de dúvidas como os efeitos do suco de uva, a dose recomendada de
resveratrol e outros efeitos desta substância se for utilizada de forma isolada e não através
do consumo de vinho.
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Recebido para publicação em 21/07/10.Aprovado em 22/02/11.
DOMENEGHINI, D. C. S. J.; LEMES, S. A. F. Efeitos dos componentes do vinho na função cardiovascular. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 163-176, abr. 2011.
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URSULA VIANA BAGNI1; GLORIA VALERIA
DA VEIGA1
1Instituto de Nutrição Josué de Castro,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Endereço para correspondência: Ursula Viana Bagni
Instituto de Nutrição Josué de Castro, Centro
de Ciências da Saúde, Universidade Federal
do Rio de Janeiro. Av. Carlos Chagas Filho,
373, Bloco J, 2º andar. Cidade Universitária, Ilha do Fundão. Rio de Janeiro, RJ.
CEP 21941-590. E-mail:
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Iron-defi ciency anemia and obesity: a new look at old problems. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
The coexistence of iron-defi ciency anemia and obesity could represent an apparent paradox, since the fi rst would be associated with nutritional defi ciencies, and the second, with excesses. However, recent fi ndings suggest that obesity could predispose to iron-defi ciency anemia, thus indicating a possible link between these diseases. The increased infl ammatory activity in the adipose tissue of the obese person favors the production of hepcidin, which in high concentrations negatively regulates the export of iron in duodenal enterocytes and macrophages, thus reducing circulating iron and favoring anemia. Furthermore, anemia in obese people could favor the perpetuation of obesity, since aerobic capacity and resistance to physical efforts are impaired in anemic individuals, who tend to gradually reduce their activity level to avoid discomfort arisen from increased cardiac stress, which favors weight gain. The complex relationship between anemia and obesity requires professionals to seek new strategies that are effective in coping with the combination of these nutritional problems.
Keywords: Anemia, Iron-Defi ciency. Obesity. Chronic Disease.
ABSTRACT
Artigo de Revisão/Revision Article
Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemasIron-defi ciency anemia and obesity: a new look at old problems
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RESUMORESUMEN
La coexistencia de anemia ferropénica y obesidad podría representar un aparente paradojo, ya que la primera estaría asociada con defi ciencias alimenticias y la última con excesos. Sin embargo, hallazgos recientes sugieren que la obesidad puede predisponer a la anemia por defi ciencia de hierro, señalizando una posible relación entre estas enfermedades. El aumento de la actividad inflamatoria en el tejido adiposo de los obesos favorece la producción de hepcidina, que en altas concentraciones regula negativamente la salida de hierro en los enterócitos duodenales y los macrófagos, disminuyendo el hierro circulante y promoviendo el aparecimiento de anemia. Por otro lado, la anemia en los obesos puede favorecer la perpetuación de la obesidad, porque personas anémicas tienen la capacidad aeróbica y resistencia al esfuerzo físico perjudicados y tienden a reducir gradualmente su nivel de actividad para evitar el malestar derivado del mayor esfuerzo cardíaco. Esto provoca más aumento de peso. Esta compleja relación entre anemia y obesidad requiere que los profesionales busquen nuevas estrategias que sean efi caces para hacer frente a esta combinación de problemas nutricionales.
Palabras clave: Anemia ferropénica. Obesidad. Enfermedad crónica.
A coexistência da anemia ferropriva e obesidade poderia aparentemente representar um paradoxo, visto que a primeira estaria associada à carências nutricionais e a outra a excessos. Todavia, descobertas recentes sugerem que a obesidade poderia predispor a anemia ferropriva, evidenciando possível relação entre estas doenças. A aumentada atividade inflamatória no tecido adiposo do obeso favor ecer ia a pr odução de hepcidina, que em altas concentrações regula negativamente a saída do ferro em macrófagos e enterócitos duodenais, reduzindo o ferro circulante e favorecendo a anemia. Por outro lado, a anemia no obeso favoreceria a perpetuação da obesidade, já que anêmicos têm capacidade aeróbica e resistência aos esforços físicos prejudicados e tendem a reduzir, gradativamente, seu nível de atividade para evitar desconfortos decorrentes do maior esforço cardíaco, favorecendo o ganho de peso. Esta complexa relação entre anemia e obesidade impõe aos profi ssionais buscar novas estratégias que sejam efi cazes para o enfrentamento dessa combinação de problemas nutricionais.
Palavras-chave: Anemia ferropriva. Obesidade. Doença crônica.
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
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INTRODUÇÃO
Desde o fi nal da década de 1950, a anemia por defi ciência de ferro é considerada pela
Organização Mundial de Saúde como um problema de saúde pública. Hoje, meio século
depois, a doença permanece com elevada magnitude e encontra-se entre as mais graves
defi ciências nutricionais no mundo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001, 2008).
O aumento na demanda orgânica por ferro, mais expressivo, particularmente
durante a gestação e a primeira infância, tem sido um dos principais fatores relacionados
ao desenvolvimento da anemia ferropriva na população. As práticas alimentares também
exercem importante papel no desenvolvimento da doença, tais como: consumo insufi ciente
de ferro, consumo inadequado de estimuladores da absorção do ferro junto às refeições (ex.
vitaminas C e A), assim como o consumo concomitante de inibidores da biodisponibilidade
do ferro (ex. cálcio e ácido fítico) (COMITÉ NACIONAL DE HEMATOLOGÍA, 2001; BRAGA;
AMÂNCIO; VITALLE, 2006; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008).
Se por um lado a manutenção de uma dieta desequilibrada por longo prazo pode
favorecer o aparecimento da anemia ferropriva e outras defi ciências nutricionais (COMITÉ
NACIONAL DE HEMATOLOGÍA, 2001; BRAGA; AMÂNCIO; VITALLE, 2006), por outro
lado, pode também aumentar o risco de desenvolvimento de doenças crônicas, como a
obesidade e as alterações metabólicas relacionadas (VASKONEN, 2003), outro problema
de proporções epidêmicas da atualidade. Assim, a coexistência de obesidade e anemia,
designada como “dupla carga de problemas nutricionais”, já vem sendo encontrada em
diversos países, especialmente aqueles em transição nutricional como o Brasil (BATISTA-
FILHO et al., 2008), Índia, Marrocos e Tailândia (ZIMMERMANN et al., 2008), México,
Egito e Peru (ECKHARDT et al., 2008).
Durante muito tempo, a associação entre a obesidade e anemia ferropriva foi
explicada pela alimentação desequilibrada dos indivíduos acometidos por estes dois
problemas nutricionais (NEAD et al., 2004; PINHAS-HAMIEL et al., 2003; SELTZER; MAYER,
1963). Entretanto, descobertas recentes nos campos da fi siologia e biologia molecular
suscitaram a discussão de que a obesidade propriamente dita, e não a dieta, poderia
ser o fator predisponente para o desenvolvimento da anemia ferropriva em diversos
indivíduos (ZIMMERMANN et al., 2008). Já na década de 1960, surgiam os primeiros
estudos epidemiológicos demonstrando a maior proporção de defi ciência de ferro
entre indivíduos com obesidade (SELTZER; MAYER, 1963; WENZEL; STULTS; MAYER,
1962). Posteriormente, essa relação também veio sendo observada por diversos outros
autores, tanto em indivíduos adultos (LECUBE et al., 2006; MENZIE et al., 2008; MICOZZI;
ALBANES; STEVENS, 1989; YANOFF et al., 2007) como em crianças e adolescentes
(MOAYERI et al., 2006; NEAD et al., 2004; PINHAS-HAMIEL et al., 2003).
A literatura ainda é muito incipiente quanto à relação entre anemia ferropriva e
obesidade, particularmente no Brasil. Nesse sentido, o presente artigo traz uma revisão
sobre o tema e discute acerca das possibilidades de que o melhor conhecimento sobre a
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
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relação entre estes dois distúrbios nutricionais possa infl uenciar as políticas e ações em
saúde pública voltadas para a prevenção e controle dos mesmos.
A busca bibliográfi ca foi realizada no ano de 2010 nas bases de dados eletrônicas
PubMed, Scielo, Scopus, Science Direct, Wiley Inter Science, Ovid e Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS), tendo sido consultadas também as listas de referências dos artigos
encontrados. O ano de publicação não foi utilizado como fi ltro para seleção dos artigos.
Foi priorizada a utilização dos descritores obtidos pelo Medical Subject Headings (MeSH)
(http://www.nlm.nih.gov/mesh) e Descritores em Ciências da Saúde, (DeCS) (http://
decs.bvs.br); quando não disponíveis, termos livres foram aplicados para a realização da
busca. Os descritores utilizados em português (e seus respectivos correspondentes em
inglês) foram: ferro (iron), anemia ferropriva (iron-defi ciency anemia), defi ciência de ferro
(iron defi ciency), sobrepeso (overweight), obesidade (obesity), adiposidade (adiposity),
infl amação (infl ammation), hepcidina (hepcidin), anemia da doença crônica (anemia
of chronic disease). As expressões de pesquisa foram construídas combinando-se os
descritores ou utilizando-os de forma isolada.
DESVENDANDO A RELAÇÃO ENTRE ANEMIA E OBESIDADE
Os primeiros estudos epidemiológicos demonstrando a maior proporção de
defi ciência de ferro entre indivíduos com obesidade surgiram na década de 1960.
Ao avaliar 355 adolescentes de 11 a 19 anos de idade, Wenzel, Stults e Mayer (1962)
verifi caram que o nível sérico de ferro dos jovens obesos era signifi cativamente inferior ao
dos eutrófi cos, resultado também verifi cado por Seltzer e Mayer (1963) em um grupo de
321 jovens de 11 a 21 anos de idade. Mais recentemente, Nead et al. (2004) constataram
que crianças e adolescentes americanos com sobrepeso e obesidade apresentavam o
dobro de chance de ter anemia por defi ciência de ferro (OR=2,0 IC95%:1,2-3,5 e OR=2,3
IC95%:1,4-3,9, respectivamente), e que a prevalência de anemia aumentava à medida
que o Índice de Massa Corporal (IMC) se elevava da faixa normal (2,1%) para sobrepeso
(5,3%) e obesidade (5,5%) (p=0,002). Esta tendência também vem sendo observada
em jovens de outras regiões. Em Israel, a concentração de ferro sérico de crianças e
adolescentes com sobrepeso (10,6µmol/L) e obesidade (13,3µmol/L) foi signifi cativamente
menor que de crianças eutrófi cas (15,8µmol/L) (p<0,001) (PINHAS-HAMIEL et al., 2003).
No Teerã, também, se constatou maior chance de ter anemia ferropriva em crianças
e adolescentes com sobrepeso (OR=3,5; IC95% 2,2-5,8) e obesidade (OR=2,6; IC85%
1,4-4,6) quando comparados aos eutrófi cos, e que a prevalência desse agravo aumentava,
signifi cativamente, à medida que o IMC se elevava da faixa normal (2,5%) para sobrepeso
(5,3%) e obesidade (6,9%) (p=0,001) (MOAYERI et al., 2006).
A maior prevalência de anemia entre indivíduos com excesso de peso e obesidade
também vem sendo relatada entre adultos. Avaliando os dados da primeira edição do National
Health and Nutrition Examination Survey (NHANES-I), Micozzi, Albanes e Stevens (1989)
verifi caram que valores elevados de IMC estavam associados com baixas concentrações de
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
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ferro sérico em mulheres, e que a saturação de transferrina era, signifi cativamente, mais
baixa no maior quartil de IMC, tanto em homens quanto em mulheres. Desde então, a
defi ciência de ferro em obesos vem sendo demonstrada por outros pesquisadores (GILLUM,
2001; MENZIE et al., 2008; YANOFF et al., 2007; ZIMMERMANN et al., 2008) inclusive entre
mulheres obesas pós-menopausa (LECUBE et al., 2006).
Durante muito tempo, a dieta desequilibrada foi única hipótese aventada para explicar
a relação entre anemia e obesidade, mas no início da década de 2000, com a descoberta da
hepcidina, a discussão acerca dessa relação começou a tomar novos rumos. A hepcidina
é uma pequena proteína de 25 aminoácidos sintetizada principalmente nos hepatócitos e
inicialmente caracterizada por apresentar atividade antimicrobiana (KRAUSE et al., 2000;
PARK et al., 2001). A primeira descrição desse peptídio no plasma foi feita por Krause et
al. (2000), que o nomeou como Liver Expressed Antimicrobial Peptide 1 (LEAP-1). Um ano
depois, Park et al. (2001) divulgaram a descoberta desse peptídio na urina, que passou a
ser denominado hepatic bactericidal protein (Hepcidin). Mais tarde foi demonstrado que
a hepcidina seria um hormônio chave na homeostase do ferro, interferindo na regulação
da sua absorção intestinal e na sua reutilização pelo sistema reticuloendotelial (GRAF et
al., 2008; NEMETH; GANZ, 2006; SELA, 2008).
Ao entrar na circulação, a hepcidina regula, negativamente, a saída de ferro das células,
especialmente nos macrófagos reticuloendoteliais envolvidos na reciclagem de ferro a
partir de eritrócitos e enterócitos duodenais (FLEMING, 2008). A hepcidina age ligando-se
à ferroportina, que é a proteína transmembrana encarregada de exportar ferro das células.
Essa ligação faz com que a ferroportina seja internalizada nos lisossomos citoplasmáticos
e degradada. Consequentemente, com a perda dessa proteína na superfície da membrana
celular, o ferro degradado acumula-se nessas células, enquanto a concentração de ferro
circulante se reduz (FLEMING, 2008; GANZ; NEMETH, 2006; GROTTO, 2008; NEMETH;
GANZ, 2006; SELA, 2008). Além disso, a retenção do ferro nos enterócitos leva à redução no
aproveitamento do ferro dietético pelas células da membrana apical (FLEMING, 2008; MENA
et al., 2008), potencializando ainda mais o efeito sobre a concentração de ferro circulante.
No intestino, a hepcidina também causa a internalização da molécula de ferroportina
situada na membrana basolateral dos enterócitos, bloqueando a transferência do ferro que
está no citoplasma dessas células para a transferrina no plasma (GANZ; NEMETH, 2006;
GROTTO, 2008).
A síntese de hepcidina se reduz em situações de defi ciência de ferro e hipóxia, e
é estimulada em situações de sobrecarga de ferro no fígado, a fi m de evitar o acúmulo
do metal e danos tissulares irreversíveis (LEONG; LÖNNERDAL, 2004; NEMETH; GANZ,
2006). Sua produção também é aumentada durante infecções e infl amações, causando a
diminuição no nível de ferro sérico e a instalação do fenômeno conhecido como “Anemia
da Infl amação” ou “Anemia da Doença Crônica”, um mecanismo do hospedeiro para
limitar a disponibilidade de ferro para micro-organismos invasores (ANDREWS, 2004;
NEMETH; GANZ, 2006). Citocinas infl amatórias favorecem esse aumento da produção de
hepcidina (FLEMING, 2008; GANZ; NEMETH, 2006; LEONG; LÖNNERDAL, 2004), sendo
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
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a principal delas a Interleucina-6 (IL-6), que age diretamente nos hepatócitos estimulando
sua expressão (ANDREWS, 2004; GANZ; NEMETH, 2006).
Uma vez que a obesidade está associada com o aumento da atividade infl amatória
no tecido adiposo, com particular aumento na produção de IL-6 (BASTARD et al., 2006;
COPPACK, 2001; FAIN, 2006), é possível que a adiposidade em excesso possa predispor ao
aparecimento da “Anemia da Doença Crônica” (McCLUNG; KARL, 2009). A veracidade dessa
afi rmativa foi constatada por Yanoff et al. (2007), ao verifi car que em adultos americanos
o ferro sérico (75,8±35,2µg/dL vs. 86,5±34,2µg/dL, p=0,002), a saturação de transferrina
(20,3±9,9% vs. 23,0±9,9%, p=0,005) e o volume corpuscular médio (85,9±5,4fL vs. 88,0±5,4fL,
p<0,0001) foram signifi cativamente menores nos obesos, comparados aos eutrófi cos, e se
correlacionaram negativamente com o IMC e a massa adiposa. No estudo de Menzie et
al. (2008), a massa gorda também afetou negativamente a concentração sérica de ferro
(β= -0,330; p<0,05), sendo essa associação signifi cativa mesmo após ajuste para variáveis
de confundimento, tais como características demográfi cas e dietéticas. Segundo
os autores, apesar de os indivíduos obesos apresentarem consumo semelhante de
ferro total na dieta (p=0,10) e até mesmo superior de ferro heme (p<0,001) que os
indivíduos eutrófi cos, os obesos tiveram menor concentração média de ferro sérico
(72,0±61,7µg/dL vs. 85,3±58,1µg/dL, p<0,001) e saturação de transferrina (20,7% vs. 23,3%,
p=0,012), apontando para um menor aproveitamento do mineral nesse grupo (MENZIE et
al., 2008). Ao investigar a relação entre o IMC e a absorção de ferro alimentar em mulheres
e crianças da Tailândia, Marrocos e Índia, Zimmerman et al. (2008) também observaram
que aqueles com IMC mais elevado apresentaram menor absorção do ferro oferecido em
uma intervenção com alimentos fortifi cados com o mineral.
No ano de 2009, Aeberli, Hurrell e Zimmermann compararam os níveis de hepcidina
circulante, estado nutricional de ferro, assim como a quantidade e biodisponibilidade do
ferro consumido por crianças de 6 a 14 anos com peso adequado e com sobrepeso, na
Suíça. Os autores verifi caram que, apesar de crianças com sobrepeso e sem sobrepeso
apresentarem consumo semelhante de ferro, a defi ciência de ferro foi signifi cativamente
maior naquelas com sobrepeso (20% vs. 6%, p=0,022), as quais apresentavam níveis
séricos de hepcidina signifi cativamente maiores que as crianças não obesas (1,4 mM
vs. 2,0mM p=0,001). No modelo de regressão múltipla, os níveis séricos de hepcidina
mostraram associação com o IMC (β=0,680, p=0,02) e ferro corporal (β=0,039, p=0,029).
Os autores concluíram que existe uma baixa disponibilidade de ferro para eritropoiese
em crianças com sobrepeso, e consideraram improvável que isto se deva ao consumo
alimentar inadequado, mas sim à ação da hepcidina sobre a redução de ferro absorvido e/
ou aumento da retenção do ferro nas células (AEBERLI; HURRELL; ZIMMERMANN, 2009). No
estudo de Del Giudice et al. (2009) também foi verifi cado que crianças obesas apresentaram
menor concentração de ferro sérico (68,3±28,8µg/dL vs. 79,0±18,6µg/dL, p=0,02) e menor
saturação de transferrina (18,6±8,1% vs. 22,3±6,6%, p=0,01) do que crianças não obesas,
além de maiores níveis de hepcidina (2,8±1,6nmol/L vs. 1,9±1,6nmol/L, p=0,004). A
hepcidina sérica teve correlação direta com o IMC (r2=0,33, p=0,0015) e inversa com
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
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o ferro sérico (r2=0,16, p=0,04) e com a saturação de transferrina (r2=0,33, p=0,005),
e particularmente entre obesos, também com o aproveitamento do ferro dietético
(r2= 0,37; p=0,003) (DEL GIUDICE et al., 2009).
É importante considerar que a instalação da anemia ferropriva no indivíduo obeso,
além de trazer os prejuízos próprios dessa doença, poderia também favorecer a manutenção
e/ou agravamento da própria obesidade. Uma vez que a baixa concentração de hemoglobina
no sangue leva à redução da capacidade aeróbica e resistência aos esforços físicos (NELSON,
1996; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001) e a prejuízos na função muscular pela
diminuição da capacidade oxidativa mitocondrial para produzir energia a partir do oxigênio
(DALLMAN; YIP; OSKI, 1993), o indivíduo com anemia, consequentemente, torna-se
menos ativo, favorecendo o sedentarismo. Segundo Nelson, Bakaliou e Trivedi (1994),
pessoas anêmicas têm um aumento muito mais expressivo na frequência cardíaca durante
a atividade física do que aquelas não-anêmicas, assim como apresentam maior difi culdade
de se recuperar do exercício. Assim, na tentativa de evitar desconfortos como cansaço e
palpitações decorrentes do maior esforço cardíaco para garantir a oferta de oxigênio aos
tecidos, o indivíduo anêmico vai, gradativamente, reduzindo seu nível de atividade (BATHIA;
SESHADRI, 1987; NELSON; BAKALIOU; TRIVEDI, 1994), o que poderia favorecer o ganho
de peso.
A infl uência negativa da anemia sobre a atividade física foi identifi cada por diversos
autores. Na Índia, meninos anêmicos apresentaram a pior performance após serem
submetidos ao teste de step (BATHIA; SESHADRI, 1987) e teste de corrida de 1.600 metros
(SATYANARAYANA et al., 1990), quando comparados com indivíduos não-anêmicos. Wang
et al. (2009) verifi caram que durante atividade física, jovens com anemia severa apresentam
menor tempo máximo de atividade e menor consumo máximo de oxigênio (VO2 máx),
e durante o tempo de lazer apresentam menor frequência cardíaca, atividade aeróbica e
gasto energético do que jovens com defi ciência marginal de ferro ou com ferro adequado.
A recuperação do exercício também foi mais difícil em meninas indianas com anemia, que
após realizarem teste de step apresentaram frequência cardíaca, signifi cativamente, maior
que as não anêmicas, imediatamente após o teste e também após 1 minuto de repouso
após o teste (NELSON; BAKALIOU; TRIVEDI, 1994).
NOVAS DESCOBERTAS, NOVOS DESAFIOS
Ao longo dos últimos anos, tem fi cado evidente que a relação entre a anemia e a
obesidade é bem mais complexa do que se poderia imaginar. A obesidade tanto pode
favorecer o aparecimento da anemia ferropriva, quanto pode ser causada por ela, conforme
esquematizado na fi gura 1. E se outrora essa “dupla carga de doença” foi considerada um
paradoxo em meio à transição nutricional (BATISTA-FILHO; RISSIN, 2003), atualmente
deixa de ser compreendida meramente pela presença de fenômenos isolados, de natureza
oposta, que ocorrem em paralelo, mas sim de eventos correlacionados entre si, onde um
pode determinar o desenvolvimento do outro.
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
184
Figura 1 – Modelo esquemático da relação entre anemia ferropriva, obesidade e práticas alimentares.
Essa nova compreensão da relação entre os dois principais problemas de saúde pública
da atualidade tem imposto aos profi ssionais um novo modo de olhar para a sua prática.
É mister refl etir em como lidar com a sobreposição da anemia e obesidade de maneira
efi caz: as estratégias atuais utilizadas individualmente para o controle dessas doenças são
sufi cientes nesse novo cenário?
Segundo Zimmerman et al. (2008), o rápido aumento do excesso de peso e
obesidade em países em transição nutricional pode prejudicar os esforços no controle
da defi ciência de ferro e trazer sérias consequências para a população, já que indivíduos
em excesso de peso podem apresentar menor aproveitamento do ferro dos alimentos,
produtos fortifi cados e suplementos nutricionais. Percebe-se, assim, como o controle da
obesidade pode exercer importante papel no avanço do controle da anemia ferropriva,
e vice-versa. Alguns autores já recomendam que as diretrizes voltadas à identifi cação,
prevenção e tratamento da anemia ferropriva, passem a incluir a obesidade como
mais um fator de risco a ser controlado (LECUBE et al., 2006; TUSSING-HUMPHREYS
et al., 2009). Por sua vez, o controle da anemia ferropriva em obesos pode ter papel
importante no processo de perda de peso, uma vez que pode melhorar a adesão a
programas de prática regular de atividade física, que têm sido um dos pilares para o
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
OBESIDADE
“Infl amação”[↑ citocinas]
↑ produção Leptina
↑ sedentarismo
↑ produção de Hepcidina
↓ concentração ferro circulante↓ ingestão de ferro
↓ ingestão de facilitadores da absorção de ferro
↓ ingestão de inibidores da absorção de ferro
Ligação da Hepcidina à ferroportina nos
macrófagos
↓ capacidade aeróbica e resistência
a esforços físicos
prejuízos na função muscular
Ligação da Hepcidina à ferroportina nos
enterócitos
Bloqueio da transferência do ferro absorvido para a
transferrina no plasma
Acúmulo do ferro degradado dentro dos
macrófogos
Redução gradativa do nível de
atividade física
PRÁTICASALIMENTARESINADEQUADAS
ANEMIAFERROPRIVA
185
sucesso dos programas de controle da obesidade. Segundo McClung e Karl (2009),
a melhor compreensão da relação entre essas doenças poderá também, no futuro,
subsidiar o desenvolvimento de terapias nutricionais e/ou farmacológicas que previnam
o desenvolvimento de defi ciência de ferro em obesos.
Para Coutinho, Gentil e Toral (2008), o dilema atual da nutrição em saúde pública,
que é lidar simultaneamente com situações aparentemente contraditórias, deve ser
enfrentado pautando-se em políticas articuladas numa “agenda única de nutrição”,
considerando, como pedra angular, a promoção da alimentação saudável com enfoque
no curso da vida, em uma abordagem integral capaz de prevenir, ao mesmo tempo,
as doenças causadas por defi ciências nutricionais e aquelas causadas por excessos,
resultando em redução da prevalência do excesso de peso e das outras doenças crônicas
não transmissíveis associadas.
Batista-Filho e Rissin (2003) consideram que “as ações setoriais de saúde ainda
não apresentam o grau de agilidade e o nível de efi cácia para responder, com presteza,
aos desafi os que o quadro mutante do cenário epidemiológico brasileiro aconselha e
reclama”, e para muitos profi ssionais, a concretização de ações integradas para o controle
da obesidade e anemia ferropriva, na prática, ainda parece um desafi o hercúleo frente
à íntima relação e interdependência dessas doenças.
Em meio a tantos questionamentos onde as respostas nem sempre parecem
evidentes, o primeiro passo é manter um olhar ampliado para o indivíduo, fugindo de
uma prática segmentada e reducionista e buscando, pelo contrário, uma atuação que
valorize a multiplicidade de fatores envolvidos no complexo processo saúde-doença, a fi m
de que as medidas de promoção, proteção e recuperação à saúde implementadas sejam
realmente efi cazes no enfrentamento dessa dupla carga de problemas nutricionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se por um lado parecem abundantes as informações sobre a prevalência e as
consequências independentes que anemia ferropriva e a obesidade podem trazer para
indivíduos e sociedades, por outro lado ainda são escassas as investigações prospectivas,
particularmente em âmbito nacional, acerca da relação entre as duas doenças e do prejuízo
que a combinação desses dois problemas nutricionais pode trazer.
Muitas são as lacunas que demandam respostas na busca do controle da obesidade
e da anemia ferropriva, tais como a infl uência da concentração sérica da hepcidina sobre o
estado nutricional de ferro em indivíduos com excesso de peso nos diferentes ciclos de vida.
A redução gradual na atividade física em indivíduos anêmicos também precisa ser melhor
investigada, assim como o possível desenvolvimento da obesidade, em longo prazo, frente
a essa redução de atividade. Pesquisas nesse sentido, além de esclarecer e fundamentar
a relação entre anemia e obesidade, serão fundamentais para trazer subsídios à prática
profi ssional e para o fomento de políticas públicas de prevenção e promoção da saúde.
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
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Recebido para publicação em 10/09/10.Aprovado em 18/11/10.
BAGNI, U. V.; VEIGA, G. V. Anemia ferropriva e obesidade: novos olhares para antigos problemas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 177-188, abr. 2011.
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ÍNDICE DE AUTOR/AUTHOR INDEX
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 189, abr. 2011.
ARRAIS, R. F., 99AZEVEDO, P. R. M., 99
BAGNI, U. V., 177BARBOSA, I. M., 37BESENBRUCH, N., 151BRAGA, C. P., 85BRANCO, F. C., 151BURINI, R. C., 137
CALDERON, I. M. P., 85CONCEIÇÃO, M. L., 37COSTA, A. C. P., 151COSTA, A. C. V., 37COSTA, D., 49COSTA, F. M., 23COSTA, J. O., 49CURADO, F. F., 49
DE OLIVEIRA, E. P., 137DOMENEGHINI, D. C. S. J., 163
ESPERANÇA, L. C., 71
FALSARELLA, F. A., 127FERNANDES, A. A. H., 85FIGUEROA PEDRAZA, D., 111FRUTUOSO, M. F. P., 127
GAMBARDELLA, A. M. D., 127
HIRAKAWA, H. S., 85
JERÔNIMO, H. M. A., 37
LEMES, S. A. F., 163LIMA, S. C. V. C., 99LOPES, V. A. A., 23LYRA, C. O., 99
MAESTÁ, N., 137MARCHIONI, D. M. L., 71MARQUES, M. P., 99MENDES-NETTO, R. S., 49, 137MIRANDA, A. L., 99
NETTO, M. P., 23NOLASCO, S. A. V. N., 23
OLIVEIRA, D. A. G., 1
PEDROSA, L. F. C. S., 99PINHEIRO, L. G. B., 99
QUEIROGA, R. C. R. E., 37
ROCHA, A. C. D., 111
SANTOS, F. A., 85SGARBIERI, V. C., 1SILVA, E. G., 85SILVEIRA, B. C., 23SIMONY, R. F., 151SOUSA, C. P. C., 111SOUSA, M. P. C., 111SOUZA, E. L., 37
THALACKER, M., 151
VEIGA, G. V., 177VIEIRA, D. A. S., 49
190
ÍNDICE DE ASSUNTO
Adolescente Antropometria, 100, 128 Fatores de risco, 100 Índice de Conicidade, 100Alimentação Consumo de alimentos, 50 Contaminação Staphylococcus, 38 Nutrientes, 24 Assentamentos rurais, 50
Creches, 112Criança, 24
Desnutrição infantil, 112Doença crônica Anemia ferropriva, 178 Obesidade, 178Doenças cardiovasculares Vinho Compostos fenólicos, 164 Flavonóides, 164
Estado nutricional, 24, 50, 112
Fígado Hiperplasia celular, 2 Hipertrofi a celular, 2 Restrição alimentar, 2
Gravidez Diabetes gestacional, 86 Ganho de peso, 86 Hiperglicemia, 86 Macrossomia fetal, 86
Índice de Massa Corporal Estatura, 128 Peso corporal, 128
Restaurantes Controle de qualidade, 72 Perfi s sanitários, 72
Terapia nutricional Diabetes mellitus tipo 1, 152 Carboidratos, 152Treinamento de força Balanço nitrogenado, 138 Ingestão de energia, 138 Ingestão proteica, 138
Unidade de alimentação e nutrição, 38
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p.190-191, abr. 2011.
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SUBJECT INDEX
Adolescent Anthropometry, 99, 127 Conicity index, 99 Risk factors, 99
Body mass index Body weight, 127 Height, 127
Cardiovascular diseases Wine Flavonoids, 163 Phenolic compounds, 163Child, 23Child malnutrition, 111Chronic Disease Anemia, Iron-defi ciency, 177 Obesity, 177
Daycare centers, 111
Feeding Contamination Staphylococcus spp., 37 Food consumption, 49 Nutrients, 23Food and nutrition services, 37
Liver Cell hyperplasia, 1 Cell hypertrophy, 1 Food restriction, 1
Nutritional status, 23, 49, 111Nutritional therapy Carbohydrates, 151 Diabetes mellitus, type 1, 151
Pregnancy Fetal macrosomia, 85 Gestational diabetes, 85 Hyperglycemia, 85 Weight gain, 85
Resistance exercise Energy intake, 137 Nitrogen balance, 137 Protein intake, 137Restaurants Quality control, 71 Sanitary profi les, 71Rural settlements, 49
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p.190-191, abr. 2011.
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INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Os artigos devem ser redigidos em ortografi a ofi cial, utilizando o programa Word, em espaço duplo, em folhas tamanho ofício (A4), com letras corpo 12, com margens de 3cm em cada um dos lados e enumeradas em algarismos arábicos no ângulo inferior direito. Não devem ser cortadas as palavras no fi nal das linhas.
O envio deverá ser feito, exclusivamente, pelo e-mail [email protected]. No item assunto deverá ser colocado: artigo NUTRIRE. O mesmo deverá ser anexado em um único arquivo.
Os artigos podem ser: originais, de revisão, atualização ou notas e informações:a) originais: divulgam resultados de
pesquisas que possam ser replicados ou generalizados;
b) revisão: avaliação crítica da literatura sobre determinados assuntos. Devem conter conclusões ou comentários;
c) atualização: baseada na literatura recente, descritos e interpretativos da situação em que se encontra determinado assunto;
d) notas e informações: relatos curtos e notas prévias;
e) são aceitos artigos em inglês e espanhol.
QUANTIDADE DE PÁGINAS
Artigo de revisão: no máximo 30 laudas (cada lauda = 1.250 caracteres sem espaço), incluindo-se as referências – seguir normas de publicação.Artigo original: não tem limite - seguir normas de publicação.
FOLHA DE ROSTO (IDENTIFICAÇÃO)a) título e subtítulo; versão em inglês e
espanhol;b) indicar título abreviado para legenda;
c) nome e sobrenome de cada autor; fi liação à instituição e respectivo endereço;
d) nome do departamento onde o trabalho foi realizado;
e) nome e endereço do autor responsável;f) se foi baseado em Tese, indicar o título,
ano e instituição onde foi apresentada;g) se foi apresentado em reunião científi ca,
indicar o evento, local e data de realização;h) se foi subvencionado indicar o tipo de
auxílio, nome do agente fi nanceiro e o número do processo;
i) agradecimentos:1. contribuições (assessoria científi ca,
coleta e dados, revisão crítica da pesquisa);
2. instituições (apoio econômico, material e outros).
Introdução: deve ser curta, definindo o problema estudado sintetizando sua importância.Material e Métodos, a população estudada, a fonte dos dados e critérios de seleção, dentre outros.Resultados: deve se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações/comparações.Discussão: deve começar apreciando as limitações do estudo, seguida da comparação com a literatura e a interpretação dos autores, extraindo conclusões, indicando novos caminhos para pesquisa.Conclusão: para os artigos originais.
RESUMO E PALAVRAS-CHAVE
a) português, inglês e espanhol (até 250 palavras);
b) descritores (usar o vocabulário) português e espanhol: Descritores em Ciências da Saúde, da Literatura Latino-Americana e do
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 192-197, abr. 2011.
193
Caribe em Ciências da Saúde-LILACS inglês: Medical Subject Headings-MESH, da National Library of Medicine.
FIGURAS (FOTOGRAFIAS, DESENHOS, GRÁFICOS)
As fi guras deverão vir logo após as refe-rências (enumeradas em ordem consecutiva, na ordem do texto); Legendas à parte.
TABELAS
As tabelas também devem ser incluídas no mesmo arquivo, logo após as referências (enumeradas em ordem consecutiva, na ordem do texto) devem ter título breve.OBS: não usar traços horizontais ou verticais internos.
UNIDADES
Seguir as normas do Instituto Nacio-nal de Metrologia, Normalização e Quali-dade Industrial-INMETRO, Homepage: www.inmetro.gov.br
ABREVIATURAS E SIGLAS
a) forma padrão da língua portuguesa e inglesa;
b) não usar no título e no resumo.
AGRADECIMENTOS VER FOLHA DE ROSTO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(ABNT NBR-6023, 2000)
a) ordem alfabética;b) abreviatura dos periódicos (Index
Medicus);c) todos os autores são citados, separados
por ponto e vírgula (;) CORDEIRO, J. M.; GALVES, R. S.; TORQUATO, C. M.
d) indicação do autor e data no texto: citar entre parênteses o nome do autor e data (BRIAN, 1929);
e) substituir & por e no texto e, por ponto e virgula (;) nas referências bibliográfi cas (BRITTO e PASSOS, 1930);
f) a exatidão das referências é de respon-sabilidade dos autores.
Da Revista, Sede e Fins
Art.1º - A Nutrire: revista Brasileira de Ali-mentação e Nutrição=Journal of the Brazilian Society of Food and Nutrition, órgão ofi cial da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição – SBAN, criado em 1985, com sede na Rua Pamplona, 1119 - Cj. 51, Jardim Paulista, São Paulo, Brasil, tem por fi nalida-de publicar trabalhos técnico-científicos nas áreas de alimentação e nutrição.
Parágrafo 1: a Nutrire: revista Brasileira de Alimentação e Nutrição=Journal of the Brazilian Society of Food and Nutrition con-tará com as seguintes seções: artigos origi-nais, de revisão, atualização, notas e infor-
mações, cartas ao editor, índices de autores e assuntos.
Parágrafo 2: A Comissão Editorial, o Edi-tor-científi co e o Conselho Editorial com-põem a Comissão de Redação.
Art. 2º - A revista será editada, no míni-mo, uma vez por ano.
Art. 3º - Periodicidade quadrimestral.
Da Direção e Redação
Art. 4º - O editor-responsável será o Pre-sidente da Sociedade Brasileira de Alimen-tação e Nutrição-SBAN.
Art. 5º - A Comissão Editorial será com-posta de 7 membros, com mandato de 5 anos
REGULAMENTO DA NUTRIRE: REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO=
JOURNAL OF THE BRAZILIAN SOCIETY OF FOOD AND NUTRITION
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 192-197, abr. 2011.
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Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 192-197, abr. 2011.
e escolhidos dentre seus sócios efetivos. Os membros da Comissão elegerão o editor-ci-entífi co pelo mesmo período.
Parágrafo único: a renovação de seus membros será de 4 e 3, respectivamente, a cada três (3) anos.
Art. 7º - Compete à Comissão Editorial e ao Editor-científi co julgar todo o material encaminhado para publicação.
Art. 8º - Compete à Comissão Editorial fazer cumprir este regulamento e seu res-pectivo Cronograma.
Art. 9º - Compete ao Conselho Editorial a revisão científi ca dos artigos recebidos.Parágrafo único: O Conselho Editorial não terá número de membros defi nidos e será composto de especialistas nacionais e inter-nacionais de cada área de Alimentação e Nutrição indicados pela Comissão Editorial.
Art. 10º - Os trabalhos aprovados para publicação deverão trazer o visto do Editor-científi co.
Parágrafo único: os trabalhos serão pu-blicados em ordem cronológica de recebi-mento, salvo as notas prévias.
Art. 11º - A data de recebimento do arti-go constará obrigatoriamente no fi nal do mesmo.
Art. 12º - Todo trabalho enviado para publicação deverá trazer endereço para cor-respondência e endereço eletrônico do au-tor principal. No caso de mais de um autor deverá expressamente ser indicado o autor responsável pela publicação.
Art. 13º - A primeira prova gráfi ca será revisada pelo Editor-científi co e conferida pelo autor que a rubricará. Haverá apenas duas provas gráfi cas.
Art. 14º - Os originais de trabalhos acei-tos para publicação não serão devolvidos.
Art. 15º - É proibida a reprodução, no todo ou em parte, de trabalhos publicados
na Nutrire: revista da Socidade Brasileira de Alimentação e Nutrição= Journal of the Brazilian Society of Food and Nutrition sem prévia autorização do autor e do Presidente da SBAN. É permitida a reprodução de re-sumos com a devida citação da fonte.
Art. 16º - Os autores deverão assinar a declaração de responsabilidade e transfe-rência.
Art. 17º - Os artigos poderão ser envia-dos a qualquer momento. A partir de julho de 2007 o envio de artigos deverá ser feito pelo e-mail: [email protected]. No item assunto deverá ser colocado: artigo NUTRIRE. O mesmo deverá ser anexado em um único arquivo.
Art. 18º - A organização e revisão do material a ser publicado compete ao bi-bliotecário responsável pela normalização técnica e indexação.
Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição-SBANRua Pamplona, 1119 - Cj. 51Jardim Paulista, São Paulo (SP)CEP: 01405-001 - BrasilTel.: (11) 3266-3399E-mail: [email protected]
Referência
1. Associação Brasileira de Normas Téc-nicas, NBR 6023: Informação e Documenta-ção; Referência, Elaboração. Rio de Janeiro, 2000. 22p.
2. Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos. Requisitos de uniformi-dade para manuscritos submetidos a perió-dicos biomédicos. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro. v.72, supl. 1, p.41-53, jul./ago., 1997. [4.ed.]
3. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submited to biomedical journals. Ann. Intern. Med. v.126, p.36-47, 1997. [updated may, 1999, 5th ed.]
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INSTRUCTIONS TO AUTHORS
PUBLICATION RULES
Manuscripts must be written in the offi cial orthography, on one side of the sheet and double space, in A4 paper and 12 pt size characters, 3 cm margins on each side and number in Arabic numerals on the lower right side. Words should not be separated at the end of the lines.
One (1) original and two (2) copies should be mailed.
When accepted for publication, an electronic copy in 3/5 6.0 MS Word must also be included.
Manuscripts can be original studies, reviews, updates or notes and information:a) original data: disclosure of results that can
be replicated or generalized;b) reviews: critical overview of the literature
on specifi c issues. They must contain conclusions or comments;
c) updates: based on recent literature, describing and interpreting the current situation of a chosen issue;
d) notes and information: short reports and previews;
e) the manuscript can be written in Portuguese, Spanish or English.
FRONT PAGE
a) title and heading; in Portuguese (or Spanish) and English;
b) running title;
c) name and surname of each author, affi liation, and address;
d) department where the study was performed;
e) name and address of the principal investigator;
f) if based on a Thesis, indicate the title, year and institution where it was carried out;
g) if presented in a scientifi c meeting, indicate the name of the event, place and date;
h) if financial supported was provided
indicate the type of support, name of the funding agency and grant number.
i) acknowledgements:1. Contributions (scientifi c consulting, data
collection, critical revision of the study);2. Institutions (fi nancial support, material, etc).
Introduction: must be concise, defi ning the problem under study, summarizing its importance.Methods and materials employed, the population under study, data source and selection criteria, among others.Results: must be limited to description of the results without including interpretations/comparisons.Discussion: must begin by pointing out the limitations of the study, followed by a comparison with the literature and interpretation of the data, extracting conclusions and indicating new ways of research.
Conclusion: for original studies.
SUMMARY AND KEYWORDS
a) in Portuguese, English and Spanish, up to 250 words;
b) keywords in Portuguese and Spanish: Descriptors in Science and Health(Descritores em Ciências da Saúde) of Latin-American and Caribean Literature in Health Sciences-LILACS. In English:Medical Subject Headings-MESH of theNational Library of Medicine;
TABLES
a) must be in separate sheets (number consecutively, in the order that they appear in the text) with a short title;
b) should not contain inner horizontal or vertical borders;
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 192-197, abr. 2011.
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FIGURES (PHOTOGRAPHS, DRAWINGS, GRAPHICS)
Must be in separate sheets (numbered consecutively, in the order that they appear in the text); captions are apart.
UNITS
Must follow the guidelines of the Institu-
to Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industr ial – INMETRO , homepage: www.inmetro.gov.br
ABBREVIATIONS
a) Standard pattern of Portuguese and English languages;
b) Must not be used in the Title and Summary.
ACKNOWLEDGEMENTS – SEE FRONT PAGE
REFERENCES
(ABNT NBR 6023, 2002)a) alphabetical order;
b) journal abbreviations (Index Medicus);
c) all authors must be cited, separated by semi-colon (;);
CORDEIRO, J. M.; GALVES, R. S.; TOR-QUATO, C. M.;
d) citation of author and year of publication in the text: in parenthesis (BRIAN, 1929);
e) use e instead of & in the text and ; in the list of references (BRITTO e PASSOS, 1930);
f) the authors are responsible for the accuracy of the references.
Of the Journal, Headquartersand Purposes
Art. 1° - Nutrire, Journal of the Brazilian Society of Food and Nutrition, is the offi cial organ of the Brazilian Society of Food and Nutrition –SBAN, created in 1985, located* at Rua Pamplona, 1119 - cj. 51, São Paulo, Brasil, CEP 01405-001, with the purpose to publish technical-scientifi c papers in food and nutrition.
Paragraph 1: Nutrire, Journal of the Brazilian Society of Food and Nutrition will be composed by the following sections: Original data, Reviews, Updates, Notes and Information, Letters to the Editor, Author and Issue Indices;
Paragraph 2: The Editorial Committee, Scientifi c Editor and Editorial Board compose the Composition Committee.
DIRECTIVE OF NUTRIRE: JOURNAL OF THE BRAZILIANSOCIETY OF FOOD AND NUTRITION
*The headquarters are located at the jurisdiction of the President elected.
Art. 2° - The journal will be published, at least, once a year.
Art. 3° - Periodicity: semester.
Of the Direction and Editorial
Art. 4° - The Editor-in-Chief will be the President of the Brazilian Society of Food and Nutrition-SBAN.
Art. 5° - The Editorial Committee will be composed of 7 members, with a 5-year mandateto be chosen among the effective members. The members of the Committee will elect the Scientifi c-Editor for the same period.
Single paragraph: renewal of the members will be of four and three, respectively, every three years.
Art. 6° - Is the competence of the Editorial
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 192-197, abr. 2011.
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Committee and of the Scientifi c-Editor to judge
all material submitted to publication.
Art. 7° - Is the Editorial Committee’s
competence to fulfi ll this regulation and its
timetable.
Art. 8° - Is the Editorial Board’s
competence to perform the scientific
revision of the manuscripts received.
Single Paragraph: The Editorial Board will
not have a permanent number of members
and will be composed of national and
international experts in each area of Food
and Nutrition, indicated by the Editorial
Committee.
Art. 9° - The papers approved for publication
must be signed by the Scientifi c-Editor.
Single Paragraph: Papers will be
published in the order of receipt, except
when noted.
Art. 10 - Date of receipt will appear at the
end of the paper.
Art. 11 - Every manuscript submitted for
publication must be signed by its author and
must contain an address of correspondence.
In case of more than one author, the principal
investigator must be indicated.
Art. 12 - The fi rst galley proof will be
revised by the Scientifi c-Editor and checked
and signed by the author. There will be only
two galley proofs.
Art. 13 - The original versions of the
manuscripts accepted for publication will
not be returned to the authors.
Art. 14 - Total or partial reproduction of
papers published by Nutrire, Journal of the
Brazilian Society of Food and Nutrition
without previous authorization of the author
or SBAN’s president is strictly forbidden.
Reproduction of the summaries is allowed
when appropriately cited.
Art. 15 - The authors must sign a Copyright
Transfer and a Term of Responsibility.
Art. 16 - Due dates for manuscripts to be
received for publication are January 30 and
July 30 of each year.
Art. 17 - Organization and revision of the
material to be published is under the
librarian’s responsibility for technical
normalization and indexing.
Art. 18 - Manuscripts must be mailed to
the Scientifi c-Editor (one original and two
copies):
Dra. Célia Colli.
Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição-SBAN
Rua Pamplona, 1119 - Cj. 51, Jardim
Paulista, São Paulo, SP, CEP 01405-001 -
Brasil.
References
1. [Brazilian Association of Technical
Guidelines] Associação Brasileira de Normas
Técnicas, NBR 6023: Informação e
Documentação; Referência, Elaboração. Rio
de Janeiro, 2000. 22p.
2. [International Committee of Editors
of Medical Journals. Uniformity of
requirements for manuscripts submitted to
biomedical journals] Comitê Internacional
de Editores de Periódicos Médicos.
Requis i tos de un i formidade para
manuscritos submetidos a periódicos
biomédicos. An. Bras. Dermatol., Rio de
Janeiro. v.72, supl. 1, p.41-53, jul./ago., 1997.
[4.ed.]
3. International Committee of Medical
Journal Editors. Uniform requirements for
manuscripts submitted to biomedical
journals. Ann. Intern. Med. v.126, p.36-47,
1997. [updated may, 1999, 5th ed.]
Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 36, n. 1, p. 192-197, abr. 2011.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO-SBAN
Presidente / PresidentSergio Alberto Rupp de Paiva
1ª Vice-presidente / Vice-PresidentSilvia Maria Franciscato Cozzolino
2ª Vice-presidente / Vice-PresidentRegina Mara Fisberg
Secretário Geral / General Secretary Dirce Maria Lobo Marchioni
1º Secretário / Secretary Semíramis Martins Álvares Domene
2ª Secretário / Secretary Eliane Fialho de Oliveira
1º Tesoureiro / TreasurerThomas Prates Ong
2º Tesoureiro / TreasurerMarcelo Macedo Rogero
Sócios Mantenedores / Supporting PartnersBunge Alimentos S.A.Coca Cola Indústrias Ltda.Danone Ltda.Monsanto do Brasil Ltda.Nestlé Brasil Ltda.Unilever Bestfood Brasil Ltda.Wyeth Consumer Healthcare
A Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição –SBAN representa no Brasil a IUNS – InternationalUnion of Nutritional Sciences
Endereço / AddressSociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição-SBANRua Pamplona, 1119 – cj. 51 – Jd. PaulistaSão Paulo/SP, Brasil – CEP 01405-001 Tel./Fax: (11) 3266-3399e-mail: [email protected]
NutrireR E V I S T A D A S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E A L I M E N T A Ç Ã O E N U T R I Ç Ã O
J O U R N A L O F T H E B R A Z I L I A N S O C I E T Y O F F O O D A N D N U T R I T I O N
36 n. 1,
abr.
2011
ISSN
1519
-892
8